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Espiritualidade

Espiritualidade e religiosidade

Por Beto Sdoia Compartilho essa minha reflexão sobre o que penso e como vivencio a dimensão da Espiritualidade neste momento de vida. Pode ser que no futuro, imediato ou longínquo, eu tenha outra reflexão que renove ou modifique meu pensamento, porque o Divino Espírito nos impulsiona e nos inspira para movimentos diversos, inclusive provocando novas reflexões, que nos propõem renovação e podem gerar transformação.

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Como você diferencia espiritualidade de religiosidade?

Eu, pessoalmente e após muito me debruçar sobre este assunto, faço uma distinção importante entre os dois conceitos. Entendo a Espiritualidade como a presença de Deus em toda a criação, ideia biblicamente expressa no capítulo 1 do Livro do Gênesis: “a Terra era sem forma e vazia e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”. Daí, entendo que toda criação foi e segue sendo impulsionada por esse Sopro Divino, criador e inspirador, porém presente com muito mais intimidade na criação do Ser Humano - “façamos Homem e Mulher nossa Imagem e Semelhança”.

Nessa compreensão, entendo que fica explícito que a Espiritualidade não está presente, ela é presente, Deus é conosco.

Já a Religiosidade eu entendo como sendo fruto da Espiritualidade, inspirada por Deus e construída por homens e mulheres, que a partir da percepção da revelação de Deus, buscam se aproximar e se conectar com a energia sagrada que emana do Sopro do Espírito. Deus se revela na perspectiva do Amor e do Bem e deseja fazer Alianças com seu povo. A Religiosidade é esse caminhar no sentido de firmar Aliança com Deus e com os Irmãos e semear, cultivar e viver a Cultura do Amor.

Beto, compartilhe com nossos leitores, alguns pensadores e passagens que te inspiram.

Meu teólogo preferido, Leonardo Boff, costuma afirmar que Jesus não fundou religião nenhuma, trouxe sim uma Boa Nova redentora e libertadora, ensinando as pessoas a reconhecerem o Deus Amor, escutá-lo e se tornarem pessoas mais misericordiosas, solidárias, promotoras da paz e da justiça, acolhedoras, verdadeiras, mansas e pacíficas, éticas e não farisaicas, cultivando a humildade e a Esperança. Essa foi a mensagem de Jesus. Padre Haroldo Rahm entendia que todas as religiões, que têm o Amor como fundamento, são inspiradas pelo mesmo Sopro Divino.

Também ouvi Leonardo Boff relatar que um dia, participando de um evento em Berlim onde também estava presente o Monge Tibetano Dalai Lama, fizeram a seguinte pergunta ao Dalai Lama: “qual é a melhor religião?”. Dalai Lama respondeu “a melhor religião é aquela que te faz uma pessoa melhor, mais compassiva, mais tolerante, mais justa, mais pacífica, mais amorosa, mais solidária e fraterna... e, assim, mais feliz”.

Conte alguma experiência vivida com o Padre Haroldo, neste sentido.

Eu e a Lúcia estivemos há alguns anos atrás em um evento da PUC do Rio de Janeiro com o tema do diálogo inter-religioso. Fomos acompanhando o Padre Haroldo que dividiu uma mesa com a Monja Coen, budista muito conhecida pela profundidade com que vivencia e compartilha sua Espiritualidade.

Nesse lindo encontro, o Padre e a Monja falavam a mesma linguagem, dos mesmos valores humanitários e do mesmo Amor. Uma verdadeira comunhão de almas inspiradas pelo mesmo Espírito.

Em outra ocasião fomos com o Padre Haroldo para a Índia, participar de um congresso internacional e estando lá, fomos visitar templos sagrados hinduístas. Uma experiência que nos colocou em comunhão de almas com aquele povo e aquela cultura religiosa tão diversa.

