RICEM | VOLUME 1 | COLÉGIO ÁBACO

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Ficha técnica

EQUIPE EDITORIAL

Editores

Andrea Bortolotto

Guilherme Bergaro

Revisão do texto em inglês

Equipe Access International School

Criação e diagramação

Isabela Pascoaso

Rodrigo Fiorito

É com imenso orgulho que apresentamos a primeira edição da Revista de Iniciação Científica do Ensino Médio, um marco na história do nosso colégio. Este projeto nasceu da minha vontade de criar um espaço onde nossos alunos possam compartilhar suas descobertas, ideias e pesquisas, fomentando o conhecimento científico. Com a ajuda dos professores Andrea Bortolotto e Guilherme Bergaro, a revista tomou forma e hoje está em suas mãos.

O Ábaco sempre esteve comprometido em investir em diversas áreas do conhecimento.

A ciência, em especial, é uma das chaves para compreendermos o mundo ao nosso redor e transformá-lo para melhor, e é com essa visão que lançamos esta revista, que agora se torna mais uma ferramenta de aprendizado e crescimento.

É um prazer também organizar o 1º Congresso de Iniciação Científica do colégio, um evento com intuito de reunir estudantes e professores para trocarem experiências e celebrarem o conhecimento.

Agradeço a toda a equipe pedagógica e aos alunos que se empenharam para tornar este sonho realidade. Desejo a todos uma ótima leitura!

Rodolfo Saad

Diretor Geral do Grupo Ábaco

EDITORIAL

É com grande satisfação que apresentamos a primeira publicação da RICEM, que traz o produto final do processo de construção de uma pesquisa científica elaborada pelos alunos do ensino médio. Os estudantes, ao longo de 6 trimestres, aprenderam a reconhecer as principais características que distinguem o conhecimento científico de outros tipos de conhecimentos - como o mitológico, o filosófico, o metafísico e o tradicional. Após essa etapa, os estudantes escolheram, sem nenhuma interferência externa, o seu tema de pesquisa. Esse tema foi sendo delimitado e recortado até o ponto de adquirirem-se critérios suficientes para identificar fontes científicas confiáveis que fundamentaram suas pesquisas. Como etapa final, escreveram individualmente seus artigos que foram reunidos em uma linha de pesquisa, resultando nos trabalhos aqui publicados.

Essa publicação, que reúne alguns destes trabalhos, contribui, entre outras coisas, para divulgar os primeiros passos deste processo de iniciação ao mundo da pesquisa científica.

Sejam, portanto, bem-vindos à primeira edição da RICEM e desejamos a todos(as) uma leitura proveitosa e estimulante.

Editores Andrea Bortolotto Guilherme Bergaro Sagula de Almeida

VERSÃO EM INGLÊS

O conteúdo desta revista também está disponível em inglês. Os artigos foram revisados pelos professores da Access International School. Nós, do Colégio Ábaco, agradecemos o apoio de todos os profissionais da Access envolvidos nesse projeto.

Os textos foram traduzidos com o intuito de ampliar as possibilidades de acesso ao material desenvolvido pelos alunos do colégio.

Para aqueles que desejam explorar a versão em inglês, basta clicar no link abaixo. Com isso, você será direcionado para a edição completa em inglês, onde poderá navegar por todos os textos e descobertas científicas apresentados por nossos alunos.

SUMÁRIO

ARTIGO 01. GUERRA FRIA: REVOLUÇÃO NA AVIAÇÃO

06 73 17 91

ARTIGO 02. IMPACTO DA NUTRIÇÃO E DA GASTRONOMIA INTEGRADAS À PRÁTICA REGULAR DE EXERCÍCIOS FÍSICOS

27

41

ARTIGO 03. AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS E COMPORTAMENTAIS DO INDIVIDUALISMO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA CAUSADAS PELO SISTEMA CAPITALISTA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.

101

ARTIGO 06. ANÁLISE DA NECESSIDADE DOS INVESTIMENTOS NAS CENTRAIS NUCLEARES NO BRASIL: TENDO COMO PARÂMETRO AS USINAS HIDRELÉTRICAS

ARTIGO 07. RELAÇÃO ENTRE MÚSICA E PSICOLOGIA: OS BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS EMOCIONAIS NA ALTA PERFORMANCE

ARTIGO 08. JOGOS COMO FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO INFANTIL E JUVENIL

ARTIGO 04. OS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO DO CIGARRO ELETRÔNICO E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA CONTEMPORANEIDADE

113 54

ARTIGO 05. PSICOLOGIA DAS CORES E MAQUIAGEM CINEMATOGRÁFICA

133

ARTIGO 09. REAÇÕES DO CÉREBRO: IMPACTOS NOS TRATAMENTOS MÉDICOS

ARTIGO 10. REALISMO NO GRÁFICO DE JOGOS 3D E SEU IMINENTE PLATEAU

GUERRA FRIA: REVOLUÇÃO NA AVIAÇÃO

Laleska Rocha Ramos

Lucas Veloso Guerra

Patrick Storch De Souza

Este artigo analisa o impacto da Guerra Fria no desenvolvimento tecnológico da aviação, destacando como a rivalidade entre os Estados Unidos e a União Soviética impulsionou avanços em aeronaves e sistemas de segurança. Durante a Guerra Fria, a corrida armamentista e a busca por supremacia aérea levaram ambos os blocos a investirem em pesquisa e desenvolvimento. Entre os principais avanços, destacam-se os “winglets”, que reduziram o arrasto aerodinâmico e melhoraram a eficiência do combustível; as asas de geometria variável, que permitiram que aeronaves ajustassem suas características aerodinâmicas durante o voo, aumentando a versatilidade; e as mudanças nas cabines de comando, com a transição para sistemas automatizados e a implementação do “Glass Cockpit”, resultando em um controle mais intuitivo e seguro, além de dispositivos automáticos, como alertas de proximidade do solo, que aprimoraram a segurança operacional. Essas inovações impactaram tanto a aviação militar, com caças e bombardeiros mais eficientes, quanto a aviação comercial, com aeronaves mais rápidas e econômicas. Em conclusão, a Guerra Fria foi um catalisador para transformações duradouras na aviação, refletindo a interação entre competição geopolítica e inovação tecnológica, cujos legados ainda moldam a aviação moderna.

PALAVRAS-CHAVE: Aerodinâmica. Aviação. Geopolítica. História. Segurança.

1. Introdução

O desejo de voar acompanha o homem desde suas origens, como mostra a criação da lenda de Dédalo e Ícaro, que construíram asas de pena e cera para escapar da prisão onde foram presos pelo rei Minos. Várias foram as vezes que matemáticos, engenheiros e cientistas tentaram desenvolver um projeto de uma máquina tripulada que pudesse se manter no ar, porém foi apenas em 1783 que se conseguiu fazer um voo tripulado, no qual os irmãos Montgolfier realizaram o feito em um balão de ar quente.

A partir deste momento passou a existir um crescente interesse no desenvolvimento de aeronaves mais leves e mais pesadas do que o ar (balões e aviões). Neste contexto, nos anos 1900, dois importantes nomes se destacaram na elaboração de uma máquina que poderia voar pelos céus, os irmãos Wright e Santos Dumont, com a criação, respectivamente, do Flyer e do 14 bis. Tais feitos revolucionaram a construção de aeronaves e proveram uma maior atenção a essa nova tecnologia.

Após as duas grandes guerras mundiais, na Guerra Fria, essa nova tecnologia começou a ser usada pelos governos como arma de guerra e espionagem, o que ocasionou o desenvolvimento de aviões supersônicos e embargados e, por consequência, novas tecnologias que suprissem as necessidades engenhosas dos sistemas e estruturas aviônicas. Dessa maneira, tal época ficou marcada na história por um salto exponencial no desenvolvimento de mecanismos aeronáuticos. Partindo desse princípio, neste trabalho serão mostrados fatores geopolíticos importantes na era da Guerra Fria que influenciaram essa evolução. Juntamente com essa análise, serão apresentados os produtos da engenharia aeronáutica desenvolvidos durante esse período da história da sociedade mundial e suas colaborações no desenvolvimento da aviação em um escopo geral.

2. Contexto Geopolítico Da Guerra Fria

A Guerra Fria foi um período de intensa rivalidade política, ideológica, econômica e militar entre os Estados Unidos e a União Soviética, bem como de seus respectivos aliados, que se estendeu do final da Segunda Guerra Mundial até a dissolução da União Soviética. Esse conflito, embora nunca tenha se transformado em uma guerra aberta entre as superpotências, influenciou profundamente a geopolítica global e a

vida cotidiana de milhões de pessoas. A divisão do mundo em dois blocos opostos –o bloco ocidental, liderado pelos Estados Unidos e apoiado pela NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), e o bloco oriental, liderado pela União Soviética e apoiado pelo Pacto de Varsóvia – caracterizou a ordem internacional durante essa época.

Durante este período, um dos aspectos mais significativos foi a corrida armamentista e tecnológica, pois neste cenário geopolítico caracterizado pela divisão bipolar, fomentou-se uma intensa competição em várias frentes, incluindo a aviação militar. As potências buscavam estabelecer supremacia aérea como um componente crucial de sua estratégia de dissuasão. Essa prática gerou uma acentuação da corrida tecnológica sem precedentes na inovação e no desenvolvimento, levando os dois lados a investir massivamente em novas tecnologias e designs de aeronaves.

3. Avanços Tecnológicos Na Aeronáutica Durante A Guerra Fria

3.1. Desenvolvimentos Aerodinâmicos

No contexto da Guerra Fria, dentro da engenharia aeronáutica, pode-se destacar o desenvolvimento de algumas tecnologias aerodinâmicas que impulsionaram exponencialmente o desempenho das aeronaves, entre elas os “winglets” e as “asas de geometria variável”.

3.1.1. Winglets

A criação dos winglets, conhecidos também como dispositivos de ponta de asa, se deu na necessidade de resolver as complicações geradas pelo fluxo de ar quando em contato com as asas, o que está diretamente relacionado às condições físicas do voo, como a velocidade relativa ao ar, o ângulo de ataque e por consequência a força de sustentação. E é possível identificar esses problemas através da formação de “rastros” em formato de vórtices logo atrás da aeronave.

Um vórtice é o fluxo de ar com uma geometria afunilada, causada pela diferença de pressão entre a região abaixo da asa e aquela acima da asa (FERRI, 2016, p. 44).

Esse fluxo de ar pode gerar diversas consequências relacionadas ao arrasto induzido e na qualidade de voo de aviões em mesma rota, uma vez que as aeronaves podem sofrer episódios de turbulência severa devido à instabilidade do ar, fenômeno também

chamado de “esteira de turbulência”. Dessa maneira, surge a necessidade da criação dos dispositivos de ponta de asa .

A ideia dos winglets foi originalmente proposta por Richard Whitcomb, um engenheiro aeronáutico norte-americano, na década de 1970. Whitcomb percebeu que as pontas das asas geram um arrasto significativo devido à formação dos vórtices de ponta de asa, o que reduzia a eficiência do voo. Ele propôs que a adição de pequenas extensões verticais nas pontas das asas poderia reduzir esses vórtices e, assim, diminuir o arrasto aerodinâmico (BARGSTEN, 2011, p. 15-16).

Ao instalar winglets nas pontas das asas, essas pequenas extensões verticais alteram o padrão de fluxo de ar ao redor das pontas das asas (Figura 1). Isso diminui a intensidade e o tamanho dos vórtices de ponta de asa, reduzindo, assim, o arrasto induzido. A redução do arrasto permite que as aeronaves voem de forma mais eficiente e, consequentemente, economizem combustível e aumentem o alcance.

Figura 1- Winglet

NASA Glenn Research

Ademais, os winglets, além de diminuírem o arrasto induzido, também podem gerar um aumento na força de sustentação e na estabilidade direcional do voo. Dependendo da angulação na instalação destes dispositivos, eles são capazes de gerar uma sustentação através dos turbilhões e gerar também empuxo.

3.1.2. Asas De Geometria Variável

Fonte:

Asas de geometria variável, também conhecidas como asas ajustáveis, são um tipo de asa que pode alterar sua forma e/ou posição durante o voo para se adaptar a diferentes condições de operação. Essa capacidade de ajuste pode incluir a variação da envergadura, do ângulo de incidência, da forma da asa ou até mesmo da posição das superfícies de controle (MIN; KHAC; RICHARD, 2010, p. 188).

Essa tecnologia permite que uma aeronave ajuste suas características aerodinâmicas de acordo com as necessidades específicas de cada fase do voo, como decolagem, cruzeiro, manobras de combate (no caso de aeronaves militares) e pouso.

Há diversos tipos de asas de geometria variável que podem ser obtidas através de diferentes processos: rotação, contração e inflação. No contexto da Guerra Fria, foram criadas asas morfológicas relacionadas aos processos de rotação das asas, mais especificamente rotações de asa no mesmo plano horizontal.

As primeiras aeronaves a aderirem a essa nova tecnologia foram aeronaves militares, como o F-14 Tomcat (Figura 2). Esta é uma aeronave militar que atinge velocidades supersônicas e, portanto, exige estruturas que sejam favoráveis desde baixas velocidades, como em pouso e decolagem, até em altas velocidades, como em voos de cruzeiro ou em combate.

Fonte:

Contudo, essas exigências são conflitantes no âmbito aerodinâmico, pois quanto maior o ângulo das asas em relação ao eixo direcional do avião, maior a

Figura 2: F-14 Tomcat
NASA Photo, 1979

sustentação em baixas velocidades, mas maior será o arrasto. Por outro lado, aeronaves em formato “delta” proporcionam menor arrasto em altas velocidades, mas menor sustentação em baixas velocidades.

Tendo em vista esses embates, engenheiros acabaram desenvolvendo as asas que se movem para frente/trás dependendo do período do voo. A situação mais conhecida de retração das asas é nos voos supersônicos, que exigem uma geometria em formato triangular.

Dessa maneira, as asas de geometria variável são tecnologias que proporcionaram o desenvolvimento de aeronaves cada vez mais versáteis através de pequenas modificações estruturais durante o voo.

3.2. A Segurança E O Desenvolvimento Das Cabines De Comando

3.2.1. Cabines De Comando

Especificamente nas cabines de pilotagem de aviões comerciais, o progresso reflete constante desenvolvimento tecnológico e ajuste às necessidades de segurança e eficácia operacional, compreendendo a importância da ergonomia. Assim, é importante estudar como esse desenvolvimento afetou e afeta a segurança do voo.

De acordo com Henriqson e Carim Júnior (2011, p. 36), “no século XX, as cabines das aeronaves foram projetadas com muitos instrumentos para fornecer ao piloto dados suficientes e garantir a segurança do voo. Contudo, atualmente, a ênfase está em transmitir as informações de forma clara e direta, evitando sobrecarregar o piloto com dados desnecessários”.

Coombs (2005) relata que, com a introdução generalizada dos motores a jato em aeronaves comerciais por volta de 1955, foram instalados equipamentos que possuíam instrumentos de medição independentes, como o pitot, garantindo que cada piloto tivesse acesso ao seu próprio conjunto de instrumentos, com a finalidade de evitar incidentes decorrentes de leituras incorretas ou falhas em um dos equipamentos.

Nos anos 1970, houve uma rápida integração de dispositivos automáticos nos cockpits, visando melhorar a segurança, praticidade e eficiência dos voos. Esses dispositivos automatizaram sistemas anteriormente operados manualmente, como alertas de proximidade do solo (GPWS) e detecção de estol, auxiliando as tripulações

na identificação de perigos iminentes e, consequentemente, reduzindo a necessidade de certos papéis na cabine. Com lançamento do Airbus A300 em 1974, a empresa introduziu o conceito de "Forward Facing Crew Cockpit", fazendo referência à tripulação que estaria posicionada para a frente na cabine de comando, pois o engenheiro de voo, cuja posição ficava na lateral na aeronave, já não era mais necessário.

Na década de 1990, a Airbus revolucionou a concepção das cabines das aeronaves ao lançar os modelos A319/20/21/30/40. Essas aeronaves introduziram os princípios do Glass Cockpit, substituindo mostradores analógicos por digitais. Além disso, o controle primário da aeronave passou a ser feito pelo piloto automático e pelo Sistema de Gerenciamento de Voo, com o sistema de tração dos motores integrado a este, substituindo os tradicionais manetes de aceleradores por um sistema de tração automática.

3.2.2. Questão Da Segurança

Assim, em uma área que procura ter um número mínimo de incidentes, os ambientes de trabalho – cada vez mais tecnológicos – podem representar um desafio de adaptação dos pilotos, pois nem sempre se consideram seus limites físicos e mentais (GOMES DO CARMO, 2022, p. 13).

A investigação de um acidente envolvendo um Airbus A-320 em 1996, na França, mostrou que a causa estava em um erro na inserção, programação e monitoramento dos parâmetros do piloto. Além disso, evidenciou-se o despreparo da tripulação no controle adequado da automação do avião.

Em 2007, um Airbus A-320 da TAM caiu devido à complexidade do sistema de automação. Os pilotos precisaram criar modelos mentais simplificados para interagir com a aeronave, mas eles são insuficientes em situações complexas. Isso destacou a importância dos sistemas de alerta para manter a consciência situacional da tripulação (CARMO E HASSE, 201, pg. 84)

Segundo a ANAC (BRASIL, 2018), a criação de um Sistema de Gestão de Segurança Operacional (SGSO) melhora a segurança da aviação civil global. Programas intensivos de prevenção de segurança e disseminação do SGSO ajudaram a reduzir acidentes no Brasil. A introdução do Crew Resource Management

(CRM) também visa a melhorar a segurança, aumentando a consciência situacional, a tomada de decisões, a comunicação e o gerenciamento do estresse causado pela carga cognitiva devido à automação. A formação em CRM beneficia a aviação ao lidar com erros humanos.

Portanto, a segurança no voo é uma prioridade máxima na aviação moderna, e uma variedade de ferramentas e tecnologias são empregadas para garantir a segurança dos passageiros, tripulantes e aeronaves. Essas ferramentas abrangem desde a própria estrutura das aeronaves e sistemas embarcados avançados até protocolos operacionais rigorosos e medidas de segurança regulatórias.

Os aviões modernos comerciais estão equipados com sofisticados sistemas de navegação e controle de voo, incluindo GPS (Sistema de Posicionamento Global), sistemas de navegação por satélite e piloto automático. Esses sistemas ajudam os pilotos a manter o controle preciso da aeronave, mesmo em condições meteorológicas adversas ou em rotas complexas.

A segurança no voo também depende da comunicação eficaz e da cooperação entre as partes interessadas, incluindo pilotos, controladores de tráfego aéreo, companhias aéreas, fabricantes de aeronaves, autoridades reguladoras e organizações de investigação de acidentes. Essas partes trabalham em conjunto para identificar e abordar questões de segurança, compartilhar informações sobre incidentes e implementar medidas corretivas para melhorar a segurança geral da aviação.

Todas essas ferramentas foram implementadas conforme a evolução tecnológica se ampliava, cedendo espaço para sistemas mais seguros e eficazes de transportar passageiros.

4. Conclusão

A Guerra Fria, como um período de intensa rivalidade entre os Estados Unidos e a União Soviética, impulsionou notavelmente os avanços tecnológicos em diversas áreas, especialmente na aviação. A corrida armamentista e a necessidade de superioridade tecnológica levaram ambos os lados a investir massivamente em pesquisa e desenvolvimento aeronáutico. No âmbito da segurança e dos comandos de voo, houve significativas inovações. A introdução de sistemas de navegação

inercial, o desenvolvimento de sistemas de controle de voo mais avançados e a integração de tecnologia digital nas aeronaves contribuíram para um salto na precisão e confiabilidade dos aviões militares e, consequentemente, comerciais. Estes avanços estabeleceram a base para os modernos sistemas de aviação que hoje garantem altos níveis de segurança e eficiência operacional.

Paralelamente, a aerodinâmica das asas também se beneficiou enormemente durante a Guerra Fria. A competição pela supremacia aérea levou ao desenvolvimento de perfis de asas mais eficientes e ao uso de materiais mais leves e resistentes. Tecnologias como asas em delta, asas enflechadas e superfícies de controle avançadas foram aprimoradas para melhorar o desempenho em alta velocidade e manobrabilidade das aeronaves. Estas inovações não apenas aumentaram a capacidade operacional dos caças e bombardeiros, mas também influenciaram diretamente o design de aeronaves civis, resultando em aviões mais rápidos, econômicos e com maior alcance. A pesquisa aerodinâmica conduzida durante esse período estabeleceu os fundamentos para a aviação moderna e tornou possível a exploração de novos conceitos que continuaram a evoluir nas décadas subsequentes.

Em conclusão, a Guerra Fria foi um catalisador para avanços significativos na aviação, com implicações duradouras tanto no campo militar quanto civil. Os progressos em segurança e comandos de voo, junto com as inovações na aerodinâmica das asas, destacam como a pressão e a competição podem acelerar o desenvolvimento tecnológico. Hoje, usufruímos dos benefícios dessas inovações, que não apenas melhoraram a eficiência e a segurança das aeronaves, mas também expandiram as fronteiras do que é possível na aviação. O legado da Guerra Fria, portanto, é evidente nas tecnologias avançadas que moldam o presente e o futuro da aviação global.

Referências

BARGSTEN, Clayton; GIBSON, Malcom. NASA Innovation in Aeronautics: Winglets, Striving for Wingtip Efficiency. Disponível em: https://lf5422.com/wp-

content/uploads/2011/11/nasa_innovation_in_aeronautics.pdf. Acesso em: 9 set. 2023.

BORBA GOMES, Jerônimo. Segurança de voo: tecnologia na operação da aviação civil. 2019. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Aeronáuticas) – Universidade do Sul de Santa Catarina, 2019.

FERREIRA SILVA, Bruno. Fatores de risco a bordo das aeronaves comerciais relacionados à automação. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Aeronáuticas) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2020.

FERRI, Rodrigo. Visão geral sobre os dispositivos de ponta de asa e os princípios físicos envolvidos na sua dinâmica operacional. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação em Engenharia Aeronáutica) -Universidade de Taubaté, 2016.

GOMER DO CARMO, João Victor. A evolução das cabines de comando e a necessidade de adaptação aos fatores humanos. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Aeronáuticas) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás Escola Politécnica, 2022.

GUERREIRO, E. C. História da aviação: o legado de Alberto Santos Dumont e dos irmãos Wright. Unisul Digital / UNISUL, v. 36, n. 1, p. 1-37, 2023. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/33236/1/VFD_EMER SONGUERRERO.PDFA.pdf.

HENRIQSON, Éder; CÉSAR JUNIOR CARIM, Guido; WAJNBERG GAMERMANN, Ronaldo. Fatores humanos no design de cabines de comando. In: Revista Conexão Sipaer, v. 2, n. 2, Brasília, Cenipa, 2011, p. 13-44.

LORENZINI COELHO, Maurício; HASSE, Margareth. Neurocognição e o emprego de aeronaves tecnologicamente avançadas: Um novo campo a ser explorado na segurança de voo. In: Revista Conexão Sipaer, v. 9, n. 3, Brasília, Cenipa, 2018, p. 82-90.

MIN, Zheng; KHAC, Vu; RICHARD, Liew. Aircraft morphing wing concepts with radical geometry change. The IES J. Part A: Civil & Structural Engineering, v. 3, n. 3, p. 188–195, 2010.

QUEVEDO, J. O.; Watchmen e o contexto histórico da guerra fria. 1.ed. Usp. p. 1-52.

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RICCO, M. F. F.; ALMEIDA, C. A. A aviação e a segurança de voo em um contexto evolutivo da ciência. Revista da UNIFA, v. 33, n. 1, p. 36-42, 2020. Disponível em : https://dx.doi.org/10.22480/rev.unifa.v33n1. Acesso em: 1 mar. 2024.

SCHRAMM, J. F. O domínio do ar: surgimento, impacto e evolução do poder aéreo nas duas grandes guerras mundiais. Revista da UNIFA, v. 32, n. 2, p. 37-46, 2019. Disponível em: https://dx.doi.org/10.22480/rev.unifa.v32n2.444. Acesso em: 10 fev. 2024.

IMPACTO DA NUTRIÇÃO E

DA GASTRONOMIA

INTEGRADAS À PRÁTICA REGULAR DE EXERCÍCIOS FÍSICOS

Antônio José Souza Pessolato

Arthur Henrique Broll

Lucas Bispo Zanatta

Lucas Sichel Daré

Luigi Catto Lazzarutti

Manuela Macedo Santiago

O presente artigo tem como objetivo discutir o impacto da nutrição e da gastronomia quando associadas à prática regular de exercícios físicos, com foco nos macronutrientes essenciais: lipídios, proteínas e carboidratos. Será abordado, também, como a aparência e o sabor das refeições podem influenciar positivamente a adesão às dietas, ajudando as pessoas a seguirem seus planos alimentares de forma mais eficaz. Além disso, a relação entre a prática de exercícios físicos, uma alimentação equilibrada e o aumento da hipertrofia muscular será explorada, com destaque para a importância de um planejamento adequado a fim de maximizar resultados. O texto também analisará os efeitos da suplementação de creatina, enfatizando seus benefícios para a produção de força muscular e hipertrofia, bem como os mecanismos de ação que sustentam esses efeitos. Com essa abordagem, o objetivo é tornar hábitos saudáveis mais acessíveis e práticos para todos e proporcionar, tanto a atletas quanto a iniciantes, a oportunidade de adotar um estilo de vida mais saudável e ativo. Ademais, visa a combater problemas de saúde relacionados à má alimentação e nutrição inadequadas e a promover uma conscientização sobre a importância de uma dieta equilibrada aliada à prática de exercícios físicos regulares.

PALAVRAS-CHAVE: lipídios; proteínas; carboidratos; suplementos; exercício físico; nutrição.

1. Introdução

A nutrição e a gastronomia desempenham papéis cruciais na saúde e no desempenho físico. Quando combinadas com uma prática regular de exercícios, estas vertentes da alimentação podem potencializar os benefícios para o corpo e a mente. Lipídios, carboidratos e proteínas, três dos macronutrientes essenciais, são frequentemente mal compreendidos, embora sejam vitais para o funcionamento adequado do organismo. Este artigo busca elucidar a importância da nutrição e da gastronomia na promoção de uma alimentação equilibrada e nutritiva, explorando o impacto desses macronutrientes e da gastronomia no desempenho atlético e na saúde geral. Além disso, discutem-se os efeitos da suplementação de creatina, um composto ergogênico1 popular entre atletas e praticantes de hábitos saudáveis.

