Revue Cultive n 10 - Mulher Diamante - março 2020

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n°010 | Année 04 | março 2020

muLheres diamantes

REVUE CULTIVE - ISSN 2571-564X

A tempo acentua o brilho

Empoderamento feminino Corona Consciência 2020 Jóias da Música clássica

Mulheres arteiras Arte Eternamente Talentos Catarinenses Revue Cultive - Genève

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Cultive Revue littéraire et culturel

Nesta edição da revista Cultive, anunciamos vários eventos culturais em Genebra e no Brasil. Destacamos os trabalhos e as ações de escritores, músicos, artistas e também das academias de letras. Informamos nossos leitores sobre várias exposições e ações sociais realizadas em Genebra e no Brasil pelas associações culturais ou por pessoas independentes. O conceito desta revista é único em Genebra; é a primeira revista a ser editada na Suíça em francês e português. A população de língua latina que vive na Suíça tem uma representação importante. O objetivo principal desta edição é apresentar ao público suíço os representantes que têm um importante papel cultural na América Latina, bem como a cultura de língua portuguesa e espanhola. Pretende-se também apresentar a riqueza histórica e cultural de Genebra a estrangeiros residentes na Suíça e no Brasil, onde a revista é distribuída. Se você deseja apresentar suas obras culturais e trabalhos nas páginas das próximas edições dessa revista, ficaremos felizes em publicá-las após análise e aprovação editorial.

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Revue Cultive - Genève

Impressum Editeur - Cultive 12 Rue deu Pré-Jérôme 1205 - Genève Téléphone: +41 79 616 37 93 Site web: www.cultive-org.com E-mail: cultivelitterature@gmail.com Redacteur en chef - Valquiria Guillemin Designer : Luciana Bodner luimperianobodner@gmail.com Rédacteur adjoint: Rita Guedes Tracdution: Marcela Pimentel Correction et relecture du français : Marc Guillemin Photographe: Marc Guillemin

Copyright © Toda reprodução parcial ou integral do conteúdo da revista Cultive é estritamente proibida. ©Toute reproduction totale ou partielle du contenu de la Revue Cultive est strictement interdite.


SOMÁRIO

MULHERES DIAMANTES

32 | Ivanilde Morais de Gusmão

38 | Jacira Barros

11 | Ambrosina Iglesias Loureiro

42 | Maria Inês Botelho 14 | Amira _N. Mendonça

45 | Osmarina M. de Souza 18 | Carolina Mitsuko Yagui

48 | Rita Guedes 22 | Creuza de Abreu Imperiano

52 | Telma Brilhante -As multiplas facetas 26 | Elieder Corrêa

28 | 86 |Eloah Westphalen Naschenweng

56 | Sinhá Emilia-

31 | Izabel Hesne Marum

62 | Luiz Carlos Amorim - Mulheres de Corupá

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65 |

EDITORIAL MIRIAM O EMPODERAMENTO FEMININO

65 | Angela Mota

68 | Patricia Coelho

67 | Eissia conceição

MULHERES ARTEIRAS

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72 | Celma Regina Hellebust

78 | Maria de Lourdes

82 | Christianne De Murville

83 | Daniela Atanazio

88 | Edenice Fraga

71 | 112 | 99| Valquiria Imperiano

90 | Montana Cabral

91 | Maria José Esmeraldo - A grande mulher Evita Péron

93 | Norma Bezerra Brito

94 | Oneida Maria Di Domenico

96 | Raquel Queiroz

98 | Maria Inês Botelho

101 | Valdene Duarte

102 | Marivania Albergaria

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79 | Avani Peixe


103 | Tereza Penna

104| Gina Teixeira

106 | Lúcia Sousa -entrevista Claudia Montes

EDITORIAL VALQURIA IMEPRIANO - CULTIVE 2020 110 | Sou mulhere e daí?

111 | Corona Consciência

118 | A poesia Portuguesa

115 | CULTIVE Salão do Livro na Europa

120 | 2 ° Encontro Cutlural Cultive - PORTUGAL

122 | Livro de Mérito Cultural

124 | As mil cores do Brasil

126 | EDITORIAL

IRATAN CURVELLO TALENTOS E PERSONALIDADES CATARINENSES

128 | Adir Pacheco

130 | Dione Fernandes

132 | Henrique Ferresi

132 | Moisés Mpova

133 | Vera de Barcellos

135 | Neuza Coelho

136 | Menestel

137 | Pedro Henrique Zemke

138 | Francisco Carlos T. Neto

139 | Jamily dos Santos Durente 140 | Reann Ribeiro da Fonseca

142 | Iratan Curvello- Ponte Hercílio Luz

141 | Sara Ruth Wlach

143 | Maura de Senna por Maura Soares

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147 | Franciso Siqueira

148 | António Marcos Bandeira

150 | Thiago Silva

151 | Edmilson Rego

Talentos internacionais da música 153 | Layla Ramazanpianista do oriente

157 | Jóias da msúca clássica brasileira em Genebra

160 | Elias Lins

164 | Helder Passinho JR.

168 | Carlos André C. Rocha - idealista e professor na escola que saiu do lixão

166 | Francisco Alves

206 |Seção livros em destaques

Arte Eternamente 172 | Avani Peixe

192 | Valquiria Imperiano

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174 | Luciana Imepriano 178 | Nazaré Cavalcanti

198 | Consuli

202 | Iratan Curvello

184 | Rita Guedes

203 | Nirian Goes


34°Salon International do Livro et de la presse de Genève do 28/10 ao 1/11/ 2020

Cultive

information sur: www.cultive-org.com cultivelitterature@gmail.com

Valquiria Imperiano

Valquiria nous propose ses textes sous la forme de « nouvelles» et de « rééexions ». Leur lecture nous conduit sur le chemin escarpé de ses interrogations et pourquoi pas des nôtres. Ses personnages, les situations auxquelles ils sont confrontés, nous plongent dans les réalités parfois dures de son monde certes imaginaire mais peut-être pas très éloigné des rivages de la réalité. A chaque lecteur d’y choisir ses propres interrogations et d’y apporter les réponses qu i lui conviennent. Tel semble être le message que Valquiria a souhaité nous transmettre par ses écrits joliment ilustré par ses peintures.

Marc Guilemin

www.cultive-org.com cultivelitterature@gmail.com

Valquiria Imperiano

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O diamante é o material mais duro da natureza. Ele é capaz de cortar todas as outras pedras. Isso significa que não pode ser riscado por nenhum outro mineral ou substância, exceto o próprio diamante. A dureza está associada a outra propriedade mecânica, a tenacidade, que corresponde à capacidade de um material suportar um impacto. Funciona como um importante material abrasivo, de corte e de adorno. No entanto, é muito frágil, esse fato deve-se à clivagem octaédrica perfeita. Os textos budistas revelam todo o seu simbolismo: Sutra do Diamante para quem o diamante é a verdade, eterno. No Egito, Grécia e Roma antiga, era considerado quimicamente indestrutível e representa as "lágrimas de Deus". Era usado como um amuleto. Na mitologia greco-romana era associando ao amor eterno: as flechas de Cupido eram cobertas com pontas de diamante.

medo de que essa técnica fizesse com que ele perdesse seus poderes mágicos, por isso era usado principalmente como amuleto e talismã.

O diamante é originalmente um elemento de adorno como outros por causa do seu brilho Qual é estrutura da mulher? Dureza, tenacidade, recaracterístico, mas só começou a ser faceta- sistência, indestrutibilidade, amorosidade, brilho, do meados do século XIV, provavelmente por facetada, poder mágico, lágrimas divina e apesar de 8

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tudo isso frágil. Em resumo a descrição da mulher esteio que sustenta o equilíbrio da família. está gravado no diamante. Há histórias que envolvem a mulher com vários reQuanto mais o tempo passa mais o carbono, sub- cheios. Histórias que vão da miséria ao conforto, metido a pressão e ao calor, transforma-se na pe- do analfabetismo à intelectualidade, da pobreza à dra mágica e a mulher segue o mesmo trajeto. riqueza, da dificuldade para a facilidade, mas todas Como o diamante, ela se purifica com o tempo e as histórias são ladeadas por momentos de altos sob a pressão da vida ela aumenta seu brilho e e baixos, de ganhos e perdas, de lágrimas e risos, resistência. A mulher saí das profundezas das difi- de prazer e de dor, de alegrias e de tristezas. Sobre culdades, dos entraves, das dores dos sofrimentos, essas ondas de emoções, sentimentos e ações a dos trabalhos simultâneos, luta tenazmente para mulher vai se estabilizando, aprendendo, crescenendurecer, para perder as impurezas e brilhar. Com do e se afirmando até completar a sua transformao tempo ela se delineia, se afina, se limpa, se afirma ção final e se tornar um diamante de grande proe se torna um brilhante bem polido. E sua beleza porção em carats, límpido e sem incrustações que explode com a sua história e com seus atos tipica- danifiquem o seu brilho. mente femininos, amaciados pelos hormônios anA natureza é perfeccionista e precisa de tempo para facetar sua criação, assim como o diamante mulher. Por isso nessa edição a Cultive homenageia as mulheres com mais de setenta anos com o merecido de título de «Mulher «Mulher Diamante». Diamante». Todas as mulheres são diamantes, mas aos setenta anos elas já deixaram atrás de si um rastro brilhante que registra seus feitos, sua maternidade, seus netos, seus amigos, seus familiares e sua participação nas comunidades onde vivem. Mulher Diamante, pela sua garra, pela sua maternidade, pela sua opção profissional, pelas suas escolhas, por ser guerreira, pela ousadia, por sua bravura, por sua dedicação, pela sua determinação, pela sua coragem e pela sua fluorescência e luminescência variada, nossa homenagem e felicitações. Gostariamos de contar muitas histórias sobre muitas muitas Mulheres Diamantes, mas registramos aqui apenas alguns depoimentos e estrevistas de algumas representantes brasileiras. São elas: Amira Nunes Mendonça, Carolina Mitsuko Yagui, Elieder Côrrea, Eloah Westphalen Naschenweng, Telma Brilhante, Osmariti-guerra, antiviolência, pro-paz, pro-amor e pro- na Maria de Souza, Creuza de Abreu, Maria Inês carinho produzidos nas glândulas das maioria das Botelho, Rita Guedes, Ivanilde Morais de Gusmão, mulheres. Jacira Barros, Ambrosina Iglesias Loureiro, Niriam Goes, Izabel Hesne Marum; in memoriam Sinhá A mulher cria, educa, cuida da família, sustenta e Emilia, Vó Grande e Vó pequena, . promove o conforto do lar. No centro do lar é o Revue Cultive - Genève

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AMBROSINA

UM DIAMANTE DE MIL CORES EM OURO PRETO

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Ambrosina Iglesias Loureiro nasceu em Minas Até os noventa anos viveu sozinha e sua única reGerais. (Brasil) no dia 11 de julho de 1927 onde clamação é a falta de força que a idade traz obrigancresceu, estudou o primário e casou e vive até hoje. do-a a parar de trabalhar sistematicamente para se tratar. Foi aí que os filhos resolveram decidir por Foi ótima MÃE de sete filhos que educou e orien- ela e após conversas intermináveis Dona Ambrotou nos estudos. Todos os filhos terminaram seus sina aceitou em ir morar com a filha de Belo Hoestudos, casaram-se, fundaram suas famílias, ocu- rizonte por ser mais próximo do seu apartamento, assim ela poderia ir “dar uma olhada” nos seus propam-se de seus lares e das suas ocupações. jetos que continuam a funcionar sob a mão da igreDurante todo o período de criar filhos ela não ja da qual ela sempre se empenhou como devota deixou de reservar um lugar no seu dia-a-dia para católica. Aos noventa e três anos vive cercada pelos seus trabalhos dedicados à igreja e aos necessitados. cuidados dos filhos e das filhas, dos netos e netas e dos bisnetos que chegam aos montes. Tempo ruim não existe pra ela, sempre disposta a colocar a mão na massa quando se trata de ajudar Na sua longa jornada de vida ela sempre se edicou o próximo. Dona Ambrosina confirma o aforisma, muito a ajudar os necessitados de todas as formas. "Cesteiro que faz um cesto faz um cento." Então Fundou e coordenou vários apostolados de orações com ela aprendemos que se quisermos pedir um do Coração de JESUS nas Igrejas. Fundou uma estrabalho a alguém, peçamos a quem é bem ocu- cola filial da Kolping da Alemanha em M. Gerais pado, pois a pessoa vai encontrar um tempo para para educar e proteger as meninas adolescentes. Ajudou a construir várias Igrejas e casas para os realizá-lo. pobres. Ambrosina viu-se sozinha depois do casamento dos filhos. A pequenina e frágil mulher, não acei- Foi uma batalhadora incansável, sempre de boa tou deixar seu canto, onde reinava como desejava vontade e sem pedir nada em troca e tomando a iniciativa em cada projeto. A medida que o tempo e queria. passava mais ativa se tornava nos trabalhos sociais, A pequena Ambrosina tem um caráter forte, a sua porque quem ama o próximo força encontra para fala mansinha é uma fortaleza de determinação superar suas próprias dores!! que subjuga todos os filhos os quais não ousam Até os noventa anos viveu sozinha e sua única recontrariá-la. Revue Cultive - Genève

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clamação é a falta de força que a idade traz obri- após conversas intermináveis Dona Ambrosina gando-a a parar de trabalhar sistematicamente aceitou a ir morar com a filha de Belo Horizonte para se tratar. por ser mais próximo do seu apartamento, assim ela poderia ir “dar uma olhada” nos seus projetos Foi aí que os filhos resolveram decidir por ela e que continuam a funcionar sob a mão da igreja da

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qual ela sempre se empenhou como devota católica. Aos noventa e três anos vive cercada pelos cuidados dos filhos e das filhas, dos netos e netas e dos bisnetos que chegam aos montes.

Agora aos 92 anos, finalmente seu trabalho foi reconhecido pelo governo do estado de Minas Gerais que lhe fez uma homenagem em vida concedendo-lhe a MEDALHA MÉRITO SOCIAL GENTE DO BEM! Atualmente a idade está lhe obrigando a ficar mais quietinha, mas a FÉ em DEUS continua inabalável!!

Dona Ambrosina recebeu a merecida homenagem do governo dos homens, mas a sua maior gloria é receber as bênçãos de Deus. E nós os homens da terra ficamos a pedir a Deus para não esquecer de nos enviar outras Ambrosinas nas vidas dos neces-

sitados. Essa grande mulher de estatura tão pequena e fala mansa é, na verdade, um imenso diamante com o brilho divino da bondade. Que seja sempre abençoada Dona Ambrosina!

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DONA AMIRA , A MULHER FURACÃO Edelzia

Zidinir

Neide

Valquiria

Marilene

Festa de aniversário de Leandro, filho da Edelzia, festejado no Jardim Dra. Renata

por Valquiria Imperiano Dona Amira, de origem libanesa, nasceu em Nitéroi onde cresceu e estudou até terminar o curso de pedagogia e direito. Trabalhou como professora em Nitéroi e lá conheceu seu marido Jair Mendonça. Jayr terminou seus estudos de medicina e conseguiu um posto de cirurgião no antigo hospital das Clínicas de Mandaguari, que na época estava reformando a sua equipe médica e o conceito do hospital. Eu já morava lá há dois anos quando eles chegaram. Meu marido também trabalhava no hospital. Éramos todos jovens buscando estabilidade na vida.

tempo Amira já circulava pelo hospital dando seus palpites e administrando a agenda de Jayr. Ele, jayr, não acompanhava a movimentação da mulher, não tinha tempo, dormia e acordava com um bisturi na mão.

Amira saracoteava pra cima e pra baixo do hospital, da cidade, da prefeitura, das lojas. Às vezes em que eu saia com ela para uma loja, ela ia parando e conversando com quem passava na frente, eu ficava impressionada com a sua facilidade de comunicação e com a minha discrição da época, eu não conseguia ser tão expansiva. Assim Jayr vivia na sala de cirurgia e Amira fazendo o social. Parecia uma Amira chegou como um furacão, seu espírito política, todos a conheciam, era dona Amira prá cá, sempre foi ultra comunicativo e ativo. Em pouco dona Amira pra lá. E Jayr? Sabe o Dr. Jayr? Quem? O 14

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marido da Dona Amira? Ah! Sei quem é. Eu, meu nome? Eu era «a mulher do dr. Rubson». Essa era a diferença. Pronto. Amira era e é, até hoje, a administradora da agenda do Jayr e do lar; a contábil, a procuradora, a gerente imobiliária, a chefe da cozinha, a encarregada das compras, motorista, relações públicas, gerente de finanças, enfim uma só mulher que ocupa todos os cargos da casa, da vida do marido além de fazer o social, organizar atividades filantrópicas na cidade e o mais inexplicável, ela mantinha a casa dela organizada como um museu. Tudo no seu lugar, roupas colocadas em armários como em loja de departamento. Quando eu ia lá com a nossa amiga Edelzia, ficávamos cansadas só de pensar no tempo para organizar aquelas roupas e na dificuldade para se vestir sem desarrumar nada. Ficavámos humilhadas quando íamos à casa da Amira e nem ousávamos abrir o congelador, porque dentro de cada congelador, o de doce e o de salgado, havia pratos prontos congelados que daria para abastecer um grande supermercado.

Priscila e Amira, aniversário de 80 anos

brinquedo pra tudo do que é lado! Mas nossa exclamação morreu no canto da boca. Priscila tinha mil brinquedos tão organizados como numa loja de brinquedo. E ela brincava! Ainda não compreendo como ela conseguia.

Voltando à Priscila. O nascimento da Pris foi a realização do sonho da Amira, mas o bebê chegou Não, ela não vendia congelados, ela preparava tudo, pra testar a maternidade dela. Em poucos dias o caso aparecesse uma visita. E sempre aparecia visi- bebê prematuro começou a ter problemas de infectas. A que horas? Pois se ela estava sempre a correr ções intestinais, que evoluiu até deixar o bebê em pra resolver a burocracia e administrando a vida pré coma. Foi muito tempo lutando entre a vida deles? Nos intervalos e finais de semana a casa era e a morte, tiveram que levar o bebê para Londricheia, quando eu não estava a fim de cozinhar, eu na aonde havia um hospital equipado e preparapassava lá, assim como quem quer não querendo e do para atender neonatal. Foi um período difícil e o feijão preto já estava servido. de muitas lágrimas, medo e apreensão. A pequena Pris lutava para sobreviver e nós, que ficamos na Eu tive filhos, nossa amiga Edelzia tinha filhos cidade enquanto Amira mudou-se para o hospital, e Amira teve uma filha, Priscila. Foi uma festa o só podíamos cooperar orando e fazendo corrente nascimento de Priscila. Jayr da Amira e Amira de oração. não cabiam de felicidade, eu e Edelzia até pensamos: Agora vamos ver como ela vai manter essa Todo dia ela nos enviava um relatório, que flutuava casa impecável! Casa com criança já viu, né? É só entre melhorou, parou isso, parou aquilo. Eu vi o Revue Cultive - Genève

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Priscila, Valquiria , Amira

bebê no hospital, ela estava roxa, bem pequeninha e inchada, lembrou-me o meu irmão Mozart, que morrera, também, com um problema semelhante. Um dia ficamos sabendo que ela não passaria daquele dia, nos reunimos e oramos fervorosamente e pedimos aos amigos (na época não tinha internet, nem zap porque não existia o celular) conseguimos o apoio de muita gente. Passamos a noite de vigília, no dia seguinte veio a notícia que o bebê tinha reagido. O tempo foi passando, até que Priscila saiu do quadro de risco, ganhou peso e Amira veio para casa com ela. Ufa! Foi um alívio. Festejamos.

e ela o fez com competência. Montou uma equipe de professores e adotou o método Freinet e Montessori. Amira chamou-me para trabalhar como secretária, apesar de não ser minha praia, aceitei. Eu podia fazer muita coisa criativa também. Eu nunca tinha trabalhado com criança e lá eu aprendi muito. Edelzia era orientadora educacional. A escola tinha uma filosofia social belissíma,uma equipe de professores bem alinhados e uma associação de pais (APP) participativa. A APP mantinha até uma horta da qual era retirada legumes e hortaliças para o preparo da deliciosa e variada merenda servida às crianças diariamente.

Todas as crianças tinham o mesmo uniforme e Amira passou a ter mais uma atividade, a de ser mesmo aquelas que não tinham condição recebia mãe de uma menina. O que normalmente não é o uniforme da escola que Amira mandava confecdifícil, pois era só uma criança. Só que Priscila cionar pelas costureiras da cidade. Todos os provalia por dez, a menina era uma espoleta, quanto fessores recebiam uma bata verde, assim como o mais crescia mais espoleta a bichinha ficava e Ami- pessoal administrativo, inclusive a própria diretora Amira, cozinheiras e faxineiras, igual ao das crianra não alisava. ças. Apesar de ter triplicado o seu trabalho Amira continuou a executar suas atividades sem tirar um O material didático das crianças era fornecido pela «A» da sua agenda. Claro, ela precisou de mais escola e havia de tudo em todos as salas, livros na sala de leitura, colchão na sala de repouso, brinqueuma secretária em casa. dos na sala de jogos, tinta, pincel, papel, cartolina, Nessa época Amira apoiou o prefeito Xandu e livros de história na biblioteca, material para traassim conseguiu o apoio da administração para balhar o desenvolvimento das crianças que Amira montar uma escola municipal. Ela teve carta bran- mandava fabricar para a sala de desenvolvimento ca para estruturar o Jardim de Infância Dra. Renata motor. Cadeiras na altura da criança, pratos, 16

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Professoras: Zidinir, Valquiria, Amira e Marilene

Jayr e Amira

talheres, copos na sala de refeição. Tudo limpo organizado, decorado e, confesso, não sentíamos o trabalho para manter o ambiente limpo, claro e acolhedor da escola. Todos trabalhavam com um sorriso nos lábios e carinho.

cidade. Amira ficou em Mandaguari. Assumiu o cargo de professora na Universidade de Mandaguari, FAFEMAN, em 1982 assumiu o posto de secretária da faculdade, em 1996 passou a ser vice Diretora e nesse cargo permaneceu até 1999.

Durante esse período ela foi convidada para entrar na política, mas recusou. Porém sempre manteve o seu lado político-social ativo, o contato com o povo As professoras, cada uma com a sua personalidade, da cidade e suas atividades sociais. seguiam o programa aplicado e no fim do ano as crianças com 6 anos saiam conhecendo o alfabeto, Priscila, a filha cresceu, tornou-se uma mulher genas vogais, as palavras chaves que eram trabalhadas til e prestativa como a mãe, a única que conseguiu durante a evolução do programa, com eloquência tirar a Amira da cidade para conhecer um pouco o verbal, desenvolvimento motor e muitas desenvol- mundo exterior e, façanha maior, conseguiu tirar o viam trabalhos artísticos fantásticos, e capacidade pai do hospital uma vez para atravessar o atlântico. musical, a escola tinha sala de música e uma pro- Ele viajou gostou, mas terminou por aí sua vida de turista. Voltou para os hospitais onde gosta de estar fessora de música. e onde trabalha até hoje. A escola era um modelo de funcionamento e bons resultados. E graças à inspiração de Amira e seu empenho em conseguir doações, organizar eventos para levantar fundos e patrocinadores a escola funcionou às mil maravilhas.

Amira está com 80 anos e continua com o mesmo ritmo e disposição, inclusive mantendo os armários organizados com as roupas em seus devidos sacos plásticos geometricamente empilhadas nas prateleiras e gavetas. Ela faz o seu passeio matinal pela Pricisla estudava junto com nossos filhos no mes- cidade distribuindo bons dias e boa saúde, depois mo jardim em que éramos professoras, assim da academia. mantínhamos o olho sobre a menina que se tornou o terror da escola. Eu e Edelzia éramos madrinhas Amira está aposentada, mas seus dias continuam da menina e tínhamos o aval da mãe e da igreja preenchidos do mesmo jeito, cada coisa que depara dar carinho e esbravejar quando preciso fosse. saparece na sua agenda ela substitui por outra. Sua E confesso ela nos tirava do sério. Era um tal de grande esperança era ter um neto, que parou de bater nas outras crianças e Amira, como era a di- cobrar da sua filha. A cada pedido da mãe a Prisciretora da escola, não admitia que sua filha fosse o la responde: Eu heim! Filhos? Pra ter uma pestinha ditador do jardim. E dê-lhe castigo, para os quais que nem eu? Não Amira, eu quero é paz! ela dava rabiçaca (desdenhava) e continuava no dia Jair continua operando e visitando seus pacientes. seguinte a aprontar! Priscila viaja pelo mundo e Amira se conformou O tempo passou. Muitas mudanças. Outros pro- em jogar seu amor pelas crianças nos filhos dos sojetos surgiram. Idas e vindas. Muitos partiram da brinhos que visita quando vai ao Rio de janeiro. Revue Cultive - Genève

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CAROLINA MITSUKO YAGUI TAKESIRO,

nascida em 24 de dezembro de 1933, em São Paulo. Filha de imigrantes japonoses. As recordações da vida do seu pai e do seu avô não se apagaram da memoria. O difícil período de adaptação como imigrante marcaram-lhe a vida. Ela conta que, ainda pequena, presenciou soldados da polícia prendendo japoneses por racismo. Japoneses com título universitário, dignos foram presos e morreram na cadeia sem direito a julgamento, nem defesa, simplesmente porque eram nipônicos. Ela relata que, na época, o clima era de medo e insegurança com o amanhã.

Ao conversarmos, Corolina conta passagens entremeando-as no tempo cronológico, mas ela fala sem rancor, apenas transmitindo de forma pacífica fatos do passado, ressaltando, aqui e ali, as dificuldades que viveu. Um pouco da história da imigração japonesa no Brasil Em 8 de novembro de 1907, foi assinado o contrato de imigração entre o Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, Carlos Botelho e o diretor da Companhia Japonesa de Imigração Kokoku, Sr. Ryu Misuno. O acordo recebeu o nome de: Tratado de Amizade Nipo-Brasileira. A imigração japonesa no Brasil começou em 1908, com a chegada de 781 pessoas pertencentes 165 famílias, que viajaram durante 52 dias, partindo de Kobe com destino a Santos. Revue Cultive - Genève

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O navio pioneiro foi o Kasato Maru, que atracou no cais do armazém 14 da Companhia Docas de Santos às 17 horas do dia 18 de junho de 1908, após uma viagem de 52 dias. Ao chegarem no Brasil todos os passageiros eram obrigados a passar por um processo inspeção, de exames médicos e tinham que fazer aulas básicas de português. Em seguida eram selecionados pelos fazendeiros de café de São Paulo. «Eles iam morar nas fazendas e trabalhavam quase como escravos na cultura do café e o salário era uma miséria» - disse Carolina. Os japoneses nunca tocavam o soldo devido aos descontos feitos pelos fazendeiros no final de cada mês. Os nipônicos, que chegaram com a esperança de conseguir comprar uma terrinha e ter seu próprio cultivo, viram-se em situação de exploração e praticamente escravizados. Seus direitos de ir e vi eram limitados. A desconfiança dos governantes brasileiros que haviam determinado “branquear a raça brasileira” colocava-os em posição de inferioridade racial, eram chamados de “Yellow face” e vistos com muita desconfiança pela população. O contrato de permanência nipônica exigia uma permanência de 5 anos nas fazendas, mas, não suportando as condições, ao término do contrato muitos partiram em busca de seus próprios recursos. A maioria não conseguiu aprender a língua portuguesa e formaram uma comunidade de apoio mútuo, criando suas próprias escolas onde se ensinava o japonês, fundaram o banco America do Sul. Muitos conseguiram sair da escravatura e abriram pequenos negócios que não exigiam contato com o público, nem a língua. 20

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O avô de Carolina, pela sua experiência em construção naval, construiu muitas escolas na região de Lins onde se instalou e formou sua família. Um tio de Carolina morreu na viagem e foi jogado no mar e dele restou apenas o registro da memoria. O pai de Carolina Mitsu Yag Takacheri nasceu em Lins no Estado de São Paulo, Brasil, a mãe veio do Japão. O Pai de Carolina passou pelas dificuldades da época, mas finalmente conseguiu terra e plantou café. A perseguição aos japoneses no Brasil começou antes do acordo com os Americanos. Para residir na baixada Santista, os japoneses deviam possuir um salvo-conduto concedido conforme a vontade das autoridades policiais. A polícia perseguia-os, e mesmo sem ordem judicial detinha-os e aprisionvas-os. Bastava uma denúncia sobre uma pessoa e ela era interpelada e presa sem direito à defesa. Residentes nipo-brasileiros das rua Conde de Sarzedas e da rua dos Estudantes, eram abordados sem qualquer ordem judicial no meio da noite e, obrigados a abandonar a área em 12 horas. Foi nessa


época que o embaixador brasileiro em Washington, chamar atenção sobre si, executavam tarefas dentro Carlos Martins Pereira e Sousa, incentivou o governo de casa evitando circular nas ruas e manter contato do Brasil a transferir todos os nipo-brasileiros para com o público. os «campos de internamento» sem apoio jurídico, do Fonte de pesquisa wikipédia mesmo modo como tinha sido feito com os nikkeis residentes nos Estados Unidos. A ilegalidade, o racismo e o preconceito contra os “Yellow face” causou perseguições, confiscação de bens e mortes à revelia. Foi um período negro na história do Brasil causada por um governo com ideias de purificação da raça.

Carolina veio para Mandaguari, cidade no interior do Paraná. Nessa cidade ela montou seu atelier de costura e foi com o seu trabalho de costureira que ela educou seus filhos, manteve a casa e adquiriu o respeito da comunidade. A profissão de costureira, aprendera ainda jovem, mas Carolina não é apenas Com a eclosão da segunda guerra mundial a si- uma costureira ela tem o senso da criação e logo tuação dos japoneses no Brasil piorou. Em 1942, tornou-se a estilista da cidade. o governo Getúlio Vargas apoiou oficialmente os americanos e os japoneses sofreram a mais acirra- Seu trabalho alcançou tal sucesso na comunidade da perseguição brasileira. Vistos como inimigos em que logo a elite da cidade e da região batiam a sua território brasileiro, os Nipo-brasileiros, não podiam porta para encomendar vestidos de gala, de casaviajar pelo território nacional sem salvo-conduto mento, de formatura etc. expedido pelas autoridades policiais. Mais de 200 escolas da comunidade japonesa foram fechadas; os Seu corte perfeito e o acabamento das suas criações aparelhos de rádio foram apreendidos para que não colocaram-na na categoria de alta costura. No seu ouvissem transmissões em ondas curtas do Japão. Os atelier, que continua o mesmo desde a sua chegada nipo-brasileiros foram proibidos de dirigir veículos, em Mandaguari, preso à parede, estão expostas fomesmo se os táxis, ônibus ou caminhões fossem de tografias que contam a história da sua ascensão na sua propriedade e os motoristas contratados pelos costura. São fotos de vestidos, de desfiles de moda, nipo-brasileiros tinham que ter uma autorização da com artistas e com o costureiro Denner o grande estilista brasileiro dos anos 60. polícia. Os bens das empresas japonesas foram confiscados e várias empresas de nipo-brasileiros sofreram intervenções, entre as quais o Banco América do Sul, que teve um papel importante para os nikkeis, onde boa parte dos imigrantes aplicavam o dinheiro das lavouras e do comércio. O Banco do Brasil enviou interventores para tomar o América do Sul das mãos dos japoneses, funcionários de origem japonesa foram substituídos por funcionários brasileiros sem qualquer ascendência nipônica, porém a maioria não tinha experiência bancária, por consequência o banco entrou em uma crise administrativa. A situação voltou ao normal anos após a Segunda Guerra Mundial, com a compra do banco pelos seus antigos donos, pois a instituição estava nacionalizada.

Carolina hoje tem 80 anos e continua trabalhando no seu atelier em Mandaguari. Ela reparte seu tempo entre a ginástica, o chá com as amigas, os eventos sociais da cidade, as festividades, as idas ao shopping. Agora ela se dá tempo, aliviou sua agenda de pedidos e guarda apenas algumas antigas clientes. O tempo modificou os costumes, a moda é fabricada em usinas, importadas da China, mas uma bela peça de roupa bem-acabada e bem cortada continua saindo, apenas, das mãos das fadas costureiras.

Carolina é uma fada da costura, uma mulher que viveu sobre os tecidos, transformando-os em belas vestimentas, que transformam mulheres em cinderelas. Só que aqui nessa edição ela é mais que uma fada ela é um diamante que talha outros diamantes, Quando terminou a guerra com lançamento da que produz e cria arte com tecido. bomba atômica no Japão, a situação era das mais difíceis para os japoneses no Brasil. Eles procuravam viver o mais discretamente possível e, para não Revue Cultive - Genève

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CREUZA, A INCANSÁVEL MATERNIDADE

Creuza de Abreu Imperiano por Valquiria Imperiano

minha mãe contra tudo e contra todos.

Em 1950 minha mãe teve o primeiro filho, que Foi amor a primeira vista, tanto que ele largou o morreu aos 6 meses, causando aos meus pais muita seminário para correr atrás da minha mãe. Ela tristeza. Em 1953 eu nasci e a partir daí as crianças tinha 14 anos e ele 17 anos, ambos eram crianças. sucederam-se, às vezes com uma diferença de um Foi uma luta para se casarem. A família do meu pai ano apenas. se opunha ao casório e fez de tudo para os separar Em 1960, com apenas 27 anos, mamãe já tinha sem sucesso. tido 7 gestações das quais 1 aborto e o filho que Minha mãe acreditava que o impecilho era devido morreu aos seis meses, restando 5 filhos vivos cora sua condição social: ela era pobre e meu pai de rendo dentro de casa. A prole continuou a crescer família rica, mas nem tão rica assim, apenas bem até 1971 quando nasceu a décima terceira filha e de vida. Eu acho que a idade dos dois foi a causa mamãe conseguiu uma alma caridosa que lhe corprincipal de a família do meu pai opor-se à união. tou as trompas. Mas jovem é bicho teimoso e quando está apaixo- Aos 38 anos ela encerrou a produção e fechava a nado a birra aumenta. Meu pai fugiu e foi atrás da tropa dos Imperianos com 10 filhos atazanan22

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do-lhe o juízo, aprontando e deixando minha mãe de cabelos em pé, enquanto meu pai, funcionário dos Correios, trabalhava e fazia plantões extras na sala de teletipos, decifrando o código Morse e digitando telegramas para ganhar um pouco mais que o salário. Foram 21 anos de gestações sucessivas, de corridas aos hospitais para salvar a vida de um filho que agonizava depois de acidentes. Ela escapou de eclampsia, hemorragia e até de uma deficiência cardíaca, que só foi detectado em 2015 quando passou mal e finalmente um cardiologista fez uma ecografia. Esse problema congênito foi a causa dos inúmeros desmaios durante as suas gestações e que, na época, fora atribuído à uma anemia crônica, o médico disse que não entendia como ela estava viva. Acidentes, doenças e mortes entremeados de lágrimas e risos, estresse e nunca de tranquilidade foi a vida que ela levou . Dez crianças com idades que não chegavam a dois anos de diferença entre um e outro. Eu não sei como ela conseguiu dar conta de tudo sozinha. Ela tinha que limpar, alimentar, vestir, educar, acordar, banhar, levar para escola, tratar, vacinar, levar ao médico, ao dentista, além de cuidar da casa, lavar roupa, passar roupa, fazer a feira, carregar as compras e todos esses afazeres ela o fazia sempre com um bebê na barriga. Não é um trabalho para qualquer um, é um trabalho social - familiar e isso ela fez sozinha, sem ajudantes do lar, contando com ajuda dos mais velhos para cuidar dos menores. Apesar de todas as dificuldades, dez filhos sobreviveram às doenças e à morte neonatal tão comum na época. Em 1977 quando eu tinha minha primeira filha, lá no sul do Brasil, ela pegou um avião e veio receber a neta. Mas não ficou muito tempo porque nesse meio tempo nasceu um neto e como ele estava fraquinho, ela pegou o avião de volta para Fortaleza a fim de cuidar da criança. Ela apegou-se ao bebê e meus pais acabaram por adotá-lo, aumantando a família para onze.

Assim minha mãe saiu da infância diretamente para cuidar das suas próprias crianças. Apesar de toda a filharada ela não esvaziou o seu amor pelas crianças. Tanto foi o seu contato com crianças que ela ainda tem atavismos infantis. Não pode ver uma criança que quer, imediatamente, colocá-lo no colo, abraçá-lo e se puder levá-lo para casa, uma mania que adquiriu, talvez pelo hábito de ter sempre um bebê nos braços. Enquanto os filhos cresciam, passaram lá por casa crianças que os pais deixavam por algum tempo, outros que cresceram e partiram na idade adulta, netos que ela cuidou enquanto a verdadeira mãe estava procurando organizar a sua vida e até adultos com dificuldades financeiras ou com problema de saúde ela acolheu em nossa casa. Minha mãe sempre dá um cantinho a quem precisa. Meu pai morreu em 1998. Ela continuou na sua casa no Revue Cultive - Genève

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Nós, os filhos, crescemos e olhamos fatos como esses naturalmente, como se em todas as famílias as mães fossem iguais. Eu havia guardado esses fatos e tantos outros na minha mente e agora, ao relembrá-los, acentua-se a conclusão de que minha mãe é uma heroína e, apesar de ter acompanhado todo o seu processo de maternidade e atividades do lar, eu ainda não entendo como ela conseguiu fazer tanta coisa sozinha enquanto meu pai executava a sua função de trabalhar para botar comida nas nossas bocas, acompanhar nosso devolvimento escolar, comprar o material escolar, dividí-lo entre nós, comprar Brasil. No ano 2000, aos 67 anos, foi morar alguns sapatos escolares quando resgavam, o tecido para tempos em Genebra e acabou ficando 10 anos. Ela costurar o uniforme quando não tinha mais como passava seu tempo contatando brasileiros solitários remendar, nos ensinar a encapar os cadernos e a esque encontrava no Caritas (associação que ajuda crever os nossos nomes no material escolar ( tarefa pessoas indigentes em Genebra). Muitos brasileiros que passou para as minhas mãos muito cedo). encontraram na minha mãe, em Genebra, a mão amiga, ou amor de mãe que não tiveram, o apoio E como ele trabalhou e sacrificou-se por nós! E nas horas de solidão, outras pediam-lhe para cui- como ele tinha prazer em trazer de vez quando, dar dos filhos enquanto trabalhavam e não tin- quando sobrava um dinheirinho, um batom verham com quem deixar as crianças. Ela também se melho para minha mãe, uma de suas poucas exiocupava ajudando a servir almoço para as pessoas gências. Rafael! Compre pelo menos um batom pra no Caritas ou na cozinha da associação caritativa. mim! Papai não respondia, mas quando sobrava Esse era seu prazer e diversão. Todos a chamavam algum, lá vinha ele com um batom ou um corte de de Mãe, minha mãe ou mainha. Meu pai, quando tecido, ou um colar. A felicidade dela era imensa. Pintava os lábios de vermelho, botava um colar estava vivo, a chamava de «A mãe de todos» de vidrilho, o melhor vestido e lá iam eles para o A idade foi avançando e a fragilidade aumentando. cinema que meu tio era gerente e nós não pagávaO clima frio é muito difícil para se suportar. Ela mos a entrada enquanto eu cuidava dos meninos voltou para o Brasil onde a maioria dos filhos e o em casa. calor tropical a esperavam.

Hoje aos 86 anos ela se mantém firme. Apesar da idade, não abandona a mania de socorrer quem precisa. A sua maneira ela faz o bem ao seu redor. Nunca negando um prato de comida para quem precisa, recebendo crianças de uma comunidade do bairro da Torre e distribuindo brinquedos.

E pode ter certeza, nove meses depois nascia outro bebê e a felicidade era sempre a mesma para os dois. Abriam as portas, chamavam os vizinhos e amigos para ver o bebê. E dê-lhe cachimbo! (Cachimbo era o nome que se dava para a festa que comemorava a vinda de um bebê. A festa era regada a licor de genipapo, que minha prepava antes do bebê nascer e bolos, e ninguém fumava cachimbo, mas o charuto rolava na festa e quando o licor acabava entravam na cachaça, e só iam embora quando acabava tudo).

