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Questoes sobre "Pericias Chirnicas"
Caso De Incendios
Contersacia reallsada pole Dr. SOVZ1 Af4RrfVS, a 27 de A7oi>embro no Sociedode Brasllelra dn C&lmlca shnples proposta trazida a esta sociedade r.-ri cue aos Exmos. Sra. ministro da Justt;a, I'V Cfcefe de Policia, Coronel Commandante do Cerno de Bombeiros e presidentes das compaliHias de seguros, fosse levada a offerta dos iiossos conhecimentos technico-scientificos, nos casos de duvida entre os peritos das partes em litigio, surgiu a id^a da presente conferencia. Tera ella por objectivo nbordar e analysar as consideracocs que apparecem no primeiro piano ao se defi-ontar as questoes onde o fogo 6 o elejiiento destruidor, e maxime, quando cresce a neco'^idade de se Ihe conhecei* a origem.
■Os .niotivos que conduzem hoje a Sociedade Brasileira de Chimica a reunir em seu coiivivio de estudos um selecto auditorio no qual se e idencia.- de modo indiscutivel, variada somma de interesses; permittem marcar no registro da novel agremia?ao scientifica um capitulo de devotmiento a causa publica, e quigi, um dis•tlncto s,esto de solidariedade aos que se esforQam pcla tranquillidade e conservasao da nossa populosa cidade.
Ao ser discutido o assumpto nesta sociedade, fill jiistificado de modo magistral que em vista »la especialisasao actual da chimica nao mais convinham, 4s pericias de responsabilidade, quaesquer frivolos conhecimentos sobre a sciencia do Lavoisier, impondo-se a escolha de profissionaos officialmente reputados eompetentes para taes trabalhos, nos quaes irao dissipar duvidca e focalizar a verdade.
Xao se podera mais tomar em consideracao lau-loa de pericias, por exemplo: em saboes, quando se observar que o perito indicado teve nnicamente as luzes da chimica metallurgica, e, muito inenos, nos casos do explosoes, quando o jionieado for um constructor. Sao confrontoa de beirante disparidade, mas, dolorosamente para a soicncio, ja occorridos.
Ef-r-es casos de heterogenea adaptacao profiasional torn fomeeido motives para largas e intcrininaveis discussoes, custosas questoes judi-inrins, pezadas injusti^aa « grandes prejuizos movacs e materiaes.
Do exposto, salta logo 4 evidencia a necessi•dade da creacao de um quatlro de profissionaes ch'mics especialiaados, que poderao ser colhidos nos nossos principaes laboratories officiaes.
Afsim, teriamos peritos idoneos para comestiveis, tccido.s, madeiras, cereaes, oleos, explosives, papel, prrductos chimicos, productos pharmaceuticos, etc., e tambero peritos para os casos de incendio. pois a observacao do grao de combust-io e )nflammabilidade dos corpos acima apontados fieve constituir uma selecgao toda espefinliza.^.i.
Hp muito tempo que, silencioso e cuidadoso, vciiho cbservando e prescrutando o que se passa cm relaQao as pericias de incendios, e nao escondo as surpresas que as vezes experimento dcante a revelada deficiencia de capacidade profissional de certos laudos.
En', uma de nossas ultimas reunioes, foi com?ncntada a ingenua pergunta de um desses pe ritos quo desejava saber si o gaz carbonico apagava mesmo o fogo e, ainda mais, si o gaz de illur^inacao era q proprio gaz carbonico. Tambcm, outro, esforcava-se, num desses impiedosos Uudos, para estabelecer a estreita analogia entre a inflammabilidade de certo producto de origem vegetal com a defiagracao de pequena quantidade d5 fuiminato de prata. Eis, indiscutivelmente po'sitivadas documentagoes incontestes da mais completa inhabilidade para o desempenho da fun"CCai pericial.
A frequcncia de incendios nesta cidade impelliu-me o desejo de provocar o assumpto na nossa Sociedade, o fiz, unicamente, sob o ponto de /ista tecbnicQiscientifico. Antes, porem, de o apresenter ao "veredictum" dos meus illustres consocios, visitei o Laboratorio de Policia Technica, de Sao Paulo, onde colhi dados, interessantes. Nao perdi de vista um factor,- que observei e que reputo importante — a organizagao do Laboratorio para essas especies de investigasoes —, pois so em. tal recinto e que naseem .03 veredicta de sciencia e responsabilidade aureolados pela consciencia.
Outro ponto digno de atbengao notei no facto do referido Laboratorio enviar ao local do incen dio um technic© que chega ao mesmo tempo que OS bombeiros. Neste cuidado ainda nos encontramos atrazados e submissos a erroneo orientagao dfl' pericia em executar as investigagoes iniciaes» decortidos dias, senao mezgs; apos chuvas, qu4d'46 de paredes, revolvimento do entulho, isto 4, depois que as aguas pluviaes e o tempo auxiliaram
Revista Db Seguros
0 deaapparecimento dos ultimos e raros vestigios que poderiam condiizir o perito a concluaoes insophismaveis.
Nao sera novidade dizer que, frequentemente, officiaes do nosso Corpo de Bombeiros, escalades para o incendlo, sao mais tarde requisitados afim de preatar esclarecimentos sobre a origem do sinifi'ro. Nao e pequeno o numero de pericias que se louvam nessas declara9oes, isto e, na opiniao dos verdadeiros profissionaes, dos indiscutiveis technicos, dos especializados, observadores de inceudios.
Mas,se tal acontece, se o regulamento do Corpo de Bomleiros tern a prerogativa de examinar antes, durante e depois da construccao do immovel OS dispositivos necessarios e impostos por leis munlcipaes, para os cases de incendlo; se "sses officiaes sao os reaes technicos no assumpto, porque tambem nao Ihes conferir a autoridade scientifica para elucidar taes problemas de fogt ?
Sao esses officiaes que estudando antecipadamente os projectos de construc56es apontam os logares onde as installa^oes de ataque e salvamento se farao raais efficientes; sao ainda os encarregados das visitas de vigilancia contra o fogo.
