Correio da Venezuela 482

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Orgulho de ser:

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Mecânico “Estou na Venezuela porque amo e quero este país” Rafael Soares Da Costa

Pasteleira

“O meu trabalho é transformar a ilusão dos outros em bolos” Graça Maria Almeida dos Santos

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Conserje

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“Com bastante esforço, podemos chegar muito longe”

Empregada doméstica “Espero um dia poder devolver o favor a tanta gente que me ajudou desde a minha chegada à Venezuela”

Lissete Elvira Conceição

María Luisa de Jesús Vieira

Motorista de autocarro

“Tudo o que tenho foi conseguido com o meu autocarro”

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Joaquín Barros Nunes

Vendedor de cachorros-quentes “Este é um negócio com o qual não ficamos ricos, mas mantemo-nos bem” José Manuel Goncalves

Vendedora de frutas

“Quem disser que não quer a este país, é porque só veio para cá ganhar dinheiro”

María Da Silva


2 13 aniversario

22 de Novembro de 2012 // CORREIO Da VENEZUELA

História escreve-se com orgulho e emoção

Aleixo Vieira Director

Pedimos ao editor do jornal para dinamizar o nosso grupo de jornalistas no sentido de folhearem as páginas das centenas de edições do CORREIO, ao longo da sua pequena mas interessante existência, para que nos dessem uma interpretação livre das suas fases mais marcantes. Os trabalhos publicados nesta edição são o resultado dessa busca, do caminho percorrido, nem sempre fácil, até ao dia de hoje, em que assinalamos o 13º ano de publicação. É com orgulho e emoção que relembro algumas dessas fases, de um caminhar incessante e sempre inacabado, na busca das notícias, na transcrição dos acontecimentos, no relatar dos eventos e na formulação da história de 60 anos da Emigração Portuguesa nestas terras de Bolívar. Em pouco mais de um década conseguimos recolher percursos de vida, exemplos brilhantes de trabalho e de entrega total, em troca do pão e do bem das suas famílias; vontades indomáveis na construção de algo de seu; uma solidariedade total no desenvolvimento de um país que nos acolhe, o qual edificamos com a mesma determinação e

Grupo Editorial

www.correiodevenezuela.com Rif.: J-40058840-5

amor. Nas folhas amarelhadas dos arquivos em papel, onde ainda se sente e cheira a presença das notícias velhas, e nos “files” informáticos, onde, naturalmente, arquivamos as nossas notícias mais recentes, temos a prova de que não desprezámos as raízes, de que não esquecemos o início de tudo. É assim que queremos continuar. Avançando em projectos modernos, recuando quando considerarmos necessário, mas com um profundo desejo de reencontro, de criar pontes entre gerações, aproveitando o que de muito bom se tem constatado e a energia e saber dos mais novos, que hoje vêem com outro olhar o futuro e a sua maneira de estar neste País. O CORREIO de Venezuela tem estado na primeira linha de diversos combates e lutas, procurando o bem-estar da comunidade luso-venezuelana e a defesa dos seus direitos como cidadãos de duas pátrias que amam e que chamam suas. Temos procurado chegar a todos os recantos desta Venezuela, onde possamos encontrar os compatriotas que integram a Diáspora Portuguesa. E temo-lo feito, percorrendo milhares de quilómetros. Temos apoiado eventos desportivos e culturais, iniciativas várias com a colaboração dos consulados, da embaixada das associações e clubes liderados por luso-venezuelanos etc. Não temos esquecido a evolução do sector dos media e temos procurado actualizar-nos, adoptar o melhor grafismo, seguir as tendências e alinhar com o desenvolvimento das tecnologias de informação, sector em constante mutação, e que ganhou o apreço das camadas mais jovens que, por isso, mais dedicadas a esses temas.

Director Aleixo Vieira Subdirector Agostinho Silva Gerente: Carla Vieira Editor Sergio Ferreira Soares Endereço: Av. Veracruz. Edif. La Hacienda. Piso 5, ofic. 45H-3. Las Mercedes, Caracas. Telefones: (0212) 9932026 / 9571 Telefax: (0212) 9916448 E-mail: editorial@correiodevenezuela.com

Tratamos de acompanhar a vida nacional portuguesa, mais numa perspectiva de informação do que análise, procurando trazer até aos nossos leitores uma imagem correcta do que em cada semana se passa no continente europeu e nas regiões autónomas. Um jornal não se faz só de matérias interessantes para os mais velhos. Por isso decidimos, em termos profissionais e de meios humanos, optar por um quadro de jovens capacitados, a maioria oriunda da nossa comunidade, que trabalha com alto sentido de responsabilidade e profissionalismo. Neste sentido em particular temos optado por matérias de mais interesse para os jovens, nomeadamente nos aspectos desportivo e cultural. Com sucesso. Pelo menos tem sido esse o retorno que temos recebido. Mais de uma década é tempo suficiente e adequado para um balanço. Que fazemos com gratidão e com lembranças dolorosas. A tragédia de Vargas marcou o primeiro ano da nossa actividade e traçou a solidariedade da comunidade com este jornal, um farol nas trevas do terror que se abateu sobre muitas centenas de famílias de origem portuguesa. Fizemos o que pudemos entre tantas outras iniciativas. Tal como um jornal, a História escreve-se com orgulho e emoção! Obrigado a todos pelo seu contributo, pelas suas notícias, pelo facto de nos considerarem o veículo adequado para as suas campanhas de promoção e publicidade. Um agradecimento enorme a quem trabalha nesta casa e a quem nos lê. Dos dois lados, são a garantia da continuidade e a força que garante o espaço que ocupamos e do qual não prescindimos.

A referência AGOSTINHO SILVA SUB DIRECTOR

Por força das minhas funções profissionais, enquanto Jornalista e Subdirector do DIÁRIO de Notícias da Madeira, tenho tido o privilégio de contactar directamente com as diversas comunidades portuguesas nos quatro cantos do mundo. Tem sido um percurso muito interessante, à beira dos 25 anos, enriquecido pelas inúmeras experiências que vou testemunhando por esse mundo fora. Cada país e cada comunidade representam uma forma de Portugal se impor nesta aldeia global. Apesar das diferenças, há imensos traços comuns. Ao fim e ao cabo somos o mesmo Portugal. Uma das formas de ‘avaliação’ de cada uma das nossas comu-

nidades - e esta é uma percepção pessoal - passa precisamente pela análise aos meios de comunicação que serve cada uma delas. E neste particular tenho de relevar o CORREIO da Venezuela, jornal a que tenho o prazer e o orgulho de estar ligado na última década. Trata-se de um órgão de imprensa que cumpre a sua função de acompanhar e dar visibilidade às alegrias e agruras da nossa comunidade luso-venezuelana. Para além disso, cumpre também uma função social importante, ao organizar e associar-se a uma série de eventos de relevância. Para que se possa avaliar o papel do CORREIO da Venezuela, posso confirmar o seu estatuto de referência na diáspora. Um elogio e um reconhecimento que dá a volta ao mundo. Parabéns por mais um aniversário!

Mais um que um jornal, uma casa! SERGIO FERREIRA EDITOR / Chefe de redacção

Os últimos três anos e meio da minha vida têm sido dedicados, na totalidade, ao CORREIO da Venezuela, e faço algo que, apesar de poder ser entediante para muitos, para mim é realmente uma paixão. O facto de depositarem em nós tantas responsabilidades pode ser esmagador nalgumas ocasiões, mas desde que façamos as coisas sabendo que milhares de pessoas esperam com ansiedade novas notícias, isso permite que o trabalho fique mais leve semana a semana. Ainda que não nos aproximemos da perfeição, como editor deste semanário, o meu objectivo mantém-se firme: Esforçar-me por um melhor jornalismo, com conteúdos variados que ressaltem

as iniciativas da portugalidade. Sempre demos passos firmes, afastando-nos de qualquer tipo de temática na qual estejam imersas diferentes ideologias. O nosso trabalho deve orientar-se pelos princípios do jornalismo. Estou convencido de que o CORREIO se tornará um museu vivo da emigração portuguesa, já que nas páginas das nossas 480 edições, publicaram-se histórias e fotografias que são dignos de admirar. E se estou convencido de algo é que de as nossas edições não são reflexo dos últimos 13 anos, mas sim dos últimos 60 anos de emigração lusitana. Estamos a escrever a história, pelo que aspiro a continuar neste trabalho tantos anos quanto possível, a fim de contribuir com o meu grão de areia para um sector da sociedade ao qual me sinto orgulhoso de pertencer: Os portugueses.

Chefe de redacção Sergio Ferreira S. |Jornalistas Carla Salcedo Leal, Joel Melin Abreu, Kenner Prieto, Antonio Da Silva |Correspondentes Edgar Barreto (Falcón), Carlos Balaguera (Carabobo), Sandra De Andrade (Aragua), Trinidad Macedo (Lara), Silvia K. Gonçalves (Bolívar), Ricardo Santos (Nueva Esparta), Luis Canha (Mérida), Antonio Dos Santos (Zulia) |Colaborações Raúl Caires, Catanho Fernandes, Arelys Gonçalves, Victoria Urdaneta, Jean Carlos de Abreu, Shary Do Patrocinio, Fernando Urbina, Antonio López Villegas, Isabel Idárraga, David Rodríguez, Luis Jorge Do Santos |Administração Ma.Fernanda Pulido |Publicidade e Marketing Carla Vieira |Paginação Elsa de Sá |Fotografia Silvia Di Frisco, Francisco Garrett |Secretariado Fátima Melo |Distribuição Luis Alvarado, Carlos Agostinho Perregil R. |Impressão Cadena Capriles, Operadora La Urbina C.A. Caracas -Venezuela |Tiragem 15.000 exemplares |Fontes de Informação Agência Lusa, Diário de Notícias, Diário de Notícias da Madeira, Ilhapress, Portuguese News Network e intercâmbio com publicações em língua portuguesa.


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22 de Novembro de 2012 // CORREIO Da VENEZUELA

Solidariedade e dedicação

Catanho Fernandes

Com alguma experiência e conhecimento do mundo da Emigração, pois ao longo da minha carreira no jornalismo regional já tinha trabalhado junto de alguns núcleos de portugueses fixados no mundo, sobretudo no Brasil e na África do Sul, fui destacado em 1999 pelo “Diário de Notícias” da Madeira para ajudar no nascimento de um projecto jornalístico novo em Caracas. Devo dizer que nunca tinha visitado a Venezuela, embora este país estivesse na minha cabeça desde criança. Não só porque parte muito numerosa da família da minha mãe tinha emigrado para lá, mas também porque as minhas primeiras leituras, mesmo antes da então denominada Instrução Primária, foram as cartas que um vizinho

analfabeto, mas homem de posses e rendimentos, recebia de familiares que estavam emigrados na Venezuela. Tinha então quatro anos e a minha mãe tinha conseguido me colocar a ler e a escrever com letra bonitinha e bem desenhada como ficava bem a todas as crianças naquele tempo. Logo que o vizinho soube dos avanços do menino da casa ao lado solicitou os meus serviços, pois na cabeça surgiu-lhe certamente a ideia de que esta criança pouco fixaria, além da leitura. E a verdade é que assim foi. Pouco me lembro do conteúdo dessas cartas que lia, bem soletradas, umas duas a três vezes por semana depois do almoço. Estávamos na década cinquenta do século passado e eu já ouvia falar da Venezuela. Lia ao meu amigo e vizinho Senhor Manuel as novidades dos parentes emigrados, as queixas de alguns que lamentavam alguma exploração de familiares já colocados no terreno, sobretudo no Estado Vargas, mas sobretudo as descrições, em construções frásicas mal engendradas mas fiéis e sinceras, dos fins-de-semana com outros familiares, das praias de areia amarela e de um país com grandes oportunidades. Descobri a Venezuela, no terreno em 1999, tempo de grande

agitação. Chavéz tinha sido eleito pela primeira vez e prometia rebentar com tudo o que vinha de uma governação nacional que se tinha entregue aos interesses diabólicos do capitalismo, desprezando uma população maioritariamente pobre e excluída do sistema político. Contra a ditadura de então o comandante que já tinha tentado um primeiro golpe militar, anunciava a criação de um regime que iria governar para o Povo. Uma eventual análise do processo não cabe neste texto. O final de 1999 trouxe a tragédia das enchentes e inundações no Estado Vargas, que cortaram as ligações de Caracas para o litoral caribenho, que mataram muitas pessoas, e que atingiu com uma dimensão ainda hoje não totalmente calculada a comunidade de emigrantes portugueses que viviam naquela área. Desde Carayaca a Naiguatá as águas lamacentas levaram para o mar casas e pessoas. Um caos indescritível. Um cenário de terror. O CORREIO de Caracas, criado há poucos meses, iniciativa de Aleixo Vieira, que hoje se mantém na liderança do projecto e constitui uma referência para toda a comunidade portuguesa na Venezuela, transformou-se nesse tempo na central de informações de quem queria

saber algo mais do que o pouco que indicavam os comunicados oficiais. Foi montado um sistema de controlo e localização de portugueses e familares, no qual o jornalista Filipe Gouveia teve um papel importantíssimo. Estávamos nos primeiros anos da Internet e dos telefones móveis, tecnologias que o Filipe dominava bem. Partimos para o terreno logo que foram permitidas as primeiras entradas em Vargas. Primeiro Catia La Mar, depois Macuto e Carmén de Uria, onde a expressão da tragédia era mais chocante. O CORREIO obteve a adesão de um grupo de voluntários, apoiou vítimas, encaminhando-as para as instituições que se encarregaram do acolhimento dos desalojados, e encontrou diversos desaparecidos, conseguiu reencontrar familiares e aliviar a ansiedade de muitas centenas de portugueses que, no outro lado do Atlântico, queriam saber dos seus familiares. Se alguém tinha dúvidas sobre a utilidade e prestabilidade do projecto do CORREIO teve oportunidade de mudar de ideias logo nos primeiros meses, já que conseguimos suplantar serviços oficiais e partir para o terreno na busca de portugueses. Infelizmente muitos milhares ficaram enterrados nesse indescritível

campo santo de Vargas. A tragédia uniu-nos à comunidade portuguesa e a partir de então conseguimos montar um projecto que hoje se recomenda, com uma curta história de vida, mas enriquecedora e distinta, já que optámos pela diversidade, no pleno respeito pelas nossos leitores e pelas suas expectativas. Tem sido este elo de ligação, que valorizámos e mantivemos em 1999, mesmo em momentos difíceis, que tem alimentado o jornal, sempre em movimento e renovação, independente de facções e vivamente interessado na união de todos os portugueses que vivem na Venezuela e em chegar aos mais novos, que certamente recorrerão também ao CORREIO para qualquer esclarecimento. Cá estamos. O prestígio conseguido, àparte algumas campanhas desenvolvidas com base na inveja dos comuns mortais, permitem ao CORREIO encarar o futuro com alguma tranquilidade, e com mercado garantido. Prova disso são também os eventos que foram criados à volta do jornal e que contam sempre com o apoio dos Portugueses, em actividades transversais, que contam histórias e feitos, mas, sobretudo, porque escreve, lado a lado, a História dos Portugueses que vivem na Venezuela.

Escrever um Correio com espírito de saudade

arelys goncalves

O primeiro encontro com o CORREIO que registo na memória aconteceu durante minha época de estudante na Escola de Línguas da “Universidad Central de Venezuela”, há mais de uma década. Ali, bem numa mesa do café da escola, alguém deixou uma cópia abandonada. Naquele instante não fazia ideia do que representaria para mim esse momento. Olhei pelas páginas e descobri uma publicação em português que tinha histórias que não podíamos ler na imprensa nacional e que retractavam experiências, notícias

e histórias que soavam muito familiares à minha própria existência. O interesse foi imediato. O meu espírito jornalístico juntouse com uma grande vontade de conhecer ainda mais sobre aquele “Correio de Caracas”. Era uma janela na vida de alguém que nunca antes chamou a sua identidade luso-descendente e que tinha curiosidade por conhecer mais de perto qual era o valor de aquela palavra e que representava para outros. Depois de algumas pesquisas sobre o jornal e um par de “emails” sem resposta enviados ao director, fiquei desapontada. Um ano mais tarde daquelas tentativas retomei forças e levantei o telefone. Do outro lado da linha respondeu alguém que também estava agradado pela chamada. Os tempos tinham mudado… O contacto foi imediato. Uma visita na sede de Sabana Grande foi suficiente para escrever no Correio. Mais que uma razão de dinheiro (que também não tenho) era uma motivação pessoal, um interesse por apren-

der sobre a história do meu pai e mostrar-lhe o orgulhosa que eu sempre fui dele e de suas origens. Não era muito fácil fazer aquele sonho da filha de José uma realidade, tinha que partilhar o dia entre o Correio, o trabalho de produtora em Union Radio e algumas horas na universidade. Finalmente, a carga era muita e interrompi as aulas na Escola de Línguas pelo Correio. Pensava e ainda penso que o sacrifício valeu a pena. Horários difíceis, uma equipa muito jovem e pequenina de jornalistas, algumas limitações por não ser um jornal conhecido e de distribuição nacional, um chefe com temperamento de chefe que nunca falta e outras dificuldades do dia-a-dia atestavam as gavetas da escrivaninha, mas por sorte tínhamos do outro lado um mar de notícias e não sempre más. Só precisávamos de tempo para acrescentar a experiência e aprender a pescar. E a pesca sempre foi positiva. O descobrimento mais significativo para mim foi conhecer portugueses e luso-descendentes de

qualquer sector da vida venezuelana com grandes conquistas que merecem ter um destaque pelo esforço. Na outra mão também estão aqueles mais tímidos nos sucessos, menos conhecidos, e as vezes até ocultos nalgum recanto do país mas com um grande espírito de dedicação e sacrifício. Artigo trás artigo, assim foi a crescer o vínculo emotivo. Foi como escrever um correio para a família carregado de muita saudade. Adorava ouvir as vivências e lembranças que ao final são a história da comunidade. Todas com muito sofrimento mas com um grande exemplo de valentia, inspiração e com um alento de esperança. Com mais ou menos diferenças, os rostos dos perfis do jornal representam uma radiografia da vida de meu pai e com certeza de muitos outros. A experiência de migração, aprender uma nova língua, a adaptação a uma cultura, a dor pela saudade, o trabalho sem fim no quintal, no supermercado, na ferretearia, no restaurante, padaria, ou qualquer outro negocio, o cheiro do

bolo numa casa em Maracay, os bordados da mãe frente a televisão ao ver a “novela” de turno, o jardim de flores da tia Ana, a lembrança colgada na parede, aquela primeira visita de volta ou a ilusão de voltar algum dia e ter um reencontro com a malta que deixaram atras, as cartas e as fotografias guardadas, as noivas esquecidas, as famílias deixadas, os bailinhos, o fado e até a imagem de Pedro Infante decoram as memórias das nossas famílias. Como evitar a nostalgia se alguém reconta a história que já ouviste alguma vez… Com as notícias boas, também surgiram outras que falavam da tristeza dos menos favorecidos. No balanço, esta etapa de minha vida deu-me muito mais do que eu ofereci. Acrescentou o respeito pelo público deste jornal e pelo trabalho da equipa. Foi e continua a ser uma experiência enriquecedora e até apaixonada pelo valor pessoal. É mais que, quiçá, trabalho. É uma família a que sempre vou querer pertencer.


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22 de Novembro de 2012 // CORREIO Da VENEZUELA

Salutaciones ao Correio Há cerca de quinze dias, realizou-se em Portugal o Encontro de Meios de Comunicação Social, no qual participaram os órgãos de escrita e fala portuguesa que estão fora de Portugal. Todos eles são um sinal do quão importante que são como órgão de divulgação da cultura portuguesa e da realidade portuguesa. Estes órgãos são essenciais, inclusivamente para transmitir a mensagem aos mais jovens, que são os luso-descendentes, e portanto o CORREIO da Venezuela, é um órgão indispensável para essa transmissão de cultura, para transmitir a realidade de Portugal, mas também para transmitir o que ocorre cá aos portugueses que estão lá, sem importar se são do Continente ou da Madeira. Parabéns.

Agradeço a oportunidade de expressar ao Aleixo Vieira e a toda a equipa de trabalho do Correio da Venezuela as minhas mais sinceras felicitações pelo vosso 13.º aniversário, e pela informação objectiva proporcionada à comunidade. O caminho traçado ao longo destes 13 anos por este excelente semanário da comunidade luso-venezuelana viu-se reflectido nas sucessivas edições, que, para além de registarem o quotidiano dos portugueses que vivem na Venezuela, mantêm informada a comunidade sobre as notícias de maior relevância em Portugal, assim como os factos que demonstram o fortalecimento dos laços de cooperação, irmandade e cordialidade que os nossos países mantêm entre si. Nesse sentido, reitero as minhas felicitações e desejo os maiores êxitos aos vossos projectos futuros. Aproveito para expressar a minha elevada estima e consideração. Lucas Rincón Romero Embaixador da Venezuela em Portugal

Secretário de Estado das Comunidade Portuguesas José Cesário

Felicito o Correio da Venezuela por este aniversário e desejo ao senhor diretor e todos os seus colaboradores os melhores sucessos profissionais. Câmara de Lobos associa-se a este aniversário na certeza de que o Correio da Venezuela foi e continuará a ser um meio fundamental na unicidade e proximidade da nossa comunidade. Câmara de Lobos, desde sempre assumiu um papel preponderante na economia da Madeira, mas também desde sempre viu alguns dos seus filhos emigrarem para os vários cantos do Mundo levando a países longínquos os seus conhecimentos, dinamismo e vontade de vencer na vida, ao ponto de se terem afirmado como verdadeiros motores do desenvolvimento dessas terras, como é o caso da Venezuela, impondo-se e integrando-se como pessoas validas, com sucesso e mais-valia ao seu desenvolvimento. Desejo que o Correio da Venezuela continue a sua missão e que os filhos de Câmara de Lobos continuem a amar a sua terra e continuem a ver neste jornal o veículo de contacto privilegiado e o órgão de comunicação sério, interveniente e atualizado que o tem caracterizado. Parabéns! Arlindo Pinto Gomes Presidente da Câmara Municipal de Câmara de Lobos

Ne s t a d at a d e profundo significado para a vida do Correio da Venezuela, na pessoa do seu director, felicito todos quantos contribuem para construir uma informação plural, isenta e responsável, em prol das comunidades madeirenses residente nesse país. O Correio da Venezuela é hoje uma referência da informação para a comunidade madeirense, um instrumento indispensável na defesa das suas justas aspirações, um farol de esperança na consolidação das relações Madeira/Venezuela e um veículo privilegiado para a promoção e divulgação da enorme pujança que os empresários madeirenses emprestam à economia venezuelana. Por ocasião de mais um aniversário do Correio da Venezuela, expresso o meu voto pessoal de que o jornal continue a aproximar os povos da Madeira e da Venezuela, mantendo a sua linha editorial baseada na imparcialidade, competência e verdade. Como sempre nos habituou. O Presidente da Câmara Municipal do Funchal Miguel Filipe Machado de Albuquerque

A Embaixada de Portugal congratula-se com o 13º aniversário do Correio da Venezuela e endereça os mais calorosos parabéns a toda a equipa que ao longo dos anos tem possibilitado a realização de um trabalho jornalístico de excelência. Portugueses e luso-descendentes residentes na Venezuela têm tido no Correio um veículo ímpar na promoção da língua portuguesa, no esclarecimento de questões que os preocupam e divulgação de temática relacionada com ambos os países constituindo deste modo um elo de ligação insubstituível. O Correio conseguiu estar à altura do desafio de afirmar-se no panorama dos media que servem as comunidades portuguesas no mundo num país onde os interesses portugueses são importantes. As suas reportagens geram interesse para portugueses e sobretudo para luso-descendentes, sem esquecer a crescente comunidade de expatriados recém-chegada à Venezuela. Por fim, a Embaixada de Portugal não pode deixar de expressar o seu agradecimento e dívida de gratidão pela forma como tem sido dada a mais ampla cobertura aos eventos promovidos por Portugal através da rede diplomática e consular. É nosso desejo que o órgão de comunicação social que cumpre o seu 13º aniversário tenha muitos e longos anos de profícuos sucessos profissionais. Mário Alberto Lino da Silva Embaixador de Portugal na Venezuela


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Gabriel D´Empire, presidente da Sociedade Venezuelana de Cardiologia

“É cada vez mais frequente conseguir-se um médico português” Carla Salcedo Leal csalcedo@correiodevenezuela.com

O sector da Saúde é um dos que pode passar despercebido numa sociedade, apesar de ser um dos factores mais importantes no desenvolvimento de uma população. Não foi, por isso, por acaso, que os portugueses sempre prestaram atenção ao problema, o que ficou em evidência desde a década de 70, quando o primeiro médico luso-descendente se formou na Venezuela. Desde então, centenas de médicos passaram a integrar a Associação de Médicos LusoVenezuelanos (Asomeluve), organismo que conta actualmente com mais de 300 especialistas, registados em 36 diferentes ramos da medicina. Para além disso, os médicos portugueses e luso-descendentes tornaram-se no centro das atenções em diferentes oportunidades, pelos prémios de investigação que têm ganho , dentro e fora da Venezuela, e também pelos importantes cargos de responsabilidade que conseguiram nos principais hospitais do país, como a chefia do Serviço de Neurologia do Hospital Universitário de Caracas e do Hospital Geral Dr. Victorino Santaella, a chefia do Serviço de Oncologia Infantil do Hospital de Crianças J.M de Los Ríos, a presidência da Sociedade de Psiquiatria e de Neurologia, entre outros. É com orgulho que, hoje em dia, a comunidade portuguesa pode dizer que há luso-descendentes activos em quase todas as sociedades científicas e em quase todas cumprem papéis importantes, pelo que, citando o reconhecido médico português Juan Marques, na Venezuela, “até ao momento, os médicos luso-venezuelanos gozam de boa saúde”. O maior número de portugueses está em especialidades

como cirurgia, medicina interna e pediatria, respondendo, assim, à procura no país. Mas se bem que é certo que há muitos médicos portugueses que são muito reconhecidos, também são muitos os pacientes portugueses conhecidos pelas suas características particulares. O CORREIO conversou com Gabriel D´Empire, presidente da Sociedade Venezuelana de Cardiologia, que falou a da sua experiência, quer com médicos quer com pacientes portugueses. “Os portugueses integraramse muito bem na população venezuelana, independentemente dos estratos sociais, e foram muito importantes para o desenvolvimento de diferentes áreas que vão para além da comercial e industrial, entre as quais a medicina, onde foram, indubitavelmente, um pilar fundamental. Exemplo disso são os médicos portugueses de renome no país, a existência de uma associação médica luso-venezuelana, o desenvolvimento da investigação e da educação, áreas que os tornaram merecedores de prémios nacionais e internacionais muito importantes”, destaca D´Empiere, que na sua lista de pacientes, mantém um ‘terruño’ luso. “Da minha experiência como cardiologista, devo ressaltar alguns aspectos, porque são dos melhores pacientes. São pessoas muito particulares, porque têm um nível de gratidão enorme, para além de um elevado nível de cumprimento das indicações que lhes são dadas. E também no que toca à fidelidade, são excelentes. Quando recebemos um paciente português, sabemos que é para sempre. Com efeito, há alguns dias, um colega cirurgião dizia-me que boa parte dos seus pacientes é de origem portuguesa, e que estava muito contente e muito orgulhoso, porque eram pessoas especiais na consulta”, comentou.

Este sector aposta e acredita que serão cada vez mais e mais os portugueses a entrar na medicina, pois é um mito que os portugueses só sabem trabalhar em padarias e mercados. Por isso, é com orgulho que ouvem que “é cada vez mais frequente conseguir-se um médico português ou de origem lusa, e do meu ponto de vista, uma vez que me tenho mantido muito próximo desta comunidade, através dos seus médicos, a evolução nesta profissão foi extremamente interessante” , concluiu o representante dos cardiologistas no país.


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Tomás Straka, Historiador

“Os portugueses alteraram por completo o nosso quotidiano” Kenner Prieto kprieto@correiodevenezuela.com

Historicamente, o português tem sido uma parte integral da cultura venezuelana desde meados do século XX, pois de todos os imigrantes europeus que chegaram durante a década de 60, e continuaram a chegar, embora forma decrescente até à de 70, e inclusive princípios dos anos 80, os portugueses foram os que lograram unir-se melhor com o venezuelano, especialmente com os níveis socioeconomicos mais deprimidos da Venezuela. Tomás Helmut Straka, professor e investigador da Universidade Católica Andrés Bello, defende que “os venezuelanos não se entenderiam com a sua própria sociedade se, abruptamente, por algum tipo de razão, nos tirassem os portugueses de um mo-

mento para o outro”. Tomás Helmut Straka Medina é o autor de numerosas obras e ensaios, entre as que se destacam “La Voz de los vencidos”, “las Alas de Ícaro”, “Un Reino párrafo este Mundo”, e “La épica del desencanto”. O seu interesse pela história e as ciências sociais fica a dever-se à diversidade das suas origens. Filho de Hellmuth Straka, de origem alemã, enquanto que do lado materno a sua ascendência radica nos afroamericanos da região de Barlovento e Guayana, na Venezuela, da ilha de Trinidad, além da influência indígena de Píritu. Para Straka, a comunidade portuguesa teve capacidade para se integrar rapidamente na sociedade, o que lhe permitiu inserir-se nos sectores populares. Por tal motivo, ao realizar a configuração do mapa sociocultural da Venezuela actual, a pre-

sença portuguesa é reconhecida em grande escala, além de importante na evolução que atingiu a nação até à data. “Uma das mudanças que os portugueses imprimiram nos costumes da sociedade venezuelana foi a padaria”, assegura o especialista. Esta influência não só existiu na Venezuela, pois tomando em consideração que as influências são sempre bidireccionais, hoje em dia em Portugal costuma-se reconhecer o papel da Venezuela nas padarias portuguesas, pois estas novas tendências também chegaram a terras lusas, o que demonstra a importância dos imigrantes portugueses na evolução das sociedades nas que se encontram presentes. Segundo Straka, a classe média venezuelana começou a existir graças à imigração portuguesa, pois o contributo na área de produção alimentar, mais espe-

Os portugueses radicados na Venezuela têm sido uma peça fundamental para complementar o desenvolvimento social e económico da Venezuela cificamente na agricultura, abriu um campo totalmente novo, tanto a nível social como económico, já que os venezuelanos beneficiaram de postos de trabalho e de uma matéria-prima que podiam adquirir. Ainda que sejam muitas as facetas históricas em que os portu-