Dona Creuza é uma guerreira que não se deixou abater pelas dificuldades. A menina ingênua que acreditava que beijar engravidava aprendeu o processo criativo na prática. Envelheceu, seu caráter fortaleceu-se, mas ainda guarda a ingenuidade das Assim foi a vida dessa guerreira. Muita luta, muipessoas simples e a bondade natural no seu cora- tos filhos até hoje vivos. uma penca de netos e bisnetos ção. 24

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Merecidamente, Elieder Corrêa recebe o título de Mulher Diamante 2020. Elieder Corrêa, mãe, mulher, avó, professo-

ra aposentada, poeta, ativista cultural. ativista Cultive. É um diamante extraído em São Paulo que vive em Curitiba. Um diamante pelo tempo polido, que pela força e pela pressão da vida eclodiu resistente e tenaz. Ela desabrocha a cada dia mais bela, ousando a sensualidade e distribuindo bondade, mesclando ações antagônicas no caldeirão da existência. Mistura ervas de criação, de poesia, de maternidade, de guerreira, de amante, de solidariedade, de froça e como uma maga dos tempos modernos cria suas poções mágicas e as esparrama durante suas caminhadas pelo mundo. Com poucas e bem pousadas falas, mistura-se com gregos e troianos, sem se abalar, sem provocar guerrilha, nem violência. Observadora da vida, generosa com os fracos. Sabe o que é querer, sabe o que é sonhar, sabe o que é sofrer, sabe o que é lutar, sabe o que é liberdade, sabe o que é vencer em tudo, até o medo e a tristeza, sabe o que é sorrir e superar, e nos atos de bondades praticados, ela distribui esses valores preciosos. Atrás de si uma história, que ela não mede sua importância com ninguém porque é sua história e que apenas a ela importa, e só a ela cabe resolve as incógnitas que algumas tramas guardam. Paciente e tranquila tenta decifrá-las com coragem e com a tenacidade que um diamante possui para cortar duros metais e pedras, assim age como um diamante de origem asteroide conseguindo estilhaçar as pedras mais duras que surgem no seu caminho e joga luz e luminescência ao redor, como um diamante polido de origem mineral terrestre.

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Eloah Westphalen Naschenweng Mulher Diamante 2020 Eloah Westphalen Naschenweng um nome alemão difícil de se pronunciar e de se escrever pra nós brasileiros, mas a dificuldade fica só no nome porque Eloah é uma pessoa simples, tranquila e forte que vive no seu apartamento, no Abraão em Flórianópolis, na companhia de uma ga-

tinha.

Gatinho lembra silêncio, lembra calma, fragilidade e Eloah passa também calma, silêncio e fragilidade ,além da sensibilidade que afloram, não apenas da sua expressão, mas também da sua escrita criativa. A contemplação, o olhar espreitador sobre a vida, as observações do seu dia a dia, as suas leituras transformam-se em palavras. Cada linha da sua prosa poética é uma viagem em metáforas suculentas e enternecedoras. Essa autora que apesar dos setenta e um anos continua a criar, a florear, a sonhar, a estimular, a participar de eventos, a se desdobrar pela família, a driblar as tristezas, a rir com as alegrias duplicando-as no tear da felicidade. É mais um dos exemplos do mundo feminino. E é homenageada aqui para que sirva de exemplo. Exemplo de objetividade, de trabalho, de terminação, luta pelo seu espadedicação e resistência.

«Viver não é fácil, mas ter um caminho traçado para percorrer, é transformador. Sou grata pelas brisas e também pelas tempestades porque foram elas que me fizeram ser quem sou.»

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deço,

VG - Eloah antes de ser escritora qual era a sua profissão? EWN Sou Funcionária Pública aposentada. Trabalhei em vários órgãos do Governo e na maioria do tempo fui redatora de documentos oficiais.


VG - Onde nasceu?

Quintana, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Cruz e Souza, Luiz Vaz de Camões, Luiz Delfino, EWN - Nasci na cidade de Jaraguá do Sul/Santa Pablo Neruda, Federico Garcia Lorca, Lindolfo Catarina/Brasil, mas fui criada na cidade de Rio Bell, Cora Coralina etc. do Sul, também em Santa Catarina. Moro em Florianópolis desde 1970. VG - Por que escolheu escrever poesia em prosa? VG - Qual a sua formação?

EWN - Porque tenho um coração e um olhar apaixonado pela vida e todo as suas nuances.

EWN - Sou Professora, pedagoga e graduada, também, em Tecnologia de Automação e serviços Exe- VG - Foi fácil seguir e entrar no meio intelectual? cutivos. EWN - A única barreira foi a insegurança inicial de me expor, mas tive apoio para dar o primeiro passo VG - Como você viveu em família? Incentivos, fa- e lançar meu primeiro livro. cilidades de estudos, apoios, dificuldades? VG - Você sofreu algum preconceito, discriminaEWN - Tive uma infância e juventude num lar de ção, perseguição, assédio ou vítima de bouling por classe média alta e tive todas as oportunidades. parte de homem ou mulher? EWN - Não nunca. Sempre fui uma pessoa bem VG - Como você era na fase de adolescente e jo- cercada por amigos. vem, quais os seus sonhos? VG - O amor surgiu como e quando? A sua IntelecEWN - Como toda a jovem da minha época tualidade perturbou ou interferiu de alguma forma sonhava em casar, mas também em trabalhar como na vida familiar? Você teve filhos? professora. EWN - Casei com meu primeiro namoradinho e VG - Seus sonhos se realizaram? muito apaixonada. Sempre tive apoio da família. Tenho 3 filhos, dois homens e uma mulher e 5 neEWN - Com 16 anos comecei a trabalhar como tos homens. secretária de um Colégio Particular. Depois comecei a dar aulas neste estabelecimento e em mais VG - Como conseguiu coordenar as atividades de dois outros. Lecionava Português. Casei com meu mãe, professora, escritora, esposa? primeiro namorado. Viver não é fácil. Muitas barreiras financeiras com altos e baixos na minha vida, EWN - Não foi fácil. Coordenar todas as atividades mas dei sempre a volta por cima trabalhando profissionais com a criação dos filhos foi muito tramuito. Trabalhei 50 anos cumprindo horário. balhoso e estressante e, só consegui, porque tive o Neste período sempre procurei aprender, aprender apoio de uma ajudante doméstica que morou cosempre mais. Hoje sou aposentada. migo durante muitos anos. VG - Quais são as figuras memoráveis que você VG - Em que período da sua vida você resolveu ou começou a conviveu que influenciaram a seguir a descobriu a escrita e como isso aconteceu? carreira literária e como começou essa carreira? EWN - Sempre gostei de poesia e textos poéticos EWN - A leitura foi uma constante em minha vida. e fui escrevendo por prazer. Só no ano 2000 entrei Convivi com uma família de leitores. Meu pai com- numa primeira Antologia e, em 2002, lancei meu prava muitos livros. A leitura foi a mola propulsora primeiro Livro “ Fragmentos”. Hoje tenho 15 livros para que eu admirasse os escritores e seus textos. solos e já participei de 45 Antologias, no Brasil, Portugal, Paris e Genebra. VG - Cite alguns grandes poetas que você leu na sua vida? VG - Para as mulheres que são as responsáveis pela maternidade, o que você diria como conselho para EWN - Olavo Bilac, Cassimiro de Abreu, Mario ajudá-las a concatenar a maternidade e a vida proRevue Cultive - Genève

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fissional? Valeu a pena? EWN - Digo que quando se tem um sonho, um projeto de vida e a persistência necessária para impulsionar a realização, por mais difícil que seja, vale a pena. Viver não é fácil, mas ter um caminho traçado para percorrer, é transformador. VG - Em que sentido vale a pena para a mulher voltar-se para a intelectualidade?

dades ligadas a ajudar o jovem pobre a descobrir a literatura? EWN - Participei de várias atividades, mas não como um projeto pessoal. VG - Como a sociedade pode contribuir para a melhoria social, da natureza, do crescimento do jovem, da educação, etc?

EWN - Conhecer, aprender, compartilhar faz parte EWN - Tendo maior comprometimento e atenção. do conhecimento da beleza da vida e do encantamento que ela pode dar. VG - Algo não foi dito? VG - Você acha que a maternidade é mais ou menos importante do que a carreira profissional! É possível conciliar as profissões (considero a maternidade também uma profissão, se você discorda pode debater)? EWN - Assim como eu, muitas mulheres conseguem conciliar o papel de mãe com a carreira profissional. Ser mãe é o papel mais importante na vida da mulher, mas os filhos crescem e o tempo da atenção tem limite. Vale dedicar-se também ao crescimento pessoal.

EWN - Acima das verdades, das escolhas e da arte de que é feita a vida, ela reflete a energia que gastamos e a força da vontade que empenhamos para galgar nossos sonhos. Não há nada que desfaça o caminho percorrido e nesse trajeto não cabem medos, erros, nem arrependimentos - só a esperança que protege o coração levando-nos sempre adiante.

VG - Você perdeu algo pela estrada da vida ou você achou? EWN - Tive perdas e tive ganhos. O encanto prevaleceu ante as perdas e os ganhos ocuparam espaços generosos na minha vida. Sou grata pelas brisas e também pelas tempestades porque foram elas que me fizeram ser quem sou. VG - Faltou algum projeto a ser realizado? EWN - Sempre haverá novas ideias, novos projetos e outros sonhos a realizar. VG - Você que teve uma vida voltada para a formação acadêmica e os estudos filosóficos, você considera fácil para a mulher fazer essa caminhada? EWN - Não é fácil para ninguém. São tantas as exigências! Nada veio de graça na minha vida. Enfrentei muitos desafios, mas sempre fui muito atuante. Abri meu caminho com muito trabalho e dedicação. VG - Você como ativista literária, você tem ativi30

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dou-se para São Paulo. Lá estudou o Clássico no colégio Notre Dame, casou e teve seus filhos. Uma mulher dinâmica que passou uma boa parte da sua vida no mundo da arte. Marchand de arte, de móveis e objetos antigos. Fez cursos de história da Arte em Museus na Itália e trabalhou no Masp. Foi com essa profissão que ela criou dois filhos hoje casados. Da sua filha nasceu o neto querido por quem é apiaxonada e para quem dedica seus livros. Tudo tem seu tempo!

IZABEL HESNE MARUM por Valquiria Imperiano

Acabado o tempo dos negócios, os filhos adultos e casados, Izabel buscou o prazer e a tranquilidade de Floripa. Foi à Florinopolis à procura de outros ares. Queria sair da poluição, do estresse de São Paulo e atirada pelo encantamento da ilha ele partiu. Lá ela inspirou-se com beleza natural da Ilha da Magia para escrever seu livros infantis.

Nasceu na ilha: A luna da lua, em seguida A Bruxinha que Virou Sereia; o terceiro: Cotinha, Galinha dengosa e o quarto: O boi de Mamão Verde; escreveu também poesias e contos e participou de várias Foi numa viagem guida pelas letras que nos enconantologias. Recebeu convites para academias de letramos pela primeira vez. Um encontro organizatras, passou a frequentar os meios literários, a pardo pelo destino que se deu longe do Brasil e realiticipar de excursões culturais e antologias. Com os zou-se no Salão do Livro de Paris. grupos literários viajou para a Europa e participou de Salões de livros apresentando suas obras. Ela é Brasileira morando em Flonópolis, eu Brasileira, antiga moradora de Florinópolis e radicada Seus livros são suas paixões, que ela escreve para em Genebra. Que reboliço de caminhos, de idas e distribuir nas escolas infantis da ilha. vindas até nos encontrar! Mas aconteceu e foi um belo encontro. E desse encontro nasceu uma amiHoje, Izabel, apesar de um problema nos olhos, zade sincera. continua escrevendo contos, histórias e lendas, principalmente baseados no nosso folclore. DimiNão perdemos mais o vínculo, eu fui pra lá, para nuiu a produção por causa do problema na visão, a ilha; ela veio prá cá, para Genebra e seguimos mas está feliz. Preparando-se novamente para voar uma caminhada mostrando livros e conhecendo e aproveitar seu tempo e rever a velah Europa. países que Izabel não perdia os detalhes, curiosa em conhecer a história, os monumentos arquitetônicos, a cultura e a geografia. Não houve impecilhos, nem dificuldades. Apesar dos seus 72 anos, ela percorreu os monumentos de Berlim sob um frio de 3 graus, andou pelas ruas de Lisboa sem se dar conta das distâncias; em Genebra segurou o ritmo do Salão do livro disposta e feliz, é feliz. O encantamento trás felicidade e felicidade encobre o cansaço. Izabel é um daqueles achados únicos em nossas vidas.

Izabel Hesne Marum, nasceu em Nova Europa no estado de São Paulo. Aos 10 anos sua família muRevue Cultive - Genève

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IVANILDE MORAIS DE GUSMÃO

IVANILDE MORAIS DE GUSMÃO, nasceu na área rural, onde seus pais eram arrendatários, hoje, Município de Machados no Estado de Pernambuco, anteriormente pertencente ao Município de Bom jardim. Seus pais, expulsos da terra, mudaram-se para a Vila dos Machados. Em 1953 foi morar em Recife. Entrou no mercado de trabalho aos treze anos. Fez o Ginásio no antigo Colégio Guararapes e no Colégio Estadual de Beberibe. Em 1962 migrou para São Paulo, onde trabalhou como operária. Em 1964 voltou para Recife e, em março de 1964, começou a trabalhar na SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, onde conviveu com figuras memoráveis e desenvolveu todo um processo de leitura dos clássicos da filosofia, da literatura e dos grandes poetas. Em 1967, iniciou o segundo, grau e em 1970, entrou para a Universidade Católica de Pernambuco para cursar Geografia, sob a coordenação do Pro32

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fessor Manoel Correia de Andrade. Em 1974 fez Especialização em Desenvolvimento Urbano e Regional na UFPE; em setembro de 1975, pediu demissão da SUDENE e foi trabalhar como pesquisadora na Universidade Federal de Pernambuco, na pesquisa do “Processo de Urbanização do Nordeste”, em convênio com a SUDENE e, em 1976, na pesquisa “Custos de Urbanização”, convênio entre SUDENE e FIAM – Fundação Instituto de Administração Municipal. Em dezembro de 1976, mudou-se para Maceió-AL; em março de 1977, foi trabalhar como técnico em Planejamento na Secretaria de Planejamento de Alagoas e em março de 1978, fez concurso e começou também a ensinar na Universidade Federal de Alagoas, na área de Ciências Sociais. Como docente da UFAL fez, em 1979, Especialização em Ciências Sociais; e em 1981, entrou para o mestrado em Desenvolvimento Urbano e Regional na Universidade Federal de Pernambuco.


“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”;

mento de resignação. Resignar-se com o quê? Com a pobreza, com as dificuldades, com a falta de pers1. VG - Que trabalho foi esse de operaria em São pectiva? Jamais!!!! O único objetivo era estudar, esPaulo? tudar para ter as mínimas condições de vida! IMG - Trabalhei numa fábrica de relógios, no se- 7. VG -Quais são as figuras memoráveis que você tor administrativo. Depois num Escritório de uma começou a conviver em Recife em 1964? construtora. Aos sábados, ajudava o contador fazer o pagamento dos operários. Olhava com admira- IMG - Entrei como servidora administrativa da ção e respeito as mãos calejadas e o semblante en- SUDENE fui trabalhar no dia 03 de fevereiro de durecido daqueles homens trabalhadores. Depois 1964, em abril houve o golpe militar. Não tinha fui trabalhar como atendente em um estúdio de ideia do que acontecia. Até então, só tivera oportufotografia. nidade de fazer o primeiro grau, ou seja, o Ginásio. Em 1967 fui trabalhar na Divisão de Habitação do 2. VG -O que a fez migrar para são Paulo? Departamento de Recursos Humanos. Um espaço onde trabalhavam engenheiros, arquitetos, econoIMG - Fui procurar trabalho. Parte da família já mistas, sociólogos. A equipe da divisão formava morava lá, na periferia da cidade de Osasco e to- um grupo de estudos e se reuniam todos os dias dos trabalhavam nas fábricas. das 7 às 8 horas quando iniciava o expediente. Observaram que eu gostava muito de ler e começa3. VG -E por que não permaneceu lá? ram a orientar minha leitura. O primeiro livro que me emprestaram foi Metamorfose de Franz Kafka. IMG - Voltei para Recife para o enterro de uma Com a orientação deles li clássicos brasileiros, porirmã e tomei conhecimento de um concurso para a tugueses, franceses, alemães, russos, ingleses, esSUDENE – Superintendência do Desenvolvimento panhóis, franceses. Li e estudei os filósofos, sobredo Nordeste, fiz e fui contratada como auxiliar ad- tudo alemães. Também poetas americanos, russos, ministrativo. franceses, espanhóis, portugueses. Estudamos os escritores latinos americanos. 4. VG -Ao voltar para Recife, voltou sozinha ou com a família? 8. VG -Cite alguns grandes poetas que você leu nesse período? IMG - Voltei, como fui, sozinha. IMG - Fernando Pessoa, Garcia Lorca, Baudelaire, 5. VG -Como você era na fase de adolescente e jo- Verlaine, Walt Whitman, Goethe, Horderlin, Vicvem, quais os seus sonhos? tor Hugo, Rilke e tantos outros estrangeiros. Tem um livro que ganhei do grupo o título é Obras PriIMG - Entrei no mercado de trabalho aos 13 anos, mas da POESIA UNIVERSAL, publicado em 1952. como aprendiz, recebendo ½ (meio) salário míni- Guardo-o com muito cuidado ainda hoje. Quanmo. Toda a adolescência e juventude foi trabalhei to aos brasileiros, estes eram estudados desde os para ajudar a família, arcando com minhas despe- clássicos como Olavo Bilac, Capistrano de Abreu, sas e tudo mais. Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos (este era declamado), Cecília Meireles, Drummond, Jorge 6. VG -Seus sonhos se realizaram? A que custos de de Lima, Manuel Bandeira, Carlos Pena e tantos resignação e desistências? Como foi o seu proces- outros. Foi a partir daí que tive oportunidade de so de evolução educacional e intelectual? Foi fácil, fazer o II Grau, passar no vestibular, cursar Geosem altos e baixos? A vida foi fácil para você? grafia e depois fazer Especialização em Desenvol vimento Urbano e Regional. Em 1975 fui participar IMG - Nunca tive sonhos, apenas perspectiva de e coordenar um Grupo de Pesquisas na Universique algum dia a vida mudaria. Como? Não sabia! dade Federal de Pernambuco na área de social. Fala-se em custos financeiros, estes foram de min- 8. VG -Por que se mudou para Maceió? ha total responsabilidade. Não conheço o senti- Revue Cultive - Genève

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IMG - Com experiência na área de pesquisa social, fui trabalhar, em 1977, na Secretaria de Planejamento do Estado de Alagoas. Em 1978, fiz concurso para ser Professora na Universidade Federal de Alagoas-UFAL. Nessa instituição fiz o Mestrado e o Doutorado, na área das Ciências Sociais. 10. VG -O que a fez retornar para Pernambuco? IMG - Em 1993 aposentada da UFAL, retornei a Recife/PE e fui fazer o Curso de Direito na Universidade Católica de Pernambuco, hoje também sou advogada. 11. VG -Você sofreu algum preconceito, discriminação, perseguição, assédio ou foi vítima de boulling por parte de homem ou mulher? IMG - Sim, como toda mulher naquela época. Ainda hoje sofremos sempre algum tipo de violência, preconceito e discriminação. No meu caso, principalmente em relação a questão de classe.

Justiça Federal. Em 2001, tive um enfarto a partir daí parei de advogar. Fui então fazer um curso de gerontologia e sobre o processo de envelhecimento, cujo trabalho final resultou no meu primeiro livro com o título: DIGNIDADE NA MORTE: Direito do Ser Social Idoso de....apagar as luzes do seu entardecer. A partir daí comecei a me interessar pela escrita, porque sendo uma leitora voraz, vi então que este seria uma vereda por onde era possível caminhar e fazer um trabalho apaixonante: ESCREVER e fazer de minha escrita um instrumento de luta e de resgate. Oriunda da classe trabalhadora e tendo sido apresentada, quando cursava o mestrado em 1981, ao filósofo alemão Karl Marx, que analisava a origem e o desenvolvimento da sociedade capitalista, na qual vivemos, decidi que a partir daí teria como projeto de vida: estudar e escrever pelo viés da humanização, eu estava, então, com 40 anos. Toda a minha escrita passa pela concepção materialista da história, principalmente a literatura e a importância que ela tem na transformação da realidade e na construção da sociedade verdadeiramente humana. Hoje, com os meus 78 anos completos, mais do que nunca, tenho a certeza que é preciso muita luta e muito conhecimento para adquirir o saber e ajudar a construir a sociedade humana.

12. VG -O amor surgiu como e quando? A sua intelectualidade perturbou ou interferiu de alguma forma na vida familiar? Você teve filhos? IMG - Em relação a esse amor fantasioso em nenhum momento. Casei em novembro de 1964 e fiquei viúva em 2018, portanto 54 anos de casada. Quando iniciei o Curso Superior em 1970, tinha duas filhas. Conciliar trabalho, família e estudos foi muito difícil, mas meu companheiro sempre ajudou-me com as crianças. 15. VG -Que conselho você daria para as mulheres, que pudesse ajudá-las a concatenar a materni13. VG -Como você conseguiu coordenar as ativi- dade e a vida profissional visto que elas são as resdades de mãe, professora, escritora, esposa ? ponsáveis pela maternidade? Tudo por quê lutou, valeu a pena? IMG - Morando em Maceió/AL, naquela época uma cidade menor, foi possível, embora com muito IMG - É sempre muito difícil a situação da mulher trabalho e cooperação familiar, consegui conciliar num mundo e numa sociedade machista como a as atividades de dona de casa, esposa, mãe e pro- que vivemos, qualquer que seja o lugar e as condifessora. ções sociais na qual está inserida. Esse quadro se torna mais grave quando se trata das minorias de 14. VG -Em que período da sua vida você resolveu gênero e da maioria de classe, a trabalhadora. A ou descobriu a escrita e como isso aconteceu? mulher teve que conquistar uma melhor condição de vida, a esse objetivo vincula-se, sobretudo, o IMG - Quando me aposentei e voltei para Recife, grau de escolaridade. as filhas já estavam na Universidade Pública, uma fazendo Medicina e a outra Direito. Em 1998, A vida sempre foi um desafio pra mim, muito baconcluído o curso de Direito, já então com 57 anos, talhei. Conciliar as atividades está cada vez mais comecei a advogar e prestar assistência jurídica na difícil. Tendo que trabalhar muito cedo, só após os 34

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70 anos é que comecei, realmente, minha carreira de escritora. Se valeu a pena? Respondo com as palavras do grande poeta Fernando Pessoas: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”; ou ainda, “ Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”, principalmente o de acreditar que algum dia teremos uma sociedade verdadeiramente humana onde todos se reconheçam como pertencentes a uma única família: a do HUMANOS. 16. VG -Em que sentido vale a pena para a mulher voltar-se para a intelectualidade? IMG - Primeiramente, é preciso ter uma certa vocação e querer essa atividade. É preciso estudar e estudar, trabalhar, acreditar e lutar para realizar esse projeto. No meu caso, as circunstâncias foram acontecendo e com o gosto pela leitura e pela vida, aproveitei as oportunidades e participei do processo histórico tentando realizar meus projetos. 17. VG Você acha que a maternidade é mais ou menos importante do que a carreira profissional! É possível conciliar as profissões (considero a maternidade também uma profissão, se você discorda pode debater)? IMG - O mundo mudou muito, na época de minha mãe as mulheres só eram donas de casa e reprodutoras da espécie. Hoje, ter filhos, é uma opção e as mulheres finalmente têm o livre arbítrio de querer ou não. A vida é cheia de luta e de conciliações. Ter filhos não é uma profissão, mas um trabalho, aliás, muito pesado e difícil. Essa questão me faz lembrar uma frase de Marx na Ideologia Alemã: “...a primeira relação de produção é a do homem e a mulher (macho e fêmea) para reproduzir a espécie...”. Tanto é assim que, quando era criança ouvia as pessoas dizerem: “...fulana entrou em ‘trabalho de parto’”. É realmente um trabalho que gera fruto e que garante a reprodução da espécie humana.

mento para realizar a humanidade. 19.Faltou algum projeto a ser realizado? IMG - A minha vida, a minha caminhada foi sempre pautada numa perspectiva de humanização. Para tanto era preciso, primeiramente, compreender o mundo. E isso só é possível com estudo, com saber e é esse o projeto que venho tentando realizar. 18. VG -Você teve uma vida voltada para a formação acadêmica e os estudos filosóficos? Você considera fácil para a mulher fazer essa caminhada? IMG - Minha vida não foi voltada para a formação acadêmica e se alcancei esse patamar foi a partir de uma certa idade. Até os 30 anos não tinha sequer o segundo grau, a partir da minha caminhada minha formação se fez e continua ainda sendo uma produção individual e em várias coletâneas. Nada é fácil para a Mulher atingir um certo nível intelectual e se é da classe trabalhadora as coisas são muito mais difíceis, poder-se-ia dizer, quase impossível. E, mais ainda, em matéria de estudos filosóficos, não há estímulo. Mas a luta é grande para mudar esse quadro.

19. VG -Você como estudiosa de Karl Marx e defensora do humanismo, você tem atividades ligadas a ajudar o homem pobre? IMG - Vindo da classe trabalhadora, aquela que produz a riqueza, mas dela é retirada porque o produto socialmente produzido é privadamente apropriado pelo outro, o Capital. Antes de conhecer a obra do filósofo Karl Marx tinha verdadeira revolta contra as injustiças, mas não sabia por que era assim. A partir desses estudos passei a entender que o trabalho produz e reproduz o homem e sua humanidade. Assim, a luta é para que a riqueza, que é socialmente produzida pelos trabalhadores, socialmente deva ser repartida entre eles e, consequentemente, com toda a sociedade. Ninguém vive sem trabalho. A distribuição deve ser equitativa na 18. VG -Você perdeu algo pela estrada da vida? medida das necessidades de cada um. IMG - A vida é feita de perdas e ganhos num Portanto, toda a minha vida, todo o conhecimenconstante movimento dialético. É preciso com- to que adquiri foi para que seja possível construir preender como o homem, ser social, produz seu a sociedade humana. Logo, “homem pobre”, nem mundo e a si mesmo pelo trabalho. A Literatura sequer tem alma. Na Sociedade Verdadeiramente é um grande instrumento, é um poderoso instru- Humana todos se reconhecerão como HUMANOS Revue Cultive - Genève

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de uma única família, a HUMANA.

mercadoria, até o próprio homem. Mas também é a sociedade onde foi gerada uma imensa riqueza social que, de um lado, foi apropriada privadamente e do outro, consequentemente, gerou um imenso contingente de excluídos. E como afirma Marx: “O que acontece com o pobre, além de ser pobre? Ele é destituído do seu mundo, do mundo humano e da riqueza por ele produzido!”. Assim, a minha luta é o resgate da humanidade e a minha escrita é a arma que uso nessa batalha.

20. VG -Como a sociedade pode contribuir para a melhoria da sociedade, da natureza e para o crescimento do jovem ? IMG - O homem construiu o seu mundo pelo trabalho e pelo trabalho transforma-lo-á. Nessa caminhada produziu sociedades, organizações sociais (Antiga, Média, Moderna, Contemporânea) com o conhecimento, o saber, a consciência. Hoje, vivemos numa sociedade capitalista onde tudo virou Ivanilde Morais de Gusmão

Editora Cultive Romance Infantil Poesia História Revista Livros de Arte Registro biblioteca Nacional Suíça traduções português francês cultivelitterature@gmail.com 36

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34°Sa Inter lão nacio nal Do liv ro De G enebr a Do 28/1

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Ode às Mulheres do meu tempo!

que passou da hora, que pode dizer o que quiser. Não tem mais censura... Afinal, foi tão censurada!

Ivanilde Morais de Gusmão

Talvez se tenha razão, é-se apenas uma pessoa qualquer, com uma longa história a se contar, mas com uma certeza: Não se é simplesmente uma miragem, que os outros olham de relance, e pensam que começa a desaparecer. É o futuro.

Homenagem às Mulheres nesse tempo de desafios, de luta pela liberdade, igualdade de direitos e, sobretudo, pela liberdade e dignidade humana!!

Quando se aproxima dos oitenta anos, de vida, de história, de acontecimentos...; nele estão contidos fragmentos de uma vida Mas o futuro é cada momento e, repleta de vivências, de luta que precisam ser enfrentando as dificuldades vive-se retratados em poesias, contos, crônicas e cartas os instantes intensamente para as gerações futuras; aos herdeiros desse como se fosse o último!! legado deixar registrado a processualidade da história e, Pela vida vivida e pelo legado sobretudo, o crédito na humanidade. - retalhos da vida -, que traz em-si na memória, borda-os Diante de um mundo que se desumaniza com imensa certeza de que é preciso é importante expor os fragmentos de uma vida fazer morada em todos aqueles cuja caminhada de luta, desafios e conquis- que acreditam na humanidade. tas... Num sentimento que aflora tão vivo, é preciso Deixa algo valioso: as histórias se dá conta de que o mundo está diferente... e um imenso sentimento pelo mundo. Mas os desafios continuam cada vez maior Quando o tempo é inexorável...! No espelho da própria vida observa que: das rugas, que disfarça, sai a forma pura de um nariz perdido na idade; na boca, outrora atrativa, há sempre um sorriso matreiro; quando se está nesse período da vida nada mais tem importância...; a não ser, as coisas verdadeiramente importantes..., atinge-se um ponto em que o que foi não importa. É como se começasse um novo início, Quem sabe..., uma nova raça. O que foi não tem mais significado! Daí a necessidade de registrar a odisseia das Mulheres que enfrentam com coragem os desafios para transformar o mundo. Compreender esse momento é importante porque, pelo próprio tempo, tudo é lento, ritmado, cadenciado... O que se quer é mais que uma explicação: uma reflexão, quase um pedido de desculpa.... Parece que se está fora do mundo, que está atrasada,

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JACIRA BARROS

autora

Uma vida múltipla por Daniela Rodriguez.

«Muitos adjetivos servem para definir as mães de todos nós. Para a minha, outros são mais adequados. Perspicaz e inteligente, ela não fica de fora das novas tecnologias, usa Internet banking com desenvoltura e não deixa de estar atenta às séries da Netflix e às novidades do mundo. Isso sem falar que é escritora e imortal. É uma jovem senhora no espírito. Mãe, obrigado por tudo». Guilherme Barros. «Ao longo da convivência com Jacira, sente-se uma atmosfera própria de quem sabe com ética, sensibilidade e ternura atuar nos diferentes campos da complexa existência humana». Ana Amélia Lemos. Maria Jacira Serrano, nasceu na década de 1940, em Recife, capital do estado de Pernambuco. Tendo a família mudado para a cidade de Olinda, estudou na Academia Santa Gertrudes desde o ensino fundamental, onde iniciou a prática do piano. Ao término do ensino médio, passou a estudar o instrumento no Conservatório Pernambucano de 38

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Música, com o maestro José Augusto dos Santos, conclui o Magistério no Colégio Nossa Senhora do Carmo, em Recife, e recebeu o diploma de professora. Na década de 1960, após o casamento e a chegada dos filhos, a então professora e pianista cede o lugar à gestora familiar. Paulo do Rego Barros, o marido, no cargo de Inspetor de Vendas da General Motors do Brasil, devido à intensa atividade social que o cargo exigia, requisitava a companhia da esposa, que deveria segui-lo. A essa época, Jacira Barros e o cônjuge, filiados ao Lions Clube de Olinda, organizavam eventos e ações tendo como objetivo assistir as famílias carentes, a infância, a adolescência e a velhice. Na década de 1990, fundou junto à família a empresa P. R. Barros Representação Ltda/Me, assumindo a gerência. De espírito empreendedor, a atividade empresarial não era suficiente, descobre na literatura sua vocação pessoal. Tenaz e serena, não mede esforços no sentido de alcançar as metas e objetivos, buscando realizar os sonhos. Desde a infância, a arte, através da música e da leitura, faz parte da sua formação cultural, daí a necessidade de adentrar o mundo das letras, sempre atenta, espreita o momento para tentar apreendê-la.


Lançamento da primeira antologia do Grupo literário Dom Graciliano.

Em 2009, passa a frequentar a Oficina de Criação Literária do escritor Raimundo Carrero, no intuito de aprimorar o ofício da escrita.

A então empresária cede lugar à escritora. Mediante participação nos grupos literários, tem contos seus publicados em várias antologias.

Em 2010, junto a um grupo de dezesseis novos es- Em 2018, lançou seu primeiro livro autoral, critores, dão início ao Grupo Literário Dom Carrero, atualmente Grupo Literário Dom Graciliano. À mesma época passa a integrar a União Brasileira de Escritores/PE. Em 2016, toma posse na Academia de Letras do Brasil/PE, tendo como patrono o professor Potiguar Matos.

A noite que não tem fim, com a participação de amigos e familiares.

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A revista literária Novo Horizonte publicou críticas literárias de sua autoria e artigos sobre o livro autoral, A noite que não tem fim.

Entrega de certificado aos participantes do Salão do Livro de Genebra em 2019 pela Cultive

venção, adequando de si e da vida continuamente. O jornal: O semeador de letras, a Academia de LeNunca desencantada e, com a firmeza dos mais tras do Brasil/PE, divulgaram crônicas suas. frágeis, mantém o entusiasmo e persiste diante dos desafios sem desistir por nenhum motivo de No ano de 2019, participa junto à Cultive, do Salão sua vocação pessoal e social. Difícil é ser. Ter corado Livro de Genebra. Alguns de seus escritos estão gem de assumir sua personalidade preservando-se. publicados em algumas edições da revista Cultive, Manter no âmago do ser a disposição de aceitar o e antologias da mesma instituição. imprevisível. Assistir as tantas mortes diárias, por desencanto, mas também a ressurreição, a cada vez Percebe-se em Jacira Barros a capacidade de rein40

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que supera o infortúnio. Na resiliência a certeza de contribuir para a construção de um novo pensamento global, no qual o princípio da equidade prevaleça à ambição dos mais fortes. Metade hoje, meio amanhã, outrora, se o futuro é incerto, assim, ambígua permanece.

“Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro de ter dado na infância. Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei. Porque metade de mim é amor, e a outra metade...também” (Ferreira Gullar).»

Daniela Rodriguez.

Revista Artplus impressa, bilíngue francês /português Artplus é uma constelação onde brilham estrêlas das artes, da literatura e da cultura Próxima edição outubro2020

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MARIA INÊS BOTELHO UM DIAMANTE NA TERRA DO PARANÁ MINHA VIDA EM DEGRAUS Nasci. Nascimento coroado por alegria e desejos de vida plena. Cresci. Um tempo saudável, de desenvolvimento harmonioso e apropriado em cada etapa da minha vida foi sendo bem talhado. A cada novo degrau surgido, uma vez que a família, professores, amigos, companheiros de diversas jornadas foram e são, esteios firmes para o caminhar, pelas décadas vividas e por anos que ainda estão por vir, afinal, cada tempo de vida apresenta a sua essência e decorrer sem maiores sobressaltos. Resultados de conquistas exitosas são registrados. E marcas há que contribuem para buscar maior avanço através dos sonhos estabelecidos. Premiações, condecorações, reconhecimentos, destaques favoreceram para que a minha vida fosse tecida, ponto a ponto, com linhas firmes. Houve, ainda, a ampliação de fronteiras, que, vencidas, quer neste imenso país ou em outras locais deste imenso mundo, deram maior amplitude as minhas ações cotidianas ou intercaladas em calendário. Desta feita, a vida, em etapas, trouxe bons aprendizados no campo do amor familiar, estudantil, profissional, amigo ou companheiro. A aplicação da ética na vivência cotidiana, na luta por momentos mais repletos de conquistas - tanto na vida individual, quanto na vida profissional ou 42

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na coletiva - continua a ser registrada. Traduz-se a minha vida, também, em ápices onde há aplicações de atos solidários pela valorização do próximo, a distribuição do sorriso, da alegria por conquistas de outrem, o apoio à mão estendida, o arregaçar as mangas para atingir propostas saudáveis. Portanto, ao atingir a ultrapassagem de marcas no escalar montanhas e contar os passos dados na abertura de trilhas que expandiram os horizontes trouxe e favoreceu o surgimento da paz interior e do aumento de elos entrelaçados com a família e com todos que estão no mapa deste meu alcance. Esta minha vida, pois, representa simbioses de atos que traduzem vitórias. Hoje já se vão 71 anos talhados na madeira, no gesso, no ferro, na tela artística, na música harmoniosa, nos textos, nas mensagens que perenizam essa minha história, no poema que ressalta as virtudes,

nos encontros valiosos com diversas nuances, nas confraternizações carregadas de otimismo e alegria, tendo, todos, o ângulo vital respeitado e que representam os caminhos percorridos. Setenta e um anos. Traços de uma vida esculpida,


como um botão transformado em rosa aberta, perfumada, perfeita em sua forma e cor, sem fazer valer os seus espinhos. As mãos que lançaram sementes ao solo, a cada passo dado, gerando arbustos robustos, firmes, seguros frente aos ventos que aconteceram e acontecem, estão ajustadas a cada momento vivencial. Felicidade ímpar apresenta-se, portanto, neste cenário que, espero e desejo, esteja presente por mais longos anos. Trazendo uma mostra de um horizonte vasto e límpido, pronto a ser alcançado em cada detalhe, em cada proposição posta. Por isso é que o hoje amplia-se a constatação de que a faixa de vencedora, colocada a cada novo degrau galgado, apresentar-se-á mais forte ao me ser colocada e alcançarei, então, o cume da satisfação. De criança à adolescência muita convivência familiar, estudantil, amiga e coletiva de diversas formas, foram estabelecidas. De adolescente à fase adulta, a vida trouxe-me ampliações de laços e abraços e a aplicação do aprendido, somando-se às novas lições colocadas, que favoreceram o surgimento da práxis. Na fase adulta muitos cargos ocupei e, em todos eles, marcas de ótimas aprendizagens e repasse de experiências positivas, proativas, foram postas à mesa. Desde professora em todos os níveis, que a Educação Brasileira propõe, com muito êxito, passaram também meus atos pelo contributo à cidadania, a atuação, quando companheira em clubes de serviço e cultural, trazendo-me tons ajustados às conquistas obtidas e colaboradora com o elevar das pessoas no seu ritmo de atuação, enriquece o

meu cotidiano. O meu adentrar em academias de letras e diversas instituições afins, tais como, a Federação Internacional Elos da Comunidade Lusíada, a Cultive – Genebra/Suiça, o Movimento Nacional Elos Literários, A União de Profissionais do Jornalismo, Artes e Literatura – Unijore, coroam o meu perfil literário.

Ter atuado na política partidária como vereadora e prefeita, apresentando atos em favor da coletividade, fortaleceu-me como cidadã e mulher.

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Minha Infância (Maria Inês Botelho)

Na minha infância tive muita liberdade. Brinquei de casinha, de professora, de médica... Brinquei na chuva, no barro, no asfalto, na grama pura.

Vida em degraus...

Vida em diversas nuances, cores, tamanhos e formas abrangendo elementos existentes neste cosmo. Vida que se põe a andar a cada raiar do astro Sol em busca de complemento vivencial humano. Vida que é vida, em cada novo passo dado, em cada abraço irmão encontrado, em todo registro que se faz e se conquista, busca estrelas . Que Deus possa fortalecê-la, ainda mais, a cada cotidiano para que consiga iluminar outras vidas, caminhos e encontros em diversas dimensões postas. Continue a sua vida sendo realizada em degraus exitosos até a porta de entrada da felicidade para muitos que consdigo convivem. Seja ela Vida para outras Vidas, em botão ou já abertas. Seja ela colaboradora contínua na construção de Vidas que estarão consigo a transitar pelos caminhos que ainda hão de serem abertos.

34°Salão Internacional

Saltei de árvores, corri pelas ruas, sentei na sarjeta e ouvi muitas estórias de fadas debaixo de caramanchão.

Na minha infância tive pais com autoridade, que educaram-me com firmeza, deram-me caminhos seguros e contribuíram no abrir as minhas próprias sendas. Na minha infância tive irmãos carinhosos sempre presentes, demais parentes sempre no círculo familiar, enriquecendo a educação e favorecendo o Sol “nascer” para brilhar. Tive muitos amigos e registrei, na memória, cada abraço recebido, cada mão dada em corrente para vencermos desafios. Quão bom foi aquele tempo em que corria solta pelas ruas de minha querida cidade, onde o picolé, a pipoca e outros quitutes marcavam os finais de tardes faceiras! Ah, como é bom ter lembranças que fazem bem ao coração e favorecem o surgir de canções, ritmadas e enriquecidas pela alegria do viver em comunhão! Ah, como a vida foi gentil e pro dutiva! Como uma canção solta ao vento é pre ciso registrar que o Tempo não voltará,

Livro e da Impren-

de Genebra

Do 28 /10 ao 01/11/2020 com informações : cultivelitterature@gmail. 44

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mas deixou belas marcas, sensíveis e coloridas, permitindo o retorno às lembranças, em cada passo que dei. Viva a minha infância querida que a vida tão bem registrou!


