Fique Por Dentro 47

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Publicação da Instituição Amélia Rodrigues - Nº 47 - Abr/Mai/Jun de 2016 - Santo André - SP

“Deixa a raiva secar” A frase pode parecer estranha. Mas é uma das formas lúdicas que as educadoras Gildete Vilela e Lusmar Sobrinho encontraram para, com a turma de 5 e 6 anos, trabalhar os sentimentos existentes em todos nós, entre eles a raiva. A expressão faz parte de uma história (veja quadro). Para Gildete, quanto mais cedo o indivíduo consegue identi car o que sente, mais fácil ca trabalhar as emoções, e assim melhorar o convívio em casa, no trabalho, nos relacionamentos pessoais, etc. “A proposta é que, no decorrer da vida, eles aprendam a olhar para si mesmos e a lidar com as situações que surgirem”, observou. Segundo Lusmar, o diálogo é o meio mais fácil de acessar o conteúdo interno. “Deixamos a criança falar o que está sentindo e ouvimos, atentamente, o que está se passando no ‘coração’ dela”, ressaltou. “Nosso papel é acolher, proteger e aconselhar”, explicou. Quando estão com raiva são ensinadas a contar até 10 ou “deixar a raiva secar”, por exemplo. Assim evitam dizer ou fazer coisas que vão magoar aos outros e a si mesmas. Tudo dentro de um universo que elas compreendam.

|Ilustração montagem

Para todos As ações para identi car sentimentos como Amor, Amizade, Raiva, Ciúmes e Nervosismo, entre outros, fazem parte do Projeto Anual da Instituição e são desenvolvidas com todas as crianças, a partir dos 3 anos. É assim com os pequenos da sala das educadoras Amanda Manzano e Daniela Lopes. Em uma das atividades, após contação de história, Amanda e Daniela pediram para que as crianças olhassem no espelho e lembrassem quando esses sentimentos se manifestam. Apesar da pouca idade, as respostas já aparecem: “tenho raiva quando estou vendo desenho e meu pai troca de

canal”, ou “sinto ciúmes quando minha mãe compra brinquedo para o meu irmão e não para mim”, disseram. “Ensinamos as crianças a identi car o que sentem e também o que fazer para se sentirem melhor quando estão tristes, com raiva ou ciúmes”, relatou Amanda. “Isso é educação emocional”, observou.

Por dentro da história Instituição Mariana cou feliz quando ganhou um joguinho de chá de sua mãe. No dia seguinte, Júlia, sua amiga, veio cedo convidá-la para brincar. Mariana não podia porque ia sair. Júlia, então, pediu à colega que lhe emprestasse o seu conjuntinho para brincar sozinha na garagem do prédio. Mariana não queria emprestar, mas, com a insistência da amiga, resolveu ceder, fazendo questão de demonstrar todo o seu ciúme por aquele brinquedo. Ao regressar do passeio, Mariana cou chocada ao ver o seu conjuntinho de chá jogado no chão. Faltavam algumas xícaras e a bandejinha estava toda

quebrada. Chorando e muito nervosa, desabafou: - Está vendo, mamãe, o que a Júlia fez comigo? Ela estragou o brinquedo e ainda deixou jogado no chão. Totalmente descontrolada, Mariana queria ir ao apartamento de Júlia pedir explicações. Mas a mãe, com carinho, ponderou: Filha, lembra quando você saiu com seu vestido branquinho e um carro, passando, jogou lama em sua roupa? Ao chegar em casa você queria lavar imediatamente a sujeira, mas a vovó não deixou. Ela falou que era para deixar o barro secar primeiro, depois cava mais fácil limpar. Pois é, minha lha! Com a raiva é a mesma coisa.

Amélia Rodrigues Deixa a raiva secar primeiro, depois ca bem mais fácil resolver tudo. Mariana não entendeu, mas resolveu ir ver TV. Logo depois alguém tocou a campainha. Era Júlia, com um embrulho na mão. - Mariana, sabe aquele menino mau da outra rua? Ele veio querendo brincar e eu não deixei. Aí cou bravo e estragou o brinquedo. Quando contei para a mamãe ela foi correndo comprar outro igualzinho. É seu. Espero que não que com raiva de mim. - Não tem problema, disse Mariana, minha raiva já secou.


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