Sno OS que primeiro chegam ao local do sinistro; os que primeiro penetram nos edificios, oa primeiros olhos que profissionalmente testemunham o inicio do fogo, podendo, nesse momento, colher preciosos dados para posteriores esclare cimentos.
f-Lo ainda, os que apos cada incendio, apresentam ao ComTnando, um relatorio circumstanciado descrevendo a natureza do fogo, as technicas de extinccao que foram adoptadas e os limites da area attingida pelo fogo. Tudo, clara e graphicaniente documentado numa planta baixa levantada no ptoprio local.
Porque, embors' todos estes numerosos moti ves, tirar-lhes a autoridade, por assim dizer congenita, no ponto, onde nao podem ter competidorea?
Ha ume questSo de ordem physiologica que a meu ver e antagonica; 6 que um individuo qualquer possa desempenhar com aptidao physlca ease oncargo. Organlsmos nao acostumados da inteniperies, ds mudan$aa bruscas da tempera ture, aos sobreaaltos, aos traumatismos peculiarea aos homens que combatem o fogo, jdmals podcrao chegar ao local do incendio com a dUposicdo organica necessaria, eomo acontece com o '-ificial de bombeiros, jd caldeado e temperado por muitos annos nessa vida de sacrificios inaudiu>s e riscos constantea.
Nao sera inopportune descrever fugazmente nm al'imie de fogo e a consequente mobilisacao do Corpo de Bombeiros, a noite.
So quem o testemunlia em sues minudenciaa poderd avaliar a somma de energia que o rebate" exige dos organismos desse punhado de bravos.
EU-o, alta madrugada, officiaes e prs^as es calades para o Primeiro Soccorro repousam, ligeiramente adormecidos pelo cansago do servigo diurno, ou mesmo, devido a alguma sahida an terior. Chove torrencialmente. A campainha de alarme vibra o signal de fogo. Desperta todo o Quartel. 0 clarim commanda o avangar accelerado. Homens semi-fatigados sahem, assim, mesmo, cumprir o dever de disciplina e honra. Rapidos, completam as guamigoes dos carros que instantaneamente transpoem os portoes em menos de um minuto apos o alai-me. Sao orga nismos ate entao em repouso e accommodados num ambiente de teraperatura estabilizada que entram repentinamente a supporter bategas d'agua e se veem fortemente sacudidas pela treoidagao dos velozes carros. A deslocagao do at, motivada pela vertigem da corrida, augments ainda a baixa da temperatuVa. Os systemns nervoso e circulatorio experimentam duras provagoes. Chegados ao incendio, novas e bruscag transigoes OS osperam; agora afrontam, pelas exigencias do ataque, infernal fogueira cuja irradlagao calorica Ihes cozinha as visceras, pira ahi a pouco estremecerem com c jacto d'agua projectado, desgarradamente, de mangueira nao vlsivel; ou entao tendo os pes mergulhados na lama, o tronco exposto a elevada temperatura e a. cahega recebendo frequentes borrifos d'agua, estoicos, permanecem no posto de honra & merce de um caco de telha que os abata.
E' a satanica destempera de corpos hygidos.
Qual 0 technic© civil que sahido de nossas hygienicas escolaa superiores, com o organismo protegido. crescido e desenvolvido em ambientes confortaveis, poderfi aupportar semelhante embate? Eis, pois, justificada a minha talvez desvalorizada, porem, nao exagerada, opiniao negando ao organismo fraco e nao antecipadameiite preparado, essa faculdade, ease privilegio physiologico que notamos noa abnegados bombe'ios.
Algures ouvi irreflectida e injusta objecgao diminuindo aos officiaes do Coipo de Bombeiros 0 prepare de physica e ehimica necessario & profissao. Bastante opportune julgo o momento parn divulgar o que tern aido a educagao technicoscientifica desses valioaoa protectores das bellez^s architectonicas que arlam as nossas aveniihs.
Demais, considero dever meu, perante ^ Sociedade Brasilcira de Chimica, relatar de que inodo tenho cumprido a nossa orientagao social diffiindindo e exaltando as necessidades da cbimica para o beneficio publico. Penso mesmo que as nossas autoridades terao avidez em sabel-o e 08 Srs. representantes das companhias de seguros contra fogo interesse em se collocarera ao corrente do que se faz em materii de sciencia relative aos incendios.
Rccorrendo as fichas do meu archive de estudos e pesquizas nao me foi difficil colher os dados indispensaveis para reconstruir a instrucgao pratica outr'ora dispensada aos meus heroicos e intrepidos camaradas.
As projecgoes luminosas que o respeitavel auditcrlo .'ra examinar dirao com alta eloquencia oquillo Que a minha pallida palavi-a nao conseguiria eselarecer no decorrer de uma confercncia.
Creio que reivindicados ficaram, para os offi ciaes do Corpo de Bombeiros os conhecimentos baseadores da sua especializagao profissional; e tambem reaffirmadas se toniaram as justificativas para a. proposta entregue 4 Sociedade Braril iira de Chimica, lembrando a necessidade, ao se crear o quadro de chimicos officiaes especia lizados para exames periciaes, egualmente fique instituido o de profissionaes para as pericias de incendio. As vantagens que poderao advir dessa organizagao technico-scientifica serao incalculaveis, pois em materla de incendios, nao so um laboratorio, convenientemente apparelhado, esclarecera facilmente as pericias, como ainda mais, contribuira com ideas e modifieagoes meIhoradoras dos actuaes dispositivos para os trabalhos de extincgac e salvamento, poupando tal vez aquillo que estiver proximo do fogo.
Ha tambem um ponto capital a abordar na pericta e a remuneragao. Creio que o "quan tum" estabelecido para retribuir esses trabalhos, que exigcm conhecimentos, dedicagao, paciencia em observar, perspicacia nas analyses, vigilias prolongadas e dispendio de tempo, e actualmente insufficiente, injusto para nao dizer offensivo.
Na grnnde maioria dos laudos nao vejo exaltadas as luzes da micro-chimica e no entanto estou convencido que, alem desse processo de investigagao, a microscopia, a pularimetria, a refractometria, a espectroscopia, a resistencia electrjca. a photo-metrographia e outvor ramos uaados pelos que manejam profissionalmente a chi mica, trarSo fartas luzes a easas questoes peri ciaes Sao as consequencias notadas pelo pouco vavalor que se attribue a esses generos de trabalhos scientificos, e, quiga, ignorancia sobre a enorme somr.ia de energia e conhecimentos que taes pe ricias exigem.
