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Raul Cesar Gottlieb
UMA REVIRAVOLTA NA ONU?
Nikky Haley – um raio de luz na escuridão
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Raul Cesar Gottlieb
Nimrata “Nikky” Randhawa Haley nasceu em Bamberg na Carolina do Sul, de uma família de imigrantes indianos Sikh. Ela nunca foi uma pessoa fácil de ser colocada em padrões estereotipados. Aos cinco anos de idade ela disputou o concurso de “Miss Bamberg”, mas foi desclassificada pois os juízes consideraram impossível encaixá-la nas categorias “negra” ou “branca” que definia as candidatas. Ela praticou o Sikhismo durante anos, tendo se convertido ao Cristianismo pouco depois de seu casamento e antes do nascimento de seus dois filhos.
Por conta de uma breve e muito bem-sucedida carreira no mundo empresarial, Nikky ingressou aos poucos na política, tendo sido primeiramente indicada para a Câmara de Comércio de Orangeburg (pequena cidade na Carolina do Sul). Dali foi indicada para a mesma Câmara em Lexington (uma cidade maior no mesmo Estado), depois se tornou tesoureira, e mais tarde presidente, da Associação Nacional de Mulheres Empreendedoras. Em 2004 se candidatou à Câmara dos Deputados da Carolina do Sul e em 2011 foi eleita governadora do Estado, cargo que ocupou até 2017.
Apesar das trocas nada amistosas que travaram durante a campanha presidencial, em 20 de janeiro de 2017 o recém-empossado Presidente Donald Trump encaminhou ao Senado sua nomeação como representante permanente dos Estados Unidos da América na ONU, tendo sido aprovada por 96 votos contra 4 (uma votação muito expressiva, tendo em vista o atual estado confli-
tuoso das relações dos partidos de situação e oposição nos EUA).
Em seu primeiro discurso na ONU, Nikky teceu comentários muito duros contra a ocupação russa da península da Criméia (parte da Ucrânia) e contra as sucessivas tentativas russas de desestabilização da integridade deste país, manifestadas por seu apoio aberto a milícias separatistas ao leste do país.
Após sua primeira reunião no Conselho de Segurança sobre o Oriente Médio, ela fez o pronunciamento a seguir, que Devarim transcreve na íntegra, a partir de uma postagem de 22 de fevereiro no YouTube:
“O Conselho de Segurança acaba de terminar sua reunião mensal sobre as questões do Oriente Médio. É a primeira reunião deste tipo que eu assisti e tenho que dizer: foi um tanto estranho!
O Conselho de Segurança deveria discutir sobre como manter a paz e a segurança internacionais.
Mas no nosso encontro sobre o Oriente Médio a discussão não foi sobre o acúmulo ilegal de foguetes do Hezbollah no Líbano; não foi sobre o dinheiro e as armas que o Irã fornece aos terroristas; não foi sobre como derrotaremos o ISIS; não
“Estou aqui para foi sobre como responsabilizar Bashar Alenfatizar que os Estados Unidos estão -Assad pelo massacre de centenas e milhares de civis. Não. Em vez disso, a reunião se concendeterminados a trou em criticar Israel, a única verdadeira enfrentar o viés da democracia do Oriente Médio. ONU contra Israel.” Eu sou nova aqui, mas entendo que é assim que o Conselho tem operado mês após mês, durante décadas. Estou aqui para dizer que os Estados Unidos não vão mais fechar os olhos a isso. Estou aqui para ressaltar o apoio decidido dos Estados Unidos a favor de Israel. Estou aqui para enfatizar que os Estados Unidos estão determinados a enfrentar o viés da ONU contra Israel. Nós nunca repetiremos o erro terrível da resolução 2334 nem permitiremos resoluções unilaterais do Conselho de Segurança para condenar Israel. Em vez disso, vamos focar nas ações para conter as ameaças reais que enfrentamos no Oriente Médio. Defendemos a paz. Apoiamos uma solução para o conflito israelense-palestino que seja negociada diretamente entre as duas partes, conforme o presidente Trump reiterou ontem em seu encontro com o primeiro-ministro Netanyahu. As resoluções escandalosamente tendenciosas do Conselho de Segurança e da Assembleia-Geral só fazem a paz mais di-

fícil de obter, por desencorajar uma das partes a ir à mesa de negociações.
Incrivelmente, o departamento de assuntos políticos da ONU tem uma divisão inteira dedicada aos assuntos palestinos!
Imaginem isso! Não há divisão dedicada aos lançamentos de mísseis ilegais da Coréia do Norte. Não há divisão dedicada ao patrocinador número um do terror no mundo: o Irã.
A abordagem preconceituosa das questões israelenses e palestinas não favorece o processo de paz e não tem qualquer relação com a realidade do mundo que nos rodeia.
Os padrões duplos são de tirar o fôlego!
Há poucos dias, os Estados Unidos pediram sem êxito que o Conselho de Segurança condenasse um ataque terrorista em Israel, no qual os terroristas abriram fogo contra pessoas que esperavam um ônibus e depois esfaquearam outras.
O Conselho de Segurança não hesitaria em condenar um ataque como esse em qualquer outro país. Mas não para Israel. A declaração foi bloqueada, o que é francamente vergonhoso.
Israel existe numa região onde outros exigem sua completa destruição e num mundo onde o antissemitismo está em ascensão.
Estas são as ameaças que devemos discutir nas Nações Unidas, ao mesmo tempo em que continuamos trabalhando para um acordo abrangente que ponha fim ao conflito israelense-palestino.
Mas fora das Nações Unidas há boas notícias.
O mundo está mudando em relação a Israel. Israel está construindo novas relações diplomáticas; mais e mais países reconhecem o quanto Israel contribui para o mundo; eles estão reconhecendo que Israel é um bastião de estabilidade numa região conturbada; e que Israel está na vanguarda do empreendedorismo inovador e da descoberta tecnológica.
A tendência anti-israelense da ONU já deveria ter mudado há muito tempo! Os Estados Unidos não hesitarão em se manifestar contra esses preconceitos e em defesa de nosso amigo e aliado Israel.”
Ainda é muito cedo para tirar conclusões. Manda a prudência aguardar fatos concretos, pois o caminho do inferno é pavimentado por belos discursos de políticos. Mas a disposição do presidente Trump em chamar as coisas pelo seu devido nome: para ele, atos de terror cometidos por muçulmanos em nome de uma visão intolerante do Islã é “terror islámico” e não um genérico “ataque contra a humanidade e os valores universais que todos compartilhamos”, aliado ao repúdio de sua diplomacia à infame resolução 2334, que tornou o Muro das Lamentações parte dos “territórios palestinos sob ocupação”, dão a esperança que o conflito árabe-israelense possa, finalmente, ser encarado de frente e que uma solução negociada entre as partes seja encontrada.
Torço por Nikky Haley. Sua origem de imigrante mulher indiana, nem branca nem negra, nem católica nem protestante, que fez grande sucesso empresarial e político num dos Estados rurais do sul dos EUA (onde, por iniciativa dela, a bandeira Confederada de batalha, remanescente da guerra civil americana, foi removida do alto do Capitólio Estadual onde tremulava desde os anos 1960 em protesto contra o movimento pelos direitos civis), nos dá esperança de uma visão imparcial do conflito árabe-israelense e de uma postura que conduza a ONU a retomar os hoje desprezados princípios que motivaram sua fundação, ou seja, a defesa da democracia no mundo.
Raul Cesar Gottlieb é diretor de Devarim.