Padre Haroldo foi um sacerdote bastante pluralista e respeitoso às diversas religiões, criou o movimento da “Fé na Prevenção” para fomentar o diálogo inter-religioso e o olhar dos líderes religiosos para prevenção ao uso de drogas e álcool. Este movimento virou uma cartilha da SENAD. Por muitas vezes o Padre esteve dedicado à causa do diálogo inter-religioso, sempre absolutamente fiel à sua Fé Cristã, à sua Igreja Católica e à sua profunda devoção à Nossa Senhora de Guadalupe.

Como você pensa que a espiritualidade pode contribuir para o processo de cura das pessoas?

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos está escrito: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” Ninguém perde a dignidade, pessoas perdem o reconhecimento da sua dignidade, ou o respeito pela sua dignidade. O Ser Humano nunca deixa de ser digno, pode deixar de estar digno. O fato de sermos criados como "Imagem e Semelhança de Deus” nos dá a clareza de que a Dignidade é uma condição intrínseca ao Ser Humano.

Para você, como é possível conciliar um processo de cuidado em instituição, com práticas que respeitem as diversas religiões?

De acordo com o Pew Research, dados de 2017, aproximadamente 31% da população mundial é cristã, o que representa 2,18 bilhões de pessoas. Pesquisa Data Folha em 2020 indicou que o Brasil é o segundo país com maior número de cristãos, aproximadamente 81% da população, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Esses números demonstram aquilo que nos parece óbvio, que a cultura religiosa brasileira é de maneira muito relevante, predominantemente cristã, tendo a Bíblia e especialmente o Novo Testamento como os Livros Sagrados mais referenciados, especialmente os Evangelhos que trazem a Revelação da Boa Nova de Jesus Cristo, mostrando sua Missão Redentora, seus valores, seu jeito de viver, suas atitudes e seus ensinamentos.

Essa realidade jamais pode ser motivo de desrespeito, desprezo, não aceitação ou exclusão de pessoas não cristãs, ou por terem relação com religiões não cristãs ou por não terem religião ou crença religiosa, como agnósticos e ateus. Também entre os cristãos há divergências importantes, as religiosidades mais pentecostais, as mais tradicionais, as mais fundamentalistas, as mais interpretativas, a espiritualidade Mariana tão presente na vida dos católicos, e tantas outras divergências. Daí vem o bom ditado: “vamos estar em comunhão naquilo que nos une e não criar desunião por aquilo que nos separa”. Isso é muito importante nos serviços onde há uma pluralidade de pessoas com diferentes entendimentos, crenças e culturas religiosas.

Que recado final você daria aos nossos leitores?

Encerro minhas reflexões ressaltando três das diversas dimensões da Espiritualidade: o Amor, a Esperança e a Gratidão. A Esperança tem uma força exuberante para enfrentarmos os desafios que a vida nos impõe e para seguirmos persistentes naquilo que cremos e naquilo que almejamos. Porém, quem espera por esperar não sai do lugar, por isso o grande educador Paulo Freire trouxe o conceito do Esperançar, esperar indo em busca, fazendo acontecer aquilo que se busca. A Fé sem obras é morta e a Esperança sem a atitude de busca é vã.

O sentimento de Gratidão, expressar gratidão, a oração da gratidão, nos faz perceber o quanto temos para agradecer, ainda que o momento seja desolador, reconhecer o que temos para agradecer é um bálsamo para a alma e um alento para um coração machucado. Jesus nos ensinou a oração do Pai Nosso, onde reconhecemos Deus, louvamos Deus, pedimos a Deus, nos comprometemos em também perdoar, e não há um momento de gratidão nessa Oração. Eu imagino que essa parte Jesus deixou para expressarmos de maneira espontânea, fica por nossa conta.

A cultura do Amor é aquela que nos faz sentir na nossa integralidade, pois o Amor é nossa essência, e creio que quando partirmos voltaremos para a plenitude do Amor. Há o Amor expresso em palavras, o Amor vivido nas relações em geral, o Amor expresso nas Orações, o Amor cantado, o Amor em poesia, mas especialmente o Amor de servir ao Irmão, especialmente os mais frágeis, os mais sofridos, os mais carentes e os mais vulneráveis. É a expressão mais Espiritual do Amor.

“São mais sagradas as mãos que servem do que os lábios que rezam” (Madre Tereza de Calcutá)

Em tudo Amar e Servir para a maior Glória de Deus!

Eventos

- Yakissoba Solidário - Páscoa Solidária - 1º Desafio Esperança (corrida virtual) - III Sapori D'Italia (com o chef Jurandir Meirelles)

Campanhas

- Dia de Doar - Amor em Gestos contra o frio - Arrecadação de fórmulas infantis

Apresentação institucional para a Fundação FEAC

Visita da Sra Secretária Vandecleya Moro, da Secretaria da Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos do município

Lúcia Decot Sdoia, como presidente do CONED SP (gestão 2020 - 2022 ), em visita ao Secretário de Justiça do Governo do Estado de São Paulo, Dr. Fernando José da Costa

Lúcia Decot Sdoia, presidente do IPH, assume a Vice-Presidência de Comunicação da nova associação de entidades filantrópicas de Campinas e região, Integra Campinas Lideranças do IPH em adesão ao Projeto "Mostra Cultural Bandeira da Paz"

Destinação de recurso - Tribunal Regional do Trabalho - 15ª região

Nossa Casa, casa de passagem para adultos, recebe Selo Compromisso com a Diversidade pelas ações de inclusão e acolhimento da população LGBT

Prêmios e certificações

Em outubro de 2022 o IPH recebeu a notícia de que tinha sido eleito, pela quinta vez, uma das 100 melhores Ongs do Brasil, segundo o Instituto Doar. A metodologia de avaliação inclui os seguintes temas: Causa e Estratégia de Atuação, Representação e Responsabilidade, Gestão e Planejamento, Estratégia de Financiamento, e Comunicação e Prestação de Contas.

Além do Melhores Ongs, ao longo de sua história o Instituto Padre Haroldo recebeu diversos reconhecimentos, prêmios e certificações. Para Lúcia Decot Sdoia, presidente do IPH, “esses reconhecimentos nos mostram que estamos no caminho certo, pois eles avaliam de forma ampla os serviços e desempenho das entidades, trazendo resultados que nos ajudam a crescer e melhorar os processos e oferta de serviços. O cotidiano nos exige coragem, mas seguimos trabalhando com seriedade e promovendo impacto social. Isso é importante para que nossos apoiadores saibam que estão auxiliando uma organização confiável e transparente.” - 100 Melhores ONGs do Brasil - 2017, 2018, 2019, 2021 e 2022 - Selo Doar - Gestão e transparência - Certificado Phomenta - Transparência e Boas Práticas - RAC Sanasa – Sustentabilidade - Inovação Social – Gov. Estado / SP - Melhores Comunidades Terapêuticas do Mundo - WFTC - Diploma de Honra ao Mérito - CMC - Prêmio Paes Leme - Melhores do Ano - SIC / RMC

Desenvolvimento institucional

Inspiração e transformação

Desde o início de 2021 parte da diretoria e as lideranças dos serviços e departamentos do IPH vêm se reunindo com a Profa. Dra. Maria Rita Nascimento Pereira para repensar a cultura organizacional, através de saberes do filósofo e educador Paulo Freire. “A proposta visa fortalecer o olhar crítico, o coletivo e o diálogo, a partir de nossas realidades, além de aumentar a integração entre as lideranças e serviços”, ressalta Lúcia Decot Sdoia, presidente do IPH.

Para uma organização que atua com políticas públicas, nas áreas da assistência social e saúde, o pensamento crítico e a construção coletiva são essenciais no cotidiano de trabalho.

Paulo Freire é referência nacional e internacional, na área da educação, ao atuar com populações vulneráveis e nos inspira no trabalho que visa ao desenvolvimento da consciência e da autonomia pessoal e comunitária.

“Paulo Freire ensinou, acima de tudo, que precisamos aprender a ouvir, a entender e a respeitar uns aos outros”, afirmou seu crítico Douglas J. Simpson.

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