Pedro “Candela” Benitez, Desportista

“Sobrevivemos do que ganhamos, mas vivemos do que damos” Kenner Prieto kprieto@correiodevenezuela.com

Se há alguém que sabe sobre desporto, principalmente de futebol, na comunidade luso-venezuelana é Pedro Benitez, mais conhecido por “Candela”. Um homem que aos 63 anos de idade, casado com uma bela mulher e pai de três filhos, figura como treinador do desporto-rei no Centro Português, de Caracas, e que se destaca pelos conhecimentos sobre as equipas lusos destacados na história deste país. Candela ultrapassou o facto de ter estudado apenas até ao terceiro ano do secundário com a realização de diversos cursos, que lhe permitiram chegar ao cargo que actualmente exerce. Este treinador de futebol leva uma vida algo agitada: pode ser

visto nas instalações do clube luso às quintas e sextas-feiras a partir das 5h00pm, treinando crianças luso-descendentes com idades compreendidas entre os 3 e os 7 anos de idade, enquanto que nos restantes dias mantémse activo com treinos noutras localidades. “No âmbito desportivo, os portugueses tem evidenciado uma grande mobilização, não só no futebol, como em outras disciplinas. Dá-me muita alegria ver que futebolistas portugueses radicados no nosso país viajaram para o exterior e elevaram bem alto o nome de Portugal e a Venezuela. Cada dia que passa, temos o nome de algum desportista português que se destaca publicamente, com distintos triunfos e feitos”, explica Benitez, comparando a alegria dos triunfos destes desportistas com o orgulho e entusiasmo que sente

A chave do êxito é a dedicação e o aprimoramento físico para alcançar o melhor potencial para se ter sucesso na carreira de treinador ou desportista quando vê ganhar os futebolistas que treina em diferentes campeonatos. Muitos são os treinadores que sonham em ser bem sucedidos, sem ter um plano traçado para chegar a lograr esse sonho. O sonho de Candela é que algum dos “chamos” que treina chegue a alguma selecção profissional. “Para mim é uma honra ter o privilégio de treinar ou ensinar filhos de portugueses a jogar futebol de salão venezuelano. Ficaria muito contente e cumprirse-ia uma das minhas grandes metas se algum chegasse a uma

gueses mostram ter conseguido fundir-se com os venezuelanos, graças a uma capacidade que é única deles mesmos, o especialista em história assegura que “é impossível medir a ciência exacta como os portugueses mudaram a nossa sociedade, pois no existe maneira de determinar todos os contributos que eles ofereceram à Venezuela. O que é totalmente seguro é que vieram e fizeram algo que mudou por completo o nosso quotidiano”, sentencia.

equipa profissional”, comentou, mostrando com alegria o brilho nos seus olhos que vive por essas crianças. A chave do êxito para Pedro é a dedicação e o aprimoramento físico para alcançar o potencial e ter êxito na carreira de treinador ou desportista. “Esta dedicação e a vontade de alcançar a meta traçada é o que se deve ter bem claro em todo momento, já que te coloca a um passo do êxito”, explica Candela a respeito da chave do êxito dos desportistas luso-venezuelanos. “Como treinador, um dos nossos maiores desejos é ajudar os demais; ainda que sobrevivemos do que ganhamos, vivemos do que damos”, sentenciou Pedro Benitez, não sem antes acrescentar que este é um dos grandes valores que caracteriza os desportistas luso-venezuelanos: “ajudar os outros é importante nesta viagem do êxito. Não compartir e não ajudar outros pode ser uma experiência solitária, antipática e egoísta”. “O desporte é a minha vida, faz parte do meu quotidiano e quero continuar a sentir-me orgulhoso de poder dizer que esses desportistas que estão logrando grandes coisas passaram algum dia por algum clube português”, finalizou.


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12 13 aniversario

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Julieta da Conceição Abreu Caldeira , Costureira

“A costura permitiu-me

evoluir na Venezuela” Joel Melin Abreu jmabreu@correiodevenezuela.com

Ainda não estávamos instalados para iniciar a nossa conversa e já Julieta da Conceição de Abreu Caldeira pede licença para continuar a coser à mão enquanto narra como tem sido a sua vida e a sua profissão. Uma vez sentados, com linhas e agulhas por companhia, Julieta recorda de imediato que emigrou para a Venezuela há já mais de 50 anos, vinda do sítio da Pedra Mole, na Ribeira Brava, Madeira. E desde a sua chegada ao país que trabalha como costureira. “Ainda me lembro de quando decidi vir para a Venezuela para estar junto de vários dos meus irmãos e irmãs que já tinham vindo para cá alguns anos antes. Foi uma decisão difícil mas nessa altura, as minhas habilidades como costureira permitiram-me evoluir e estabilizar-me junto com a minha família, naquela que tem sido a minha casa ao longo de todos estes anos”, recorda, com muita segurança Educação e inovação Várias pessoas passam pela casa da nossa anfitriã, em Guarenas, saudando-a e deixandolhe diversas peças de roupa que precisam das suas ágeis mãos. A cada pessoa que surge, ela responde com um sorriso, assegurando a todos, com a mesma frase convincente, que “isto vai

Oriunda do sítio da Pedra Mole, Ribeira Brava, emigrou há mais de meio século para a Venezuela, onde, desde então, se dedica a trabalhar como costureira, assegurando que foi assim que conseguiu seguir em frente com a sua família.

ficar como novo”. “É certo que faço o mesmo há muitos anos, mas isso não me chateia. Costurar faz parte de mim e gosto que as pessoas me tenham em conta no momento de tratar de alguma peça de roupa que é importante para elas”, afirma. À medida que a conversa flui, Julieta vai lembrando que o seu primeiro trabalho foi numa fábrica, a coser à máquina, e diz que isso lhe serviu para poder instalar-se na cidade onde reside hoje em dia. Aprendeu, na altura, técnicas que desconhecia, e que pôde colocar em prática quando decidiu trabalhar por conta própria. “Para coser, é necessário saber certas técnicas, pois nem sempre o mesmo tipo de costura serve ou fica bem. Devemos sempre procurar formas de fazer com que o que costuramos fique

melhor”, assinalou, mostrando a peça que cosia no momento, com um ponto duplo, o que, segundo explicou, era o necessário para a peça em causa. Tudo pela sua família Já instalada no país, Julieta casou com o também português Jaime Caldeira Gastão, uma união que trouxe ao mundo as suas duas razões para lutar, mesmo quando tudo parecia impossível. Ao perguntar como se chamam os seus filhos, Julieta responde, cheia de felicidade e orgulho, que são Orlando Caldeira de Abreu e Jaime Caldeira de Abreu. “Queremos sempre evoluir, mas foi quando os meus filhos nasceram que me dei conta que tinha de explorar as minhas habilidades com a costura, e foi aí que decidi disponibilizar o meu trabalho a todas as pessoas que

Passos para ser uma boa costureira › Nunca mentir aos clientes, temos de ser sinceros sobre se podemos ou não reparar a peça. › Aprender novas técnicas de costura, seja através de cursos, revistas, programas de televisão ou até de colegas que dominem bem a técnica. › Ainda que às vezes os custos das linhas sejam elevados, tratar de utilizar o melhor material possível para coser. › Como em todo o trabalho que requer tratamento directo com o cliente, um sorriso e educação devem estar sempre presentes na nossa relação com eles.

conhecia, e às que não conhecia também”, conta. “Também é certo que quantos mais clientes temos, mais difícil se torna entregar as peças prontas de forma mais rápida, pelo que já aconteceu algumas pessoas me perguntarem pela sua roupa e me chamarem à atenção porque estou a demorar demasiado”, menciona, enquanto faz um sinal para passar ao sofá que está na entrada da sua casa. “O ar livre e a luz natural ajudam-me a fazer melhor o meu trabalho. Acho que todos temos um lugar onde nos desenvolvemos melhor, e sem dúvida que o meu é estar rodeada pela Natureza”, sublinha, enquanto saúda uns velhinhos que caminham em frente à casa. Reformar-se não é uma opção “Para quê decidir deixar de fazer algo de que gosto… Tenho o tempo e a disposição, e isto mantém-me em contacto com as pessoas. Os meus filhos já estão grandes e têm a sua vida, e a costura é uma forma de manter-me activa, e para além disso, ganho uma prática que nunca é demais”, afirma, entre risos, e prossegue: “Todos os imigrantes podem evoluir, alguns tiveram mais sorte do que outros, e isso é normal, se ganharam com esforço. Alguns de nós não puderam fazer muito dinheiro, mas se tivermos a sorte de ter uma família e viver dignamente, isso não há dinheiro que compre”, sublinhou.


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António, João e Luís: os relojoeiros de “Paseo Las Mercedes”

“A nossa política é

fazer as coisas bem” Carla Salcedo Leal csalcedo@correiodevenezuela.com

A maioria dos caraquenhos falam do relojoeiro do Paseo las Mercedes sem imaginar que por trás da designação se encontra o trabalho de três pessoas especiais. Muitos nem sequer sabem que este negócio, que com 32 anos de existência se tornou um dos ícones da cidade, tem o nome comercial de Estoril Sol. Neste espaço convivem três portugueses que têm uma saudável união, que se reflecte no tratamento aos clientes. António Pascoal Pereira Rodrigues (Câmara de Lobos), João Couto Pita (Canhas) e José Luís de Gouveia Fernandes (São Pedro, Funchal), recebem todos o dias dezenas de relógios para serem reparados, mantendo-os activos num ofício em risco de extinção: A relojoaria. E neste caso, é impossível falar de um sem nomear os outros membros do clã. Uma história de serviço O senhor António encarrega-se de receber os clientes, e como se conhecesse cada pessoa que entra no local, saúda-os com alguma brincadeira ocasional. Neste espaço, os risos nunca faltam, pois a saudável união laboral existente entre este três senhores faz com se compenetrem tanto que uma visita à relojoaria se torna uma experiência de diversão. “Eu não sou relojoeiro, os meus relojoeiros são eles, eu sou é curioso, gosto de aprender, e faço algumas coisas da relojoaria, como mudar pilhas. Sou o dono do circo e os palhaços estão aqui, conheci-os quando era representante de uma marca de relógios e já estou com eles há 30 anos”, conta. Quando chegou à Venezuela, António trabalhou em mercados e supermercados, como o recordado Supermercado Veracruz de Las Mercedes, altura em que

teve oportunidade de estudar música, mas também de conhecer um cliente que se apercebeu do seu potencial. “Até criei um grupo musical com Carlos Donoso, o dos bonecos, mas não fizemos nada senão ensaiar, porque não havia tempo. Um dia, um cliente do mercado contratou-me para que trabalhasse com ele, porque dizia que eu falava demasiado e era bom para ser vendedor. Assim começou a minha história e o meu percurso até aqui. Montei isto com a intenção fazer algo, tal como se vê hoje, aqui não houve nada casual, tudo foi calculado. Ter um negócio pequeno é algo simpático, porque as pessoas passam e dizem “esse negócio está sempre cheio”, mas a verdade é que provavelmente há uma ou duas pessoas a conversar aqui comigo”, refere o comerciante, que não deixa de elogiar os seus companheiros inseparáveis, os únicos relojoeiros a oferecer um serviço de reparação de relógios antigos de parede, fazendo serviço ao domicílio. “Começamos a trabalhar logo que chegamos, e podemos, num dia reparar, um relógio de 100 bolívares ou um de 100 mil. Os relógios podem ser arranjados desde a máquina até deixá-los como novos. Se arranjo um relógio ou mudo uma pilha, e se o entrego ao cliente todo riscado e maltratado, quando acontecer alguma coisa ao relógio, vão dizer que o relojoeiro não fez nada, mas se fazemos o trabalho com o coração, e deixamos o relógio arranjado por dentro e por fora, o cliente sente-se satisfeito e entende que fizemos o trabalho”, diz José Luís. Da observação ao êxito “Cheguei a viver em Caricuao, com o meu pai, que trabalhava como padeiro. Ele quis que eu também fosse padeiro, mas eu quis ser relojoeiro. Aprendi o ofício de carambola trabalhando num restaurante com um ilhéu que quis que montássemos o negócio e que me ensinou

o ofício. Passados dois anos, já estava a montar o meu próprio negócio sozinho”, conta João, com piada, no seu ‘portunhol’. João não só é relojoeiro como também joalheiro, mas adverte, “sou um joalheiro remendão, não um fabricante”. Também José Luís se dedicou aos supermercados, quando chegou à Venezuela, e a sua entrada no ofício aconteceu por curiosidade. “Comecei aos 15 anos na relojoaria. Fazia os recados, e havia um senhor espanhol que tinha uma mesinha à porta de uma barbearia ali em Artigas, era um relojoeiro, e eu não parava de observar o que ele fazia, até que um dia perguntou-me se queria aprender, disse que me ensinava, porque o que ele queria era que eu estivesse ali, para entregar os trabalhos e ir me ensinando ao mesmo tempo. Com a prática é que se vai aprendendo, aprendemos até diferenciar a qualidade das coisas. Este ofício deu-me tudo, entre altos e baixos, mas deu-me para viver. Não vives na pobreza mas também não ficas milio-

nário”, sublinha este pai de seis filhos. Das mudanças ao desaparecimento do ofício Este ofício também passou por mudanças dramáticas, tanto devido à tecnologia como ao diminuto número de interessados em aprender a arte. “Como relojoeiro, prefiro os relógios mecânicos, mas agora tudo é automático. O que mais mudou foi a modernização das máquinas, mas a verdade é que aqui são reparados relógios há 100 anos. Não posso dizer que não a nenhum trabalho, porque senão o chefe faz-me má cara”, brinca José Luís, enquanto o senhor António destaca que “aqui, quando recebemos um relógio, é para fazer uma revisão completa, não fazemos trabalhos pela metade. A nossa política é fazer as coisas bem”. “Eu comecei a reparar relógios a 10 bolívares (0,10 bolívares de agora), e com isso, poupei dinheiro para casar, ir a Portugal, comprar os meus móveis, e agora se cobrasse 10 bolívares, não dava para nada. Antes eram relógios mecânicos, agora são electrónicos, é diferente. Eu, particularmente, tive que mudar de uns para outros, sem que ninguém me dissesse nada”, conta João, ao que António replica: “É que ele é autodidacta”. “É muito raro existir gente jovem na Venezuela a querer aprender isto. Antes, em Caracas, havia mil relojoarias, e cada uma tinha um relojoeiro, agora há relojoarias mas sem relojoeiros. Este é um trabalho que precisa de muita dedicação, e agora não há gente que se sinta atraída por este trabalho”, diz José Luís, que exerce o ofício há quase 40 anos. “Quem não tem paciência, que não se dedique a ser relojoeiro. Gosto mais da joalharia, mas isso não dá neste pais. Adoro poder armar, desarmar, analisar... Se não fosse relojoeiro, teria sido mecânico. Se eu voltasse a nascer, voltaria a ser relojoeiro”, conclui João.