Ksciibelega-se pelo menos, na peer das hypo theses, uma porcentagem sobre o valor da perda. material, que nao deprima um scientista que estuda e muito menos o colloque nivellado aos nullos e improductivos.
Mas, nao bastam estas consideragoes para justificar de mode cabal a utilidade de creagao do quadro de peritos chimicos, para incendios, mis ter se faz de outros reparos que bem focalizem 0 vrlto dessa necessidade.
Num incendio, tres sao os pontos capitaes a serem levados em rigorosa conta: bfa pericia scientifica, vizando o esclareciraento do inquerito, eulmina a imprescindibilidade do se saber era primeiro logar a natureza do fogo, e depois, o processo de extincgao usado, que virA remover duvidas nos exames das pegas colhidas no local.
A natureza do fogo.
A technica da extincgac.
0 trabalho de salvamento.
0 primeiro e que determina como proceder nos dous seguintes.
Ao se investigar a natureza do fogo implicitamente serA auscultada a causa: se "espontane,., accidental" ou "criminosa".
Para tal objective e imperioso o estudo da fumaga; o primeiro elemento que se divulga no incendio, e, bem assim o das chammas, e dos gazes desprendidos. Ja pela cor e pela densidade da fumaga, o bombeiro colhe aviso para seu trabalho; e com o observar as chammas e os odores dos gazes, elle se integraliza mais no methndo de ataque, e igualmente sabera avaliar OS riscos a que.esta exposto.
A causa "espontanea" tem sido estudada e continoa, sob os cuidados da alta chimica, a ser objecto de muitas investigagoes.
A inflammagao de origem "accidental" e aquella que se Ihe explica o motive, mais, nao se encontra dados para accusar a vontade refle-. ctida ou.acgao promeditada.
Rovistas estas duas categorias de incendios, abordarei agora os de origem criminosa e os mo des pelos quaes sao provocados.
Deixarei completamente em silencio os processos de prevengao, de extincgao e de salva mento, porque inesgotaveis themas o£ferecem-ae paiT numorosas e-varladissimas conferencias.
Os incendios prcineditados podem ser seleccionactos em tros ordens de factores: physicos, chi micos e animados.
Os physicos, reprcscntados peln elsctricidade, optica, mecanica, attrictg, etc.
Os chimicos, produzidos pelas reac^oes ou gazes inflammaveis.
Or animados, obtidos pdo intermedio de animaes portadores de mechas inflammaveis.
Targenciado, assim, o assumpto, apresentarei algLTiR que talvez possam merecer a attengao dos interessados nas eIucida?oes das caiisas dos incendios. Conforme ja ficou dito, o primeiro vestigin, o primeiro signal, o prijneiro alarme, o pi-imeiro elemento de orientagao que se observa em uir. mcendio e a fumaga, geralmente a se escapar pelas janellas, portas ou outras aberturas do edifieio: impellida. pela onda de calor e conduzida pela iiragem que enfao se forma. Fixemos, portan:.i, a nosa observagao sobre as fumagas.
A derisidade pode dividil-as em "pesadas" e "leves", e o que tambem se observa com os gazes For sua vez, a cor, igualmente e factor, a nac ser dcsprezado para a differenciagao. Toda a fumaga represents uma parte complementar da cfiuibustao, porque nada mais indiea que massas gazosas levando em suspcnslo os productos volatilisados ou microscopicamente- djvididos, do corpo ou da substancia que se inflammou. E', por assnn dizer uma verdadeira suspensao col loidal.
Deante estas consideragoes quer me parecer nac se devera votar ao indifferentismo aa primciras nuvens de fumo que envolvem o edi fieio sinistrado.
• Tentando uma contribuigao ao estudo da fumaga oriunda de ineendio, imaginei um pequeno e rudimentar dispositive para o qual pego a eomplacencia do diatincto auditorio.
Apresentadas estas referencias sobre fumagas c gazes tomam-se indispensaveis mais algumas doc'imentagoes luminosas que venham illu.strar 0 dnnlo effeito dos gazes e a utll eaptagao de fumagas.
Com o exposto, no decorrer da presente confercneia, julgo que bem clara ficou a necessidade de uma nova e mais minuciosa orientagao para as j'l-squizas destinadas ao esclarecimento peviciai de incendios.
Particularmente, venho estudando as possibilidades de se localizar o ponto inicial do fogo, tal qual se precede em outros ramos scientificos, nos quaes se retrocede do complexo ao simples, ate ser encontrado o elemento determinante.
Tenho ouvido falar e tenho 11 algo sobre p'tocessos e installagoes de avisos eleetricos e dispositivos portadores de cera, parafina, espermacete ou fios de ligas fuziveis a psquena elevagao de temperature, dando assim o signal de alarme ou Tnesmo, comego ao trabalho de irrigagao emquanto nao ehega o Corpo de Bombeiros. Mas, com o objective de se apontar, posteriormente, o ponto onde comegou o fogo, o trajecto que tomou e por onde se propagou, confesso que desconhego algo escripto ou falado sobre tal desideratum.
Neste sentido, trazendo a idea, cujos dotalhes
0 ciiterio das observagoes, os requisites da precaugao e a circumspecgao da responsabilidade scientifica, fazem-me por ora calar; nao obstante. nao deixarei de pedir 4 Sociedade Brasileira de Chimica que, em virtude desta declaragao, feita.. com 0 testemunho de distinctos collegas e demais pesscas presentes, mande registrar em seus annotar-entos a presente idea, para que futuramente offerega o cunho de uma "Nota previa", com 0 objective de prioridade na localisagao do foco do ineendio e propagagao do fogo. Da presente conferencia posso haurir as seguintes conclusoes que offerego a Sociedade Bra sileira de Chimica.
Conclusoes
1' — A escolha de um competente perito 6 o primordial passo dado para a justiga nqa inquentof. que se baseiam na chimica.
2' — Para que se tenham inconfundiveis peritos chimicos e precise antecipadamente seleccional-os e dar-lhes elementos para as especialisagofs.
fl' — E' indiscutivel a necessidade da creagao de- peritos chimicos officiaes, os quaes poderao' .'6} escolhidos nos laboratories do governo.