2. Desenvolvimento

2.1. Lipídios

Os lipídios são frequentemente associados, no senso comum, a uma conotação negativa devido ao seu alto teor calórico, mas desempenham papéis essenciais tanto na saúde quanto no desempenho físico. Eles são cruciais para várias funções biológicas, incluindo a constituição das membranas celulares, a regulação hormonal, o transporte de vitaminas lipossolúveis e o fornecimento de energia. Para atletas e praticantes de hábitos saudáveis, os lipídios fornecem uma fonte concentrada de energia, especialmente durante atividades de baixa intensidade e longa duração. Além disso, são importantes para a recuperação muscular e a síntese de hormônios anabólicos, contribuindo para o crescimento e reparo muscular. Embora essenciais para a saúde, é importante consumilos com moderação e escolher fontes saudáveis, como gorduras insaturadas, em vez de gorduras saturadas e trans. O equilíbrio entre os diferentes tipos de lipídios na dieta é crucial para promover a saúde cardiovascular e o bem-estar geral.

Os lipídios são necessários para a saúde cardiovascular, a função cerebral e a regulação inflamatória. Ácidos graxos essenciais, como ômega-3 e ômega-6, são particularmente importantes. Fontes alimentares de lipídios incluem óleos vegetais,

1 Um composto ergogênico é qualquer substância, estratégia, ou prática que tem como objetivo melhorar o desempenho físico, especialmente em atividades esportivas ou de alta intensidade.

nozes, sementes, abacate, peixes gordurosos e produtos lácteos. Uma dieta equilibrada deve incluir uma variedade dessas fontes para garantir a ingestão adequada de ácidos graxos essenciais e outros nutrientes importantes. (MARTIN, 2006, p. 4)

2.2. Proteínas

As proteínas são nutrientes essenciais para diversas funções no corpo, incluindo armazenamento, recepção e transporte de substâncias. Podem ser ingeridas de diversas formas, como proteínas animais ou suplementos como o whey protein, cuja discussão será feita posteriormente. Para proteínas, as recomendações variam entre 1,2 a 2,0g/kg de peso corporal por dia, dependendo da intensidade e tipo de atividade física. (PREVIATO, et al, 2022, p. 4)

Esse macronutriente desempenha um papel crucial na reparação e no crescimento muscular. Após o exercício, a síntese proteica é aumentada, e a ingestão de proteínas ajuda a reparar as microlesões musculares causadas pelo esforço físico. É importante que fontes naturais de proteínas sejam priorizadas sempre que possível, para garantir uma nutrição completa e saudável.

A qualidade da fonte proteica é determinada pelo perfil dos aminoácidos essenciais e pela digestibilidade dos alimentos. As melhores fontes de proteína são, nesta sequência, proteínas de origem animal (carne, peixe, ovos e laticínios), de origem vegetal (leguminosas, cereais, nozes) e aditivos (soro, caseína, proteína de soja e proteína de arroz) (CABRITA, 2017, p. 8).

2.3. Carboidratos

Os carboidratos desempenham um papel crucial no desempenho físico, sendo a principal fonte de energia para atividades físicas tanto aeróbias quanto anaeróbias. Sua importância vai além de fornecer energia imediata, pois também ajudam a preservar a massa muscular ao evitar o uso de proteínas como fonte de energia, ativam o metabolismo de gorduras e são essenciais para o bom funcionamento do sistema nervoso central.

Nos esportes de longa duração, como maratonas, ciclismo e triatlos, nos quais o corpo depende fortemente de vias aeróbias, a disponibilidade de carboidratos armazenados como glicogênio nos músculos e fígado é essencial. Paralelamente, em esportes de curta duração e alta intensidade, como o treinamento de força, a ingestão adequada de carboidratos melhora o rendimento e favorece a hipertrofia muscular, fornecendo rapidamente energia durante os períodos de esforço intenso.

As recomendações de ingestão diária de carboidratos para atletas variam de 6 a 10g por kg de peso corporal ou 60-70% da ingestão calórica total, dependendo de fatores como o tipo de exercício, a intensidade, o gasto energético, o gênero e as condições ambientais. A ingestão de carboidratos antes, durante e após o exercício é crucial para manter os níveis de glicogênio e a glicose sanguínea, o que garante que o atleta tenha energia suficiente para manter o desempenho.

Durante exercícios prolongados, quando os estoques de glicogênio são consumidos, o corpo começa a utilizar gorduras e proteínas como fontes alternativas de energia. No entanto, isso pode levar à degradação muscular (proteólise), o que reforça a importância de uma dieta rica em carboidratos para evitar a fadiga precoce e a perda de massa muscular. Assim, uma dieta inadequada em carboidratos pode prejudicar significativamente o desempenho físico, especialmente em exercícios de alta intensidade ou de longa duração. (OLIVEIRA, 2014, p. 5).

Dietas com baixo teor de carboidratos (Low Carb) são definidas como a ingestão de menos de 200g de carboidratos por dia, usualmente entre 50 e 150g por dia ou abaixo de 40% da energia advinda dos carboidratos. Estas dietas promovem cetose e oxidação lipídica, causando um efeito de saciedade e aumento do gasto energético, o que pode resultar em perda de peso (ATKINS, 1992, p. 125).

Embora as dietas Low Carb possam ser eficazes na perda de peso e no controle de certas condições médicas, elas podem prejudicar a capacidade de praticar atividade física, pois reduzem os estoques de glicogênio muscular e aumentam a fadiga durante o exercício (WHITE, et al., 2007 p. 1794). Além disso, a restrição de carboidratos pode levar a efeitos adversos como dores de cabeça, diarreia, fraqueza e cãibras musculares. Em uma dieta para hipertrofia muscular, é necessária a utilização de 2 a 3,5 gramas de proteína por dia para promover a diminuição de carboidratos e aumento de proteínas, resultando em redução de gordura corporal e aumento de massa muscular.

2.4. Macronutrientes no exercício físico

No caso da proteína, por exemplo, esportistas que realizam um treino comum (média intensidade e médio volume) devem consumir diariamente entre 1,2 a 1,4g/kg. Já para quem pratica treinos avançados ‘endure’ (intensidade baixa e alto volume), o consumo diário deve ser entre 1,6 a 1,7g/kg. A terceira opção, uma espécie de treino ‘ultra endure’ (volume alto e intensidade alta) exige o consumo diário de 2g/kg de proteína. Esses dados indicam que a quantidade de proteína ingerida pelo atleta deve ser

diretamente proporcional ao treino, sendo que quanto mais intenso, maior a quantidade de proteína a ser consumida. Essa quantidade de proteína é necessária para que haja a recuperação muscular do atleta, o que exige um alto consumo de aminoácidos. (DUNFORD, 2012, p. 34)

O carboidrato também é apresentado pelos autores como elemento fundamental para um bom treino. Utilizando as mesmas bases de classificação, pessoas que realizam treinos comuns devem ter entre 55% a 60% de suas calorias diárias ser provenientes somente de carboidratos; para pessoas com treino intenso prevê-se como essencial para saúde um consumo de 60% a 70% das calorias diárias.

2.5. Gastronomia

Os hábitos alimentares são complexos e influenciados por diversos fatores em diferentes níveis. As dietas modernas não apenas fornecem energia e nutrientes, mas também impactam a saúde e o desenvolvimento de doenças. Por isso, as recomendações alimentares visam prevenir doenças crônicas, prolongar a expectativa de vida e melhorar sua qualidade. Recentemente, questões de sustentabilidade e o impacto ambiental dos sistemas e padrões alimentares ganharam destaque. Práticas alimentares também estão profundamente ligadas às culturas, tradições, e ao bem-estar social e emocional. O prazer, a satisfação e o conforto associados ao ato de comer desempenham um papel fundamental no consumo alimentar, embora a maioria das estratégias para promover hábitos mais saudáveis muitas vezes negligenciem esse aspecto. Aprender a valorizar o sabor e as texturas dos alimentos, aproveitar o momento de comer com atenção plena e dedicar o tempo necessário ao preparo e consumo das refeições podem facilitar a adoção de hábitos mais saudáveis. (PÉREZ-RODRIGO, ARANCETA-BARTRINA, 2021, p. 22).

A gastronomia, como arte e ciência da preparação de alimentos, desempenha um papel crucial na forma como os alimentos são percebidos, consumidos e metabolizados pelo organismo. Ela pode ser uma aliada poderosa na promoção de uma alimentação equilibrada e nutritiva. Ela incentiva a utilização de uma ampla variedade de ingredientes, contribuindo para uma dieta mais balanceada e rica em nutrientes essenciais. A diversidade de sabores, texturas e aromas estimula o apetite e aumenta o prazer de comer, facilitando a adoção de uma alimentação saudável a longo prazo.

Nesta esteira é fundamental a valorização de ingredientes locais e saudáveis, ou seja, uma gastronomia que valoriza ingredientes frescos e sazonais, que geralmente são mais nutritivos e sustentáveis do que alimentos processados ou industrializados.

Ao priorizar ingredientes de alta qualidade, os chefs podem criar pratos que são ao mesmo tempo aprazíveis e benéficos para a saúde de modo a oferecer uma variedade de técnicas de preparação que podem preservar ou até mesmo melhorar o valor nutricional dos alimentos. Métodos como grelhar, assar, cozinhar no vapor e saltear, em vez de fritar, podem reduzir tanto a adição de gorduras quanto a perda de nutrientes. Além disso, a utilização de ervas e especiarias naturais pode melhorar o sabor sem a necessidade de adicionar sal ou açúcar em excesso. (OMS, 2017)

A apresentação visual dos pratos também desempenha um papel significativo na experiência gastronômica. A forma como os alimentos são dispostos no prato pode influenciar a percepção de sabor e a satisfação com a refeição. Um prato bem apresentado pode estimular o apetite e tornar a refeição mais prazerosa, incentivando escolhas alimentares mais saudáveis. O uso de cores vibrantes e uma disposição atraente dos alimentos pode aumentar o desejo de consumir frutas, vegetais e outros alimentos nutritivos.

2.6. Suplementação

2.6.1. Creatina

A creatina é um suplemento amplamente utilizado no meio esportivo, conhecido por seus efeitos benéficos na produção de força muscular e na hipertrofia. Este suplemento é um composto encontrado naturalmente em pequenas quantidades na carne e no peixe, mas também pode ser sintetizado pelo corpo humano a partir dos aminoácidos glicina, arginina e metionina. A creatina armazenada nos músculos esqueléticos é convertida em fosfocreatina, que serve como uma reserva rápida de energia durante exercícios de alta intensidade e curta duração. Este processo ocorre através da regeneração rápida de adenosina trifosfato (ATP), a principal fonte de energia celular. (MUJIKA, PADILLA, 1997, p. 492)

A suplementação de creatina tem sido amplamente estudada e demonstrou proporcionar vários benefícios para atletas e praticantes de exercícios físicos. Ela se mostra eficaz para aumentar a força e a potência muscular, especialmente durante atividades de alta intensidade, como levantamento de peso. Além disso, a creatina pode melhorar a performance em exercícios anaeróbicos repetidos, permitindo maior produção de força em treinos intensos. Contribui para o aumento da massa muscular, tanto pela retenção de água intracelular quanto pelo estímulo à síntese proteica.

A creatina pode também acelerar a recuperação muscular após exercícios intensos, reduzindo a fadiga e os danos musculares. Pode ter efeitos benéficos na função cognitiva, especialmente em situações de privação de sono e estresse mental.

A dose padrão de creatina é geralmente de 3 a 5 gramas por dia, tomada continuamente. Alternativamente, uma fase de carga de 20 gramas por dia dividida em quatro doses de 5 gramas por 5-7 dias, seguida por uma dose de manutenção de 3-5 gramas por dia, também é uma prática comum. A creatina pode ser tomada com água ou adicionada a shakes de proteína. Sua ingestão com carboidratos ou proteínas pode aumentar a absorção muscular.

2.6.2. Whey protein

Whey protein é um suplemento alimentar derivado do soro do leite, uma substância líquida que é separada da coalhada durante o processo de fabricação de queijos. É uma fonte rica de proteínas de alta qualidade, contendo todos os aminoácidos essenciais de que o corpo precisa para construir e reparar tecidos. Porém, tal suplemento não substitui totalmente o consumo de fontes proteicas naturais a suplementação deve ser feita com moderação e sob supervisão. Os tipos de whey são: concentrado, que contém uma pequena quantidade de gordura e carboidratos (lactose), com um teor de proteína que varia entre 70% e 80%; e isolado, que passa por um processo adicional de filtração para remover quase toda a gordura e lactose, oferecendo uma concentração de proteína de cerca de 90% ou mais. Ele é frequentemente utilizado por pessoas que buscam aumentar a ingestão de proteínas, como atletas e praticantes de atividades físicas, para melhorar a recuperação muscular e o desempenho.

Em uma dieta para hipertrofia muscular, é necessária a utilização de 2 a 3,5 gramas de proteína por dia para promover a diminuição de carboidratos e aumento de proteínas, o que implica redução de gordura corporal e aumento de massa muscular. No entanto, o uso excessivo sem orientação nutricional pode levar a sérios danos hepáticos e renais. (ABREU, et al, 2021, p. 5)

Este suplemento é utilizado em dietas para hipertrofia muscular devido à sua alta taxa de proteína e aminoácidos e à baixa quantidade de gordura. Durante a produção de queijo, o soro liberado é processado para obter um suplemento de alta qualidade, disponível em várias formas e concentrações. Este suplemento é particularmente eficaz para promover a síntese proteica, a recuperação muscular e o crescimento de massa magra. (PREVIATO, et al, 2022, p. 5)

3. Conclusão

A nutrição, a gastronomia e a prática regular de exercícios físicos são componentes fundamentais para a saúde e o bem-estar geral. Carboidratos, proteínas e lipídios desempenham papéis essenciais no fornecimento de energia, na recuperação e crescimento muscular e na manutenção da saúde cardiovascular. A gastronomia, como arte e ciência da preparação de alimentos, pode ser uma poderosa aliada na promoção de uma alimentação equilibrada e nutritiva. Ao se combinarem essas disciplinas com uma abordagem consciente e prática, é possível maximizar os benefícios para a saúde e o desempenho físico ao se incentivarem hábitos alimentares saudáveis e se combaterem problemas relacionados à má alimentação e à nutrição inadequada. A combinação de uma nutrição adequada, técnicas culinárias saudáveis e uma rotina regular de exercícios físicos cria uma sinergia que pode transformar a saúde e o bem-estar. Promover a conscientização sobre a importância dessa combinação pode ajudar a incentivar hábitos alimentares mais saudáveis, melhorar o desempenho atlético e combater os problemas relacionados à má alimentação e nutrição inadequada.

A combinação de uma nutrição adequada e práticas gastronômicas saudáveis com uma rotina regular de exercícios físicos é forte aliado na busca de benefícios para a saúde e o desempenho atlético. A inclusão consciente de macronutrientes essenciais, como lipídios, proteínas e carboidratos, em conjunto com a utilização inteligente de suplementos, como a creatina, pode melhorar significativamente os resultados físicos e a qualidade de vida.

É essencial que qualquer programa de nutrição e suplementação seja adaptado às necessidades individuais e que a suplementação seja ajustada a objetivos específicos, preferencialmente com orientação de profissionais de saúde e nutricionistas. O foco deve sempre ser a obtenção de uma dieta balanceada, sustentável e agradável, que promova a saúde a longo prazo.

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AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS

E COMPORTAMENTAIS DO INDIVIDUALISMO NA SOCIEDADE

CONTEMPORÂNEA CAUSADAS

PELO SISTEMA CAPITALISTA:

UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.

João Victor Mendes Abreu

Luana Villarosa Simão

Miguel Paz Martins Monteiro

Victor Gimenez Da Silva

Visando aos diversos impactos sociocomportamentais que a transição de sistemas organizacionais da sociedade pode causar, o presente artigo busca realizar um compilado de artigos que objetiva expor as problematizações da passagem para o sistema capitalista bem como a relação como possíveis causas do surgimento da mentalidade individualista na sociedade moderna. A seguinte revisão foi baseada em 15 artigos que abordam os assuntos colocados em pauta. A revisão evidenciou a passagem dos sistemas econômicos do feudalismo para o pósRevolução Industrial, assim como sua influência para o desenvolvimento da desigualdade social e econômica. Também é analisado o conceito do consumismo contemporâneo e suas consequências comportamentais observadas nos indivíduos. Será ainda explicitada a pressão social imposta pela mentalidade neoliberal no mercado de trabalho, que afetou diretamente a área da educação, notadamente os estudantes. Por fim, é abordada a questão da mudança psicológica e comportamental dos indivíduos frente ao uso de meios digitais atrelados à Internet.

PALAVRAS-CHAVE: Capitalismo. Neoliberalismo. Individualismo. Sociedade.

1. Introdução

A Humanidade como um todo possuiu diversas formas de organizações socioeconômicas e políticas e a troca entre tais sistemas organizacionais da sociedade é o estopim para diversas mudanças na forma como os indivíduos passam a encarar o mundo e a agir nele. Tendo isso em mente, o texto visa a abordar causas e consequências de mudança comportamental e psicológica incididas na introdução do capitalismo como sistema econômico e social na sociedade contemporânea, envolvendo a criação de um pensamento individualista. O ponto de vista adotado na pesquisa faz-se opositor à situação individualista em que a sociedade contemporânea se encontra, visando a expor possíveis causas da infiltração da mentalidade neoliberal individualista na sociedade contemporânea e suas consequências para os tempos atuais. Os argumentos foram baseados em 15 artigos científicos que abordam o assunto.

Para falar do neoliberalismo, do individualismo e de suas relações com o psicológico individualista da sociedade, faz-se necessário se atentar a uma análise histórica profunda desde a expansão do capitalismo mercantil, no século XIV, com as Grandes Navegações, e o desenvolvimento do liberalismo, tendo em vista que essa é a base do individualismo. Para isso, será analisada a história do capitalismo e seus vínculos com a desigualdade social e econômica, o consumismo presente nesse sistema e seus impactos em âmbito educacional e no meio digital. Os resultados levaram à conclusão de que algumas das causas da ascensão da mentalidade individualista na sociedade atual após transição de sistema organizacional da sociedade são a desigualdade social, a mudança no mercado de trabalho e no sistema educacional, a propagação do consumismo e a dinamização das relações sociais propostas pela internet. Além disso algumas das consequências evidenciadas advindas de tais mentalidades foram a mudança comportamental nos adolescentes, a normalização do comportamento egocêntrico e o aumento da insegurança para se encaixar em padrões impostos pela sociedade

2. Desenvolvimento

Segundo Henrique Nardi (2003, p. 39), “o sujeito da contemporaneidade, por sua vez, emerge a partir dos escombros, dos traços e das rupturas/continuidades que marcam a transição da sociedade industrial à sociedade da acumulação flexível”. Afirma-se, também, que o início da desigualdade social vinculada a uma sociedade de indivíduos se dá por meio do surgimento do capitalismo mercantil, no século XIV. Segundo o autor, é neste ponto que o mundo

transforma uma sociedade holista (centrada em subordinação entre setores hierarquizados) em uma sociedade individualista, cuja característica é a relação social enfatizada pelos bens materiais. Sendo assim, pode-se dizer que a sociedade contemporânea promoveu a hipervalorizarão dos bens materiais em detrimento das posições hierárquicas, diferentemente da sociedade holista.

Parafraseando Michel Foucault, Nardi explica que a individualização das pessoas de fato existia antes do capitalismo; porém, era ligada diretamente à hierarquização da sociedade. Os súditos, diz Nardi, não eram tidos como indivíduos, e sim como subordinado a outro que, por sua vez, é tido como indivíduo próprio.

Com a finalidade de exemplificar a passagem da sociedade holista a uma sociedade individualista, Nardi afirma:

“Não devemos esquecer que a Revolução Francesa foi uma revolução burguesa baseada em princípios liberais e, portanto, era impossível pensar o Estado como regulador das relações de trabalho. O imperativo da sobrevivência obrigava os então cidadãos trabalhadores franceses “livres e iguais” a aceitarem relações de trabalho absolutamente perversas”. (NARDI, H. C., 2003, p. 41).

Para ressaltar que o individualismo surge com a Revolução Francesa e com a Revolução Industrial, Aline Scandelai (2010, p. 24) afirma que “no capitalismo, o trabalhador só é dono da sua mão-de-obra, sendo a única forma de sobrevivência vendê-la como mercadoria em troca de um salário”. Assim, torna-se visível que, como ninguém tem real posse do trabalhador, as tradições holísticas entraram em decadência, já que era nisso que elas se baseavam. Henrique Nardi ainda critica a falha na tese da igualdade de direitos pós-Revolução Francesa e desmascara, assim, a hipocrisia quanto ao resultado do movimento, que não condizia com os ideais previamente espalhados. “Apesar de a Revolução Francesa ter concedido direitos políticos iguais aos cidadãos, os trabalhadores, por sua vez, devido à condição de ‘não proprietários’, não gozavam de uma igualdade de fato, pois estavam ‘despossuídos de si mesmos’” (Henrique Nardi, 2003) . A partir deste trecho, pode-se relacionar que, ainda que a Revolução Francesa e a Revolução Industrial tenham contribuído para a modernização e erradicação de ideais e tradições holísticas na política, a desigualdade persisteu, mas, desta vez, relacionada às diversas manifestações da injustiça legal em relação aos direitos trabalhistas. Segundo Quintaneiro, Barbosa e Oliveira (2002, p. 49),

“[Os operários] labutavam em turnos diários de 12 a 16 horas, ampliados para até 18 horas quando a iluminação a gás tornou-se disponível. Foi em 1833, e somente nas fábricas têxteis da Inglaterra, que crianças entre 9 e 13 anos foram proibidas de trabalhar em jornadas de mais de 9 horas, e as que tinham entre 13 e 16 anos por mais de 12 horas, sendo o turno da noite reservado para que frequentassem a escola.”

Em ensaio intitulado “Por que se importar com a desigualdade”, Celia Kerstenetzky (2002) usa o Brasil como exemplo para o tema, afirmando que “como no Brasil a propriedade de ativos valiosos (capital físico, terra, educação, ativos financeiros) é, historicamente, muito concentrada, seguem-se os persistentemente baixos níveis de renda dos mais pobres.”

É possível, portanto, estabelecer uma relação direta e decorrente, mas não exclusiva, entre a desigualdade, o início do capitalismo, a concentração de bens e renda, o neoliberalismo e, por último, mas não menos importante, o surgimento do individualismo, que se distribuiu em diversos setores da sociedade e é tanto consequência quanto causa de determinados problemas sociais. Um desses setores, por exemplo, foi no sistema de ensino moderno, que sofreu diversas alterações decorrentes da transição de sistema político-econômico, após a mudança das demandas do mercado de trabalho.

Logo, faz-se necessário ressaltar a importância do trabalho na sociedade atual, descrita como: “Mesmo de forma desigual, o trabalho foi, na sociedade moderna, o dispositivo central de integração social e, ao mesmo tempo, a forma de acesso à proteção social.” Por NARDI, H. C. (NARDI, H. C., 2003, p. 11). Dessa forma, a partir da crise do sistema de acumulação fordista, os indivíduos que não adquiriam trabalho, ou seja, que não aderiam a esse dispositivo de integração social, acabavam por serem marginalizados e taxados como “inúteis para o mundo” e “vagabundos” (CASTLE, 1998).

Tendo isso em vista, a mentalidade neoliberal, pautada na concorrência, que seria, supostamente, a melhor forma de regular atividades – visto que não existe interferência estatal, apenas a vontade dos indivíduos em questão, e na meritocracia, baseada no sucesso daquele que de fato se destaca em relação a outros indivíduos – acaba por estabelecer as ferramentas de ascensão individual na sociedade. Dessa forma, a mentalidade coletiva, segundo a qual todos possuiriam a mesma oportunidade acaba por ser substituída pela neoliberal (RIBEIRO, M. de P, 2015, p. 843).

Nesse contexto, surge a preocupação de inserir-se ao mercado de trabalho, não só para preservar seus status econômico e social mas também para garantir a sobrevivência do

indivíduo. Dessa forma, o sistema de educação, que assumiu a função de principal meio preparatório para inserir um indivíduo no mercado de trabalho, viu-se muito afetado, já que o “sucesso” ou não do indivíduo, na perspectiva neoliberal, estava, na prática, atrelado à sua capacidade de se inserir (RIBEIRO, M. de P, 2015, p. 844).

A tal situação soma-se a condição dos países de capitalismo tardio, nos quais este sistema econômico, de acordo com NARDI, H. C., causou uma transformação de código moral contemporâneo, acarretando um maior individualismo, uma frouxidão de laços sociais, uma criação de uma cultura de narcisismo, uma perspectiva incerta sobre a sociedade, uma competição elevada ao extremo e um extermínio das garantias de estabilidade para um indivíduo (NARDI, H. C., 2003, p. 12).

Dessa forma, no pensamento capitalista neoliberal, a educação, principalmente durante o período da infância e adolescência, é supostamente vista como uma ferramenta para “erradicar a pobreza”, uma vez que ao aprimorar o conhecimento de um indivíduo e instruí-lo, ainda impulsionado pela concorrência e meritocracia, torna-se mais provável sua ascensão socioeconômica (RIBEIRO, M. de P, 2015, p. 844).

Desse modo, colocando em pauta a faixa etária escolar e a mudança psíquica causada a ela pelo sistema neoliberal, é possível observar que, de acordo com GONÇALVES E SAMPAIO, os adolescentes são um dos setores mais vulneráveis quanto à saúde mental, potencializado pelo fato de que a adolescência é uma fase de mudanças, de criação de identidade do indivíduo e estabelecimento de seu papel como membro da sociedade. Portanto, faz-se necessária maior atenção por parte de professores, familiares e profissionais da saúde (GONÇALVES E SAMPAIO, 2016, p.55).

Nesse contexto, de acordo com GONÇALVES e SAMPAIO (2016, p. 56), quando o adolescente, que busca adquirir novos conhecimentos e experiências acaba sendo abordado de forma errônea pelos seus responsáveis, uma possível reação é “desencadear uma sequência de falhas no desenvolvimento físico e psíquico desses jovens”. Tais falhas podem ter origens diversas, com destaque aos problemas sociais contemporâneos que influenciam no aparecimento de transtornos psíquicos nos jovens, tais quais: renda familiar baixa, uso de álcool, fumo ou narcóticos (pelo jovem), problemas de relacionamento familiar, histórico de dependência de drogas (por parte dos pais), além de abusos domésticos. (GONÇALVES e SAMPAIO, 2016, p. 57).