Osmarina Maria de Souza Mulher diamante 2020 Osmarina Maria de Souza, 90 anos de vida, recheada de histórias que passam da escravatura à vida moderna. Na sua trajetória ela conviveu com uma mãe, filha de escrava, que conviveu com o racismo, o preconceito social. A vida pobre, a necessidade de trabalhar para ajudar a familia. Na profissão que havia aprendido com a mãe, lavar roupa e fazer serviços domésticos. Depois de adulta viveu um casamento com um boémio. Nada dessas dificuldades impediu Osmarina de evoluir no meio social, mesmo não possuindo diploma, ela mudou de profissão e pôs-se a escrever. A veia poética corria dentro dela e quem toda essa

vivencia dificil não serviu de adubo para que Osmarina jogasse no papel a poesia vivencial que produz ainda hoje. Osmarina é uma fortaleza de pequena estatura, viva, alegre e ativa cono uma música de carnaval. Osamarina não limita os requebros ao ouvir um samaba. Eita mulher que não se deixa abater pela tristeza! Ao seu lado temos obrigação de sorrir, cantar, dançar e poetar. São noventa anos de histórias, de dor, mas muito amor e vontade de viver. Para nós, da Cultive, ter Osmarina no nosso grupo é ter um diamante puro, que brilha esperança, força e exemplo. É por esse brilho, que ilumina Santa Catarina, que Osmarina recebe a nossa homenagem, e o título de Mulher Diamante, 2020. Revue Cultive - Genève

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UM POUCO DA MINHA HISTÓRIA Por: Osamarina Maria de Souza Natural de Florianópolis/SC/Brasil Nasci em 1711-1929. Filha de João Batista de Souza e Maria Clarinda de Souza. Pelo lado materno é neta de Claudino Maurício da Silva e Maria Clarinda Leal um casal de agricultores da cidade de Santo Amaro da Imperatriz, hoje Município de Águas Mornas /SC/Brasil, e pelo lado paterno é neta de Izabel Ignácia da Costa, uma negra nascida em 21 de novembro de 1886 na Senzala da vila de Ribeirão da Ilha em Florianópolis, que ainda muito pequena foi vendida por três vezes, para senhores de escravos, da vila de Sambaqui. Com a abolição da escravatura Izabel casou em 1889 com Silvestre Pereira de Souza, filho de senhor de escravos. Meu pai era o filho mais novo de Izabel e Silvestre. Minha vó Izabel faleceu no dia 15 de fevereiro de 1941, quando eu tinha onze anos de idade, morando conosco e por esta razão tive a oportunidade de ver e ouvir muitas histórias sobre a escravidão. (São relatos emocionantes). Muito pobre, minha mãe e meus dois irmãos e eu conhecemos a discriminação racial, o frio e a fome. Quando eu tinha nove anos fiquei órfã de pai e minha mãe passou a ser lavadeira, cozinheira e doméstica de famílias alemãs. Meus irmãos foram para um internato do Governo, eu fiquei nos empregos com minha mãe continuando a sofrer estas mesmas agruras, rejeição e necessidades naturais da vida dos carentes. Estudei somente até a oitava série (Curso Ginasial) e como minha mãe fui lavadeira, cozinheira, camareira, depois costureira e bordadeira para cobrir as despesas da casa, pois meu casamento aos dezoito anos foi uma ruina com a boemia do esposo. Fui divorciada, mas o cônjuge já faleceu, tive três filhas, Solange 71 anos, Sônia 70 e Sonilda, que faleceu há dez meses com 68 anos. Tenho seis netos e sete bisnetos . Em 1959 consegui ser nomeada datilógrafa para uma Secretaria do Governo e dar conta do meu recado como chefe de família e divorciada, enquanto escrevia algumas poesias. Tive também a satisfação de poder dar a uma de minhas filhas o Curso 46

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de Pedagogia na UFSC. E, foi como funcionária que iniciei meus rabiscos até que publiquei pela Editora da UFSC meu primeiro livro DIVAGANDO. Foi a glória, OH Senhor! Fui, então convidada por uma amiga para ajudá-la na fundação de uma associação poética e fundamos a Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses em 1994, que hoje é referência . Surgiram então, apresentações e convites para novas fundações e sou então CO-fundadora da Academia Desterrense de Literatura (ADELIT)– Cadeira 12 de Oswaldo Rodrigues Cabral; da Academia de Letras de Biguaçu (ALBIG)- Cadeira 24 de João Nicolau Born; da Academia de Letras de São José, (ASAJOL) Cadeira 23 de Luiz Delfino dos Santos; Academia de Canto e Letras do NETI/UFSC(ACLN) Cadeira 01 de Neusa Mendes Guedes, Academia Alcantarense de Letras (ACALLE)_ Sou Honorária, Academia Brasileira dos Contadores de História (ABCH) – Cadeira 12 ( sou patrona da Cadeira) Sou Membro da Federação Brasileira das Academias de Ciências Letras e Artes do Rio de Janeiro (FEBACLA), Cadeira 38 de Joana d’Arc; pertenço como Membro Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina; do Grupo de Poetas Livres e da Association Cultive Clube International D’Art Literature et Solidarité da Suíça, com muito orgulho, para quem vem de origens tão humildes e sem um diploma. Tenho muitos troféus e medalhas, entre eles: Dias Velhos, Antonieta de Barras pela Câmara Municipal de Florianópolis; Mulher Destaque do ano de 2018; Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina; Troféu Manezinho da Ilha e Diploma de Senatus Populis pela Prefeitura Municipal de Florianópolis. Recebi os títulos de Embaixadora da Paz, com aval da ONU e Defensora dos Direitos Humanos, reconhecido pela ONU. Fiz o curso de extensão “Monitora da Ação Gerontológica” na UFSC, sque me habilitou a fazer palestra sobre um bem envelhecer. Sobre esse tema proferi palestras na Escola de Ensino Superior em Setubal – Portugal, na Universidade Federal dos


Açores- em Ponta Delgada, em 27 cidades do Estado de Santa Catarina e participei de Encontros de Universitários da Terceira Idade em dez cidades do Brasil. Hoje sou aposentada, vivo de meu salário e moro com uma filha. Continuo escrevendo e participando de eventos literários e culturais. São muitas medalhas, troféus e elogios, cartões de prata que fazem parte dos meus guardados com carinho. No próximo mês de março vou receber, da Federação Brasileira das Academias de Ciências, Letras e Artes, a Comenda Láurea Acadêmica Qualidade Ouro. Tenho um número incontável de amigos que amo. À vezes não consigo guardar seus nomes, mas estamos sempre juntos contando histórias e dizendo poemas. Razão porque digo: A Vida é boa, eu sou feliz porque tenho amigos.

Eis um pouquinho de minha história. Sou feliz porque cheguei onde sonhara e venci humildemente.

AS DUAS MULATAS

a valsa e o fado. Mas o tempo passou e tudo acabou. E agora?

(Osmarina Maria de Souza)

Fui mulata dengosa, brejeira, nascida na ilha da moça faceira. De laço de fita na trança formosa, mulata bonita, pretensiosa. Cintura tão fina, e saia rodada, a calcinha mostrava se o vento soprava. Mulata trigueira, feliz e faceira, que ia à escola por ruas estreitas de sua cidade de tantas histórias, de amor, de magia e felicidade. Mulata sorriso, de olhar radiante de pernas bonitas, chamava a atenção do jovem passante. Mulata festeira de bom rebolado dançava o samba,

Publicações: Divagando - poesias

Dona Clarinda - relatos da vida de minha mãe

Baú de Crônicas.

Era uma Vez Eu e a Felicidade - relatos de minha história de vida

Agora eu sou mulata cansada, de rosto enrugado, de pernas tão fracas, de olhar bem distante que mata a saudade da moça faceira, com fotos e cartas, pensando besteira. Sem saia rodada, a mulata saudosa sem escola e sem fita, sem dengo e sem prosa. Sou a mulata feliz que tem uma história de amor e de luta para ser bem contada em tardes fagueiras ao pé a figueira. Sou mulata sem requebro, sem tranças, sou só. Mas sou feliz, sou avó do livro relicário de saudades Revue Cultive - Genève

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Ela é cearense, ela é mãe, ela é avó, ela é artista, ela é escritora, ela poeta, ela é cantora, ela é música, ela é ativista cultural, ela é cultivadora da cultura. Ela é Rita Guedes. O diamante Rita foi extraído em Crato. Filha de uma família tradicional, educada em colégio de freira, recebendo uma educação centrada no preparo da mulher para o lar. Gostava de cantar e encantar com a sua bela voz. Mas teve que abafar o desejo da carreira de cantora e focalizar na formação do lar. Encontrou o marido ainda muito jovem, casou-se e teve suas filhas, segundo ela “Minhas jóias”. Por algum tempo ajudou o marido no comércio instalado no centro de Crato. Nunca abandonou o canto, a sua paixão, cantava na igreja, em festas, em casamentos e sempre que tinha oportunidade, ficando a música sempre na retaguarda na sua vida. Depois, com o diploma de professora em mãos partiu para lecionar e foi com o salário de professora que ela educou as próprias filhas. A carreira de professora levou-a a escrever poesias, lançando suas emoções, inquietações e sonhos no papel enquanto as filhas cresciam e seguiam seus próprios sonhos. Rita professora, Rita escritora foi se impondo como mulher e como ser humano à medida que amadurecia. Ocupou seu espaço com sua intimidade, sua vontade impondo-se tranquilamente ao som e ao rítmo das melodias que cantava qunado era solicitada. Enquanto o tempo passava ela foi assumindo sua liberdade, escrevendo seus textos com mais frequência, participando de eventos culturais, animando os encontros culturais em que participava sempre com a sua boa disposição, bom humor e suas notas musicais trazendo alegria e unindo pessoas. Em 2010, já aposentada, ela lançou seu primeiro romance patrocinado pelo cunhado Alan Correa e Maria Osni Guedes Corrêa. Daí por diante, ninguém a segurou, dessa vez com o apoio das filhas, que haviam crescido, estavam independentes e patrocinavam os desejos da mãe amada, ela partiu para realizar seus sonhos, embarcou e foi além-fronteiras nacionais e internacionais participando de eventos, encontros, recebendo prêmios,

tomando posse em academia de letras. Em cada lugar aplausos e aclamações ao apresentar seus poemas e seu romance. E dessa maneira a essência de 72 anos de uma vida está aqui resumida, porque é a essência que conta. Hoje, Rita está de molho aguardando que a presepeira da saúde dê-lhe licença para sair pelo mundo, novamente, a saracotear, a lançar sorriso, a fazer serenatas, a animar os saraus com sua voz afinada, a declamar seus poemas que versam a vida e os amores, a nos encantar a todos com a sua amizade e gentileza. Rita você precisava de descanso! Essa mulher extrovertida e alegre não descansa, sempre que é convidada, lá está Rita. Mas o corpo também cansa, Rita! Repouse, descanse e volte renovada para nos trazer alegria e nos emocionar como quando você cantou Ave Maria dos Andores, à capela, na Igreja de Recife para uma platéia de mais 500 pessoas de boca aberta e completamente emocionada com seu canto. Querida Rita você é um diamante, mas não esqueça que apesar da dureza, essa pedra pode quebrar-se facilmente se for atingida de jeito. Até os diamantes também são frágeis!

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A Mulher

Rita Guedes

Artística, genial, qual romper d’ aurora, $surgiu à mulher! Nutrindo sentimentos de amor que do seu âmago aflora. Talento, inteligência, cultura abraça -na e a revigora. Mulher fonte de luz, de vida, ninho de amor, joia preciosa! Ao arco-íris no infinito abre-se o colorido de sua gloria, Registra na amplidão o imensurável marco de sua história. Passo a passo desbravando os íngremes penhascos da vida. Mulher carícia suprema, mãe extremosa em noites de lida! Mulher mãe, mulher operária, quantas profissões elas abraçam! Mulher não se entrega não se dá por vencida, é força, é conquista. Elas cantam, elas riem, elas choram, a beleza da alma explora. Mulheres escritoras, jornalistas, advogadas, de todos os credos e raças, São mantos de estrelas iluminando caminhos, são forças unificadas. Deste universo, a sublime criação, fonte de amor por Deus esculturada!

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TELMA BRILHANTE AS MÚLTIPLAS FACES DA MULHER QUE CARREGA NO NOME O VALOR DA PEDRA MAIS VALIOSA DO MUNDO Telma de Figueiredo Brilhante nasceu em Crato-CE, reside em Recife desde 1966. e fez seus estudos de letras. Foi professora, diretora e vice-diretora de escolas públicas, no Ceará e em Pernambuco. Estreou na Literatura com o livro Contos Chão.¨Seguiu-se várias publicações , poesias, contos, crônicas e livros infantis sairam da sua pluma. Participou em diversas antologias, alguns jornais e revistas literárias. Possui verbetes no Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, org. Nelly No“Teresinha de Jesus deu uma queda e foi ao chão...”

vaes Coelho/São Paulo e no Dicionário de Mulheres, org. por Hilda Agnes Hubner Flores/ Florianópolis. Faz participa ativamente como ativista cultural em diverersa associações cjultjurais e academias literárias no Brasil e atual mente é presidente da Academia de Letras do Brasil/PE, (ALB).

se transformavam em bichos e coisas, e gente. Na calçada brincava de roda, teatro (dramas) e de correr. É uma cidade de muitas histórias: de imensa pedra rolando da serra para soterrar a cidade, de papafigos rondando o imaginário das crianças, ao lado das histórias de movimentos messiânicos Antônio Conselheiro, Padre Cícero. Ou libertários: revoluções, Bárbara de Alencar, José Lourenço, (o Caldeirão,) Lampião. De céu e inferno. De invernos e estios. No Sul do Ceará ela está fincada, ao sopé da Serra do Araripe. Bela cidade adornada de verdes e suaves brisas. Da serra imponente a água descia sussurrando gemidos de amor e ternura. Hoje, de dor e tristeza pela poluição que mata suas fontes.

Essa e muitas outras canitgas de rodacantávamos na calçada ao anoitecer. A nossa alegria nos volteios das danças de roda, no molejo do corpo, mãos dadas no movimento circular, o baixa-levanta, tudo insinuando o ingresso no mundo da fantasia. Ah, tempo gostoso e único! Como trazer de volta as emoções, o prazer dos brinquedos cantados sob um céu cheiinho de estrelas. A lua espiando, morta de inveja, nossos rostos afogueados e risonhos? Como trazer de volta a criança que se encantou na roda do tempo? Nasci no Crato, cidade encantada, implantada num vale ensolarado, de hortênsias lilases nas praças e de um céu azul cheio de nuvens andejas que Parte de minha educação foi num colégio de frei52

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ras. Outra parte em diversos colégios, mudanças obrigatórias cusadas pelas constantes transferências de meu pai, representante comercial de firmas de São Paulo, para outras localidades. Na adolescência, a família retornou à cidade de origem, onde se fixou. Crescemos. Aportamos em outro mundo, talvez menos belo, o sonho guardado a sete chaves, foi o suporte que amparou momentos de desesperança. Daí veio o desejo de participar da história do mundo, de se eternizar através da palavra. Escrevendo, escrevendo sempre. Desde cedo comecei a ler. Primeiro, me despertou a paixão pela leitura dos contos de fada. Minha mãe foi a grande incentivadora desse processo, através das relatos sobre a família. Senti necessidade do registro no papel, que rasgava com medo de serem lidos. Depois elegi as gavetas para guardiãs de meus rascunhos. S Somente após o tempo livre que a aposentadoria me proporcionou, veio a coragem de ousar e procurar caminhos que me estimulassem. Compreendi que escrever deflagra um processo catártico, quando vem à tona situações que nos proporcionam a ligação dos elos até resultar num trabalho exaustivo, porque mexe com a estrutura psíquica e emocional. É nesse redemoinho de emoções que acontece a criação literária. E quando começamos não paramos mais. Minha escritura vem fluindo de forma natural. Sempre estou com projetos novos, sejam poesias, ensaios, haicais, contos ou livros infantis. Meu tempo dedicado à literatura trouxe-me muita alegria, sinto-me realizada. A idade não estabeleceu nenhum empecilho. Ao contrário, novas amizades, ingresso em diversas Academias e grupos literários. Fui muitas na voragem do tempo. Todo esse aprendizado se amalgamou nas minhas veias, na minha pele, no meu sangue. Morri muitas vezes, ressuscitei tantas outras. Fui sombra e luz. Hoje me defino: mulher tangida pelas folhas, pelas águas, pelos ventos, mulher árvore, mulher rio, mulher pedra. Da experiência de ser múltipla mulher gerei histórias. E comecei a contá-las desde então.

A princípio as escutava, embalada pela sinfonia de grilos e sapos no terreiro da casa grande, na fazenda de meus tios aonde passávamos as férias. Quando a lua se escondia e tudo ficava envolto em trevas. Aqui e ali os vagalumes nos acenavam. No interior da casa, candeeiros bruxuleavam, bordando sombras nas paredes, exaltando a imaginação. O medo extrapolava o espaço do real. Daí surgiram muitas histórias e estórias, que iluminam minha carreira de escritora.

publicações de Telma Brilhante

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SINHÁ EMÍLIA UM DIAMANTE QUE BRILHA NAS LEMBRANÇAS

SINHÁ EMÍLIA por: Paulo Bretas Distrito de Virgem da Lapa, Araçuaí, quinta-feira, 16 de fevereiro de 1906, nascia Emília Celestina Figueiró. Os pais, João Figueiró e Ana de Souza Figueiró decidem batizar a linda menina com o nome de suas duas avós. O velho avô Francisco Quirino de Souza, o Chiquirino Sergipano, pai de sua mãe Ana, se encantava com a primeira neta mulher da família.

quase rejeitar a menina, resolveu criar o neto João com o que havia de melhor para a época e o lugar.

Dizem os historiadores que os Figueiró do Vale do Jequitinhonha eram descendentes de italianos vindos para o Brasil no final do século XIX. A imigração italiana para Minas Gerais está ligada ao fim do tráfico negreiro (Lei Eusébio de Queirós, de 1850) e à abolição da escravatura em 1888. Desde meados do século XIX, com a proibição da entrada de novos africanos escravizados, a carência de mão de obra se instalou em todo o país estimulando, Emília era o nome de sua avó paterna. Ela havia assim, o incentivo à vinda de um número cada vez sido mãe solteira. Ainda muito menina envolve- maior de imigrantes europeus. Além disso, havia a ra-se com um fazendeiro casado, engravidou e fomentação de um plano racista da elite nacional, nunca pode se casar. O filho nascido desse amor, de "branquear" o Brasil trazendo imigrantes da Eurecebera apenas o sobrenome da mãe, dando início ropa. a mais um ramo da família Figueiró. Teve a ajuda necessária da família de sua mãe, que apesar de João Figueiró foi educado em Diamantina, no se56

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João Figueiró era metido a valente e nas festas típicas da cidade de Araçuaí quando soltavam touros bravos pelas ruas, à moda da Espanha, gostava do desafio de correr à frente deles com os demais jovens. Já mais velho, ao participar de uma destas festas, foi atacado por um desses touros e daí para frente sua saúde nunca mais foi a mesma, vindo a falecer poucos anos depois. A vida da menina Emília era atípica para uma garota de fazenda no início do século XX. Ao invés dos lindos vestidos bordados, preferia as calças de vaqueiro. A menina cresceu com graça e era admirada por todos por sua inteligência e beleza. Aprendeu a arte dos bordados e da costura, mas também aprendeu a administrar a fazenda e a liderar boiadeiros. Nunca fora muito boa de cozinha, mas fazia as quitandas.

minário dos padres lazaristas. Era uma forma das famílias protegerem seus filhos e oferecerem um futuro melhor para eles. Estudou filosofia, latim, grego e matemática. Foi aluno do Reverendíssimo Sr. Pe. Bartholomeu Sipolis, liderança maior do educandário construído no largo do Curral, o qual tomou o nome de Largo Dom João. Mas João Figueiró decidiu que não levava jeito para padre. Concluída sua formação abandonou o seminário, abriu mão da batina e voltou para Araçuaí. Em Araçuaí, conseguiu emprego nos Correios e se apaixonou por Ana de Souza. Frequentava a casa dos seus pais, mas só foi estar com a sua futura mulher no dia do casamento. Naquela época os pretendentes conviviam com os pais por algum tempo, até poder estar com a pretendida. Ana ficava de longe, admirava João Figueiró pela fresta da porta. João era bonito, alto, cabelos negros curtos, bigode e barba muito bem-feita. Mesmo não podendo estar com o noivo já o amava profundamente. Assim se casaram e vieram os dois primeiros filhos Emílio e José Maria.

Os negros, descendentes de escravos, se estabeleceram na região logo após a decadência da mineração em Vila Rica. Após a libertação dos escravos seguiram vivendo nas fazendas, onde ajudavam nos trabalhos diários e plantavam uma agricultura de subsistência. A família Figueiró mantinha muitos deles como colonos e empregados na fazenda. A menina Emília se destacava dos irmãos por sua liderança e as negras empregadas logo lhe apelidaram de Sinhá, apelido que lhe acompanhou por toda a vida. Como todas as famílias da região, os Figueirós eram muito religiosos e suas vidas giravam em torno da Igreja Católica e ritos. Ainda criança Sinhá Emília foi doutrinada nas crenças da Santa Madre Igreja. Adorava Nossa Senhora e muito cedo aprendeu a rezar o terço e a admirar os santos e seus milagres. Santo Antônio tornou-se seu santo favorito. Sinhá Emília participava das novenas e de todas as muitas festas religiosas da cidade. Sinhá adorava os santos de seu avó Chiquirino, figura de referência em sua vida. Chiquirino tinha longos bigodes brancos que ficavam sujos de nata de leite sempre que tomava sua xícara no café da manhã. Ele tinha várias imagens de santos, incluindo um Santo Antônio de hábito preto, que Revue Cultive - Genève

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ficava em cima de um móvel de madeira do seu çar os bois e cuidar dos animais. Apostava corriquarto. Este sempre chamava a atenção de Sinhá das com qualquer um que lhe desafiasse. Ela fazia Emília por sua beleza. questão de disputar com os peões todo tipo de trabalho e os fazia melhor do que qualquer um deles. Um dia a menina planejou o roubo do santo. En- Sinhá impunha respeito e admiração. Ajudava na trou no quarto do avô e subindo no móvel furtou administração da fazenda, orientava os empregaa imagem do Santo Antônio que tanto admirava. dos, bordava e cozinhava com a mãe, ajudava as Quando percebeu a chegada de Chiquirino saiu empregadas. Gostava de ler e escrever. desembestada correndo quarto afora. Correu pela casa, tomou rumo da cozinha e saiu para o terreiro. Havia uma atividade minerária intensa na região Ao perceber que estava sendo perseguida pelo avô do Jequitinhonha onde muitos fazendeiros tamresolveu pular a cerca dos fundos, com o Santo An- bém se arriscavam na busca das pedras coradas. A tônio nas mãos. O resultado não foi dos melhores, descoberta de águas-marinhas despertava a cobiça caíu no chão e a pobre da imagem do santo teve seu de muitos que ali viviam. Seu pai tentara a sorte no nariz quebrado. garimpo, sem obter muito êxito. Para ele, a grande Chiquirino se aproximou da menina e lhe disse às meta era achar uma pedra corada que poderia lhe gargalhadas: ajudar a mudar a vida, naquele fim de mundo de Deus. -Sinhá você é muito arteira, menina! Quer ficar com o santo, pois bem, fique com ele. Vou lhe dar Ana, sua esposa, se tornara professora e logo foi de presente. Talvez ele lhe inspire e lhe dê muito promovida a diretora do Grupo Escolar de Arajuízo! çuaí. Dedicou toda sua vida a ensinar as crianças da cidade. O Santo Antônio do avô acompanhou-a por toda sua vida. Um santo centenário, vindo de Portugal, Emília aprendia tudo com facilidade, na escola que certamente tem nos dias de hoje um grande primária aprendera a ler e escrever, sem falar de valor, além do valor sentimental. suas habilidades com as ciências exatas, porém, tão logo terminou o primário, seus pais já acharam que Sinhá Emília gostava de pegar as bacias, de lavar estava suficiente para uma mulher. roupas de sua mãe e fazer delas canoas para descer pelo Rio Araçuaí. Nessa época o rio era infestado Inteligente e atrevida, Emília gostava de fazer trode jacarés e nas brincadeiras com os amigos, às ça de seus colegas de sala, que tinham mais difivezes, as bacias se reviravam e saiam todos a nadar culdades para aprender. Sinhá Emília nunca teve às pressas fugindo das jacarés mais assustados do contato com a palmatória, maneira utilizada, à que as crianças. Diversão e perigo faziam parte da época, pelas professoras, para punir os alunos mais sua rotina. indisciplinados. A menina aprendera a fazer tudo sempre com muito capricho e asseio. Já muito joSinhá Emília teve duas irmãs que nasceram logo vem aprendeu as vantagens da qualidade e a atendepois, Lindóia Aparecida e Dalva. Lindóia teve ção aos detalhes. Enquanto os irmãos mais velhos oportunidade de se tornar telegrafista e trabalhar eram encaminhados para estudar em Belo Horinos Correios e Telégrafos. Dalva, que nascera pre- zonte, as mulheres ficavam na fazenda para arranmatura, se formou no curso normal, seguindo os jar um bom marido. passos da mãe. A mãe Ana, já na sua velhice foi morar com a filha Dalva e lá faleceu aos 85 anos. Sinhá Emília não queria, nem saber de marido. Tinha uma revolta imensa a lhe corroer o peito. Só Sinhá não tive a sorte de estudar. Logo ela, uma Queria estudar, ir para a capital. Mas seu profunmenina inteligente e criativa. O que a vida lhe re- do respeito e amor por seu pai impunha- lhe obeservaria? diência a suas vontades e determinações. Sinhá obedecia, mas refletia, não conseguia aceitar que Sinhá Emília era uma amazona de primeira. Mon- as mulheres tivessem esta condição inferior, sabia tava a cavalo como nenhum homem da fazenda por experiência própria que era mais capaz do que conseguia montar. Se especializou na arte de la- muitos homens. 58

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Ainda muito jovem, aos 16 anos de idade, já sabia que teria que se casar com um fazendeiro amigo da família. Arthur de Mattos Paixão era 15 anos mais velho do que ela. Casamento arranjado impunha-lhe mais um sofrimento. Ela que não sentia nenhum amor pelo futuro marido, era obrigada, a mais uma vez, obedecer aos desígnios do pai. Já naquela época inicia-se o movimento para organizar as mulheres jovens da cidade e repassar-lhes noções de saneamento e saúde.

condições em que a família se encontrava. Foram muitos dias passados até que as águas do rio baixassem. As inundações invadiram o armazém e Arthur Paixão perdeu todas as mercadorias. Os perfumes franceses perderam seus rótulos e ninguém os queria comprar. Acabaram sendo usufruídos por ninguém menos do que Sinhá Emília. Há quem diga que foi praga rogada! Sinhá era assim mesmo, meio gênio, meio bruxa, toda força e energia. Uma mulher de fé e elevada moral.

Casamento realizado, lá se foi Sinhá Emília cuidar da casa e auxiliar na administração da fazenda do marido. Foram muitas gravidezes e muitos abortos devido as péssimas condições locais de saúde e saneamento. Certa vez quase morreu devido a um feto já morto em seu ventre. Escapou por pouco.

Arthur Paixão herdara as fazendas do pai. Três enormes latifúndios situados numa região pobre e desvalorizada, sem estradas e sem indústrias.

Uma das coisas mais lindas das fazendas eram suas aroeiras. Dizia-se que eram tão frondosas que era necessário cinco homens para abraçá-las. Nem Sinhá Emília conseguiu ter três filhos que se manti- mesmo com tantos recursos naturais era possível veram vivos e saudáveis até a terceira idade, o mais conseguir dinheiro suficiente para custear suas velho chamou-se Roosevelt, nome escolhido em despesas. homenagem ao presidente americano. A segunda foi batizada como Hélia e a última, dois anos de- Sinhá Emília iniciou seu plano de mudança. Decipois teve o nome de Túllia. diu que não ficaria mais naquele lugar e que seus filhos mereciam um melhor destino. Para os filhos, Sinhá Emília tinha plena consciência de que não se- Sinhá Emília queria melhor sorte do que a sua. Ela ria possível criar seus três filhos em boas condições tanto insistiu, que Arthur decidiu largar suas ativide vida naquele fim de mundo. O marido Arthur dades pecuárias e se mudar de Araçuaí. criava gado e mantinha armazém e casa de jogo na cidade numa época em que o jogo era liberado no Usando de suas influências familiares com os velBrasil. Também se arriscava no garimpo de pedras hos coronéis da política mineira, conseguiu um preciosas. emprego público e foi nomeado tesoureiro das obras do Hotel e Termas do Barreiro, na cidade de Arthur era tido como muito sovina, um verdadeiro Araxá. Foi uma senhora mudança. Sair do nordeste mão de vaca, ao mesmo tempo muito respeitado na de Minas e rumar para o Triângulo Mineiro. cidade e admirado por todos. Era um homem fino, educado, um verdadeiro lorde inglês, mas bastante Na cidade de Araxá, as meninas foram matriculacontrolado quando o assunto era dinheiro. Seu ar- das no Colégio das Irmãs Dominicanas. Roosevelt mazém era um ponto de encontro e de compras foi estudar no Colégio Dom Bosco. importante na cidade. Arthur mandava trazer de tudo do bom e do melhor, até mesmo perfumes A vida em Araxá era melhor. Tratava-se de uma cifranceses ele comprava para revender. dade de bom padrão de vida. O problema era o emprego de Arthur. Naquela época o governo do estaCerta feita Sinhá Emília pediu-lhe que lhe desse do tinha muitos problemas financeiros e o salário um destes perfumes e ele se recusou. Disse que era dos servidores costumavam atrasar até um ano. O para vender e que não poderia lhe dar. Muito caro comércio local seguia vendendo para os servidores para presentear à esposa. públicos utilizando-se das famosas cadernetas. Compra agora e paga quando receber! Contudo Por duas vezes as chuvas torrenciais fizeram subir faltava dinheiro para o dia a dia. Como comprar o Rio Araçuaí e a família foi obrigada a fugir para uma roupa para as meninas? Como ir ao cinema? as partes mais altas da fazenda. Túllia, ainda mui- Um hábito que logo passou a fazer parte da vida de to pequena, quase morreu devido à fome e às más Sinhá e dos filhos. Revue Cultive - Genève

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Sinhá Emília não se apertava, fazia bordados para vender e decidiu abrir um salão de beleza onde fazia os cabelos das senhoras da elite local. Assim, ela teve condições de ajudar seu marido Arthur e permitiu que nada faltasse à família.

cinema e acompanhou com entusiasmos a chegada da televisão. Nunca se resignou a ser apenas uma dona de casa como lhe quiseram impor. Nas suas horas de lazer adorava fazer palavras-cruzadas. Organizava toda a vida da família e se integrava à sociedade de Belo Horizonte. Defendia seus direitos Logo decidiram enviar Roosevelt para estudar o en- enquanto mulher e avançava a desafiar uma sociesino médio em Belo Horizonte. O menino morou dade machista e patriarcal. com a tia Lindóia por um tempo até poder se instalar num pensionato. Inteligente e estudioso como Muitas são as histórias de Sinhá Emília na capital, a mãe. Estudou nos melhores colégios e conseguiu mas são histórias para se contar numa outra oporentrar no curso de medicina da Universidade Fede- tunidade. ral de Minas Gerais, onde se formou. Boa parte dos recursos dos pais iam para seu sustento. As meninas, Hélia e Túllia se formaram no curso normal em Araxá. Hélia, a mais velha era extremamente inteligente e logo caiu na graça das irmãs Dominicanas. Aprendeu música com as freiras e tocava muito bem vários instrumentos como acordeão e piano. Túllia não gostava muito de estudar e se recusava a obedecer às ordens, muitas vezes autoritárias das freiras. Como a mãe, tinha dificuldades para lidar com regimes autoritários. Conseguiu se formar graças à ajuda da irmã Hélia e as interferências do seu pai Arthur. Sinhá ficava louca ao tentar colocar a Túllia para estudar.

Antologia Cultive

Terminada a obra do Barreiro, uma vez mais Sinhá Emília decidiu mudar os planos a família. Hora de se mudar para Belo Horizonte onde Roosevelt já se encontrava noivo de uma moça da sociedade local, filha de um engenheiro. Sinhá sabia que em Belo Horizonte a sobrevivência de todos estaria mais garantida. Que seria mais fácil para as filhas conseguirem emprego. Mais uma vez interferiu na cabeça do marido, que lhe fazia todas as vontades, talvez por não aguentar sua insistência e pressão. Uma vez decidido a mudar-se para Belo Horizonte, enfrentando muitos problemas para administrar suas fazendas, à distância, sendo roubado e enganado pelos irmãos e trabalhadores, Arthur decidiu vender suas terras e resolveu construir uma casa na capital. Comprou um terreno num loteamento mais distante do centro da cidade e construiu uma casa de dois pavimentos. O bairro estava começando a se estruturar. Antes porém, alugou uma casa no bairro de Santa Tereza, famoso pela falta d´água. Sinhá Emília seguia lendo e estudando. Adorava o 60

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Lançamento Salão do Livro de Frankfurt 2021

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VÓ GRANDE

MULHERES DE CORUPÁ Por Luiz Carlos Amorim

Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 40 anos em 2020. Http://lcamorim.blogspot.com.br – http:// www.prosapoesiaecia.xpg.com.br Estive recentemente, de visita a Jaraguá do Sul, Joinville e Corupá. No norte de Santa Catarina, Sul do Brasil. Revi a família, revi amigos, revi lugares. É bom aquecer o coração com a presença de pessoas queridas, mesmo com o calor de mais de trinta graus deste verão que trouxe muita chuva para alguns pontos do país, mas não para cá. Conversando com um irmão aqui, outro ali, acabamos lembrando de nossa vó Paula, a vó grande, a matriarca da família que teve que deixar Corupá e ir para Curitiba, nos anos sessenta, por recomendação médica. Ah, saudade daquela mulher forte, guerreira, que criou dezesseis filhos e ainda adotou mais uma filha. Saudade daquele sorriso manso, bonachão, do 62

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abraço aconchegante. Curitiba, cá pra nós, perdeu a graça, depois que ela se foi. E me lembrando da Vó Grande, me lembro também da vó “Pequeninha”, a vó Estefânia, que ao contrário da outra, era baixinha baixinha, embora fosse grande em sabedoria e fé. Convivi mais com a vó Estefânia, pois ela viveu em Corupá até o fim de seus dias, nos anos setenta. Ela morava numa casa humilde, de madeira, que ficava além dos fundos do cemitério municipal, que ainda hoje é o mesmo. Era um discípula da Assembleia de Deus e todos na cidade a conheciam, pois, todos os dias nos quais havia culto, caminhava da sua casa até o centro da cidade, onde ficava a igreja, cantando. Saia de sua casa, passava pelo cemitério, caminhava uns três quilômetros, mais ou menos, na ida, e o mesmo tanto na volta, sempre cantando. Adorava ir à casa dela para me sentar na cozinha ou na sala de jantar e ouvi-la contar “causos”. Era exímia contadora de histórias, a maioria delas verdadeiras. Aprendi a gostar de peixe defumado com ela. Meu avô era ferroviário e trazia peixe quando viajava ou quando ia pescar nos rios de Corupá, e ela os defumava em cima do fogão à lenha. Depois a gente ia lá e com ela comíamos o peixe com pirão de água. Era uma delícia e é até hoje. Vó Pequeninha fazia, também um curau ou pamonha, de travessa, não sei o nome correto, que era um manjar dos deuses. Parecia um pudim de milho verde. Depois que ela se foi, nunca mais comi nada igual. Ela ensinou -me canções que me ensinaram a ter fé e que eu sei até hoje. Vó Pequeninha era uma grande mulher. Minhas avós eram criaturas maravilhosas, das quais tenho muito orgulho e das quais sinto muita falta. Minha terra, Corupá, é assim: acalentou em seu seio mulheres valorosas como Vó Estefânia e vó Paula, como minha mãe, que não mora mais lá, mas mora pertinho, em Jaraguá, e como tantas outras que viveram ou ainda vivem lá. A minha professora do primeiro ano do "primário", dona Elizabete Voltolini que o diga.


o segredo da juventude. Será a poesia que brota tão sensível de seus dedos? Será essa luz nos olhos a iluminar o futuro? Será esse teu sorriso a distribuir ternura? Será a vida, enfim, a lhe render homenagem? O que será, Mariana, esse segredo só teu, da eterna juventude?

TEU SORRISO Luiz Carlos Amorim

A JANELA Teus olhos, mulher, são assim: meigos, brejeiros, castanhos, malandros, sinceros, brilhantes, essas luzinhas acesas na janela do teu rosto. E essa luz na janela na janela do teu rosto, convite irresistível, me atrai para dentro, no aconchego carinhoso do teu/nosso coração. E eu me sinto em casa, com todo amor que há lá dentro. Só saio pra ver de novo, na janela do teu rosto, aquelas luzes castanhas convidando-me a entrar.

MENINA Menina de cabelo branco, nossa Cora-Coralina, vem e ensina pra gente

Teu sorriso é minha casa, minha luz, porto seguro, o meu horizonte, infinito. Teu sorriso é boa vinda, é ternura do aconchego, é calor a me aquecer. Teu sorriso é primavera que se espalha por teu rosto e sorri a tua boca e sorri o teu olhar e sorri teu coração e sorri a tua alma... Teu sorriso, minha musa, é meu ponto de partida e meu ponto de chegada...

Luiz Carlos Amorim é fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA em SC. Ocupante da cadeira 19 da Academia Sul Brasileira de Letras. Editor de conteúdo do portal PROSA, POESIA & CIA. e autor de 32 livros de crônicas, contos e poemas, três deles publicados no exterior. Colaborador de revistas e jornais no Brasil e em mais de 15 paises no exterior. Além de colaborar com vários portais de informação e cultura na internet como: Rio Total, Telescópio, Cronópios, Alla de Cuervo, Usina de Letras, etc. Revue Cultive - Genève

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Association Cultive

Du 28 octobro au 01 de novembre 2020

Exposition d’art à Genève 2020

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EMPODERAMENTO FEMININO, NO PLURAL ! Por Miriam Rey

Vamos dedicar este artigo às Mulheres Imigrantes, que, deixando para trás as suas raízes, a família e o nosso Brasil, partiram para uma aventura desconhecida, enfrentando o dia a dia com garra, em uma cultura, língua e sistema social bem diferentes das suas origens. O sexo feminino percorre estradas, muitas vezes, cheias de dificuldades e pedras no caminho. Entre medos e expectativas, a força de vontade move montanhas. A minha vontade é de escrever sobre todas as Mulheres que fazem e acontecem, guerreiras, mães mulheres imigrantes, pois, histórias de alegrias, e profissionais conhecemos muitas e sempre ficatristezas e determinação é o que não faltam. Mas mos admirados com as suas capacidades de enfrenentre tantas brasileiras que subiram degraus na sotar obstáculos, e vencer o cotidiano com amor e ciedade Suíça, vou descrever o percurso de alguinteligência. mas delas.

Era uma vez…

Uma menina de 19 anos, atleta de saltos ornamentais no Rio de Janeiro e cursando o II° grau. Um dia,

Angela Mota resolveu deixar o país verde amarelo para trás, a causa principal era a violência e o desequilíbrio político do então presidente Collor. Tinha uma irmã, que morava em Genebra. A partida foi em 1989 e, ao contrário de outras tantas imigrantes, chegou protegida pela família. Mas todo começo é difícil e o aprendizado da língua é indispensável para encontrar trabalho, começou a estudar francês na UOG – Université Ouvrière de Genève. Depois de seis meses, trabalhou como babá em uma família, onde era alojada. Entre 1989 e 1995, trabalhou como garçonete em bares e restaurantes. Não tinha papéis de estabelecimento no território Suíço - a ilegalidade é uma evidência entre os imigrantes, por isso sujeitos a serem expulsos do país. A história continua… Em 1993 Angela ficou grávida do namorado, originário do Cabo Verde, teve uma filha e finalmente em 1995 casou-se com ele, conseguindo o tal Permis (documento que autoriza o imigrantes a viver Revue Cultive - Genève

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e trabalhar no país), tão desejado por todos. A relação com seu marido foi problemática, se deteriorou e finalmente o divórcio aconteceu. O ex-marido era assistido pela Assistência Social Suíça de Genebra e Angela queria ser independente profissionalmente e financeiramente, sem amarras com o sistema. Em 1995 correu atrás da reinserção profissional. Através do seguro desemprego trabalhou em creches com crianças e foi abrindo as possibilidades. O diploma do II° grau obtido no Brasil foi considerado como equivalente à Maturidade Suíça. Dominando a língua francesa, fez um estágio de seis meses no Hospital Cantonal de Genebra. O estágio e a experiência nas creches em que trabalhara abriram as portas para cursar a Escola Profissionalizante de Enfermeira, obtendo o diploma em 2002. Em 2012 fez especialização em Saúde Mental Comunitária, obteve o Certificado de Prática e Formadora de Adultos. De 2009 a 2012 fez o Mestrado em Saúde Pública. Aplausos, Angela ! Hoje ela ocupa o cargo de Enfermeira Generalista no Departamento de Medicina Geriatria e Reabilitação no Hospital Cantonal de Genebra. Com determinação e foco superou as barreiras profissionais. Nesse meio tempo, conheçeu um homem Suíço e teve dois filhos com ele, outra relação que não durou e acabou mal, com dívidas que foram assumidas pela nossa personagem. As relações emocionais de Angela não estavam vibrando na mesma frequência da sua atitude social e progressista. As flutuações do amor demoraram para se estabilizarem no seu cotidiano, finalmente, hoje, ela encontrou um Suíço gentil e companheiro que a apoia na sua caminhada. “Juntos, podemos fazer mais e melhor” Incentivadora da cultura brasileira, produz muitos eventos culturais e multiculturais com o intuito de divulgar a nossa arte. Defensora dos direitos humanos e direitos das mulheres, faz palestras em muitos locais na Suíça, esclarecendo e orientando as pessoas que necessitam de ajuda ou estão perdidas na confusão da vida. Já produziu muitos shows músicais e vernissagens, 66

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entre eles, a turnê do conhecido cantor brasileiro Marcos Assumpção e outros tantos. Participou da equipe do Show Bossa e Samba, onde participaram renomados nomes da música brasileira, Gilberto Gil, João Donato, Alciona e Armandinho. Em 2014, Angela criou a Associação ECCO – Egalité – Culture – Chemim – Opportunité, que tem como objetivo maior, a ligação entre vários lugares pobres do Brasil e a Suíça. Trabalha com várias comunidades carentes brasileiras, entre elas, Sapucaia do Sul (RS) ; Rio de Janeiro ; Bahia ; Belém do Pará, enviando material escolar, roupas, brinquedos, eletrodomésticos e alimentos. Apoiada pela Empresa de Transporte You Box, que oferece 6 caixas de 90 Kg, cada uma, por ano. Há 2 anos, trabalha junto ao projeto Sarau da Palavra, contos e poesias escritos pelos alunos da Escola Nilo Peçanha de Belo Horizonte, valorizando o aspecto social e o estudo. No Salão do Livro em Genebra 2020, a Antologia será apresentada, através da Association Cultive. Como Presidente do Conselho de Cidadania Brasil-Suíça Romanda, órgão ligado a Embaixada do Brasil na Suíça, realizou dois projetos literários: Antologia Brasil – Conto por Conto – que foi apresentado no estande da Cultive durante o Salão do Livro de Genebra 2018; CRBE 10 anos de Existência, histórias escritas por vários brasileiros imigrantes do mundo, conselheiros do Conselho da Suíça e da Embaixadora Brasileira; narrativas importantes e diferentes, colocando as experiências boas e ruins em pauta. O CRBE foi lançado no estande da Cultive durante o Salão do Livro de Genebra 2019 e em vários países - Grécia, EUA, Brasil, Alemanha e Liechtenstein. Promove e participa das atividades culturais lusofônicas, concertos, palestras, festas e Conferências Mundiais do CRBE – Conselho de Representantes do Brasil no Exterior, realizados na Grécia e Portugal, uma parceria com os brasileiros empreendedores, conselheiros, Embaixadora, funcionários do Consulado do Brasil em Genebra, Consulados do mundo e do Conselho de Cidadania Brasil – Suíça Romanda. Angela, uma mulher perseverante e corajosa, que corre atrás dos seus sonhos, merece o nosso respeito.