• 4' — A creagao do quadro de peritos especializados em questoes de ince"ndiosi-imp5e-se.
5" — Pela natureza da profissao, estao eriteriosam^nft! indicados para taes. pericias os officiaes do Corpo de Bombeiros que se tenham especialisadt.
C — A organisagao de um laboratorio de chi mica para iiivestigagooes deste genero, sera de extvcma utilidade, nao so para a propria Corporagao como, ainda mais, para a Municipalidade, Policia, Companhia de Seguros e tambem para o segurado.
— E' necessario um judicioso estudo, afim 'le cue OS conhecimentos scientificos, o esforgo; a dedicagao, o dispendio de tempo dos peritos sejam convenientemente compensados com equitativa remuneragao.
8° — P obscuro modo de avaliar o merecimento intellectual e technico dos que estudam tern sido a causa da falta de eatimulo e consequentes prejuizes partlculares e publicos.
9* — A instituigao dos peritos chimicos offi ciaes corapetentes constitue, sem sophismas, iimi .seguranga para a cidade, um esteio para a justiga e uma obra de intelligente administragao.
10* ~ As fumagas teehnicamente colhidas, no comego do ineendio, devem fomeeer valioso contingente scientifico para o esclarecimento da con'bustiio.
11' — 0 exame dos gazes desprendidos num ineendio igualmente fortalecera a orientagao no dlagnostico buscado pela pcricia.
12* — Deve existir a possibilidade de se determinar, apos o ineendio, o foco de origem e o trajecto do fogo."
Para esta conferencia foram convidados o Sr. ministro da Justiga, Prefeito da cidade, Dr. Chefe de. Policia, Commandante do Corpo de Bombeiros e directores e agentes de companhias de seguros.
' 0 ministro compareceu e as demais autoridades fizeram-se representar. A assistencia, escoIbida e numerosa, ouviu com muita attengao o conferencista, appUudiu-o ao final. A todos os assistcntes deixou a melhor impressao, nao so -) t'-abalho do Dr. Souza Martins, com as suas pro,ieeg6es na tela, como a attitude da Sociedade
BtasUeira de Chimica, dispoSta a collaborar na repi'cssao do incendiarismo. Obra de moralidade geval e de patriotismo sera esta. 0 Dr. Sauza Martins mostra-se um desses homens zelosos e amantes do bem publico — um verdadeiro "republtco", na significagao litteral do termo. A presenga do Sr. ministro da Justiga signifioa que 0 governo esta certo de que e preciso que o crime de fogo posto nao continue impune. Bastou que a policia voltasse vistas severas para este as sumpto, para que diminulssem as fogueiras que csbraseiavam a cidade.
fl PERHOES CflMMERCIflES fl EOCO
Nestas paginas, em jornaes e revistas, ha annos, vinhamos affirmando a propositalidade dos incendios e a tolerancia dis autoridades, o que incentivava os artifices do fogo. Os inqueritos continuavam. mal feitos e os delegados displicentes. As autoridades tinham catartetas nos' olhos e nao viam a fraude na provocagao desses sinistros, nem no uso da escripta viciada e de documentos e testemunhos falsos para lesar o seguro. Agora, que o escandalo culminou, tudo toraou-se evideiite. A imprensa clamou forte. Eis 0 quo disae o "Correio da Manha", no me mento agudo da crisc:

"Oa incendios se vao suecedendo, nssti capi tal, com uma frequencia Inquietante. Ate ja da isto motive a um novo aspecto das theorias so bre a suggestao. E pode ser que haja razao ou fundo logieo nessas theorias. Em todo caso, o que e positive e que, se tivessemos uma legislagao rigorosa para os aproveitadores 4essts "golpes do destine", nao se repetiriam assim essas fogueiras, com que se resolvem, muitas vezes. certos embaragos commerciaes. E' evidente", alem disso, que a nossa policia est& longe de cumpiir a sua missao, quanto ao rigor dos inqueritos sobre incendios, E' que 0 nosso pretense apparelho de seguranga e mais... uma cousa semelhante ao poder naval, mantido mais em beneficio dos que exploram a industria rendosa dos attentados e conspiragoes."
A "A Noite" nao teve outra Imguagem. Esta aqui o seu pensar, na edigao de 15 do mez passado: "Contiriuamos no regime das surpresas, que nos causa a rapida successao Joa incendios. Jt OS jornaes sao obrigados a ter um chronista permanentc de sinistros pslo fogo... Nao se passa dia sem quo a actividade de nossos glorioSOS bombeiros se exercite em luta constonte contra a obra destruidora das chammas. Variis vezes. temos chamado a attengao das autori dades policiaes para o perigoso indice desses acontecimentos, que se podem ter causas fortuitas ou casuaes, tambem se podem originar de cqlpa ou dolo, a cuja investigagao se deve proceder energicamente.
Nos primeiros casos, que registamos bavia — mais do que a presumpgao — a certeza de que nao se defrontava uma situagao criminosa; poi-em OS que Ibe vao suecedendo, numa progressao assustidora, estabelecem ura estado muito serio de desconfianga no espirito publico. Em todos OS paizes, o delicto dos. incendiarios e dos que mais desafiam o rigor dos applicadores da lei, pois nao e um crime, apenas, contra a propriedade, senao contra a propria -vida dos que venham a ser colhidos no desastre. E uma nogao elementar de prudencia, nos orgaos officiaes, deve leval-os a convicgao de quanto se faz mister a repressao de attentados. dessa ordem, aos quaes se preveem perigosas. consequencias sociads."
P6de-se dizSr que todos os jornaes diarios e revistas semanaes ou mensaes, levantaram a questao, soltaram o grito de . alarms. Bastou que o chefe de policia ordenasse rigor nos in queritos e mandasse que os incendiarios fossem mettidos na prisao, donde s6 sairiam por "habeas-corpus", para que cessasse. como por encanto, a "casualidade" do fogo. Vamos ver agora se os Caliiios ainda crerao na fortuidade de tantos sinistros!