Não obstante, outra possível causa dessas falhas é a pressão escolar dirigida aos jovens no intuito de adquirir conhecimentos para a preparação do mercado de trabalho. De acordo com

J. Q. Avanci e Cols. (2007), uma das principais variáveis que se associou a transtornos psiquiátricos menores foi a competência de participação em sala de aula, na qual alunos que diziam ter pouco participação na aula tinham 2,45 vezes mais chances de contrair transtornos comportamentais do que alunos considerados ativos em aula (J. Q. Avanci e Cols., 2007, p. 291).

Além disso, muitos problemas nos estudantes podem ser observados por motivos familiares, dado que o individualismo contemporâneo e o estresse pós-trabalho se infiltram no lar familiar. Ainda na pesquisa de J. Q. Avanci e Cols., outra das principais variáveis de Transtornos Psiquiátricos Menores (TPM) é o abuso psicológico familiar: crianças submetidas a esse tipo de abuso têm 4,17 vezes mais chances de contrair os TPM do que crianças que não sofreram (1,65 vezes mais em casos menos severos). Além disso, evidencia-se que crianças que presenciaram quaisquer problemas de relação familiar, tais como discussão com os pais, separação, novo casamento, ou problemas com o nascimento de um novo irmão possuem 3,15 vezes mais chances de adquirir os TPM do que crianças que não tiveram (J. Q. Avanci e Cols., 2007, p. 290).

Outro fato a ser observado é a sexualidade biológica: de acordo com GONÇALVES e SAMPAIO, os homens possuem maior tendência de adquirir transtornos psicológicos gerados por diferenças anatômicas, químicas e funcionais entre os cérebros dos diferentes sexos (GONÇALVES e SAMPAIO, 2016, p. 56).

Outro setor relativo às causas e consequências do individualismo é o do consumo, uma vez que, ainda impulsionado pelos avanços e pela dinamicidade proposta pelos tempos modernos, a prática consumista excessiva torna-se cada vez mais cotidiana e infiltrada em diversos setores sociais, de forma a reafirmar o ímpeto pela apropriação de bens materiais e a mentalidade individualista.

O capitalismo, como citado anteriormente, remete a uma sociedade econômica baseada na livre concorrência, na propriedade privada e no lucro próprio. Em suma, uma das consequências mais recorrente na sociedade capitalista é o individualismo. O egocentrismo torna-se coerente conforme entendemos seu significado em meio ao sistema econômico capitalista. A noção de individualismo de Louis Dumont (1983, p.35) refere a um "conjunto de ideias e valores que colocam o indivíduo particular no centro das atenções e tendem a atribuir a este indivíduo a possibilidade de realização pessoal” e, como consequência, tende a atribuir a este indivíduo a ideia de sucesso e superioridade em relação aos que vivem ao ser redor. Em

meio a esse ambiente, em que a meritocracia e a liberdade são estimuladas, a sociedade passa a ser, em termos gerais, egoísta. (TOURINHO, Emmanuel. 1993)

O materialismo consiste basicamente no consumo excessivo de bens materiais, produtos e serviços, que, na maioria dos casos, não são essenciais. A sociedade atual foi caracterizada como “sociedade do consumo” pelo filósofo e sociólogo francês Jean Baudrillard, que afirma que a sociedade “ já não consome mais coisas, mas somente signos” (1970, p. 24). Em seu conceito quer dizer que objetos são consumidos principalmente por seus significados mais superficiais e não por uma necessidade real de uso ou funcionalidade do objeto. Segundo Baudrillard a sociedade de consumo admira e enaltece sempre o novo, impondo regras, costumes e necessidades e bombardeando com campanhas que praticamente obrigam os indivíduos a consumir produtos atuais que, na maioria dos casos, não são necessários, o que implica a velocidade absurda em que objetos novos são criados e consequentemente descartados. O ciclo de inovação contínua faz com que objetos se tornem obsoletos quase que inevitavelmente. esse fenômeno impacta diretamente no ciclo de consumo desenfreado. (ThiryCherques. 2010).

A cultura de aquisição, está diretamente relacionado à ''moda'', um termo de origem francesa “Mode”, que trata basicamente dos costumes e hábitos de uso de certa área geográfica, durante período. Engloba-se uma tendência que a maior parte da sociedade acata e usufrui relacionada a roupas e acessórios. Em meio a sociedade de consumo, é sinônimo de ascensão econômica estar vinculado às tendências e, por esse motivo, que a população busca se inserir, e diante disso o que era tido como tendência é substituído em um curto prazo e consequentemente perde relevância e se torna "ultrapassado". A moda é também uma forma de distinção de classes sociais, segundo a qual os participantes de uma elite econômica estão sempre em busca de algo novo para expressar seu estilo de vida por meio de aparências. Segundo o filósofo francês Gilles Lipovetsky, em “O Império do Efêmero”, a moda inicialmente surge para preencher alguma lacuna superficial deixada na sociedade e, conforme se consegue suprir essa necessidade, surgem novas necessidades, o que reinicia um ciclo nomeado pelo autor de “bola de neve”.

Como o mercado sempre está em constante renovação e em busca de inovar, aquilo que é relativamente “antigo” é desvalorizado e visto como insuficiente conforme o tempo passa. (Gilles Lipovetsky, 1983),

Atualmente, em uma sociedade onde há sempre a necessidade de estar dentro das tendências ditadas pelas redes sociais, existe um receio de não estar inserida nelas. O empresário e escritor Patrick J. McGinnis (2000), autor de “Fear of Missing Out”, criou o termo FOMO

(fear of missing out, ou medo de ficar de fora) para explicar essa insegurança de não estar a par de tudo que é exposto nas mídias sociais e a necessidade de estar atualizado, o que leva diretamente ao consumo. (MOURA, Débora Ferreira. 2021).

Jovens inseridos nas gerações Z e Alpha tendem a ser mais suscetíveis à influência externa, principalmente por meio das mídias sociais, e a comprar impulsivamente. Isso ocorre por diversos fatores, mas um dos motivos mais recorrentes é pelo fato de estarem em fase de desenvolvimento de sua identidade pessoal e buscarem se incluir em grupos. Segundo tese defendida pela mestre em administração Rebeca Lira Cavalcanti Gomes, essa busca acaba gerando um elevado nível de gastos desnecessários e o início de um ciclo infinito de insatisfação ligado diretamente ao individualismo, que prioriza interesses individuais. (Gomes, Rebeca Lira Cavalcanti, 2023, p. 26).

Outra vertente diretamente relacionada ao consumismo desenfreado da população é a respeito da finidade dos recursos necessários à fabricação. O consumismo passa por três processos: primeiro, cria-se uma necessidade de compra a respeito de determinado produto; em seguida, vem a criação de um produto que funciona como resolução para a necessidade criada; por fim, repetir o processo para o ciclo da economia capitalista funcionar. Durante o segundo processo, para a produção dos bens necessários, matérias-primas são indispensáveis. Entretanto, há limites para uso dos recursos naturais não renováveis. Ainda que a taxa de crescimento da população mundial ao final do século XXI, segundo projeção da ONU, tenha ficado em 1,1% e que a projeção para 2030 da população mundial chegue a 8,5 bilhões de habitantes, o consumo de recursos para a produção e distribuição de bens e serviços se multiplicou devido a demanda e ao consumo excessivo da população mundial (SILVA, M. B. O.; FLAIN, V. S, 2017.)

É importante ressaltar que a exploração de recursos naturais é limitada e que produção dos bens de consumo em larga escala é influenciada pela crença de que há uma renovação infinita das matérias-primas o que já implica crises ambientais. Incentivar o consumo consciente é fundamental para uma maior conscientização.

Tendo em vista tais tendências consumistas, faz-se evidente uma correlação do surgimento da mentalidade individualista neoliberal com a ampliação dos meios digitais, devido à dinamização de diversas funcionalidades da sociedade, sendo uma delas o consumo. Ainda, é importante citar a relação do individualismo com o surgimento e popularização da internet, e especialmente das redes sociais, que mondaram a forma de interação entre os seres humanos. Dessa forma, de acordo com GERBASI (2014, p.68), o individualismo na internet é formado principalmente pelo fato que, a economia dentro desse espaço é personalizável: as

pessoas podem consumir coisas na internet do modo que desejam, escolhendo dentre um catálogo de vídeos, roupas etc. Por isso, os produtores de conteúdos na internet também agem de acordo com os consumidores, ou seja, produzem de acordo com os interesses cada vez mais específicos de cada usuário.

Por um lado, a internet cria um espaço onde é possível trocar culturas, línguas e valores entre pessoas. Por outro, este local proporciona o desenvolvimento do individualismo e a ideologia consumista, que pode ser observada em anúncios, por exemplo.

De acordo com ELLIOTT (2018, p.472), o individualismo é movido pela mudança instantânea, que pode ocorrer a qualquer momento. Isso pode ser percebido nas mudanças que a empresa Nokia fez ao longo do tempo para adquirir lucros. Essa corporação, ao longo do tempo, foi gradualmente alterando seus produtos de acordo com o que a sociedade mais desejava naquele momento. Isso demonstra o funcionamento do individualismo em dias mais atuais: a busca por algo novo e personalizado sempre está em alta. O consumismo está contido no individualismo, pois as pessoas passam a ser movidas, muitas vezes, exclusivamente pelo consumo e a mentalidade de “querer agora” ou “mudar agora”. Vendedores de produtos impulsionam essa ideia e revolucionam seus produtos, demonstrando ao consumidor que ele pode se reinventar no momento que desejar.

Para Zygmunt Baumann, na interpretação de ELLIOTT (2018, p.474), as pessoas se mantêm reclusas a determinados mercados devido à desvalorização de produtos. Se uma pessoa, por exemplo, comprar uma DVD player, este já não poderá ser o mais moderno no dia seguinte, já que pode ser superado tecnologicamente por outro aparelho. Isso leva o consumidor a comprar um novo produto, o que cria um ciclo perpétuo. Outra estratégia que o mercado utiliza é o “método de satisfazer necessidades de forma que novas continuem a surgir”. Uma pessoa que compra determinado produto e se sente satisfeita passa a comprar outros produtos da mesma marca.

Além disso, ELLIOTT (2018, p. 476) destaca que o individualismo e o consumismo foram potencializados pela globalização, que proporcionou a expansão de determinados modelos culturais, entre eles o estadunidense, que influenciam o mundo inteiro a um “consumo em massa”. Essa globalização também influenciou multinacionais e seus empregados, o que levou ao declínio de empregos vitalícios, para a vida toda. Isso ocasionou uma volatização da economia. Mustaq et al. (2022, p.2) também reforçam que a globalização trouxe uma mudança no mercado de trabalho, com grande ênfase na flexibilidade e nas adaptações constantes: os trabalhos temporários e a terceirização, por exemplo, receberam grande destaque, aumentando

assim a precarização das condições laborais. Essas mudanças não só afetam a segurança no trabalho como também aumentam as discrepâncias entre trabalhadores altamente qualificados e aqueles que possuem baixa capacitação (nenhuma formação em uma universidade, por exemplo), o que saliente ainda mais a desigualdade econômica.

De acordo com PRAPROTONIK (2019, p.124-125), o individualismo também está presente em curtidas, comentários e seguidores em redes sociais, uma vez que os usuários têm mais “capital social e cultural”. Isso gera uma espécie de “reação em cadeia”, que é chamada de networked individualism. Segundo esse conceito, uma pessoa tem uma série de ligações com outras pessoas, sendo que esses outros indivíduos têm mais conexões. Durante os anos 90, pessoas costumavam no meio das redes sociais conversar sobre assuntos em comum com pessoas desconhecidas, assim construindo suas relações. Hoje em dia, esse tipo de conversa não é mais comum. Pessoas não se mantêm anônimas, visto que a identidade em redes como Facebook é real e transparente, e os perfis se tornam marcas.

A persona dos usuários é formada nestes perfis em que, de acordo com PRAPROTONIK, se torna difícil manter uma personalidade consistente, já que cada vez mais é necessário se adaptar às vontades de outros para ser aceito dentro da sociedade.

3. Conclusão

A partir das informações expostas, é possível perceber a trajetória e evolução das formas do capitalismo. Ainda é possível evidenciar a presença e influência de práticas e mentalidades neoliberais e capitalistas para a formação de um complemento individualista em vários setores da sociedade.

Sobre esses diferentes setores, foi possível sobressaltar que a perpetuação e intensificação da desigualdade material/social, advindas da transição do sistema econômico, são as causas do surgimento da mentalidade individualista contemporânea. Desde os tempos da Revolução Industrial, que marcou a queda das sociedades holísticas, o conceito de individualismo está em ascensão. Como a Revolução Industrial também marca o início do liberalismo econômico, é correto chegar à conclusão de que o individualismo está diretamente ligado ao liberalismo e ao capitalismo. Em relação à desigualdade, também foi possível afirmar que está diretamente ligada ao individualismo e ao liberalismo, já que, da passagem do feudalismo para o capitalismo, houve a transição entre a desigualdade social, em que os servos eram subordinados aos senhores feudais, e a desigualdade econômica, em que os pobres tinham de encarar situações exploratórias no ambiente de trabalho. Sobre as causas específicas

atribuídas às mudanças sofridas no setor educacional, verificou-se a influência da mentalidade neoliberal, principalmente no conceito de “sucesso” de um indivíduo atrelado à sua posição social, a qual é ditada pelo mercado de trabalho. Apontaram-se, também, suas consequências, que afetam a mentalidade, o comportamento e o desempenho dos estudantes, pressionados principalmente pelo mercado de trabalho e os problemas sociais contemporâneos que os cercam.

Ainda é possível associar o individualismo como causador de uma mentalidade egocêntrica e que busca o constante autoaperfeiçoamento e autoaceitação. Isso implica a busca de um refúgio no consumo excessivo e nas tendências conhecidas como moda, gerando um círculo vicioso de compra e a insegurança de sempre acompanhar as novidades, o que afeta tanto a mentalidade do indivíduo quanto a questão ambiental do planeta. Tal efeito foi ainda amplamente impulsionado pela subsequente ascensão dos meios digitais, o que massificou o consumo.

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OS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO DO CIGARRO ELETRÔNICO E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA CONTEMPORANEIDADE

Ana Clara Pozenato Gerbino

Beatriz Menezes Rosa Mazzeti

João Rodolfo Magalhães

Lorena Ribeiro Moreira

Luana Allendes Zanon

Malu Moura Fernandes

Este artigo discute os impactos do tabagismo e dos cigarros eletrônicos na saúde pública, enfatizando o tabagismo como uma das causas mais significativas de mortes que poderiam ser evitadas. De modo comparativo, o artigo busca analisar como os cigarros eletrônicos surgiram e como são relacionados a uma política de redução de danos dos cigarros convencionais, mesmo sem nenhuma prova científica que garanta a segurança dos usuários. Embora não faça uso de combustão, o aparelho é composto de substâncias nocivas como a nicotina. Também podem causar doenças do sistema respiratório e cardiovascular, como a EVALI, além do risco de agravar as complicações da COVID-19. Ademais, o estudo discute o impacto ambiental dos Cessa da produção ao descarte. Além disso, analisa a falta de ações governamentais que regulamentem o dispositivo com o objetivo de melhorar o conhecimento dos possíveis danos à saúde da população. Conclui-se que, apesar de certas limitações já impostas, o uso de cigarros eletrônicos têm aumentado, muitas vezes com impactos desconhecidos da maioria da população. Por serem o públicoalvo, o crescimento entre adolescentes e jovens adultos torna a tendência ainda mais preocupante.

PALAVRAS-CHAVE: Cigarros eletrônicos; Cigarros convencionais; Impactos biológicos; Impactos sociais; Impactos ambientais;

1. Introdução

Novas práticas de fumo, quando se criaram os cigarros eletrônicos (CE), também conhecidos como “vapers” ou “pods”, surgiram a fim de entrar no mercado como uma alternativa aos cigarros tradicionais e como possibilidade de redução ou cessação de seus danos. Assim, boa parte dos usuários trocaram o cigarro convencional (CC) por um que se acreditava ser menos nocivo, uma vez que a nicotina era reposta sem a necessidade da queima do tabaco.

Em consequência, o tabagismo tornou-se uma das grandes problemáticas contemporâneas e debates significativos devem ser propostos sobre os seus impactos sociais, econômicos e ambientais após sua consolidação histórica.

Ao considerar a recente popularização desses produtos, o artigo busca reunir informações e trabalhos anteriores relacionados ao tema, embora o debate sobre seus impactos ainda não esteja amplamente estabelecido. Em uma esfera coletiva e individual, os impactos devem ser analisados de maneira crítica e comparativa aos cigarros convencionais e ao tabaco, visto que a difusão dessa tecnologia ainda é recente.

2. Desenvolvimento

O tabagismo se apresenta como uma das principais causas de morte preveníveis pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e desse modo uma ameaça à saúde pública mundial. O hábito leva a óbito mais de oito milhões de pessoas todos os anos. Ao longo dos anos, o combate tem sido construído, de modo a relacionar o fumo a malefícios sociais. Foram implementadas diversas medidas contra o uso do tabaco, principal meio de fumo contemporâneo. (VITÓRIA, RAPOSO, PEIXOTO, 2001, pág. 45).

Neste contexto, o CE foi introduzido com a promessa de reduzir os danos à saúde associados ao uso do tabaco. É imprescindível considerar primeiramente a consolidação do tabagismo, através dos cigarros convencionais (CC) e como eles se estruturaram como a forma mais comum de fumo.

O uso do cigarro se popularizou principalmente com a Primeira Revolução Industrial. À época, houve um aumento de seu consumo e de sua produção em países como França e Inglaterra. Décadas depois, os principais meios de popularização foram as obras audiovisuais e propagandas. Em filmes com alcance mundial, o cigarro foi colocado como um sinônimo de rebeldia, modernidade e de elegância, influenciando adolescentes da época a consumirem o produto. Já as propagandas tinham o intuito de aumentar o consumo de cigarros, no entanto o foco principal era convencer os indivíduos de que não havia riscos na sua utilização. Logo, criou-se a ideia de que o tabagismo não estava atrelado a uma visão ruim.

O crescimento exponencial das vendas da indústria tabagista a tornou extremamente lucrativa, visto que se criou um “lobby” milionário de produtos relacionados ao tabaco. Esse contexto criou uma série de impasses entre autoridades governamentais, pois, com o aumento das vendas e consumo dessa droga, houve um crescimento nos impactos sociais e sanitários, como novas doenças.

OS CC’s são considerados um problema de saúde pública, uma vez que os custos médicos diretos e indiretos relacionados ao tratamento das condições maléficas advindas dos cigarros adicionam pressão adicional aos sistemas de saúde e aos recursos financeiros do Estado.

O atrelamento a malefícios, como doenças respiratórias e mal cheiro, foi importante para a redução de seu consumo. Nesse contexto, o surgimento do CE – e o desconhecimento dos males que pode causar – foi oportuno e tem ganhado influência e consumidores na sociedade atual. Apesar dos cigarros convencionais, cuja utilização ainda é disseminada, ainda estarem presentes na sociedade, os dispositivos eletrônicos vêm ganhando espaço no mercado tabagista e são, muitas vezes, vendidos como uma alternativa para os CC’s. A nova opção seria “mais saudável” ou “menos nocivo” que o CC, o que ainda não foi comprovado cientificamente.

A introdução desses produtos no mercado ampliou o portfólio dessa indústria, permitindo-lhe alcançar novos segmentos de mercado, a partir da determinação de características intrínsecas de compradores alvo e dos processos de tomada de decisão à compra. Entretanto, não há estudos suficientes que avaliem os riscos reais de como os CE’s interferem na atualidade.

A fim de revisar os impactos, deve-se iniciar uma análise morfológica dos aparelhos. Caracterizado como um dispositivo eletrônico para fumar (DEF) o cigarro eletrônico (CE) é um dispositivo que permite a vaporização de uma solução de nicotina conciliada com substâncias capazes de proporcionar cheiro e sabor mais agradáveis que do tabaco queimado. Em uma configuração típica, tem formato similar a uma caneta ou pen drive.

O usuário, em vez de queimar o tabaco, puxa o ar através do dispositivo no qual um fluxo de ar ou um botão de energia físico ativa um atomizador que produz de um aerossol, que contém nicotina e substâncias aromatizantes. (CHENG, 2014, p. ii11)

Figura 1: Diferentes formatos de cigarros eletrônicos. Fonte: Site Poder 360. Disponível em: https://www.poder360.com.br/brasil/receita-federal-combate-venda-ilegal-de-cigarros-eletronicos/

Assim como se nota na imagem 1, os dispositivos podem ter diversas cores, formatos e sabores. Houve, portanto, uma rápida inovação nos produtos e mudanças no design, o que o popularizou e trouxe um aumento nas composições químicas e estruturais.

O intitulado “vapor” tragado possui aerossol que é, por composição, menos complexo do que a fumaça do cigarro e contém substâncias diferentes dos CC. Por não submeter o fumante a queima de monóxido de carbono (CO), é considerado “menos nocivo” à saúde. Entretanto, podendo variar entre marcas e produtores, os CE’s possuem outras substâncias igualmente maléficas, como a nicotina. Além disso, compostos químicos presentes nos líquidos e aromas que compõe a estrutura do dispositivo podem ter caráter negativo a saúde respiratória.

“Entre as substâncias, destacam-se solventes químicos, compostos orgânicos voláteis e aldeídos, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, material particulado ultrafino, metais pesados, além de compostos que produzem os sabores. Portanto, os CE causam um aumento no estresse oxidativo, liberação de mediadores inflamatórios e alteração na função endotelial, causando um aumento no risco de doenças cardiovasculares. ” (MAGALHÃES, VALE, MENDONÇA, 2022, p.5)

Ainda existem poucas divulgações científicas acerca das consequências sociais dos cigarros eletrônicos, o que dificulta o entendimento dos motivos que levam o público à utilização dos dispositivos e a uma disparidade de opiniões e crenças populares. Desse modo, o tema se encontra dividido por uma visão positiva e uma negativa. Pelo viés contrário, apresentam-se os argumentos já citados, que afirmam preocupações com os potenciais riscos à saúde, em razão dos compostos suspeitos e nocivos, e pela falta de transparência na produção

e na comercizalição. Já em uma visão positiva, atrela-se os CE’s como alternativa ao tabagismo tradicional, sem nenhuma comprovação científica.

A crescente popularização dos cigarros eletrônicos inovou o mercado com um novo tipo de produto que se difere, em diversos aspectos, do CC. Assim, a análise de seus impactos deve ser feita separadamente. Em um primeiro momento, o surgimento do produto estava associado a um possível auxílio terapêutico para os que tentam parar de fumar e, por isso, os cigarros eletrônicos acabaram se tornando atraentes aos já fumantes. Entretanto, indivíduos que nunca fumaram são atraídos pela nova droga.

Os fornecedores desses vaporizadores têm adotado discursos para convencer potenciais usuários a fazer o uso de seus produtos. Campanhas publicitárias de cunho manipulador, disseminadas em plataformas de mídia social, o patrocínio de eventos populares e de figuras influentes da mesma faixa etária do público-alvo e o desenvolvimento de produtos com apelo visual e sensorial, explorando cores e sabores agradáveis, são algumas das estratégias utilizadas por grandes polos tabagistas. O objetivo é criar uma imagem positiva do uso dos cigarros eletrônicos, criando muitas vezes uma invisibilidade de suas consequências. Outrossim, a disponibilidade de uma ampla variedade de sabores agradáveis, as cores chamativas e os diversos modelos disponíveis tornam os cigarros personalizáveis – aliados à percepção de um “vapor” menos adverso que a fumaça do cigarro convencional – tornam os CE’s atraentes. Por meio de uma pseudociência e de uma tecnologia atrativa, busca-se não apenas convencer o cliente a adquirir o produto, mas em maior escala, há uma tentativa de alterar a imagem historicamente negativa da indústria do tabaco. (ALMEIDA, 2017, p. 11).

A propaganda dos CE’s ganha espaço no mercado pela falta de regulamentação e padronização. A Lei 9294/96 trata das restrições à propaganda de cigarro, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas (Agência Câmara de Notícias). (BRASIL, 1996).

Ao contrário dos CC’s, que possuem propagandas limitadas por lei, não há nenhuma proibição semelhantes em relação aos CE’s. Apesar disso, no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) classifica o produto como derivado do tabaco e proíbe a comercialização do produto desde 2009.

Em esfera mundial, muitos países ainda estão desenvolvendo regulamentações específicas para os cigarros eletrônicos. A falta de normas claras pode levar a problemas de controle de qualidade e segurança dos produtos. A regulamentação dos produtos está em ampla

discussão, à medida que mais evidências sobre os seus impactos emergem. Propostas efetivas buscam equilibrar a proteção da saúde pública, especialmente dos jovens, com a liberdade dos adultos de fazer escolhas informadas. Por exemplo, os Estados Unidos que contam com a FDA (Food and Drug Administration), órgão que regula os cigarros eletrônicos como produtos de tabaco, e exigem a revisão na etapa de pré-comercialização de novos produtos. Além disso, há restrições de marketing e rótulos de advertência.

Tanto no Brasil, como nos Estados Unidos da América, o uso do CE vem aumentando, principalmente entre jovens adultos e adolescentes. Nos EUA, o uso entre estudantes do ensino médio subiu de 1,5% em 2011 para 20,8 %, e entre os estudantes do ensino fundamental, subiu de 0,6%, em 2011, para 4,9% em 2018. Já no Brasil, apesar da escassez de pesquisas, um levantamento feito pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul expõe que 2,7% dos estudantes já haviam experimentado e que 0,6% fazia uso regular.

Dessa maneira, nota-se que, apesar das restrições, a utilização vem crescendo exponencialmente com vendas muitas vezes clandestinas e ilegais, inclusive para menores de idade.

O indivíduo afetado pelos CE’s tem a saúde física e mental prejudicada. Apesar disso, não há análises de que, assim como outras drogas, pode funcionar como introdução a outros ilícitos. A incidência do uso de cigarros eletrônicos, principalmente entre jovens, traz preocupações sobre o impacto a longo prazo tanto na saúde pública, como na individual. Ainda pouco se sabe sobre como o uso contínuo dos CE atua nos organismos, o que dificulta o estudo acerca dos impactos na saúde na perspectiva geral. Entretanto, é necessário analisar as substâncias atuantes e as correlações com doenças.

Uma das principais substâncias que compõem os CE’s é a nicotina, que é altamente viciante e pode ter efeitos adversos no desenvolvimento cerebral em adolescentes. Além de contribuir para o estabelecimento do vício, ela pode estar relacionada a problemas cardiovasculares e pulmonares. Presente na essência, prejudica o desenvolvimento pulmonar em jovens e contribui para o aumento do risco de doenças respiratórias crônicas. Os metais pesados e produtos químicos aromatizantes contidos nas substâncias químicas dos cigarros eletrônicos são os principais responsáveis pelos danos pulmonares dos usuários.