Finalmente, perguntei a ela, qual seria a mensagem para as Mulheres Imigrantes? “Na busca de um casamento para conseguir os papéis de estabelecimento, embora sendo a única maneira de ficar na Suíça, não se envolvam com homens problemáticos, escolham bem os seus companheiros de vida, pois,

pela falta de experiência, uma certa ingenuidade e condições culturais totalmente diferentes das nossas, muitas vezes, caímos em uma armadilha amorosa cheia de conflitos, que podem nos levar à depressão e profunda tristeza existencial ».

Era uma vez…

Não desistiu, ela começou a estudar francês na Escola PEG, onde obteve um Permis de estudante, assim, não pertencia a classe dos “sem papéis”, o que lhe dava uma certa segurança e esperança futura. Em 2001, começou a estudar Ciências Econômicas e Sociais e História da Civilização Francesa na Universidade de Genebra. Nesse mesmo ano, conheceu um italiano e foram viver juntos. Tudo estava se encaminhando para o melhor. Em 2002 trouxe o seu filho de 16 anos para morar com ela, o menino estudou e se formou na escola de Belas Artes, mas, infelizmente, sofreu discriminação e racismo, voltando para o Brasil e ocupando-se do hotel em Ilhéus, o ex marido brasileiro faleceu e deixando-lhe tristezas e sofrimento no caminho.

Uma baiana que morava em Ilhéus, advogada, proprietária de um hotel, casada e com três filhos. Elizia Conceição Grasta, fez uma viagem em 1996, para conhecer a Suíça, apaixonou-se por Genebra e o seu instinto falou mais alto : « Vou morar aqui e ficar para sempre ». Porém com uma carreira e uma vida familiar formada no Brasil, o sonho adormeceu por quatro longos anos. No ano 2000, a instabilidade no casamento, a violência no Brasil crescendo e motivada por uma prima, que morava em Genebra, não pensou duas vezes, mudou-se para o país do chocolate. Tinha 42 anos e uma vida feita em seu país de origem. Foi uma aventura confortável. Com um diploma na mão, tentou a equivalência na Universidade de Genebra. Mas, atenção a todas que acham que é fácil! Alguns cursos, como o Direito, cujas leis estudadas são diferentes em cada país, não reconhecidos na Europa. Sendo assim, a nossa Conceição teria que começar a universidade do zero.

Entre 2001 a 2015, morou e se casou com o italiano. No começo do casamento tudo foi maravilhoso, porém a relação começou a se degradar. Conceição sofreu imensamente de abuso moral, agressões verbais, discriminação, ciúmes obsessivos. O italiano era um perverso narcisista. A nossa amiga viveu uma depressão muito grave, Revue Cultive - Genève

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ensinando benevolamente o curso de francês na da Associação Colibri onde deu aulas gratuitas de francês para imigrantes desfavorecidos e hoje continua concilia seu tempo entre o ensino na UOG e o trabalho benévolo na Associação Cultive também ensinando o francês para imigrante. Todo o sofrimento tem um fim, o italiano se aposen- tou e mudou-se para a Itália, em 2015. Finalmente Conseguiu depois de guerras, tristezas e desespero Conceição pode respirar vida. Continuou em Ge- o seu lugar na sociedade Suíça. nebra fez um curso de francês na ECLF – Escola de Aplausos e respeito ! Línguas da Civilização e Aliança Francesa e conse- guiu, dessa feita, um posto de professora de francês A mensagem de Conceição para as mulheres que desejam imigrar: na Université Ouvrière de Genève-UOG. Conceição apesar da sua história não perde sua « Não venham para cá, vivam as suas vidas no Brasil confiança no ser humano. Ela acredita no poten- ao lado da família, das raízes e da sua cultura. A cial do individuo. Como uma formiguinha, ela aventura de deixar tudo para trás é dolorosa, muitas trabalha, silenciosamente, passando e incentivan- vezes, a angústia, as saudades e a falta de referência do mulheres e jovens imigrantes a se integrarem nos levam ao total abandono ». na sociedade Suíça. Contribuiu passando o saber, angústia e lágrimas, sendo dependente financeiramente do marido, mas tendo que sustentar os dois filhos, começou a trabalhar com faxina, abandonando os estudos de Direito Internacional por exigência do marido doente mentalmente.

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A nossa conhecida e querida figura brasileira, Patricia Coelho, cuja determinação e foco definem o seu caráter e que muitos brasileiros vivendo em Genebra já cruzaram com ela é carioca da gema, formada em Zootecnia, tinha um certo conforto no Brasil onde trabalhava em uma empresa de projetos agro-industriais, meio ambiente e consultoria verde com geólogos e outros profissionais do ramo. Patricia sempre gostou de viajar e veio com o intuito de conhecer a Europa. Em 2003, viajou para Genebra onde morava uma amiga. Trouxe dinheiro, mas estava vivendo em um dos países mais caros do mundo, a grana foi acabando 68

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rápido. Chegou no verão, na estação mais badalada e agradável da cidade, já formada em francês pela Aliança Francesa do Rio de Janeiro, a língua não foi um obstáculo, levantou as mangas e foi à luta. Morou em Neuchatel, retornou à Genebra e trabalhou em um bar de um português fazendo faxina e servindo os clientes. Aprendeu muito sobre o ramo.

Trabalhou em vários bares, discotecas, restaurantes, não importava quantas horas por dia. Queria crescer e conseguiu.

Inscreveu-se em uma pós-graduação em Gestão Ambiental à distância, conseguindo desta forma o tão almejado Permis L de estudante e residência. Finalmente, as portas começaram a se abrir para a nossa personagem. Quase todos nós frequentávamos o famoso Bar Vera Cruz, no bairro do Pâquis, e foi lá é que conhe-


ci Patrícia. No começo ela era garçonete, mas, por sorte ou obstinação, comprou o bar depois de seis meses. O gerente gostou demais do seu desempenho e resolveu facilitar a compra. Ficou quatro anos explorando o bar e adquiriu experiência. Porém, não pensem que foi fácil, ela e outra brasileira trabalhavam sozinhas, de 9 horas da manhã até 2 horas da madrugada, um exaustivo cansaço começou a se impôr. Desistiu do bar Vera Cruz e começou uma pós-graduação Sustentável, na Universidade de Genebra, de 2005 a 2009. Tentou estágios na área de projetos ligados à gestão ambiental. Conseguiu trabalhar um ano e meio na pré-gestão de Pierre Maud, prefeito de Genebra e conselheiro da cidade. Atuando há quase de dez anos na cidade e através da pós graduação, tendo parâmetros da sustentabilidade e, de materiais naturais, começou a mudar a sua visão do mundo. Com nova determinação e conhecimento, em 2010, assumiu o restaurante do Tênis Club de Carouge, mas a proposta de adaptar os produtos locais, feitos « Maison », não teve receptividade. Quando acabou o contrato de dois anos, decidiu partir. A aventura não terminou aí… Sem trabalho, mas sempre buscando novas possibilidades, Patricia, em um dia qualquer de 2012, abriu o jornal e encontrou um anúncio da Livraria e Café “Les Recyclables”, um desejo escondido que alimentava inconscientemente, desde 2003. Quando botou o olho no local apaixonou-se. Tentou a sorte e conseguiu assumir o Café, a livraria já era explorada por outra pessoa. Mudou totalmente o conceito do restaurante, introduzindo novas propostas culturais, literárias e musicais. Um novo jeito de propor pratos orgânicos, naturais, veganos e vegetarianos, e os bolos caseiros, ideia da sua mãe, que, através de receitas típicas e gostosas, introduziu as delícias bem brasileiras, como, os bolos de milho e erva doce. Casou-se em 2019, com um cliente do restaurante, um homem gentil, honesto, trabalhador e amoroso da nossa Patricia. A mensagem que ficou desta imigrante batalhado-

ra é : «Não percam o foco, não desistam de si, continuem a estudar e a crescer, conscientes dos seus potenciais». Aplausos, tiramos o chapéu em homenagem a você, Patricia Coelho! É, pois é! A vida pode ser uma caixinha de surpresa, mas dentro dela, existem a esperança, a confiança e o correr atrás dos nossos sonhos.

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Editora Cultive ISBN Suíço Registro na Biblioteca Nacional Suíça diagramação tradução distribuição divulgação Romance poesia história infantil Revue Cultive - Genève

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34°Salon International du Livro et de la Presse de Genève du 28/10 au 1/11/ 2020

Cultive

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MULHERES ARTEIRAS

Por Valquiria Imperiano

Escritoras, pintoras, pianistas, dona de casa, estudantes, dançarinas, professoras, advogadas, mulheres médicas, artistas, cozinheiras, mães e avós. Mulheres cheias de histórias, cheias de atos. De perseguições, de fatos ignorados, desprezados. Mulheres criadoras, mulheres descobridoras Mulheres que bradam ao mundo por espaço, por respeito, e consideração. Lutando sempre pela igualdade, pela liberdade da cor, pela liberdade de classe, pela liberdade de ter direitos. Mulheres não são objetos de uso e de abuso. Mulheres são relíqueas, educadoras, matrizes da espécie humana, fortes, corajosas, batalhadoras, molas da sociedade. Que brilham com suas ações. Mulheres que ninguém irá calar porque a sua voz ressoa no silêncio dos tempos. Mulher paz, mulher faceira, mulher criativa, muilher de todas as cores, de todas as idades, pequenas e grandes, Mas sempre mulher.

Eu sou mulher Je suis une femme I am a woman Revue Cultive - Genève

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CELMA REGINA HELLEBUST mulher arteira sas: Hellebust International Consultant e Hellebust International Consulting AS Hellebust International Consultant, especializada em prestação de serviços de lei brasileira e norueguesa na Noruega desde 2005. Hellebust International Consulting AS foi criada em 2008 com a finalidade de fazer a representação de empresas e prestação de serviços de consultoria em regulamentos de saúde, meio Imigrou para a Noruega em 2000 e se estabeleceu ambiente e segurança para a indústria do petróleo em Stavanger, cidade situada na costa oeste do país e comparação desses regulamentos entre vários e conhecida como a “capital do petróleo”. Lá tam- países. bém se localiza o quartel da Otan na Noruega. Celma fez mestrado na Universidade de Stavanger Em virtude de suas atividades como advogada bra- e escreveu sua tese de conclusão de mestrado em sileira na Noruega foi admitida como membro do Segurança Social em 2010. Sua tese versou sobre Concelho por ocasião da fundação da Câmara de os modelos e estratégias para os regulamentos de Comércio entre o Brasil e a Noruega, a Brazilian saúde, meio ambiente e segurança para a indústria Norwegian Chamber of Commerce – BNCC em do petróleo na Noruega e no Brasil de acordo com Oslo no ano de 2002. Celma faz parte do Concelho o regime de cada um desses países. Esse mestrado se destaca pela multidisciplinariedade e pela forda BNCC até hoje onde serve há mais de 15 anos. No ano de 2007, foi admitida como membro por mação em algumas matérias de segurança. Celma ocasião da fundação do Concelho de Cidadãos escreveu artigos científicos sobre este assunto, que da Noruega. Como parte das suas atividades no foram publicados em revistas de renome, dentre Concelho escreveu várias Cartilhas informativas elas a Society of Petroleum Engineers. do Concelho de Cidadãos. Desde 2014 representa o Coneelho de Cidadãos de Oslo perante o CRBE Participou como palestrante no Arctic Circle AsDA, da qual é presidente – Concelho de Represen- sembly, onde por dois anos consecutivos (2016 – tantes de Brasileiros no Exterior ( CRBE), onde 2017) falou da comparação dos regulamentos de atualmente é Coordenadora Temática da Mesa 9 saúde, meio ambiente e segurança para a indústria – questões sociais e gênero, após ter sido coorde- do petróleo entre o Brasil, Russia, Noruega e Reinadora temática da área de empreendedorismo, no Unido e também da comparação entre os novos campos de petróleo na Amazônia e o Ártico. trabalho e remessas. Celma, natural de Botucatu. Estudou direito em São Paulo na FMU e foi estagiária do Ministério Público do Estado de São Paulo. Trabalhou mais de 10 anos como advogada na indústria automobilística em São Paulo, que lhe propiciou experiência e trato em assuntos dos mais diversos ramos do direito.

Na Noruega, pelo seu perfil de conciliadora nas atividades de integração dos estrangeiros das mais diversas origens naquele país, foi escolhida para participar, no ano de 2000, de um projeto do governo norueguês para integração de estrangeiros no país. A partir desse projeto fundou duas empre72

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Celma foi nomeada, 2017, Cônsul Honorária do Brasil em Stavanger. O Consulado Honorário de Stavanger possui jurisdição sobre Rogaland e Vest-Agder. No ano de 2018, principalmente em virtude do


trabalho junto ao Conselho de Cidadãos de Oslo, foi admitida na Ordem do Rio Branco no grau de

apesar de todos serem contra a sua decisão, ela chegou ao objetivo e se realizou. A moral da história encontra-se na persistência da formiga focar sua decisão contra tudo e contra todos. Ela conseguiu ignorar os conselhos negativos porque era surda. A partir dessa reflexão: O que é ser mulher, principalmente no exterior? Celma iniciou sua explanação. “É preciso ser surdo e objetivar suas ideias sem se deixar interferir pelos outros, a força de vontade é o mais importante para vencer”. A descriminação feminina vem de longe

Cavaleiro. Com o apoio do Conselho do cidadão de Genebra, da ECCO e da Cultive, dia 06 de março, aproveitando o mês da mulher, Celma realizou uma conferência sobre “A vida da mulher no mundo e as cartilhas do Conselho do Cidadão de Oslo”. Nessa conferência, ela também falou sobre a infância; a adolescência; vida adulta e a velhice das mulheres no mundo; os principais programas práticos e legais de acordo com a idade; a violência feminina; a educação de prevenção na Noruega e porque as cartilhas foram feitas para as mulheres. A conferência foi realizada na sede da Associação Cultive.

Nos anos 70 no Brasil, as mulheres, mesmo se tivessem talento, eram discriminadas em muitos esportes. Como exemplo, meninas não podiam jogar futebol apenas pelo fato de serem meninas, os meninos, sim, eram estimulados. Sãos coisas desse tipo que precisamos prestar atenção para tentar mudar. Ainda hoje no Brasil, as meninas chegam na adolescência e batem de frente com a gravidez precoce e não existe responsabilização dos homens, isso é um fato que nós devemos cuidar. Na Noruega, se há gravidez precoce todos são responsabilizados. Recentemente em fevereiro de 2020, Moçambique aboliu o casamento de criança. Numa viagem à Índia em 2009, observei que havia fotos de bebês e crianças em outdoors com alguns dizeres espalhados pela cidade. O guia explicou que nos cartazes havia um apelo aos pais para não matarem os bebês do sexo feminino. Na Índia essa prática é justificada pelo custo que representa o sexo feminino para a família.

As meninas nascem num contexto complicado na maioria das regiões no mundo. Percebemos, ainda hoje, que as meninas não são estimuladas a empreender. Criar empresa, ganhar dinheiro, tomar a frente de um negócio são destinados aos meninos. Ao contrário do adolescente do sexo masculino, Ela iníciou a conferência contanto a história de que recebe todo estímulo da família e da sociedade uma formiguinha que decidiu subir uma montan- e isso é mostrado nas estatísticas sobre as mulheres. ha. Enquanto subia ela era motivada pelas outras formigas a desistir do seu projeto. Apesar de todos Em vários países ainda há rituais de mutilação a aconselharem a desistir, a formiga continuou seu genital, e apesar da proibição em determinados caminho ignorando os conselhos, de forma que, países, as famílias levam as meninas aos seus países Revue Cultive - Genève

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de origem, para fazer a mutilação, pois existe uma crença que se a genitália feminina não for mutilada pode atrair má sorte para a família. São uma série de problemas que recaem sobre o sexo feminino no mundo. A vida adulta e a velhice da mulher no mundo. O banco mundial fez, em setembro 2019, um relatório sobre as mulheres e as leis. Não são as mesmas leis que defendam o local de trabalho, salários iguais, casamento, maternidade, empreendedorismo, bens e aposentadoria para todas, a mobilidade (em vários lugares as mulheres não têm direito a passaporte). Muito há que ser feito no mundo para modificar e melhorar essas regras. Na Noruega, cuja estatística tem o maior IDH (índice de desenvolvimento humano) do mundo mostra que: 81 % das pessoas que ganham mais de 1 milhão (cem mil euros anuais) são homens; 80% de acionistas são homens; 98 das empresas da inovação são criadas por homens, as mulheres só correspondem a 2% na inovação; somente em 2040 se atingirá um salário equilibrado entre os sexos. Conclusão sobre as estatísticas sobre homens e mulheres: nós não podemos mandar no mundo se nós não o possuímos.

quer tipo de ação de violência baseada na condição de mulher, que resulte ou possa resultar em danos ou físicos, sexuais, ou psicológicos ou sofrimentos para a mulheres incluindo ameaças desses atos, coerção, privação arbitrária da liberdade, ocorrendo na vida publica ou privada”. A violência feminina é uma grande barreira contra o desenvolvimento das mulheres na sociedade. Quando pegamos esse resumo, conseguimos entender o que é violência. Baseado nesses problemas, e considerando que a população brasileira interage com a população de outros países no exterior e sabendo que 75% de brasileiros na Noruega são mulheres, foram pensadas, idealizadas e concebidas as cartilhas dos cidadãos. Essas cartilhas foram elaboradas para ajudar a comunidade através da educação, servindo como forma de prevenção de problemas na Noruega. As Cartilhas do Cidadão de Oslo são ferramentas de aperfeiçoamento pessoal e integração na sociedade. Existem várias cartilhas feitas pelo Concelho do Cidadão. Os resultados obtidos foram muito positivos. Cito as principais cartilhas e as de minha autoria: A Cartilha Do Brasileiro Recém-Chegado A Noruega, Cartilha Da Mulher Vítima De Violência, Cartilha Do Concelho Tutelar, Cartilha Médico Hospitalar, Cartilha De Prevenção De Incêndio Para Mulheres, Cartilha Contra O Tráfico De Seres Humanos.

Precisamos ter a capacidade de investir e de assumir compromissos e responsabilidades fora do lar, senão essa situação vai perdurar infinitamente. As mulheres começam a ser descriminadas na infân- A Cartilha Do Brasileiro Recém Chegado cia, continuam na adolescência, na vida adulta, na velhice e nunca terão voz ativa. Como na história da formiguinha eu cheguei na Noruega com perseverança e encontrei barreiras Um dos maiores problema que ocorre com as para que eu pudesse me integrar e funcionar dentro mulheres no mundo todo, infelizmente em 100% da sociedade norueguesa. Então resolvi fazer a cardos países, é a violência. A estrutura social e jurídi- tilha do brasileiro recém-chegado: um guia de inca arcaica, que ainda funciona em muitos os países, tegração. Nele passei todo o meu conhecimento e reforça o problema sério que é a violência contra experiência para facilitar a vida de outras pessoas, as mulheres. As mulheres podem ser vítimas de que vieram depois de mim. violência desde o nascimento até a morte. Essa Cartilha trata de temas tais que: visto de perEu fiz questão de trazer para essa apresentação a manência, familiaridade com setor consular, setor definição do que é violência contra a mulher. da embaixada do Brasil em Oslo, tradução de documentos, registro de identidade civil na Noruega, Resumo da definição: o que é violência segundo locação e compra de imóvel, abertura de conta coras Nações Unidas durante a Plataforma de Bei- rente, ensino escolar para as crianças, manutenção jing do idioma português, caso de ensino para adultos e reconhecimento de diplomas, carteira de habili“...qualquer tipo de violência contra a mulher e qual- tação, informações sobre transporte publico, mer74

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cado de trabalho, impostos na Noruega, sistema judiciário cível, dicas de como se relacionar com os vizinhos noruegueses, como fazer coleta seletiva de lixo e reciclagem, telefones úteis, casamento ou união civil na Noruega, filhos menores de idade, sobre separação, divórcio guarda de filhos.

É uma cartilha visando esclarecer as mulheres que não é certo ser vítima de violência, não é certo sofrer violência, não existe culpa e não existe vergonha. Com relação a isso, as mulheres precisam procurar ajuda e aprender o próprio direito à vida, à integridade física sem ameaças de expulsão.

Essa cartilha é um tremendo guia com mais de mais de 36 páginas. No qual tentamos dar uma introdução para as pessoas recém-chegadas do Brasil e não sabem o que fazer possa entender como funciona a sociedade norueguesa. Peguei todos os problemas que eu enfrentei como: carteira de motorista, visto reconhecimento de diplomas, como trabalhar com a própria profissão no exterior, enfim principalmente a parte de assistência jurídica e compilei nessa cartilha

Os temas que essa cartilha aborda são: existe advogado de defesa, assistência jurídica gratuita, assuntos sobre separação e divórcio, visto de permanência após a separação, divisão de bens, pensão, guarda dos filhos, contato com a polícia, proibição de visitas, endereço secreto, alarme de violência, mudança de nome, indenização por violência sofrida. A cartilha procura explicar para todas as mulheres, que estão sendo vítimas de violência na Noruega, que não precisam continuar sendo vítima de violência.

Eu sou advogada e era muito requisitada para assistência jurídica. Fiz uma seleção, dos problemas, e escrevi os textos. Esses textos com o passar do tempo foram sendo atualizados por várias outras pessoas, mas tentamos manter a cartilha intacta porque essa foi a primeira ser feita e até hoje é a mais utilizada.

As vítimas de violência têm, na Noruega, um abrigo que se chama Krisersenter, que funciona tanto para homens quanto para mulheres (uma casa que visa a dar refúgio para as pessoas que estão numa situação de crise). Quando as mulheres são vítimas de violência, ao entrarem nesse abrigo, elas têm automaticamente um advogado pago pelo Quando nós começamos a usar essa cartilha, redu- estado que vai cuidar da questão do visto. Muitas ziu-se extremamente às demandas de perguntas no dessas mulheres ouvem de outros, ou mesmo dos setor consular. Esse é o lado bom de experiência, agressores, que se elas reclamarem, por serem espercebemos que escrevendo as cartilhas, as pessoas trangeiras, serão deportadas e vão perder um visto. procuravam respostas ativamente na internet, a Na verdade, isso é falso, não corresponde à realicoisa ia dando certo. Na época que essa cartilha foi dade. Vítima de violência pode simplesmente pedir feita, existia muita ignorância, ou melhor, as pes- um visto, não mais por reunião familiar, mas por soas desconheciam como funcionava o sistema de razões humanitárias e isso é algo que os advogados, assistência jurídica gratuita na Noruega. Elas não que trabalham dentro do Krisersenter, estão prepasabiam, por exemplo, que em caso de separação rados para fazer esse tipo de pedido. tinham direito a ter um advogado gratuito para tratar da guarda dos filhos. O Krisersenter dá assistência psicológica e jurídica, inclusive assistência material se a mulher saiu sem Foi juntando pedacinhos que a gente foi realizan- roupa nenhuma, eles dão dinheiro para que a pesdo cartilha, porém a partir do momento em que soa possa viver e tenham o mínimo. No Krisersencartilha da mulher brasileira recém-chegada foi ter, há apartamentos onde as pessoas podem viver montada, nos deparamos com o maior proble- cozinhar e levar os filhos, inclusive se precisar de ma que existe no setor consular da Embaixada: a um endereço secreto e tudo mais. O Krisersenter é mulher vítima de violência. Para falar dessa cartilha perfeito e organizado. fiz questão de dar essa introdução sobre os problemas das mulheres no mundo, falando da violência Existe o n° 180, um serviço posto em prática pelo e porque a violência é o maior e mais importante governo brasileiro e funciona em 16 países dentre problema que afeta as mulheres no mundo. eles a Noruega e a Suíça. No Brasil é só discar 180 que cai direto nesse serviço de auxílio à pessoa A Cartilha Da Mulher Vítima De Violência vítima de violência. Aqui no exterior esses números são diferentes, cada país determina o número Revue Cultive - Genève

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de socorro. É bom que cada mulheres procure se informar, no país em que mora, sobre o número de socorro em caso de violência. É uma tremenda conquista para as mulheres brasileiras. Todos os anos, no dia 25 de novembro lembre-se que o dia Internacional da Luta contra a violência a mulher, a maior vítima desse problema. A CARTILHA SOBRE O TRÁFICO DE PESSOAS

o conselho que mais intervém na Europa, porém uma coisa que as pessoas precisam saber quando elas lêem a estatística. Em 85% dos casos em que o Conselho Tutelar da Noruega interfere são famílias norueguesas, com pai e mãe norueguêses e somente 15% dos casos são imigrantes, ambos os pais ou somente um dos pais são imgrantes.

É uma cartilha visando a coibir o tráfico de seres Qual é o principal foco do Conselho Tutelar? humanos. As mulheres e as crianças são as principais vítimas, mas homens também podem ser ví- O principal foco, quando nós fizemos essa cartimas. tilha, foi mostrar como é o funcionamento do Conselho Tutelar na Noruega. A legislação da noAlguns exemplos práticos? rueguesa visa atingir o bem do menor. As cortes norueguesas agem diferentemente das cortes do sul “Recentemente no Brasil, umas moças foram ali- da Europa. No sul da Europa, as cortes privilegiam ciadas. Fizeram-nas acreditar que seriam cantores e mais a manutenção da família, ou seja se houver dançarinos na Coréia. Elas viajaram para a Coreia, uma solução na qual a criança possa continuar junchegando no país, foram vendidas por 6000 BRL, to com a família, as cortes do sul da Europa vão os passaportes foram tomados e elas foram manda- privilegiar a família; as cortes do norte da Europa, das diretamente para a prostituição. Conseguindo dos países nórdicos, vão privilegiar o bem do mefugir, tiveram a ajuda do governo brasileiro e foram nor, ou seja se tiver que tirar um menor de casa por repatriadas. Esse caso está na imprensa e ilustra que isso será o melhor para a criança, eles tiram bem esse problema do tráfico de seres humanos. e não há nada a fazer. Isso porque as autoridades intervêm. O tráfico de seres humanos é uma restrição da liberdade de ir vir, dos direitos humanos do cidadão. Como defender os direitos dos pais e mães? O Human Traffic é o recrutamento; o transporte; a transferência; o alojamento ou acolhimento de pes- Quando o Conselho Tutelar interfere, as ações para soas recorrendo à ameaça, uso da força ou outras retirar a criança da família são longas, a menos que formas de coação; o rapto; a fraude; ao engano; o seja uma coisa gritante, por exemplo: a mãe pegou abuso da autoridade; situação de vulnerabilidade; uma faça e saiu no meio da rua tentando matar o entrega e aceitação de pagamentos ou benefícios filho, nesse caso a polícia intervém rapidamente, e para obter o consentimento de uma pessoa que tem essa é uma situação específica. autoridade sobre o outro para fins de exploração. Aí já se vê a enorme gama do que que é o tráfico de Normalmente, por que o Conselho Tutelar inseres humanos. Há casos inclusive de homens que tervém? foram pegos para serem escravizados por essa teia de tráfico humano, além das crianças. Antes do concelho tirar as crianças da família, eles fazem análises por volta de 3 ou 4 anos. Como A IOM, International Organization for Migration, começa esses casos? Esses casos começam com oferece inúmeros serviços às vítimas tais que: repa- denúncias de médicos de vizinhos, de familiares, triamento. Em alguns casos a IOM pode dá quan- de professores, de parentes e de pessoas que conhetias para que a pessoa possa retornar e refazer a cem as crianças. Eles denunciam que a criança vida no Brasil . está sofrendo um determinado tipo de violência às autoridades. Quando existe essa denúncia, o Com Relação À Cartilha Do Conselho Tutelar Concelho Tutelar começa a investigar. Na fase de investigação é necessário que a família já tenha um O Conselho Tutelar é bem atuante na Noruega. advogado constituído. O que ocorre, é que as faEstatisticamente o Conselho Tutelar da Noruega é mílias não tomam as rédeas do caso no início. Eles 76

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vão, simplesmente, contratar o advogado quando o caso já foi para a justiça, porém quando o caso foi para a justiça, aí será humanamente impossível ganhar esse caso. A Cartilha De Prevenção De Incêndio Para Mulheres

podem lhe ajudar e procure conselho e apoio para você e também para outras mulheres que possam estar em perigo. Nunca tenha medo de pedir ajuda e de se orientar com a polícia em caso de violência e procure se informar sobre as ONGS e instituições de proteção à mulher.”

Pode parecer uma cartilha intrigante. Por que cartilha de prevenção de incêndio? Porque a Noruega é o país onde há mais incêndio no mundo. Eu fiz mestrado em segurança social, que visa atingir o desenvolvimento sustentável. Quando eu terminei de fazer o mestrado, observei o seguinte: a população original norueguesa tinha procedimentos e treinamentos para situações de emergência: como incêndios, catástrofes naturais e tudo mais, mas os estrangeiros não. Então eu sugeri ao governador que fizéssemos uma cartilha de prevenção de incêndio para imigrantes em português e para mulheres. O governador acolheu esse pedido. Eu fiz essa cartilha junto com 2 oficiais do corpo de bombeiros. Hoje em dia essa cartilha funciona tanto em norueguês quanto em português e já foram feitas traduções para várias outras línguas e outras comunidades. Essa cartilha pode parecer inútil, mas relato uma história que ressalta a importância dessa cartilha: No mês de janeiro, em Berg, uma família de refugiados sírios cruzou o mar. A família era constituída do pai, mãe e 5 filhos (3 meninas e 2 meninos). Eles cruzaram o mar, chegaram à Noruega. Instalaram-se e teve um incêndio na casa onde moravam. Pereceram a mãe e as 3 filhas; o pai e os meninos, que tinham tido treinamento, se salvaram. São coisas que parecem sem importância, mas salva vidas. Pensamos até nisso: o bem-estar e a preparação para a emergência da nossa população. Essas são as principais cartilhas, nós temos outras mais recentes: a cartilha da viuvez, para voz de separação, cartilha para o trabalho, para empreendedorismo, enfim são várias cartilhas que fui fazendo ao longo dos anos. Voltando ao exemplo da formiguinha. “Não desista nunca dos seus sonhos, continue sendo sempre aquela formiguinha que sobe a montanha, mas busque ajuda. Fale com as pessoas que

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MARIA DE LOURDES FERNANDES

MULHER MÃE, ESCRITORA, DESTEMIDA, CORAJOSA

2021

Antologia Cultive

Sou Mulher Fortaleza-Ceará

Sou mulher, cega, mais não triste. Procuro viver minha vida com alegria. Sou mulher, que apesar da minha condição, nunca deixei de sonhar e procuro realizá-los. Sou mulher, não nasci cega, mas sim predestinada a cegueira, mas não diminuiu minha vontade de viver. Sou mulher, que quando criança e adolescente sofreu descriminação, mais sobrevivi. Sou mulher, quando adulta, errei muito tentando acertar, casei, tive filhos, descasei e fiquei cega. Sou mulher, rompi barreiras, Hoje, pedagoga, poetisa, faço parte de uma academia de Letras composta só de cegos. Sou mulher, que tive coragem de recomeçar, a partir de um novo casamento e com Deus. Sou mulher, cega, que junto com meu esposo e Deus, reescrevi minha história. 78

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Lançamento Salão do Livro de Frankfurt

S OU M U L H E R,

e

USO ROSA E DAÍ ? contato : cultivelitterature@gmail.com www.cultive-org.com


MULHER ESCRITORA, MÃE E ADVOGADA

AVANI PEIXE UMA VIAGEM INUSITADA

Serenava. O tempo se fechava em meio às grandes árvores. Os raios nos céus clareavam a terra. Os trovões ecoavam e seguiam nas suas viagens transcendentais. As rodas da carruagem gemiam. Vagalumes acendiam e apagavam. Um pássaro à distância cantava um belo e distinto canto diante da beleza do momento inspirador e oportuno, acalmando as almas. Nina no colo da mãe chorava baixinho. O cocheiro, atento a tudo, silenciava. Ás vezes, cantarolava uma música da ópera Carmem, de Bizet: Habanera. Alguém orava: - Aí, meu Deus! O que se passa?! O mundo desabava em águas. A viagem seguiu apesar das mudanças climáticas visivelmente declaradas. Aos poucos a paisagem modificou-se. De densa e fria tornou-se mais calma. Uma bela canção vinha de algum lugar, trazida pelos brandos ventos. A Canção era produzida por instrumentos musicais, dentre os quais o violino e a flauta tocados com sensibilidade por grandes artistas que compunham belos versos em forma de poesia, (talvez improvisados). Não obstante, precisos, constantes e apaixonantes versos falando de amores incompreendidos,

perdidos e sonhados eram apresentados em ritmos cada vez mais envolventes e belíssimo arranjo. Possivelmente pessoas dançavam usando de leveza e encanto artístico, notadamente percebíveis pelos risos cúmplices e conversas animadas. Nessa passagem melódica, havia muita harmonia e muito mistério. Numa cama improvisada, a mãe acomodou Nina para dormir. Sob a tênue luz dos raios de sol filtrados pelos vidros e cortinas, borboletas coloridas, que faziam movimentos acrobáticos, esbanjando alegrias e felicidade era a paisagem, que se via da janela da carruagem. Nina era movida pelos embalos dançantes, causados pelo trotar dos cavalos que conduziam a carruagem. A mãe observava Nina dormir em meio a tantos fatos confusos, apesar de tudo tão presentes, constantes, relevante e natural. A ocasião de uma visão, fantástica e única, do sono da inocente Nina vivendo belos sonhos que, provavelmente, nunca seriam revelados e reconhecidos. A mãe cantava com carinho uma cantiga de ninar: - Dorme Neném! Uma pausa para um descanso merecido. Não poderiam estar entregues à própria sorte... De repente um aroma suave e doce, provavelmente de amêndoas ou castanhas que vinham de uma fumaça de uma casa próxima. Resolvem seguir o cheiro que se tornava cada vez mais intenso à medida que se aproximavam. Casa simples e confortável. Cercada de pinheiros seculares. Nela pedem abrigo e dormem aos mais diversos sons que as noites produzem, mesclados ao cheiro de terra molhada, das matas nativas e das árvores e vegetação revigoradas. Duas pessoas nela habitavam: uma, lia; a outra, escrevia; uma, fora de si, sorria; a outra, dentro de si, chorava. Ambas em uma só pessoa ...a ser tudo. Na manhã seguinte a viagem seguiu mais calma e mais tranquila. O cocheiro meditava. Nina em risos balbuciava algumas palavras. A mãe tocava uma flauta, O pássaro voltava a cantar, (poderia ser o mesmo pássaro, talvez um rouxinol), entre as folhas das árvores frondosas carregadas de frutas vermelhas não conhecidas. O canto do pássaro se fazia glorioso, afinado e insistente. Era o prenúncio de um novo dia de primavera por todos esperado. Revue Cultive - Genève

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SONHO DE MULHER ‘

por:Avani Peixe$

no amor. O medo, esse real pretexto causador dos conflitos que ensejam o desapego e as renúncias, reserva segredos.

Em sonhos sou um universo único, formado de luzes e cores iguais, na produção de uma tela, com Mulher é se sentir forte, determinada, questio- campos de girassóis brilhantes e inconfundíveis, nadora, romântica e sonhadora, com propósitos de resultantes da inspiração de um grande pintor do chegar aonde a razão determinar e a intuição lhe mundo da arte e universalmente consagrado. levar. Sou um templo de meditações com aromas de jasÉ nascer sob a influência de astros poderosos e mim, de rosas vermelhas e rosas brancas com gotas de um signo que lhe permita viver com leveza de de orvalho, de crença, enfim. pensamentos, que lhe produzam a calma e a vontade de dizer não quando preciso for; de dizer sim, às questões que se provem verdadeiras e viver intensamente na Esperança, na Fé, na Alegria, e no Amor.

Nos meus sonhos sou: do Sol, a luz e a energia que a vida necessita; da Lua, a serenidade permitida; das Estrelas, o brilho que não ofusca e não desfalece. Sou o canto dos pássaros que chegam para alegrar o dia. Um Rouxinol, um Bem-te-vi, um Sabiá ou o Ser sensível, transparente e perspicaz nos seus ob- Uirapurú. jetivos à prática de simples e complexas questões. Entre tantos anseios e devaneios, me permito Sou a Borboleta que segue a voar ao vento livremente, igual ao companheiro Beija flor, que pousa sonhar... na varanda da minha casa, para um “flash”. RegisManifestando no meu olhar o que me vem na alma tro único e encantador. e nas minhas mãos o reflexo da Arte de pintar e escrever poemas de Amor. Nesses, as minhas pon- Sou, das estações do ano, a Primavera com suas derações, os meus questionamentos, as minhas flores de distintos aromas e cores. dúvidas, as minhas convicções, as minhas escolhas Sou um bom livro. De preferência, os contos ine realizações. fantis, que me remetem às lembranças da infância, quando, conduzida por minha mamãe, ia fazer A vida é de opções...talvez, nem tanto! A vida é de sonhos, - condição inerente do ser hu- compras nas lojas da pequena cidade, onde ela me comprava livros e uns presentes que ela gostava mano... muito. Enquanto os compravam, seguia segurando Sou MULHER, sou idealizadora! Formada pela fé a sua mão e a observava docemente com vontade de parecer-me a ela, com os encantos e formosura que me abraça. que Deus lhe havia dado. Sou solidária.

Sou o desalinho de minha casa com meus livros amontoados, meus quadros e minhas telas espalhaSou a transparência que vem com a verdade. das, meus escritos rasurados, recompostos e bem Faço versos incompletos e, por vezes, não com- guardados na cômoda antiga do meu quarto partilhados que, a despeito de tudo, fazem nascer Sou o sorriso e a gargalhada do palhaço que encanPoesias de Amor com reflexões e respeito à dor da ta as crianças. alma. Hesito e questiono, porém, sempre concluo. Na minha Paz estão as respostas, pelos esforços Também, me visto de silêncio às perguntas para as desmedidos com a finalidade de atingir os meus quais não encontro respostas. objetivos constantes e pela minha fé tão veemente 80

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Sou um canto andaluz. Nas minhas veias correm sangue latino; na minha alma, o sentimentalismo Sou a Bailarina que em sonhos bailou e se encantou. Uma história que se repete ao longo desses refletido na composição do que eu sinto. tão pensados e vividos anos. Minha admiração e Tenho da minha infância o teatro como referên- paixão às obras de Degas. cia. Nas apresentações, o que mais gostava de fazer eram as falas ciganas, com direito à leitura das Sou a Esperança linhas das mãos a saber os destinos, ao som de um belo ritmo, para uma apresentação seguinte, onde Sou filha de um Deus presente. teria o realce da percussão das castanholas. Me diSou filha de uma grande Mulher. ziam a glória! Sou a nota musical que adentra o coração e, a um Sou a neve que cobre as montanhas, desfazendo-se só toque, desta no piano, na sequência da execução ao alvorecer para em seguida, com movimentos da mais bela canção; “C’est ma vie” ondulantes, chegar aos rios e mares e oceanos, encontro final da vida. Sou o ritmo e o compasso de um bailar flamenco. “Sentimientos, guitarra y poesia hacen los cantares Sou talvez uma ilha, uma praia deserta de ondas que vem e vão e em brancas espumas desvanecem. de la Patría mía...” Sou tudo isso hoje, amanhã já nem saberei mais A minha inspiração sonhadora, advém dos Deuses quem sou. dos mares, das montanhas e da terra, enfim do uniSou!!! verso que me cerca em festa. Sou o aroma sensível e agradável dos óleos essenciais e incensos dos grandes templos em meditação e oração. De tudo, uma compreensão.