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Maria Luísa de Jesus Vieira, Conserje

“Com bastante esforço,

é possível chegar muito longe” Kenner Prieto SERGIO FERREIRA

“Pus-me bonita para as fotos”. Foi com esta frase que Maria Luísa de Jesus Vieira recebeu a equipa do Correio para falar sobre a sua vida e a sua profissão. Nascida a 19 de Setembro de 1965 no Arco da Calheta, Madeira, esta mulher é um digno exemplo de constância e trabalho. Emigrou para a Venezuela com apenas nove anos de idade, e ainda que já tenham passado 38 anos desde que deixou o seu país natal, não deixa de sentir emoção ao ouvir o nome da Madeira, uma palavra que para ela é portadora dos seus valores, inculcados pelo pai, Boaventura Vieira da Luz, e sobretudo pela sua mãe, Georgina de Jesus Vieira, que, apesar de ter falecido há 29 anos, continua presente todos os dias da sua vida. Aos 19 anos, a jovem foi mãe pela primeira vez, e dois anos mais tarde, celebrava o casamento. E assim nasceram os seus três primeiros filhos: Carmen Helena, a 6 de Outubro de 1984; José Agustín, a 28 de Outubro de 1986; e Maribel, a 17 de Julho de 1989. “Foi um casamento muito rápido e por vontade própria. Os primeiros anos foram muito felizes, mas depois a situação mudou e divorciámo-nos; tive de refazer a minha vida e trabalhar para manter os meus filhos”, narra Maria Luísa. Depois de vários empregos

temporários e de uma nova filha nos braços - Rosangélica, nascida a 29 de Junho 1997 - finalmente encontrou uma oportunidade de trabalho como conserje numa residência a oeste de Caracas, onde se sentiu tão cómoda que ali ficou até aos dias de hoje. Não será surpresa para ninguém que o trabalho de conserje de um edifício com 15 andares, construído há quase 50 anos, não seja uma tarefa fácil. No entanto, Maria Luísa demonstra orgulho ao dizer que este trabalho permitiu-lhe guiar os seus filhos. “Ser mãe é maravilhoso, apesar das dores de cabeça”. Se há uma palavra que pode identificar esta trabalhadora, essa palavra é ‘esforço’. Este ofício de ‘trabalhadora residencial’, como é conhecido, começa muito cedo, e termina já passadas algumas horas da noite. Como se não fosse suficiente, as sucessivas juntas directivas não duvidaram em dar-lhe a maior confiança possível e atribuir-lhe novas responsabilidades, como guardar as chaves do salão de festas, da sala de máquinas e da bomba de água. Reencontrar-se com as suas raízes Sendo certo que o trabalho que desempenha permitiu a Maria Luísa sustentar a sua família, este ano teve uma recompensa ainda maior: Depois de tanto trabalho, esforços, poupanças e

Depois de cinco anos sem visitar a sua terra natal, e depois de muitos esforços e poupanças, esta lusitana teve a possibilidade de voltar à ilha da Madeira e reencontrar a família. dores de cabeça, planeou uma viagem ao seu país de origem, onde o pai, Boaventura Vieira da Luz, que não via há cinco anos, a esperava de braços abertos. “Correu muito bem. Estive cinco anos sem ir a Portugal, mas logo que pisei a minha terra, foi como se nunca tivesse saído”, comentou. Desde 8 de Setembro deste ano, quando Maria Luísa deixou, por um instante, a sua

família aqui na Venezuela e decidiu reencontrar-se com o pai, teve oportunidade de percorrer os lugares de que gostava tanto em pequena. “Foram momentos pelos quais estou grata, e que me trouxeram muitas recordações”, diz, comentando que passou o aniversário em Portugal, na companhia do pai, familiares e amigos, mas sentindo a falta da companhia dos seus filhos. A 7 de Outubro, data de re-

Passos para ser uma boa conserje › Levantar-se todos os dias com alegria e realizar as tarefas com carinho. Apesar de a limpeza poder ser entediante, há sempre momentos de satisfação e desfrute. › Tratar os proprietários com todo o respeito que eles merecem e ao mesmo tempo, demonstrar que és uma pessoa digna de ser respeitada. › Deve-se ser responsável no cumprimento de todas as tarefas marcadas diariamente, e estar atento ao mínimo detalhe. › Não defraudar a confiança que os responsáveis do prédio e proprietários depositaram em ti: A confiança tarda em conquistar-se, mas é muito fácil perdê-la. › E o mais importante é saber que esse ofício é digno de orgulho, pois é como qualquer outro: Permite-te manter a família e cumprir os teus sonhos e metas.

gresso à Venezuela, despediu-se do pai entre nostalgia e muitas recordações. “O mês que estive lá passou a voar, senti que não desfrutei tanto como queria, já que para mim, o tempo passou num abrir e fechar de olhos”. De volta à realidade, esta madeirense continua a exercer o seu ofício com orgulho, sabendo que este lhe permitirá cumprir o sonho de levar o seu núcleo familiar a terras ibéricas. “Os meus filhos ainda não tiveram a oportunidade de conhecer Portugal, mas nos meus planos futuros, espero ter a possibilidade de levá-los. No momento, não conto com recursos económicos suficientes para planear outra viagem, já que as passagens estão muito caras e gastei as minhas poupanças nesta viagem”, explicou. “Digo sempre aos meus filhos que se planearem algo e lutarem para que aconteça, tudo aquilo a que se proponham na vida pode ser alcançado. Há que empenhar-se nas coisas para que resultem. Com bastante esforço, é possível chegar muito longe”, finalizou, com o imenso sorriso que a caracteriza no rosto.


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Graça Maria Almeida dos Santos, Pasteleira

“Fazer bolos

é o meu anti-stress” Joel Melin Abreu jmabreu@correiodevenezuela.com

Fazendo o que mais gosta. Foi assim que Graça Maria Almeida dos Santos nos recebeu na sua casa para contar um pouco da actividade a que se dedica. Com grande habilidade para os trabalhos que requerem arte manual, sempre teve muito jeito para confeccionar sobremesas e também para decorá-las, dando-lhes vida e cor, como se tratassem de um conto de fadas. “Sempre tive habilidade para os trabalhos manuais e com eles ocupava os meus tempos livres. Mas de entre todos, aquele com o qual tive sempre mais afinidade foi com a Pastelaria. Fazer bolos para os finsde-semana era como um “anti-stress”. Era sempre eu que os fazia. Não só os de casa. Também os bolos de aniversário para as meninas da família”, comentou Graça dos Santos. Confeccionar um bolo converteu-se numa arte que nem todos conseguem atingir níveis de perfeição. Isso nunca foi obstáculo para esta portuguesa nascida em Aveiro, que, continuamente, tem se aperfeiçoado e apresenta uma evolução muito interessante no seu trabalho. Já começou há muito tempo, por volta dos anos 80, e a prática conta muito. “Com o tempo eu transformei-me em autodidacta. Comecei por comprar revistas, colecções, livros, etc.. Enfim, qualquer material de onde pudesse retirar uma lição. Vi muitos programas de televisão sobre esse tema específico. Era uma ajuda que tinha, mas a verdade é que na hora de criar e de executar dava-me sempre melhor a mexer na massa”, acentua a pasteleira Graça dos Santos. Cozinhando ilusões apenas Entre misturas de ingredientes destaca-se neste cenário o olhar profundo da Graça Maria, o que denuncia a concentração que coloca no seu trabalho. Ela própria nos afirma a responsabilidade que sente cada vez que alguém confia em si para representar um momento de ilusão num bolo. “Quando alguém me pede um peça de pastelaria, transmite-me a ideia do que quer e isso para mim é a sua ilusão. O meu trabalho é transformar a ilusão em bolo. Não só me comprometo

com o cliente, mas também comigo própria”, assegura Graça Maria tem procurado transmitir à sua filha mais velha esse compromisso para com os outros. Shirley também é Chefe e partilha com a mãe o mesmo desejo culinário. Graça disse-nos com grande satisfação, que o seu maior orgulho são as duas filhas: a que segue as pisadas da mãe e a mais nova, Sheyla. Doce inspiração Logo que coloca a sua próxima obraprima no forno, Graça comenta com muita segurança que agradar aos clientes não é uma tarefa fácil, além do mais quando o trabalho é fazer um bolo para um evento que sirva para homenagear alguma pessoa. “Eu sempre pergunto sobre as cores, o tipo de decoração que mais gostariam, sobre o cartão de convite e sobre o género de pessoas que estarão na festa. Com essa informação crio o desenho, o qual apresento em esboço ao cliente e depois fazemos as modificações que tenham de ser realizadas até que o cliente esteja satisfeito. Depois concretizo o projecto. Geralmente, fica mais bonito”, refere Graça entre sorrisos. Depois de aproximadamente 45 minutos, o cheiro proveniente do forno começa a alterar as papilas gustativas dos que estão presentes e é neste momento que Graça pede à sua filha que prove a massa do bolo, pois não pode fazê-lo por um problema com o seu nível de açúcar. “É porque sofro de diabetes”, justifica a pasteleira sem preocupação alguma, afirmando que isso nunca foi uma barreira para o seu trabalho. “Isso foi um problema ao princípio, mas já não me limita em nada. Sou diabética controlada e conheço as limitações que tenho. Sempre que faço um bolo, sempre aparece alguém que o pode provar. Jamais decoro um bolo sem saber se está bom de sabor. Embora não tenha necessidade de provar, o certo é que algumas vezes, quando faço alguma combinação nova, caio nessa tentação. Mas não me afecta negativamente”, confessa, ao mesmo tempo de agradece a Deus. Ao finalizar a decoração do bolo e a conversa que teve connosco a propósito do aniversário do CORREIO de Venezuela, Graça Maria, de sorriso cúmplice, pergunta se não queremos encomendar o nosso bolo de aniversário. Perante o silên-

Apesar de viver na Venezuela desde os seis anos de idade, Graça está grata aos seus pais por terem mantido em casa as tradições portuguesas, o que contribuiu para a sua formação como pessoa e despertou o interesse profissional pela arte da Pastelaria. cio prosseguiu felicitando-nos pela efeméride e recordando que o 13 é um número cabalístico, de boa sorte para muitos, motivo pelo qual nos desejou muitos 13: “Com sucessos e sempre com liberdade para informar. Que em cada edição possam dar oportunidades, como esta que me ofereceram, para que alguém, se dê a conhecer por algo de bom que faz”.

Passos que deve seguir para ser um bom pasteleiro › Ter em conta que alguém vai comer o que estamos preparando, pelo que se deve trabalhar com higiene, asseio e bom gosto. › Trabalhar um bolo sempre com inspiração, ânimo e gosto. O estado de ânimo reflectese sempre no nosso produto final. › Nunca tomar nada por garantido. O facto de hoje um biscoito ter saído bem, não significa que saia sempre igual. › O mais importante é acreditar em si mesmo, e saber que quando se faz com o coração, no momento de entrar no forno, sabemos que algo de muito bom irá sair daí.


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Joaquín Barros Nunes, motorista de autocarro

“Todo o que tenho foi conseguido com o meu autocarro” CARLA SALCEDO LEAL csalcedo@correiodevenezuela.com

Joaquim Barros Nunes já leva 27 anos consecutivos a trabalhar ao volante de um autocarro. De segunda a sexta-feira inicia a sua jornada de trabalho pelas quatro horas da manhã, quando chega à paragem de Las Minas de Baruta, para “fazer zona”, que é a fila que devem fazer os motoristas para assinarem a rota do dia. Joaquim nasceu neste sítio em 1966. Mas quando chegámos à paragem das famosas quatro esquinas do Bairro Las Minas e perguntámos pelo motorista de origem portuguesa os seus companheiros gritaram: “Português vieram entrevistar-te!”. Recebeunos na sua unidade falando um português perfeito, como se acabasse de chegar de Lisboa, bem modelado e pausado. ”Vamos dar uma volta. Nasci aqui em Las Minas, mas sou português”, esclarece logo, antes de mais perguntas. Logo que saiu da paragem penetrou no caos que normalmente apresenta o trânsito em Caracas. Um carro acidentado – como se alguém o tivesse planeado para esta ocasião – acaba de paralizar o tráfego, e o autocarro de Joaquim fica atravessado tapando as quatro ruas que convergem no ponto, onde é bem evidente o caos e a anarquia dos veículos. Perante a indiferença das pessoas, o motorista decidiu descer do autocarro e começou a empurrar o automóvel acidentado. Logrou a solidariedade de alguns transeuntes que ocorreram a ajudá-lo. Resolvido o problema, iniciámos a viagem.

Um trabalho de responsabilidade “Comecei desde rapazinho. Logo que pude tirar a licença de condução comprei o meu primeiro autocarro com o apoio do meu pai. Tinha 21 anos de idade e nesse tempo achei que seria muito bom ‘trabalhar la ruleta’, que é o mesmo que dizer trabalhar como motorista de autocarro. O meu pai tinha uma casa de bilhares e eu ajudava-o, mas não gostava, pois havia muitos malandros por lá. Convenci então o meu pai a emprestar-me o dinheiro para comprar o primeiro autocarro, pagando-lhe depois com o produto do meu trabalho”, contou-nos o Joaquim. O pai chegara a Venezuela no ano de 1954 procedente de Arcos de Valdevez, distrito de Viana do Castelo, e casou anos depois com uma madeirense, oriunda do Funchal. Joaquim e os seus irmãos nasceram em Las Minas de Baruta, quando a zona era habitada por muitas famílias portuguesas e ali se vivia com tranquilidade. Recordo-me que estive 15 dias praticando com o autocarro, porque não é o mesmo que conduzir um carro ligeiro ou um camião cheio de hortaliças. Isto é um transporte cheio de gente. Era um autocarro de 22 passageiros. No primeiro dia fui um pouco assustado, porque entendi desde esse momento que levava às costas uma grande responsabilidade, mas graças a Deus decorreu tudo bem. A primeira volta foi na rota ChacaítoLas Minas”, foi-nos contando o Joaquim Nunes. Desde então são aos milhares as experiências que tem vivido a bordo das suas viaturas. Com o seu trabalho

Nascido em Las Minas de Baruta, mas de nacionalidade portuguesa, dedica-se ao ramo do transporte de passageiros desde há 27 anos. tem logrado comprar autocarros próprios, a sua casa e a estabilidade económica da família. Está casado e tem dois filhos, um rapaz garduado em Contabilidade e uma adolescente. “Tudo o que tenho ganhei aqui no meu autocarro”, realça Uma carreira de experiências Em 27 anos a rotina de trabalho mudou, pois agora já não trabalha só. Tem o apoio de um motorista suplente. Mais adiante encontramo-nos com um deles, que também nos saudou em português, apesar de adiantar que sabe muito do idioma, e o que sabe deve ao contacto com o Joaquim. “O que não tem paciência não serve para este trabalho. As pessoas chegam muito agressivas e grosseiras, por vezes. Além do mais há que saber lidar com a insegurança e com as filas de trânsito e engarrafamentos”, avisa o nosso entrevistado.

“O mau deste trabalho é que nos preocupamos muito, pois temos de lidar com muitas coisas. Há poucos dias deixaram-me uma fralda suja num dos assentos. As pessoas perderam muitos valores sociais”, lamenta Joaquim Nunes, que assinala as infindáveis filas no trânsito, o que exige que as pessoas venham trabalhar a pensar nesses atrasos. “Os valores que me ensinaram em casa, que são o trabalho, respeito pelos outros e levar a vida com calma, ensinaram-me que em esta carreira o problema que se ganha é o que se evita, porque aqui arriscas a tua vida todos dos dias; mas como eu não estudei, não me resta outra opção que continuar a lutar pela minha família”, assegura. ”Cada vez que saio da casa encomendo-me a Deus para que tudo corra bem e regresse com paz a casa. Agora qualquer um anda com uma pistola, pelo que sei que é melhor passar por tonto que por heróis. A maioria dos passageiros pede-se que os deixes onde possas, e isso não é necessariamente na paragem, e muitas vezes se não paras onde te dizem, ficam agressivos”, descreve Joaquim. Ao parar o autocarro na última paragem, mostra os buracos provocados por três balas em 2002, quando durante uma das suas carreiras, se encontrou com membros de dois bandos rivais, que se enfrentaram dentro da unidade até se matarem, experiência que define como a mais impressionante da sua carreira.

Há tempo para regressar Actualmente na linha há mais de 30 trabalhadores portugueses, entre sócios, choferes e revisores. Isso permitiu-lhes seguir unidos como uma grande família, procurando preservar os valores e as tradições portuguesas, pelo que os fins-de-semana são apenas para a família, enquanto que na semana trabalha para que o ofício passe para outra geração. “O meu filho entrará no negócio. Estou a treina-lo para isso, porque na Venezuela os que têm as melhores carreiras são os que ganham pior. Aqui ele pode ganhar bem e ajudar-me, porque ao estar a cargo do negócio, eu poderei fazer outras coisas como ir a Portugal no ano que vem, que é o meu desejo. Porque os meus pais vão todos os anos e toda a família já foi, mas pelo meu trabalho tenho 20 anos sem visitar Portugal, mas recordo tudo como se tivesse sido ontem, o sabor das frutas, o facto de pudermos deixar o carro aberto. Gostava de o poder encontrar como deixei, mas dizem-me que já não é igual que antes, mas acho porque é que está melhor. A verdade é que não regressamos porque nos acostumámos ao clima daqui”, revela. Ao terminar o percurso, que foi contado entre português e espanhol, utilizando distintos refrãos, diz o seu nome completo, tal como na, e deixa uma mensagem para quem deseja seguir os seus passos: “Vivo feliz na Venezuela, mas temos que ter cuidado, porque se não te cuidas aqui, não vais a viver muito”.


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José Manuel Gonçalves, Vendedor de cachorros-quentes

“João,

dame uno con todo” Kenner Prieto kprieto@correiodevenezuela.com

A comida rápida predilecta de quem vive na capital é cachorros-quentes. São muitas as ruas de Caracas que se enchem de barracas de cachorros-quentes, especialmente no horário nocturno. Na zona de Las Mercedes, na capital venezuelana, podemos encontrar João, uma referência para muitas pessoas, conhecido como o ‘homem dos cachorrosquentes de Las Mercedes’. Com hambúrgueres simples ou duplos, de carne de vaca ou de frango, e com os simples, mas saborosos cachorros-quentes, ‘João’ ganhou a fama de um dos melhores na arte da comida de quiosques de rua. Apesar de uma barraca de cachorros-quentes ser um local comercial provisório por excelência, o lugar de ‘João’, na rua Macuchies de Las Mercedes, é o mesmo há 36 anos. Contra ventos e marés, ponto de venda é hoje um dos locais favoritos dos noctívagos da zona Este de Caracas. Passado algum tempo da nossa conversa e enquanto observámos a azáfama da chegada dos clientes, demo-nos de conta de um dado curioso: É que ‘João’ não é o seu nome legal. O seu verdadeiro nome é José Manuel Gonçalves. “São tantos a trabalhar nesta zona que já todos me conhecem como ‘João’ ou como ‘El Portu’, comenta entre risos. Gonçalves trabalha no negócio da comida rápida junto com o irmão, Alberto, e com os filhos, que ajudam o pai noite após noite, a atender as inúmeras pessoas que vão ao quiosque

em busca dos cachorros-quentes mais famosos da capital. José Gonçalves nasceu numa ex-colónia inglesa, conhecida hoje em dia como Zimbabué. A primeira língua do nosso interlocutor é o inglês, pois a sua família emigrou primeiro para África, para passado um tempo rumar à Venezuela, no início dos anos 70, com a ideia de que ficaria apenas uns dias e depois iriam para os mares do Panamá, para finalmente chegar à Austrália. A Venezuela das oportunidades Durante a estadia da família na Venezuela, um parente ofereceu um trabalho ao pai de José na construção civil durante umas semanas, trabalho que deu grandes frutos à família, pelo decidiram tentar a sorte em terras venezuelanas. Mas infelizmente, um acidente na construção deixou o pai praticamente inválido. Depois do acidente, o pai de Gonçalves decidiu ajudar o irmão no quiosque de cachorrosquentes, e foi assim que ‘João’ chegou a este ofício. A pessoa encarregue de treiná-lo foi o pai. O que ‘João’ desconhecia é que, enquanto ajudava o pai e o tio, aprendia seria aquele o trabalho ao qual se dedicaria ao longo da vida. “Neste ofício, nada mudou desde que comecei com o meu pai e o meu tio. A clientela aumentou, mas de resto, tudo continua igual”, comentou. “Este é um negócio com o qual não ficamos ricos, mas mantemo-nos bem”, assegurou. Enquanto atende um dos seus muitos clientes, ‘João’ conta que a cada quatro ou cinco anos visita Portugal, recordando que a sua última visita foi a 25 de Outubro deste ano. “Uma das

Com o passar dos anos e graças ao seu carisma, ‘João’, como é conhecido com carinho, é proprietário de um quiosque que se tornou ponto de visita obrigatório para os que se deslocam nas ruas de Las Mercedes, em Caracas. razões pela qual me mantenho na Venezuela é porque tenho uma trajectória aqui e muitas raízes, pelo que não quero abandonar este país. Os meus filhos são venezuelanos, assim como os meus netos”, diz, enquanto ouve um cliente gritar “dá-me um com tudo”, ‘João’!” Um horário peculiar ‘João’ abre todos os dias a partir das 6:00pm, esperando que os caraquenhos se reúnam em redor do seu carrinho. São centenas que vêm pedir algo ao ‘amigo João’, tratando-o como irmão mesmo sem conhecê-lo. A sua fama no meio chegou a tantos ouvidos venezuelanos que até mesmo grupos e artistas se deslocam ao quiosque para provar os suculentos cachorrosquentes e hambúrgueres deste português, que nos diz, enquanto cruza as mãos: “Graças a Deus e ao meu trabalho, conheci gente muito boa, pelo que estou agradecido, e espero continuar aqui durante muito mais tempo, prestando o meu melhor serviço a quem vem com a finalidade de colocar um sorriso no rosto, e, claro, deixar os seus estômagos sempre cheios”.


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Lissete Elvira Conceição, Empregada doméstica

“Cozinho, engomo e limpo... Sinto-me orgulhosa de quem sou” Joel Melin Abreu jmabreu@correiodevenezuela.com

Para descrever a trabalhadora e dedicada Lissete Elvira de Sousa Conceição, é preciso apenas uma palavra: Vontade. Não importa a quantidade de obstáculos que a vida lhe coloque no caminho, ela insiste em continuar a lutar para seguir em frente e para ser uma pessoa melhor. Nasceu na cidade de Caracas a 25 de Maio de 1962, mas foi levada para a terra dos seus progenitores com apenas 2 anos de idade. Os pais, João de Sousa e Fátima de Sousa, nasceram em Câmara de Lobos, Madeira, mas emigraram para a Venezuela em finais dos anos 50. Decidiram regressar à terra natal quando a filha nasceu para a verem crescer com as tradições e a vida diária dos seus antepassados, mas quis o destino que a vida da pequena Lissete fosse outra. Ao chegar aos 5 anos de idade, Lissete viu os pais morrerem num acidente de viação do qual apenas ela sobreviveu. Sem familiares directos na ilha, a sua tia Mercedes Conceição acolheu-a na capital venezuelana, onde reside até à actualidade. Oriunda de uma família humilde, Lissete começou a trabalhar desde os 12 anos, pois a tia não tinha como fazer face aos custos mensais, o que levou a jovem a trabalhar como empregada doméstica em diversas casas da cidade. “É certo que no início foi difícil adaptar-me ao novo estilo de vida, mas depois de tantos anos, devo dizer que me sinto orgulhosa de quem sou e de como o consegui”, afirma. Respeito mútuo D es de p e quena que foi aprendendo a respeitar os proprietários das casas onde prestava serviço de limpeza, mas ao mesmo tempo, aprendeu como fazer com que a respeitassem a

A luso-descendente espera devolver o favor a todas as pessoas que a apoiaram desde a sua chegada à Venezuela, dando-lhe uma mão amiga nos momentos difíceis.

Passos para ser uma boa empregada doméstica › Deve-se ser honesto, sincero e respeitoso. › A ordem é primordial para deixar sempre uma boa impressão. › Deve ter sempre um sorriso para as pessoas que vivem na casa. › Acatar as ordens e respeitar sempre os horários de trabalho. › Sugerir materiais que possam ajudar a que a limpeza seja mais rápida e eficaz. › Ser cumpridor, e no caso de não poder trabalhar num determinado dia, dar conta da sua ausência, pois é um trabalho como os outros e há uma responsabilidade para com os donos das casas.

ela, com humildade, trabalho e muita vontade. “Há muita gente que pode sentir-se menos que os outros por trabalhar na limpeza de casas, mas tudo o que ganhei foi a trabalhar nessa área, de maneira honrada, pois é um trabalho como qualquer outro”, comenta Lissete, enquanto olha para a filha, que, sorridente, honra a sua mãe assegurando que, aos 25 anos, quer continuar a ser como ela. Depois de ter de começar a trabalhar em tão tenra idade, Lissete ficou grávida com apenas 15 anos, o que a obrigou a esforçar-se ainda mais para seguir e frente com a sua filha, que baptizou com o nome de Daniela Elvira da Conceição. “Eu cozinho, engomo, limpo, enfim, faço todas as coisas necessárias que devem ser feitas por quem trabalha na limpeza, e todos os dias tento fazer o meu trabalho o melhor possível, pois criei uma reputação de confiança e trabalhadora no meio, e tratei de transmitir isto à minha filha”, assinala, com orgulho. Apoiada por lusitanos Sendo luso-descendente e tendo aprendido a cultura portuguesa, Lissete ganhou, não só

o respeito, mas também a amizade de muitos portugueses da capital, mais especificamente da zona de El Hatillo, local onde faz a maior parte do trabalho. “Quando trabalhei pela primeira vez com uma família portuguesa, ganhei a sua confiança rapidamente, pelo meu trabalho árduo e pela minha educação. Isto, devo dizer, levou a que fosse recomendada em vários lares lusitanos, nos quais ainda continuo a trabalhar. Mas o mais importante é que nessas famílias, encontrei gente amiga que me ajudou quando precisei”, narra com alegria. “Espero um dia poder devolver o favor a tanta gente que me ajudou desde a minha chegada à Venezuela. Eu sozinha não conseguiria, pelo que me sino eternamente em dívida, não só com a minha tia como com todas as famílias lusas e venezuelanas que me deram a mão pelo caminho. Também agradeço ao Correio da Venezuela por dar a oportunidade a pessoas que se dedicam ao trabalho manual, que muitas vezes é deixado de lado, e por nos render, aqui, uma pequena homenagem e nos fazer sentir orgulhosos de quem somos”, afirma.


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Maria da Silva, vendedora de frutas

“Com o nosso trabalho

temos conseguido todas as nossas coisas” Carla Salcedo Leal csalcedo@correiodevenezuela.com

Num dos corredores do bem conhecido e tradiconal Mercado Municipal de Quinta Crespo, justamente no número dois, uma banca expositora de frutas que se apresenta com o fascínio de uma cena de cinema, recebe os compradores. É Novembro, mas mesmo assim há algo mais que mandarinas, uvas, melão e mamão. Há ainda mangas e também as tradicionais catanhas portuguesas. Num lado do negócio está Maria da Silva. No outro, o seu marido, que é um dos comerciantes com maior história neste local. Dona Maria saúda com um sorriso simpático quem olha os seus produtos na barraca onde atende a sua clientela desde há 29 anos. A cara de alegria e a boa disposição para atender quem se aproxima, denuncia as suas origens. Este banca de venda de fruta funciona como um negócio familiar, onde os clientes são atendidos pelos próprios donos, que procuram agradar o paladar das

centenas de pessoas que, semanalmente, visitam este popular mercado, e que desde há alguns anos conta com a força laboral da segunda geração da família. Da Madeira à Quinta Crespo Oriunda do concelho da Calheta, na ilha da Madeira, Maria chegou de avião à Venezuela, há 38 anos, depois de ter casado em Portugal. Seu marido já está por cá há cerca de 50 anos. “Eu dominava um pouquinho do espanhol quando estava na ilha, mas tive um grande apoio da parte do meu marido para adaptarme mais rapidamente ao novo idioma. Além do mais o facto de compartilhar o quotidiano com pessoas que falavam espanhol ajudou-me bastante”, disse-nos Maria da Silva, com uma dicção correcta, em que se entende perfeitamete cada palavra. “Quando cheguei, meu marido tinha um café. Depois vendeu-o para comprar uma frutaria. Foi uma mudança de ramo bem diferente, mas dentro do mesmo mercado. Não foi muito difícil aprender, porque como portugueses conhecemos quase todas as frutas. Mas tam-

bém aprendemos muito com os outros, sobretudo com um senhor espanhol que nos ajudou a conhecer o negócio; ele assessorou-nos enquanto pode e ensinou-nos alguns segredos do negócio”, adianta Dona Maria enquanto troca cumprimentos cúmplices com quem passa. Força de trabalho A rotina de quem trabalha no mercado municipal não é fácil. Para essas pessoas o dia começa quando muitos estão a começar a dormir, e não é em vão que asseguram que ter um negócio digno para receber o público custa muito trabalho e sacrifício. “Pelo menos duas vezes por semana temos que estar à uma hora da madrugada no mercado de Coche para conseguir adquirir algumas frutas e embora o Mercado da Quinta Crespo abra às cinco horas da manhã, nós temos de estar aqui antes para arranjar tudo e ter uma lista de mercadorias, limpar e também estar preparados para receber o público. Com o nosso trabalho temos conseguido o nosso lugar, as nossas coisas, muito poucas

viagens de prazer, só viajamos para visitar os nossos pais que estavam em Portugal, mas muito pouco, porque quase todo o tempo estamos a trabalhar”, comenta da Silva sobre a rotina em que combinam cada dia com o resto das suas obrigações no mercado. Em 29 anos neste sítio de Quinta Crespo, mudaram muitas coisas. Desde a administração do complexo, que antes era dos próprios concessionários e que agora está na mão da Alcadia, até à situação de concorrência com os vendedores ambulantes que rodeiam o local. “Estar dentro do mercado é muito mais seguro que estar a trabalhar na rua, mas entre as coisas que têm mudado com o tempo é que agora temos mais inspecções fiscais, e a concorrência também mudou. Antes a maioria das pessoas trabalhava a sério. Agora encontra-se muita gente que só trabalha por trabalhar e não porque gostam de fazer o que fazem. Entre as coisas que são mais óbvias, as balanças e os pesos com que trabalhamos mudaram: agora são electrónicas”, diz.