A. C. REPRESENTACAO DE COMPANHIA DB SEGUROS
Pessoa idonea, com pratica de varios annos de seguros, possuidora de optimas relagoes com-" merdaes e regular carteira, aceitn representagao para o Estado de Sao Paulo, de companhia es-> trangeira. Para ipais informagoea, dirigir-se & "Revista de Seguros".
Opportimas obsecva^oes do tenente-coronei Affonso Romano sobre o incremento que vae tomando, entre nos, a industria dos incendios
A inslstencia com que se vao repetindo os Incendios nesta capital Ja creou a suspeita de que p acaso 6 um dos factores menos apreciavels na propagagao dessa calamidade.
Pensatn tambem a^im os que observam taes factos com a attenpao e a acuidade de technlcos e, entre elles, o tenente-coronei Affonso Romano, official dos mais distinctos do Corpo de Bombelros, hoje, reformado, mas nem por isso menos apto para emittir opinioes seguras a respeito de um assumpto por que se interessou directamente durante cerca- de trinta annos.
Ouvido por um de nossos companheiros, assim se externou o tenente-coronei Romano, com a vlvacidade e a franqueza que Ihe sao peculiares:
Para logo se poe em grltante televo a clrcumstancla de so arderem casas de negocios, manifestando-se o fogo inlcial dentro dellas, o que Importa dizer que sao sempre internas as causas determinantes do sinistro. Ora, de um modo geral, estabelecimentos commerciaes, jA pelo seu numero, ja pelo regime que os partlcularlsa, no tocante a trabalho, fiscaiisapao, cautelas, etc., sao os que menos devem quelmar, por effelto de auto-fogo, ou melhor, de fogo surgido primariamente no seu Interior, a menos que se queira o sinistro ou se despresem elementares culdados de vigilancia e seguranga.
Nao quelmam as casas de habitagdo collectiva, em que cada quarto e sempre um foco possivel de incendio, vlsto que, a um tempo, serve de cozinha, sala de engommar, etc., e maos infantis manejam commumente petrjchos domestlcos que podem dar causa a in cendios. Mas queimam as casas commerciaes, em que ha disciplina. ordem, responsabllldades distribuidas e horarlo de trabalho, tudo restrlngindo a posslbiiidade de fogo por Imprudencia. Demais, se ha "stocks" facllmente combustlvels e, mesmo, auto-combustlveis, inflammando-se por si proprios, nao e menos certo que se conhecem meios que preveem e dlminuem esses riscos, nao os podendo ignorar OS negociantes que possuem taes "stocks".
A regra e, ate, esta: — quanto mais combustivel for a mercadoria, maior devera ser o zeln e a previdencia no seu deposito e manejo. Decerto, e por isso que, em alguns paizes, os incendios incidem na presumpgao de culposos, ate que se prove a absoluta ausencia de qualquer das modalidades da culpa.
No Rio, a presumpgao e muito outra. O sinis • trado e sempre um infeiiz, uma victlma Imbelle do Infortunio, Nao obstante isso, a nao ser em um curto periodo em que o coronel Bandeira de Mello e eu deitamos toda a nossa attengao ao assum pto, actuando praticamente e inaugurando periclas minudentes e technicas, o fogo posto ainda e uma grande industria, Lembro-me de que, gragas a nos, foram irrecorrlvelmente condeninados uns seis ou sete Incendiarios, elevando-se a alta somma o valor dos seus seguros.
Os Incendiarios, os seus parasitas, o mundo, emfim, que se soocorre do fogo posto, que Ihe faz a propaganda, que consumma materiaimente o sinistro, que inventa ou aperfelgoa engenhos intciadores de fogo, — tudo isso tem sido objecto de interessantes observagoes e estudos, 6 duvidas nao se podem ter quanto a existencia de elementos, mais ou menos cohesos, que se consagram, de um modo permanente, a queima provocada de negocios segurados. A repressao deve ser energica e expedlta. mas 0 combate preventivo sera o trabalho mais utll e efficiente.

Somos, por isso, pela concentragao, na 4* delegacia auxiliar, de todas as actividades poUciaes correspondentes aos sinistros por fogo. Aciualmente, as delegaclas districtaes instauram os inqueritos sobre incendios cccorrldos nos seus perimetros. Sao esforgos isolados, dis perses, esses que se irradiam de taes centres pollciaes, e, assim, capacidade nao tem para ligar homens a factos, nura trabalho de memoria e coordenacao que abrangem suspeitas. pessoas e eventos nao circumscriptos exclusivamente as zonas que Ihes pertencem.
Se a 4° delegacia tomar a si esses inqueritos ella sera arrastada as preoccupagoes preventlvas, identiflcando os proflssionaes do fogo e dentro em pouco, o Rio se libertara dos incen dios doiosos.
A pericla so pode dar resultados apreclaveis quando feita antes da conclusao do servlgo de extincgao, isto e, antes de que todos os vestlgios de crlminalidade tenham desapparecido sob OS escombros. Devem, portanto, os peritos comparecer ao incendio ao mesmo tempo que OS bombelros e as suas observagoes pessoaes. reanidas as declaragoes das testemunhas, relatorio do commandante dos bombeiros, etc., darao a policia meios seguros para agir com justiga.
E quanto mais prompta for essa accao, tanto menos probabilldades havera de conchavos, previas combinagoes dos depoimentos, etc., entraves communs oppostos a acgao da policia.
Nao nos esquegamos sobretudo que sera princlpalmente do estudo financeiro do negocio sinistrado que melhor se poderao tirar se guras deducgoes. A um negociante em boas condigoes nao interessari, de certo, a destruigao de seus bens, o mesmo se nao podendo di zer de uma casa que esteja 4s portas da faliencia.
Dahi a importancia da pericla na escripta do negocio destruido pelo fogo.
Nao vemos egualmente a razao porque certos factos de manifesta negilgencia, causadores de grandes sinistros, nao sejam considerados criminosos. Queremos nos referir, por exemplo, ao facto tao commum de se encontrar iigada, nos predios sinlstrados, a chave geral da electrlcidade. Vem desta crimmosa negligencia todos os incendios causados pelo ••curto-circuito" e as companhlas de seguros
ASSOCIACaO de companhias de SEGUROS
JrA esta dtstincta entidade fol dirigida, por uma importante Companhia, a seguinte carta: rta: "Annotamos com satisfagao ter, recentemente, a "Companhia de Seguros da Bahia" se incorporado no numero das Companhlas que fazem parte dessa benemerlta Corporagao, representando este acontecimento mais uma victoria no terreno das realisagoes effectivadas ate aqui em pr61 do ideal associativo que deve presldlr e fundamentar em nosso meio a evolugao do seguro, consoante os principios estabelecldos quando da' organisagao da Resp. "Associagao de Companhias de Se guros", a que, de modo tao elevado e digno, v§m imprimlndo toda a vallosa influencla que vem impi"'"""" sem duvlda exercem pelos altos predicadoa a tltulos de dlstincgao pecuUares a quantos fa zem parte dessa Direcgao, em parte oeaao
Congratulamo-nos por isso com os distln- andariam bem avisadas se considerassem a existencia dessas ligagoes como uma prova d; intengao criminosa e conseguissem tornar obrigatorio o desligamento da chave geral das ces uma clausula em que se tomasse obrigatoBastar-lhes-ia fazer constar nas suas apoliinstallacoes electricas das casas commerciaes. rla essa medida para que tal abuse cessasse.
— Acredita o commandante na existencia i uma quadrilha de incendiarios em nossa cidade ?
— Nao Irei a tanto. Mas acho que ha em nosso melo pessoas capazes disso, principalmente por ser tar facil Incendiar uma casa respondeu-nos promptamente o tenente-coro nei Romano.
E proseguindo: ctos amigos, fonnulando votes pela prosperidade crescente da Associagao. Outrosim, flcamos scientes de seus dizeres com referencia a uma medida suggerida, ha tempos, pelo "Comite Rio Grandense", a qual se relaciona a acqulsigao.de lonas impermeavels para abrigo de mercadorias em locaes slnistrados e que se destinam ao Corpo de Bom beiros de Porto Alegre. Agradecemos essa communicagao e, por seu Intermedio, pudemos constatar, mais uma vez, quao elevado e o interesse daquella Corporagao para com defesa das Seguradpras."
— Se a circular do chefe de policia for integraimente respeitada, os incendios doiosos hao de fatalmente diminuir.
O assumpto comporta ainda muitas outras considetagoes. Todavla, com o que j4 ficou dito, penso haver justificado principalmente a imprescindibilidade da interferencia systemat'ca da quarta delegacia nas tndagacoes respeitantes a todos os casos de incendios. Com essa intervengao e a actuagao honesta e intelligente dos actuaes peritos, temos como certo que debandarao espavoridos os ateadores e propagandistas do fogo.
(Da "A Noite", de l-U-29).
Pela natureza do contracto de seguro con tra incendio, o segurador e responsavel por todas as faltas e imprudencias excusaveis. Responde tambem, nos casos de crime, dos quaes o segurado nao e autor ou cumplice.
A Associagao de Companhlas de Seguros enviou ao Exmo. Sr. Dr. "Washington Luis, um telegramma de felicitagoes pela data do seu nataliclo.
0 mez de setetnbro de 1929 ficou celebrisado pelo numero de incendios occorridos nesta capital. 0 mez de outubro, que' se Ihe seguiu, tambein registrou mais de unia grande destniisao pelas chammas.

Na noite de 5, mais um incendio se verificou em.pleno centro urbano. Um predlo de tres pavimentos, a rua do Rosario n. 105, foi destruido pelp fogo.
No andar terreo do edificio sinistrado funcionava o restaurante "Serra da Estrella", da firma Gil & Campin. -No primeiro andar, varies escriptorios commerciaes e a alfaiataria Cam pos. No terceiro andar, achava-se installada a pensao de Mme. Julia Lorin.
Os bravos bombeiros, cotnmandados pelo capitao Vieira, auxiliado pelo tenente Athanasio Baptista, portaram-se com o heroismo do costu me no servigo de extincgao, saindo ligeiramente feridos o surgento n. 1G2 e o soldado n. 442.
Pela madrugada de 8 coufae a vez d Livraria Allema, a rua da Alfandega n. 69 e de propriedade de Frederico Will, a qual se achava segura por 300 contos em duas companhias allemas e numa nacional.
0 trabalho de extincgao, que foi arduo, durou quasi tres horas, sob a direcgao do tenenteeoronel Pinheiro, tendo compareoido a primeira e segunda promptidao ao mando doa tenentes Leao e Ladeira, sendo incumbido das manobras dagua o tenente Eugenio.
0 fogo depressa se communicou ao predio lateral de n. 67, onde funcciona o deposito e expedigao da Casa Sueena e n. 71„ em cujo pavimento tern estabelecido o Sr. Daniel Wyler e no sobrado o escrlptorio do Dr. Afranio Costa. Pelos fundos as labaredas se passaram para as casas ns. 38 e 40 da ma dos Ourives, onde estao situados o laboratorio e pharmacia homoepathica de Coelho Barbosa & C.
Al6m dos seguros de 300:000?, ja referidos, da Livraria Allema, estao seguradas em 150:000? nas companhias Previdente, Alliarga da Bahia e Indemnisadora, a Pharmacia Coelho Barbosa; em 38:000?, na Companhia Seguros Brasil, e em 100:000? na Companhia Guardian, os moveis, utensilios e "stocks" existentes no deposito da Casa Sucena.
Os predio sattingidos pelas chammas, eram todos de dois andares de propriedade da Irmandade da Candelaria, que os tinham devidamente segurados.
Os peritos contratados pela poticia para os respectivos exames, Drs. Franklin Ribeiro e Oswaldo Cavelcanti procedei'am ao exame nos escombros da Livraria Allema e, como sempre, opinaram por um eurto-circuito como causa do sinistro.
A' tarde, depois de i-etirada a turma de bom beiros que havia ficado refrescajdo o rescaldo do deposito da "Casa Sucena", cerca de 18 ho ras, ahi irrompeu de. novo incendio.
Os bombeiros compareceram de novo e o mio elemento que pela manha ja havia causado va- rios prejuizos ao deposito, a tarde quasi o liquidou totalmente.
Os soldados do fogo trabalharam denodadamente e, ao cabo de 40 minutos, extinguiram, mais uma vez, o fogo.