- Avani peixe Lemos

34°Salão Internacional a s n e r p m I a d e o r v i L de Genebra Do 28 outubro ao 01 de novembro 2020 com informações : cultivelitterature@gmail.

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MULHER ESCRITORA, PSICÓLOGA, MÃE, ARTISTA

CHRISTIANE COUVE DE MURVILLE PORTAL DE LUZ A luminosidade era fraca, não dava para enxergar direito. Eu ouvia murmúrios abafados, misturados a sons que eu não sabia identificar ao certo de onde vinham. De repente, senti um aperto tremendo no corpo, um gosto diferente na boca e o cheiro no ambiente também mudou. Logo notei que o local no qual me encontrava começava a encolher. Mais uma espremida violenta e o meu coração disparou. Não havia mais espaço suficiente para mim. Que sufoco! Eu precisava urgentemente sair dali. Felizmente, surgiu uma luz no final do túnel. A luz, a princípio tênue e incerta, aos poucos foi se expandindo, ganhando brilho e transformando-se em um portal luminoso. Eu tinha que aproveitar a oportunidade que se apresentava a minha frente. Então me estiquei, indo ao encontro da luz, até conseguir colocar a cabeça para fora do cantinho apertado no qual vivera até então. Barulhos, luzes e odores estranhos agrediam meus 82

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sentidos. E que frio! Chorei. Puxaram-me com firmeza, carregaram-me e manipularam-me. Perdi completamente todas as minhas referências. Onde estava? Que mundo era aquele à minha volta? Agora, eu berrava e esperneava. Meus pulmões queimavam de tanto que eu gritava. Em meio à confusão e ao desespero que sentia, ouvi uma voz bem conhecida que me chamava para junto dela. Acalmei-me. Pairava no ar uma fragrância que eu também reconhecia e, então, logo me vi em um colo aconchegante. Sabia de quem era; daquela que por tantos meses me acolhera em seu ventre, oferecendo a sua energia feminina de materialização e o seu corpo para que eu pudesse também ganhar um corpinho e aparecer no mundo. Ela me observava com carinho. Havia amor em seu olhar, amor de quem não quer nada de ninguém e zela para que todos fiquem bem. Ela estava feliz e eu também. Eu descobria a fisionomia luminosa daquela que havia sido meu portal de entrada na Terra. Sentia-me segura naquele colo quentinho e perfumado, que transbordava de ternura. Finalmente, adormeci em berço esplêndido, junto ao peito da mãe que me acolhia em seus braços!


MULHER ESTUDANTE

DANIELE ATANAZIO DA SILVA

por Valquiria Imperiano

A menina mulher Daniele Atanazio da Silva nas- cola Estadual Monsenhor Borges de Carvalho para ceu em Alagoa nova, uma cidade perto de Campi- cursar o 1° ano integral. Assim a conversa foi evona Grande na Paraíba. luindo e ela falou dos seus sonhos. Conheci Daniele na ocasião do 2° FECCAN em 2019, era uma menina tímida de 16 anos estudante no Colégio Violeta Costa. Ficamos não mais que 10 minutos próximas e foram 10 minutos que da sua boca só saiu o seu nome e tão baixo que não consegui entender. A professora que estava com ela, pedia-lhe para se apresentar, mas Daniele parecia uma concha fechada em si mesma. Então lhe disse que não precisava dizer nada. Ela afastou-se, mas deixou um rastro de luz, uma luz de simplicidade e humildade, tímida e silenciosa que me tocou e deixou-me a matutar.

Finalmente perguntou-me se ela poderia escrever um romance e se eu poderia ajudá-la. Respondi que sim. Então perguntou-me se poderia escrever um romance com 30 linhas. Achei interessante a questão e pensei: quantos jovens têm a ideia de escrever um romance sem saber exatamente o que é um romance e como se jogar sobre o papel. Expliquei-lhe o que é um romance e a diferença entre um romance e um conto. Propus-lhe que me enviasse algo de sua produção.

“Ainda não escrevi nada, dona Valquiria, mas posso escrever um poema e lhe enviar, mas a senhora não A professora falou-me um pouco sobre Daniele vai rir de mim, tá?” e emocionei-me com sua história. Após 2 meses desse encontro, Daniele entrou em contato comi- Houve alguns minutos de silêncio e recebi o poema go. Não me lembrei dela de imediato, mas aos pou- pelo zap: cos sua presença veio-me à memória. Contou que agora estava com dezessete anos e estava apreensi«Nunca vi moça mais bonita va porque tinha que mudar de escola, estava com tão bela quanto uma flor medo da mudança. Ela se sentia segura no Colégio De longe meu coração palpita Violeta Costa. Ela queria simplesmente falar. Ouvi Dizendo sem dar muito palpite. Disse-me que iria para a esEssa é o meu grande amor!» Revue Cultive - Genève

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Mais cinco minutos e veio outra

Um encontro com Deus

Daniela Atanazio Já imaginou como seria nosso encontro com Deus? Onde iríamos morar? Em um paraíso e desfrutar das maravilhas do nosso Criador nas grandes menções celestiais. Abaixo do poema a própria crítica: Lá não sentiremos dores, angústias, tristezas nem «Tá horrível!» aflições, só iriamos sentir gozo, paz, alegria e amor nos nossos corações ao ouvir os sons das trombetas Ai pensei: taí, tá nascendo outra poeta no Brasil? ao serem tocadas pelos anjos e ouviremos lindos Simplicidade e singeleza, harmonia e ritmo, alguns hinos da harpa cristã. Iremos nos preparar juntos ajustes e vira uma trovadora! com o Senhor para presenciar o grande julgamento final, então os que forem digno de merecer a coroa Continuamos a conversar, expliquei-lhe várias coi- da vida irão gozar o prazer de ter a vida eterna ao sas sobre a matéria e indiquei-lhe alguns livros, que lado Daquele que é digno de toda honra e gloria e ela prontamente correu pra pegar emprestado na majestade. biblioteca. Perguntei-lhe por que queria escrever e mandou-me a seguinte resposta, que achei tocante Lá não passaremos por dificuldade alguma, pois o e merecedora de crédito e apoio. Afinal pra que Senhor nos encherá com a sua graça. Ao lado dos serve sermos escritores senão para transmitirmos anjos celebraremos uma grande festa e todo o céu se o saber a quem não tem e incentivar quem sonha? abrirá em um bem-vindo sem igual e toda língua confessará que só o Senhor é Deus. Daniele : «Primeiro, gosto muito de escrever e acho lindo quem gosta de escrever. Mas meu objetivo prin- Continuamos nos comunicando e isso me dá prazer cipal é poder incentivar as pessoas a tomarem gosto e e vontade de continuar incentivando essa menina descobrirem o quanto é bom escrever, poder incenti- para que ela possa conhecer o mundo da libertavar as pessoas a escrever. Ver as pessoas apaixonadas ção através das letras e possa realizar o sonho de pela leitura e pela escrita. Eu pretendo um dia ser transmitir a outros esse saber, apesar das próprias escritora, assim como a escritora Valquiria Impe- dificuldades, como ela mesma diz: riano. Segundo, quero, um dia, ensinar àquelas que não tiveram a oportunidade de aprender a ler e a “...sou capaz de superar todos os obstáculos que vivi escrever. Enfim, quero poder ir mais além do que eu durante a minha vida... Não importa o que sofri, acho que posso ir e mostrar para todos, que sempre importa que eu sobrevivi, aliás não existe vitória duvidaram de mim, que eu venci e sou capaz de su- sem sacrifício.” perar todos os obstáculos que vivi durante a minha vida. Porque o senhor vai me honrar! E por fim, eu Aí está uma menina com uma vida de sofrimento irei sair de tudo o que me acontece como uma grande atrás dela, mas apesar de tudo consegue substituir vencedora. Não importa o que sofri, importa que eu a semente da negatividade por otimismo e pela sobrevivi, aliás não existe vitória sem sacrifício. vontade de contribuir com o próximo e mais ain«Num dia meus zoi avistou o jeito que ela andava tão inquieta como uma nuvem no doce silêncio da madrugada;»

da, desejo de investir num aprendizado para poder Passados alguns dias, ela me disse que tinha um transmitir a outros. É claro, o Senhor vai honrá-la, texto para eu analisar e aí veio esse: está escrito no seu destino. 84

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Association Cultive

Du 28 octobro au 01 de novembre 2020

Exposition d’art à Genève 2020

Revue Inscriptions ouverts

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MULHER , POETA, MÃE, PROFESSORA

HOMENAGEM À CLARICE LISPECTOR Um pouco de Clarice Clarice Lispector nasceu em Chechelnyk em 10 de dezembro de 1920 e faleceu no Rio de janeiro em 9 de dezembro de 1977. Foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira e declarava sua brasilidade, ser pernambucana. Autora de romances, contos e ensaios, sendo considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas. Sendo considerada uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano. «Eu e os poetas tem a proposta de passear com a minha poética entre os fragmentos líricos de poetas consagrados, atravessando o tempo na busca de inspiração. E de deixar-me levar pela musicalidade de seus versos, fiel as suas genialidades, suas emoções e ao seu universo poético. Desta forma aproximar-me dos poetas preferidos e redescobrir na sua verve poética, a beleza do sentir, transitar e desaguar na extraordinária riqueza da sua poesia atemporal, faço deste entrelaçamento minha humilde homenagem aos gênios poéticos que tanto me encantam. Porque mesmo que os séculos ou os anos passem, a voz do poeta continuará a sorrir, a cantar, a chorar, a cinzelar o coração em ternura e, o amor que não se Fonte: esgota, há de eternamente reflorescer.»

https://pt.wikipedia.org/wiki/Clarice_Lispector

Eloah WEstpahlen Naschenweng 86

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Sei que me perco nas dobras das calçadas das ruas em que vivi. (EWN) “Sou uma filha da natureza Quero pegar, sentir, tocar, Ser. E tudo isso já faz parte de Um todo de um mistério...” ( Sou filha da natureza) (C L) Nas máscaras que visto para sobreviver e que me torna sedenta de paz; na pouca fé que me resta e nas lágrimas e chagas que o tempo plasmou me sinto um passageira, caminhante invisível nesta coragem obscura que procuro no entardecer da minha vivência. No momento que ainda (EWN)

Eloah Westphalen Naschenweng -

Florianopolitana, acaba de lançar o livro Eu e os Poetas. Nesse livro ela presta homenagem à vários poetas brasileiros e entre eles Clarice Lispector. Para reverênciar a autora no dia da mulher, Eloah enviou-nos uma amostra do seu precioso livro.

Poemas de Eloah (EWN) e a poética de Clarice Lispector (C L). Vida (EWN) Ah! Vida vivida. Vida sentida! Não sei se sou joio, ou sou trigo. Nos caminhos que me levas, “ ...que eu saiba ficar com o nada E mesmo assim me sentir Como se estivesse plena de tudo”. (Solidão) (C L)

“... há o amor Que tem que ser vivido Até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata”. ( Mas, há a vida) (C L) Porque sonhar é preciso ... Abraçar a vida generosa e, em outro ritmo, outra harmonia, tocar na essência da alma deixando-se levar pela bem-aventurança, purificada. (EWN)

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Essa leveza espalha-se em versos contidos dentro da narração do conto, que traz em seu bojo o poema abaixo, intitulado a História do Escravizado no Brasil:

A HISTÓRIA DO ESCRAVIZADO NO BRASIL Ditoso guerreiro, rei de altiva aldeia que no solo da África se encontrava. Corria na várzea, que a brisa campeia. Sua tez escura, no sol ardente brilhava. Mirado por homens armados na mata traído por aqueles, que já defendeu, trocado no escambo, por coisas, por prata, o nobre guerreiro, a liberdade perdeu. Findou-se a alegria e o sorriso derradeiro, o homem branco ao jovem negro rendeu, levou-lhe açoitado pra dentro do tumbeiro. Ali se enterrou um livre e um escravo nasceu.

MULHER MÃE, ESCRITORA, TENENTE - CORONEL DA RESERVA, POETISA, CONTISTA E DECLAMADORA, ESCRITORA, PALESTRANTE E APRESENTADORA DE TV

Trazido para América no porão escuro com fome e sedento, entre seus iguais. Ouvia as lamúrias e o choro tão puro, de homens, mulheres e crianças sem pais.

EDENICE FRAGA

Na longa viagem, no fundo do fétido navio, escravos morriam no banzo e na saudade. Seus corpos eram lançados, no mar bravio Edenice da cruz fraga é natural de Florianópolis-sc. e levados pelas ondas, ganhavam a liberdade. Possui dois livros solo publicados, lançou recentemente Seus textos estão registrados em várias cole- O oceano ao navio negreiro balançava tâneas, cd, sites e revistas. Faz parte de várias aca- mas vagarosamente, parou de navegar, Era a viagem que ao seu fim chegava: demias e associações culturais. o escravo ao Brasil, acabava de chegar. Edenice fez duas pós graduações e tournou-se especialista em Geståo de Seguraqnça Pública e es- O negro com grilhões era então açoitado pecialista em Atendimento à Criança e ao adosle- forçado a servir a um dono e seu senhor. cente em Situação de risco. Por gostar de escrever Foi trocado por coisas no rude mercado seguiu varios cursos de formação e produção tex- e estampava na face a revolta e a dor. tual. Atualmente faz o curso de Letras. Em uma noite sem lua, lutou capoeira e o Capitão do mato ele assim dominou. Soltou outros negros, da senzala na beira. Fugiu pra densa mata e Palmares fundou! É Ganga Zumba, o nome do líder pioneiro Mas foi Zumbi, o herói que a Palmares liderou, pois ele lutou e morreu pra salvar do cativeiro, o homem africano, que a América escravizou. Três séculos se passaram e ao negro servil, 88

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ESCRITORA EDENICE FRAGA LANÇA EU CONTO COM UM CONTO: A HISTÓRIA DO ESCRAVIZADO NO BRASIL! “Eu conto com um conto: A História do Não é uma obra histórica, mas sim, uma obra liEscravizado no Brasil” terária que usa o recurso literário do conto para abordar de forma tocante, acessível e ilustrada, a dolorida temática da escravização dos negros afriO título dessa matéria é o nome do mais recente canos no solo brasileiro. É uma obra interdisciplilivro da escritora brasileira Edenice Fraga. A auto- nar que desde a sua capa dialoga com o conto, a ra é poetisa, contista, declamadora e Tenente-co- poesia, a história, a arte e a cultura, transportando ronel da Reserva da Polícia Militar do Estado de o leitor na breve leitura e para a reflexão sobre o Santa Catarina. Participa de várias Instituições li- ponto de partida de muitas das desigualdades soterárias, com destaque para a Academia de Letras ciais, que envolvem a população afrodescendente dos Militares Estaduais de Santa Catarina; Acade- brasileira e a herança do colonialismo. mia Desterrense de Literatura; Academia Nacional de Ciências Letras e Artes; Federação Brasileira dos O livro é composto de três contos e um miniconto, Acadêmicos das Ciências Letras e Artes; Grupo de e todas as protagonistas são mulheres. No primeiro poetas livres; e Le Comité Cultiveconto, o qual dá nome ao livro, a Club Internacional D’Art Littérature autora usa o recurso da poesia viet Solidarité Brasil- Suiça. sual e para isso conta então com as ilustrações do artista plástico, Edenice Fraga é uma mulher negra Bruno Barbi, que é uma grande de origem humilde, nascida em uma referência da arte em Santa Catacomunidade periférica do municírina. pio de Florianópolis em Santa Ca tarina, e que enfrentando desafios Ao consultarmos os registros construiu a sua trajetória pessoal e históricos veremos que o Brasil se profissional de tal forma que foi medestacou, negativamente, como o recedora de várias honrarias, entre maior importador de negros afrielas: a medalha Cruz e Sousa, a mais canos do ocidente, tendo alcanalta comenda da arte, cultura e liteçado a média estimada de cinco ratura, do Estado; as medalhas Dias milhões em três séculos e meio do Velho e Cruz e Sousa pelo município seu período escravocrata. Esses de Florianópolis; o título de Mulher Destaque San- números demonstram que a escravidão dos negros ta Catarina pela Academia de Letras do Brasil/SC ; foi a maior e mais duradoura atrocidade ocorrida o título de Comendadora do Conselho Internacio- no solo brasileiro. E, tocada por essa realidade, que nal dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e repercute na desigualdade social até a atualidade, o título de Destaque da Raça Negra pelo Instituto a autora inspirou-se para tocar nessa temática, Liberdade. trazendo à baila a saga do povo negro escravizado, a figura de Zumbi dos Palmares, a libertação sem A autora possui participação em várias coletâneas direitos e as consequências de tudo isso. e possui três livros solo. No ano de 2019, lançou no Brasil e em breve também será lançada no exterior Enfim, é uma obra de leitura fluída onde a autora a sua terceira obra intitulada, “Eu conto com um visando suscitar reflexões, paradoxalmente aborconto: A História do Escravizado no Brasil”. Esse dou de forma leve uma pesada questão, que não seu filho literário reúne quatro contos afro-bra- aconteceu apenas no Brasil, mas em todos os essileiros que nos remetem à reflexões sobre a escra- paços onde o colonialismo se instalou e deixou as vização do negro no solo brasileiro e algumas das suas marcas. suas consequências. Revue Cultive - Genève

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MULHERES SERES ILUMINADOS Apesar das dificuldades que temos, nós, mulheres, continuamos com a nossa luta, nos confrontando com as mais diversas questões que nos opomos, muitas vezes em desigualdade social. Temos lutado insistentemente para superar tais dificuldades e vencê-las, conquistando cada vez mais espaço no mundo intelectual, na cultura (artes, música, literatura), na neurociência, etc. Nos propondo cada vez mais a estudar e questionar valores que possam contribuir no desenvolvimento social. Essa luta é antiga... A história conta que em 1857, centenas de MULHER COMERCIANTE, FAMARCÉUTICA, opérarias morreram queimadas por policiais em MÃE, ESCRITORA uma fábrica têxtil de Nova York (EUA), elas reivindicavam a redução da jornada de trabalho e o direito à licença maternidade. Com base nesse ocorrido e diante de outras atrocidades envolvendo a mulher, em 28 de fevereiro de 1909 em Nova York “Se eu errar que seja por muito, por amar de(EUA) a dupla de líderes alemães Luise Zietz e Clamais, por me entregar demais, por ter tentado ser ra Zetkin organizaram o dia nacional da mulher. feliz demais...” (Clarice Lispector) Mas somente no ano de 1975 a ONU (Organização das nações unidas) passou a celebrar o dia internacional da mulher no dia 08 de março. Quando digo que somos iluminadas, é porque conseguimos superar os desafios do dia-a-dia. O que nos faltava eram oportuni dades de mostrarmos nosso poten cial. A nossa intuição é grandiosa, coisa que raramente os ho mens as têm. São coisas da alma, coisas de Deus. VIVA AS MULHERES!

MONTANA CABRAL

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sua vocação, até que, com apenas 15 anos, foi para Buenos Aires tentar a carreira artística, fazendo filmes e depois radionovelas. Foi quando conheceu Juan Domingos Perón, na época vice-presidente da Argentina. O amor fez um milagre, apesar da grande diferença de idade entre ambos. Tiveram um relacionamento difícil e problemas com os altos escalões do governo, pois eles não aceitavam Evita, por causa dos seus preconceitos, mas o seu carisma pessoal e a sua bondade, fizeram-na cair no coração do seu povo. Vieram tempos felizes, sobretudo durante o período de 7 anos que viveram o relacionamento.

A Grande Mulher: EVITA PERÓN por Maria José Esmeraldo Rolim

Eu, desde menina, ouvia as histórias de Evita Perón, encantava-me saber que existiu uma mulher que, em tão pouco tempo de vida, fez tanto por seu povo e por isso foi tão amada por muitos no mundo. Atriz de teatro, profissão considerada pelas famílias da época imprópria a uma mulher, lutou de todas as formas para emancipar as mulheres e vencer os preconceitos.

Criou-se uma estrutura de grande importância na luta a favor dos descamisados (como ela chamava os trabalhadores) e também na sua participação ativa na conquista do voto feminino na Argentina. Foi uma guerreira na luta contra o câncer, doença que a levaria à morte. Nunca quis que a vissem como uma coitada, lutou até fim em prol do povo. O Museu Evita Perón optou por não contar a história e nem exibir imagens dela debilitada pelo câncer de útero, que a levou a morte com apenas 33 anos. Seu velório durou 14 dias e o corpo foi embalsamado e enterrado no Cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, onde enfim, depois de tantos contratempos, ela descansa em paz. Alguns antagonistas da elite do governo deram vivas ao câncer no dia da sua morte, enquanto o povo chorava inconsolável ao longo dos 14 dias.

O lugar que foi escolhido para atender o seu povo foi chamado de Casa Carabossa, uma mansão linda em Palermo, que abriga um dos tantos trabalhos da Fundação de Ajuda Social Maria Eva Duarte de Perón. Instalar uma instituição para descamisados Maria Eva Duarte viveu na cidade provinciana de em Palermo gerou, mais uma vez, polêmica, porque Los Toldos, em Buenos Aires. Filha de uma cos- era uma afronta a oligarquia da época, colocar o tureira com um fazendeiro, tinha 5 irmãos e mais 6 povo pobre em um dos bairros mais tradicionais e da família legítima do pai. Cresceu na pobreza, sen- burgueses de Buenos Aires. Hoje a casa é declarada do chamada de bastarda, porém sempre manteve Monumento Histórico Nacional da Argentina. vivo o seu sonho de ser uma artista. Foi sempre uma menina sonhadora. Vivia dizendo que queria Durante seu funcionamento, a casa onde atualmudar o rumo do seu povo e fazer mudanças nas mente abriga o Museu era voltada para o atendileis para todos terem direitos à comida, estudar e mento de mulheres em situação de vulnerabilidade ter vida digna. e de seus filhos pequenos. Ao chegar lá, eles recebiam roupas, alimentos, brinquedos e local para Ninguém acreditava na raça das suas ações, porém dormir, durante o tempo que fosse necessário para com o passar dos anos, foi se encaminhando para Revue Cultive - Genève

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o seu restabelecimento. Normalmente, em 8 dias a Perón é relatada, assim como, o início dos seus equipe já encontrava um trabalho que pudesse aju- atos sociais após se tornar a Primeira Dama. Desde dar a proporcionar uma vida normal para elas. esse momento é possível ver como Evita se preocupava em ajudar as minorias mais desfavorecidas, Li uma frase em um livro qualquer de biografia que criando lares para os mais necessitados. No Mudizia: “Evita irradiava a força de uma catarata”, achei seu, nos emociona ver como eram tratados os seus tão bonito e tocante essa observação feita pelo seu descamisados. É então, que chega o momento mais marido, Perón. Reler esta referência encantou-me agridoce, a narrativa da doença e posterior morte e percebi que nada na vida acontece por acaso. Por da sua protagonista. Há uma dose de emoção no conta disso, achei que, ao ganhar o prêmio Evita ar, que só é capaz de descrever quem por lá passou. Perón, tinha o dever de compartilhar esta emoção e realizar uma visita ao Museu, em Buenos Aires, Evita vive em cada um de nós que luta por mais seria imprescindível, principalmente se, dessa vez, fraternidade e igualdade de nossos direitos. tivéssemos o privilégio de ter uma visita guiada por especialista em Eva Perón. Se hoje nós, mulheres, já sofremos preconceito por sermos intensas, imagine naquela época. Visitar o Museu da Evita Perón é a melhor forma de conhecer de perto uma mulher totalmente a frente do seu tempo, livre e consciente do seu papel na sociedade. Tive certeza que o encantamento, que sempre tive pela história de Eva Perón, e que é um marco na minha história de vida, estava certo. Visitar esse museu faz todas as mulheres sentirem orgulho das ações dessa grandiosa mulher e por querer liberdade e igualdade de direitos nos nossos dias. O Museu Evita propõe aos visitantes um passeio pela história da mesma, e para isso usa fotografias, vídeos e documentos da época. No início, os visitantes são transportados ao passado MARIA JOSÉ ESMERALDO ROLIM para conhecer o momento em que estava o país e o contexto em que viveu Evita desde a sua infância. MULHER PROFESSORA, MÃE, ESCRITORA, AVÓ, PEDAGOGA, ATIVISTA CULTURAL Posteriormente sua história depois de conhecer 92

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Norma Bezerra de Brito

MULHER PROFESSORA, MÃE, CONTISTA E POETA, ENSAÍSTA, ACADEMICIA DE LETRAS, CULTIVADORA DAS LETRAS E DA CULTURA.

MULHER, FERIDA

FERA

Incêndios, enchentes, desabamentos, Crimes hediondos, quanto sofrimento! Chora a natureza, antes agraciada, Rios lamentam a morte anunciada. Também a mulher, outrora venerada e bela, Em canções, poemas, serenata, Lado a lado do homem, igualada, Parece ser a destemida fera.

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Impera então o machismo! Cai a persona do parceiro protetor. A mulher agora não só pensa, mas fala, Reivindica seus direitos com ardor. Mulher toda coração Mulher Maravilha, rainha do lar? Um basta à subordinação Esses estereótipos devem acabar A mais frágil cala por medo ou vergonha, Madrugadas insones, alma combalida Gritos ecoam na noite medonha Um corpo tomba. Fera ferida. Covardes impunes de atos pérfidos, Pagam fiança, indiferentes ao suplício, De mulheres amantes e mal-amadas, Urge acabar com o Feminicídio!

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ONEIDA DI DOMENICO MULHER ADVOGADA, POETA, CONFERENCISTA, IMORTAL DA ALBS

SER HUMANO EM DEMASIA

O respeito enquanto ser humano Aquém de sua raça. Aquém de sua opção sexual. Aquém de sua crença religiosa. Aquém de sua situação econômica. Aquém de sua escultura corporal.

A VERDADE

Gosto de você

Digo ao surdo: - expressa a verdade, pois o mundo lhe ouvirá; Digo ao mudo: - expressa a verdade e se fará ouvir também; Digo ao cego: - demonstre a verdade e fará o mundo lhe ver; Digo aos que não são surdos, mudos ou cegos: - sempre digam a verdade para que o mundo confie em vocês e não os considerem ‘tolos’

Na medida de seu caráter. Na medida de sua índole. Na medida do amor pelo seu semelhante. Na medida de seu senso de justiça. Na medida de sua beleza interior.

Revista Artplus Impressa bilíngue francês /português

Estrêlas da Cultura Interancional Brilhando na próxima edição 2020

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Du 28 / 10 au 01/11/2020

34 Salon du Livre à Genève ème

Du 28/10 au 01/11/2020

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Exposition et lançement de livres, conférence, Exposition d’Arte - Genève 2020 Exposition Image poétique Lançament de la Revue Artplus Lançement de «Anthologie Les Mil Couleurs du Brésil» Lançement de l’Anthologie contato : cultivelitterature@gmail.com www.cultive-org.com

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RITA QUEIROZ

MULHER MÃE, ESCRITORA, PROFESSORA, PESQUISADORA, FILÓLOGA

DOR EM GÊNESE Hoje, uma palavra mais dura Amanhã, um olho roxo Todos os dias, humilhação Até que chega a morte E não há mais solução!

Antologia Cultive

Lançamento Salão do Livro de Frankfurt 2021

S OU M U L H E R,

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USO ROSA E DAÍ ? contato : cultivelitterature@gmail.com www.cultive-org.com

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LUGAR DE MULHER Não use esse batom vermelho Essa roupa curta não lhe cai bem Você não entende de política Procure seu lugar Basta! Você que procure seu lugar Ao meu lado não pode estar Sei onde quero chegar Meu lugar é onde escolher Para ser feliz e dizer: Sou mulher e quero respeito!


AUTOS DE DEFLORAMENTO HISTÓRIAS DE MULHERES VÍTIMAS DE DESVIRGINAMENTO Por Rita Queiroz - Professora. Filóloga. Poeta. Os autos de defloramento são documentos jurídicos instaurados pela Promotoria Pública para os casos de desvirginamento de jovens menores de 21 anos. A prática de deflorar ou desvirginar jovens é bastante antiga, constando como crime nas Ordenações Afonsinas (1500-1514), Manuelinas (15141603) e Filipinas (1603-1916), sendo estas consideradas compilações de leis, atos e costumes. As Ordenações Filipinas substituíram as Manuelinas que, por sua vez, substituíram as Afonsinas. As Ordenações Filipinas se mantiveram em voga no Brasil até o ano de 1916, quando foi promulgado o Código Civil Brasileiro. Entretanto, em 1830 foi promulgado o Código Criminal Brasileiro, o qual tomou de empréstimo o fundamento das Ordenações Filipinas. O Código Criminal Brasileiro de 1830, Capítulo II – “Dos Crimes contra a Segurança da Honra”, traz os artigos 219 a 225 referentes ao delito de estupro. O artigo 219 apresenta o seguinte texto: “Deflorar mulher virgem, menor de dezasete annos.” O 222, este: “Ter copula carnal por meio de violencia, ou ameaças, com qualquer mulher honesta.” E o 225, o seguinte: “Não haverão as penas dos tres artigos antecedentes os réos, que casarem com as offendidas.”

a seis annos. § 1º Si a estuprada for mulher pública ou prostituta: Pena – de prisão cellular por seis mezes a dous annos.” A partir do conhecimento das leis que vigoravam no Brasil após a Proclamação da República e antes da promulgação do Código Civil de 1916 sobre o crime de defloramento, investimos nossos esforços na seleção desse tipo de documento em arquivos públicos baianos. O primeiro foi o da cidade de Santo Amaro, no Recôncavo baiano. Neste selecionamos o auto de defloramento de M. J. (1903). Em Feira de Santana, cidade-sede da Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, a partir do acervo doado em comodato pelo Fórum Filinto Bastos ao Centro de Documentação e Pesquisa - CEDOC, foram selecionados outros autos, a saber: auto de defloramento de J. F. dos S. (1900); auto de defloramento de S. M. de J. (1902); auto de defloramento de M. J. de O. (1902-1903); auto de defloramento de S. S. de L. (1903); auto de defloramento de J. E. R. (1907); auto de defloramento de E. A. de J. (1907). O Código Criminal Brasileiro de 1890 cobre o período dos autos de defloramento selecionados – de 1900 a 1907, por conta disso sempre será tomado para as devidas explicações quanto ao proceder das vítimas, testemunhas e autoridades judiciais. Os autos de defloramento são produtos de uma cultura, que vê a mulher como objeto sexual e reprodutor. Em boa parte desses documentos, são relatadas as histórias de jovens que foram seduzidas, enganadas, tiveram suas honras ultrajadas e tudo isso só pode ser revelado através do labor filológico, que traz para a superfície da nossa memória os casos que não podem jamais ser esquecidos, porque a história atual nos mostra que essa prática está longe de ter um fim. A partir do estudo desse tipo de documentação, vem à tona a forma de escrita; o pensamento da sociedade no período em que os autos foram lavrados; as relações sociais, políticas e culturais; os meandros da política brasileira, dentre outros.

O Código Criminal Brasileiro de 1890, Título VIII – “Dos crimes contra a segurança da honra e honestidade das famílias e do ultraje público ao pudor” – Capítulo I – “Da violencia carnal”, traz os seguintes textos: Art. 267 - “Deflorar mulher de menor idade, empregando seducção, engano ou fraude: Pena – de prisão cellular por um a quatro Nossa pesquisa resultou na publicação do livro Manuscritos baianos dos séculos XVIII ao XX: Autos de defloramento, puannos.”; Art. 268 – “Estuprar mulher virgem ou blicado em 2018 pela Editora Penalux. não, mas honesta: Pena – de prisão cellular por um Revue Cultive - Genève

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Dia Internacional da Mulher- 8 de março de 2020

MULHER, QUEM ÉS? Maria Inês Botelho És criatura forjada pelas Mãos de Deus. Extraída da costela de Adão teve inúmeras vidas em passagens bíblicas e em tempos que se sucederam. Elas te enaltecem e valorizam a tua presença nos locais onde se pôs e põe a agir. As tuas ações foram e são de enorme relevância, e repercutem quando instada a te mostrar.

Mulher, na tua simplicidade, continue a ser a artífice do Bem e da Beleza que a arte exprime através de seus perfeitos e imprescindíveis traços. Seja as incríveis nuances que a vida traz, em seu bojo, em cada novo amanhecer. Mulher, seja, apenas, Mulher. O sentido que a vida lhe traz e traduzida, manterás o encanto e o canto a ti destinados. Que a tua vida seja, sempre, registro do Bem e com alcance no Divino. Sejas espelho que reproduz imagens benfazejas, producentes multiplicadoras e com lastro perene.

Seja feliz com a tua característica humana e promova, sempre, condições para que o exercício da paz, do Bem Coletivo estejam a promover este mundo em todos os seus contornos. Enfim, que a Tem prestígio perante Deus e Jesus Cristo e em construção universal, no que tange a tua aquarela, inúmeros outros locais onde teve ou há acesso. seja exposta em tela pelas tuas habilidosas mãos, Inúmeras pessoas te apoiaram por todos os séculos guiadas pela tua especial sabedoria. de existência terrena, mas, apesar de tua grandeza, ainda enfrenta enormes desafios que não foram de todo ultrapassados. Há degraus que ainda não foram totalmente escalados. Mulher, quem és? És grande em estatura representativa na sociedade, pois és vida e soma para a existência de outros seres. És valente em tarefas que exigem a tua participação e arguições sobre as funções que exerce, e os resultados apresentados são, preponderantemente, válidos. És figura sensível e, ao mesmo tempo, forte ao agir entre os elos da corrente laboral estabelecida na sociedade. És símbolo do amor e da consistência humana social; traduz o alegre cantar do Rouxinol e a incrível Natureza em suas diversas formas, cores e essências. Ah, Mulher! Quão importante é a tua presença para dividir ações e obter resolutividade palpável e produtiva na sociedade! Quão interessante é o teu caminhar. Por entre as pedras que se colocam à tua frente: vai retirando-as, uma a uma, com muita delicadeza, destreza, competência e coerência e as monta em pilares sustentáveis para uma vida pródiga em resultados para o Bem Coletivo.

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AVE MARIA DA LIBERDADE por Valquiria Imperiano Ave mulher ! Redentora do mundo violento portadora da paz Quase sempre muda sob a voz do ditador Forçada e coagida pelo homem esmagador É vencida pela pressão do patrão explorador Teu direito é aquele autorizado pelo teu algoz Deuses, machos imortais ! A força do braço subjuga-te sem clemência Temendo tua maternidade, tua sagacidade e tua inteligência. Só um ser que cria outro ser pode entender o valor da vida, da paz e da decência Mulher ! Não te atrai a guerra do poder Não combates a força varonil Dos que portam, nos testículos, a testosterona Tua força não está nos braços, nem nos músculos ! Mulher ! Tua arma não é de ferro, nem porta bala ! Tua arma está dentro do teu útero sagrado ! Tu crias a vida, tu não a destrói ! Tu procuras a paz ! O pavor força-te à obediência diária e Cala-te sábia, evitando desavenças... Se os tempos são modernos e a liberdade é para todos Em muitos países continuas abusada, Sendo escrava, estuprada, apedrejada Violentada, assassinada e mutilada Empacotada, és o objeto de uso privado! Mulher és ainda, infelizmente Uma criatura humilhada, desvalorizada... O homem, o macho, o forte, o tirano, o ditador Decretou-se : o chefe, o caudilho, o dominador Deturpou as leis em seu favor, Bárbaro, selvagem, autoritário determinou: Mulher ! És o vil ser, provocador ! Subordinou-a e forçou-a a ser obsequente Um homem derramou seu sangue, uma vez, pela a humanidade E pelos apóstolos foi beatificado A mulher continua a derramar seu sangue eternamente E foi tachado de pecado… Revue Cultive - Genève

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Os tempos são modernos e democráticos Mas continuas sob o jugo eterno do machismo ! Senhores, homens, machos, mulos e varões ! Controlem seus viris atos passionais ! O nosso lugar, creiam, é lado à lado ! Somos homens, mulheres Somos mortais ! Homens !

Não temam! Nós mulheres somos A origem, a matriz da história Somos a redentora do mundo Portadora da Paz. Ave mães ! Ave amor ! Ave mulheres de hoje em dia ! Ave Marias !

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MULHER POETA, MÃE

V A L D E N E DUARTE ,

O ato de dormir não tem segredos, é ritual de solidão e silêncio sem medo que se instala sutil no corpo e na alma. Pensamento do " déjà vu" de alguém que já passou e novamente sombra de quem passa! II É consciência dormente de um sonho, que num vago apelo subsiste apenas, como um preâmbulo de morte se perdida a certeza de novamente amar sem ansiedade! III Dorme o meu corpo, com a alma cheia, com os sonhos de loucura de minha mocidade, e a doçura da velhice que hoje me invade, é um sussurro, apenas, de Amor e de saudade! IV E ao despertar, que eu faça devagar, como leve esvoaçar de borboleta em delicado vôo, como eu te amava, estremecendo íntima, deixando para tràs culpa e maldade!

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Reflexões sobre a vida Maria Albergaria

Em Reeexões Sobre a Vida, Mari Albergaria registra pequenos textos inspirados no cotidiano da vida. Seu olhar observador e perspicaz e seu espírito sensível captaram, dos fatos reais, ensinamentos e os transformou, em seguida, em textos. Nesse pequeno livro, as mensagens são reforçadas pelos ensinamentos bíblicos, que Mari utiliza como guia espiritual. São mensagens repletas de otimismo e de sabedoria centradas em Deus com o objetivo de levar, ao seu leitor, o acalanto e a coragem para superar as diiculdades e as tristezas.

MUL.HER MÃE, ENFERMEIRA, ESCRITORA, DESTEMIDA

MARIVANIA ALBERGARIA MULHERES FORTES Mulheres guerreiras e valentes Quem pode exclui-las ? Não importa a situação Sempre têm uma solução Mulheres trabalhadoras Não dispensam desafios A toda hora e lugar Dispostas a auxiliar A quem solicitar Sempre pedem a Deus Forças Para as dificuldades suportar E a vitória alcançar Ser mulher é um privilégio Tem um útero para gerar E carrega por nove meses Um bebé sem reclamar Para ver sua descendência continuar

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Mesmo as mulheres Que não podem gerar São capazes também De outras crianças amar A força da mulher Não está em seu próprio braço Está no seu interior Que a faz avançar.


MULHER MÃE, ESCRITORA, DESIGNER, ARTISTA, MOTIVADORA CULTURAL

TEREZA PENNA HYMNE À L'AMOUR E VIVA A VIDA! por Maria Tereza Penna

Hoje me lembrei de minha avó materna e de Edith Piaf. Edith a íntima! Somente Edith. E me vem lágrimas aos olhos toda vez que ouço essa música. Lembro-me sentada à janela do Edifício na Rua Tupis onde morava minha avó materna. Ela, uma guerreira como Edith, amiga de Cecília Meirelles e que viajava todos os anos com as meninas maiores de 70 anos. Minha avó tinha uma casa enorme em um bairro tradicional de Belo Horizonte, mas naquele momento residia em um apartamento pequeno. Aposentada, independente tinha uma máquina de costura, um fogão elétrico, mas preferia um fogareiro para fazer as refeições ligeiras. Ela estava sentada em frente à máquina de costura

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tentando agradar a neta de sete anos que era mimada pelo avô paterno. Arrematava um vestido e queria que eu experimentasse. Eu esperava sentada, olhando as paredes ao fundo que se estendiam até chegar aos céus. O cheiro forte do querosene invadiu minhas narinas que se dilatavam para reconhecer o odor às vezes estranho, outras instigante.