Aqui ficámos Maria da Silva é uma dessas trabalhadores exemplares com quem dá gosto conversar. Não só tem capacidade para reconhecer uma fruta e responder na hora ao cliente ou a quem passa pela sua barraquinha, como também descreve com exactidão as características e benefícios que tem cada uma delas. Com esta mesma força de trabalho, faz da Venezuela um local que sente mais seu que ninguém. “Aqui temos tudo, constituímos família, amizades, uma casa. Quando eu e o meu marido viemos para cá já tinha esta ideia de criar raízes na Venezuela. Agora voltamos a Portugal, que adoramos e onde temos família, mas não é o mesmo, é normal que as pessoas nos olhem como um estranho. É como ser considerado estrangeiro na sua própria terra. No início foi muito difícil ganhar carinho à Venezuela, mas depois aprendes a querer-lhe. O que disser que não quer a este país, é porque só veio para cá fazer dinheiro”, conclui Maria Silva antes de continuar o seu trabalho.


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Rafael Soares da Costa, Mecânico

“Estou na Venezuela

porque amo e quero este país”

Kenner Prieto kprieto@correiodevenezuela.com

R afael S oares da C osta, oriundo da zona de Oliveira de Azeméis, Portugal, nasceu a 2 de Março de 1941. Chegou à Venezuela a 27 de Janeiro de 1957 com apenas 16 anos de idade. É casado há 49 anos e tem dois filhos, Víctor Soares e Betty Soares. Como muitos emigrantes, Rafael chegou à Venezuela ‘com uma mão à frente outra atrás’, sem nada… Começou a trabalhar como varredor numa oficina mecânica, para depois ascender ao posto de ajudante de mecânico. Passados cinco anos a trabalhar como ajudante, Costa decide começar a estudar mecânica. Graças à experiência adquirida nos seus anos de trabalho na área, conseguiu um diploma em mecânica, e teve oportunidade de fazer cursos preparatórios em duas empresas reconhecidas a nível mundial, a General Motors e a Ford. Mas da noite para o dia, Rafael começa a sofrer falhas repentinas da memória e devido a este problema, decide mudarse para Margarita, onde esteve durante oito anos, procurando afastar-se do agitação que a vida em Caracas lhe causava. “Foi tão grande o êxito da oficina que saí

Ainda que Rafael assegure que Portugal é o seu país querido devido à sua origem, também afirma que se sente parte da Venezuela, pois foi aqui que cresceu pessoal e profissionalmente. de lá louco, depois de 40 anos”, assegurou. Trabalhando e educando Depois de tantos anos de experiência e trabalho duro, Rafael não só foi mecânico, mas também professor de muitos dos trabalhadores da oficina, pois era ele o encarregado de preparar todos os empregados para o melhor desenvolvimento possível nas tarefas desempenhadas. Hoje em dia, todos os que nalgum momento estiveram sob a tutela de Rafael são mecânicos estupendos, conhecedores do seu ofício e de como lidar com os clientes. Actualmente, Costa continua a trabalhar como mecânico, ainda que não de maneira activa, como há 40 anos, mas de vez em quando mete as mãos no capot de um carro e recorda os velhos tempos. Rafael recebe carros de diferentes partes da Venezuela, como Valência e Barquisimeto, e inclusive até teve oportunidade de tratar veículos trazidos do

Curaçau. Depois de ter criado uma reputação no meio como um dos melhores mecânicos da zona, é rara a vez que Rafael pode estar em público sem que haja alguém a procurar os seus conhecimentos para reparar alguma falha no seu automóvel. “As filas de clientes na parte de fora da igreja onde eu ia era pa-

ra de ficar louco”, comentou. Quando Costa começou nesta oficina, esta abarcava uns 400 metros, mas perante o êxito do espaço, este foi ampliado até ao ponto de hoje ter três andares e uma área de 3 mil metros. Actualmente, uma das distracções de Rafael é trabalhar as ‘tablitas’, ou trabalhos de

carpintaria. O hobby começou desde que o seu filho Victor lhe ofereceu umas ferramentas sem fios com as quais Rafael cria brinquedos para os netos, ou faz pequenos trabalhos em sua casa que não requeiram maiores conhecimentos na área da carpintaria. Agradecido à vida “Graças a todos os anos de trabalho e esforço, posso dizer que Deus me premiou com tudo o que alguém precisa”, confessa, comentando que no seu caminho, encontrou aquele para ele foi o seu segundo pai. A relação entre Rafael e Carlos Tovar Reyes foi tão sincera que ele queria montar uma oficina na zona Este, com todos os equipamentos que Rafael precisasse. Tovar dizia que a qualidade de trabalho de Rafael não podia estar em La Vega. Em breve irá celebrar o 50.º aniversário de casamento, pelo que se prepara para viajar até ao Portugal que o viu nascer, junto com familiares e amigos. A celebração será um momento especial na vida de Rafael da Costa, pois decorre em Setembro de 2013 na mesma igreja e com o mesmo padre que os casou há meio século. Rafael assegura que a Venezuela é mais do que um país para ele, pelo que finaliza a entrevista afirmando que “estou na


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Agostinha Pereira, Jardineira Mesmo já tendo sido sequestrada quando estava a trabalhar no seu viveiro a fazer uns arranjos florais, nada tira a Agostinha Pereira a vontade de continuar rodeada do que mais gosta: As flores.

“O melhor trabalho da minha vida

é cuidar de flores” Joel Melin Abreu jmabreu@correiodevenezuela.com

Passava do meio-dia e caía uma chuva tormentosa quando Agostinha Pereira nos recebeu à porta do seu viveiro, local onde trabalha há mais de 20 anos junto com o marido, Mário Faria. “Apesar de todo este cinzento, aqui dentro as cores são sempre vivas graças às flores”, comenta, apontando para umas orquídeas que estão à sua direita. “Cada vez que estou rodeada de flores, lembro-me da minha terra natal, a Madeira. Lá em Câmara de Lobos, as flores dão com uma facilidade que quase não é preciso cuidar delas. Aqui, apaixonei-me pela arte de ter um jardim arranjado”, recorda. Agostinha nasceu a 15 de Outubro de 1953. Com apenas 28 anos de idade e recém-casada, decide vir para a Venezuela junto com o marido para poder ter uma vida melhor na terra da qual familiares e conhecidos diziam maravilhas. Isto acontece a 1 de Maio de 1981, data em que as flores venezuelanas viram chegar alguém que cuidaria delas como se fossem suas filhas. A nossa conversa começa com alguma emoção e quase sem precisar de perguntas, pois Agostinha fala sem necessidade de interrupções. “O meu amor por este trabalho começou bem

cedo, nos jardins da casa dos meus pais em Portugal. Depois, quando casei, o meu marido trabalhava num viveiro, até que conseguimos comprar um terreno aqui em La Unión, em El Hatillo, e começámos a oferecer os nossos serviços”, conta. O trabalho de Agostinha e do marido não se fica pela simples venda de flores: Seguem o processo desde a sementeira até ao processo de venda e transporte, para além de fazerem ramos e jardins repletos das melhores flores com as mais vistosas cores. “Nós plantamos todas as flores que vendemos aos nossos clientes. O carinho e a dedicação que colocamos no nosso trabalho não têm preço, pois é algo que fazemos com gosto, porque nos agrada. São como bebés que precisam de ajuda para poder crescer”, comenta, sorrindo, enquanto observa a sua única filha, Luci Faría. Satisfazendo os clientes “Quando um cliente vem pedir a nossa ajuda para decorar um jardim, nós pedimos para ir a sua casa ver as cores das pinturas, o espaço do jardim, e tentar perceber exactamente o que querem. Depois disso, fazemos uma espécie de mapa mental e explicamos ao cliente o que ficaria melhor, tendo em conta todos esses detalhes”, explica. A chegada de um cliente in-

Passos para ser um bom jardineiro › Há que conhecer as melhores técnicas para semear e desenvolver uma planta. › É importante conhecer um pouco de decoração, pois nem sempre as flores mais belas ficam bem em todos os tipos de jardins. › Desde uma foice até à água, todos os materiais que usamos devem ser da melhor qualidade possível. › Há que ser consistente, pois sair da rotina na hora de cuidar do desenvolvimento das nossas plantas pode levar à perda de todo o trabalho realizado. › Ouvir sempre os clientes, mas ao mesmo tempo é nosso dever fazer as nossas recomendações e aceitar o que eles queiram, ainda que às vezes não seja do nosso completo agrado.

terrompe a nossa conversa e Agostinha começa a explicar-lhe como cuidar dos seus pinhos, ensinando-lhe umas técnicas que ajudarão a planta a crescer e a não morrer. “Eu não sou egoísta na hora de transmitir a alguém o meu conhecimento. Todas as pessoas que vêm aqui perguntar-me como melhorar o seu jardim, o que devem fazer para que certas plantas não morram, recebem uma resposta sincera da minha parte, porque para mim é um prazer que os meus conhecimentos ajudem a manter radiantes as flores de que tanto gosto”, explica. Trabalhando com gosto “Todos devemos fazer algo a que nos dediquemos porque gostamos. Para semear e cuidar de flores, há que levantar-se bem cedo todos os dias, cumprir horários de rega, saber quando tirar, ou não, um determinado tipo de flor da sua raiz, gerir as temperaturas, a quantidade de água e até o sol a que podem resistir. Há que gostar disto, e para mim, o melhor trabalho da minha vida é cuidar de flores”, diz, enquanto protege umas flores da chuva incessante. Nem mesmo o sequestro de que foi vítima há mais de dois anos conseguiu apaziguar a vontade de continuar a ajudar os vizinhos da zona a ter jardins mais bonitos, pelo que ao narrar como a raptaram dentro do seu viveiro e os dias que esteve em cativeiro, Agostinha diz: “Convido todos os portugueses e venezuelanos deste país a que lutem pelo que gostam de fazer, e que tratem de vencer todos os vossos medos, para que possam continuar a fazer o que gostam”.


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Laura Varela, massagista da dor

“Sinto-me feliz por cada pessoa

que ajudo” Carla Salcedo Leal csalcedo@correiodevenezuela.com

Há pessoas que nascem com um dom, o dom de ajudar o próximo, e que, sem se importarem se vão ser julgadas por isso, procuram forma de fazer o bem e deixar, assim, uma marca profunda na sua passagem pela terra. Uma dessas pessoas é Laura Varela, natural dos Canhas, Ponta do Sol, uma madeirense que nasceu numa das zonas mais planas da ilha, e que desde pequena ajudou quem a rodeia partilhando alguns remédios simples. “A minha mãe contava que, um dia, quando eu tinha mais ou menos três aninhos, o meu irmão era bebé, e ela estava na parte de fora de casa. Quando vinha a chegar, ouviu o bebé chorar, e eu dizia ao bebé que ficasse tranquilo, porque a mamã já vinha. Entrou devagarinho e via que eu repetia isso e que lhe massajava a barriga com banha de porco, até que ele adormeceu. Depois, acontecia qualquer coisinha e eu automaticamente sabia como faze-los sentir melhor, sabia curar as feridas, acabar com as cólicas, etc. Ninguém me ensinou, as coisas aconteciam e eu sabia o que fazer”, conta dona Laura. “Lembro-me que uma vez deu-me uma cólica, era pequena, e quando a minha mãe foi fazer-me um chá, eu deitei-me de barriga para baixo, directamente no chão, e quando senti o frio do chão, passou-me a dor. Por conta desse episódio, já aqui na Venezuela sempre tivemos uma pedra plana no frigorífico para quando os meus irmãozinhos tivessem cólicas, e recomendo o mesmo a todas mulheres, quando me dizem que estão grávidas ou que têm bebés. Vão à praia, juntem uma pedra plana e mantenhamna no frigorífico. Quando o bebé tiver alguma cólica, ponham-ma na zona do umbigo, pois isso é mais rápido que qualquer remédio”, garante.

Mas sendo certo que, com alguns simples remédios, Laura tem vivido com o dom de ajudar as pessoas nos seus males, guarda também uma longa lista de pessoas que retomaram as suas vidas normais pelas massagens que lhes dá. Chegar a ela não foi fácil, considerando que tem cada vez menos tempo disponível, pois a sua fama de reabilitar pacientes de diferentes idades que tinham perdido a mobilidade nalguma zona do corpo tem sido tal que já não tem mãos a medir. Da clandestinidade à popularidade A sua mãe e o marido não estavam de acordo que Laura tornasse público que podia ajudar as pessoas. “Eu curava as pessoas às escondidas, porque a minha mãe e o meu marido não entendiam o que eu fazia, e não gostavam. Sempre o fiz para ajudar as pessoas, nunca cobrei nada senão a partir da altura que o meu marido morreu. Continuo a fazê-lo para ajudar as pessoas, mas agora cobro, porque preciso de dinheiro para viver”, relata. Muitas vezes, quem recorre a ela vai também para contarlhe sobre os males de amor ou os problemas nas relações familiares. A estes, dona Laura aconselha-os sempre com o seu riso característico, e diz-lhes que deixem que essa pessoa que está chateada ou afastada pise um pouco de canela e açúcar para adoçar a sua vida. Pode parecer uma receita mística, mas alguns levaram-na à letra, e assim, dessa maneira simbólica, acrescentaram doçura à vida de quem os rodeia. Não é uma espírita nem uma bruxa. Quem recorre a Laura sabe que vai receber ajuda através das suas mãos, mas apesar disso, há sempre alguém que se engana. Laura vive na Venezuela há quase 50 anos, e os últimos 10 têm sido dedicados a receber os seus já habituais pacientes de forma oficial, sem esconder-se de ninguém. “Ajudei muita gente

“Tenho vontade de fazer uma festa para celebrar o meu aniversário e a minha chegada à Venezuela, porque há muitas coisas que tenho para agradecer”

a retomar a sua vida, mas agora tenho o caso de um menino que estava totalmente imóvel e diziam que não havia esperança que voltasse a movimentar-se. Santiago tem 2 aninhos, e estou a ajudá-lo. Ele dá-me muita alegria, porque sei que a pouco e pouco, irá melhorar, e um dia fará a sua vida como qualquer outra pessoa. Tenho fé nele e sei que lhe dói quando lhe faço a terapia, mas parece que ele sabe que eu estou ajudá-lo e deixa fazer tudo”, conta. Dona Laura recebe quem a visita sempre com um sorriso, e ouve-se, frequentemente, o seu riso vindo do quarto onde atende os seus doridos pacientes. Define-se como uma massagista da dor, e adverte quem goza dela que interpretam mal a sua ocupação. “Fiz muitas coisas bonitas, ajudei muita gente, mas com esta criança que ajudo actualmente, há algo especial. Sintome feliz por cada pessoa que ajudo, mas quando ajudamos uma criança que entendemos que era um corpo que só serviria para sofrer, enchemo-nos de vida e de alegria”, destaca esta mulher conhecida por muitos como a curandeira da comunidade. E este nome ganhou força, pois é normal encontrar, no local onde vive, uma fila de pessoas à espera para ser atendida. Todas de origem portuguesa, ou que chegaram ao local por indicação de um português.

