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Convergência - nº 22 - novembro 2010 - Academia de Letras do Trângulo Mineiro

Ubirajara Franco*

POEMA INACABADO

Hoje não quero um verso banal: quero um poema que afugente o meu mal... E que, livre da métrica que mutila, ou da cruel rima que cerceia, tenha a leveza dos passarinhos, a liberdade do zíngaro, e que trilhe os incertos caminhos por onde o andarilho vagueia...

e terá o gosto amargo de um adeus... Quero-o assim, volúvel, meio puro meio vagabundo... Quero-o também inacabado: refletindo a fantasia do cego e o sonho do presidiário da masmorra; que encerre o fascínio da tela do pintor incompreendido e que traduza as garatujas do louco na muralha intransponível!...

Quero-o impregnado com o vislumbre que se descobre na noite escura... Vestido com o enigma que se esconde no olhar profundo da virgem que inda resta.

*Acadêmico, cadeira 25

Quero roubá-lo das curvas sensuais da morena de pés descalços; embebê-lo na essência da mata; na gota do orvalho; no sorriso da criança; no fulgor do crepúsculo. Terá a cadência do choro do homem no quarto escuro. Será ungido com o olor da mulher que, na minha adolescência, me ensinou a fazer amor. Envolverá a emotividade do reencontro

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