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DIÁRIO DO COMÉRCIO

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cultura

Bêlânu e o "vinho da montanha" José Guilherme R. Ferreira

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hegou em Sippar um barco carregado de vinho. Compreme por dez siclos e, trazendoo para mim, venha me encontrar em Babilônia”. O bilhete, marcado em um tablete de argila de quase 3.750 anos, é de um negociante babilônio chamado Bêlânu a seu criado Ahuni, que o ajudava a comprar vinhos. Estes chegavam nas caravanas que vinham da região sírio-armênia e também eram encontrados quando desciam o Eufrates – ânforas embarcadas principalmente no porto de Karkemish, cerca de 100 quilômetros a nordeste de Aleppo (a cidade hoje devastada pela guerra civil na Síria de Assad). A bebida era depois revendida na Babilônia. A cotação do vinho, importado que era das montanhas, explica o historiador e assiriólogo francês Jean Bottéro (1914-2007), ainda era um produto de luxo, “reservado aos ricos e grandes deste mundo, e do outro”. Dez siclos correspondiam a 80 gramas de prata, com as quais se podia comprar 2.500 litros de grãos, mas somente 300 litros de vinho. Mas o gosto pelo vinho, segundo Bottéro, foi contagioso e passou a ser disseminado mesmo numa civilização tão ou mais cervejeira que a egípcia, onde a cevada e o trigo eram seus grãos-motores. De certa maneira, a decifração de milhares e milhares de plaquetas de argila com suas “arranhadas” inscrições cuneiformes, desenterradas da região no final do século XIX, vieram desmentir a lenda que trata do descaso do deus do vinho Dioniso pela região. Este teria desistido de qualquer investida de plantio numa terra de incorrigíveis bebedores de cerveja. Mas o que dizer então do banquete de Assurnasirpal (883-859 a.C.), rei dos assírios? Promoveu uma festa de quase 70 mil talheres e de vários dias para dignatários vi-

Bombando na confeitaria Pausa para o lanchinho da tarde ou happy hour ao sabor das bombas doces e salgadas da Faire la Bombe. Em Pinheiros. Lúcia Helena de Camargo

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omba é o nome popular do doce também conhecido como éclair ou ecler. Vendida em confeitarias ao lado de sonhos, tortinhas, croissants e pães recheados, há pouco mais de um ano ganhou em São Paulo uma loja própria: Faire La Bombe. Prazer - O nome possui duplo significado. Em francês, a expressão significa "Viver a vida com prazer" e também há a óbvia referência à palavra para a guloseima em português. A novidade agora é que, além das versões doces, foram incluídas no cardápio as bombas salgadas. Mariana Araújo, a proprietária, conta que sempre gostou do doce, tanto de comer quanto de preparar. "Quando decidi abrir um negócio próprio, foi natural a escolha pelas bombas, porque eu já sabia como queria fazer quase tudo", conta. "Claro, depois disso teve muito trabalho envolvido na definição dos sabores, conceito geral do visual e logística." A La Bombe nasceu com 15 lugares. Hoje possui 30 e vende cerca de 15 mil bombas por mês. Aos seis meses de funcionamento, devido ao

sucesso, dobrou de tamanho, alugando o prédio ao lado. Há as clássicas bombas com recheio sabor creme, chocolate e brigadeiro; as chamadas vintage de maracujá, frutas vermelhas, doce de leite argentino, capuccino, café e limão siciliano – esta última uma das mais saborosas, com a perfeita combinação entre o leve azedo do recheio de limão e a cobertura de chocolate ao leite. As especiais são feitas de blueberry, amêndoas, damasco, pistache e avelã. No início, cada grupo de bombas tinha um preço diferente. Para facilitar, Mariana decidiu vender todas por R$ 5,30, na versão pequena, e R$ 7,80, na grande. Os sabores sazonais, como o atual champanhe com cereja, são vendidos a R$ 6. Salgadas - As bombas salgadas aparecem recheadas de presunto com queijo gruyère; presunto cru com gruyère; mussarela de búfala com tomate seco, palmito, queijos gratinados e queijo brie com geleia. Podem ser servidas quentes ou frias e custam entre R$ 12 e R$ 13. A La Bombe não é lugar para