Chegou à Venezuela no dia em que fazia anos, a 29 de Setembro, e diz que quer celebrar o ‘medio cupón em grande. “Tenho vontade de fazer uma festa para celebrar o meu aniversário e a minha chegada à Venezuela, porque há muitas coisas que tenho para agradecer”. Diz ainda que “também me encarreguei de que todos estejamos ligados às nossas raízes, apesar de não ter podido regressar à Madeira, porque cada vez que planeio ir, alguma coisa corre mal, e da última vez fiquei sem vontade, porque o meu irmão morreu. Eu amo muito Portugal, compro a sua música, vejo a ilha, adoro a Madeira, recordo muito o local onde nasci. Agora digo aos meus filhos que no dia em possamos ir todos, vamos, porque se o avião cair ou acontecer alguma coisa, não perdemos nada porque estaremos todos juntos”, brinca. “Em casa, qualquer festa acaba com o bailinho da Madeira. A minha filha mais velha teve oportunidade de ir à ilha, está encantadíssima, e quem agora não conhece a ilha sou eu, que nasci lá. Adoraria ir, mas como aconteceram tantas coisas más cada vez que decidia ir, tenho mantido a ideia afastada. Procuro sempre forma de manter-me próxima da minha terra. Aqui todos falamos português, e até um dos mais pequeninos, que tem 3 anos, já fala melhor que a mamã”, conclui, entre risos.


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José Manuel de Abreu Teles, Agricultor

“Há que trabalhar muito a terra

para colher bons frutos”

Joel Melin Abreu jmabreu@correiodevenezuela.com

José Teles trabalha há 25 anos como agricultor, no que chama de o seu Junquito querido. Não tem um horário fixo, e muito menos dias da semana pré-determinados para trabalhar. Ainda que o trabalho de agricultor absorva muitas das 24 horas diárias, este emigrante de 49 anos encontrou maneira de fazer as suas coisas e partilhar com a família sem que isso seja um problema. “Ainda me lembro quando trabalhava na Ribeira Brava numa loja de vinhos com o meu pai, e ajudava-o a despachar a mercadoria. Aí comecei a entender que para ganhar a vida, há que trabalhar muito e que o trabalho acaba sempre por render os seus frutos”, assinalou, no dia em que me recebeu bem cedo, mas já com várias horas de lavoura. Logo que entrámos em sua casa, e enquanto nos deslocávamos para os terrenos, contoume que nasceu em 1952, na Madeira, na mesma localidade dos seus pais, António de Abreu Teles e Maria Trindade de Abreu. Diz, sem hesitar, que aqui na Venezuela está muito bem e que graças a Deus tudo lhe correu bem, mas mesmo assim diz que Portugal, e mais especificamente a Madeira, é único. Enquanto me dava instruções

para caminhar nos terrenos sem maltratar as culturas, chegámos ao local onde estava a semear várias verduras, e enquanto trabalhava, contava-me o que fazia. “Primeiro devemos ter boas sementes, pois sem elas não importa que a terra seja boa. O trabalho deve ser uniforme, desde o momento de arar um espaço até ao momento exacto de regar, depois de estar tudo semeado”, sublinhou, enquanto se assegurava que eu estava a prestar atenção. Em diversas ocasiões, ouviam-se os gritos de outros agricultores a pedir algum tipo de ajuda a José Manuel, mas em nenhum momento perdia a concentração no que fazia ou na nossa conversa. Continuando o negócio familiar “Passado algum tempo depois de ter emigrado, visitei os meus tios em El Junquito, que me propuseram que trabalhasse nos seus terrenos. Disseram-me que tinham um bom cliente, que é a Central Madeirense, mas que já estavam cansados e que queriam regressar a Portugal. E foi assim que enquadrámos a fazenda El Tibrón e eu comecei nesta área”. Basta ver o trabalho de semear e cuidar da terra para entender o quão difícil é a tarefa, ainda que José Teles o faça com gosto e um sorriso surja no seu rosto cada vez que apanha uma

Com 49 anos de idade, este emigrante português passou mais de metade da sua vida a trabalhar a terra, alimentando milhares de venezuelanos.

Passos para ser um bom agricultor › Primeiro é preciso ter uma boa maquinaria para trabalhar a terra; é impossível fazer tudo de forma manual. › Há que conhecer as técnicas de colheita; não é preciso tirar um curso, mas é necessário falar com pessoas que tenham experiência na área, e devemos indagar sobre novas matérias-primas. › Devemos assegurar que a água, os fertilizantes, as sementes e a terra são os elementos indicados para a sementeira que se vai realizar. › Deve haver responsabilidade pela manutenção da cultura, é preciso lembrar-se que esses alimentos serão ingeridos por outras pessoas. › E o mais importante é fazê-lo com paixão e carinho, pois quanto melhor for a nossa disposição, melhor será o produto que levamos ao nosso cliente.

fruta ou verdura, dizendo que é um trabalho feito com paixão. “Para ser agricultor, há que ter devoção, muita paciência e carinho pelo que se faz. É uma tarefa que exige muito trabalho e conhecimento, pois, dependendo do tipo de terra, temos de lavrar numa direcção específica. O mesmo acontece na hora de semear. Há que avaliar se o tipo de semente funciona para a terra que temos, quais os fertilizantes mais adequados, em que momento o produto está suficientemente maduro para ser levado até à Central. Há que ter experiência, sem dúvida alguma, mas como tudo na vida, há que trabalhar muito para colher bons frutos”, afirma, com segurança, enquanto nos mostra uma abacate, que não passava despercebida pela sua dimensão e pela cor, cheia de vida. Depois de uma manhã amena, passada à volta de maquinaria, verduras e, claro, de muita terra, Teles enviou uma mensagem a todos os seus conterrâneos para que continuem a trabalhar muito pela terra que lhes abriu as portas, e terminou com uma mensagem para o nosso semanário: “Felicito o meio de comunicação Correio de Venezuela pelo seu 13.º aniversário e que continuem a ser uma janela aberta para todos os portugueses radicados nesta terra maravilhosa, mas que continuem também com Portugal no coração”.


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22 de Novembro de 2012 // CORREIO Da VENEZUELA

Concurso 13 Aniversario do Correio da Venezuela Para assinalar o seu 13º ano de publicação o CORREIO da Venezuela organizou um concurso entre os seus leitores, no qual participaram os estudantes de Língua Portuguesa. Pretende esta iniciativa incentivar o gosto e o interesse pela língua de Camões entre os que vivem na Venezuela. Por isso convidamos os nossos leitores a escrever um texto com cerca de 1.500 caracteres, em Português, no qual explicaram: O motivo que os levou a aprender o idioma portugués; Contar um episódio curioso que tenha ocorrido durante a aprendizagem do idioma; Abordar a importância da Língua Portuguesa na actualidade, tendo em vista o contexto da globalização. Ao autor do melhor trabalho será atribuída uma viagem aérea de ida e volta a Portugal.

Nesta viagem do turismo da aprendizagem da língua portuguesa encaminhei a minha morada

Quais as são as razões para que a segunda língua pode não ser o Português?

Um dia a mina irmã chega à casa a falar que na homilia o presbítero José António, na prática diz na Igreja, que nos Altos Mirandinos as aulas do portugueses estão prontas a ser abertas as inscrições, pois a mina irmã e a mina mãe todas contestes fizeram o comentário para mim, e foi assim como inicio as aulas de português na Venezuela. Gostei tanto as aulas do professor Pinho com a historia e a cultura portuguesa, que decidi ficar para aprender da economia, política, geografia, arte, educação, o meio do trabalho, como sofreram os meus país e outras pessoas na guerra, e porque emigraram aos outros países realmente te cheia de curiosidade, mais não queria estudar português, eu dizia que já sabia falar português, até que foi a uma entrevista em Lisboa para um emprego e agora digo: conheço a beleza das praias e o turismo, mais posso dizer que agradeço o meu terceiro ano que foi realmente uma verdadeira aventura ter que aprender a dizer palavras diferentes devagar para que a mina entrevista tivesse sentido. Por isso o meu terceiro ano das aulas

Conhecer outras línguas tem muito benefícios, mas, normalmente, quando se pensa sobre as vantagens de falar outras línguas sempre acho que o que se diz por aí: “Eu subirei ao seu trabalho”, “ganhar mais dinheiro”, “irá prepará-lo para o futuro”, “vai abrir as portas do emprego”, etc.… No encanto, estas razões não são convincentes de todo. Não que as afirmações acima são mentiras, mas outras línguas na cabeça de alguém dar muito mais do que isso para uma pessoa, porque, para começar, não nasceu apenas para trabalhar, muito menos espera apenas o “futuro” que, por vezes, surpreendente. É certo, falar outra língua fluentemente se sente bem. É bom porque permite você se comunique com muitas pessoas de outros lugares, e ter acesso a muitos produtos culturais, falando outra língua, torna-o mais criativo, saber muitas cosas, faz parte do que se torna-lo mais valioso. Você aprende coisas que você nunca imaginou que você pode gostar ou fazer bem. Eu vejo onde você pode ver, falar outra língua só pode trazer coisas positivas. No caso do Português, este deve ser útil

ficou gravado no meu pensamento quando a nossa professora Layla pôs o repto de contar uma historia dos países que pertencem aos PALOPS, e tive a oportunidade de escrever uma peça de teatro do nosso São Tome e Príncipe; gostou tanto que entendi a verdadeira ciência da aprendizagem da língua portuguesa e tão distinta que falar o “PORTUNHOL”. E a melhor anedota que tenho que escrever para fazer a peça, tive que estudar os países com a sua historia, os centros de saúde, os automóveis, o seu meio de transporte , os seus príncipes, os seus reis, a população, as divisões geográficas, qual e o seu meio de vida, as tradições, a vestimenta não era fácil mais ter as ideias que força de aprender é ser o melhor para dizer bem tudo, perguntar como se diz uma coisa e outra e realmente diferente, e nesta peça que nasceu a famosa “Clarinha” que a melhor lembrança da minha vida, da minha turma todos o possuem no cérebro (...) + www.correiodevenezuela.com

Fátima C. Ramos M.

para todos, pois não é apenas “saber uma língua”, também está aprendendo com milhares de formas, que os esforços para acabar se eles são dignos. Também aprender Português não é “mais” ou “outra língua”, ensina-nos a melhorar a inteligência, para alargar horizontes, diz a frase de Santo Agostinho: “não importa o quão longe você chegou, o ideal é sempre mais lá”. Aprenda Português em algum momento de nossas vidas, que será útil, se você começa a viajar, temos de ler Português, no estudo, ou qualquer outra circunstancia, nós o faremos. Desde Português é actualmente a sexta língua global, a língua oficial de sete estados, de três continentes. Além disso, somos ensinados a falar, para ser tornar amigos de trabalho e esforço diário. “Aprender a língua é a chave para construir a confiança e relações de longo prazo”. A importância do Português, hoje tornouse uma ferramenta de negócios.(...) + www.correiodevenezuela.com

Juan Miguel Da Silva Fernández

“Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”

Aprender português não é simplesmente falar o idioma

Quando fala-se sobre o mundo fala-se dos muitos países, regiões, culturas, costumes, línguas e especialmente fala-se das pessoas que vivem, convivem e interagem uns com os outros para fazer todo o universo move-se ao redor. Cada uma dessas pessoas tem buscado maneiras de conseguir transmitir as suas ideias para proporcionar um grão da areia na construção de uma natureza comum, de um trabalho em conjunto que tem sido formalizada e tem sido chamada sociedade. Do mesmo modo, esta organização não teria lugar se não tivesse algum material para mantê-lo unificado, um componente essencial com que o homem tem sido capaz de comunicar-se, tenha tido a oportunidade de falar e ser ouvido, este componente fundamental é que hoje chama-se linguagem, como disse Leopold von Ranke “quem diz o homem, diz o idioma, e quem diz o linguagem, diz a sociedade”. Da mesma forma, depois da consolidação da língua, cada região que compõe o planeta foi caracterizada pela criação de sua própria língua. No entanto isto trouxe a falta de comunicação e interacção global porque era extremamente difícil de

Há 54 anos que o meu pai deixou a sua terra natal, a ilha da Madeira, para vir cá a Venezuela, onde encontrou-se com minha mãe que também há 38 anos que cá está. Poucos anos depois nasci eu, para ser criada num lar de cultura portuguesa mas desenvolvida entre venezuelanos. Sentindo-me estrangeira no meu país, sentindo dentro de mim, meu coração dividido em dois amores mas privilegiada por ser parte de duas culturas, de compreender dois idiomas e pertencer a dois continentes, começou minha viagem por aprender o idioma português, aquela língua portuguesa, a quinta mais falada no mundo, que foi levada para lugares distantes pelos marinheiros durante a era dos descobrimentos. Desde esse instante aprender português não é simplesmente falar o idioma, aplicar regras gramaticais ou melhorar a sua pronúncia, mais do que isso, é transmitir, perpetuar a identidade cultural do português de hoje em dia, o português de sempre, muitos deles que sem importar a distancia continuaram a própria preservação do idioma além de encontrarse com outras línguas. Aprender português, esta língua de

entender que disseram as pessoas do outro país. É por isso que houve a necessidade de aprender outras línguas. É verdade que aprender um novo dialecto não é fácil, mas também é verdade que quando se vive um mundo globalizado como no que estamos vivendo agora é necessário fala numa segunda língua, até agora não há grandes distâncias, com o avanço da tecnologia, se pode viajar para outro país em poucas horas ou apenas com uma chamada de vídeo você pode-se ver ao outro lado do mundo sim sair da casa. Com tal proximidade que há é impossível pensar que o homem comece a cavar uma fresta que ao longe do resto do universo só porque não sabe comunicar-se. Como John Loche disse: “Deus criou o homem como um animal social, com a inclinação e sob a necessidade de viver com os seres da sua própria espécie, e tem dado a ele. A linguagem, para que isso sirva do grande instrumento e gravata comum da sociedade” confirmando assim que os seres humanos não podem simplesmente ignorar o que está acontecendo ao seu redor, devem levantar-se e (...) + www.correiodevenezuela.com

Samira Sánchez El Rifaie

Camões, é ser parte dum sentimento nacional, é fraternidade, é a força do amor pela nação, para eternizar de geração em geração e através das palavras: costumes, tradições, crenças. Para formar um laço que junta a todos seja onde seja que nós encontrarmos. Para mim, aprender a falar português é ser parte desta tarefa, mesmo sendo luso-decendente, sobretudo neste mundo tão globalizado que tem por tendência ensinar e promover, de forma massiva, o domínio do idioma chamado universal. Além disso, falar português é uma possibilidade de possuir maior desenvolvimento na procura dum emprego , a oportunidade de participar em intercâmbios culturais ou de negócios, também, concretizar metas pessoais: obter a certificação de domínio da língua, emitido pela Universidade de Lisboa, fazer o que os meus professores fazem agora: contribuir com a manutenção e expansão do português, sua cultura e ensino, pela importância como língua de relação internacional. María Alexandra Fernánces Gonçalves


22 de Novembro de 2012 // CORREIO DA VENEZUELA

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22 de Novembro de 2012 // CORREIO Da VENEZUELA

Concurso 13 Aniversario do Correio da Venezuela Quero conhecer mais sobre a cultura

Expectativas para estudar a língua

É lindo conservar as nossas raízes e conhecê-las bem, sobretudo quando tomas consciência da quantidade de portugueses que saíram do seu país tão jovens e chegaram à Venezuela sem conhecer os seus costumes nem o seu idioma, e sem importar todos os obstáculos, seguiram sempre a sua luta, ajudando os pais, e constituíram família, dando aos filhos a possibilidade de conhecer a sua história e ensiná-los a amar o seu país de origem tanto como eles. É por isso que estudo português, quero conhecer mais sobre a cultura, quero poder expressar-me com a escrita e ler a sua história sem ter que perguntar ou procurar no dicionário o significado da alguma

