Transtornos alimentares sob a influência de Hollywood Como os filmes ultrapassam a ficção e se tornam uma realidade doentia na atualidade
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Cena do filme The Best Little Girl in The World, de 1981
Atualmente, as redes sociais são fundamentais na difusão da cultura do corpo magro, mas os filmes de Hollywood não deixaram de ter um papel significante no imaginário social. Como consequência do processo de normalização, da insatisfação corporal e valorização de uma imagem corporal específica nas produções, os transtornos alimentares, combinados com fatores psicológicos e biológicos, se manifestaram amplamente. O corpo e a sua imagem passaram a ser construídos socialmente por meio da assimilação de conceitos e representações culturais. Como o nome indica, esses distúrbios resultam de um transtorno no domínio dos hábitos alimentares e caracterizam-se, num extremo, pela ingestão alimentar excessiva ou pela restrição alimentar. A alimentação saudável e sem a demonização de alimentos, como os carboidratos, é deixada de lado e aparecem os comportamentos alimentares desviantes – que afetam particularmente adolescentes e jovens, levando a prejuízos psicológicos e sociais, além do aumento de morbidade e mortalidade.
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A magreza retratada em filmes Desde 1980, Hollywood produz filmes que retratam e reiteram distúrbios alimentares com uma variedade de abordagens. Filmes como O Diabo Veste Prada (2006) são frequentemente acusados de glamourizar a pressão para manter uma magreza extrema na indústria da moda. Cisne Negro (2010) também representa uma visão extrema da pressão sobre as bailarinas para manter um corpo magro e perfeito. Já Meninas Malvadas (2004) retrata a obsessão com a dieta e a busca por um corpo perfeito. Essas narrativas podem, inadvertidamente, contribuir no desenvolvimento de transtornos alimentares e estereótipos negativos sobre pessoas que não têm os corpos retratados nos filmes. Com anos marcados por um mundo da moda onde a diversidade de corpos era nula, Hollywood impactou gerações. “O que a gente via muito nesses filmes, além dessa pressão
estética, era uma gordofobia muito exacerbada. E esses comportamentos eram vistos nesses filmes. Então, com a demonização da comida, a pessoa que tinha um corpo gordo, um corpo maior, é colocada de forma hilária em filmes quando está comendo, Esses comportamentos dicotomizavam não só o corpo magro”, comentou a nutricionista. © Reprodução: Netfl ix
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o final do século XX, a idealização de um corpo perfeito pautado pela prevalência do corpo magro, estabeleceu a aversão aos outros tipos de corpos ao pensamento social. O impacto publicitário das indústrias de cosméticos e da moda assistidos nos filmes hollywoodianos, que reforçavam esse padrão de beleza, difundiu uma forte pressão relativa à alimentação das pessoas. A propagação de dietas que prometem o emagrecimento e, consequentemente, levam ao caminho do sucesso físico, intitulou, para além das telas, a demonização da comida e o desenvolvimento de transtornos alimentares.
A anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP), são alguns dos exemplos de transtornos que podem ser ocasionados. Junto de outras características individuais, como a genética, a interiorização de crenças e valores transmitidos pela família, sociedade e mídia como um todo. A magreza passa a ser cobiçada, pois é considerada um fator social importante e ligado à beleza, ao sucesso e à feminilidade, no caso das mulheres. Não à toa que são esses mesmos ideais que são pregados nas produções hollywoodianas. Segundo Ísis Gois, nutricionista com aperfeiçoamento em saúde coletiva pela Universidade de Taubaté e especialização em comportamento alimentar pela Faculdade Global, a partir do final do século XX e começo do século XXI, os filmes, por estarem envolvidos na cultura popular do Ocidente, passaram a apresentar as mulheres como objeto de consumo, refletindo na maneira que a sociedade e elas mesmas se enxergam. “A magreza sempre foi colocada de maneira que a mulher [magra] era mais sedutora ou mais bondosa ou a principal do filme, ou seja, tinha características positivas associadas a uma mulher magra. Quem não tinha o corpo próximo com o que era colocado nas telas, começou a ter mais insatisfação corporal. Isso é um reforço muito forte. Ainda hoje vemos esse processo, mas aconteceu uma capilarização, hoje a gente está tendo uma representatividade maior com relação à pluralidade de corpos”, diz Ísis.
“Eu estou numa nova dieta, eu não como nada e quando sinto que estou prestes a desmaiar, eu como um pedaço de queijo. Estou a um vômito do meu peso ideal.” Cena de O Diabo Veste Prada © Reprodução: Netflix
Por Eduarda Basso, Gabriela Jacometto, Giulia Cicirelli, Helena Maluf e Rafaela Eid
“Eu realmente quero perder 3 pounds (1,5 kg)”. Cena de Meninas Malvadas
A percepção dos distúrbios alimentares nas estrelas de Hollywood O filme O mínimo para viver (2017), estrelado por Lily Collins, trouxe à tona o tema dos transtornos alimentares e como eles são debatidos na sociedade. Na obra, a protagonista lida com o drama da anorexia. Com cenas intimistas, o filme transporta os telespectadores na jornada de convivência de alguém que sofre com a doença. Sem perspectiva de cura, a personagem se encontra vivendo dias em que a comida se torna sua maior inimiga.
CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP