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CORREIO DE CARACAS - 26 DE JANEIRO DE 2006
Juíza luso-descendente chefia tribunal venezuelano Sónia Fernández de Abreu, filha de pais madeirenses oriundos da Ribeira Brava, é a magistrada que está à frente do "Tribunal Tercero Superior de Caracas". Falou ao Correio sobre a sua experiência e perspectivas futuras e ainda acera do estado da cultura portuguesa na Venezuela. Samuel Ferreira Bermúdez samjfb@yahoo.com
D
esde 21 de Dezembro ú ltimo que uma advogada "caraqueña" de ascendência portuguesa vem desempenhado o cago de juíza do "Tribunal Tercero Superior de Caracas" no que diz respeito às áreas de civil, mercantil, administrativa e de trâ nsito. Sonia Fernández de Abreu falou ao Correio sobre o seu sentimento de orgulho pelas suas raízes lusitanas e acerca do desejo de continuar trabalhando pela justiça venezuelana. A luso-descendente, filha de pais madeirenses, nasceu em Caracas. Obteve o título de advogada na Universidade Central de Venezuela, instituição onde prosseguiu os seus estudos de pó s-graduação na área do direito mercantil e onde lecciona de 1992 Questionada sobre se a sua ascendência e dupla nacionalidade produziam algumas implicações no desempenho da profissão, a juíza sublinhou que, longe de constituir um obstáculo no sistema judicial venezuelano, o facto de ser filha de portugueses reveste-a de certas particularidades formativas e culturais que são muito bem vistas pelos seus colegas venezuelanos. "Certamente que quem nasceu aqui, viveu aqui e recebeu educação aqui, apesar de possuir também uma formação cultural e ascendência evidentemente diferentes, pode ser considerada como totalmente venezuelana", explica a profissional de direito, sustendo que os venezuelanos estão atraídos pela cultura portuguesa pois consideram que se trata de um "alguém que vai fazer as coisas bem". A juíza Fernández de Abreu considera que a administração da justiça enfrenta dificuldades na Venezuela, devido fundamentalmente às carências de infra-estruturas e de pessoal. "Há poucas pessoas a trabalhar em demasiados casos que estão a seguir os trâ mites normais e as instalações não são as mais apropriadas", disse a jurista. No entanto, apesar de todas estas limitações, a magistrada considera que o trabalho dos juízes venezuelanos deveria
ser aplaudido, posto que, na sua opinião, dão tudo o que podem para trabalhar em tais condições precárias. Fortes laços com Portugal Esta filha de pais oriundos do concelho da Ribeira Brava, na Região Autó noma da Madeira, recorda com entusiasmo as frequentes viagens que efectuou a Portugal. "Conheço a ilha da Madeira de ponta à ponta", disse a juíza do já referido Tribunal de Caracas. Mantém muitos contactos com portugueses, já que, ao longo do exercício das suas funções de direito, teve oportunidade de conhecer uma grande quantidade de clientes pertencentes à comunidade portuguesa. Tem assim vínculos com a Associação Luso-venezuelana de Comércio e com o Centro Português de Caracas, apesar de não estar filiada formalmente. esPera chegar ao tribunal suPremo de Justicia Instada pelo Correio a falar sobre as suas expectativas profissionais para o futuro, a juíza luso-venezuelana disse gostar "muito do mundo judicial, apesar de considerar que a sua área forte é a do docência". Neste sentido, Fernández espera seguir contribuindo para a formação das novas gerações de advogados na Venezuela. A respeito da sua carreira judicial, a magistrada revela como pró ximo objectivo a atingir o Tribunal Supremo de Justiça. Mas adverte que: "isso está dependente não só do currículo e dos méritos, como também de outros factores políticos que influenciam. Mas a meta é chegar até lá, ir subindo…" Convidada a pronunciar-se sobre a divulgação da cultura portuguesa na Venezuela, a juíza do "Tribunal Tercero Superior" não deixou de lhe endereçar algumas críticas por considerar que muitas vezes a cultura não transcende e permanece entre os portugueses. "Há muitos luso-descendentes que estão desempenhando variadíssimos cargos ao nível profissional e creio que isso é algo de destaque que devemos dar a conhecer", sugeriu Fernández.