A 8, no forro do 3° andar da travessa do Ouvidor, houve um principio de incendio. Ao local compareceram- os bombeiros, que apagaram o fogo ainda em inicio.
A 3° andar do alludido predio estava deshabitado. No pavimento terreo existe um deposito de livros da Livraria Gamier.
A policia local tomou conhecimento do facto. Os prejuizos foram pequenos.
MAIS FOGO!
A 9, occoreram tres incendios, um de maior importancia em Cascadura e outros dois em Santa Thereza e em Botafogo.
0 incendio em Cascadura foi no predio 163 da rua Nerval de Gouvea, onde funcciona o bar e restaurante "Cascatinha", da firma Seraphim, Area! & C.
As labaredas irromperam^ na cozinha do res taurante e se propagafam rapidamente pela sala das refeigoes, ficando destruidas as duas pegas.
Os -bombeiros da estaguo do Campinho com pareceram com a mesma presteza, logrando evitar que o fogo destriiisse totalmente o predio e se passasse para os latcraes.
A firma proprietaria do negocio sinistrado tinha-o acautelado por 80 contos de reis na Com panhia Previdente.
No local esteve a policia do 13® districto.
Devido a excesso de fuligem na chamine do fogao da cozinha do predio n. 2.212, da rua Real Grandeza, residencia do Sr. Francisco de Azevedo, manifestou-se um comego de incendio, depressa extineto pelos bombeiros da cstagao de Humayta, do mahdo do sargento n. 3, que acudiu solicito ao primeiro signal.
Estiveram presentes as autoridades do 7' districto policlal.
Na madrugada de 12, cerca das 5 horas, oguarda nocturno do 9 districto policial de ronda na rua Fi-ei Caneca, notou que do interior da casa n. 385 daqudla rua, onde funcciona a Serraria America, da firma Pereira, Ottevo & C., se desprendiam fortes rolos de furo.
Dado aviso ao quartel-general do Corpo de Bombeiros, compareeeu com a maxima presteza, 0 material do primeiro soccorro, ao mando de tenente Gomes, sendo incumbido das- manobras dagua- o tenente Athanazio.
0 fogo se nianifestara na estufa e jsi lavi'ava com intensidade, mas os bombeiros lograram circumscrever o foco das chammas, extinguindoas bem depressa.
Por um triz arderia tdda a Serrai-ia Ameri cana.
Na Rua Da Passagem
No dia-19, na rua da Passagem n. 80, onde tern deposito de materiaes os Srs. Almeida, Irmao & C., irrompeu incendio, depressa extineto pelos bombeiros da estagao de Humayta, que aeudiram sob 0 commando do sargento Sylvlo Marques Dias. O negocio da firma Almeida, Irmao & C., estava acautelado em 80 contos nas companhias "Argos" e "Varejistas".
Registraram-se, outrosim, diversos principioS de incendio, todos q^inctos pelos valentes solda dos do fogo.
Digna de registro vem a ser a conducta ultima das autoridades, alertas contra os incendiarios. Assim, e que, no foro criminal correm ja alguns processes.
Os accusados nada perderao: a justiga vem Ihcs dar ensancha de provar mais uma vez a innocencia, a casuulidadc do fogo, uma vez que esta casualidade tenha havido.
A Cidade Dos Incendios
A' falta de outro assumpto bem mais interessante, a populagao do Rio de Janeiro boquiabre-se com os incendios. Estes, em progressao tremenda, ja chegam ao numero de dois por dia, em dtfferentes pontos da cidade. Entretanto, deve dizer-se que, ao inves de se verificarem em locaes que, realmente. podem dar azo a sua manifestagao. esses incendios irrompem em casas commerciaes que nao contem explosives ou inflammaveis, em escriptorlos, em livrarias, em armazens de construcgoes, etc. E o leitor, provide de um pouco de materia cinzenta e de um pouco de bom senso, fica matutando a respelto da causa do sinis tro Solta, rapidamente, a resposta: "foi um curto-circuito. ." Respondendo-se desta for ma p6e-se, desde logo, em duvlda a acgao conjunta da Light e da Prefeitura na fiscaUsagao das installagoes electricas que se fazem nas construcgoes novas.
O vulgo, entretanto, multo mais esperto e sagaz do que parece, costuma dizer em soUloquio, lendo o noticlario de taes ou quaes in cendios: "Que incendio feliz..."
E' na verdade, escandaloso o que se verifica actualmente no Rio de Janeiro, em se tratando de incendios. O numero cresce assustadoramente As companhias de seguros, alarmadas; comegam a mexer-se. Veremos o que farao as autoridades competentes.
Ha falhas nos processos relativos a invest!gagao das causas de um determinado incendio.
Os peritos, em geral, nomeados pelas autori dades policlaes, pouco affeitos a esses estudos, falham Em vez de engenheiros-electricistas, officlaes do Corpo de Bombeiros, techntcos em inflammaveis, escolhem-se pessoas de boa apparencia. Eis ahl uma das causas de impunidade do augmento da horda dos incendiarios, Para quem appellar ? Continuemos com a nossa inflnlta paciencia, e digamos como o vulgo com OS seus bcftoes: -Que incendiarios felizes..."
A policia. as vezes, consegue apurar coisas verdadeiramente espantosas, que, em qualquer outro paiz poriam o individuo, pela golla, iramediatamente no carcere.
Lemos, por exemplo, ha tempos, que, na rua da Constituigao, em uma pequena loja com mercial se verificou um incendio — um desses de curto-circuito, por espirito-santo de oreIha". Mas, o que ficou provado e que os dois socios da fhma que tinham a loja em arrendamento haviam transferido, subrepticiamente, a deshoras, toda a mercadoria valida para uma outra loja distante. Parece romance, mas e verdade. Quando o incendio se manifestou, a horas mortas, uma pobre senhora de idade, que morava no sobrado com o filho, um dentista, e que se encontrava ausente, quasi morreu, ficando seriamente contundida numa queda. Este facto ficou provado no inquerito poli clal. Nao sabemos o que houve ulteriormente... Como advogado, fomos, de uma feita, procurados por um commerciante, que se encon trava em series condigbes de embarago, e que queria conhecer o meio mais "aguia" de.safarse da "entaladela". Aconselhei que o proprio remedio se encontrava na lei de fallencla, prot ;dendo lisamente, como deveria fazel-o, com OS credores. "Mas", disse-nos elle, cogando o alto da synagoga, "o doutor deve saber que ha dias augmentei o seguro da minha officina de construcgoes, e que seria um bom negocio se eu pudesse entrar na "mamata" do seguro..." — "Como" ? — perguntamos, entrevendo o leu pensamento. "Ora, o doutor sabe... o doutor sabe que. . um incendiozinho... um incendiozinho na madeira resolveria tudo..." E' inutU dizer que se este facto se deu, inopinadamente, comnosco, naturalmente devera reproduzlr-se com outros advogados.