Quando éramos miúdos, andávamos sempre com uma bola a jogar futebol, e um dia ouvimos falar do Rei Pelé. A equipa do Brasil venceu o campeonato mundial de futebol. O Rei Pelé era a estrela do momento e os jornalistas faziam sempre entrevistas colectivas e era ele quem mais falava, mas nós não apanhávamos nada porque não sabíamos a língua portuguesa e ficamos na expectativa de algum dia poder compreender o que o Rei dizia. Perguntámos: O que fala o Rei? Os mais crescidos disseram que é o idioma português que falam no Brasil. Comprámos um vídeo depois de o Brasil se ter comprometido a organizar o próximo mundial de futebol, e isso foi um grande motivo para nos inscrevermos no curso de língua portuguesa. Agora que estudamos a língua portuguesa,

palavra que não conheça. Estou há tempo no curso, no nível de iniciação, portanto, não tive ainda nenhum episódio curioso. Além disso, tenho reparado que há palavras que eu pronunciava de forma errada; por isso os cursos são importantes, para um melhor conhecimento e desenvolvimento das pessoas nos países da língua portuguesa. O idioma português é um dos mais falados no mundo, portanto é importante ter uma boa iniciação, porque muitas empresas precisam de pessoas que entendam as suas raízes e tenham conhecimento para apresentar o seu trabalho. Marlene Dias

espantámo-nos porquê que há muitas palavras que não são da língua padrão e que são um perigo para a mesma, porque chegaram ao português através da globalização, e que a auto-estrada foi a nova tecnologia e as suas palavras técnicas. Por isso, as autoridades competentes tiveram a iniciativa de fazer um acordo para unificar a língua portuguesa, que é falada nos quatro cantos do mundo, e chamar as coisas pelos nomes em português. Nós, os que estamos a frequentar aulas, queremos chegar à baliza com a firme intenção de sermos tradutores, escritores, e de falar bem, para assim (...) + www.correiodevenezuela.com

Héctor Raúl Ledezma Rivero

Outro mundo no meu mundo A minha motivação para aprender, não só a língua portuguesa mas também sobre o país, começou quando conheci um amigo português. Ele falava com muito orgulho da sua família e do seu país, Portugal. Ele e a família vieram para a Venezuela no ano de 1967. O seu irmão, mãe e pai voltaram para Portugal há alguns anos, mas ele, meu amigo, não quis voltar, diz que a Venezuela roubou o seu coração, que ama muito este país, a sua gente, o seu clima. Diz também que se sente mais venezuelano que a arepa, mas acho que ele sente muitas saudades de Lisboa. Digo isto porque ele não pára de falar sobre as suas origens, da sua infância feliz lá, da qualidade de vida que agora pode ser vivida em todo o Portugal. Diz também, com os olhos brilhantes, que “Portugal é um país com um grande número de monumentos reconhecidos pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como Património Mundial da Humanidade”. Cada vez que fala, usa palavras em espanhol e pensa que está a falar

português (narina por nariz, aula por clase, sacola por bolsa,..., ) e quando escreve, é pior ainda (através por a través, vezes por veces), e não se dá de conta dos erros. Diz que falar línguas de diferentes raízes é mais fácil do que falar duas línguas de origem latina. Essas misturas entre português e espanhol despertaram em mim a curiosidade de aprender a língua portuguesa, e porque não conhecer, um dia, o grande Portugal. Agora, aprender o português é para mim um desafio. Penso que, agora mais do que nunca, a língua portuguesa tem um papel muito importante em todo o mundo, os acordos assinados entre a Venezuela e Portugal e também com o Brasil abrem as portas, profissionalmente, para os jovens venezuelanos. Também nas redes sociais é uma das línguas mais usadas. Finalmente, posso dizer que agora que conheço os portugueses e a sua língua, sinto que descobri outro mundo no meu mundo. Eddy Luz Chacón

Portugal: uma cultura e uma língua expansível mundialmente Qual é a verdadeira razão que nos leva a aprender um novo idioma? Neste caso específico, o português? Para muitos, o facto de uma pessoa próxima falar nessa língua gera um interesse em aprender também. Para outros, a aprendizagem da língua é uma nova porta que se abre no plano de curso. E para alguns, é o desejo de conhecer outra cultura. No meu caso, é uma combinação da primeira e da terceira, porque Portugal é um país pequeno, tem uma longa história no mundo e merece ser uma cultura e

uma língua expansível mundialmente, principalmente por aqueles que são descendentes deste país, demonstrando uma cultura cheia de tradição, na qual temos orgulho, bem como de sermos portugueses e luso-descendentes. Estou há pouco tempo no curso e por enquanto não tenho nenhuma experiência, mas tenho aprendido várias palavras que não conhecia. Daniela Dias

Um idioma muito interessante Chamo-me Beatriz. Sou venezuelana e o meu marido é português. Desde que casei comecei a ouvir o idioma e entendo-o, mas não o falo bem e também não o sei escrever. Já fui muitas vezes à Madeira e sinto-me limitada por não saber falar correctamente; isto motiva-me a aprender o idioma. Chama-me muito a atenção e gosto de estar no curso. Fiquei muito surpreendida com a gramática da língua portuguesa, é muito diferente da venezuelana, e custa-me pronunciar algumas palavras e saber onde colocar os acentos, mas acho que é um idioma muito interessante e gosto de o aprender. Saber o idioma português é importante na actualidade porque: Permite conhecer e compreender a história, cultura e folclore

de um país maravilhoso e de gente trabalhadora que serve de exemplo a outros países; Enriquece o curriculum das pessoas que trabalham noutros países do mundo com empresas brasileiras e portuguesas; Oferece um maior desenvolvimento às pessoas que têm relações sociais com portugueses. Aos filhos de portugueses nascidos noutros países, aprender a língua portuguesa permite-lhes conhecer correctamente a pronúncia, entoação, expressão e escrita, e que ajuda a que a língua tenha continuidade nas gerações seguintes, evitando que se perca tão importante idioma. Beatriz Bellomo

Uma nova língua, um novo mundo Uma das primeiras coisas que tive de aprender como estudante de Relações Internacionais, quando iniciei a universidade, é que o mundo não é um lugar fácil de analisar nem compreender. Cheio de tantas realidades, países e pessoas, o nosso planeta impõe um grande desafio para os alunos que tentam aprender sobre ele e explicar o seu funcionamento, especialmente pelas grandes distâncias e barreiras que os idiomas estabelecem. No âmbito da minha carreira universitária, entendi que apesar de, no século actual, a globalização ter um papel importantíssimo na aproximação dos países e continentes, é praticamente impossível conhecer completamente outras culturas, costumes e formas de pensar sem aprender novas línguas ou contactar directamente com os povos

que estão além das fronteiras das nossas nações. Foi então que o português se converteu numa prioridade para mim, um cidadão com vontade de conhecer muito mais sobre a cultura lusitana e de envolverme com uma das maiores comunidades estrangeiras que historicamente tem ajudado na construção da Venezuela, tendo sempre em conta a minha necessidade de aprender uma língua que tem presença não só na Europa, mas também em África e na América. É muito importante para qualquer estudante do sistema internacional tentar uma aproximação a novas realidades e não há melhor maneira de fazer isso do que encontrando a informação (...) + www.correiodevenezuela.com

Reynaldo Alejandro Fuenmayor Alemán


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42 13 Aniversario

22 de Novembro de 2012 // CORREIO Da VENEZUELA

Fala o Correio 13 anos que se imortalizam na história

13 anos de evolução social

Em 13 anos de existência, são muitas as notícias e informações Começar a trabalhar com a equipa de jornalistas do CORREIO não que foram publicadas nas nossas páginas, e digo nossas porque só me permitiu submergir no mundo da imprensa escrita, senão que considero o CORREIO a minha casa de trabalho. Desde tristes notambém o poder reencontrar-me com as raízes da minha família que, tas de ocorrências que deixaram marcas nos nossos leitores, até com a passagem dos anos e a perda de alguns familiares, se foram notícias importantes que nos enchem de orgulho, e que ainda muiperdendo. Realmente sento-me orgulhoso de formar parte de um tos anos depois são recordadas por quem, a cada semana, lê o este meio que cobre de maneira imparcial e honesta todo o que está reperiódico. Mas se há algo que passa muito desapercebido entre tantas lacionado com uma área tão importante na vida deste país como é os páginas editadas e publicadas, e que sem dúvida alguma considero como assuntos lusos. Analisando o trabalho deste meio luso-venezuelano ao lono maior baluarte de deste meio de comunicação é go destes 13 anos, foram muitas as notícias que me a capacidade de unir e de reencontrar. Nós temos causaram impacto, mas a mais transcendente para a característica de criar rubricas que nenhum oumim foi poder trabalhar na recolha de informação patro periódico neste país pode fazer, como o “Álbum ra os ‘ofícios’ que publicaremos nesta edição de aniFamília”, “Fotos com história” e “Histórias de vida”, versário. Isto porque encontramos portugueses que com as quais não só reencontramos distintas geestão fora do estereótipo de que todos têm dinheiro É difícil expressar com palavras o que rações, já que se permite aos nossos pais e avós ou são comerciantes importantes. Na Venezuela, tenho vivido e experimentado ao longo de contar as suas histórias e mostrá-las através das também há lusos que trabalham com responsabilida10 anos no CORREIO. Quiçá o mais impresfotografias, senão que também nós, as novas gede e amor pelo que fazem em empregos totalmente sionante seja ver-me reflectida em tantos rações, temos a possibilidade de conhecer esse atípicos aos que a população venezuelana, na maioria, rostos, vozes e experiências dos diversos propassado que nos converteu no sector da sociedade os vê, mas que continuam sendo igualmente dignos tagonistas que passaram pelas nossas páginas que hoje somos. Certifico e faço fé que têm sido 13 e importantes para o desenvolvimento desta nação. nestes 13 anos de caminho. Sentir e saborear esse sentimento anos de notícias, de reencontros e de sorrisos. Joel Melin Abreu que nos une de amor pelas raízes dos nossos pais, mas que pelo Carla Salcedo facto de estar na Venezuela nos dá um toque único.Algo que me surpreendeu muito recentemente, ao rever as primeiras páginas do nosso periódico foi ver como a história se repete; exemplares de há 11 ou 12 anos atrás contém notícias que estão perfeitamente vigentes hoje em dia, demonstrando que a vida, o quotidiano e a história de nossa comunidade e do nosso país estão em constante desenvolvimento e evolução mas que, no fundo, o que procuram é o seu lugar no mundo e entender donde vêm, e Depois de sete anos a trapara onde querem ir. Na minha opinião, enquanto existir comubalhar com o CORREIO, nidade portuguesa com vontade de reunir-se, compartir, crescer Com o passar dos anos, posso assegurar que é e organizar-se em prol dos seus membros, continuará o labor do o CORREIO encarregouum meio comprometido CORREIO da Venezuela, que não descansará na sua missão de -se de promover a cultura com a comunidade lusodifundir as coisas boas acerca dos portugueses. Carla Vieira portuguesa na Venezuela. -venezuelana para promover Os leitores do semanário os seus costumes, tradições têm seguido com bastante e valores. Recentemente, tive a entusiasmo as publicações oportunidade de viajar até Portugal para participar no dos distintos âmbitos que nesFórum dos Media Portugueses das Comunidades Porte são cobertos. Um deles é o incremento da tuguesas e dei-me conta do grande valor que é atribuído ao nosso semanário, em compaGastronomia Lusa que se tem registado nos últimos anos em terras venezuelanas, graças ração com muitos outros órgãos de comunicação lusos espalhados pelo planeta. Creio que ao apoio que o semanário tem tido, já se vê com maior afluência os pratos típicos portunão ficamos atrás em relação a nenhum meio, nem português nem venezuelano, porque a gueses, que em tempos passados, era quase impossível encontrar. O CORREIO esmera-se nossa linha editorial e o trabalho que fazemos, entre poucos, é de qualidade e orientado ao para poder trazer à luz do dia todos os costumes portuguesas que estão abrindo caminho serviço deste sector da sociedade venezuelana. em terras venezuelanas, é o promotor cultural das comunidades portuguesas no interior Nunca esquecerei os primeiros dias de trabalho, naqueles tempos, o CORREIO ainda era do país. Outro aspecto importante em que o CORREIO está presente é na divulgação das uma criança. Hoje em dia, o nosso meio está mais maduro e, ainda que tenha muito para tradições folclóricas portuguesas, já que apoia a divulgação e reforça a importância da hisaprender, a sua equipa de trabalho está empenhada em dedicar o seu melhor esforço para tória portuguesa com a cultura musical. Ler sobre os grupos folclóricos portugueses na levar informação de qualidade e conteúdos de acordo com os interesses dos nossos leitores. Venezuela, translada aos leitores, nem que seja por um instante, para a sua terra de nasci Elsa De Sá / Maquetista/gráfico mento. Kenner Prieto

Felicidades CORREIO!

O CORREIO é uma ponte entre Portugal e a Venezuela

Não ficamos atrás em relação a nenhum meio

Um adolescente cheio de fé

Uma escola para quem se inicia no jornalismo

Ainda que tenha crescido entre sons, cheiros e sabores portugueses, foi trabalhando no CORREIO que, pela primeira vez, senti um orgulho profundo pelas minhas raízes. Durante os quatro anos em que ajudei a produzir as edições semanais do CORREIO, recordo histórias como a de Alex Gonçalves, que graças a uma entrevista publicada neste semanário conseguiu que uma cadeia de supermercados lhe oferecesse uma trompa francesa que lhe permitiu levar o seu talento musical até à Alemanha, onde agora vive. Com transparência e com o rigor do compromisso, o CORREIO reflectiu o drama de muitos sequestrados mas também denunciou ‘bandos’ de portugueses que estavam no negócio do sequestro e da fraude. Aos 13 anos, o CORREIO é um adolescente cheio de fé na sua capacidade, é dinâmico, humilde e honesto, com uma grande capacidade de adaptação, de aprendizagem e de conquista. É uma voz que é escutada pelos representantes diplomáticos e pelas associações da comunidade e com as suas histórias tem contribuído para que muitos portugueses e luso-venezuelanos se descubram a si mesDelia Meneses mos.

Durante estes oito anos de trabalho no CORREIO da Venezuela como jornalista, coordenador de imprensa e correspondente, aprendi que a perseverança, a honestidade e a humildade caracteriza sempre a equipa que conforma este meio de comunicação luso-venezuelano. O CORREIO tem sido uma escola e seguirá sendo para todos aqueles que venham a aventurar-se nos meios de comunicação dirigidos às comunidades imigrantes. Além disso, este meio contribui para a preservação dos costumes e tradições daqueles que emigraram para “novas” terras e que não esquecem as suas origens. Tenho muito para contar, mas um dos tantos momentos que vivi intensamente foi a cobertura que fiz às enxurradas que afectaram Araira, no Estado de Miranda, a 10 de Fevereiro de 2005, e na qual vários portugueses perderam os seus negócios ao serem soterrados por terras e lama. Outra das “minhas aventuras” foi informar acerca da queda do Viaduto 1 Caracas-La Guaira, ocorrido a 3 de Janeiro de 2006, em pleno acontecimento. Jean Carlos De Abreu


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