almoçar ou jantar, claro. A ideia é dar uma passada para o lanchinho da tarde ou happy hour. "As pessoas param aqui para aquele momento de prazer, de alívio na correria. E para isso, nada melhor do que comer um docinho", diz Mariana. Bebidas - No copo, para acompanhar, há chás, cafés e até vinhos, como o Chateau Bel Air Bordeaux 2010, vendido na minigarrafa de 187 ml, suficiente para uma taça, por R$ 24. Quem preferir levar para a casa, pode pedir no balcão, encomendar ou comprar no Empório Santa Maria, o único estabelecimento na Cidade que revende os produtos da La Bombe. Mariana está procurando um ponto para concretizar o plano de abrir a segunda loja. Mas será de rua, pois quer passar longe dos shoppings.

Faire la Bombe. Rua dos Pinheiros, 223. Pinheiros. Tel.: 2628-7667. Funciona de terça a domingo, 11h às 20h. Segunda, 11h às 18h. Wi fi gratuito. Estacionamento grátis para bicicletas, em frente à loja. www.labombe.com.br

Anabela, uma estrela que sobe. Aquiles Rique Reis

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No alto, bomba de blueberry. Acima, Mariana Araújo, a proprietária, e a frente da loja.

a cada touchdown. Para comer, as sugestões são de entradas ao estilo americano, como o ceviche sugere a porção de Bonelles Wings (R$ 25), cubos de peito de frango (R$ 22,90) servido acompanhado de tortillas, e drinques como o sex empanados, com molho de Blue Cheese. www.hootersbrasil.com.br on the beach (R$ 16,50). www. applebees.com.br A rede americana Hooters, que também transmite o super bowl, faz sorteios de brindes no show do intervalo e os clientes ganham uma Ceviche do Appebee's: acompanhado de tortillas. rodada de chope

Divulgação

Um olho na bola, outro no prato.

final do Super Bowl é o dia do ano do segundo maior consumo de comida nos Estados Unidos. Perde apenas para o dia de ação de graças. Apreciadores brasileiros do futebol americano podem se reunir para acompanhar o jogo e, claro, consumir petiscos e bebidas durante a partida, cuja transmissão acontece neste domingo (3), às 21h (no Brasil). Em parceria com a ESPN, a lanchonete Appebee's transmite em tempo real a disputa entre San Francisco 49ers e Baltimore Raven na final do Super Bowl 47. Para degustar durante a partida,

zinhos e todos os habitantes da sua nova capital, onde foram servidos 100 mil litros de cerveja, mas também outros 100 mil litros de vinho. Bem antes disso, um documento em argila mostra Uruinimgina, rei da cidade meridional de Lagash, se gabando de ter construído uma adega para guardar seus vinhos, “cervejas das montanhas”. Na parte norte da Mesopotâmia, onde posteriormente até uma viticultura própria se desenvolveu, principalmente no reino de Mari, há registros de classificação detalhada dos tipos de vinho, comparáveis às feitas hoje por enólogos. Os interessados em detalhes sobre a cultura da Mesopotâmia, seus rituais, seus deuses, mas sobretudo seu dia a dia e a relação da sua gente com os alimentos e as bebidas (sabe-se, desde já, que nem só a cerveja e vinho de tâmaras ajudavam na alegria dessa gente), não pode deixar de consultar os textos instigantes de Bottéro, especialmente The Oldest Cuisine in the World – Cooking in Mesopotamia, editado pela University of Chicago Press, mas também os artigos colecionados em No Começo Eram os Deuses, da Civilização Brasileira, muitos deles publicados anteriormente na respeitada revista L’Hi storie. Há também Everyday Life in Ancient Mesopotamia, da John Hopkins University Press. Bottéro é o responsável pela transcrição e análise de três tabletes muito especiais, com 40 receitas formuladas em 1700 a.C., pinçados da grande coleção da Universidade de Yale. YBC (Yale Babylonian Collection) é a chancela de especialistas para esses preciosos documentos, que deixam para trás o simples enumerar de ingredientes, menus de festas e contabilidades, para entrar no terreno do “modo de fazer”, receitas 2.000 anos mais antigas que as do famoso gourmand romano Apicius. O "pronto para servir" tão familiar no final das receitas contemporâneas já estava nessas plaquetinhas babilônicas.