Foi quando eu escutei... Vindo do apartamento embaixo, essa maravilha que me fazia adulta no tempo. Por momentos eu deixei de ser uma menina ingênua de sete anos... Por instantes eu me senti uma mulher e experimentei dor e prazer. E eu passei as costas da mão na face para apagar as lágrimas que escorriam, como agora enquanto escrevo. Novamente um cheiro forte me vem à mente. Uma associação um tanto estranha e sem nexo que só eu sei onde se conecta. Uma Janela... Uma música que escala paredes brancas até os céus... Uma emoção, uma olência forte que se dis solve, que entontece e transporta o viajante... Lágrimas escorrem num tempo de criança e de segredos de mulher! Revue Cultive - Genève

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MULHER VEDETE, ARTISTA, CRONISTA, FUNCIONÁRIA DA RECEITA

GINA TEIXEIRA

O Universo das Danças Circulares Sagradas e Profanas. Minha experiência Iniciei a frequentar, na zona sul do Rio de Janeiro, as rodas de dança, às segundas-feiras, lideradas pela boliviana Ana Maria Menezes. O grupo já estava bem integrado e as pessoas de todos os sexos e idades ficavam de mãos dadas e seguiam a líder tanto nas rodas abertas, quanto fechadas. Faziam movimentos em espiral, em mandalas e algumas vezes soltos. A duração era de 2 horas com intervalo para o delicioso lanche que algumas pessoas levavam. Gostei e passei a me informar pela internet de outras rodas. Conheci então a Roda de Luz que acontece em Araras próximo de Petrópolis e sob a responsabilidade das brasileiras Ana de Jesus e Ana Marinho. O encontro acontecia das 9 às 19:00 h, muito puxado. Tomei gostinho pelos passos e passei a frequentar a Roda da Stella Pianura ao ar livre e próxima a minha casa no Parque Guinle em Laranjeiras com contribuição espontânea. Percebi que tinha chegado a hora de conhecer o Festival de Villa Giardino próximo de Córdoba na Argentina e rumei para lá com uma das pioneiras, a gaúcha Lucia Cordeiro que faz um trabalho baseado nas danças dos Orixás dentre outros. Lá conheci o trabalho da sul-africana Fleur de Wet, as danças de Santiago del Estero além das curdas. Esse evento começava às 8h com exercicío de Yoga e terminava pela madrugada, pois após o jantar tinha o chamado “Baile” que podia ir até às 3 da madrugada, dependendo da energia do grupo. Quando me inscrevi para o evento constatei que poderia participar da banda tocando pandeiro, pois no último dia a Roda seria

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com música ao vivo e cantores, foi maravilhoso! Inscrevi-me na roda de Púcon no Chile, onde o maranhense Zecca Jr. iria participar como focalizador ( nome dado ao coreógrafo nas Danças Circulares). Após conhecer as danças do Uruguai com a focalizadora Lena Strani e as do Chile com Paty Muñoz pensei então em partir para a Europa (Grécia, Macedônia e Albânia). Fui conhecer a Dança dos Bálcãs com a búlgara Mariana Paunova e os argentinos Sergio Malqui e Pablo Scornik (esses últimos muchachos de JUJUY são os responsáveis pelo mais antiga Roda da América do Sul). Flanei e bailei por Thessaloniki, Meteora, Ellati, Ohrid, Gjirokastra, Tirana e Kavallari. Na Albania fizemos uma apresentação num Shopping ao ar livre com as roupas locais emprestadas pelo coreógrafo Genci Kastrati. Lá o focalizador dança com um lencinho na mão direita. Já que estava no velho mundo parti para a Inglaterra a convite da amiga dançarina Sheila Buckfield e conheci o trabalho de Judy King onde tive a oportunidade de dançar em St. Edmundsburry Cathedral e Drinkstone Village Hall. Fui com Frida Zalcman para Ásia, precisamente Israel e dançamos até num barco no Mar da Galilea, além de Yehud com Yael Yacobi, danças da Georgia em Ashdod, workshops de Debka árabe na aldeia Sachnin, de Mayama em Tzfat, Dança Yemenita em Haifa, com Hila Mukadasi em Belém, além de Magdala, Jerusalém e Mitzpe Ramón com Sergio Malqui e Frida. Resolvi então fazer em Copacabana no Rio o Treinamento para Focalizadores de Danças Circulares Sagradas, conhecido como treinafoca, com as mestras Gabriela Bessa e Sandra Mazoni e tive acesso ao mundo das Danças em Cadeiras e a um repertório de músicas indígenas, cirandas, jongos, valsas etc... As Danças Circulares existem desde a pré-história ao redor do fogo, tem uma proposta não competitiva e propõem uma retomada das antigas formas de expressões. A direção das danças normalmente é no sentido anti-horário, mas existem algumas no sentido horário. O coreógrafo alemão Bernhard Wosien (1908-1986)recompilou danças folclóricas e étnicas da Europa e aceitou o convite de Peter Caddy para compartilhá-las na comunidade de Findhorn, Escócia (1976) que se tornou o principal centro de Difusão das Danças Circulares Sagradas e cujo Festival é sempre em julho e muito concorrido. Deste evento pretendo no futuro participar, pois dancei com a paulista Renata Ramos que foi homenageada lá esse ano e é detentora desses saberes desde o século passado e é autoridade máxima no gênero em São Paulo. Existem passos simples, balanceios, passo junta passo, passo abre e junta, tipo feito com a ponta do pé, passos de influencia portuguesa, africana, de judeus holandeses, de

nordestinos e grapevine ou passo cruzado. Nas Rodas sempre tem um centro que pode ser de flores, velas, pedras, incensos, instrumentos musicais ou outros objetos. O círculo é símbolo da eternidade e uma forma das pessoas dançarem tendo a visão de todas as demais, porém as pessoas podem também dançar de costas para o círculo dependo das coreografias . Adorei também participar do Encontro de Danças Circulares –Minas Santo & Espírito das Gerais em Aracruz no Espirito Santo que acontece nos anos impares em novembro para não rivalizar com as Rodas do Sul que ocorrem no mesmo mês no Rio Grande do Sul, nos anos Pares. No SESC em Praia Formosa no E.S. conheci a focalizadora italiana Lucia Stopper de Gemona del Friuli além da Lize de Block e Fátima Aguirre Ramos onde a Noite Branca impactou todos os presentes e a noite Temática liderada pelo paraense Guataçara Monteiro e pelo paraíbano João Paulo Pessoa deu o tempero brasileiro. A Dança Circular tem seu dia mundial no mês de julho. Ah! Aqui na Casa de Retiros Padre Anchieta-CARPA em São Conrado conheci durante o “Baile” do Festival Carioca de Dança Circular o foca paulista Carlos Perel . Convido a todos e todas para dançarem junto para expressar a alegria e vibrar amor, paz e esperança pois é uma das opções de réveillon no Aterro do Flamengo na cidade maravilhosa embaixo de uma árvore com a focalizadora piauiense Diacuí Almeida e que tem sido a minha opção desde 2017.

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Prêmio Mulher Evidência, Lei nº 1204/15 no Estado de Pernambuco.

Um prêmio que cobre a mulher de grandeza e reconhecimento pelos seus feitos e trabalho na sociedade.

Cláudia Montes e Lúcia Sousa MULHER, MÃE, ATIVISTA CULTURAL, IDEALIZADORA DO PRÊMIO MULHER EVIDÊNCIA, RADIALISTA, JORNALISTA, ARTESÃ.

C L Á U D I A MONTES ENTRE PERGUNTAS E RESPOSTAS Por: Lúcia Sousa

Cláudia Montes é uma mulher dotada de ânimo e coragem sem interrupções para seguir adiante com suas ideias e crença naquilo que considera importante para elevar o ser humano, em particular a mulher. A razão dessa entrevista, que foi realizada no espaço destinado ao movimento da cultura do GPA-Grupo de Profissionais Associados, às margens do Rio Capibaribe, centro do Recife. Foi um momento de desdobramento da fala e da escrita literária, ofício ideal para desbravarmos os obstáculos e afastarmos as cortinas das dificuldades que se apresentam para todos nós. A concepção de realizar a entrevista com Cláudia Montes, mulher dinâmica, que detém um caráter que remete aos seus conceitos de verdade e estabilidade, foi de assinalar um passo que salienta sua importância como ativista cultural e idealizadora do

Brotam dos meus pensamentos os mais sinceros votos de agradecimentos à Cultive Editora por oportunizar a divulgação desse prêmio e a sua conceptora Cláudia Montes. Sem pausas ou silêncios, mas com aplausos ao modo de uma sinfonia inacabada, agradeço, também, à Cláudia Montes pela sua disponibilidade a me receber e conceder-me essa entrevista. Cláudia Montes, é pernambucana do Recife. Cursou Letras e História na Universidade Católica de Pernambuco-UNICAP. Radialista e Jornalista. Transita com ampla bagagem no âmbito cultural. Participou de várias Antologias. Exerceu cargos públicos na época em que morou no estado de São Paulo. Viúva, mãe de três filhos. Criou o Prêmio Mulher Evidência em Pernambuco.

Entrevista com Cláudia Montes 1.- LS - Em que momento da vida você despertou para a cultura e como?

Durante toda minha vida, sempre estive envolvida com as artes. Desde criança, gosto de desenhar, pintar. Sou artesã, idealizo modelos de turbantes femininos. Executo trabalhos com cerâmica, faço azulejos, banneres, camisetas, enfim, atividades manuais para vender. Sou de origem simples, não tenho riquezas. 2..- LS -Qual o seu papel cultural no Recife nesta ocasião? Trabalho com atividades comunitárias e com pessoas carentes da periferia, que precisam de informações e não têm conhecimento intelectual, desprezadas pelas ações das políticas públicas. Cumpro com objetividade para levar essas informações a todas e todos de maneira acessível. 3..- LS -Como nasceu o Prêmio Mulher Evidência?

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Nasceu da minha caminhada em comunidades quando observei a necessidade de tirar as mulheres do anonimato no Munícipio de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, em 2010. Mobilizando as mulheres em todas as classes sócias, sem distinção e não vinculadas a grupos ou interesses econômicos ou políticos, mas que fossem protagonistas e contagiantes como mulher evidência. Considero que, a construção de diálogo entre as pessoas, poderá favorecer na unidade para encontrar uma realização afetiva adequada. Os projetos culturais que elaborei tornaram-se Lei. Hoje há uma forte crise nas relações humanas. Quero declarar incessantemente que não tenho nenhuma pretensão a cargo político. Inclusive já recebi convites, mas não me interessa. Acredito que nasci para evidenciar você, mulher 4..- LS -Quais os critérios que uma mulher deve apresentar ao ser escolhida para ser contemplada ao Prêmio Mulher Evidência? Por indicação e por uma análise da sua história de vida enquanto mulher. Não são escolhidas por profissão ou cargos que exerçam, mas é importante que apresentem um perfil de comprometimento enquanto cidadã, não por destaque social, mas pelo que representem para as outras mulheres, que sejam exemplos com suas ações e que determinem e engradeçam seu comprometimento de mulher na sociedade. 5..- LS -É necessária alguma contribuição para receber o Prêmio Mulher Evidência? Não recebo nenhum patrocínio, portanto se faz necessário uma contribuição dos participantes para custear as despesas com a realização do evento. Tudo documentado e registrado. 6..- LS -O Prêmio Mulher Evidencia está na 9ª edição. Esse Prêmio ajuda a mulher de que maneira?

causas que a levou a esta oportunidade. Esse é um momento valioso para saírem do anonimato e se fazerem reconhecer diante de todos e da sociedade. Impactar como fruto de mobilização, e que todas possam interagir enquanto pessoas que constituem em suas vidas, uma construção digna e plena. 7..- LS -O que a motivou a idealizar uma Lei dirigida à mulher? A falta de reconhecimento e do valor que a mulher possui na sociedade. Incomodava-me observar e perceber o quanto a mulher, ao longo da história, vem sendo desprezada. Fazer esse resgate foi algo que imaginei como benéfico para todas aquelas que pudessem manifestar sua contribuição pessoal. 8..- LS -Você quer tornar a Lei Federal, quais serão os benefícios para a mulher brasileira? Desta maneira poderei alcançar de forma mais ampla no país outras mulheres, levando a oportunidade de expandir o reconhecimento e capacidade que apresentam, divulgando o universo feminino ainda tão restrito nas diversas camadas sociais. 9..- LS -Quais as barreiras que encontra para desenvolver seus projetos? Falta de recursos financeiros e a dificuldade de acesso às mulheres. Elas têm vergonha da sua essência. 10..- LS -Você associou ao Prêmio Mulher Evidência o homem Evidência, o que a fez pensar em destacar o homem? Que nesse encontro as pessoas possam acreditar em uma vida nova, repleta de sentido, completo em tudo.

11..- LS -Você, também, lançou o Livro Mulher Evidência, qual o objetivo? Haverá também um liTodas as mulheres durante o evento usam a tribu- vro Homem Evidência? na para expressarem um pouco de si, do trabalho e 108

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Sim, estamos no curso de uma guerra de narrativas ideológicas, como toda guerra, todos são atingidos no seio familiar, profissional e social. Tenho por princípio a fraternidade universal, respeitar as culturas, etnias religiões e a opção para o diálogo. Todos juntos podem abraçar com entusiasmo a mesma causa com objetivos humanitários e de boa convivência.

pessoas mobilizadas e com o mesmo fim. Uma expressão de unidade que transforme e ilumine toda nossa sociedade.

17..- LS -Como se situa Cláudia Montes neste cenário de efervescência cultural? Um veículo de abrasão, articuladora. Que procura erguer, levantar as condições da mulher na sua es12..- LS -O que seus projetos têm proporcionado à sência social e evidenciá-la. sociedade? 18..- LS -Que mensagem você deixaria para as Meus projetos se tornaram Lei, que levam a mulheres? conscientização do ser e suas exigências. É preciso que as pessoas vivam e tenham experiência de um Acima do medo, a coragem. Esse é o meu lema. novo mundo mais digno. Sustentar essa ideia é o essencial. 19..- LS -Finalizaremos com perguntas curtas e respostas rápidas 13..- LS -O que a desafia hoje no âmbito cultural? a) A vida é fácil? Maravilhosa, um picadeiro, Estou pronta para os desafios. Minha proposta é gosto de estar com as pessoas de sustentar em rede nacional o prêmio evidência, b) Livro brasileiro? Iracema, José de Alencar inclusive atravessar as fronteiras do país. E alcan- c) Cidade brasileira? Recife çar contribuições no avanço para um movimento d) Desejo? Ser Feliz social internacional. e) O que é fútil? Ausência da sociedade perante a pobreza. 14..- LS -Seu trabalho tem sido reconhecido? De Entrevista realizada por Lúcia Sousa na cidade que maneira? de Recife. Sou uma mulher negra. Ter criado dois projetos, que se tornaram Lei Estadual, é um reconhecimento. Além por todas aquelas pessoas que já passaram LÚCIA SOUSA pelo movimento, inclusive mulheres de periferia. E MULHER, PSICÓLOGA, já tem um terceiro projeto que segue em trâmite. ESCRITORA, ATIVISTA 15..- LS -Como você analisa, na atual sociedade, a atuação da mulher pernambucana, da brasileira e dos outros países? Conseguindo mais espaço, mas precisando sair da fala para a ação, ter mais atitudes, como personalidades prontas para oferecerem sua contribuição de mulher ao mundo com propostas que possam enriquecer a realização transparente do semear novas missões.

CULTURAL, PRODUTORA E PROMOTORA DE EVENTOS CULTURAIS, JORNALISTA, DELEGUÉ CULTIVE EM PERNAMBUCO E CORRESPONDENTE JORNALÍSTICA DA REVUE CULTIVE.

16..- LS -Quais os caminhos da mulher na sociedade? E a do homem, considera que o homem e a mulher devem andar de mãos dadas? Homem e mulher devem andar lado a lado. Adotar como ideal de vida um conjunto de ações com Revue Cultive - Genève

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editorial Cultive

Antologia Cultive

Sou Mulher, uso rosa e daí?

Questão, afirmação, desafio?

gênero, a violência, o abuso sexual; exigindo direito à proteção judicial. São tantas lutas ainda na pauta A resposta a questão é: todas. Afirmamos, desafia- da liberdade e da igualdade feminina a serem realimos e pergunta- zadas que a lista é interminável. mos diretamente nos olhos dos in- Os anos passam e as mulheres vão marcando a comodados. So- história com seus feitos e seus combates. Cada uma mos mulheres, de nós conheceu ou vivenciou fatos de luta, de liusamos rosa e daí? berdade ou passou por situações de discrimação por sermos mulheres ou mesmo abusos e violência, Somos mulheres mas também há exemplos de muitas mulheres que corajosas, fortes, lutaram para se impor, vencer ou atingir seus obc o m p e t e n t e s , jetivos e conseguiram marcar a história univeresal Lançamento transformadoras, ou a história individual. O nosso momento é hoje Salão do Livro de Frankfurt bilhantes, inte- e não devemos, nem podemos nos calar. Devemos ligentes, pode- falar e espalhar nossos testemunhos, incentivar rosas, autosufi- outras com a nossa coragem de fazer, acontecer e cientes, guerreiras denunciar. e usamos rosa. contato : cultivelitterature@gmail.com www.cultive-org.com Sim o rosa, a doce Não só a mulher denuncia e guarda traumas, ou rosa, a flor e a cor história de coragem, muitos homens também foque tão bem definem o nosso lado feminino ma- ram testemunhos de ações agressivas sobre as ternal, ponderado, equilibrado, suave, conciliador, mulheres da sua família ou de ações de coragem e sentimental, observador, protetor e sensível. Esse luta de mulheres que os cercavam. E todos devem lado rosa por tantos séculos menosprezado pelo e podem abrir o peito, contar suas histórias revelar machismo e desrespeitado a ponto de quererem o que guarda, com orgulho ou para denunciar, ou apagar nossa cor e nos trasnformar em escravas de aliviar-se. senhores usarpardores dos direitos humanos. Nessa Antologia as páginas estão abertas para reApesar da tentativa milenar dos machistas sobre a ceber seus relatos, seja você a mulher rosa ou o honossa pessoa e nossa cor, conseguimos atravessar mem que guarda uma rosa que merece ser homeos séculos e galgar na sociedade certas posições nageada. merecidas. Escrevam seu textos e se não desejarem ser reVivemos no século 21 ainda em combate pela igual- conhecidos usem pseudônimo. Mas tragam seu dadde e lutando pelo respeito. Enfrentando seres relato para esse livro que servirá de frasco para o ignorantes que não sabem a diferença entre direito, perfume da sua rosa em 2021. responsabilidade e igualdade humana. Enviem seus textos para serem aprovados para: Cada vez mais a consciência feminina espalha-se edicaocultive@gmail.com e busca combater o desrespeito, a desiguladade de

Antologia Cultive

S OU M U L H E R,

e

USO ROSA E DAÍ ?

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CORONA CONSCIÊNCIA 2020 por Valquiria Imperiano

O que é um corona vírus? Os coronavirus devem seus nomes à forma de coroa, que têm as proteínas que os envolvem. Eles fazem parte de uma vasta família de vírus, alguns dos quais infectaram diferentes animais, outros os homens. Os coronas são responsáveis por uma série de doenças nos homens, essas doenças vão do resfriado banal à uma infecção pulmonar e problemas respiratórios agudos.

causadores de problemas que atingia mais as pessoas com imunidade baixa e bêbes susceptíveis de desenvolver complicações respiratórias do tipo pneumonia e infecção pulmonar. Em seguida surgiu SRAS-CoV, um novo coronavirus que apareceu na China, que tinha, não somente, o poder de se transmetir dos animais ao homem, mas de homem a homem e capaz de provocar problemas respiratórios agudos e morte nas pessoas infectadas. Veio, então, em 2012, o MERSCoV, que appareceu na Arábia Saoudita, com as características de transmissão do SRAS.

Os coronavirus são a origem de uma épidémia mortal

Um terceiro coronavirus agressivo e transmissível ao Homem surgiu na China em meados de dezembro de 2019, o primo do SRAS-CoV, batizado 2019Até 2002, os coronavirus eram vistos como os nCOv e pouco conhecido. Revue Cultive - Genève

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As precedentes epidemias provocadas pelos coronas permitiram à comunidade científica de se preparar melhor para enfrentar a nova situação. Assim, o l'Inserm o REACTing (REsearch and ACTion targeting emerging infectious diseases) pode modelar a propagação da epidemia na Europa e preparar um projeto de pesquisa sobre a terapia potencial.

o oriente médio e em seguida apareceram os primeiros casos na Itália. Em poucos dias o vírus propagou-se incontrolavelmente pelo ocidente infectando, praticamente, todos os países do mundo em algumas semanas. Até a data de 08 de março foram registrados 95 países no mundo com 109 500 casos confirmados, dos quais 3 801 mortes.

Na Europa o vírus espalhou-se pela Itália e é, até a presente data, o país mais afetado da Europa. A ÌtaQue vírus é esse? lia conta, hoje, com 15 milhões de pessoas em quarentena, 10 000 casos confirmados e 630 mortes. • o SRAS-CoV (2002-2003), ou coronaNa Suíça, a partir do primeiro caso anunciado há vírus a origem de uma sindrome respiratória agu10 dias, foram registrados 600 casos, 4 mortes. Meda severa apareceu na china. Mais de 8000 casos didas de prevenção para diminuir a propagação forecensiados em 30 países e 774 pessoas morreram ram tomadas. As fronteiras com Ítalia foram fecha(10% de mortalidade) das. Na Europa são mais de 10 000 contaminados • o MERS-CoV (2012-2013), ou coronaconfirmados. França é o 2° país mais atingido devirus da syndrome respiratória do Oriente Médio, pois da Ítalia na Europa. Os números sobem todos detectado a primeira vez na Arabia Saudita que fez os dias na Europa. 1589 casos e 567 mortes em 26 países (taxa de mortalidade de 30%). • a terceira epidemia mortal ligada ao an- A propagação tigo (2019nCoV), coronavirus Covid-19 apareceu na China em dezembro de 2019 As viagens foram os principais meios de propaga ção fora da China. Na Europa o frequente fluxo de pessoas entrando e saindo de países vizinhos O covid-19 aumentam a propagação. Na américa do sul 61 casos e 2 mortes. No Brasil tem 25 casos confirmados O Covid-19 apareceu no meio de um mercado quase todos os casos registrados em pessoas provepúblico em Wuhan, na província de Hubei e esnientes de viagem à Itália. palhou-se pelo planeta em menos de dois meses após o anúncio dos primeiros casos. Assim coO corona está afetando as pessoas, os governos, os meçou o Covid-19, mais conhecido como corona costumes, a economia, a cultura (espetáculos muvírus, a mostrar sua virulência e o poder sobre o sicais e de cinema, museus, exposições, festivais, homem. eventos, competições, o esporte, a educação, a higiene, o turismo etc). A infecção está colocando em Telespectador quarentena ou matando não só pessoas, mas todo um sistema de vida que gira em volta do ser humaO ocidente acompanhava, pela mídia, o alastra- no. mento do corona no país chinês sem acreditar realmente que se espalharia pelo mundo de maConsequências neira tão rápida e violenta, haja visto a aparição de outros vírus pertencentes à família corona, terem Começamos o fim do inverno na Europa, enfrensidos alertados pela comunidade científica sem, no tando uma epidemia viral maléfica, apreensivos. entanto, provocarem a epidemia anunciada. Cartilhas com regras de higiene e atitude são apregoadas por todos os países afetados. Mudança de O Morcego forma de trabalho, de estudo, foram introduzidos para manter os contaminados à distância. O vírus covid-19, talvez proveniente dos morcegos, criou asas e voou, burlando as medidas sanitárias. Uma nova forma de ensino à distância está sendo O vírus saiu da China e atingiu os países vizinhos, utilizada. Para que os alunos possam continuar o 112

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aprendizado à distância. Funcionários de algumas zado em Veneza. empresas com suspeita de contágio são convidados a permanecerem em casa realizando seus trabalhos pela internet. Música

Será que esse vírus marcará uma nova mudança de hábitos e costumes?

Concertos clássicos e pop foram anulados em Paris, uma série de representações na Ópera de Paris, concertos e espetáculos em Paris foram anulados. Na Suíça, todas os eventos que reúnem mais de 100 pessoas estão proibidos, entre eles o carnaval Decisões restritivas são tomadas em todos os países de Biene, mas por prudência os organizadores de em que o vírus compromete a segurança populaciopequenos espetáculos e eventos adiaram as datas. nal. Salões e feiras, encontros e reuniões, eventos Itália, Bélgica e vários países cancelaram seus esculturais, conferências e concertos são anulados. petáculos. Sting anulou vários concertos na Europa Casa de cinema e night clubs fecham as portas até por recomendação médica. nova situação . O impacto do coronavírus não perdoa a indústria Feiras de arte de diversão, eventos de arte, musicais, esportivos e culturais. Salas de cinema ou fecharam, ou di- Anulação da feiras: Art Basel, Hong Kong, Art minuíram a frequência. Anulação de lançamentos Dubaï, o Carrossel do Louvre, o salão Art Shopde importantes filmes na China. O Hexagone A ping, também A Art Art Paris, que pertence ao Warner Bros France adiou para o 23 de setembro a Grand-Palais. A edição 2020 do Salão de Beleza classificação de Miss, o longa metragem de Ruben Art Montecarlo em Mônaco está anulado. Alves - programado para antes do 11 de março. A Paramount suspendeu a filmagem de Opus MisMuseu sion of mission impossible que estava sendo realiRevue Cultive - Genève

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O Museu do Louvre fecha as portas.

O homem só aprende apanhando

Feiras e salões culturais

Acredito que a máxima, “os homens só aprendem apanhando” está sendo colocado em prática. Essa O Palácio do Livro de Londres, Bologne (Itália), calamidade talvez não mude a cabeça dos velhos Leipzig (Alemanha) e Salão Livro de Paris, Salão carcomidos pela ambição e pela falta de pensamendo automóvel e do Salão do relógio em Genebra to comunitário, porém milhões de jovens que estão assistindo essa tragédia mundial tomarão, quem entre outros foram anulados. sabe, as rédeas do desenvolvimento planetário com mais consciência ecológica e humanitária. Teremos A mundialização que aprender que nós, os terráqueos, devemos nos proteger e proteger a terra, independente das nosAlguns países atacados pela epidemia possuem sas fronteiras. meios de tratamento e acesso a medicamentos de qualidade, outros, cuja situação de saúde, sanitária O coronavírus está fazendo estragos, mas poderá e medical são deficitárias, sofrerão consequências e ser útil e as mazelas geradas talvez sirvam de alerta perdas mais severas. para que, através dos sistemas tecnológicos, possaA mundialização mostra seus efeitos maléficos. A diminuição da produção industrial na China afeta a economia, que põe em risco o fornecimento de medicamentos, equipamentos médicos e hospitalares, é uma preocupação que está sendo percebida por muitos analistas econômicos e sociais, que espero analisem o risco de ter praticamente toda a produção mundial de medicamentos dependente de um ou dois países.

mos mudar nosso modo de agir em relação à terra após análise das tragédias subsequentes. Não podemos ser apenas meros espectadores alheios ao problema do outro, devemos ser pessoas integrantes, responsáveis e participantes da proteção do nosso sistema terrestre. Fontes:

https://presse.inserm.fr/coronavirus-des-cherc h e u r s - d e - l i n s e r m - p r o p o s e nt - u n - m o d e Consequências econômicas le-pour-estimer-le-risque-dimportation-de-lepiA medida que o vírus se propaga, são canceladas demie-en-europe/38000/ atividades ligadas ao setor econômico, cultural e educacional. A morte de usinas, de bancos, de em- https://www.santemagazine.fr/sante/maladies/ presas da aviação, de setores de diversão privados, maladies-infectieuses/maladies-virales/tout-sade pequenas empresas como: padarias, lancho- voir-sur-les-infections-respiratoires-a-coronanetes, restaurantes etc, paira sobre os empresários. virus-431783 As mortes se multiplicam, as usinas param, os aviões estão colados ao solo. Resultado, a bolsa de https://www.ge.ch/document/point-coronavalores despenca, a economia sofre. Porém pre- virus-maladie-covid-19/telecharger senciamos um efeito positivo. O nível de poluição em países cujo nível de gás carbono não permitia à população respirar e aumentava os problemas respiratórios (tão nocivos como o corona vírus) caiu. Pessoas adquirem o hábito de lavarem as mãos constantemente, preocupam -se com os alimentos limpos e desinfetam os objetos que os cerca. Será que o coronavírus vem ensinar com o sofrimento que devemos: realmente nos preocupar em preservar o meio ambiente, ter cuidado com a poluição, cuidar do planeta e que o homem não pode controlar o planeta, nem a vida? 114

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CULTIVE SALÃO DO LIVRO NA EUROPA GENEBRA E FRANKFURTER Cultive leva a literatura brasileira e lusófona nos maiores salões internacionais do livro do mundo: GENEBRA E EUROPA A imigração acelerou o passo nos últimos 20 anos o que ocasionou a formação de comunidades estrangeiras em vários países. O processo de ir e vir facilitado pelos meios de transportes, pela comunicação e pela informática facilitam o intercâmbio econômico, tecnológico, cultural, científico, político, comercial e favorece a imigração. A partir dessa constante mudança de pessoas entre os continentes formam-se as comunidades por nacionalidade. Em vários países europeus, asiáticos e americanos aumentaram, consideravelmente, as comunidades lusófonas e, em consequência, as necessidades de acesso a todo tipo de serviço, cultura, educação e bens de consumo originário de cada país.

a seriedade de nosso trabalho. Foram 4 salões em Genebra até 2019, que acontecia no fim de abril. Esse ano de 2020 os promotores do salão de Genebra decidiram mudar a data que acontecerá no fim de outubro, entre o período do 28 de outubro e 01 de novembro. A Cultive continua seu objetivo de representar a literatura brasileira na Europa expandindo sua representação em outros países fora da Suíça, por isso, além do salão de Genebra, adicionamos, na nossa agenda de outubro, a participação no maior salão do livro do mundo, o Salão do livro de Frankfurt que acontecerá do 14 ao 18 de outubro em Frankfurt na Alemanha. Estamos empolgados e certos de que essa será uma grande conquista e divulgação para os autores lusófonos que desejam mostrar suas obras ao mundo.

Visando promover e tornar fácil para o autor mostrar suas obras e proporcionar às comunidades lusófonas acesso à literatura, a Cultive organiza eventos na Europa com a participação de obras e autores em salões de livros e salões culturais na Europa.

Além dos Salões em outubro, a Cultive estará organizando um festival cultural recheado de autores, obras, música, folclore, conferência, homenagens e arte em Portugal. No Festival Cultural Cultive realizaremos o II Encontro de literatura e a Exposição de Arte Cultive.

Há 4 anos a Cultive iniciou esse trabalho de divulgação de autores e da língua de herança na Europa, além de promover a cultura, autores e obras, motivar a escrita, a literatura, a arte e a música em vários estados brasileiros focalizando principalmente escolas de comunidades carentes. Todos esses projetos executados com sucesso comprovam

A Cultive também tem projetos para o Brasil esse ano de 2020. Estamos organizando o II concurso Internacional Infantil dirigido aos estudantes de Santa Catarina, que culminará no II Cultive Intercâmbio Cultural Brasil Suíça em Florianópolis; a organização do Livro Mérito Cultural com lançaRevue Cultive - Genève

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mento em avant première em Pernambuco; a organização das Antologias As Mil cores do Brasil e Sou Mulher e daí?.

basta, pedir o edital de participação para conhecer as regras e valores pelo e-mail : cultivelitterature@gmail.com

As inscrições para todos os eventos estão abertas

Salão do Livro de Frankfort Do 14 au 18/10/2020

Cultive Exposition et lançement de livres, conférence, Exposition d’Arte - Genève 2020 Exposition Image poétique Lançament de la Revue Artplus Lançement de «Anthologie Les Mil Couleurs du Brésil» Lançement de l’Anthologie contato : cultivelitterature@gmail.com www.cultive-org.com

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Exposição de Arte Cultive em outubro

Association Cultive

Du 28 octobro au 01 de novembre 2020

Exposition d’art à Genève 2020

Revue Inscriptions ouverts

www.cultive-org.com E-mail: cultivelitterature@gmail.com Revue Cultive - Genève

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A POESIA PORTUGUESA Portugal é um jardim de poetas. A poesia portuguesa tem raízes, ainda antes da afirmação da nacionalidade e esteve sempre presente durante toda a história literária e cultural de Portugal. Foi representativa nos diversos movimentos artísticos, filosóficos e revolucionários pelos quais o povo e as elites literatas portuguesas atravessaram. Poesia na Idade Média cristã As cantigas trovadorescas galego-portuguesas são um dos patrimónios mais ricos da Idade Média peninsular. Produzidas durante um período de 150 anos, do final do século XII a meados do século XIV, as cantigas medievais situam-se, historicamente, nas alvores das nacionalidades ibéricas.

Após o desaparecimento do trovadorismo galego-português no fim do século XIV e início do século XV, forma-se uma escola castelhana. Garcia de Resende efetua uma compilação poética no seu Cancioneiro Geral, em 1516. Os gêneros mais populares são o vilancete, a cantiga de glosar, a trova e a esparsa, poesias sobretudo de temas amorosos e melancólicos com uma filão satírico e cultivadas nos serões palacianos, onde prepondera o verso de sete sílabas (a redondilha maior).

O Renascimento em Portugal é marcado com a poesia de Gil Vicente e Francisco de Sá de Miranda. Destacam-se, também, António Ferreira. Porém Luís Vaz de Camões é o vulto maior da poesia portuguesa. Os Lusíadas, 1572 é o poema nacional por excelência. A poesia lírica de Camões, no enAs cantigas de amor (canto em voz masculina, de tanto é incomparável e foram reunidas na coletânia influência provençal, tratando do amor cortês), as «Rimas», publicada em 1595, quinze anos após a cantigas de amigo (canto em voz feminina, de tra- morte do autor. dição autóctone, geralmente com refrão e/ou estrutura paralelística) e a cantigas de escárnio e mal- O estilo e o conteúdo, da poesia de Camões fez pasdizer (cantiga satírica) são os principais gêneros da sagem para o Maneirismo. Uma poesia melancólipoesia galego-portuguesa profana, juntamente aos ca e de profundo questionamento existencial onde gêneros trovadores (poetas/músicos originários da a temática do exílio, na sua lírica, e a crítica aos asnobreza) e jograis (oriundos do povo) cultivaram pectos menos heróicos de Portugal. Outros nomes também outros gêneros, mas em muito menor es- do período período barroco são: Diogo Bernardes, cala, como a tenção (disputa dialogada), o pranto Vasco Mouzinho de Quevedo, Baltasar Estaço, D. (lamento pela morte de alguém), o lai (composição Manuel de Portugal, Sá de Miranda e Francisco narrativa sobre a matéria de Bretanha) ou a pasto- Rodrigues Lobo . No apogeu do Barroco, salienrela (narrativa de um encontro entre o trovador e tam-se as obras de Francisco Manuel de Melo e uma pastora). Jerónimo Baía. O período afonsino (de 1240 a 1280), nos reinados de Afonso X de Castela (autor das Cantigas de Santa Maria) e de Afonso III de Portugal registra idade de Ouro dessa poseia. Seguido do período dionisíaco, com o reinado de D. Dinis (filho de Afonso III). Dom Pedro, Conde de Barcelos filho bastardo e D. Dinis autor de algumas cantigas que encerram o período de florescimento poético. Renascimento e Maneirismo 118

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A Arcádia Lusitana foi o movimento poético mais importante desta época até à primeira metade do século XIX, reunindo os nomes de Francisco Manuel do Nascimento (mais conhecido pelo pseudónimo arcádico Filinto Elísio), Marquesa de Alorna, José Anastácio da Cunha, José Agostinho de Macedo, Nicolau Tolentino de Almeida, António Dinis da Cruz e Silva Manuel Maria Barbosa Du Bocage, Correia Garção, Reis Quita, Francisco Joaquim Bingre, entre outros.


No seculo XX O modernismo Fernando Pessoa, considerado por muitos como o segundo grande poeta Português depois de Camões, possuia uma personalidade densa, única e complexa. Pessoa escreveu sob muitos nomes, que denominou de heterónimos. Cada heterónimo tinha uma personalidade e biografia únicas, uma forma de escrever independentes. Os heterónimos mais aclamados são: Alberto Caeiro, considerado o mestre de todos eles, positivista e bucólico, Ricardo Reis, pagão e epicurista (mas com influência estoica), já Fernando Pessoa, ortónimo, vivia preso no seu labirinto interior muito ligado ao tédio e à melancolia, tendo existido também Álvaro de Campos, o futurista, e Bernardo Soares, que escreveu Livro do Desassosego. O livro intitulado Mensagem de Fernando Pessoa é considerada a sua obra prima e é composto por uma série de poemas sebastianistas.

A publicação do poema Camões (1825) de Almeida Garrett, dá início em Portugal ao Romantismo. Alexandre Herculano é, ao lado de Garrett, um dos iniciadores da primeira geração romântica portuguesa. António Feliciano de Castilho com publicação dos poemas A Noite do Castelo encaminha-se para o Ultrarromantismo, Os Ciúmes do Bardo e o drama de Camões. Houve também a Geração de Orpheu, na qual participaram Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro, António Botto, Luís de Montalvor, Ronald de Carvalho, Raul Leal, entre outros que escreveram para a Orpheu - revista Trimestral de Literatura publicada apenas dois númeSegue-se Cesário Verde, o máximo expoente do ros em Lisboa em 1915. realismo-parnasianismo nacional. A segunda geração modernista expressou-se, Camilo Pessanha numa linguagem fragmentada e primeiramente, através da revista Presença, em metafórica publica Clepsidra em 1920, tomando que participaram Miguel Torga, José Régio, Tomaz assento entre os grandes vultos da literatura e re- de Figueiredo, Irene Lisboa, João Gaspar Simões, presentando o Simbolismo, tornando-se um pre- Vitorino Nemésio de tantos nomes ilustres de essa época cursor do Modernismo. Antero de Quental, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Teófilo Braga, Oliveira Martins, responsáveis pelas Conferências do Casino, cujo objectivo era divulgar os princípios filosóficos e artísticos do Realismo emergente.

Renascença e saudosismo impregnava-se de bucolismo, folclorismo e sentimentalismo, procurando a alma nacional perdida. Fernando Pessoa (18881935), considerado por muitos como o segundo grande poeta Português (depois de Camões).

No século XX história poética Portuguesa surgiu uma das mais reverênciadas poetisas : Florbela Espanca nascida Flor Bela Lobo, mas se autonomear Florbela d’Alma da Conceição Espanca, em Vila Viçosa, 8 de dezembro de 1894 e morre em Revue Cultive - Genève

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2° ENCONTRO CULTURAL CULTIVE Cultivando Poesias em Portugal

Cultivando Poesia em Portugal no 2° Encontro Cultive Cultural é um evento realizado pela Associação Cultive de Genebra tendo dessa feita Portugal como país sede. Esse encontro objetiva valorizar e homenagear a Língua Portuguesa.

Matosinhos, 8 de dezembro de 1930),[1] batizada como Flor Bela Lobo, e que opta por se autonomear Florbela d'Alma da Conceição Espanca , representante feminina da poesia em portugal. Florbel morreu com apenas 36 anos,mas teve uma vida foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos, que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade[3] e panteísmo. Revolução dos Cravos

O encontro pretende reunir representantes culturais em torno de atividades ligadas à cultura, à arte, à música, à história, à filosofia portuguesa, brasileira e países lusófonos. Qualquer pessoa maior de 16 anos, sendo ou não residente de um país lusófono pode participar do encontro. Todos os interessados em participar do evento devem se inscrever com um poema na antologia comemorativa do evento. Todos os poemas participam do concurso poético que irá premiar as três melhores criações e cederá 10 menções honrosas aos poemas selecionados.

O projeto está previsto para ser executado em junho na cidade de Portugal. Na ocasião, a equipe Durante o período que precedeu o 25 de Abril de das Edições Cultive lançará o livro «Cultivando 1974, muitos poetas e cantores criaram obras líri- Poesias em Portugal» que reunirá todas as poesias cas, essencialmente nas denominadas canções de inscritas. Todos os inscritos poderão participar ou intervenção. Os poetas que são considerados os não das atividades propostas durante o festival, tais mais influentes na arte lírica revolucionária são Ary como: oficinas, mesas redondas, palestras, poetry dos Santos e Manuel Alegre. Compositores como Slam Cultive e lançamento oficial da antologia, exZeca Afonso, José Jorge Letria, José Mário Branco, posição de arte, show musical e folclórico. Sérgio Godinho, Manuel Freire, Adriano Correia de Oliveira e Francisco Fanhais, entre outros, re- «Cultivando poesia em Portugal» é o título da Anpresentam o espírito e a ansiedade populares para a tologia e em hipotese alguma os poemas devem ter esse título. democracia que precedeu a revolução de abril. Referências bibliográfica: « Poesia de Portugal -Wikipedia « Cantigas Medievais Galego-Portuguesas ». cantigas.fcsh.unl.pt. http://www.filologia.org.br/abf/rabf/5/117.pdf Monteiro, Clóvis - Esboços de história literária - Livraria Acadêmica - 1961 - Rio de Janeiro - Pg. 12 « Cantigas Medievais Galego-Portuguesas ». cantigas.fcsh.unl.pt. José., Saraiva, António ([1996?]). História da literatura portuguesa 17a. ed., corr. e actualizada ed. [Porto, Portugal]: Porto Editora. ISBN 9789720301703.

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Du 28 / 10 au 01/11/2020

34 Salon du Livre à Genève ème

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Exposition et lançement de livres, conférence, Exposition d’Arte - Genève 2020 Exposition Image poétique Lançament de la Revue Artplus Lançement de «Anthologie Les Mil Couleurs du Brésil» Lançement de l’Anthologie contato : cultivelitterature@gmail.com www.cultive-org.com Revue Cultive - Genève

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Cultive e GPA homenagem aos autores, artistas e ativistas culturais no Brasil.