Apesar de tudo, podefnos assegurar que a causa dos incendios, na sua m6r parte, actual- tl'l mente. se encontra nos faalancos e na situacao commercial dessas firmas. Presentindo que as coisas andam pretas, sentlndo o cheiro de cftamusco, multos negociantes malavindos torcem 0 nariz, tratam de reformat o seguro, pondo-o nos comos da lua, e, depois. a lua de mel rubra, — o incendio. Agora va ver-se o que ha em materia de titulos protestados...
Em geral, as boas companhlas de seguro, se bem que, muitas vezes, estejam quasi que certas de que o incendio tenha stdo propositado, nao querem dtscutir com a parte e tratam de soluclonar immediatamente o caso. Vendo tantas facilidades, nao havendo Investigagao de especie alguma em torno do "caso fortuito" ou "for^a maior" ou "vicio de construcgao" (o qus nao se da, porque as obras novas sao cuidadosamente examinadas pelas autoridades competentes que so dao o habite-se quando tudo em ordem), — os que se encontram em mas condigoes tratam de aproveitar a "canja".
Perguntam os ingenues: importam-se elles com 0 art. 1.208, do Codigo Civil ?
Que illusao. Desde que o seguro seja pago o que possam tirar a sardinha com mao de gato, o mais e historia. Por conseguinte, fogo!
Precisamos convir que se trata de uma slII, 11,1,111,„„„„„„„„„„„
AMEACAS A SEGURADORES
0 seguro e o unico contracto commercial que se liquida com offensas ou ameacas, por parte de uma dis partes contrahentes.
0 dono de um dos incendios da serie, que acaba de despertar um clamor verdadeiro, nao quiz attender as condifoes da apolice, para justificar a sua reclamagao. Apresentou-se sempre ds tres seguradoras em "doia tomos", uma verdadeira dupla. Tic e sobrinho com igual nome. Quern falava era o velho pelo moco, que nao era mudo. A identidade do aegurado € ate duvidosa. Um dos typos foi "raoedeiro parti cular" e depois "fallido casual".
Proeurou para advogado um distincto profissionai que acabou Ihe restituindo a procurasao. O homem foi a um jornal, para ver se por este meio fazia medol
Um Juiz Bem Orientado
Num inquerito sobre incendio occorrido em Juiz de F6ra, em caaa de Alfredo Lentini, o respective juiz municipal mondou que se procedessem a novas diligencias ,dec!arando no seu deapacho: "As declaraQoes do interessado nada valem a nao ser para servirem de base ou de meio pat* as investigaqoes; sao o ponto de tuagao realmente alarmante. porque constitue um perigo permanente para a vlda da popula^ao honesta e paciflca da cidade em peso. Entao, porque a sltuaeao commercial Ihe esteja desfavoravel, o commerciante ateia fogo & casa, pouco se Ihe dando que, no sobrado, senhoras e crlanqas virem torresmos ? Nao & o cumulo dos cumulos ? Estamos no Brasil, ou na Costa da Guine ?
A imprensa, animada de bons intentos, tem clamado contra tal estado de coisas. Nomeiemse technicos habeis para as lnvestiga?6es e pcrlcias; procedam as autoridades policiaes com energia; concertem companhlas de seguro medldas energicas para promover a responsabilidade civil e criminal do sinistrado; venha de vez a nova lei de fallencias, tornando o proce.sso mais rapido, augmentando a porcentagem das concordatas e das fallencias, e estabelecendo um prazo fixo para o pagamento dos credores, e estabelecendo forte responsabilldade criminal para o fraudulento; — adoptadas estas medidas, alliviados os processos de formalidades inuteis, os incendios criminosos, os incendios por sport, desappareceraa
Teixeira Soares.
(Da "Gazeta de Noticias", de 11-10-29), partida e estas investlgagoes devem ser muito cuidadosamente feitas e com muita diligencia, visto ser o crime de consequencias sem limites e que revela a grande temibilidade do delin quents. Sabido como e que o simples facto de ser 0 .seguro exageradamenfce maior que o objecto segurado, basta para constituir indicio vehemente de responsabilidade e que a nao verifica?ao da causa do fogo nio exclue a hypothese de ser o incendio crtminoso, este inquerito nao pode ser archivado. — Juiz de F6ra, 15 de outubro de 1929. — Hugo de Andrade." •
Depositos De Inflammaveis Em Porto Alegre
Tendo o Comite Rio Grandense de Seguros observado que ultimamente se estavam fazendo grandes depositos de inflammaveis em estabelecimentos localisados no centro commercial da cidade, contra o que dispoem as posturas municipaes e com grande perigo para a popula?Bo e para as responsabilidades das companhlas, reaolveu representar a respeito ao Intendente Mu nicipal, que prometteu todas as providencias necessarias.
Como se ve, o Comite de Porto Alegre nao se descuida da defesa das seguradoras.
FUNDADA EM 1872

Sede; RIO DE JANEIRO %
Rua 1°, de Marpo, -^9
(EDIFICIO PROPRIO)
TELEPHONES:
Ta.xas modicas
DIRECTORIA:
Joao Alves Affonso Junior ~ Presidente
Jose Carlos Neves Gonzaga — Director
AGENTE EM S. PAULO:
Alberto de lemos Guimaraes
RUA JOAO BRICCOLA,5 - sobrado
Seguros de Fogo-Maritimo-Ferro-vlarlo-Vldro-Automoveis-Accidentes do Trabalho e Accidente Pessoal