José Guilherme R. Ferreira é membro da Academia Brasileira de Gastronomia (ABG) e autor do livro Vinhos no Mar Azul – Viagens Enogastronômicas (Editora Terceiro Nome)

Fotos: Newton Santos/Hype

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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

epois do CD Cidade das Noites, lançado em 2009, que juntou os compositores Edu de Maria e Renato Martins e o poeta Roberto Didio à cantora Anabela, eis que ela nos chega agora com Pé de Vento (independente, com apoios). A exemplo de Cidade das Noites, Pé de Vento também conta com os três caras que fizeram de Anabela uma estrela em ascensão. Assim como no primeiro CD, seus companheiros criaram sambas, marchas, valsas e canções que soam como tributo àquela que, com voz doce e afinada, lhes serve de grande intérprete. Além deles, agora estão também Moacyr Luz e Délcio Carvalho, duas parcerias cada um com Roberto Didio. Ao fazerem músicas impregnadas de tradição, Edu de Maria (também produtor musical e arranjador do CD) e Renato Martins esbanjam benfazeja inventividade. Os versos escritos por Roberto Didio são belos, como ardorosas são as suas emoções afloradas em palavras a léguas da mesmice. Os arranjos têm atmosfera que brinda o futuro tirando o chapéu para o passado. Um trabalho em que cada música fala por Anabela e, ao mesmo tempo, por todos os seus companheiros. As duas primeiras faixas são sambas de Renato Martins e Roberto Didio, bem como é samba a terceira faixa - só que esta, além de Renato e Didio, tem também Edu de Maria como autor. Sambas delicados, feitos à feição da voz suave e entoada, tranquila e emocionada, de Anabela. No primeiro, Hino Para Um Grande Amor (Meu canto/ Sai de um coração sozinho/ Sai, mas sem deixar o meu caminho, enfim/ Vai nas madrugadas encontrar a dor/ Há de ser um hino para o grande amor),

um naipe de dois violinos, um cello e uma viola se juntam a flauta, cavaquinho, violão de seis e de sete cordas e ao ritmo para sinalizar o prumo que terá o CD. No segundo, Alquimia, os versos deslizam leves pela garganta de Anabela. Piano, cavaquinho e pandeiro reforçam a bela melodia. Edu de Maria, a exemplo do primeiro, criou o arranjo e tocou violão e ritmo. A quarta faixa é Vamos Viver (Moacyr Luz e Roberto Didio), uma canção afetuosa, com arranjo apenas para violão e sanfona, na qual Anababela está tão à vontade quanto nos sambas. Dois Rumos e Velha Guarda (Edu de Maria) são as únicas músicas do disco cujas letras não são de Didio. Na primeira, uma canção singela como Anabela, as cordas dão ao clima um ar de nostalgia; na segunda, o violão de Edu toca a introdução e leva a um gostoso samba em tom menor. Lacrimal (Renato Martins e Roberto Didio), tocada apenas pelo violão de Edu de Maria, é uma das mais belas faixas do CD. Anabela agradece o presente e arrasa! O trombone inicia Minha Poesia (Délcio Carvalho e Roberto Didio). O arranjo de Edu da Maria usa um naipe de sopros, piano, violão, cavaco, muita percussão... e o samba come solto. O cello e a flauta iniciam Pé de Vento (Renato Martins e Didio). O baiãozinho que dá título ao disco rola à vontade, tão à vontade quanto está Anabela no desenrolar de todo o repertório de seu ótimo CD.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4.


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