LIVRO MÉRITO CULTURAL

A Associação Cultive – Club International d’Art Littérature et Solidarité e Editora Cultive com sede em Genebra, Suíça, representada por sua Presidente, Valquíria Imperiano em parceria com o Grupo de Profissionais Associados- GPA, sediado no Recife, Pernambuco, tendo por sua representante a Presidente, Lúcia Sousa, têm o honra de anunciar o lançamento do livro “Mérito Cultural”.

da divulgação de autores, da distribuição de obras literárias em bibliotecas, organiza eventos literários e culturais em Genebra e no Brasil, focalizando o Salão do livro de Genebra, feiras literárias, galerias de arte, favorecendo a participação de autores e artistas brasileiros e suas respectivas obras.

Por que a Cultive acredita que a cultura é o meio de transformação e evolução que leva o homem à A Editora Cultive publica: livros em francês e poreducação e sua evolução? tuguês, a revista bilingue ArtPlus impressa e online e a Revista Cultive on-line, todas de alcance A Cultive é uma instituição sem fins lucrativos que internacional e com registro na Biblioteca Nacional realiza atividades culturais envolvendo a cultura e a Suíça e ISBN Suíço. Associação Cultive tem por reliteratura brasileira tanto no Brasil, quanto na Suí- presentante legal a brasileira, que mora e vive por ça e em outros países da Europa. A Cultive cuida 122

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mais de vinte anos na Suíça, a escritora, Valquíria Guillemin Imperiano, membro e Diretora para os Assuntos Internacionais da União Brasileira de Escritores, assim como de outras Academias brasileiras. O Grupo de Profissionais Associados - GPA vem se inserindo no âmbito literário e cultural enquanto espaço e portal de valorização dos profissionais brasileiros realizando projetos que divulgam a cultura a nível nacional e com interesse em expansão internacional. A GPA consolidou-se com êxito ao organizar a Antologia Carrero, que homenageia o escritor pernambucano Raimundo Carrero. A Antologia foi lançada na Academia Pernambucana de Letras - APL no ano de 2018 e tem a participação de mais de 70 autores. O GPA tem como lema: “a cultura e a educação são fundamentais para o aprimoramento do conhecimento, da moral, do discernimento, da ética, do respeito e dos valores humanos”.

e mulheres do cenário nacional e internacional, que vêm trabalhando incansavelmente para que a cultura chegue a todos os níveis da sociedade. São profissionais que ao longo do seu trabalho, deram sua contribuição à sociedade de forma generosa e idealista e se tornaram-se, cada um, cultivador empenhado, participativo, criativo e envolvido na cultura. Todas a personalidades são merecedoras dos aplausos da sociedade pelos seus atos e dedicação ao investirem, criarem, cultivarem, incentivarem e promoverem o engrandecimento do seu povo, necessário e o desenvolvimento ético e educacional do ser humano. Pela sua performance embelezarão e valorizarão o Livro “Mérito Cultural”.

O Livro terá como capa uma imagem colorida. O miolo do livro terá páginas espelhadas que relatam a história profissional ou uma biografia romanceada ilustrada pela fotografia de cada profissional, num espaço definido pelos organizadores. A biografia de cada personalidade será escrita em porA Presidente do GPA, Lúcia Sousa, é membro da tuguês na página da esquerda (par) e à direita (ímCultive e Delegué Cultive na cidade do Recife. Lú- par) em francês. cia coordenou, no ano de 2019, o evento Cultive Intercâmbio Cultural Brasil-Suíça, realizado na Bi- O livro tem as dimensões 24x29mm, papel coché, blioteca Pública de Pernambuco, associado à XII branco, brilhante. Bienal Internacional do Livro PE. O evento teve uma rica programação incluindo intercâmbio com Lançamento previsto em Recife: Setembro de 2020 o Colégio de São Bento em Olinda, a Fundação Lançamento na Suíça: no Salão de Genebra, em ouJoaquim Nabuco, Instituto Histórico de PE e Mu- tubro de 2020 seu do homem com o apoio da União Brasileira de Escritores, da qual Lúcia é Tesoureira Geral. GPA-Grupo de Profissionais Associados Rua: da Aurora, /1404 Boa Vista – Recife – PE Seguindo a filosofia de incentivar a cultura, A Email: gpaluc@hotmail.com CULTIVE e GPA decidiram valorizar os incentiva- WhatsApp: +55 (81) 999.45949 dores e ativistas culturais, que se dedicam à sociedade catalogando personalidades que não podem Associação Cultive e Cultive Editora ser esquecidos no Livro “Mérito Cultural”. 12 Rue du Pré Jérome, 1205 Genève – Suisse Email: cultivelitterature@gamil.com O livro será editado em português e francês com WhatsApp :+41796163793 lançamento no Brasil e no Salão do Livro de Genebra na Suíça. Ele também constará no acervo da Biblioteca do Instituto Ibero Americano de Berlim, biblioteca do Consulado Geral do Brasil em Genebra, biblioteca nacional Suíça, biblioteca de Genebra, assim como, em outras bibliotecas da Europa. O Livro Mérito Cultural será constituído por personalidades tais como: escritores, jornalistas, professores, médicos, engenheiros, religiosos, padres, pastores, advogados, artistas, atores, etc., homens Revue Cultive - Genève

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Antologia As mil As mil cores do Brasil será um livro ilustrado com fotografias coloridas e textos sobre o tema As mil cores do Brasil . Sugerimos aos autores focalizarem aspectos: do dia-a dia, etnográficos, geográficos, sociais, culturais, religiosos. -Cada tema pode ser abordado por um só artista ou por dois artistas, ex: um autor e um fotógrafo ou autor e artista plástico ou desenhista, gravista etc. -As fotos e poemas do livro serão expostos numa exposição na sede da Cultive em outubro no Consulado Geral do Brasil, na exposição de Oeiras no mês de junho quando haverá o lançamento do livro. -Os artistas que participam do livro, se desejarem enviar suas obras em tamanho real, entrem em contato com a Cultive para receber o edital da exposição. -Textos e obras devem ser enviados pelo e-mail cultivelitterature@gmail.com até o dia 15 de março. lançamentos: Oeiras - 06/2020 Genebra: 31/11/2020 Os artistas recebem certificado. As obras farão parte da Exposição Imagem Poética em Genebra.

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Cores do Brasil Informações sobre o livro Língua: Português e francês Estilo: Poesia, crônica ou conto Dimensão do livro 14x21 Ilustração colorida Papel couché brilhante 130gr Capa: 300gr brilhante Times New Roman A página da direita em português e a págnia da esquerda em francês Informação sobre o texto: Língua do texto enviado: português revisado - texto: word - fonte 14 - poema ou prosa com até 13 linhas com espaço Enviar 1 foto de rosto, (com300 dpi, tamanho 20x15 em jpg) anexo ao email, duas ou mais fotos de paisagem ou de pintura, a foto deve ter 300 dpi, tamanho 30x40 (boa resolução anexo ao e-ma Diagramação e designer do livro à cargo exclusivo da Cultive. O livro será lançado em : Portugal Genebra

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IRATAN CURVELLO

é poeta e ativista Cultural de Florianópolis e conhecedor de Cruz e Sousa. Como poeta sua poesia converge pelo brado à igualdade e a valoriazação do ser humanno. Defendensor do antiracismo suas poesias são entremeadas de denúncias, de grito de liberdade. Seu trabalho como ser social realiza-se nas comunidades carentes de Florianópolis. Agindo em projetos que estimulam jovens e crianças a almejarem a divulgação de suas capacidades artísticas. Um homem que se empenha nas atividades motivacionais do artista. Ele apadrinha talentos que seu olho clínico identifica nas comunidades e nas escolas. Iratan não perde tempo quando acredita num jovem e ajuda divulgando, e colocando esses jovens em eventos e valoriazndo e mostrando suas artes em publicações jornalísticas. Iratam é um dos Cultivadores do bem na Associação Cultive e Correspondente da REVUE CULTIVE no estado de Santa Catarina. Facebook: iratancurvello

Editorial: TALENTOS

CATARINENSES Iratan Martins Curvello

Na nobre missão que passamos a desempenhar a partir de novembro de 2019 como correspondente da Revue Cultive junto ao estado de Santa Catarina, trazendo notícias do universo cultural catarinense Apresentamos nesta edição uma biografia dos onze membros internacionais da Associação CULTIVE, Club International D’Art Littérature e Solidarité, que tomaram posse em 13 de novembro de 2019 em sessão realizada no Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina – IHGSC, dos escritores: Eloah Westphalen Naschenweng, Adir Pacheco, Dioni Fernandes Virtuoso, Edenice da Cruz Fraga, Henrique Ferresi, Iratan Martins Curvello, Maristela Giassi, Neusa Maria Bernado Coelho, Osmarina Maria de Souza, Ricardo Mpova e Vera Regina da Silva Barcellos, que com suas posses, valorizam 126

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a associação Cultive, por se tratar de escritores reconhecidos no meio literário catarinense e brasileiro e participantes ativos nos eventos em que participam. Esses acadêmicos, possuem o dom da interpretação e dão aos eventos um brilho especial, pois conseguem transmitir os mais diversos sentimentos ao se apresentarem com suas obras. Trazemos como destaques na coluna que denominamos “TALENTOS CATARINENSES” personagens, que fazem da cultura a sua vida. Esse spersonagens aqui apresentados são protagonistas nas mais diferentes formas de expressão cultural. O personagem “Menestrel” nos brinda com seu incomensurável talento, um multifacetário das artes, pois tem o dom de levar ao êxtase o público que o acompanha na sua viagem ao mundo literário. Através da sua performance poética eclética, derrama na interpretação muitos clássicos da literatura, que o notabilizam como uma referência na nobre arte de declamar, conseguindo transmitir, de modo grandioso, todos os sentimentos possíveis ao ser humano sentir.


Em seguida, na força da jovialidade, os irmãos Pedro Henrique Zemke e Francisco Carlos Torres Neto. Pedro já tem seu espaço no meio literário com um livro lançado e Francisco Carlos vem ocupando de forma ainda tímida seu lugar no mundo literário, mas já podemos afirmar que é certa a sua inclusão no meio literário em razão das suas performances artística e poética. E o que falar da pequena notável Jamily dos Santos Durante? A pequena faz da sua vida uma saga, ao tocar nossos corações com seu livro “Coraçãozinho Jajá” e nos conscientiza da sua luta pela vida. Pois é, ela portadora de Cardiopatia Congênita e palestra sobre o tema, levando com a sua alegria, a reflexão sobre os cuidados que devemos ter com o nosso coração, incentivando-nos a fazer da alegria uma expressão de amor à vida. Apresentamos ainda o jovem Renan Ribeiro da Fonseca que nos traz sua arte de desenho a lápis, com técnica de anime e desenho de figuras de rosto. Seus desenhos possuem tal expressividade que enchem os olhos. Chega-se a pensar que, na verdade, trata-se de uma fotografia. Fechamos a coluna desses protagonistas das artes

do solo catarinense, apresentando a jovem desenhista e escritora Sara Ruth Wlach Rosa de 12 anos, criadora de histórias e de personagens na forma que a história se apresenta, com características próprias bem definidas. Na sequência trazemos, como resgate patrimonial, a matéria sobre a reinauguração da Ponte Hercílio Luz ocorrida no último dia 30 de dezembro de 2019, após 28 anos fechada ao público. Convidamos a escritora Maura Soares para apresentar, na coluna Personalidade Literária, a escritora Maura de Senna Pereira, a fim de que o público se encante com a riqueza da sua história de vida. Encerrando essa sessão, agradecemos ao fotógrafo profissional Rony Costa, que nos ofertou sua arte para ilustrar o texto sobre a ponte Hercílio Luz com a foto da sua autoria. Rony será nosso colaborador a partir dessa edição. Desfrutem do conteúdo apresentado neste espaço destinado a disseminar a cultura catarinense para além-mar. Boa leitura. Iratan Curvello

34°Salão Internacional a s n e r p m I a d e o r v i L de Genebra Do 28 outubro ao 01 de novembro 2020 com informações : cultivelitterature@gmail.

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ADIR PACHECO, da ilha da magia versando para o mundo.

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Poeta, declamador, artista transfromador dos sentimentos cultivador da emocĂŁo.

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S E D NAN

R E F E DION SO . O tural U l u c T a t VscriItoRra, poeta, aetmivisCriciúma

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ué Cu Deleg

ltive

Vibrações da Alma Poesias língua: Português -Espanhol

34°Salão Internacional a s n e r p m I a d e o r v Li de Genebra Do 28 outubro ao 02 de novembro 2020 130

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com informações : cultivelitterature@gmail.


34°Salon International du Livre et de la Presse de Genève du 28/10 au 1/11/ 2020

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Moisés Ricardo Mpova

Henrique Ferresi Ave Maria da beira praia Maria, dos véus de renda. Maria, das conchas da praia. Do pão que alimenta Maria das tardes de novenas. Maria da tristeza que corta Maria das noites serenas Das mãos maternas, Maria! Da lembrança que não volta. Tantas e tantas Marias, meu Deus! Enchendo o mar com o rio dos seus olhos. Maria dos sonhos que dormem Dos filhos que vão Do cheiro de sal Da falta do pão Maria da esperança Das linhas da vida. Dos calos nas mãos e no coração Bendita sois vós, Maria! És mãe de Jesus, afaga! E todos nós, conforta! Maria dos pés na areia. Seguiremos teus passos Tal como o filho, segue a mãe. 132

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É MEU O AMBIENTE? O que adianta encher o bolso Quando a minha saúde está em risco? Quando o meu bolso cresce E não penso na preservação ambiental Desse jeito o meu intelecto decresce Como equilibrar esses fatores? Poluição ambiental E geração de capital Empresas Pesquisadores, produtores Vamos produzir de forma eficiente Poluindo menos o meio ambiente Vamos todos A mãe natureza agradar Produzindo sem degradar Vamos pensar pouco na opulência Não pare a produção Produza com sapiência Pense em alguma ciência Que ajude a equilibrar esses fatores Poluição ambiental & geração de valores Há quem a estes fatores Não presta atenção Se pensarmos na preservação Do mesmo jeito que pensamos na produção Podemos ter um futuro Com menos poluição ambiental


VERA DE BARCELLOS livros solo: 1-Vivendo na paz e na Alegrias 2-Renascer para a Verdadeira Vida 3- Nos caminhos da Meditação 4-Um novo despertar 5- Estrelas de Amor em meu Viver 6-Sementeira de Luz

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NO SILÊNCIO DE CADA DIA por Vera de Barcellos

Querida filha da luz de Deus.

milhares de anos atrás.. A Luz do conhecimento é para todos. Esta caminhada é destinada aos fortes de espírito que desejam melhorar sua postura frente as adversidades do caminho e estreitar seus laços de amor, discenimento e sabedoria entre os irmão que sempre foram irmão.

Muito nos alegram quando os filhos de Deus solicitam mensagens de todos nós que estamos neste plano dos mais diferentes neste grande Universo de Deus. As diferentes moradas também se encontram neste plano azul, terra de recolhimento e escola de crescimento espiritual.

Nossa fraternidade do Amor está distribuida em cada canto deste maravilhoso plano azul, caminho de aprendizado e escola de espiação e descobertas. Minha filha, muito te foi dado, muito te foi explicado. Tenha sua mente aberta ás eventualidades da vida, sempre buscando discenir o melhor caminho. Nem sempre o correr da vida se manifesta com A prece e a meditação serão o apoio para discenires alegria e facilidade. A vida de todos os terráquios sempre o melhor caminho a ser tomado. necessitam cautela, conhecimento, dinamismo e esforço para que possam acatar as Leis Universais, O estudo das Leis Universais será o primeiro passo que se encontram à disposição de todo aprendiz. para obteres o conhecimento milenar dos grandes Terão que galgar as escadaria do recolhimento in- filósofos e homens sábios, que impulsionaram o terior através dos estudos e esforço continuado. É desenvolvimento do Homem ás esferas mais altas uma dedicação constante e um esforço para burilar do Universo. Desta forma vc poderá fazer suas estodas as incidências negativas que há no momento colhas e iniciar seus conhecimento transcendentais neste vasto terrítório humano e em muitos cora- e pratica-los quando vc tiver um tempo. Escolha o seu tempo para estudos. ções. Para você desejamos um caminhar dentro da Lei Divinal, se esforçando cada vez mais para escutar as nossas solicitações e direcionamento. Procure escutar a voz de seu coração, lá estamos. Um mesmo sol a aquecer este plano constantemnete é comparado as bençãos luminosas do nosso Pai Eterno a seus filhos prediletos. Todos estão no patamar de seu próprio conhecimento e esforço, uns mais e outros menos, mas todos um dia alcançarão as diretrizes do amor e caminharão unidos em prol da grande Fraternidade do Amor e da Paz. A amorização é um sentimento nobre iluminado dentro da Lei das grandes escolas de conhecimento antiga. O estudo é necessário a todo discípulo que deseja melhorar seus passos na caminhada reencarnatória.

Este tempo deverá acontecer semanalmente em horário especial e acessível ao seu aprendizado. O pequeno passo já é um começo no palmilhar da caminhada. O caminho é eterno como é eterno o seu espírito e eterno sempre será o nosso aprendizado. Escolher um caminho realmente que transbordará de alegrias sabendo que o seu coração será fortificado com a esperança, a fé e a fraternidade. A dedicação aos seus familiares e o companheirismo abnegado com os colegas culturais já demonstram a beleza de seu coração iluminado. Seu coração e sua alma já estão preparados para o próximo salto, aprender sempre. Tenhamos olhos para ver e ouvidos para escutar a Voz que clama no deserto.

Silencio, meditação e prece, para crescermos sempre na Luz Divinal com a bençãos do nosso Todos nós, você neste plano terreno e nós no nos- Deus, so, estamos no lugar certo, na cidade certa, no país Paz profunda certo e principalmente na família certa, para corrigirmos as nossas arestas. O aprendizado sempre Um ser que caminha juntamente na luz com seus será eterno pois somos eterno como filhos do mes- aprendizes. mo Pai. Nossos mensageiros no planeta terra já iniciaram as apostilas de estudo transcedental há On Shanti. 134

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Neusa Coelho

És Mulher!

Soa tímido o abafad o ai Um pedido de soco rro Mais uma vítima in defesa De violência e maus tratos

Ai

És estrela na passarela Conquistas mil corações Cantada em versos e canções O artista a define em aquarela! Soa tímido o abafad o ai Deusa, mistério e beleza Lamento de mulhere s vulneráveis Silhueta da arte do criador N a cu ltu ra do es tupro Menina, adolescente, madura, ou como for Violentos e condenáv És show da vida, esperança e grandeza! eis De todas as cores e tipos, apaixonada ou oprimida, Tens a ternura de uma flor. Soa tímido o abafad o ai Sonhas como um pássaro sedutor Repercutindo mundo afora Desabrochas vida no jardim, destemida A coletividade perp lexa, pra rua vai Dom divino da maternidade, Se re be la co ntra tal ato e chora Desafias a ciência do amor. Na família, vibra e irradia esplendor Os amigos...o maior bem, confidentes de verdade! Soa tímido o abafad o ai Na jornada diária tão comprida Na omissão de polít icas Quer respeito, inclusão e igualdade, públicas Gritas contra a discriminação sem piedade A sociedade não se Buscas liberdade e direito à vida! cansa jamais Tens na veia uma canção qualquer Unida clama por just Encantas no campo ou na cidade, baila a melodia iça, Laboriosa, sensual, gracejo em poesia, Denuncia a violênci a e pede paz! És nobre, és show, simplesmente és MULHER!

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MENESTREL O Menestrel, Moacir Reis nasceu em São Paulo capital. Com quatorze anos saiu de casa “sem lenço nem documento” com o objetivo de conquistar os seus sonhos, “descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir”. É Produtor Cultural, Ator, Cantor, Poeta, Fotógrafo, Artista Plástico, Visionário. Estudou com Jean-Jacques Lemêtre (Théâtre du Soleil). Estudou mímica com o renomado mestre John Mowat (fundador da OddBodies Theatre Company em Londres). Sua carreira no teatro começou em 1978 no Teatro Municipal de Nova Iguaçu-RJ, protagonista da peça “Notícias de um herói sem pátria” no papel de Tiradentes, de Roberto de Brito. - DJ sonoplasta (1978 a 1982) iníciou sua carreira artística iluminando o Show de Abelardo Barbosa (Chacrinha), no Restaurante STOP – Praia de Itaipu - Niterói-RJ. Diretor da empresa Armação Cultural, comércio de discos, objetos de Arte, Livros, Produção Cultural, Curitiba-PR, (1984 a 1987). Promoveu grandes personalidades brasileiras das artes, entre eles: -Egberto Gismonti – Disco Alma; -Luiz Melodia – Disco Claro; -Paulo Au136

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tran – Discos de poemas; -Renato Borghetti – 1º Disco; - Alexandre Araújo e Jonas Lins – Show “Berimblues”; - Marchand do artista plástico João Moro; - Produção do Show Reality Blues, do Norte Americano, Blues Man Michael Little Budhorn noTeatro Álvaro de Carvalho em 1991. Publicou a revista Armação Cultural em Florianópolis-SC, divulgando e promovendo a cultura: teatro, música, cinema, literatura, poesia e as artes, de 1991 a 1993. Publicação da coluna Cultura Impressa, (Jornal A Notícia – SC), 1999 Criou a empresa Cultura Impressa Produções Artísticas; gravou o primeiro CD – recital “Engenho Poético”, com poemas da poeta Eliana Wobeto e criou o personagem «O Menestrel», fez apresentações da Performance Teatral em diversas capitais promovendo o CD – recital em 1996 Gravação do segundo CD – recital “O Importante é Saber Compreender”, com texto em prosa atribuído à William Shakespeare, 2001; - Apresentação da Performance «O Menestrel Moacir Reis» em congressos, seminários, teatros, universidades, com datas agendadas no Brasil inteiro. Fundou a “Sociedade dos Menestréis e Poetas do Brasil” na Ilha de Santa Catarina,em 2010.Produtor (Proponente) do I SARAU POÉTICO MUSICAL


PEDRO HENRIQUE ZEMKE TORRES Nasceu em Florianópolis no dia 02 de abril de 2008 e é filho de Débora Zemke e Marcelo José Tor-res. Influenciado pelo meio em que vive, entre festas acadêmicas e saraus, passou a registrar seus versos, sonhando publicar seu próprio livro, o que veio a ocorrer no ano de 2018 quando publicou sua primeira obra literária nominada “ASAS DE ANJO» (poemas). Desde 2018 é o mais jovem membro do Grupo de Poetas Livres - GPL. Pedro Henrique faz declamações em eventos literários diversos, mostrando talento nato para memorização e desenvoltura diante de plateias exigentes. Devido a esses feitos recebeu certificados e condecorações. Entre eles o Certificado de Destaque Cultural Mirim 2017 e o PRÊMIO CANETA DE OURO 2018 outorgado pela Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes - FEBACLA. No biênio 2018 e 2019 conquistou consecutiva-

mente o concurso de redação realizado pelo município de Águas Mornas - SC junto à rede de ensino. Em 2019, conquistou o primeiro lugar no Concurso Literário Infantil Cutlive, concurso organizado pela Association Cultive Art Littérature et Solidarité dirigido aos alunos da rede escolar do munícipio de Florianópolis. Em 2019, foi convidado pelo Conselho Estadual de Cultura para se apresentar no evento que premia personalidades catarinenses com a Medalha de Mérito Cultural «Cruz e Sousa», onde o mesmo declamou o soneto LIVRE do poeta simbolista Cruz e Sousa, fazendo uma performance que o notabiliza como um talento catarinense na arte de interpretar. Pedro Henrique é um atento aprendiz na sublime arte literária, aprecia escrever sobre suas vivências transformando cada uma delas em versos ou pequenas histórias. Seu carisma conquista o carinho de todos que têm o prazer de ver e ouvir suas apresentações.

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FRANCISCO CARLOS TORRES NETO Nasceu em Rio do Sul no dia 03 de março de 2007, é filho de Débora Zemke e Marcelo José Tor-res. Frequentando eventos literários com o irmão Pedro Henrique, que é poeta e declamador, se encantou com a poesia e com o palco, iniciando assim sua escalada poética com tímidas apresentações em público, auxiliando o irmão em declamações. A inspiração chegou e desta forma começou a escrever poemas, sua preferência é a Literatura de Cordel. O escritor e declamador Iratan Curvello, sensível conhecedor das aspirações juvenis, acreditando que todos precisam de uma oportunidade para revelar suas aptidões, se predispôs a observar talentos que estão se revelando nos espaços locais, permitindo desta forma encontrar jovens com vontade de aprender e levar adiante o que aprendeu. Este olhar despretensioso e atento visa proporcionar o crescimento pessoal de seus pupilos e por sua vez incentivar, pelo exemplo, outros talentos. Foi exatamente assim que o citado escritor, em consequência de suas observações, resolveu ser o padrinho literário de Francisco Carlos, valorizando seu talento para escrita e declamação, passando a direcionar seus passos, criando oportunidades 138

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para que o mesmo possa realizar seus sonhos no mundo da literatura. Movido por esse incentivo, Francisco Carlos declamou em um evento do Grupo de Poetas Livres-GPL, a poesia de Castro Alves, Navio Negreiro. Francisco cresce como escritor e declamador, seguindo o exemplo de seu irmão e seu padrinho literário. Francisco Carlos, embora amando a literatura, está no início de sua trajetória, porém de forma competente, firme e carinhosa, apadrinhado pelo escritor Iratan Curvello que o incentiva e oportuniza seu envolvimento no mundo da literatura e das artes. O ano de 2020 promete ser rico e produtivo no que se refere à literatura na vida de Pedro Henrique e seu irmão Francisco Carlos, pois ambos já estão com agenda de participação em alguns importantes eventos literários na grande Florianópolis, tais como: • Abrilhantar (a convite) o evento de lançamento do livro “NOS PASSOS DE ALZEMIRO” do escritor Iratan Curvello. • participação na 1°antologia da Sociedade dos Artistas Livres - SAL de Biguaçu-SC. • Estão envolvidos em um projeto que busca, de forma poética, propiciar um encontro entre Cruz e Sousa e O Pequeno Príncipe. Esse encontro será uma emocionante viagem no Universo encantado da poesia.


Nossa pequena guerreira adora livros, é apaixonada pela leitura e, de tanto ler no seu mundo dentro do Hospital Infantil, ela escreveu seu próprio livro intitulado “CORAÇÃOZINHO JAJÁ” quando estava internada. Através dos laços de amizades firmado com a escritora e poetisa Edenice Fraga, que conhecendo a realidade da pequena Jamily e seu sonho de publicar sua obra, intermediou um contato através da Sra. Eliane Huning, tornando este sonho uma realidade no ano de 2019 e inserindo a pequena escritora no mundo literário. Edenice tornou-se madrinha literária da pequena e guerreira escritora Jamily, juntamente com a Sra. Eliane Huning. O livro da Jamily dá ênfase à cardiopatia congênita, chamando a atenção para os cuidados com o coração e fala principalmente do amor ao próximo, destacando o trabalho dos enfermeiros e dos médicos cardiopedíatras.

JAMILY DOS SANTOS DURANTE lutadora da causa da car-

diopatia congênita, estudante e escritora Nossa personagem nasceu em Xaxim-SC no dia 29 de junho de 2011e reside em Lajeado Grande-SC. Filha de Neide dos Santos Durante e Luiz Rossato Durante e tem como irmão Breno Durante. Nossa pequena Jajá é portadora de Tetralogia de Fallot que é uma má formação congênita no coração composta por quatro elementos, razão pela qual já foi submetida a duas cirurgias cardíacas, alguns cateterismos, colocação de Estend no ramo direito da Artéria Pulmonar e hospitalizada no Hospital Infantil Joana de Gusmão por inúmeras vezes. Jamily foi alfabetizada nos corredores do Hospital Infantil Joana de Gusmão, pois seguidamente ela viaja do seu município até Florianópolis para acompanhamento com médicos cardiopediatras, realizando os exames necessários para seu tratamento.

Nossa personagem Jamily é uma menina alegre, cheia de imaginação e sonhos, mesmo em meio às dificuldades que se apresentam, como a grande distância que precisar percorrer, levando até 10 horas de viagem feita de ônibus, para percorrer o trajeto de sua casa até Florianópolis a fim de dar continuidade ao seu tratamento. Jajá, lutadora da causa da cardiopatia congênita, usa a escrita para despertar a consciência sobre a enfermidade. Nossa pequena guerreira e escritora também tem o sonho de ser uma enfermeira, para cuidar do próximo com muito amor e carinho, pois é assim que as enfermeiras tratam-na quando está hospitalizada, atenção, amor e muito carinho. A frase da vida da Jamily é a seguinte: “Você não sabe o quanto eu caminhei para chegar até aqui”. Pela luta que nossa personagem enfrenta a cada dia, ela é uma guerreira e precisa que abracemos sua causa e tenhamos consciencia sobre os cuidados que devemos ter com o nosso coração. Parabéns Jamily pela bela história de vida que nos apresenta! Revue Cultive - Genève

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no gosto da população japonesa e se massificaram através dos filmes de animação. Os animes ganharam o mundo e viraram uma mania mundial. Nosso personagem domina essa técnica muito bem e tem muitas obras concluídas que demonstram a sua habilidade utilizando apenas o lápis para expressar sua rica e talentosa arte. Iniciou sua arte desenhando personagens do Dragonball, que é o seu anime preferido; sempre procurando desenhá-lo por diversão, buscando dessa forma seu aprimoramento nas técnicas. Nesse universo, ampliou sua atuação e iniciou a desenhar rostos, vindo a transpor para o papel, figuras notáveis como o mártir e reverendo Martin Luther King e o rapper americano Tupac Shakur, trazendo tanta realidade nos seus traços, que nos dá a sensação ser uma foto autentica, cada figura retratada. Nosso jovem desenhista talentoso é natural de FloO garoto é um talento nato, que precisamos acomrianópolis e reside em São José-SC. panhar de perto, porque certamente tem potencial e se continuar a dedicar-se a essa arte, tornar-se-a Nascido em 12 de fevereiro de 2002, é filho de uma referência dentro do mercado de desenhos a Cacíldo Luiz da Fonseca e de Andréia de Fátima lápis, no âmbito de Santa Catarina. Antunes Ribeiro. É apostar e ficar de olho no jovem Renan, que já Concluiu o ensino médio no ano de 2019 junto a está sendo solicitado Escola de Educação Básica Wanderley Junior, ali para ,através de sua foi descoberto o seu talento durante um sarau liarte, reproduzir fiterário na escola. Renam já se destacava junto à guras que orbitam o comunidade escolar, como um talento na arte de mundo das celebridesenho a lápis. dades. Suas técnicas preferenciais são os desenhos estilo anime e desenhos de figuras de rosto. Os desenhos animes têm sua origem no Japão e retratam personagens heróis japoneses que surgiram na segunda década do século XX. Logo após a segunda guerra mundial, começaram a aparecer outros animes cada vez mais modernos que caíram

RENAN RIBEIRO DA FONSECA

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Sua forma de produção inicia-se com a construção literária de histórias, que orbitam entre o mundo real e o imaginário, retirando da temática uma visão amena do mundo real frente ao imaginário. Após concluído o processo literário, entrega-se à criação do desenho dos personagens que dão vida a história, dando a eles as características imputadas na construção literária. Sara já começa a ser observada junto á comunidade local como um talento em ascensão, razão pela qual já foi convidada para ilustrar com um desenho seu, o próximo livro do escritor José Braz da Silveira. Além da arte Sara é uma jovem ativa, pratica esportes como vôlei, handebol, natação, gosta de música e dança. Tem como marca a generosidade. É uma jovem carismática e cativa imediatamente quem a conhece. Sua alegria demonstra paixão pela vida.

34°Salon International du Livre et de la Presse de Genève du 28/10 au 1/11/ 2020 SARA RUTH WLACH ROSA - desenhista, escritora e estudante Nossa jovem de 12 anos nasceu em 25 de fevereiro de 2007, é natural de Maravilha-SC e filha de Murilo Otávio Rosa e Ivanete Inês Wlach Rosa, reside no município de Biguaçu-SC onde cursa o ensino fundamental II no Colégio Super Incentivo. Sua arte de desenhar se manifestou-se na tenra idade quando a fazia seus primeiros desenhos em cadernos e na própria apostila, desejando a partir daí fazer um curso de desenho, o que veio a ocorrer em 2019 ao ingressar no Atelier Roseli Farias. Orientada e assistida pela profissional, que observou a habilidade de Sara, para fazer, com extrema facilidade, seus desenhos no estilo anime e cartoon. Já nas primeiras aulas de desenho, a jovem demonstrou sua vontade de transpor para tela seu desenho, iniciando uma vivência na arte da pintura sobre tela.

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Foto de Rony Costa – Instagram: rony_costa_fotografias

PONTE HERCÍLIO LUZ PATRIMÔNIO CULTURAL por Iratam Curvello A Ponte Hercílio Luz cognominada de “A Velha Senhora” é uma ponte pênsil localizada em Florianópolis no estado de Santa Catarina-Brasil. Sua construção iniciou-se em 14 de novembro de 1922 e inaugurada em 13 de maio de 1926. Seu primordial objetivo era ligar a ilha de Santa Catarina, que era o centro político e capital do estado, à parte continental e aos municípios próximos, incrementando a evolução econômica de toda a região e propiciando o escoamento de toda a riqueza que se produzia, no que chamamos hoje, de a grande Florianópolis. A Hercílio Luz era a única ligação rodoviária entre a ilha e o continente até 1975. A posteriori foram construídas outras duas pontes, a Colombo Machado Salles e a mais recente Pedro Ivo Figueiredo de Campos. Em 1982 o trânsito na ponte foi interditado após inspeções de segurança. Entre 1988 e 1991, foi reaberta para pedestres, bicicletas, motocicletas e veículos de tração Animal. Em seguida permaneceu interditada por longos 28 anos, cerceando o desejo 142

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daqueles que sonhavam transpor a ponte, apreciando sua arquitetura e seu glamour, que faz dela o símbolo maior de representatividade da cidade e o seu cartão postal para o mundo. A éponte Hercílio Luz é um patrimônio histórico, artístico e arquitetônico do município de Florianópolis, tombado em 04 de agosto de 1992 pelo governo estadual. O tombamento deu-se em 13 de maio de 1997 e pelo governo federal em 5 de agosto de 1998. O fato de ser um patrimônio tombado em todas as esferas governamentais, permitiu que se abandonasse a ideia de demolição e fortalecesse o processo de restauração, que após duas décadas sem manutenção, acentuou-se. Os serviços de manutenção e restauração iniciaram em 2010 e culminaram com a reabertura da ponte no dia 30 de dezembro de 2019, Ter a ponte como um patrimônio incorporado à vida ativa da capital e de todos os catarinenses após 28 anos de sua interrupção só traz orgulho ao «manezinho» e aos turistas.


PERSONALIDADE LITERÁRIA CATARINENSE

MAURA DE SENNA PEREIRA UMA MULHER ALÉM DO SEU TEMPO

após o falecimento do pai. Inicia nesta época sua produção literária e em 1927 foi a primeira mulher no Brasil a entrar em uma Academia de Letras, com seu nome aprovado, porém com posse em 1930. O fato aconteceu na capital de Santa Catarina, estado do Sul do Brasil, Florianópolis, cidade provinpor Maura Soares (*) ciana, que, após alguns percalços, conseguiu com uns abnegados, fundar a sua primeira Academia de Maura de Senna Pereira nasceu em 10 de março de Letras. 1904, em Florianópolis - SC, filha do professor José de Senna Pereira e de Amélia Régis de Senna Perei- Maura foi proposta pelo acadêmico-professor ra, numa família de 12 filhos. Formou-se na Escola Henrique da Silva Fontes, para a cadeira n.38, cujo Normal em 1921, abraçando, assim, o Magistério, patrono é o matemático e marechal Roberto Von Maura teve que trabalhar para sustentar a família Revue Cultive - Genève

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Trompowsky. Em 15.12.1920, por iniciativa de José Arthur Boiteux, foi fundada a Sociedade Catarinense de Letras e no ano seguinte, em 15.12.1921, transformar-se-ia em Academia. Um adendo. Logo após a posse de Maura, outra poetisa foi aprovada para a Academia Catarinense de Letras: Delminda Silveira de Souza, ou Delminda Silveira. Outras mulheres, desde então, participam daquele sodalício. Outros estados brasileiros imitaram Santa Catarina e a Capital da República, Rio de Janeiro, não foi a segunda capital a colocar nas fileiras das Letras uma mulher. Pressionados por outros estados que já estavam com novos ares nas letras, os literatos do Rio de Janeiro aceitaram sua primeira mulher acadêmica. Embora não tivesse livro publicado, Maura fazia produções de reportagens; artigos para revistas e jornais; crônicas, crítica literária e crítica de arte em geral. Foram 55 anos de atividades desde 1925 no Jornal República de Florianópolis, até 1980; na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro; várias décadas nas colunas Casa de Boneca e Nós e o Mundo; organizou dois volumes com estes materiais e publicou com os títulos “Nós e o Mundo” e “Verbos Soltos”. Com todo este background, Maura foi eleita. A posse, em 1930, foi realizada no Palácio da Assembleia, prédio belíssimo perto da Praça Pereira e Oliveira, que sofreu incêndio destruindo a bela arquitetura e tudo o que havia dentro, desde documentos aos móveis. No ano seguinte, 1931, Maura casa-se com o advogado gaúcho Durval Lamote, num grande acontecimento. Ao mesmo tempo lança seu primeiro livro “Cântaro de Ternura”, cuja capa foi feita por Correia Dias, marido da poetisa Cecília Meireles, de quem era amiga. Em 1933 transfere-se com o marido para Porto Alegre, onde passa a militar na imprensa ativa e profissionalmente. Seu novo livro “Discursos”, foi lançado em Porto Alegre, em 1940. O ano de 1940 marcou o fim do casamento de Maura com Durval. Devido aos maus tratos, quiçá por ciúme. Antes do casamneto já ostentava agressividade, mas ela, apaixonada, não se dera conta. Sua amiga, a acadêmica, advogada e professora Sylvia Amélia Carneiro da Cunha 144

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realizou a documentação para seu desquite, cuja averbação deu-se somente em 21.11.1960, com Maura assinando, a partir daí, somente Maura de Senna Pereira. Em pleno 1940, Maura embarca para o Rio de Janeiro onde conhece José Almeida Cousin, poeta e humanista, que se tornou o amor de sua vida e cuja união se desfez com sua morte. Maura trabalhou profissionalmente na imprensa. Criou, com Almeida Cousin, um Centro Cultural onde abrigava escritores e poetas tanto de Santa Catarina quanto de outros Estados e promovia tertúlias poéticas e teatrais. Maura era a favor do voto feminino e defensora das artes literárias, participou do Movimento Litoral, grupo literário de Florianópolis. Manifestava-se por escrito a respeito da opressão feminina, ela que deixara a vida de professora, enveredou pelo amor, que pensava ser eterno, mas nas circunstâncias da vida, teve fim. Mas o amor novamente surgiu e tudo o mais sorriu para ela. Maura foi agraciada com a Medalha do Mérito Anita Garibaldi, por Decreto do Governador Esperidião Amin em 1986. Nesse mesmo ano Maura toma posse como membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, como Sócio Honorário. Em 1991, falece o amor de sua vida, Almeida Cousin, e Maura destruiu o livro que estava fazendo em sua homenagem, “Andarilha da Madrugada’, restando somente um poema, “Os adereços”, que transcrevemos. Em 21.1.1992 Maura falece no Rio de Janeiro. Calou-se a defensora dos oprimidos, dos poetas e artistas iniciantes, da mulher e suas reivindicações. Calou-se a voz, mas sua obra permanece eterna nos seus livros, nos diversos escritos em jornais, antologias e suas obras pessoais. Maura publicou os seguintes livros de poesia: Cântaro de Ternura (1931); Poemas do Meio-Dia (1949) Círculo Sexto (1959) País de Rosamor (1962) A Dríade e os Dardos (1978) Despoemas (1980)


Cantiga de Amiga (1981) Poemas-Estórias (1984) Sete Poemas de Amor – Edições Sanfona (1985) Busco a Palavra (1985) Livros em prosa: Discursos (1940) O Parto Sem Dor – reportagens, (1956) Nós e o Mundo – crônicas, resenhas e artigos (1976) Verbo Solto (1982) Texto escrito por Maura Soares Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina Academia Desterrense de Literatura Grupo de Poetas Livres Academia de Letras de Itapoá, SC Academia Internacional da União Cultural (AIUC)

34°Salon International du Livre et de la Presse de Genève du 28/10 au 1/11/ 2020

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Os Adereços No meu simples ofício de cantar tenho recebido flores em profusão e a flor é vida e o ofertante um irmão Alguns poucos preferem mandar-me pedras malignas que eu nunca cheguei a ver pois não atingem o alvo e se estilhaçam no chão Mas há que falar também nos silêncios que o silêncio é nada porém eis que agradeço pois cada um deles deixa em meu peito um inexistente adereço inexistente mas que eu vou usando para me acostumar

Único poema que se salvou da obra “Andarilha da Madrugada”, que Maura de Senna Pereira fez para o seu amor, José de Almeida Cousin, 1990. www.cultive-org.com cultivelitterature@gmail.com

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Salão do Livro de Frankfort Do 29 / 10 11 / 2020 Do 14 aoau01/ 18/10/2020

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Exposition et lançement de livres, conférence, Exposition d’Arte - Genève 2020 Exposition Image poétique Lançament de la Revue Artplus Lançement de «Anthologie Les Mil Couleurs du Brésil» Lançement de l’Anthologie contato : cultivelitterature@gmail.com www.cultive-org.com

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PORQUE SOU TRISTE Por que sou triste? Olhe bem para mim Veja a tristeza que este rosto irradia Na ansiedade que um dia Este olhar tristonho tenha fim Mas, esta ânsia, de mim se distancia E já nem sei se a alegria existe Pois a dor que sinto me crucia Lentamente. E é por isso, que sou triste.

FRANCISCO SIQUEIRA DE LIMA Poeta, palestrante, ex-presidente da SOPOEMA (Sociedade dos Poetas e Escritores de Maracanaú) por dois mandatos e atual presidente da ACADEMIA MARACANAUENSE DE LETRAS em segundo mandato. Autor de vários livros e cordéis além de antologias e crônicas.

Já fui feliz, sim. Amava, sorria E se hoje finjo e tento ser risonho Este maldito olhar me denuncia E me desperta de um áureo sonho Busco em mim mesmo uma falsa alegria Mas o coração aos poucos não resiste Sabes por quê? Não? Não te interessaria... E sofro. E assim sendo, sou triste. Sinto falta de alguém. É bem verdade Que a solidão, comigo se sacia E se hoje alguém me acaricia Me apavoro. Temendo falsidade E é este olhar tristonho que insiste Em mostrar o que falta ao meu viver Sou assim, por não poder dizer: Eu te amo! Só por isso, sou triste.

34°Salão Internacional a s n e r p m I a d e o r Liv de Genebra Do 28 outubro ao 01 de novembro 2020 com informações : cultivelitterature@gmail.

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teratura não seria diferente, pois cada uma a seu modo e experiência contribui e o faz com maestria, integridade e auto afirmação com as letras, sonhos e conquistas de tantas outras com sua verve cultural e vivências. Eu poderia aqui listar nomes da literatura dentre autoras contemporâneas nacionais e tantas outras literatas internacionais de igual importância. Mais, aqui peço licença ao me reportar ao leitor para, também, enaltecer e homenagear minha amada esposa.

ANTÔNIO M A R C O S BANDEIRA.

Ela segue linda e austera, digna, sensível, com empenho e dedicação em sua superação. Mesmo sem as chamadas tecnologias assistidas e acessivas que a coloca onde deve estar, ou seja, na tão propagada “inclusão”.

FORTALEZA-CEARÁ.

Mesmo sem os materiais tecnológicos, as novas tecnologias, mobilidade e acessibilidade, passando pela falta de sensibilidade e até mesmo pela má educação e constrangimento.

MULHER DOÇURA

Ela segue produzindo, sendo fonte de pesquisas de mestrado e doutorado no país e exterior afora. Seu dia a dia, normalmente, tende a não ser o mesmo. Após acordar e suas ações matinais, inicia suas ati-

Falar de literatura e mais em especialmente no universo feminino, mais ainda no âmbito da pessoa com deficiência, quando da tão proclamada «inclusão», para mim em particular, é um tanto desafiador. Se eu fosse aqui listar aquelas que perpassaram e fazeram a história lítero cultural universal e, por que não dizer, do nosso país é um tanto maravilhoso. No entanto, não é do meu feitio fugir de um desafio e esse veio provar o quão somos capazes. Falar da Mulher quanto ao seu papel literário é muito prazeroso, pois, vivo, vejo, ouço, pesquiso, leio e escrevo: livros, artigos, revistas, vídeos e documentários que põem estas vates literárias no lugar onde elas merecem estar. A mulher de uma forma geral teve que lutar sempre por seu espaço sócio e cultural no mundo e na li148

Maria de Lourdes Fernandes, que, ao estar perdendo a visão dedica-se com afinco à escrita, especialmente à poética motivacional no que concerne ao seu exemplo de pós cega, forma-se no Curso de pedagogia.

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vidades como: estudar, a partir de seu celular que dispõe de um programa de voz específico. Informa-se pelos tele jornais, plataformas e redes sociais sobre o que há de mais atual. Os acontecimentos, notícias e fatos do nosso dia a dia, do estado, da cidade, do país e do mmundo.

zada por estas que compõem sua beleza estética e literária, sua meiguice e fortaleza que é uma das identificações dessas mulheres universais e suas escritas literárias.

Brilhe, ouse, toque, sensibilize, instigue, desafie, mostre-se... mulher literata e apresente ao mundo Através das redes sociais inteira-se da divulgação seus pensares, sonhos, desafios e conquistas, emde inscrições para Antologias, como coletâneas e briaguem-nos e nos desnudem com suas astúcias e malicias, desejos e perspicácias, maravilhem-nos concursos literários que ela segue publicando. com seus textos poéticos, catalíticos, escatológicos, A literatura feminina é efervescente, pulsante, forte reflexivos ou simplesmente “despretensiosos”. e suave, linda e muito instigante, perpassando desde a prosa à ficção, holística ou de autoajuda é algo, Que essa mulher permaneça nos deliciando com como dizem os críticos literários, inovador e ao seus questionamentos, inquietações, oposições... que possamos continuar com a doçura, encantamesmo instante tem requinte e tradição. A mulher tem um olhar doce, inquisidor e profundamente meigo. Ela é ousada, caliente e vigorosa seja na crônica, ou poesia, nos textos ditos cibernéticos e mesmo os virtuais, a mulher destaca-se também na chamada literatura virtualística. Encerro este artigo, expressando minha gratidão a esta mulher Valquíria Imperiano uma mulher, editora chefe desta conceituada Revista e qual a razão? simplesmente pelo fato de seu olhar e sensibilidade literária, em especial á literatura feminina, reali-

ArtPlus Art - Cultura - Música - Literatura Revista bilingue registrada no Centro íbero Americano Biblioteca Nacional Suíça distribuição - Europa, América do Norte, Brasil.

Editora Cultive Romance Infantil Poesia História Revista Livros de Arte Registro biblioteca Nacional Suíça traduções português francês cultivelitterature@gmail.com

Promoção Incentivo cultural cultivelitterature@gmail.com Revue Cultive - Genève

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TIAGO SILVA

MULHER Mulher... Os teus olhos me encantam, Com você meu coração canta. Mulher... O teu perfume cheira mais que as flores, Contigo acaba as minhas dores. Mulher... Ah...Deusa da beleza! Você merece toda uma realeza. Mulher... Eu te amo tanto! Só de pensar em tudo que você passou, Meus olhos vão chorando. Mulher...

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EDMILSON REGO poeta maranhense

Mulher Preciosa Mulher “carinhosa” Pecado da vida Seu jeito dengoso É “suave veneno” Provoca ciúmes Prazer e desejo Mulher perfumada “Suave e sensível” É tão desejada Mulher “preciosa” Tem um brilho no olhar Amor puro e sincero Virtude de vida Mulher “radiante”

Alegria de viver Pele macia Bonita e "cheirosa" Por onde ela passa Deixa seu "frescor" Mulher presente de Deus Feita para o homem amar, Viver intensamente o amor e ser amada Pensa na felicidade e na liberdade É mulher " maravilha" Que ama e que brilha Mulher,sinônimo de paz e amor É dedicada em tudo que faz É mãe amiga e humana De amor e dedicação

Mandalas Flôr da vida Luciana Imperiano

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MĂşsica Notas musicais, linguagem universal do ritmo 152

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PIANISTA DO ORIENTE

N A Z E M A R A LAYL

O T N E L A T

A Ç Í U S A N Revue Cultive - Genève

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Com Armando Piguet, diretor do Steinway Hall Suisse Romandie, depois da performance Meeraj para piano e eletrônica, em colaboração com o grande Blaise Ubaldini e a estréia mundial de sua magnífica peça: o Livri. Foto: Michael Zerban Por: Valquiria Imperiano

LAYLA RAMEZAN EXPLORA A MÚSICA IRANIANA PARA PIANO

panham em Sheherazade por Alireza Mashayekhi, compositora nascida em Teerã em 1940.

O som de Layla Ramezan, o fraseado, a sensibilidade ao ritmo e a interpretação refinada são as marcas registradas de seu piano. Seu ponto de vista único foi formado pela interseção de duas culturas, nas quais ela se sente à vontade. Layla está sempre à procura de novas maneiras de se expressar, per100 anos de música clássica iraniana "é um projeto mitindo que influências orientais e ocidentais se discográfico iniciado em 2017 pela pianista Layla inspirem e se complementem. Ramezan. Na encruzilhada do folclore e dos códigos da escrita contemporânea, Layla Ramezan rea- Ela se apresenta regularmente na França, Suíça e no liza um repertório atravessando um século musical, exterior: Collège des Bernardins em Paris, Victoria misturando gerações e estilos. No segundo álbum Hall em Genebra, Royal Irish Academy de Dublin, desta coleção, Layla Ramezan convida Djamchid Carnegie Mellon University em Pittsburgh, PrinChemirani e Keyvan Chemirani que o acom- ceton University, Museu Aga Khan de Toronto, 154

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foto: Michael Zerban Grandes recordações do seu último concerto com Keyvan Chemirani no Teatro La Batterie Pôle Musiques de Guyancourt de Saint Quentin en Yvelines (palco nacional).

Roodaki Hall em Teerã, Hafez Hall em Shiraz, bem como em festivais como Les Athénéennes de Genève, Schubertiade de Sion, Alba na Itália e Crans Montana.

Durante a sua carreira Layla estabeleceu contatos privilegiados com personalidades musicais de destaque, como Helmut Deutsch, Jean-Claude Pennetier, William Blank e Philippe Albera, se apresenta com músicos como Jean-Marc Luisada, Eliane Reyes, Christophe Beau, Brigitte Balley e o Chemirani Trio, e trabalha ao lado de compositores de todo o mundo, como Tristan Murail, Luis Naon, Nicolas Bolens e Michael Jarrell. Agradecimentos especiais a Corinne Wiel sua fabricante de piano favorito.

foto: Michael Zerban

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JÓIAS DA MÚSICA CLÁSSICA BRASILEIRA EM GENEBRA

fotos: Marc Guillemin

Por: Valquiria Imperiano O Brasil foi um dos grandes exportadores e produtores de preciosidades de todos os tempos. Ouro, diamantes, ametistas, safiras, águas marinhas, topázios, turmalinas, paraíba são apenas algumas das pedras e metal precioso extraídos do solo Brasil em épocas coloniais concentrados, principalmente, em Minas Gerais. Hoje as preciosidades brasileiras brotam em todo território nacional. E são preciosidades por excelência valiosas. Porém não se trata de minérios e

sim de algo mais precioso : o ser humano. É nesse país continental de tanta contradição e riqueza natural, e miséria social que os valores estão explodindo, apesar de toda a dificuldade e graças a dedicados mestres, mecenas, pessoas que se preocupam com a cultura e sabem que basta investir tempo, boa vontade, dedicação e doação que se os preciosos valores dentre a população brasileira afloram. Revue Cultive - Genève

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foto: Marc Guillemin

Os músicos brasileiros: Elias Lins, Francisco Alves, Laís , Helder Passinho Jr. entrevistados por Valquiria Guillemin Imperiano para a Revue Cultive Que preciosidade é essa e onde são extraídos? Perguntarão, imediatamente, os interessados pelo cifrão. São músicos, pintores, escritores, dançarinos, atores, cantores, escultores, grafistas e desenhistas, que estão explodindo nos mais variados meios sociais e em todas as cidades do Brasil, e são nessas verdadeiras joias que o país precisa investir para enriquecer a cultural e transformar o homem brasileiro. Foi com imenso prazer que descobri aqui em Genebra, tão longe da minha terra, alugumas joias buscando aprendizado e aperfeiçoamento na Escola superior de Música de Genebra. São meninos e meninas brasileiros que sopram, batem, «arcadam»1, picitam2 e dedilham instrumentos tirando sons divinos e encantando o público. To158

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dos jovens que vieram fazer o intercâmbio através do projeto NEOJIBA (NÚCLEO ESTADUAIS DE ORQUESTRAS JUVENIS E INFANTIS DA BAHIA). O NEOJIBA é um programa criado em 2007 que atende 1900 crianças e jovens diretamente e, indiretamente, 4000 pessoas. Esse belíssimo projeto foi idealizado e realizado pelo maestro Ricardo Castro, pianista brasileiro e professor na Haute École de Fribourg na Suíça e tem apoio e patrocínio prioritário do governo do Estado da Bahia. O programa atende qualquer criança e de qualquer classe social interessada pela música, embora as circunstâncias, hoje, mostram que 80% por cento da clientela é oriunda da classe mais desfavorecida. Os núcleos da NEOJIBA recebem em torno de 300 crianças, emprestam os instrumentos aos alunos e


servem alimentação. O NEOJIBA também é aberto para dar assistência às escolas ou outros núcleos e programas que desejam instalar ou capacitar projetos musicais. O programa está expandindo-se e abrindo mais 2 núcleos no interior do estado.

do próprio percurso. Quatro jovens oriundos do Nordeste brasileiro são aqui um exemplo de uma parte do tesouro da terra Brasil. De volta ao Brasil, esses jovens que agora, também, transmitem o conhecimento musical, continuarão a evoluir e repassarão com entusiasmo O NEOJIBA tem uma orquestra sinfônica com 120 o que receberam dos seus mestres. Parabéns a esses integrantes, todos músicos formados pelo progra- jovens pelo talento, trabalho e entusiasmo. ma. A orquestra apresenta-se no Brasil e já realizou 9 concertos no exterior. Grandes nomes da música internacional já se apresentaram, como solistas, na orquestra sinfônica NEOJIBA, assim como muitos músicos, que nasceram no NEOJIBA, hoje brilham em orquestras internacionais ou foram aceitos em grandes escolas de músicas do Brasil e do exterior. Nota de rodapé Ao conversar com esses músicos do NEOJIBA cap________________________________________ tamos o entusiasmo em cada um deles. A gratidão, 1- Arcadam - criei esse verbo arcadar a partir de arcada pelo apoio que receberam dos mestres, suporte (substantivo que indica o movimento do arco sobre cordas fundamental para que cada um pudessem alavande isntrumento) car suas carreiras de músico e conseguisse se ca2-Picicatam - criei o verbo picicatar derivado do pizzicato (substantivo de origem italiana que significa beliscar cordas pacitar para frequentar uma das melhores escolas de instrumento musical). de música do mundo, a HAUTE ÉCOLE DE MUSIQUE DE GENEVE, brota em cada frase ao falar Revue Cultive - Genève

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ELIAS LINS Um Pouco da história Elias Lins Elias Lins, tem 28 anos, natural de Salvador-Ba. Nasceu e cresceu no bairro da Liberdade. Mestrando em Performance (violão) na classe do Prof. Dr. Mario Ulloa. Licenciado em Música pela UFBA na classe da Profª. Dra. Cristina Tourinho e formado no curso técnico em violão pelo CEEP (Centro de Artes de Designer - Salvador-Ba). Desde fevereiro de 2015, é professor, regente, arranjador e violonista do Núcleo de Cordas Dedilhadas do NEOJIBA (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia). O núcleo é coordenado pelo Me. Otávio Fidalgo, com quem tem a honra de trabalhar, pois muito aprendeu musicalmente e didaticamente durante a sua atuação no NEOJIBA. Elias sentese felizardo por trabalhar juntamente com o violonista e Prof. José Carlos Filho, que vem desenvolvendo um ótimo trabalho no núcleo.

Por: Valquiria Imperiano amador, que lhe apresentou o violão e o impressionou com suas habilidades musicais quando ele tinha aproximadamente 11 anos, seu pai foi, também, seu primeiro professor, ministrou suas primeiras aulas de música no cavaquinho e depois o violão de seis cordas, no qual aprendeu a primeira música, Maracangalha, de Dorival Caymmi. Apesar de todas as dificuldades para estudar música no bairro da Liberdade. Ele teve aulas particulares de violão e teoria musical com o professor Robertson Vidal, por quem até hoje tem uma consideração especial como um amigo e professor para toda a vida. Foi com ele que Elias aprendeu a se dedicar inteiramente ao instrumento como solista. Na graduação em música começou a ter aulas de violão com o Prof. Dr. Mario Ulloa, que considera uma referência completa e de alto nível no universo da música. Segundo Elias, uma pessoa de grande coração, sempre disposto a ajudar a todos que o cercam. Também na graduação fui orientado pela Profª. Dra. Cristina Tourinho, com a qual aprendeu muito sobre a performance no violão e sobre a revolução do ensino coletivo para a educação musical. Seu apreço e respeito pela Profª. Cristina é enorme, tanto pelo altíssimo nível profissional, quanto pela sua generosidade para com todos ao seu redor.

Como nessa vida não se faz nada sozinho, Elias sente-se agradecido a Deus, e a toda sua família por tê-lo apoiado sua carreira musical. Elias reverencia A história de Elias fica incompleta se não souberseu pai, Elias Lins da Silva, violonista mos mais sobre ele. Revue Cultive - Genève

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Quem o incentivou a estudar o violão? Maria José Alves de Sousa da Silva, minha mãe. Foi ela quem me incentivou a iniciar e a continuar na minha jornada musical de violão, foi ela que insistiu para que eu tivesse minhas primeiras aulas formais de música no bairro da Liberdade – Salvador-Ba, onde nasci e vivi até os 23 anos de idade. Minha mãe é uma guerreira que vence muitas batalhas diariamente com sua força e coragem de viver. Sua coragem me inspira até hoje para estudar música e por isso sou grato. Você é solteiro ou casado?

Barbosa que sempre me apoiaram a continuar na música, principalmente quando tive meu violão de Luthier roubado, pois foi um momento muito difícil pra mim, nesse momento pensei até em desistir da música. Felizmente, depois consegui outro violão com a ajuda do meu amigo violonista Gilson Santana, a quem devo muitos agradecimentos pela vida toda, por elaborar uma campanha de Crowdfunding. Atualmente estou muito feliz com meu violão Hommage à Daniel Friederich, feito pelo grande Luthier Valentim Carlos Gomes de Ribeirão Preto - São Paulo, que só vem recebendo elogios pelo mundo. O que esse violão tem especial?

Pouco tempo após entrar na graduação conheci a mulher que hoje é minha linda esposa, Mariana Desse violão só tenho qualidades para dizer, muito Lins. afinado, projeção sonora incrível, é fácil tocar neste instrumento. Sou muito grato a Valentim Carlos Ela te apoia na tua carreira? Gomes por confiar um instrumento tão precioso a mim. Sim, me apoia e está sempre ao meu lado em cada decisão da vida, mesmo quando nem tudo dá certo. Sobre os estudos em Genebra, como você desemÉ uma mulher que me inspira pela sua força, inte- barcou nessa cidade tão longe da Bahia? ligência e coragem de viver. A ela quem devo todos os agradecimentos. Recebi uma bolsa para estudar em Genebra juntamente com três colegas de trabalho do NEOJIBA, Também tenho que agradecer a duas outras mul- Francisco Souza, Laís Tavares e Helder Passinho. heres importantes na minha jornada musical. Min- Esse bolsa é resultado de um intercâmbio do NEOha irmã Isis Zurbuchen e minha sogra Ana Mara JIBA em parceria com a Haute École de Musique 162

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de Genève. A bols permitiu-me estudar nessa escola desde o dia 08/02 até o dia 13/02/2020. Tive aulas com professores de altíssimo nível de performance, como o violonista e compositor Prof. Dušan Bogdanović, assisti à aulas de alaúde com a Prof. Monica Pustilnik, além de aulas de didática, harmonia, entre outros assuntos. Não há nada melhor para o aprendizado de um músico do que este tipo de vivência, pois tudo em Genebra incentiva o estudo da música, tanto a estrutura da escola, quanto aos renomados professores.

violonista Krzysztof Jusiak e a fotógrafa Oksana Kovaliuk por toda ajuda. Esses amigos me ajudaram muito nessa caminhada. Como essa viagem tornou-se possível? Para que a viagem à Genebra fosse possível, nós contamos com a ajuda de pessoas maravilhosas da Associação Suíça dos Amigos do NEOJIBA (ASANBA), da qual o presidente é o genial Luthier André-Marc Huwyler, que foi uma pessoa incrivelmente gentil comigo e com todos os outros integrantes do NEOJIBA. Agradeço de coração ao Luthier André-Marc por toda a solicitude e empenho em nos ajudar. Aproveite esse espaço para seus agradecimentos.

O que significa para você estudar em Genebra?

A ASANBA tem muitos integrantes. Gostaria de deixar um agradecimento a todos, e um especial a cinco pessoas com quem tive mais contato durante esta viagem. Primeiro a Edirene e Claude Beguín, e a toda a sua família, os quais tive a honra de residir junto a eles durante esse período de estudos. Foram as pessoas mais receptivas e generosas que já conheci na vida, eles me ajudaram muito enquanto realizei meus estudos em Genebra. Além disso Claude Beguín é um exímio pianista, fiquei admirado ao ouvi-lo tocar. Edirene também tem um gosto especial pela música e pelo teatro refinado, o que tornou minha viagem mais agradável e musical/artística.

Sempre quis ter uma oportunidade como está de estudar em uma escola na Europa, onde é o berço de muitos musicistas que são referências para o violão. E através do NEOJIBA, HEM e ASANBA isto foi possível. Gostaria de agradecer imensamente à toda a Direção do NEOJIBA, ao gestor, pianista e Maestro Ricardo Castro; ao Maestro e Pianista Eduardo Torres; à Renata D’urso e a José Henrique de Campos por essa oportunidade ímpar de poder estudar na Haute École de Musique (HEM), para mim é realmente um sonho que se Deixo também um agradecimento especial a Lucie concretiza. Sou muito grato por tudo. Noir por todo apoio durante esta viagem à Europa, O que lhe oportunizou essa viagem para a Suíça? por ser tão generosa e incentivadora. À Mônica e Rafael Schutz, sempre atentos e solícitos para nos Tive também a oportunidade de ser convidado auxiliar no que fosse necessário, são realmente pespara ter aulas na Alemanha e para que essa viagem soas maravilhosas que tive o privilégio de conhese tornasse possível, contei com a ajuda de amigos cer. Só tenho a dizer muito obrigado a todos que que conheci nessa viagem à Europa. Jean Barce- fizeram parte desta jornada. As palavras são poucas los, um super concertista/violonista e uma pessoa para agradecer à tantas boas ações!!! Gratidão!!! muito gentil. Agradeço imensamente também ao Agradecimento Especial a ASANBA (Association Suisse des Amis de NEOJIBA) Revue Cultive - Genève 163


fotos: Marc Guillemin

HELDER PASSINHO JR. Iniciou seus estudos de trompete em 1999, na oficina da escola de música da UFBA. No ano de 2002 ingressou no curso superior de instrumento, trompete, da mesma instituição, graduando-se no ano de 2006. Em 2013 foi selecionado para a 1a turma de mestrado profissional em música da UFBA sob a orientação do Prof. Dr. Heinz Karl Schwebel graduando-se em 2015. Participou de diversos festivais no Brasil e no exterior, destacando-se o FEMUSC no Brasil e Collegium Musicum em Pommersfelden na Alemanha em 2012, onde atuou como solista no concerto em D maior de Telemann. Em 2014 fez parte do quadro de solistas na programação principal desse festival executando o concerto para trompete e orquestra de Joseph Haydn. Realizou um recital solo de música brasileira e um concerto com a classe de trompetes do conservatório de Genebra, instituição na qual realizou um estagio com o professor Gerard Metrailler e participou do Brass Festival na Suíça em 2013, Participou de master class com alguns renoma164

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dos trompetistas como, Charles Schlueter (Boston Symphony), Andrew Balio (Baltimore Symphony), Mauro Maur (Opera de Roma), Jean-François Michel (Filarmônica de Munich), Fernando Dissenha (OSESP), dentre outros. Ministrou aulas, master class de trompete e de grupos de instrumentos de metal em Salvador, interior do estado da Bahia e no 1° festival internacional TOQUEMUS na cidade de Tocancipá Colômbia em 2014. Atuou em diversas orquestras, destacando-se a OSBA ( Orquestra Sinfônica da Bahia), na qual tocou o concerto de Aratunian para trompete e orquestra no ano de 2007. É frequentemente convidado para atuar como 1° trompete, NYO ( National Youth Ochestra of Great Britain) em 2010 e YOA ( Youth Orchestra of Américas) em 2010 e 2011, nas quais tocou sob a regência de grandes maestros como, Marin Alsop, Ricardo Castro, Cristopher Waren Green, Carlos Miguel Prieto dentre outros. Ocupa a função de Maestro Coordenador no programa NEOJIBA, onde desenvolve trabalhos com as principais formações orquestrais, como a orquestra Juvenil da Bahia, Orquestra Castro Al-


ves. É responsável por auxiliar na escolha e preparação de repertório pedagógico para os núcleos de Neojiba. Além de ser o coordenador pedagógico de trompete dentro do programa, e responsável pelo ensino deste instrumento no NEOJIBA. Presta suporte e apoio pedagógico em diversas formações musicais no estado da Bahia como Filarmônicas, Fanfarras e orquestras de cordas, com cursos e master class de prática coletiva e regência. É diretor artístico do Grupo de Metais e Percussão do Neojiba. Membro fundador do programa Neojiba com o qual, em 2007, participou de intercâmbio na Venezuela no El Sistema, aclamado sistema de orquestras infantis e juvenis daquele país. Foi primeiro trompete da principal orquestra do programa, orquestra Juvenil da Bahia (YOBA) durante vários anos, com a qual realizou turnês por diversos países como Inglaterra, EUA, Portugal, Alemanha, Itália França e Suíça, além de excursionar pelas principais capitais brasileiras, na qual

atuou e atua como solista e como regente por diversas vezes. Destaque para as atuações: concerto para piano e trompete de Shostakovich na qual atuou como solista juntamente com a renomada pianista Martha Argerich em Montreux na Suíça e Paris na França.

Em janeiero fez um estágio no conservatório musical de Genebra e colaborou com o conservatório musical de Meyrin - Suíça

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FRANCISCO ALVES Por: Valquiria Imperiano

«A Música é a mais exuberante forma de desenvolvimento humano e social, o Maestro Ricardo entendeu isso muito bem, e tem o NEOJIBA como principal ferramenta para proporcionar o desenvolvimento humano e social através da música.» Francisco Alves Francisco Alves é natural da cidade de Iguatu no interior do estado do Ceará, terra do maestro Eleazar de Carvalho. Seus pais Raimundo Alves e Dionísia são os principais incentivadores da sua carreira musical. Ele começou a estudar contrabaixo na escola de música Eleazar de Carvalho com o Cearense Francisco Daniel( essa escola fechou). Focando a excelência musical, acabou indo embora da pequena cidade para buscar um melhor aprendizado musical. Aos 18 anos foi para a Bahia em busca de aperfeiçoamento, tomou conhecimento do programa NEOJIBA. Francisco Alves ingressou no NEOJIBA em 2010

Escola de música - Meyrin - Suíça

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Francisco Alves - Église de Saint Thérèse - Genebra

Em 2011 foi aceito como bolsista da Orquestra Juvenil, onde fui muito bem recebido pelo maestro e fundador do NEOJIBA Ricardo Castro, bem como pelo diretor musical Eduardo Torres. Atuando como contrabaixista da YOBA (Youth Orchestra of Bahia) principal formação Orquestral do NEOJIBA, participou das turnês na Alemanha, Suíça, Estados Unidos, França, Itália e Inglaterra, dividindo palco com grandes solistas co-mo: Maria João Pires, Lang Lang, Colin Currie, Sholomo Mintz, Maxim Vengerov, Midore Goto, César Camargo Mariano, Edicson Ruiz, Ricardo Castro, Jean Yves Thi-baudt e Martha Argerich, se apresentando em salas de concerto tais como: Sala São Paulo, Kauffman Center Kansas City – EUA, Granada Theatre Santa Barbara - EUA, Quenn Elizabeth Hall em Londres, Royal Festival Royal Londres, Victoria Hall Genebra, Konzerthaus Ber-lim, Sala Verdi, Santa Cecilia Hall Roma e Philhamonie Paris.


Quatuor de Contrebasse: Wesley Felix AJarda, Gabriel Faustino,Francisco Alves, Cláudio Gomes Église de Saitn Thérèse Genebra

Durante esses anos o NEOJIBA proporcionou-lhe Teixeira de Freitas, Orquestra do Descobrimento grandes oportunidades de aperfeiçoamento. Ele Porto Seguro. teve o apoio, incentivo e ensino de vários músicos. Francisco Alves é Bacharel em Contrabaixo Acús« Cito 2 professores de extrema importância na tico pela UFBA (2017), além disso, tem formação mionha formação de músico: André Geiger profes- complementar participando de Festivais Nacionais sor de contrabaixo da academia de contrabaixo do e Internacionais, e Master Class com professores NEOJIBA, que está dando aula para mim desde meu como: André Geiger, Pino Onnis, Robert Black e primeiro ano no NEOJIBA. Na realidade o André é Edicson Ruiz. um grande exemplo de profissional, tem uma dedicação exemplar ao trabalho e aprendi muito com ele Entre os anos de 2013 e 2017 atuou na prática nesse aspecto, além das aulas de contrabaixo.» Fran- orquestral da OSUFBA e entre 2014 e 2017 foi cisco Alves. O Maestro e professor de contrabaixo da convidado para participar de alguns programas da UFBA, Pino Onnis, figura de extrema importância na Orquestra sinfônica da Bahia. minha carreira, ajudou-me bastante durante meu bacharelado, é outro exemplo e no qual me espelho Professor de contrabaixo no XVI Festival Internamuito, infelizmente ele faleceu alguns anos atrás» cional Eleazar de Carvalho – Fortaleza/CE 2014 e disse Francisco durante a entrevista no conservatório Professor de Contrabaixo e música de câmara no Festival de Música Ágio – Crato/CE (2013 e 2014). de Genebra. Monitor de Contrabaixo nos núcleos e parceiros do NEOJIBA na capital e interior, tais como: OCA, CESA – Simões Filho, OPE, SESI Itapajipe, Federação, Orquestra Infantil da Bahia, Orquestra Santo Antônio - Conceição do Coité, Orquestra de

Hoje Francisco é coordenador pedagógico e professor de contrabaixo no NEOJIBA, repassando todos os ensinamentos musicais e humanos que aprendeu durante esses anos para seus alunos e colegas de trabalho. Revue Cultive - Genève

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Carlos André da escola que

Por: Valquiria Imperiano

Carlos André Costa Rocha da Silva um heroi que trabalha no anonimato há 11 anos. '...destrói a estrutura, mas não o desejo de ensinar', diz jovem após chuva alagar escola feita de lona Desse imenso Brasil, marcado pela disparidade social, emergem os verdadeiros heróis nacionais. Pessoas como o jovem Carlos André da Silva que tirou do lixo o material para realizar um sonho: construir uma escola. Assim nasceu o professor. Ele arregaçou as mangas e transformou sacos, latas, madeiras, plásticos em salas de uma escola incrível que o primeiro mundo nem sonha existir. Para ele e para as crianças, que são beneficiadas, não importa se a escola pode sucumbir sob a chuva e o vento, o que importa é o que Carlos lhes transmite: o saber e a esperança. Em Miracema do Tocantins, nasceu o jovem de168

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idealista e professor saiu do lixão terminado, hoje com 21 anos, Carlos André, o professor, também aluno do primeiro ano do ensino médio. Ele pretende cursar pedagogia para realizar o sonho de ser professor. Que pôs em prática antes de ter o diploma. Observamdo os professores na escola e seus métodos, começou a ensinar em casa, os alunos foram aparecendo, a classe aumentando e ele foi estruturando sua escola. Nem a dificuldade, nem a falta de material, nem o lanche escasso, não lhe detiveram a determinação e Carlos criou a escola Alegria do saber de forma improvisada sobre um terreno que a avó lhe deu para que ele pudesse concretizar seu sonho. Todos os sábados às 8h30 a A escola Alegria do Saber bate o sino chamando os alunos, e num espaço, feito de lona, plástico e outros materiais recicláveis os professores (ex alunos da escola e a tia de Carlos) ensinam as tarefas escolares das crianças e ensinam as masterias que as crianças sentem mais dificuldades. Hoje a escola tem em torno de 60 crianças que procuram o conhecimento e reforço para as suas dificuldades escolares. Aprendem e sonham em alcançar a universidade. Os livros, as carteiras, as cadeiras e tudo que precisam vem do lixão na proximidade da escola, mas sempre que a chuva cai, todo o material é danificado e Carlos, os professores mirins, também voluntários, e os pais dos alunos ajudam-no na execução, na realização do ensino, na organização e na reconstrução da escola quando a chuva para. Ele sofre ao ver as crianças sem aulas no período da reconstrução. "Há 11 anos, a cada chuva que vem aqui, eu sou obrigado a construir a escola do zero, tentamos salvar o que podemos, livros e cadernos molhados são reaproveitados e colocados ao sol

para secar. Sinto-me muito triste porque as coisas estão se desperdiçando. Molhando tudinho. Boa parte do meu esforço e do meu trabalho está indo de água abaixo", desabafa. Carlos A escola tem quatro salas de aulas, biblioteca, diretoria e sala de recursos. Quando os alunos precisam ir ao toalete, recorrem à casa da tia de Carlos, ao lado da escola. A vizinhança doa o lanche e quando não tem, Carlos leva comida da própria casa. «Eu sei que se não tiver lanche os alunos não quererm vir para a escola», afirmou Carlos André. As aulas extracurriculares são oferecidas para crianças até o sexto ano do ensino fundamental. A professora Antônia Silva Antero e cinco jovens que já receberam o reforço escolar na Escola Alegria do Saber, são voluntários na escola. A escola funciona aos fins de semana e feriados das 8h30 às 17h, com recreio e intervalo para o almoço. Carlos André Costa Rocha da Silva é filho do lavrador Domingos Costa, sem trabalho fixo e que para sustentar uma família de nove pessoas ele trabalha vendendo buritis, fruta típica do cerrado. Dessa venda ele tira em torno de 70 reais por mês. Seu Carlos orgulha-se do filho por estar tirando as crianças da rua e passando o saber. As crianças e a comunidade reconhecem e apoiam o trabalho voluntário de Carlos porque é feito com amor.

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Association Cultive

Du 28 octobro au 01 de novembre 2020

Exposition d’art à Genève 2020

Revue Inscriptions ouverts

www.cultive-org.com E-mail: cultivelitterature@gmail.com 170

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ARTE

ETERNAMENTE

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Avani Peixe

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Avani Peixe

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L IM

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LU MPERIANO

ãe, artista, designer, poeta

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Lu Imperiano

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MARIA NAZARÉ CAVALCANTI mãe, avó, artista

Maria Nazaré Cavalcanti ainda muito jovem, no Recife, cidade em que nasceu despertou o desejo de de pintar, desenhar e criar. Iniciou seus estudos artisticos na Escola de Arte de Tereza Carmem Diniz em Recife na década de 1970. Hoje Nazaré divide-se entre o Brasil e Portugal onde fixou residencia. Entre as muitas exposições em que participou ela cita algumas mais importqantes na sua carreira: no Palacio da Justiça em Portugal, em Mares e Estrela Guia; sob a curadoria de Ângela Oliveira, Barcelona Calle de Bruc Artéria Bem, Viana, em Licchtensten Vadur Saal e Paris no Carrossel du Louvre em Outubro de 2018. . Nazaré é uma mulher ativa que procura cercar-se da família, de amigos e de colegas da m e s m a paixão: a arte.

consciente que a união faz a força ela estimula, agrupa e divide com outros artistas as suas conquistas, espaços em que expõe e coopera em organizações de eventos artistícos.

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Sua Arte A alegria, as cores e os rítimos multiculturais do Nordeste Brasileiro estão fortemente presentes nas suas obras e mostram a sua intimidade com a cultura popular do seu país. O diálogo entre a materialidade das tintas e o universo lúdico das possibilidades infinitas dos pincéis faz-se absolutamente possível sob o olhar da artista. As c omposições de Nazaré são criadas a paritir de traços retos e circulares preenchidos com cores vibrantes. dand-lhes um aspecto geométrico

¨ As cores do Brasil preenchem a retina de Nazaré e essas cores estão presentes nas suas criações geométricas que dão forma ao abstrato, ou representam cidades e paisagens marítimas que tocam a inspiração. Suas obras ela utiliza acrílico sobre tela. Prêmio: medalha de ouro em criatividade no Carrossel du Louvre em 2018.


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Maria Nazaré Cavalcanti

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VALQUIRIA IMPERIANO 192

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CULTIVE

APRESENTA CONSULI E SUAS OBRAS NO SALÃO DO LIVRO DE GENEBRA EM OUTUBRO Consuli é um pintor brasileiro autodidata cuja aptidão despertou para as artes ainda na infância. Aos 35 anos ele libertou sua criação ao ter contato com as obras de grandes pintores cubistas e pintores da arte abstrata na livraria aonde trabalhava. Inspirou-se em Pablo Picasso, Paul Cézanne, Modigliani, Monet e Renoir, porém seus pintores prediletos são os artista brasileiros Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Manasses, Adélio Sarro, Emiliano Di Cavalcanti. Consuli realiza suas obras com tinta acrílica cuja secagem rápida facilita seu trabalho. A palheta de Consuli é variada com cores fortes e vibrantes, característica peculiar do seu trabalho. A carreira artística profissional de Consuli iniciou em 2005 quando realizou sua primeira exposição na Casa da Moeda do Brasil e teve todos os seus trabalhos vendidos durante a vernissage, a partir de então participa regularmente de exposições no Brasil e no Exterior. A partir de 2017 expôs em Portugal, Suíça, Áustria, Galeria Serena na La Chaux de Fonds, Barcelona, Liechtenstein, Roma, Londres, Amsterdam e Paris. No próximo mês de outubro estará expondo suas obras no Salão do Livro de Genebra, na Exposição de Arte Genebra 2020 organizado pela Cultive. Consuli está sob a curadoria de Maria Hilda Bignens desde 2014 que se encarrega-se das suas exposições fora do Brasil. Contato: Maria Hilda Bignens +41 76 489 18 34 email: maria.bignens@outlook.com

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Iratan Curvello

Antonieta Ăłleo sobre tela

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MULHER MÃE, AVÓ, BISAVÓ, POETA, PIANISTA, LINGUISTA, ARTISTA, OTIMISTA.

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Desenho 1

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Desenho 2

Desenho 3

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Desenho 4

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Seção Livros em Destaque Paulo Bretas

Eloah Westphalen Naschenwng

«O doce livro dos Beijos Poéticos»

Haikai

Ivanilde Morais de Gusmão

Christianne Couve De Murville

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Lúcia Sousa

Izabel Hesne Marum

Norma Brito

Marivania Albergaria

Raquel Queiroz

Edenice Fraga

Reflexões sobre a vida Maria Albergaria

Em Reeexões Sobre a Vida, Mari Albergaria registra pequenos textos inspirados no cotidiano da vida. Seu olhar observador e perspicaz e seu espírito sensível captaram, dos fatos reais, ensinamentos e os transformou, em seguida, em textos. Nesse pequeno livro, as mensagens são reforçadas pelos ensinamentos bíblicos, que Mari utiliza como guia espiritual. São mensagens repletas de otimismo e de sabedoria centradas em Deus com o objetivo de levar, ao seu leitor, o acalanto e a coragem para superar as diiculdades e as tristezas.

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Telma Brilhante

Vera de Barcellos

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Valquiria Imperiano

Osmarina de Souza

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Antologia OS DEZ MANDAMENTOS EM PROSA E VERSO

orgnizador : Cassio Cavalcante

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SEJA ESTRELA NA REVISTA CULTIVE Divulgue sua atividade artística e literária nas 4 edições da Revista Cultive , seja membro. Membro Escritor da Revista Cultive - pode publicar suas atividades nas seções: Lançamentos de livros, ( 1 página: textos + fotos) Eventos ( 1 página: texto + fotos) Literatura( textos literários até 4 páginas + fotos) Membro Artista da Revista Cultive - pode publicar suas atividades nas seções: Evento de Arte - 1página: textos + fotos Exposição - (até 2 páginas: texto+ fotos) Textos: Biografia, crítica de arte - (textos + fotos) O membro recebe o link e o pdf por e-mail gratuitamente. Entre em contato e peça a ficha de insrição. edicaocultive@gmail.com www.cultive-org.com 212

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Próxima edição: junho Enviar textos, fotos, biografia e contato telefônico até o dia 30 de abril. Editorais: Associações em ação

parte do mundo

( 2 páginas- trabalhos das associações em qualquer

Poetando Contando causos O bioma da minha terra (1 página - poesias livre)

( contos e hsitórias livres)

biomas de qualquer lugar)

Educação e liberdade

cacionais de qualquer lugar)

( 2 páginas - crônicas, pesquisa sobre os

( 2 páginas - crônicas, pesquisa sobre ações edu-

Sem lerolero

(2 páginas - textos e fotos sobre qualquer tema sobre a cultura, saúde, música, cinema, teatro, eventos culturais e populares e outros não citados )

ArtUniversal

( 2 imagens e descrição do trabalho)

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Mulher=mulher

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