Outrossim, os vapores inalados pelos usuários de cigarros eletrônicos também contêm substâncias químicas que causam danos significativos aos pulmões. Em sua maioria, são

compostas por propilenoglicol, glicerol, glicerina vegetal e água. O propilenoglicol é um produto de baixo índice tóxico, entretanto, se utilizado frequentemente, pode causar desde irritação nos olhos e no sistema respiratório e até debilidade do sistema nervoso e do baço. Já o propilenoglicol, se exposto a altas temperaturas, dá origem ao óxido de propileno (CH3CHCH2O) uma substância classificada como cancerígena pela Agência Internacional de Pesquisa Contra o Câncer (IARC). O glicerol, por sua vez, quando aquecido nos CE’s, dá origem a acroleína, substância também cancerígena e irritante para as vias aéreas superiores. Além desses compostos, citam-se o acetaldeído (C2H4O) e o formaldeído (CH2O) como outras substâncias citotóxicas e possíveis causadoras de câncer e inflamações nos seres humanos.

(GUTECOSK, VIEIRA, BIAZON, 2022, pag.6)

Visto que a utilização é danosa à saúde respiratória e está diretamente atrelada ao enfraquecimento desse sistema, outras doenças cardiorrespiratórias, que debilitam ainda mais as vias aéreas e os órgãos vitais, podem estar associadas. Por exemplo, a relação entre a COVID19 e o CE tem se mostrado de grande relevância. Os usuários dos CE apresentam um maior risco de complicações relacionadas à infecção. Isso se deve, em parte, aos efeitos das substâncias nos pulmões, que diminuem o potencial do sistema imunológico em combater o vírus. Ademais, o compartilhamento dos dispositivos aumenta o risco de sua transmissão, uma vez que o mesmo dispositivo entra em contato com diversas mucosas bucais e, consequentemente, expõe os usuários à doença.

As consequências do uso crônico não se limitam a sequelas pulmonares, pois os CE’s podem prejudicar a saúde bucal. Os componentes químicos presentes nos vapores causam manchas na esmaltação dos dentes, cáries dentárias e irritação na boca e na garganta, o que aumenta o risco de infecções bacterianas.

Mais do que agravar infecções, o uso de cigarros eletrônicos levou ao surgimento de uma nova doença, a síndrome da lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos (EVALI).

Os primeiros casos de EVALI foram reportados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) em agosto de 2019 e rapidamente foram registrados nos 50 estados americanos e outras áreas de domínio estadunidense. Em um ano, nos Estados Unidos, manifestaram-se 2400 casos e 52 mortes registradas, associadas a complicações pelo uso do CE. Esse número cresce exponencialmente, mas a falta de estudos sobre os casos ainda não permitiu determinar as causas fisiopatológicas sobre a doença. No entanto, os dados mostraram que a doença pode

estar relacionada ao uso do TCH, ingrediente psicoativo da maconha, nos dispositivos que contém compartimentos que permitem a recarga.

A EVALI é caracterizada principalmente por sintomas respiratórios graves, como tosse, falta de ar e dor torácica. Além desses, outros sintomas gastrintestinais (dor abdominal, náusea e vômito) e constitucionais (febre, calafrio e perda de peso) foram relatados, podendo variar de acordo com o paciente.

“A EVALI manifesta-se com diversas apresentações e em relatos de casos isolados, pode exibir injúria mecânica (pneumotórax espontâneo), pneumonite hipersensível sem entidade única ou pneumonias (orgânica, eosinofílica e lipoide). Alguns aditivos deste produto podem causar estresse oxidativo no epitélio pulmonar.” (SANTOS, et.al. 2021, pag.314)

Logo, nesse contexto, necessita-se considerar as consequências da doença que podem ser concomitantes a outras infecções. Afora a falta de legislação específica e de regulamentação, a carência de conhecimento sobre o assunto dificulta o estudo e o reconhecimento da doença como tal.

Visto que os danos à saúde são ainda desconhecidos, a organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os dispositivos sejam utilizados apenas em áreas abertas, proibindo o uso em áreas fechadas, onde já não é permitido fumar. Nesse viés, é importante considerar o possível fumo passivo quando se trata do CE, para observar os impactos a não fumantes em locais em que estejam expostos ao vapor.

Nos ambientes em que não há a circulação de ar, os indivíduos presentes inalam os vapores exalados pelos fumantes, o que os torna vulneráveis às substâncias tóxicas, finas e ultrafinas como o ar, com destaque para a nicotina. Logo, apesar da quantidade de gases liberados pelos cigarros eletrônicos ser menores que um cigarro convencional, não está claro se essa diferença se traduz em uma menor contaminação das pessoas expostas à emissão, já que em ambos os casos há uma semelhante intoxicação ao comparar os níveis de nicotina.

Além disso, não se sabe se o aumento da exposição dessas substâncias tóxicas ao ar em ambientes fechados pode ser comparado aos danos que o cigarro convencional causa à saúde e ao ambiente, impactados pela fumaça no primeiro caso.

De mesma maneira, também devem ser aprofundados estudos de como os CE atuam na qualidade do ar.

Experimentos foram feitos para analisar os efeitos sobre a qualidade do ar em espaços fechados. Entretanto, havia uma margem para variações sobre os efeitos do aerossol, porque, na maioria dos casos analisados, não foram consideradas a atmosfera específica do local, a umidade do ar e as mudanças de temperatura, que podem afetar os resultados dos estudos. (CHANG, 2014, pág. ii54).

Além disso, é importante ressaltar que não existem mecanismos que limpam os ambientes contaminados pelos resíduos dos cigarros eletrônicos. O impacto no ar não é a único impacto existente, já que também há consequências ambientais provenientes da fabricação e do descarte não padronizados dos CE’s.

Os processos de mineração, necessários para a fabricação do produto, podem gerar diversos tipos de resíduos, cujos ciclos de produção devem ser analisados de modo distinto dos cigarros convencionais. Assim, os principais impactos estão ligados à emissão de gases estufa durante a fabricação e transporte dos produtos.

Os cigarros eletrônicos podem ser montados manualmente por pequenas empresas, em que há uma menor linha produtiva, ou em fábricas maiores, nas quais há uma produção em maior escala. Consequentemente, grandes indústrias deixarão maior pegada ambiental, pois geram maiores emissões e descartes de resíduos industriais. As informações coletadas até o momento, principalmente sobre as emissões, são analisadas de forma individual e cumulativa e assim não são suficientes para considerar as consequências da industrialização de forma integral, dificultando ações que determinem os impactos ambientais.

Os materiais utilizados na produção dos cigarros eletrônicos também têm potencial poluente – a maioria dos dispositivos é feita a partir de plásticos, que, já em sua origem, são poluentes, compostos de hidrocarbonetos extraídos do petróleo, processo que deixa um grande rastro ambiental pela sua difícil extração e necessidade de refino. Além disso, a dissipação de microplásticos afeta os ecossistemas como um todo, já que pequenas partículas se espalham com maior facilidade.

As baterias e dispositivos eletrônicos, junto das substâncias tóxicas e metais pesados, são outros componentes potencialmente contaminadores do espaço. Logo, todos esses compostos se não categorizados e descarados em locais apropriados podem simbolizar uma ameaça de poluição para os ecossistemas marinho e terrestre

O CE não é caracterizado como lixo tóxico ou eletrônico. Novamente não há nenhuma regulamentação ou instrução do descarte, seja pela ação estatal ou do próprio comerciante.

Ademais, ainda não há estudos suficientes que englobem a origem e a destinação final dos dispositivos presentes nos cigarros eletrônicos, o que dificulta o estudo mais aprofundado por ambientalistas.

3. Conclusão

A popularização dos cigarros eletrônicos entre os jovens é uma tendência cada vez mais preocupante, impulsionada principalmente pelos diversos sabores atrativos que esses dispositivos oferecem. Entre as principais consequências dessa tendência, destaca-se o aumento significativo dos riscos à saúde pulmonar e bucal entre os jovens consumidores. Além dos danos imediatos, os usuários de cigarros eletrônicos encontram-se mais suscetíveis a infecções respiratórias severas, como as complicações da COVID-19, bem como ao desenvolvimento da síndrome da lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos, conhecida pela sigla EVALI. O panorama evidencia a urgência de implementar políticas públicas robustas e eficazes para prevenir o uso desses dispositivos entre a população jovem. Para tanto, é fundamental que sejam estabelecidas regulamentações mais rigorosas quanto à comercialização, venda e promoção dos cigarros eletrônicos a fim de restringir o acesso dos jovens a esses produtos. Além das medidas legais, deve-se investir em campanhas educativas que visem a informar e conscientizar tanto os jovens quanto suas famílias sobre os sérios riscos à saúde associados ao consumo de CE. A educação e a conscientização são ferramentas essenciais para diminuir a atratividade desses produtos e, consequentemente, seu uso. Por outro lado, se os benefícios econômicos para as empresas fabricantes de cigarros eletrônicos são evidentes, por outro, os custos sociais e de saúde pública decorrentes do uso desses dispositivos são alarmantes. O aumento de casos de doenças relacionadas ao consumo de cigarros eletrônicos impõe uma carga adicional ao sistema de saúde pública, resultando em gastos crescentes com tratamentos médicos e hospitalares. Assim, a regulamentação eficaz e a fiscalização rigorosa são fundamentais não apenas para proteger a saúde dos consumidores, mas também para garantir a estabilidade econômica, reduzindo os encargos econômicos associados ao tratamento de doenças decorrentes do uso de cigarros eletrônicos. Por fim, é imperativo que tanto os cigarros convencionais quanto os cigarros eletrônicos sejam considerados drogas, dado o amplo espectro de consequências negativas que causam à saúde dos usuários. Ambas as formas de consumo de nicotina – por meio dos CC ou dos CE – devem ser analisadas de maneira comparativa e independente, com atenção redobrada aos novos produtos que chegam ao mercado. As avaliações devem ser realistas e baseadas em evidências científicas sólidas, para que os potenciais usuários possam tomar decisões informadas. Ao adotar uma abordagem abrangente

e multifacetada, pode-se trabalhar efetivamente na redução do uso de cigarros eletrônicos e proteger a saúde das gerações futuras.

RICEM

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PSICOLOGIA DAS CORES E MAQUIAGEM CINEMATOGRÁFICA

Guilherme Ávila Ganaha

Larissa Soares De Almeida

Este texto tem como objetivo examinar a psicologia da maquiagem artística no cinema e a psicologia das cores no contexto audiovisual, com um foco especial em filmes de animação para o público infantil. Tanto a maquiagem quanto o uso das cores são ferramentas fundamentais na construção e na transformação dos personagens, atuando como elementos visuais que ajudam a comunicar suas características e emoções de maneira sutil, mas impactante. No contexto das animações infantis, esses recursos são especialmente importantes, pois contribuem para criar um ambiente visualmente atraente e acessível, capaz de envolver o público mais jovem. A psicologia das cores, em particular, é utilizada de forma estratégica para provocar respostas emocionais específicas nos telespectadores, influenciando suas percepções e reações às histórias e aos personagens. Combinando esses elementos visuais de maneira eficaz, os cineastas conseguem moldar as experiências narrativas de forma significativa, criando filmes que ressoam emocionalmente com o público e deixando uma impressão duradoura, principalmente nas produções voltadas para crianças.

PALAVRAS-CHAVE: cinema; maquiagem artística; cores; psicologia; arte.

1. Introdução

O cinema é uma forma de arte que combina uma variedade de elementos para criar uma experiência visual e emocional única para os espectadores.

Dentro dessa complexa interação entre imagem e emoção, os elementos artístico-visuais desempenham um papel crucial no projeto final como um conjunto.

Nesse contexto, o objetivo deste artigo é ressaltar a relevância da pesquisa em maquiagem artística nos estudos cinematográficos, um aspecto frequentemente subestimado. Será discutido como ela pode influenciar na construção da identidade visual de um personagem, transformando-o em um símbolo reconhecível. Além disso, será abordado o papel psicológico que a maquiagem desempenha ao moldar a identidade das personagens, uma vez que a alteração da fisionomia também modifica a percepção do público sobre elas.

Além disso, o documento pretende apresentar o papel fundamental que a psicologia das cores desempenha na cinematografia, influenciando o humor, a atmosfera e a interpretação de uma cena. As cores são ferramentas poderosas, capazes de evocar uma ampla gama de emoções e reações nos espectadores, desde a serenidade do azul até a intensidade do vermelho, por exemplo. Por isso, ao entender a interação entre a maquiagem artística e as escolhas de cores no cinema, podemos apreciar como esses elementos colaboram para criar impactos emocionais profundos nos espectadores, moldando suas percepções e experiências cinematográficas de maneira significativa.

2. A psicologia das cores e sua influência na interpretação de filmes

A teoria das cores é um campo da ciência e da arte que estuda como as tonalidades são percebidas e como elas interagem entre si. Baseada inicialmente no trabalho de Isaac Newton e sua descoberta do espectro de cores, a teoria das cores abrange princípios como a roda de cores, a harmonia das tonalidades e o seu contexto. A roda de cores é uma ferramenta visual que organiza as tonalidades primárias, secundárias e terciárias, facilitando a compreensão de suas relações. A harmonia das cores trata de combinações esteticamente agradáveis e equilibradas, as cores podem ser percebidas de maneiras diferentes dependendo das cores que as cercam. Na psicologia das cores, esse fenômeno é conhecido como interação de cores. Por exemplo, um azul pode parecer mais vibrante ao lado de um amarelo, enquanto pode parecer mais apagado quando colocado perto de um cinza. Essa mudança na percepção não só afeta a estética, mas também as emoções e comportamentos associados a essas cores, influenciando como nos sentimos e reagimos em determinado contexto. Essa teoria é fundamental em diversas áreas, como design gráfico, pintura, moda e marketing, nas quais a escolha e a combinação delas podem influenciar emoções e comportamentos. (RODRIGUES, 2019, p 32)

2.1. Contextualização histórica

O estudo das cores não é algo recente, visto que em meados do século XV Isaac Newton iniciou o estudo das cores, trabalhando com um prisma e uma luz, o que resultou num “flash” de luz com diversas cores (vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e violeta). A partir de sua experiência, o renomado cientista desenvolveu a roda das cores, a qual permitiu criar diversos outros conceitos, como tonalidade, croma e valor. (RODRIGUES, 2019, p 25)

A teoria da psicologia das cores não é atribuída a um único fundador, mas uma outra figura central na história dessa área é Johann Wolfgang von Goethe, - o qual era poeta, cientista e filósofo alemão - que publicou sua obra "Teoria das Cores" (Zur Farbenlehre) em 1810, na qual explorou as propriedades psicológicas das cores e como elas afetam as emoções humanas. Goethe

criticou a abordagem puramente física de Isaac Newton sobre as cores e focou em como elas são percebidas pelo olho humano e o impacto emocional que podem ter. Ele propôs que as cores têm um efeito direto na mente e nas emoções, o que foi uma ideia pioneira na época.

Outro nome importante é Wilhelm Wundt, um psicólogo alemão que fundou o primeiro laboratório de psicologia experimental. Embora seu trabalho tenha abrangido muitos aspectos da psicologia, ele também explorou como os estímulos sensoriais, incluindo as cores, afetam a percepção e a experiência emocional. Além disso, mais recentemente, pesquisadores como Faber Birren, que escreveu extensivamente sobre o impacto das cores no comportamento humano no século XX, contribuíram significativamente para o campo.

Portanto, enquanto Goethe é frequentemente creditado como uma figura pioneira na psicologia das cores, o desenvolvimento completo da teoria é resultado da contribuição de muitos pesquisadores ao longo do tempo.

3. História da cor no cinema

A história da cor no cinema abrange um período de experimentação e inovação tecnológica. Até a década de 1930, o cinema era predominantemente em preto e branco. No entanto, com o avanço da tecnologia, surgiram diversas técnicas para adicionar cor às películas. Uma das primeiras técnicas de colorização foi a pintura manual, na qual os filmes eram coloridos à mão, quadro a quadro. Esse método exigia muito tempo e habilidade, e os resultados nem sempre eram satisfatórios. Um exemplo famoso desse processo é o filme "Viagem à Lua" (1902), de Georges Méliès, que teve algumas cenas coloridas manualmente. (STAMATO, 2013, p 1)

Outra técnica importante foi o sistema de tintagem, no qual diferentes tonalidades de cor eram aplicadas a partes específicas do filme. Esse processo era realizado quimicamente e podia criar efeitos impressionantes, mas também tinha limitações. No entanto, foi com o desenvolvimento dos processos de

coloração por subtração que a cor se tornou mais amplamente utilizada no cinema.

O Technicolor foi um dos sistemas mais importantes nesse sentido. Ele foi introduzido na década de 1930 e permitia a captura de cores vibrantes e realistas. Filmes como "O Mágico de Oz" (1939) e "E o Vento Levou" (1939) foram marcos importantes na popularização da cor no cinema, demonstrando o potencial dramático e estético dessa nova tecnologia. Com o tempo, surgiram outros sistemas de coloração, como o Eastmancolor e o Metrocolor, que ofereciam alternativas mais acessíveis ao Technicolor. Além disso, a tecnologia digital revolucionou a maneira como a cor é manipulada e utilizada no cinema, proporcionando aos cineastas um controle sem precedentes sobre a estética visual de seus filmes. (STAMATO, 2013, p5 )

Hoje em dia, a cor é uma parte essencial da linguagem cinematográfica, sendo utilizada de diversas formas para transmitir emoções, criar atmosferas e contar histórias de maneira mais envolvente e impactante.

4. Explicação

A psicologia das cores no cinema refere-se ao uso estratégico das cores para evocar emoções, estabelecer atmosferas e transmitir mensagens subconscientes ao espectador. Cada cor pode ter diferentes significados e efeitos psicológicos, influenciando a percepção e a experiência emocional de uma cena. Ademais, esse recurso é uma técnica que enriquece a narrativa emocional e visual da obra, ajudando os cineastas a comunicarem de maneira mais profunda e eficaz as experiências e emoções dos personagens, bem como a essência da história. (STAMATO, 2013, p 7)

Esse recurso é algo presente em todos os filmes, mesmo que indiretamente, e essa ideia pode revelar ao espectador a história a ser tratada e talvez até os possíveis “plots” da narrativa.

Tabela 1 - Significado das cores

Cor

Branco

Preto

Cinza

Amarelo

Laranja

Vermelho

Verde

Significado

Paz, pureza, alma

Morte, tristeza, sujeira

Velhice, pó, melancolia

Luz, verão, alegria

Sol, prazer, criatividade

Guerra, violência, alerta, perigo, amor

Natureza, calma, esperança, saúde, coragem

Azul sonho, céu, tranquilidade, harmonia, frio, fidelidade, infinito, limpeza, tristeza

Rosa Romance, sonho, infância

Roxo sabedoria, criatividade, realeza, poder, ambição, luxo, magia, extravagância, orgulho, independência

Marrom Terra, melancolia, sujeira, campo

Fonte: autores

Diretores de fotografia utilizam a teoria das cores para compor paletas cromáticas que reforçam a narrativa do filme. As cores ajudam a estabelecer o tom e a atmosfera de uma cena, delineando mudanças emocionais ou psicológicas nos personagens e guiando a atenção do público.

Um exemplo prático disso seria com o filme “O Mágico de Oz”, o qual o filme começa preto e branco, que naquele contexto simbolizaria o retrocesso, algo ultrapassado, porém após um determinado evento da trama, Dorothy, a protagonista, é mandada à Oz, um mundo colorido, com cores vivas e saturadas, se destoando daqueles tons escuros e terrosos presentes no começo da narrativa. (RODRIGUES, 2019, p 33)

Figura 2 - O Mágico de Oz desbotado

3 - O mágico de Oz colorido

Outro exemplo dessa aplicação pode ser observado no filme "Divertida Mente", de Pete Docter, no qual as emoções da protagonista são personificadas

Fonte: Terra, 2014
Figura
Fonte: Terra, 2023

por cores marcantes. A personagem Alegria, por exemplo, é associada à cor amarela como tom principal, além de cores vibrantes e quentes, que trazem a sensação de felicidade. Seu cabelo azul representa harmonia e tranquilidade, e seu visual, com um vestido florido e uma saia rodada, reforça a imagem de uma pessoa despojada e alegre. Já a Tristeza é caracterizada pela predominância do azul, sugerindo melancolia e introspecção. Suas roupas, como o suéter de gola alta e as peças pesadas, indicam uma personalidade mais contida e reclusa. O Medo, por sua vez, é representado pela pele roxa, que simboliza impotência e desespero, com um olhar aflito e um fio de cabelo arrepiado que reforça sua natureza ansiosa. A Raiva aparece com cores quentes, especialmente o vermelho, e sua forma pequena e quadrada remete a uma rocha magmática, enquanto suas roupas sérias sugerem a de um adulto. Por fim, a Nojinho é retratada em verde, uma cor que evoca a ideia de desprezo e está associada a legumes e vegetais, coisas que a personagem detesta. Seu nariz arrebitado reforça uma atitude de soberba e autoridade.

Figura 5 - personagens divertidamente

Um outro exemplo disso é o personagem Lotso (Toy Story 3), o qual possui um tom arroxeado, que à primeira vista, fica com uma ideia de inocência, infância e sabedoria. Contudo, ao desenrolar da trama é possível ver que, na

verdade, o roxo em sua pele significa arrogância, poder e ambição. Essa composição foi utilizada propositalmente para confundir o espectador a respeito das intenções do personagem, fazendo-o acreditar na compaixão deste vilão.

5. A psicologia da maquiagem artística no cinema

Nesta etapa do artigo, a discussão será sobre como diferentes técnicas de maquiagem aplicadas nos artistas transformam atores em personagens, não apenas alterando sua aparência física, mas também evocando uma gama de emoções e narrativas. A psicologia da maquiagem artística no cinema vai além da simples estética: ela mergulha nas profundezas da mente humana, explorando como características faciais podem comunicar estados emocionais, personalidades e até mesmo nuances culturais.

5.1. Problemática da maquiagem artística

Ao longo dos anos, a maquiagem na indústria cinematográfica tem sido considerada parte integrante dos efeitos especiais e da caracterização de personagens, muitas vezes percebida como um atributo supérfluo destinado a

Figura 5 - Lotso
Fonte: The Mary Sue, 2023

destacar personagens importantes ou complementar a narrativa visual da cena. Exemplos clássicos incluem a representação de sangue após um corte ou a presença de olheiras em um corpo doente. No entanto, surge a questão: a maquiagem é realmente apenas um elemento superficial que pode ser substituído por composição visual ou efeitos de pós-produção? (LOPES, 2017, p. 7).

Segundo Tadeusz Kowzan, a maquiagem destaca o rosto do ator durante a atuação, especialmente em condições específicas de iluminação. Esse aspecto desempenha um papel fundamental ao realçar a expressão facial da personagem, aparecendo no rosto e/ou corpo do ator. Portanto, a maquiagem é vista como um elemento significativo, estreitamente ligado à representação.

(SAMPAIO, 2012, p. 1).

Além disso, ela também assume um papel importante como suporte visual, integrando-se à representação com base no texto, enredo e visão do diretor. Suas escolhas cuidadosas de formato e de cores são incorporadas à cena, contribuindo para o que pode ser chamado de "teatralidade". Segundo Sandra Fernandes, na cena atual, a teatralidade pode se manifestar de várias maneiras, como um discurso linear de um narrador, podendo substituir muitas vezes, diálogos no roteiro, pois uma identidade visual bem construída pode transmitir a ideia completa, sem necessidade de uma intervenção na trama para revelar uma informação que este componente artístico já deixa explícito.

(SAMPAIO, 2012, p. 55).

À medida que a tecnologia avançava, a maquiagem evoluiu para desempenhar papéis distintos e alcançar finalidades diversas em comparação com aquelas que conhecemos. Isso teve impactos tanto negativos quanto positivos, incluindo o estabelecimento de padrões de beleza na indústria e a criação de personagens complexos. Desse modo, ela não apenas contribui para a estética visual, mas também desempenha um papel crucial na representação das vivências, sentimentos e identificação visual do espectador com os personagens, moldando a percepção de vilões e mocinhos, por exemplo.

5.2. Contextualização histórica

Em 1906, teve início a comercialização dos primeiros filmes pancromáticos, cuja revelação era sensível a todas as cores, proporcionando uma gama mais ampla de tonalidades de cinza e uma representação mais realista das cores naturais. Com a introdução dessa nova tecnologia, a aplicação da maquiagem diminuiu em intensidade e quantidade. No entanto, a maquiagem ainda persistia como um símbolo de beleza e perfeição para as atrizes, tornandose um desejo de consumo para o público espectador. (LOPES, 2017, p. 10).

É a partir de 1920, época conhecida como a Era de Ouro de Hollywood, que o cinema vigora como coadjuvante na popularização da maquiagem no mundo ocidental, cujas principais referências comportamentais e culturais vinham dos EUA. A “mulher comum” queria também se sentir uma musa do cinema e, para isso, entre demais artifícios, recorria à maquiagem. O objetivo era vender a beleza das atrizes, como deusas que ostentavam uma pele perfeita e beleza angelical, como um padrão inalcançável e desejado pelos homens. (LOPES, 2017, p. 10-11).

Era notável como cada elemento contribuía para que o público se identificasse tão profundamente com o personagem a ponto de desejar imitá-lo Observavam nele características que moldam seu caráter, como a mulher mais sensual que usava batom vibrante e cabelos ondulados e soltos, ou a mocinha com cabelos cuidadosamente arrumados e maquiagem mais leve, e o vilão com olheiras marcadas e trajes escuros. (LOPES, 2017, p. 13).

A maquiagem ainda é muito útil hoje em dia. Ela pode fazer coisas como remover o brilho, criar cenas de acidentes, simular envelhecimento ou rejuvenescimento, e ajudar na construção do personagem. Portanto, ela não é apenas sobre beleza, visto que transmite sentimentos em cena, sendo uma parte importante da caracterização, tão essencial quanto o figurino. Tenha-se em mente o famoso personagem de Charles Chaplin, Carlitos, cuja maquiagem, incluindo o rosto branco, bigode e sobrancelhas pretas, é crucial na identificação

visual. Em resumo, a maquiagem é uma ferramenta histórica e fundamental para impactar e criar visuais icônicos e memoráveis. (LOPES, 2017, p. 15).

3.3. Método de comparação

Neste momento, é importante traçar um paralelo do assunto com uma grande empresa que faz uso desta teoria visual para atingir o espectador da maneira desejada, manipulando-a para causar impacto. Correspondendo a isso, será utilizado como objeto de estudo as imagens femininas criadas pela empresa americana “Disney” e sua influência sobre as crianças, considerando que a cultura é algo construído pelas pessoas. O foco está nas princesas da Disney, que representam ideais de feminilidade, e questiona como essas personagens afetam a maneira como as crianças veem o mundo.

Dentro da narrativa, as princesas apresentam um ideal de beleza, comportamento e amor romântico próprios da nobreza aristocrática, que ainda prevalecem no imaginário popular no século XXI. Escolheu-se o final feliz dos contos de fadas não apenas como um clichê, mas como uma estratégia: a felicidade retratada nesses contos de fadas é um produto de venda.

Os fogos de artifício, as fantasias bem elaboradas, as paradas luminosas e os shows de luzes fazem parte da construção do imaginário Disney, caracterizando sua marca. Ao se falar em marca, ela não é vista apenas como registro de patente ou como a impressão de um produto elaborado com qualidade técnica por determinada corporação, mas como uma “entidade” disseminadora de crenças e valores através dos seus produtos e serviços. O final feliz é vendido através de imagens e narrativas que remetem ao que é bom, agradável, positivo e luminoso e, também, à vitória e ao herói (CHECHIN, 2014, p. 4).

Três princesas românticas, Branca de Neve, Cinderela e Aurora, apresentam uma branquitude da pele, um andar gracioso, voz cálida, cabelos sedosos, macios e fartos. A relação entre a aparência das princesas e seu caráter é explicitada pelos contos, associando-o à brancura da pele de Branca de Neve, aos cabelos loiros da Cinderela e à complacência da Aurora. A relação entre bondade e cabelos loiros é bastante antiga: sua luminosidade dourada é comparada com a beleza e o brilho do ouro. Portanto, enquanto aquilo é associado à graça, cabelos escuros, crespos, despenteados são

tradicionalmente relacionados ao selvagem, ao descuido e à maldade. (CHECHIN, 2014, p. 5 - 6).

Em contrapartida, cabelos curtos nas mulheres indicam liberdade, desapego às formas vigentes de feminilidade, sendo alvo de medo e punição. Nesse contexto, torna-se apropriado lembrar que Joana d’Arc morreu, entre outros motivos, pelo seu corte de cabelo masculino, além das acusações de bruxaria. A heresia dos seus modos nada femininos de se vestir foi digna de punições cruéis. (CHECHIN, 2014, p. 6).

Além de modelo de beleza, as princesas também eram apresentadas como virtuosas, bondosas, de reto caráter, de candura e idealizadas tal qual a Virgem Maria. Elas apresentavam bom comportamento e passividade, inclusive não agiam para transformar os seus destinos e as suas vidas, cabendo essa tarefa aos animais, às fadas madrinhas e a outros personagens. O ideal de beleza feminina vem sendo alterado de corpos extremamente magros para aqueles de meninas púberes, o qual se constitui em um ideal praticamente impossível para mulheres adultas. (CHECHIN, 2014, p. 7).

Todavia, outras narrativas, como “O Patinho Feio”, “O Corcunda de NotreDame” e “Dumbo”, seguem a estrutura tradicional da história de personagens defeituosos, ou seja: sofrem dificuldades e preconceitos, são cruelmente discriminados, mas através de um dom especial, ou por sua “beleza interna”, o personagem compensa sua deformidade. A Disney atenua o preconceito aos corpos diferentes dos padrões de beleza, na medida em que o mal é representado pela feiura. (CHECHIN, 2014, p. 9 - 10).

3.4. Relação

Nesse contexto, a relação entre a abordagem estética da Disney e a maquiagem artística ganha profundidade ao considerarmos o conjunto de elementos estéticos presentes em personagens como a Rainha Má, de "Branca de Neve e os Sete Anões". Historicamente, a maquiagem foi inicialmente empregada nos cinemas para aprimorar a beleza feminina, e esse viés poderia

sugerir sua dispensabilidade na animação. No entanto, na análise a caracterização da Rainha Má, é notável uma abordagem que vai além da mera busca pela beleza idealizada. A maquiagem desempenha um papel crucial na construção do caráter da personagem, enfatizando traços sinistros, expressões dramáticas e uma estética que evoca a vilania. Esses elementos visuais se tornam parte integrante da narrativa, conferindo à maquiagem um papel que vai além do convencional, contribuindo para a representação estereotipada da personagem como antagonista, enriquecendo assim, a experiência estética e narrativa da animação infantil.

Diante disso, em filmes tradicionais da Disney, como os protagonizados por princesas, é relevante abordar como as crianças que assistem a essas produções podem ser indiretamente influenciadas a adotar comportamentos alinhados com as virtudes das personagens principais. Em especial, a ênfase na beleza natural e nos padrões estéticos estabelecidos pelas mocinhas pode moldar sutilmente as percepções das crianças sobre o que é considerado aceitável e desejável. A representação visual das personagens, muitas vezes

Figura 6 - Rainha Má
Fonte: Recreio UOL, 2024

associada à sua bondade e virtudes, pode inadvertidamente reforçar estereótipos de que a beleza está diretamente ligada à virtude moral. Essa associação pode influenciar as crianças a internalizar padrões estéticos específicos e a relacionarem a beleza a características positivas, potencialmente impactando suas atitudes e comportamentos no futuro. Portanto, a análise crítica desses elementos estéticos em filmes infantis torna-se essencial para compreender o impacto que podem ter no desenvolvimento e na visão de mundo das crianças.

Outra importante referência audiovisual que corresponde com os discursos anteriores é a transformação da personagem Estella na personalidade Cruella, no filme "Cruella", que vai além da mudança visual. Desde o início, vemos uma jovem talentosa, mas insegura, enfrentando desafios e tragédias. Seu objetivo inicial de se tornar um ícone da moda e vingar a morte de sua mãe desencadeia uma metamorfose interna e externa.

À medida que a narrativa avança, testemunhamos a ascensão de Cruella, uma persona ousada e destemida adotada por Estella. Sua transformação reflete uma mudança profunda em atitude e confiança, exemplificada por um visual cada vez mais ousado e extravagante quando se demonstra pronta para enfrentar de frente sua antagonista.

Figura 7 - Estella
Fonte: The Direct, 2023

Dessa forma, a transição para sua nova personalidade reflete diretamente com o estilo que escolheu adotar. O esfumado preto e branco nos olhos, criando um contraste entre si, é utilizado com o objetivo de causar um maior impacto, chamando atenção da plateia ao transmitir um olhar vil. Somado à boca vermelha, um cabelo que se divide em cores opostas compõe uma combinação hipnotizante.

Todas essas mudanças artísticas adotadas pela produção do filme são fundamentais para passar uma nova perspectiva para o público, o que permite que a Estella de caráter genérico torne-se a infame vilã Cruella de Vil.

Diante do exposto, ao analisarmos a psicologia por trás da maquiagem no cinema, percebemos uma ligação complexa entre estética, representação e percepção do espectador. A maquiagem não apenas contribui para a aparência visual, mas também exerce um papel psicológico ao moldar a identidade dos personagens. Seja destacando a beleza de uma princesa ou a malícia de um vilão, a maquiagem influencia profundamente como o público interpreta as emoções e personalidades das personagens. Portanto, compreender essa

Figura 8 - Cruella
Fonte: Disney Brasil, 2021

psicologia oferece parâmetros importantes sobre como os elementos visuais impactam as percepções e emoções do público, tornando-se uma poderosa ferramenta de comunicação cinematográfica.

6. Correlação

A psicologia das cores desempenha um papel fundamental na criação de maquiagens cinematográficas, contribuindo significativamente para a transmissão de mensagens e para a construção de personagens. Cada cor possui um efeito psicológico que pode evocar determinadas emoções e estados de espírito no espectador, e a escolha estratégica das cores na maquiagem pode reforçar a narrativa e a personalidade dos personagens. O vermelho é uma cor poderosa que simboliza paixão, energia e perigo. Em maquiagens cinematográficas, batons ou sombras vermelhas podem ser usados para transmitir a intensidade emocional de um personagem. Por exemplo, uma personagem feminina com lábios vermelhos pode ser percebida como sedutora ou determinada, enquanto o uso de vermelho em sombras ou blush pode sugerir raiva ou um estado de alerta. Exemplo: Rainha de Copas. O azul é frequentemente associado à calma e à serenidade, mas também pode transmitir tristeza e frieza. Sombras de olhos azuis ou tons de pele azulados podem ser usados para criar uma aparência distante, ideal para personagens introspectivos ou de outro mundo. Em contrapartida, tons mais escuros de azul podem sugerir melancolia ou isolamento emocional. Exemplo: a Noiva-Cadáver. O amarelo é uma cor ambígua que pode representar tanto alegria quanto advertência. Em maquiagem, tons de amarelo podem ser utilizados para criar um ar de otimismo e energia, especialmente em personagens joviais e vivazes. No entanto, em doses mais sutis ou combinadas com outras cores escuras, o amarelo pode insinuar doença ou um estado de alerta, tornando-se uma escolha interessante para personagens complexos. O verde é uma cor associada à natureza e à renovação, mas também pode evocar sentimentos de inveja e ciúmes. Maquiagens em tons de verde podem ser usadas para personagens que simbolizam crescimento ou harmonia com a natureza. Alternativamente, sombras verdes podem ser aplicadas para

sugerir um caráter invejoso ou enganador, adicionando camadas de profundidade psicológica ao personagem. Exemplo: a Bruxa Má do Oeste. O preto é frequentemente utilizado para sugerir mistério, sofisticação e até mesmo malignidade. O uso de delineador ou sombra preta pode intensificar a expressão dos olhos, criando uma aparência mais dramática e intrigante. Personagens com maquiagem escura são frequentemente associados a figuras enigmáticas ou antagônicas, capturando a atenção do espectador e adicionando um elemento de suspense. Exemplo: Cisne negro. O branco simboliza pureza, inocência e, às vezes, outros mundos. Em maquiagem, o branco pode ser utilizado para criar um efeito fantasmagórico ou celestial. Personagens que possuem uma paleta de maquiagem branca ou pálida frequentemente carregam uma aura de inocência ou transcendência, ideal para narrativas que envolvem o sobrenatural ou o divino. Exemplo: Rainha Branca.

7. Conclusão

Ao combinar essas cores de maneira estratégica, os maquiadores cinematográficos conseguem não apenas embelezar os atores, mas também reforçar a narrativa visual, intensificar a caracterização e evocar emoções específicas no público. Além disso, a psicologia das cores na maquiagem cinematográfica é, portanto, uma ferramenta poderosa para contar histórias e enriquecer a experiência cinematográfica.

Referências bibliográficas

CHECHIN, Michelle Brugnera Cruz. O que se aprende com as princesas da DISNEY? Zero-a-Seis, Porto Alegre, v. 16, n. 29, p.131-147, jan./jun. 2014.

DOI https://doi.org/10.5007/1980-4512.2014n29p131. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/zeroseis/article/view/19804512.2014n29p131. Acesso em: 3 mar. 2024.

LOPES, Jhennifer Azevedo e Silva. Maquiagem de efeito e caracterização: a maquiagem e a sua contribuição para o cinema e educação, e os desafios para ser entendida como prática educacional. 2017. 45 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em cinema e audiovisual), Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2017. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/handle/1/12305. Acesso em: 3 mar. 2024

RODRIGUES, Ana Raquel Ferreira Cardoso. A influência da cor nas emoções das crianças com base em filmes de animação da Pixar. 2019. 143 f. Dissertação (Mestrado em multimédia - especialização em culturas e artes), Universidade do Porto, Porto, 2019. Disponível em: https://hdl.handle.net/10216/121895. Acesso em 31 mai. 2024.

SAMPAIO, José Roberto Santos. A maquiagem nas formas espetaculares. 2012. 7 p. Anais VII Congresso da ABRACE, Salvador, v. 13, n. 1, p.7, ago. 2012. Disponível em: https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/abrace/article/view/2211 Acesso em: 3 mar. 2024.

STAMATO, Ana Beatriz Taube; STAFFA Gabriela; VON ZEIDLER Júlia Piccolo. A Influência das Cores na Construção Audiovisual. 2013. 12 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Rádio e TV), Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2013. Disponível em: https://portalintercom.org.br/anais/sudeste2013/resumos/R38-1304-1.pdf. Acesso em 31 mai. 2024.

ANÁLISE DA NECESSIDADE DOS INVESTIMENTOS NAS CENTRAIS NUCLEARES NO BRASIL: Tendo como parâmetro as usinas hidrelétricas

Beatriz Delmondes Moura

Natalia Zanon Rodrigues

Esse artigo discutirá a necessidade das usinas nucleares no Brasil, comprando-a às usinas hidrelétricas. Para isso, primeiro, será abordada a demanda energética do país, a qual divide-se em diversas fontes de geração, sendo a hidrelétrica a mais utilizada. As usinas nucleares, por sua vez, receberam muitos investimentos do governo, porém não encontraram facilidade para expandir-se. Como segundo tópico, o artigo relaciona os custos que o Estado tem com a produção de ambas as energias, chegando à conclusão de que as usinas nucleares demandam muito mais investimentos em relação ao potencial gerado pelas duas fontes e seu tempo de construção. Ademais, há problemas acarretados pelos dois alvos da análise, nos quais a primeira promove impactos ao ambiente (por não ser tão limpa quanto é repassado) e por poder gerar grandes catástrofes com problemas até cromossômicos, enquanto a segunda leva a impactos ambientais e sociais. Entretanto, ao colocá-las lado a lado, define-se que a energia nuclear é mais prejudicial. Outrossim, como último tópico, o artigo ressalta a importância de investimentos em fontes variadas e de não depender de apenas uma matriz elétrica. No final, conclui-se que se o Brasil mantiver os investimentos nas hidrelétricas e começar a variá-los para fontes como solar e hidroeólicas será mais vantajoso do que continuar insistindo nas Angras.

PALAVRAS-CHAVE: Energia nuclear; usina hidrelétrica; investimentos; Brasil.

1. INTRODUÇÃO

As centrais nucleares tendem a estabelecer debates em relação a sua necessidade no Brasil. Para que estes possam ir mais a fundo e chegarem em conclusões certeiras, precisa-se fazer uma análise tanto dos custos quanto das desvantagens que estas poderiam trazer para o desenvolvimento do país. Estabelecer comparações é uma forma eficiente para que decisões possam ser tomadas. A energia hidráulica é a mais utilizada no Brasil e por isso pode ajudar a perceber se há mais vantagens em manter os investimentos voltados à sua geração, ou se seria prudente diversificar para a produção de nucleares.

A história do Brasil carrega consigo investimentos no enriquecimento do urânio até sua utilização como fonte elétrica, porém é relevante saber se estes resultaram em algum desenvolvimento e crescimento suficiente para suprir a demanda da população, ou se os gastos não compensam o que estas usinas irão gerar para o país. Nisto, olhar o desenvolvimento das hidrelétricas é uma forma de comparar o custo, a produtividade e até mesmo a vida útil de cada uma delas.

Nos anos 2000, o Brasil era muito dependente das hidrelétricas e, com o andamento dos problemas que isto acarretou, o país foi ampliando os seus investimentos para outras fontes de energia, assim como será apresentado no decorrer do artigo. Porém, é preciso saber se as nucleares têm características que podem compor essa gama de inovações implantadas na época.

2. Demanda energética e desenvolvimento das fontes no Brasil

O desenvolvimento econômico em grande escala, no Brasil, iniciou-se no século XX e está ligado ao processo de industrialização. Em conjunto a isto, houve o crescimento da urbanização e, como consequência, o aumento populacional. Estes acontecimentos foram impulsionados, por exemplo, após o fim da II Guerra Mundial, já que o Brasil precisou começar a se desenvolver para compensar o que não receberia dos países devastados pela guerra (na época, as grandes potências). O crescimento econômico brasileiro não foi uniforme, porque este variou de 3,5% para 5,5% entre as décadas de 1970 e 1980 e, nas décadas seguintes, este perdeu força, girando em volta de 2,2% e 3%. O

conjunto de todos esses fatores teve como necessidade o aumento da demanda energética. Em 1970, a demanda de energia primária não ultrapassava os 70 milhões de tep1 e o número populacional chegava a 93 milhões. 30 anos depois, nos anos 2000, a demanda chegou a quase triplicar para 190 milhões de tep e o número populacional estava acima de 170 milhões, que não representa nem o dobro de pessoas, assim como mostra o gráfico 1 abaixo: (TOLMASQUIM; GUERREIRO; GORINI, 2007, p. 48-49).

Gráfico 1 – Evolução da demanda de energia e da taxa de crescimento econômico Brasil – 1970-2030

Fonte: Tolmasquim, M.T. et. al. Matriz energética brasileira: uma prospectiva

No mundo, há várias fontes de energia, como hidráulica, eólica, solar, bagaço de cana e muitas outras. Em uma comparação de dez anos, por estado brasileiro, há um aumento na geração de algumas delas, como, por exemplo, a eólica, que em 2012 tinha uma produção de 5.050GWh e em 2022 mostrou um expressivo crescimento para 81.631GWh. Outra energia que ganhou espaço nas casas dos brasileiros é a solar, que em 2012 gerou apenas 1,62GWh e em 2022 registrou uma produção de 30.126GWh. A hidráulica, em 2012, apresentava uma geração de 415.342GWh e, em 2022, 427.113GWh, esta é a fonte que o Brasil mais utiliza, representando 63% do total usado em 2022. (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2022)

1 O “tep” é uma unidade de medida que significa toneladas equivalentes de petróleo, este quantifica a energia necessária para queimar uma tonelada de petróleo e, assim, poder comparar com outras quantidades de energias de outros materiais. Um tep equivale a 11,63 MWh.

O Estado brasileiro tem uma longa história com os estudos e produções necessárias para o estabelecimento de uma usina nuclear. Em 1956, fundou-se o Instituto de Energia Atômica (IEA), que em 1979 passou a chamar Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares). Além deste, muitas outras instituições foram criadas, mas o primeiro contato com o desenvolvimento de um reator vai ser em 1965, quando surge o Grupo do Tório, que tem o objetivo de desenvolver um reator, baseado no ciclo do Tório, de potência moderada e que fosse resfriado à água pesada. Já a decisão de implantar uma usina nuclear veio desde 1971, a Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. (CARVALHO, 2012, p. 293294)

Mesmo já tendo feito muitos investimentos na produção das usinas nucleares, e em todo os seus processos anteriores, esta fonte de energia, cada vez está representando menos no percentual total de geração do Brasil, sendo que em 2012 este número estava em 2,90% e em 2022 caiu para 2,15% da produção (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2022). Este é um valor muito pequeno para um país que, desde 1956, estava criando institutos atômicos. Isso, portanto, mostra que esta fonte não conseguiu ganhar espaço no país, uma vez que não expandiu seu alcance.

Há países que não têm muitas opções para suprir suas demandas energéticas, o que é o caso da França e do Japão. Estes já aproveitam todo o seu potencial hidroelétrico e por isso precisam investir em nucleares, porém, tais investimentos são altos demais. A França, em específico, possui 59 centrais nucleares, esta energia abastece em torno de 70% do país, o que produz 430.000GWh por ano. Mesmo assim, já em 2012, estas eram consideradas alternativas de médio prazo, para que pudessem começar a investir em energias renováveis, porém, enquanto o abastecimento francês não puder se tornar independente das nucleares, ainda precisará mantê-las funcionais e seguras. Portanto, novos parques nucleares devem ser construídos para substituir as centrais com mais de 40 anos (idade de sua vida útil, assim como será explicado no decorrer do artigo) e isto gerará um custo de aproximadamente um trilhão de euros para o governo. (CARVALHO, 2012, p. 302-303)

3. Comparação dos custos gerados pelas usinas nucleares e pelas usinas hidrelétricas

Os custos gerados por alguma usina podem ser considerados fixos, como os materiais necessários para a construção, a contratação de especialistas para a formulação e acompanhamento dos processos, os testes que precisam ser feitos antes de colocá-la para funcionar - todos estes fazem parte dos investimentos.

E há os custos chamados de variáveis, que são compostos por impostos, salários e manutenção. (CARVALHO; SAUER, 2009, p. 1580) Além disso, há três pontos principais que necessitam de investimentos. O primeiro deles é a infraestrutura, na qual o dinheiro é utilizado para implantar novas usinas. Outro ponto é a transmissão da energia, em que se reforça toda a construção de interligações novas entre os sistemas e envolve o reforço da malha da rede básica. O último é a distribuição, que inclui até as instalações, e envolve a busca de instalar equipamentos e expandir a rede elétrica que tem média e baixa tensão. (TOLMASQUIM; GUERREIRO; GORINI, 2007, p. 66)

As usinas nucleares, que demandam muitos investimentos, são fontes com pouca previsibilidade de seus custos. A empresa francesa de construção nuclear (Areva) gastou 50% a mais do que calculou que gastaria para a construção de um reator de água pressurizada na Finlândia. Os Estados Unidos, por sua vez, erraram em mais de 200% do previsto, o que era para ter girado em torno de 938 US$/kW, subiu para 2959US$/kW na construção de 75 usinas em seu território entre 1966 e 1986. No Brasil, em 2009, era previsto gastar 7,91 bilhões de reais na construção da Angra 3 (CARVALHO; SAUER, 2009, p. 1581), porém, em 2020, a previsão já subiu para 25 bilhões de reais, a qual gerará 1.405MW. Esta usina começou a ser construída em 1981 e foi paralisada em 1986, por uma crise financeira vivida no período e pelas inseguranças que a energia nuclear oferece, já que, nesta mesma época, a Europa estava enfrentando a explosão do reator 4 na usina de Chernobyl na Ucrânia. Até os dias de hoje, Angra 3 não conseguiu ser finalizada, estando previsto que suas atividades comecem em 2026. (CANGUSSO; LEITÃO, 2020, p. 03-04)

Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, foi a primeira experiência que o Brasil teve com uma usina nuclear. Esta começou a ser construída em 1972 e entrou em

operação em 1985, ou seja, sua construção tomou 13 anos de investimentos. Esta usina tem o potencial de 640 MW, e para que a Angra 1 fosse erguida, gastou-se por volta de 8,4 bilhões de reais. (CANGUSSO; LEITÃO, 2020, p. 0304). Porém, há um “prazo de validade” (vida útil) para este tipo de geração de energia. Uma usina nuclear deve ser desativada e descontaminada após 40 anos de sua operação. (CARVALHO; SAUER, 2009, p. 1581) Portanto, a primeira usina nuclear brasileira está com seu prazo se esgotando, este vale até 2024A Eletronuclear, em 2019, fez o pedido para que este prazo se estenda por mais 20 anos à Comissão Nacional de Energia Nuclear. Isso tudo para que atingisse seu auge de geração apenas em janeiro de 2023, 485.033 MWh. (ELETRONUCLEAR, [2023]) Um número muito baixo, representando apenas 1,1% da energia gerada pelas hidrelétricas por estado: 427.113 GWh e ainda com a possibilidade de desenvolvê-las mais.

Além disso, é possível analisar os custos para a produção de uma usina hidrelétrica, a qual o Brasil mais utiliza para sustentar a demanda de energia no país. A usina de Itaipú, no Rio Paraná, foi construída de 1975 a 1982, o que tomou 7 anos de investimentos. Esta é binacional – estando entre o Brasil, com 8,6% de seu consumo, e Paraguai, com outros 86,3% – tem a potência de 14000 MW, sendo a segunda maior do mundo. Em sua construção, foram gastos ao todo US$ 17,6 bilhões pelos dois países (incluindo encargos financeiros desde o início até a finalização), ou seja, aproximadamente, US$ 857 por KW instalado (desconsiderando os encargos). Em 2022, foi gerado por esta usina 69.873.095MWh. (ITAIPU BINACIONAL, s.d.) O Brasil ainda retém em seu território a terceira maior usina hidrelétrica analisando em nível global, Belo Monte, localizada no Rio Xingu. Esta tem a potência de 11.233 MW (PRAMAC ENERGY GENERATION, s.d.), com um custo em sua produção de cerca de 20 bilhões de reais, (BARROS, 2021) a qual levou 5 anos para inaugurar (20112016) (CAMPOS JUNIOR, 2023).

Há um ponto importante para ser monitorado nas usinas hidrelétricas, sendo este o desgaste dos materiais usados na construção. Esta deterioração pode se dar por abrasão, erosão e cavitação. A primeira trata-se da fricção de dois ou mais materiais; a segunda relaciona-se a vinda das partículas sólidas da água

do rio removendo parte da superfície da usina; a última se dá a partir da quebra de bolhas de gases dentro do rio, por causa da baixa na pressão que a água forma, assim o material se torna alvo desta força repetidamente. (RIJEZA METALURGIA, s.d.) Esses exemplos de desgastes fazem com que a usina hidrelétrica tenha uma vida útil que pode girar em torno de 50 a 100 anos (ITAIPU BINACIONAL, s.d.), porém há a necessidade de manutenções dos equipamentos entre 20 e 40 anos, quando começam a surgir problemas, ou seja, precisa-se fazer acompanhamentos preventivos para manter-se um bom funcionamento. (RIJEZA METALURGIA, s.d.)

Após a análise das duas fontes de energia, percebe-se que, em relação aos custos, a usina hidrelétrica é mais cara. Por exemplo, a Angra 1 custou 8,4 bilhões de reais, enquanto na Belo Monte foi gasto 20 bilhões de reais, ou seja, mais do que o dobro. Porém, a primeira tem um potencial energético muito menor do que a segunda, sendo 640 MW e 11.233MW respectivamente, sendo, portanto, 17,5 vezes a mais do potencial, o que a torna mais vantajosa para o país. Mesmo se for comparada com a Angra 3, que é mais recente, esta produz apenas 1.405MW, a qual terá sido gasto mais de 25 bilhões no final de sua construção. Outra vertente a ser comparada é em relação à durabilidade destas usinas. A Angra dos Reis levou 13 anos para ser erguida e, como já foi apresentado, está prestes a encerrar suas atividades (se o pedido da Eletronuclear não for aceito), pois em 2025 completará os 40 anos. Já a segunda maior usina hidrelétrica do mundo, a de Itaipú, foi construída em 7 anos e já tem 42 anos, mesmo assim, não há previsão nenhuma para ser fechada, sendo apenas necessário manter as manutenções.

Tabela 1 – ANGRA 3: 47% MAIS CARA DO QUE ANGRA 2, EMBORA “GÊMEAS”

Aspectos gerais das obras e das usinas nucleares brasileiras

Fonte: Instituto Escolhas – Angra 3: vale quanto custa?

Tabela 2 – Comparações entre os dados acima referentes a Belo Monte e Itaipú

Belo Monte Itaipú Custos de obra (R$ bi) 20 17,6

Potência instalada (MW) 11.233 14.000

Tempo de construção (anos) 5 7

Fonte: Produzida pelas autoras deste artigo usando as mesmas fontes dos dados mostrados anteriormente

4. Problemas gerados pela energia nuclear e hidráulica

Há afirmações que circulam em meios de comunicação sobre a energia nuclear que favorecem sua propagação e aprovação pela sociedade, mas estas não são verdadeiras. (CARVALHO, 2012, p. 295-296) Uma delas é falar que este tipo de energia dura para sempre, mas, assim como já foi apresentado, as usinas têm prazos de validade muito curtos, apenas de 40 anos. Além disso, as reservas minerais que são necessárias para extrair os combustíveis utilizados na usina, como o Urânio, são finitas e sua extração e transporte liberam CO2 na atmosfera, aumentando a poluição. Este composto químico, também, é emitido, em grande quantidade, na construção das usinas nucleares. A quantidade emitida deste poluente durante o ciclo vital da usina é variável dependendo da pesquisa feitao Serviço Mundial de Informações sobre Energia (Wise) calcula que esta é de

117 gramas por kilowatt de geração. Outra pesquisa feita por Mark Z. Jacobsen estima que este valor fica entre 68 e 180 CO2/kWh. (IPEN, 2021)

Outrossim, há outros problemas além da construção das usinas, que se estendem para depois da desativação destas. Não há um local definido para o descarte do lixo radioativo gerado, por exemplo. Eles são armazenados em sítios na própria instalação, mas continuarão representando riscos para quem tiver contato, mesmo depois de anos em desuso. Após 30 anos, ainda emitirão cerca de 6% da radiação anterior, que podem causar danos à saúde, como vermelhidão (mais simples), até alterações cromossômicas nos indivíduos atingidos.

Algo que também é discutido sobre os motivos para a implantação das nucleares é em relação ao urânio, já que o Brasil tem uma das maiores reservas do mundo, o que faz surgir a ideia de que seria interessante investir nas nucleares, por ser vantajoso explorar o elemento. Porém, os investimentos poderiam ser feitos voltados ao enriquecimento deste material e à exportação de parte dele, o que levaria ao lucro e ao desenvolvimento tecnológico. (CARVALHO, 2012, p. 295-296)

Outro ponto importante para ser ressaltado como um problema das usinas nucleares são os grandes desastres que podem acontecer, pois por mais que haja protocolos para serem seguidos na tentativa de reduzi-los, ainda há a possibilidade de acidentes. E, quando estes ocorrem, geram prejuízos para muitas gerações. A maior catástrofe nuclear já registrada foi Chernobyl, conhecida pelo mundo inteiro, já que afetou muito mais do que só o local onde ocorreu.

O acidente de Chernobyl aconteceu na Ucrânia, em 26 de abril de 1986, na época da União Soviética (URSS), em decorrência da explosão do reator 4 da usina, por causa de testes que visavam aumentar a geração de energia. Esta explosão deixou mais de 15 mil mortos após seis meses do desastre. Porém, as pesquisas epidemiológicas não foram feitas, camuflando, portanto, a quantidade de afetados por esta radiação. As pessoas que moravam em Pripyat (cidade vizinha à usina) foram retiradas do local apenas 36 horas depois e os responsáveis por limpar o lixo radioativo acabaram se espalhando pela União

Soviética – os que não morreram poucos dias depois pelas altas doses de radiação. Estima-se que a quantidade de pessoas ignoradas e as quais pesquisas deveriam ter estudado – para dimensionar o tamanho do problema e como ele seria propagado na sociedade – foram entre 600 mil afetadas (com base no modelo linear sem limiar, o qual supõe que a mortalidade é proporcional a quantidade recebida de radiação). Contudo, no relatório oficial da ONU, até 2007, apenas 37 mortes foram confirmadas como consequência. Isso mostra o medo que os governos nutrem em deixar que a população saiba o que realmente causa um acidente nuclear, para que assim continuem investindo nestas usinas. (DUPUY, 2007, p. 243-246)

Qualquer mudança física, química ou biológica do meio ambiente, que foi causada pelo ser humano, e que afeta direta ou indiretamente a vida como sociedade e ao ecossistema, já pode ser considerada um impacto ambiental e social. Agora, focando nas usinas hidrelétricas, estas podem causar problemas climáticos, uma vez que ocorre a mudança de fenômenos naturais, como vento, umidade e temperatura, isso porque, ao construir a usina, é alterada toda a estrutura original do rio, como o fluxo da água, o aumento das margens e a elevação da profundidade – esta última ocorre por conta da barragem que é feita para prender e fazer o rio ter mais força em sua caída de água – acarretando em mudanças físicas no meio natural, ou seja, um impacto. Estes fatores levam ao prejuízo da fauna e da flora, por exigir a mudança dos locais que serão alagados, o que gera a perda de biodiversidade. Além disso, estes danos à flora levam a níveis mais baixos de oxigênio, porque a matéria orgânica entra em crescimento (com maior liberação de CO2), já que as plantas daquele lugar morrem e, consequentemente, não farão a fotossíntese. Um dos problemas mais impactantes, hoje, na sociedade, são as famílias que precisam mudar toda a sua vida, ir para outros lugares, perder parte de suas culturas, pois o seu território será alagado pelo rio que servirá como fonte da hidrelétrica. (QUEIROZ, 2013, p. 2781-2782)

Como comparação analítica dos fatores apresentados, é possível perceber que os danos causados pelas nucleares são mais acentuados e prejudiciais do que os da hidrelétrica. Quando ocorre um acidente nuclear, assim como já

apresentado, várias gerações são afetadas e a que vivenciou aquela catástrofe é fortemente atingida e, além disso, se tornam um dos mais perigosos desastres da humanidade, como foi o caso de Chernobyl. Ademais, há a poluição que o ciclo vital das usinas nucleares gera na liberação de CO2. Sendo assim, observase um impacto certo e outro possível, porém altamente destrutivo. Por mais que os impactos das hidrelétricas sejam ruins para o meio ambiente e para a população que lá habitava, eles afetam-nos menos, pois são impactos físicos, já os das nucleares podem ser até cromossômicos (tanto em animais, quanto em seres humanos).

5. O que pode ser desenvolvido no país

Com o apresentado até aqui, pode-se concluir que a energia hidrelétrica representa menos problemas para o país do que a nuclear. Porém, há um ponto que deve ser ressaltado em sua implantação. Ela não deve sustentar a demanda do local sozinha, ou seja, sua dependência traz problemas. Nos anos 2000, o Brasil tinha sua composição energética 87,2% dominada apenas por hidrelétricas. (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, [2020], p. 09) De junho de 2001 a fevereiro de 2002, o país sofreu com o grande apagão, no governo de Fernando Henrique Cardoso, o que levou à necessidade de economizar energia por todo o território nacional. As medidas tomadas foram, por exemplo, 35% de redução na iluminação pública e 15% a 25% de diminuição no consumo industrial. Essa crise se deu pelos baixos níveis de chuvas na época, fazendo, portanto, os reservatórios se esvaziarem, levando a uma falta na produção de energia. A capacidade que as usinas operavam estava muito baixa, com a região Nordeste chegando a 7,84% no mês de novembro e o Sudeste e Centro-Oeste 20,69% em setembro. Outro motivo que levou esta instabilidade elétrica foi a falta de investimentos, uma vez que o governo estava, por exemplo, interrompendo as privatizações. Assim, nem o Estado nem o setor privado investiram nas novas usinas necessárias. Este apagão levou também a problemas econômicos, como o PIB (Produto Interno Bruto), que antes cresceu 4,4% - em 2000 - e durante este acontecimento caiu para 1,3%. (PEREIRA, [2006])

Caso a federação brasileira, na época, tivesse direcionado mais investimentos a outros tipos de fontes elétricas, o apagão não teria sido tão acentuado, já que as outras poderiam compensar, em partes, a demanda faltante das hidrelétricas. Com o passar dos anos, houve a expansão destes investimentos, o que fez tornar-se mais diversificada a geração de energia no Brasil, assim como mostra o gráfico 2 abaixo:

Gráfico 2 – Brasil: Geração por Fonte (%)

Fonte: Informe Técnico – Oferta e Demanda Regional de Energia Elétrica 2000/2020

Uma alternativa de investimentos, além das que já estão em crescimento, que seriam renováveis são as hidroeólicas, já que o Brasil tem potencial eólico e hídrico para manter o abastecimento de energia de uma população estabilizada em quantidade até 2050 (como prevê o IBGE). Este é um sistema que interliga estas duas fontes, no qual uma ajudará a outra. As turbinas eólicas economizariam água dos reservatórios para que esta possa ser usada nos períodos de seca, que são marcados, comumente, por ventos fortes, os quais são vantajosos para a energia eólica. Em 2050, este sistema poderia oferecer 5.100 KWh por habitante por ano, equiparando-se a países europeus desenvolvidos. (CARVALHO; SAUER, 2013, p. 121)

6. Conclusão

Percebe-se que a demanda energética do Brasil começou a crescer junto com o desenvolvimento econômico e, durante esta trajetória, mesmo com todos os investimentos e incentivos dados pelo governo, a energia nuclear não conseguiu se desenvolver no país. Diferente de outras, como a eólica e solar, que estão ganhando espaço na composição do setor elétrico. Para que pudesse ser analisado com mais exatidão os problemas que as usinas nucleares podem gerar, foi utilizado como parâmetro as hidrelétricas, que ainda representam a maior parte da produção, mesmo com sua queda anual. Essa comparação levou à conclusão de que os investimentos voltados para as hidrelétricas deram mais retorno para a sociedade do que os feitos nas usinas nucleares.

Uma das relações é o custo que as duas demandaram para o governo, as usinas hidrelétricas foram mais caras, mas ao mesmo tempo têm um potencial energético maior, assim como o exemplo dado entre Belo Monte e Angra 1, o qual mostra que a primeira produz 17,5 vezes a mais do que a segunda. Outro fator comparativo é a duração de trabalho de cada uma delas, dado que as nucleares em 40 anos devem ser totalmente desativadas, enquanto as outras devem manter a manutenção dos maquinários, que começam a se degradar em 20 anos, mas a usina de modo geral pode durar até 100.

Os riscos que as centrais nucleares apresentam para a saúde da população em suas possíveis falhas são irreversíveis e extremamente catastróficos. A explosão de Chernobyl, depois de 38 anos, ainda torna uma cidade inabitável e há resquícios de sua radiação nas gerações que foram afetadas. Ademais, há a liberação de CO2 nos processos referentes às nucleares. As usinas hidrelétricas têm, também, problemas vinculados a elas, alguns destes são destruir o habitat natural de algumas espécies de animais e plantas por conta do alagamento da região, mas não conseguem se equiparar às mutações cromossômicas que as mesmas espécies podem sofrer perto da radiação que a explosão nuclear libera, e não só por esta, mas também aquela liberada pelos lixos radioativos que as centrais geram, os quais não têm um descarte certo.

Uma característica ressaltada na evolução energética brasileira é, cada vez mais, estar variando a quantidade das fontes utilizadas para a demanda de

energia. Nos anos 2000, o país era muito dependente das hidrelétricas, o que gerou problemas para o abastecimento quando estas estavam com baixos níveis em seus reservatórios. E há algumas outras formas de geração de energia que podem ser alvo de novos investimentos, como o exemplo dado das hidroeólicas. Porém, as desvantagens que as centrais nucleares carregam não as tornam uma boa candidata para esta gama de novos desvios de investimentos.

Portanto, as desvantagens da geração de energia pelas usinas nucleares e o potencial de desenvolver energias sustentáveis e renováveis suficientes para abastecer o Brasil fazem com que seja desnecessário o investimento em novas centrais.

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A RELAÇÃO ENTRE MÚSICA E PSICOLOGIA:

Os benefícios e malefícios emocionais na alta performance

Maria Clara Ferenczi Fassio

Isabella Dalmolin Beraldo

Heloysa Laís De Souza Ribeiro

Giulia Travaglia Del Moro

Gabriel Carvalho Santos

Este artigo oferece a função da música como um papel terapêutico significativo na saúde mental, reduzindo ansiedade e depressão, e melhorando autoestima e bem-estar. Tanto na musicoterapia como na vida dos músicos de alta performance, a ansiedade é um desafio complexo, podendo ser desencadeada pela busca pela perfeição e pela pressão da performance.

Além disso, é citado e aprofundado os sintomas e as causas da ansiedade na performance musical. Esta ansiedade pode se manifestar de várias formas, incluindo sintomas físicos, comportamentais e, principalmente, mentais e é influenciada por fatores individuais e externos, afetando tanto os músicos quanto a qualidade da música. Conclui-se que ao mesmo tempo que a música profissionalizada ocasiona transtornos mentais, ela também pode ser a solução destes, através da musicoterapia, que se trata de uma opção terapêutica promissora e inovadora, não invasiva e acessível.

PALAVRAS-CHAVE: Musicoterapia; Transtorno Mental; Ansiedade; Músicos de Alta Performance.

1. Introdução

Este estudo configura-se como uma investigação da inter-relação entre música e as neurociências, estudando as correlações entre música e emoção; música, cognição e aprendizagem. O objetivo geral é analisar, através de uma revisão bibliográfica sistemática, de que forma essas ciências se correlacionam entre elas. Afinal, a música gera emoção e ativa várias estruturas cerebrais, dentre elas o sistema límbico, que é responsável pelas emoções e comportamentos sociais; há também neste processo a liberação do neurotransmissor dopamina, responsável pela sensação de prazer.

A relação entre o profissional da música e sua saúde mental multifacetada, tem gerado tanto benefícios quanto desafios para o bem-estar psicológico. Por um lado, a relação entre música e saúde mental pode surgir da excessiva autocobrança de músicos de alta performance. Muitos músicos enfrentam pressões intensas para alcançar padrões elevados de execução musical, enfrentando competições acirradas e expectativas exigentes da indústria e do público. Essa constante busca pela perfeição pode levar a altos níveis de estresse, ansiedade e até mesmo depressão. A autocobrança excessiva pode criar um ciclo prejudicial de autocrítica e auto-exigência, minando a autoconfiança e o bemestar emocional dos músicos, mesmo quando alcançam sucesso profissional.

Por outro lado, a música pode ser uma ferramenta terapêutica, capaz de aliviar o estresse, reduzir a ansiedade e elevar o humor. O ritmo e a melodia podem atuar como uma forma de escapismo, proporcionando conforto emocional e uma sensação de conexão com os outros. Nesse sentido, a música tem o poder de evocar memórias positivas e fortalecer os laços sociais, promovendo um senso de pertencimento e comunidade.

2. Pontos negativos

A relação entre psicologia e a música como profissão de alta performance é multifacetada, apresentando tanto aspectos negativos quanto positivos.

Por um lado, a música pode ter efeitos positivos sobre o bem-estar psicológico, mas também maléficos para músicos de alta performance, levando a consequências prejudiciais para sua saúde mental e emocional. Isso evidencia que a ansiedade, na performance musical, é uma experiência complexa, influenciada por fatores individuais e externos, que podem impactar a qualidade e o bem-estar dos músicos.

2.1. A alta performance na profissão musical

Um profissional de alta performance é um indivíduo que alcançou um nível excepcional de excelência em sua carreira, esse conceito pode ser aplicado no campo de atuação musical, segundo Gabriela Kronemberger na Revista Música Hodie, de Goiânia: “A profissão de músico de orquestra é caracterizada pelo alto grau de qualificação profissional e de prestígio”, ou seja, destaca-se por suas habilidades técnicas superiores, e também por sua capacidade única de expressar emoções e narrativas através da música. Estes artistas dedicam-se ao aprimoramento de suas habilidades, demonstrando um comprometimento com a busca da perfeição artística. Além de sua maestria técnica, um músico de alta performance é resiliente diante de desafios, capaz de enfrentar pressões intensas associadas a apresentações ao vivo, gravações e demandas da indústria musical que exige performances exemplares, contribuindo para uma carga psicológica adicional e com uma tendência de ter altos padrões para si mesmo.

Sendo assim, se mostra essencial gerenciar de forma saudável a pressão pelo perfeccionismo, com o apoio emocional e a conscientização sobre as demandas psicológicas, cruciais para ajudar os músicos a enfrentarem essa pressão de maneira construtiva.

Essa busca incessante pela perfeição, apesar de ser um objetivo frequentemente compartilhado, é algo irreal e fora de alcance. A tentativa de se alcançar padrões inatingíveis pode criar um fardo emocional significativo para os profissionais que buscam excelência em suas áreas. Desse modo, a ansiedade pode estar presente em todas as etapas do processo para o músico, desde a fase de preparação até a execução.

A execução musical é influenciada por uma variedade de processos físicos e mentais como o raciocínio lógico, a cognição, a memória, a atenção, capacidades musculares, articulares, aprendizado motor e consciência corporal. É essencial que o músico reconheça a interconexão desses elementos e dedique atenção individualizada a cada um, se empenhando a aprimorar o resultado da sua performance, e isso é alcançado por meio de cuidados de todos os aspectos envolvidos:

Como um atleta treinaria os músculos do corpo individualmente antes de uma corrida, por exemplo, é possível treinar todos estes mecanismos e toda essa gama de sutilezas individualmente,

a atenção em si mesmo, a atenção no externo, no outro, a memória, a compreensão da peça e também do meio (o palco, o teatro, a banca, o colega, o maestro etc.), as diversas percepções corporais, uma ampla compreensão do texto musical, enfim, cada aumento de domínio destas pequenas capacidades pode também aumentar a capacidade geral de manter o foco (em um sentido mais amplo) (MACIENTE, 2016: 146).

2.2. Malefícios Psicológicos

Nesse viés, reconhecendo as causas ditas que originam malefícios psicológicos nos músicos de alta performance, pode-se constatar seus possíveis sintomas.

Segundo Kenny (2011) a performance musical é uma disciplina exigente, e possui o perfeccionismo como um papel etiológico para a ansiedade. Essa trata-se de uma experiência emocional caracterizada por sentimentos de apreensão, nervosismo e preocupação excessiva em relação a eventos futuros ou situações desconhecidas. Como sintomas físicos, apresenta tensão muscular, aumento da frequência cardíaca e sudorese, frequentemente acompanham os aspectos emocionais. Apesar de ser uma reação natural do corpo para se preparar diante de desafios, a ansiedade se torna problemática quando ocorre de forma desproporcional às circunstâncias ou interfere nas atividades diárias.

De acordo com o Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina entende-se o transtorno de ansiedade como: um fenômeno que ora nos beneficia ora nos prejudica, dependendo das circunstâncias ou intensidade, podendo tornar-se patológica, isto é, prejudicial ao nosso funcionamento psíquico (mental) e somático (corporal). A ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo reações. Os transtornos de ansiedade são doenças relacionadas ao funcionamento do corpo e às experiências de vida.

2.2.1. As causas da ansiedade na performance musical Conforme Valentine (2002, p. 172), três fatores contribuem para a ansiedade na performance musical: a Pessoa, a Tarefa e a Situação.

“Pessoa”, o primeiro termo a ser explorado, se refere aos elementos da personalidade de um indivíduo que podem afetar seu comportamento, sendo único para cada indivíduo e demonstrando sua tendência usual de reagir ao ambiente. O comportamento individual resulta da interação entre fatores pessoais, físicos e sociais, ou seja, a ansiedade é influenciada pelos traços intrínsecos de cada sujeito e pela forma como ele se relaciona com o ambiente ao seu redor.

O segundo termo é a “Tarefa”, pois quando um músico se depara com uma tarefa que considera desafiadora em relação ao seu atual nível técnico e interpretativo, podem surgir fatores psicológicos e cognitivos que tornam ainda mais difícil a realização da tarefa. A possível falha ou falta de controle sobre a tarefa ou a execução de algo que ultrapassa sua habilidade técnica e interpretativa pode, desde o estágio de preparação, gerar elementos físicos que prejudicam, levando à ansiedade negativa durante a performance musical.

Já o terceiro “Situação” , aponta por exemplo para performance pública, que embora seja uma parte essencial da vida de um músico, frequentemente se torna uma fonte de ansiedade. Este momento não só é crucial para o processo de interpretação, carregando consigo as expectativas e aspirações do músico, mas também envolve as expectativas do público. Assim como a ansiedade pode ser diferente em cada indivíduo e em relação à tarefa, também é única em relação à situação, variando de pessoa para pessoa.

Existem algumas situações na execução que são geralmente estressantes para os músicos, independentemente das diferenças individuais em sua sensibilidade à ansiedade. Algumas situações podem gerar mais ansiedade por deixar o músico mais exposto como a apresentação solo, apresentação pública, concurso, apresentação de obras difíceis ou pouco ensaiadas, que são menos confortáveis do que a apresentação em grupo, o tempo individual de estudo, a apresentação por prazer, obras que são fáceis, familiares ou bem aprendidas.

2.3. Sintomas

Os sinais de ansiedade durante uma apresentação musical são amplamente reconhecidos e podem ser categorizados em três grupos: físicos, comportamentais e mentais. (VALENTINE, 2002, p. 168)

Os sintomas físicos/fisiológicos experienciados durante a ansiedade na performance são similares àqueles experienciados em uma situação de estresse. Como sintomas fisiológicos, em resposta ao excesso de excitação do sistema nervoso automático, encontram-se o aumento do batimento cardíaco, palpitações, falta de ar, hiperventilação, boca seca, transpiração, náusea, diarreia e tonturas.

Os sintomas mentais podem ser subdivididos em cognitivos e emocionais. Os sintomas cognitivos consistem em perda de concentração, distração elevada, falha da memória, cognições inadequadas, interpretação errada da partitura, entre outros. Os sinais emocionais derivam do sentimento de ansiedade, tensão, preocupação, medo, pânico, apreensão ou pavor.

Sendo assim, é evidente que a ansiedade na performance musical não é apenas uma reação isolada, mas sim um fenômeno multifacetado que pode ser influenciado por diversos fatores, desde características individuais até pressões externas. Portanto, é fundamental que tanto os músicos quanto os profissionais de saúde mental reconheçam a importância de abordagens holísticas que promovam não apenas o desenvolvimento técnico, mas também o suporte emocional necessário para garantir performances musicais de qualidade e sustentáveis ao longo do tempo.

3. Pontos positivos

Outra faceta da relação entre música e saúde mental pode ser apresentada. Um jeito de tratar os músicos pode ser por meio do seu próprio instrumento artístico, sendo esse a musicoterapia.

Esta vem ganhando destaque como uma abordagem complementar no tratamento de transtornos mentais e comportamentais e tem desempenhado um papel fundamental ao fornecer insights sobre como a música afeta o cérebro humano e como essa relação pode ser aproveitada de modo terapêutico.

Nesse contexto, a busca por abordagens terapêuticas eficazes para o tratamento de transtornos mentais é fundamental. A música emergiu como uma forma de terapia complementar, oferecendo uma abordagem holística e acessível para melhorar a saúde mental. Sua capacidade de evocar emoções e memórias positivas a torna uma ferramenta no arsenal terapêutico. Na literatura atual sobre a relação entre música e saúde mental, destacam-se os mecanismos pelos quais a música pode impactar positivamente a saúde mental e o papel dos profissionais da música nesse contexto.

Como dito, estudos têm demonstrado que a música pode impactar positivamente a saúde mental por meio de mecanismos fisiológicos e psicológicos complexos. Fisiologicamente, a música pode estimular a liberação de neurotransmissores como

dopamina e serotonina, que desempenham papéis essenciais no controle do humor, prazer e bem-estar.

Essa liberação de neurotransmissores pode levar a uma redução nos níveis de cortisol, o hormônio do estresse, promovendo assim um estado de relaxamento e calma. Além disso, a música pode modular a atividade cerebral, estimulando áreas associadas à emoção e memória, o que pode ser especialmente benéfico no tratamento de transtornos mentais.

Nesse sentido, a música pode evocar emoções positivas e promover uma maior conexão com o ambiente e com os outros. Por meio da música, indivíduos podem expressar e processar emoções difíceis, aliviando assim o estresse emocional. Ela também pode servir como uma forma de escapismo, permitindo que as pessoas se desconectem temporariamente de preocupações e ansiedades. Além disso, a prática musical, seja ouvir ou tocar um instrumento, pode melhorar a autoestima e a auto expressão, elementos essenciais para o bem-estar emocional.

Em suma, a música exerce uma influência poderosa sobre a saúde mental, oferecendo uma variedade de benefícios que vão desde a redução do estresse até o fortalecimento da resiliência emocional. Seu impacto positivo pode ser observado em diversas áreas da vida, destacando assim seu potencial como uma ferramenta valiosa na promoção da saúde mental.

Assim, as intervenções musicais têm sido cada vez mais reconhecidas por seu papel no manejo de psicopatologias, demonstrando efeitos positivos na autoestima, comunicação e bem-estar dos indivíduos. Diversas aplicações da musicoterapia foram identificadas, com destaque para sua capacidade de elevar a autopercepção e as realizações pessoais, bem como reduzir a ansiedade, depressão e afeto negativo. A musicoterapia também demonstrou aprimorar a resposta comportamental de idosos institucionalizados com demência e pacientes com Transtorno do Espectro do Autismo, promovendo melhores relações interpessoais.

3.1. Discussão

Os resultados desta revisão corroboram com evidências anteriores sobre o uso da musicoterapia para tratar a ansiedade de músicos. A capacidade da música de influenciar positivamente o cérebro humano e modular estados emocionais tem sido amplamente documentada. A identificação de modificações encefálicas em condições psiquiátricas sugere que a musicoterapia pode não apenas aliviar sintomas, mas também impactar a neuroplasticidade cerebral, abrindo caminho para intervenções mais eficazes e personalizadas no tratamento de transtornos mentais.

Efeitos observados nas estruturas encefálicas e na plasticidade cerebral reforçam a musicoterapia como uma abordagem terapêutica eficaz, que deve ser considerada no tratamento desses transtornos, oferecendo uma alternativa de terapia não invasiva, inovadora e acessível. No entanto, são necessárias mais pesquisas para aprofundar o entendimento sobre os mecanismos de ação da musicoterapia e sua eficácia em diferentes contextos clínicos, a fim de melhorar ainda mais sua aplicação e impacto na saúde mental.

4. Conclusão

A ansiedade na performance musical não é apenas uma reação isolada, mas sim um fenômeno que pode ser influenciado por diversos fatores, desde características individuais até pressões externas. Portanto, é aconselhado que tanto os músicos quanto os profissionais de saúde mental reconheçam a importância de abordagens holísticas que promovam não apenas o desenvolvimento técnico, mas também o suporte emocional necessário para garantir performances musicais de qualidade e sustentáveis ao longo do tempo

A utilização da música como terapia complementar em transtornos mentais, apresenta resultados promissores, reforçando a importância da interdisciplinaridade, do uso de um instrumento, além da relação entre a música e a saúde mental, induzindo alterações psicofisiológicas e cognitivo-comportamentais.

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JOGOS COMO FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

INFANTIL E JUVENIL

Bruno Do Nascimento Carvalho

Caio Santos Casimiro

Esta pesquisa examina a importância dos jogos eletrônicos no desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes, destacando os benefícios educacionais associados ao seu uso. Fundamentado nas teorias de Jean Piaget e Lev Vygotsky, é analisado como os jogos físicos e eletrônicos influenciam o desenvolvimento infantil. Jogos físicos, como tabuleiros e cartas, podem promover habilidades motoras, sociais e cognitivas. Por outro lado, jogos eletrônicos, quando utilizados de forma estratégica, podem estimular a memória, a atenção e a resolução de problemas. As contribuições teóricas de Vygotsky, que enfatizam a interação social e a Zona de Desenvolvimento Proximal, e de Piaget, que aborda o desenvolvimento cognitivo por estágios, fornecem uma base fundamentada para entender o potencial educativo dos jogos. Além disso, o estudo explora a alfabetização através dos jogos, os benefícios no entretenimento e o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, destacando como esses jogos podem ser utilizados para promover o aprendizado. É concluído que a incorporação equilibrada de jogos físicos e eletrônicos em ambientes educacionais e domésticos pode trazer benefícios amplos, como habilidades sociais e cognitivas. Assim, o uso de jogos pode ser mais incorporado no cotidiano para maximizar esses benefícios e promover um desenvolvimento diversificado e interativo.

PALAVRAS-CHAVE: Jogos; Desenvolvimento; Aprendizagem; Infantil; Cognitivo.

1. Introdução

O crescimento dos jogos eletrônicos no mercado é um fenômeno notável, refletido em números impressionantes de vendas e no desenvolvimento de uma vasta gama de gêneros e plataformas de jogos. Este crescimento não apenas destaca a importância econômica dos jogos, mas também a sua influência cultural e social, que se estende ao comportamento e ao desenvolvimento dos jovens.

Gráfico 1: Receitas regionais de videogames e eSports (em US$ milhões), de 2017 a 2026 Fonte: Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2022-2026 da Pwc, Omdia

Conforme o gráfico, os jogos expandiram e vão expandir-se ao decorrer dos anos em grande parte do globo. Esta presença cresce em diversas parcelas do mundo e constantemente entra em contato na mão das pessoas. Dentre os grupos, há um destaque para os adolescentes e as crianças.

Nos últimos anos, os jogos eletrônicos se tornaram uma presença constante no cotidiano de crianças e adolescentes, crescendo exponencialmente em popularidade e no mercado global. Este crescimento levanta questões importantes sobre os efeitos dos jogos no desenvolvimento cognitivo dos jovens.

Pesquisas, como o estudo "Adicção dos games" de Mendonça (2017: pp. 142165), discutem os impactos cognitivos e comportamentais dos jogos, destacando tanto os benefícios quanto os riscos. Mendonça aponta que, apesar das preocupações com a adição, os jogos podem estimular habilidades cognitivas essenciais, como atenção

seletiva, memória operacional e resolução de problemas. Compreender esses benefícios é crucial para promover um uso equilibrado e positivo dos jogos.

Além disso, segundo Victor Azevedo (2012), em "Jogos eletrônicos e educação: construindo um roteiro para sua análise pedagógica", explora o papel dos jogos no contexto educacional. Ele sugere que, quando usados estrategicamente, os jogos podem ser ferramentas pedagógicas poderosas, promovendo engajamento e aprendizagem ativa.

A análise dos diferentes tipos de jogos revela uma diversidade de benefícios e aplicações que variam conforme o contexto e o objetivo de uso. Este artigo tem como objetivo explorar as características intrínsecas de cada categoria de jogos, discutir suas vantagens e desvantagens, e identificar as situações nas quais cada tipo é mais adequado.

2. Desenvolvimento

Inicialmente, é importante lembrar que jogos tem diversas classificações e como cada uma pode correlacionar com cada estímulo cerebral do “player”. Assim, separá-los em cada tipo de jogo proporciona uma melhor clareza acerca do tema debatido.

2.1. Jogos físicos

Os jogos físicos, como tabuleiros, cartas e brinquedos manipuláveis, têm uma longa história e são frequentemente associados a benefícios cognitivos e sociais. Segundo Piaget, o jogo físico é essencial para o desenvolvimento infantil, pois promove habilidades motoras finas, coordenação e a capacidade de resolver problemas. Além disso, esses jogos incentivam a interação face a face, crucial para o desenvolvimento de habilidades sociais como cooperação, negociação e empatia.

Uma das principais vantagens dos jogos físicos é o desenvolvimento motor. Jogos que envolvem a manipulação de peças, como quebra-cabeças e blocos de construção, ajudam no desenvolvimento da coordenação motora fina e na percepção espacial. Além disso, a interação social é significativamente promovida, já que esses jogos frequentemente requerem múltiplos jogadores, promovendo habilidades de comunicação e trabalho em equipe. A tangibilidade desses jogos também é um benefício notável, pois

a experiência táctil pode reforçar o aprendizado e a memorização através do uso de múltiplos sentidos.

2.2. Jogos Eletrônicos

Os jogos eletrônicos evoluíram rapidamente e se tornaram uma parte significativa do entretenimento moderno. Estudos indicam que esses jogos podem ser ferramentas poderosas para o desenvolvimento cognitivo, desde que usados de maneira adequada. Segundo a American Psychological Association1, jogos eletrônicos podem melhorar habilidades visuais-espaciais, atenção e resolução de problemas.

Uma das vantagens dos jogos eletrônicos é o alto nível de engajamento que proporcionam. Esses jogos são altamente envolventes e podem motivar os jogadores a persistirem em tarefas difíceis, promovendo a resiliência e a paciência. Além disso, a flexibilidade e acessibilidade dos jogos eletrônicos são notáveis, já que muitos podem ser jogados em dispositivos móveis, tornando-os acessíveis em praticamente qualquer lugar. Outro benefício importante é o desenvolvimento cognitivo: jogos de estratégia e quebracabeças podem melhorar a memória, a percepção e as habilidades de planejamento estratégico.

A escolha do tipo de jogo mais adequado depende de diversos fatores, incluindo os objetivos educacionais, o contexto social e as preferências individuais dos jogadores. Jogos físicos são excelentes para promover interação social e habilidades motoras, enquanto jogos eletrônicos podem ser poderosas ferramentas para desenvolvimento cognitivo e engajamento. Portanto, uma abordagem equilibrada que incorpore diferentes tipos de jogos pode oferecer um espectro mais amplo de benefícios, aproveitando os pontos fortes de cada categoria.

Ao considerar os diferentes tipos de jogos e seus benefícios, é fundamental compreender as bases teóricas que sustentam esses pontos. Nesse contexto, as contribuições de Lev Vygotsky e Jean Piaget são essenciais. Ambos são renomados e importantes pesquisadores no campo da psiquiatria e do desenvolvimento por meio dos

1 Popularmente conhecido como APA, fundada em julho de 1892. Representa tanto os Estados Unidos quanto o Canadá

jogos. Suas teorias oferecem uma estrutura para entender como os jogos podem ser usados como ferramentas educativas e de desenvolvimento cognitivo.

2.3. Lev Vygotsky e Jean Piaget

Ao considerar os diferentes tipos de jogos e seus benefícios, é fundamental compreender as bases teóricas que sustentam esses pontos. Nesse contexto, as contribuições de Lev Vygotsky e Jean Piaget são essenciais. Ambos são renomados e importantes pesquisadores no campo da psiquiatria e do desenvolvimento por meio dos jogos. Suas teorias oferecem uma estrutura para entender como os jogos podem ser usados como ferramentas educativas e de desenvolvimento cognitivo.

Lev Vygotsky e Jean Piaget são dois profissionais no estudo do desenvolvimento cognitivo. Suas teorias fornecem justificativas para a utilização de jogos como ferramentas educativas e de aprendizagem. Cada um deles analisou os benefícios das atividades lúdicas a partir de diferentes perspectivas. Enquanto Vygotsky analisa a parte social e interativa, Piaget analisa a parte individual e a construção do conhecimento.

2.3.1. Lev Vygotsky

Lev Vygotsky é renomado por suas teorias sobre a influência do contexto social e cultural no desenvolvimento cognitivo. Uma de suas principais contribuições é o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) que se refere à diferença entre o que uma criança pode realizar sozinha e o que pode alcançar com assistência. Vygotsky argumentou que os jogos são eficazes dentro da ZDP, permitindo que as crianças realizem tarefas ligeiramente acima de seu nível de competência atual com a ajuda de pares mais experientes ou adultos. Por exemplo, em um jogo de tabuleiro, uma criança pode aprender estratégias de um jogador mais experiente, expandindo seu próprio entendimento e habilidades.

Vygotsky também destacou a importância das brincadeiras de faz de conta para o desenvolvimento cognitivo. Durante esses jogos, as crianças assumem papéis e seguem regras sociais, promovendo o desenvolvimento da autorregulação, da linguagem e do pensamento abstrato, ajudando-as na construção do pensamento simbólico e na

capacidade de planejar e resolver problemas. Outras diversões como “brincadeira de faz de conta” facilitam o processo de internalização de normas culturais e comportamentais.

Além disso, Vygotsky argumentou que o aprendizado é mediado por ferramentas culturais, como a linguagem e outros símbolos. Jogos servem como ferramentas culturais que mediam o desenvolvimento cognitivo ao fornecer contextos ricos em significados sociais e culturais. Jogos educativos digitais, por exemplo, podem incorporar narrativas e símbolos culturais, ajudando as crianças a conectarem novas informações com seu conhecimento pré-existente.

Para Vygotsky, a interação social é central para o aprendizado. Nesse sentido, jogos proporcionam um ambiente rico para essas interações, permitindo que as crianças colaborem, compartilhem ideias e aprendam umas com as outras.

2.3.2 Jean Piaget

Jean Piaget é conhecido por sua teoria do desenvolvimento cognitivo, que descreve como as crianças constroem conhecimento através de interações com o ambiente. Piaget propôs que o desenvolvimento cognitivo ocorre em quatro estágios: sensório-motor, préoperacional, operatório concreto e operatório formal. Cada estágio representa uma transformação qualitativa na forma como as crianças pensam e entendem o mundo. Os jogos desempenham papéis específicos em cada estágio, promovendo habilidades apropriadas ao desenvolvimento de cada fase.

Piaget descreveu os processos de assimilação e acomodação como mecanismos pelos quais as crianças adaptam suas estruturas cognitivas. Jogos oferecem um contexto ideal para esses processos, permitindo que as crianças assimilam novas informações e acomodem seus esquemas cognitivos para resolver desafios apresentados pelos jogos. Ele introduziu o conceito de “equilibração” como parte central de sua teoria do desenvolvimento cognitivo.

A “equilibração” descreve o processo pelo qual uma pessoa busca um equilíbrio entre os esquemas cognitivos já existentes e as novas informações encontradas no ambiente. Esquemas cognitivos são as estruturas mentais capazes de assimilar, reconhecer, interpretar e classificar os dados do ambiente, ou seja, os conhecimentos adquiridos.

Piaget defendia que o desenvolvimento cognitivo ocorre por meio de três processos principais: assimilação, acomodação e equilibração. A assimilação envolve a entrada e processamento de estímulos externos aos esquemas existentes, resultando em uma mudança quantitativa. Já a acomodação refere-se à reorganização interna, ajustando ou criando esquemas para uma melhor adaptação, o que representa uma mudança qualitativa e modificação de estrutura. A equilibração é o processo de buscar um estado de equilíbrio entre assimilação e acomodação.

Piaget considerava a equilibração um fator que impulsiona o desenvolvimento cognitivo, pois envolve a resolução de conflitos cognitivos e o entendimento e capacidade de resolver problemas. Esse processo é essencial para o crescimento intelectual, permitindo que a pessoa evolua de formas de pensamento mais simples para mais complexas.

Diante disso, jogos, com seus desafios variados e recompensas imediatas, oferecem um ambiente dinâmico e interativo onde as crianças podem praticar constantemente a equilibração, ajustando suas estratégias cognitivas para superar novos níveis, regras ou obstáculos, promovendo assim a flexibilidade cognitiva e a capacidade de resolver problemas de maneira criativa.

Piaget identificou três tipos principais de jogos: jogos de exercício, jogos simbólicos e jogos de regras. Cada tipo de jogo é predominante em diferentes fases do desenvolvimento e contribui para diferentes aspectos da cognição e habilidades sociais. Ele também enfatizou que as crianças constroem ativamente seu conhecimento através da interação com o mundo. Jogos fornecem um contexto ideal para essa construção ativa, permitindo que as crianças explorem, experimentem e descubram novas ideias e conceitos.

3. Formas de utilizar os jogos

Identificando opiniões alheias, teorias e fatos que contribuem para a confirmação do amplo uso dos jogos, um caminho novo se abre para debater quanto às diversas formas específicas que jogos podem e tem potencial para ajudar no desenvolvimento do estudante.

Um adendo a se acrescentar é a importância de entender que os jogos servem para complementar a educação e não substituir os métodos tradicionais usados nas salas de aula de todo o Brasil.

3.1 Jogos podem auxiliar na alfabetização?

A alfabetização é uma das fases mais cruciais no desenvolvimento infantil, impactando diretamente na vida da criança ou adolescente, seja no trabalho, círculo social ou no próprio desenvolvimento do caráter. Métodos inovadores têm sido explorados para tornar este processo mais eficaz e envolvente. Entre esses métodos, o uso de jogos tem ganhado destaque devido ao seu potencial de engajar as crianças de maneira lúdica e educativa. O objetivo desta parte é mostrar alguns jogos e como eles trazem uma evidente ajuda às crianças.

Um bom ponto a se observar, é a razão em optar pelos jogos dentro da alfabetização. Isto se dá, principalmente, pelo fato de haver um engajamento ou encorajamento dos próprios jogos seja com figuras de animais ou com mensagens visualmente atraentes, além de trazer uma correção imediata, de forma que logo após a brincadeira se possa aproveitar e analisar junto ao educador um meio de aprimorar o aprendizado.

Existem diferentes tipos de jogos que servem para este propósito. Alguns são jogos de formar palavras que ajudam na morfologia das crianças, enquanto outros trazem auxílio fonético, com o intuito de aprimorar o vocabulário infantil.

3.2 Aprimoramento do raciocínio lógico-matemático

Outra abordagem para além da alfabetização, que também é muito essencial para o perfil do aluno e o desenvolvimento do córtex pré-frontal, é a responsável pelo raciocínio lógico.

Assim como os jogos possuem regras bem definidas que os jogadores devem seguir, a matemática é regida por axiomas e teoremas que formam a base de seu sistema lógico. Em um jogo, as regras estruturam o caminho para a vitória, enquanto na matemática, os axiomas estabelecem os fundamentos a partir dos quais se derivam conclusões. Essa estrutura proporciona um ambiente controlado em que se pode

experimentar, testar hipóteses e desenvolver estratégias em contextos lúdicos. A compreensão e aplicação desses princípios estimulam o raciocínio lógico, promovendo uma aprendizagem mais profunda e significativa dos conceitos envolvidos.

Com isso, o estudo da matemática através de jogos pode ser especialmente vantajoso, pois une o rigor lógico a uma abordagem interativa e envolvente, facilitando a internalização dos conceitos de maneira natural e intuitiva.

Desta forma, os jogos são eficazes para a assimilação de conceitos abstratos, proporcionando um ambiente onde esses conceitos podem ser manipulados de formas tangíveis, desenvolvendo o raciocínio lógico. Além disso, jogos, como quebra-cabeças e jogos de estratégia, desafiam os jogadores a pensar criticamente e desenvolver habilidades de resolução de problemas.

3.3 Relação entre jogos e a dinâmica do corpo

A instituição educacional além de colocar a educação teórica em prática, deve proporcionar também atividades práticas como ajuda no desenvolvimento das crianças e adolescentes. Além dos próprios jogos físicos que são descritos como “brincadeiras ou esportes”, há certos eletrônicos que podem fazer a função nas atividades físicas.

Assim, a utilização de jogos nas aulas de educação física pode atender a diferentes estilos de aprendizagem. Conforme Ribeiro (2019, p.33), a diversidade de atividades permite que cada aluno explore suas capacidades individuais, promovendo um ambiente inclusivo. Jogos que envolvem desafios físicos e estratégicos ajudam os alunos a desenvolverem a autoconfiança e a capacidade de resolução de problemas, habilidades essenciais para o crescimento pessoal e social.

Jogos atuais que usam, por exemplo, o “Kinect” da Xbox, que proporciona os movimentos espelhados da vida real no jogo, possibilita a jogabilidade de games que necessitam muita movimentação podem ser usados para aprendizagem de um acontecimento ou esportes juntando o dinamismo de jogos com a diversão proporcionada.

A prática regular de jogos também pode influenciar positivamente a saúde física dos alunos. Estudos de Santos (2021, pp.18-30) indicam que crianças e adolescentes que participam de atividades lúdicas tendem a apresentar melhores índices de

condicionamento físico e menor risco de doenças relacionadas ao sedentarismo. Dessa forma, a implementação de jogos nas aulas de educação física não só melhora a coordenação, mas também incentiva hábitos saudáveis desde a infância.

Demonstram-se diversos benefícios que não só são responsabilidades da instituição de ensino, como uma ajuda muito vantajosa para prevenir um futuro de baixa coordenação motora e condições prejudiciais para a saúde do jovem. Além disso, é capaz de oferecer nova forma de auxiliar na educação e vivência.

4. Métodos de utilização dos jogos na Educação

Para maximizar os benefícios dos jogos no desenvolvimento cognitivo, é crucial implementar estratégias específicas em ambientes educacionais. Jogos de tabuleiro e quebra-cabeças, como xadrez e Sudoku, promovem o pensamento crítico e a capacidade de resolução de problemas, incentivando os alunos a desenvolverem estratégias e reconhecerem padrões. Jogos digitais educativos podem ensinar conceitos de matemática, ciência e linguagem de maneira interativa, integrando a aprendizagem teórica com a prática.

Jogos de palavras, como forca e palavras cruzadas, expandem o vocabulário e promovem habilidades linguísticas, além de estimular a criatividade e a flexibilidade cognitiva. Jogos que requerem cooperação desenvolvem habilidades sociais, como comunicação e resolução de conflitos, ensinando os alunos a trabalharem em equipe e valorizar as contribuições dos outros.

Além disso, muitos jogos digitais oferecem feedback imediato e sistemas de recompensas, incentivando a persistência e o esforço contínuo, o que reforça o comportamento positivo e promove a aprendizagem contínua.

5. Conclusão

Os jogos eletrônicos desempenham um papel significativo no desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes. Quando utilizados de maneira equilibrada e estratégica, são diversos. Eles podem estimular habilidades como atenção, memória, comunicação, trabalho em equipe, resolução de problemas e até mesmo o pensamento abstrato, conforme discutido por Vygotsky e Piaget. Portanto, é essencial que educadores

reconheçam esses potenciais e integrem os jogos eletrônicos de forma controlada e positiva no cotidiano dos jovens.

A incorporação equilibrada de diferentes tipos de jogos em ambientes educacionais e recreativos pode proporcionar um espectro mais amplo de benefícios, abrangendo desde o desenvolvimento motor e social até o cognitivo. A compreensão das teorias de Vygotsky e Piaget sobre o papel dos jogos no desenvolvimento infantil reforça a importância de um uso consciente e contextualizado dos jogos como ferramentas educativas. Assim, futuras pesquisas podem continuar a explorar formas de maximizar esses benefícios, integrando as modalidades de jogos de maneira que busquem maximizar o desenvolvimento intelectual dos jovens, promovendo não apenas habilidades cognitivas, mas também sociais.

Referências bibliográficas

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RIBEIRO, L. T. “Jogos e suas contribuições para o aprendizado motor”. Jornal de Educação Física, v. 15, n. 2, p. 33-47, 2019.

SANTOS, M. A. Saúde e atividade física na infância: uma revisão de literatura. Revista de Saúde Pública, v. 55, n. 3, p. 18-30, 2021.

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SILVEIRA, S. R.; RANGEL, A. C. S.; CIRÍACO, C. L. Utilização de jogos digitais para o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático. # Tear: Revista de Educação Ciência e Tecnologia, Canoas, v. 1, n. 1, p. 1-14, 2012.

SOARES, R. S. et al. “A importância dos jogos na formação do raciocínio lógicomatemática no período introdutório”. Intercursos - Revista das Unidades Acadêmicas da Fundação Educacional de Ituiutaba, Ituiutaba, v. 10, n. 1, p. 75-86, jan. / jun. 2011

REAÇÕES DO CÉREBRO:

IMPACTOS NOS TRATAMENTOS MÉDICOS

Giulia Albelo Da Rocha

Isabelli Borges Grandolpho

Letícia Caramico Pinto

Luiza Nunes Lira

Mariane Rodriguez Caldeira

Vincenzo Speeden De Souza

Este artigo versa sobre o estudo de algumas reações e funções do cérebro, incluindo: o funcionamento de neurotransmissores, que atuam como mensageiros no cérebro; o estudo do sistema límbico, rico em neurônios e neurotransmissores e essencial para emoções e comportamentos sociais; a sinestesia, um distúrbio neurológico onde um sentido não estimulado reage involuntariamente; o transtorno depressivo, sendo uma de suas causas a falta de neurotransmissores monoaminas; e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que afeta pessoas que passaram por traumas. Ademais, serão abordados dois tratamentos alternativos para determinadas doenças que se baseiam no funcionamento do cérebro, sendo eles o tratamento por MDMA na psicoterapia e por optogenética (ainda experimentais). Por envolverem métodos não ortodoxos, tais possibilidades de tratamentos podem ser estigmatizadas, prejudicando o desenvolvimento das pesquisas. Consequentemente, é possível que a incompreensão já presente a respeito dos transtornos citados se perpetue, e que os maiores afetados sejam os possuidores destes por conta da inexistência de uma terapia mais adequada. Portanto, o objetivo desse artigo é discutir, por meio de uma pesquisa bibliográfica, sobre os comportamentos do cérebro frente a patologias neurológicas do ponto de vista psiquiátrico e psicológico, além de possíveis técnicas para auxiliar na recuperação/melhora de pacientes com transtornos neurológicos.

PALAVRAS-CHAVE: cérebro, distúrbios neurológicos, neurotransmissores, tratamentos

1. Introdução

O cérebro humano é um órgão complexo e que regula o sistema nervoso, atuando como uma parte vital da espécie. Os bilhões de neurônios que o formam praticam inúmeras funções, entre elas: a capacidade do raciocínio lógico, da regulação de outras ações vitais (como a respiração, temperatura, batimentos cardíacos etc.), da interpretação dos sentidos e do gerenciamento dos sentimentos e comportamentos.

Importantes componentes presentes no cérebro são os neurotransmissores. Eles funcionam como mensageiros químicos que transmitem mensagens e sinais entre os neurônios. É através das sinapses que, por impulsos nervosos, um neurônio libera os neurotransmissores nas fendas sinápticas (espaço presente entre os neurônios) e são absorvidos pelo próximo neurônio, assim, ocorrendo a transmissão. Além de atuarem na área que controla as funções vitais, os neurotransmissores afetam, diretamente, a parte psicológica, sendo responsáveis por definir as emoções, principalmente os denominados monoaminas (serotonina, dopamina e noradrenalina).

O sistema límbico é um conjunto de estruturas cerebrais, localizado abaixo do córtex, que responde a estímulos do ambiente por meio das emoções. Sabe-se hoje que o sistema límbico não é algo exclusivo do Homo sapiens sapiens e que, na realidade, Charles Darwin descobriu que outros animais na mesma escala filogenética dos seres humanos possuíam-no (como, por exemplo, os primatas).

A disfunção dos neurotransmissores pode causar alguns distúrbios, entre eles a sinestesia, a depressão, a ansiedade e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). A sinestesia, causada pelo envio de reações de forma cruzada e errônea, gera uma mistura de sentidos. A depressão, por sua vez, se dá pela falta de monoaminas, classificando-se como um distúrbio biológico e mental, em que há um estado de tristeza e falta de interesse em atividades cotidianas. Por fim, o TEPT trata-se de um possível desequilíbrio entre os neurotransmissores, sendo caracterizado pela revisitação de traumas a partir de memórias, sonhos ou flashbacks, com sintomas como modificações malignas na cognição do humor e evitamento de estímulos relacionados ao trauma.

Assim como os neurônios e os neurotransmissores podem gerar distúrbios quando em mau funcionamento, a regulação deles ou o seu manuseio pode servir como auxílio no tratamento de outras doenças e, inclusive, algumas das citadas acima. O uso de MDMA, por exemplo, coopera com a psicoterapia de TEPT ao, possivelmente, fomentar um melhor processamento dos traumas e gatilhos. Há, ainda, a optogenética, técnica experimental capaz de marcar neurônios específicos do cérebro pelo uso de engenharia genética e física óptica,

ativando-os ou desativando-os. Tais procedimentos mostram-se promissores para a modernidade e podem inspirar inovações futuras.

Em suma, a compreensão da fisiopatologia de perturbações psicológicas é essencial para entender os sintomas e a dor dos pacientes e para que alternativas de métodos terapêuticos cada vez mais avançados sejam desenvolvidos. Torna-se necessária, portanto, a existência deste trabalho, que reunirá informações tanto sobre patologias quanto sobre certos tratamentos e que poderá possibilitar, no futuro, uma ampliação do leque de opções de terapias em comparação com as poucas que há.

2. Desenvolvimento

2.1. Os neurotransmissores

O cérebro é um complexo órgão, que pertence ao sistema nervoso, que comanda e controla todo o organismo, todas as diversas funções exercidas pelo corpo, seja motora, comportamental, emocional, fisiológicas. Nele, funcionam bilhões de células, os neurônios, que têm relação com a passagem de informação a serem executadas. Com a função de transportar as informações entre as células neuronais, existem os neurotransmissores, que são substâncias que são os mensageiros químicos, responsáveis por receber, processar e transmitir algum dado. Além disso, os mensageiros (neurotransmissores) são passados entre os neurônios através de sinapses. (HYMAN, 2005, p. 154)

Os neurotransmissores saem de um terminal nervoso pré-sináptico (área de transmissão no fim de um neurônio), a partir de um impulso nervoso, que é chamado de potencial de ação, antes armazenados dentro de vesículas. Estas serão fundidas durante o impulso e os neurotransmissores são liberados e se difundem na fenda sináptica (espaço entre dois extremos de neurônios), e assim são captados e se ligam aos receptores presentes na célula pós-sináptica.

Esse processo se repete continuamente entre as células nervosas para que a informação seja transmitida. (HYMAN, 2005, p. 155 - 158)

Existem diversos tipos de neurotransmissores presentes no sistema nervoso, entre eles podemos citar a serotonina, dopamina, adrenalina e noradrenalina, endorfina, glutamato, GABA, oxitocina e diversos outros. (HYMAN, 2005, p. 155) Cada substância dessas exerce funções específicas no organismo e sua desregulação pode causar distúrbios.

2.2. Neurotransmissores e as emoções

Entre uma das responsabilidades dos neurotransmissores, pode-se citar as emoções e comportamentos dos seres vivos. As emoções humanas podem ser grandemente influenciadas pela ação dos neurotransmissores classificados como monoaminas, que são serotonina, dopamina e noradrenalina. (JIANG et al., 2022, p. 2) Como pode ser observado no artigo de JIANG. Y, et al, foi analisado e proposto o “modelo de três cores primárias das emoções básicas”, em que foi vista a relação entre as emoções e os neurotransmissores monoaminas, principalmente com os citados anteriormente, que seriam neuromoduladores.

Assim, foi proposto que os seres humanos possuem três emoções básicas, cada uma criada por uma monoamina diferente. A serotonina (5-HT) é responsável pelo nojo ou punição, o papel dela dentro das emoções normais são incertos ainda, uma vez que também possui grande papel no tratamento de transtornos depressivos e de ansiedade, promovendo uma sensação positiva. A dopamina (DA) é responsável pela alegria, por conta do sistema de recompensa e promove um sentimento de prazer, o que está relacionado a vícios. A noradrenalina (NE) está relacionada ao estresse e também ao medo, já que é liberada para promover uma reação de fuga ou luta, agindo em conjunto com a adrenalina (JIANG et al., 2022, p. 2-4), como é visto na figura 1 a seguir.

Figura 1- Relação dos neurotransmissores com a expressão das emoções

Fontes: Monoamine Neurotransmitters Control Basic Emotions and Affect Major Depressive Disorders e The role of monoamine system in core affects and basic emotions

No entanto, se as monoaminas forem combinadas, podem ser criadas emoções complexas, como proposto por LÖVHEIM. H, que analisou os níveis das monoaminas durante tais emoções. Logo, é demonstrado que emoções felizes, como interesse e animação, são presentes

quando as três monoaminas estão em níveis elevados no organismo, porém algumas vezes com níveis um pouco mais baixos de noradrenalina, e ainda elevados de serotonina e dopamina em emoções como alegria e prazer por serem emoções mais calmas (uma vez que a NE traz agitação). Enquanto isso, em emoções como humilhação e vergonha (emoções negativas), todas as monoaminas estão em níveis baixos. Além disso, concorda-se em alguns pontos com a pesquisa anterior como a afirmação de que níveis altos de apenas serotonina promovem o nojo e altos níveis de apenas noradrenalina promovem a raiva/medo, já que está associada a fuga e luta. (LÖVHEIM, 2011, p. 342 - 345). Estes dados podem ser conferidos na figura 2 abaixo.

Figura 2- Combinação de neurotransmissores monoaminas

Fonte: A new three dimensional model for emotions and monoamine neurotransmitters

2.3. Sistema Límbico

Patologias mentais podem ter sua causa explicada por fatores biológicos, sendo estes desequilíbrios químicos no organismo de um indivíduo. Tomando como exemplo a depressão1 , a falha na produção dos neurotransmissores, mais especificamente da serotonina, no sistema límbico, pode ser tomada como uma das possíveis causas para este distúrbio (PORFIRIO; CARTONI, 2020, p. 61). Assim, compreender a estrutura e função do sistema límbico é crucial para compreender a origem biológica dos distúrbios emocionais. Portanto, o Sistema Límbico, ou Circuito de Papez, está localizado na superfície medial do cérebro dos mamíferos. Ele participa das emoções e comportamentos sociais, sendo uma área rica em neurônios e consequentemente em neurotransmissores. É composto pelo tronco cerebral, hipotálamo, tálamo, área pré-frontal e rinencéfalo. Sua principal função é interagir 1 doença debilitante que tem sido definida como a sensação persistente e permanente de um indivíduo da perda de valor, mundo sem sentido e de um futuro desesperançoso.

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com informações sensitivo-sensoriais (memórias auditiva e visual, as emoções), influenciando o estado psíquico e contribuindo para o afeto. (RAMALHO, (sem data), p 2 - 18).

A seguir, uma perspectiva anátomo-fisiológica do sistema límbico:

Figura 3- Estruturas anatômicas que compõem o sistema límbico

Fonte: Anatomia do sistema límbico

I. O giro cingulado está presente nos dois hemisférios cerebrais e no córtex límbico, atuando em conjunto com o giro para-hipocampal, que é responsável por estados de quietude ou ansiedade. (BARRETO; SILVA, 2010, p. 386 - 394).

II. O hipotálamo, localizado no diencéfalo, abaixo do tálamo e acima da hipófise, tem como principal função manter a homeostase, controlando a pressão sanguínea, diurese, temperatura corporal, fome, sede e emoções como raiva e prazer, entre outros sinais. (BARRETO; SILVA, 2010, p. 386 - 394).

III. As amígdalas, duas massas de substância cinzenta em forma de amêndoa, também fazem parte do sistema límbico. Anatomicamente, as amígdalas são duas estruturas esféricas associadas ao sistema límbico e ao hipocampo, sendo essenciais para respostas emocionais e comportamentos sociais. (BARRETO; SILVA, 2010, p. 386 - 394).

IV. O corpo mamilar, composto por núcleos localizados na superfície inferior do cérebro, é parte do diencéfalo, e desempenha um papel na evocação de memórias episódicas e espaciais, associadas a emoções fortes. (BARRETO; SILVA, 2010, p. 386 - 394).

V. O hipocampo, localizado nos lobos temporais do cérebro, possui um formato curvado e atua na memória. O neurotransmissor inibitório ácido gamaaminobutírico (GABA) é fortemente presente no hipocampo, funcionando como um desacelerador cerebral para acalmar o corpo e a mente, além de atuar no sono, controle motor, visão e tônus muscular. (BARRETO; SILVA, 2010, p. 386 - 394).

VI. O tálamo, localizado medialmente ao corpo estriado, recebe sinais diferentes dos núcleos de base como última parada antes de chegar ao córtex. (BARRETO; SILVA, 2010, p. 386 - 394).

VII. O córtex entorrinal é uma importante fonte de dois grupos diferentes de fibras aferentes que fornecem informações ao hipocampo. Muitas dessas fibras transportam informações olfativas, visuais e auditivas para o hipocampo. (BARRETO; SILVA, 2010, p. 386 - 394).

2.4. Distúrbios

2.4.1. Sinestesia

Sinestesia é um distúrbio neurológico que consiste na reação involuntária de um sentido não estimulado e seus possuidores são chamados de sinestetas, sendo eles 2 a 4% da população. Há casos como o do escritor Vladimir Nabokov, que ao ver a letra “A”, sempre as enxergava coloridas, porém esse é só um dos casos de sinestesia. Atualmente, foram encontrados cerca de 100 tipos, com as mais comuns envolvendo estímulos auditivos e percepção de cores (BUZZI, 2021, p. 2). Além disso, a sinestesia pode causar reações espelhadas, como por exemplo pessoas que possuem o sentido da visão envolvido, que podem ver outrem chorando e sentir dor o suficiente para sofrer a mesma reação. Considera-se, então, que essas pessoas possuem uma empatia hiperdesenvolvida, causada pelo distúrbio neurológico da sinestesia (CARDONA, 2017, p. 1). Atualmente duas teorias são estudadas, sendo elas:

I. Durante a infância acontecem as podas de conexões neurais, permanecendo somente aquelas mais importantes, com isso os sinestetas teriam uma disfunção nessas eliminações, deixando todas as conexões causando a ligação de regiões adjacentes do cérebro de forma cruzada (TOMASI, 2017, p.83).

II. No cérebro de uma pessoa que não possui alterações, o sistema de envio de informações acontece de forma correta, ou seja, o órgão recebe a informação, analisa e envia para a área receptora. Porém, no caso de sinestetas, acontece o vazamento, em que essas informações chegariam a áreas não desejadas. (CARDONA, 2017, p. 2)

Estudos apontam que esse distúrbio é geneticamente transmitido e que em aproximadamente 40% dos casos há outros parentes com a mesma condição. Essa modificação genética é observada no cromossomo 2q21, no gene LRP52; no cromossomo 2, gene TBR13; cromossomo 6, gene KIAA03194. Assim. Afeta-se a anatomia neural do portador, contudo, ainda há casos em que a utilização de entorpecentes causa a sinestesia, por conta das alterações do sistema nervoso central.(TOMASI, 2017, p.84)

O estudo sobre a sinestesia teve como pioneiro Francis Galton, que estudava sobre o tema por curiosidade. Nessa época, os sinestetas eram consideradas pessoas loucas ou usuários de substâncias ilícitas, já que o distúrbio é muito similar aos efeitos dos entorpecentes (como LSD e Mescalina). Após tal período, começaram estudos para demonstrar que a sinestesia se tratava de memórias ligadas à infância, que eram desbloqueadas por um estímulo.

Logo essa teoria foi desvalorizada, já que ela não consegue explicar o porquê de esse distúrbio ser passado geneticamente de pai para filho, concluindo o que atualmente se sabe: a anatomia cerebral dos portadores possui mudanças específicas decorrente da área que a sinestesia afeta.

A sinestesia não está inclusa no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição, já que não é considerado um distúrbio grave, apenas em casos extremos, comumente ligados a disfunções como Déficit de atenção (TDA) e Transtorno do Espectro

Autista (TEA).

Estudos atuais apontam que áreas afetadas pela dislexia, epilepsia e TEA são as mesmas afetadas pela sinestesia, ou seja, apesar de serem condições distintas, elas podem ter alguma

2 gene responsável pelo desenvolvimento ósseo e ocular e influência no metabolismo lipídico

3 gene responsável pelo desenvolvimento cortical e neurológico, além de participar da formação de conexões neurais

4 gene responsável pelo desenvolvimento do sistema nervoso e funções cognitivas e em algumas de suas variações gera a dislexia

relação entre si, então uma pessoa sinesteta teria tendência a possuir mais alguma disfunção (TOMASI, 2017, p.82).

2.4.2. Depressão

O transtorno depressivo, ou depressão, é um distúrbio biológico e mental, que tem como consequência e principais sintomas um estado de tristeza e falta de interesse em atividades cotidianas por um período de tempo. Além desses, o transtorno inclui a perda de acreditar no futuro, sem planos para tal, baixa autoestima, insônia, e pensamentos de morte, o que afeta o modo de vida (social, profissional) do indivíduo. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), estima-se que 280 milhões de pessoas no mundo possuem depressão. Alguns fatores que causam essa doença são fatores biológicos (genéticos, desequilíbrios mentais, psicológicos, saúde física) e fatores externos, como problemas familiares, sociais etc. (WHO, 2023) Além desses fatores, pode-se citar uma outra importante causa que é a alteração na regulação ou até a deficiência dos neurotransmissores monoaminas, que são um grupo de neurotransmissores, como citadas anteriormente: a serotonina, dopamina e noradrenalina (LIU et al., 2018, p. 2)

A serotonina (5-HT) é produzida nas células nervosas, tendo como matéria prima o triptofano, que afeta o humor, as emoções, o comportamento e várias outras funções do organismo, e está relacionada a distúrbios psicológicos, com a redução dos níveis do neurotransmissor. Pode ser usado como tratamento das disfunções e, assim, é um dos principais neurotransmissores usado em antidepressivos. (JIANG et al., 2022, p. 4). Vários estudos comprovam sua influência no transtorno. Como apresentado por SHAO, X; ZHU,G, em exames em pacientes com depressão, foi encontrado uma atividade menor em um dos vários receptores deste neurotransmissor (5-HT1A), ao comparar com o grupo controle, (SHAO, ZHU apud LANGENECKER et al., 2020, p. 2) o que ocasiona a não captação da monoamina. Além disso, outra pesquisa feita por NEUMEISTER, A. et al., analisou casos de depleção (esgotamento) de triptofano, molécula precursora da serotonina, retirando-o dos antidepressivos, e entre os indivíduos depressivos em tratamento, parte tomou o placebo (antidepressivo sem o triptofano) e outros ingeriram o normalmente (sem saberem qual estavam tomando). Desse modo, foi analisado que com a falta do triptofano, houve o retorno dos sintomas depressivos, o que sugere que a disfunção dessa substância desempenha um papel na causa e tratamento da doença. Nessa mesma pesquisa, foi relatado que os pacientes com o distúrbio apresentam níveis mais baixos de triptofano, o que não torna possível a síntese da serotonina. Logo, possuindo baixos níveis dessa monoamina nos casos de depressão, agrava-se esse quadro. (NEUMEISTER, et al., 2004 p. 765- 773)

A redução da dopamina (DA) também contribui para os transtornos depressivos, uma vez que a dopamina é responsável pelo sistema de recompensa do cérebro, dando motivação e prazer ao indivíduo. O baixo nível dessa monoamina deixa o ser com menos motivação de atingir seus objetivos. (LIU, et al., 2018, p.4) Logo, em um estudo feito por HUANG, D et al., com o objetivo de observar as alterações das monoaminas em ratos depressivos, notou-se que os níveis de todas estavam baixos, mas principalmente a dopamina, o que só poderia ser detectado no grupo controle, concluindo que os ratos induzidos ao transtorno possuíam uma grande redução dos níveis das monoaminas estudadas. (HUANG, et al., 2018, p.170 - 172) Além disso, outro estudo por BELUJON, P; GRACE, A. apud MEYER et al., aponta que pacientes deprimidos apresentam uma ligação do transportador de dopamina (DAT) menor do que aqueles saudáveis, diminuindo os níveis de concentração de dopamina. (BELUJON, GRACE apud MEYER et al., 2017, p.1037) Portanto, é visto que a disfunção da dopamina também contribui para a depressão.

A diminuição da concentração da noradrenalina (NE) também leva a quadros depressivos. Essa substância é liberada pelo locus coeruleus (LC), responsável pelo comportamento de luta e fuga, visando a sobrevivência, e também responsável pela atenção e energia. (JIANG et al., 2022, p. 4) Assim, pesquisas mostram que, em pacientes deprimidos, há o aumento da densidade dos receptores alfa-2 adrenérgicos, estes que inibem a liberação da noradrenalina pelo LC. (SHAO, ZHU apud COTTINGHAM, 2020, p. 4) Além disso, em outros estudos relatase que, em pacientes depressivos, há a redução da ligação do transportador de noradrenalina na região onde é liberada. (MORETE. C; BRILEY. M, apud KLIMEK. V, et al., 2011, p. 11) Então, é visto que a noradrenalina, assim como os outros neurotransmissores monoaminas, em seu desequilíbrio, apresenta influência no distúrbio depressivo.

2.4.3. Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT)

O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é uma condição que caracteriza uma pessoa que sofreu um trauma e o revisita por meio de memórias, sonhos ou episódios de flashbacks, com sintomas como modificações malignas na cognição do humor e evitamento de estímulos relacionados ao trauma. É possível, também, a ocorrência de sintomas relacionados à ansiedade e depressão (CASTANHEIRA, D. M., 2022 apud WYNN et al., 2017; FINK et al., 2016). A perturbação tem caráter debilitante e pode atingir estado de cronicidade (CALISTO, F. A. V. M., 2021, p. 3 apud SANTIAGO, P. N. et al., 2013) e pode ser gerada a partir de exposição à guerra, ameaça ou reais ocorrências de violências, acidentes graves etc (FONTES, E. et al., 2022, p. 3). O TEPT causa elevada resistência por parte do indivíduo e é por muitas

vezes ligada à automutilação e ao suicídio. Com isso em mente, é comum que haja o abandono do tratamento. (FONTES, E. et al., 2022, p. 3 apud American Psychiatric Association, 2013; SESSA, 2017).

Apesar de já possuir tratamentos existentes, como a psicoterapia auxiliada de sertralina e paroxetina, que não são medicamentos projetados para o distúrbio e sim para depressão e ansiedade, o funcionamento de TEPT não foi completamente elucidado. Mostra-se, inclusive, que as terapias atuais possuem alta taxa de refratários (de 40% a 60%) (CASTANHEIRA, D. M., 2022 apud FEDUCCIA &MITHOEFER, 2018).

2.5. Tratamentos

2.5.1. MDMA

Descobriu-se o potencial do 3,4-metilenodioximetanfetamina na década de 1970, que motivaria pesquisas ambicionando seu possível uso na psicoterapia, especialmente no que diz respeito ao TEPT. Apesar dos planos de manter o composto somente nos limites do laboratório, foi iniciada a comercialização e sua intensa popularização, ganhando o nome “Ecstasy”. Isso gerou a criminalização do MDMA e a completa desmotivação aos seus estudos, sendo enquadrada como uma das drogas proibidas de possuírem utilização medicamentosa pela Drug Enforcement Administration Schedule 1. A volta das pesquisas se daria com a criação da MAPS e o primeiro estudo clínico seria publicado em 2010 (FONTES, E. et al., 2022, p. 3 apud NICHOLS, 1986; SESSA et al., 2019).

O MDMA é um psicodélico que origina efeitos neurológicos que duram de 4-6h. Ao adentrar a barreira hematoencefálica, interage com os excretores, principalmente de transmissores de serotonina, norepinefrina e dopamina. Os sintomas de depressão e ansiedade são contidos graças aos receptores 5-HT1A e 5-HT1B, que diminuem, conjuntamente, o reflexo da amígdala perante o medo, aumentando o relaxamento e a autoconfiança. Amplia-se também o foco, consequência da ação da substância sobre os receptores de dopamina e noradrenalina (CASTANHEIRA, D. M., 2022 apud SESSA et al., 2019).

Desse modo, percebe-se a possibilidade de uma alternativa para a assistência farmacológica do MDMA, uma vez que mitiga a resposta aos estímulos que causam ansiedade e medo de forma suave, se comparado ao LSD, e que possui duração mais curta, permitindo o controle clínico. Aumentam-se a empatia e outras habilidades interpessoais que fazem com que os usuários melhor processem e acessem seus traumas e gatilhos (FONTES, E. et al., 2022, p. 3 apud SESSA. et al., 2019). A ampliação do foco, inclusive, é propícia para maior compromisso com o tratamento (CASTANHEIRA, D. M., 2022 apud SESSA et al., 2019). Essa

hipótese é corroborada ao analisar experiências clínicas que indicam os benefícios a longo prazo do MDMA como auxiliar psicoterápico.

A MAPS apoiou a realização de seis estudos de fase 2, apresentados resumidamente na figura 4 a seguir, desde abril de 2004 até março de 2017, que foram conduzidos nos EUA, Canadá, Suíça e Israel. A FDA comparou ainda seus resultados com os tratamentos já existentes de sertralina e paroxetina que logo serão abordados (CASTANHEIRA, D. M., 2022 apud FEDUCCIA et al., 2019). É importante informar que indivíduos tanto do grupo placebo como o experimental teriam de se abster de quaisquer medicamentos psicotrópicos para participarem (FONTES, E. et al., 2022, p. 8) e que sintomas de ansiedade podem retornar após um tratamento de sucesso (CASTANHEIRA, D. M., 2022).

Embora ainda não haja comprovação da eficácia do MDMA, a pesquisa de Feduccia e colaboradores (2018) mostrou que, após a ingestão do psicoativo, o medo em relação ao evento maléfico do paciente é eliminado proveitosa e eficientemente, se junto da psicoterapia. Além disso, Mithoefer e colegas (2019) comprovaram que a nova terapia assistida diminui os sintomas de TEPT após 2 ou 3 administrações com remissão a longo prazo. Após comparar os resultados da fase 2 com a atual utilização de sertralina e paroxetina, a FDA chamou a psicoterapia auxiliada de MDMA de “terapia inovadora”, e os estudos foram aprovados para a fase 3 em 2018 (CASTANHEIRA, D. M., 2022).

Figura 4- Informações de investigador principal, nome, código, número de participantes, ano de início e de conclusão e local dos 6 anos clínicos de fase 2 para a psicoterapia auxiliadora por MDMA

Fonte: (CASTANHEIRA, D, M., 2022)

Em dois estudos patrocinados pela GlaxoSmithKline, sertralina e paroxetina se mostraram com maiores resultados em comparação com o grupo placebo na redução do valor de CAPS-2, que exibem suas pontuações, sendo 6,8 e 9,8 pontos e pontuação entre 6 e 14 respectivamente, enquanto o MDMA teve 26,2 pontos. Constata-se, então, que os

medicamentos já existentes, apesar de possuírem pontuação maior que o placebo e poderem ser comercializados como tratamentos para TEPT, seus efeitos, quando comparados com o do psicodélico, são moderados e possuem terapias pouco eficientes (CASTANHEIRA, D. M., 2022 apud FEDUCCIA et al., 2019).

São muitos os tratamentos que agem no cérebro para fazerem efeito. Alguns deles, inclusive, conseguem trabalhar a partir da manipulação dos neurônios, como a optogenética.

2.5.2.

Optogenética

A optogenética se trata de uma técnica na qual determinadas proteínas (ChR) chegam aos neurônios e, uma vez ativadas pela luz, são capazes de controlar a transferência de íons pelas membranas e, consequentemente, capazes de regular as atividades celulares.

Os primeiros estudos que teriam levado ao surgimento da optogenética se deram a partir da alga Chlamydomonas reinhardtii, a qual, como foi descoberto nos Estados Unidos, possui proteínas que fazem com que a luz regule o comportamento da alga. Vale ressaltar que tais pesquisas iniciaram-se no Instituto de Investigação Genética Kazusa do Japão, que publicaram sequências genéticas da Chlamydomonas, e passaram pela Alemanha – onde descobriram a existência dessas proteínas sensíveis à luz, denominadas channelrodopsina-1 (ChR1) e channelrodopsina-2 (ChR2) – antes de chegar aos Estados Unidos (MORGADO, 2016, p. 124).

Anos após esses estudos, na Universidade de Stanford, Karl Deisseroth foi capaz de introduzir o gene da ChR2 em mamíferos utilizando, como meio de transporte, o uso de vírus benignos. Assim, surgiu a técnica que, futuramente, foi chamada de optogenética.

Embora esse método, até o momento, nunca tenha saído da fase experimental para ser utilizado em seres humanos, já existem outros meios de controle das células que são aplicados na medicina atual. O principal deles é a estimulação elétrica, considerado um “padrão ouro” (KRUEGER et al., 2012, p. 303), ou seja, é o mais comumente utilizado e tido como referência. Para a realização de experimentos feitos com a optogenética, foram utilizados, principalmente, os ratos. Entre eles, é possível citar estudos que mostraram que talvez seja possível aplicar optogenética, dentre outras coisas, na marcação de mapas neurais5. Para isso, seria aplicada, em conjunto com optogenética, a técnica de ressonância magnética funcional BOLD (Blood oxygenation level dependent, dependente do nível de oxigênio no sangue) (KRUEGER et al., 2012, p. 299).

5 estudo do funcionamento e execução de determinadas regiões do cérebro

Além disso, ela mostrou-se capaz de auxiliar na supressão do sistema de recompensa da cocaína. Para isso, foi feita uma pesquisa baseada nas vias dopaminérgicas6 D1 e D2, relacionadas ao centro de recompensa durante o uso de cocaína. Utilizou-se a optogenética para ativar e desativar os receptores (D1 e D2). Ao fim do experimento, visualizou-se que, quando o receptor D2 foi ativado, o sistema de recompensa da cocaína foi eliminado e o inverso ocorreu quando o receptor D1 foi ativado (KRUEGER et al., 2012, p. 300).

A princípio, analisando os experimentos feitos com a optogenética, esta parece uma técnica bastante promissora dentro da medicina e que poderia vir a substituir a estimulação elétrica. Apesar disso, é inevitável pressupor que, permitindo certo controle sobre o comportamento das células neurais, a optogenética traria uma espécie de poder inimaginável. Por isso, vale ressaltar que, para uma futura aplicação dessa técnica, seria necessário não só mais estudos e experimentos sobre o tema, como elaborações de medidas e leis que impeçam o possível uso da optogenética para fins antiéticos (MORGADO, 2016, p. 128).

Ademais, tal possibilidade pode não acontecer. Afinal, os poucos testes realizados em seres humanos não geraram bons resultados, e a falta de informação quanto a possíveis efeitos colaterais perigosos torna ainda mais complexa a aplicação da optogenética em seres humanos. Além disso, mesmo que seu uso seja comprovado como seguro, ainda há a questão ética, citada anteriormente, a ser levada em consideração.

Portanto, a optogenética pode não ser capaz de auxiliar de forma eficiente no processo de tratamentos por meio da ativação ou desativação de neurônios e as pesquisas acerca do tema continuam lentas e pouco produtivas. Contudo, ela não deixa de ser uma técnica inovadora e de forte potencial. Assim, é possível e, inclusive, de extrema importância, o seu uso como base para futuros estudos voltados ao assunto, se mantendo como um método intrigante e diferente dos demais.

3. Conclusão

Portanto, este artigo versa sobre o funcionamento de neurotransmissores, que geram o emocional, e sua liberação anatomicamente promovida pelo sistema límbico. Outrossim, o desequilíbrio de tais alavanca o surgimento de inúmeros transtornos neurológicos, que vêm continuamente sendo alvos de diversas pesquisas que buscam entendimento e possíveis terapias, como os exemplos já mencionados.

6 caminhos cerebrais por onde passa a dopamina

É possível verificar a suma importância da realização de estudos e pesquisas voltados às doenças que ocorrem no cérebro. Afinal, elas são inúmeras e, na atualidade, muitas podem ser pouco abordadas, resultando em consequências para os indivíduos que as possuem, como a falta de apoio emocional em seu ciclo social e a falta de perspectiva de melhora com a escassez de tratamentos bem desenvolvidos.

Ademais, vale ressaltar como essa falta de informação pode levar à criação de estigmas voltados a tais enfermidades e até aos métodos de tratamento que vêm sendo estudados, na medida em que estes últimos podem ser interpretados como perigosos devido a suas técnicas inovadoras.

Desse modo, manter tais pesquisas em andamento, através do investimento governamental em tais estudos e em abordagens em escolas que visem a elucidação das distintas patologias mentais, permitirá uma melhor percepção quanto a esses tratamentos e a essas doenças, além de auxiliar em um atendimento de maior qualidade e segurança para aqueles que se encontram com os transtornos abordados.

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REALISMO NO GRÁFICO DE JOGOS 3D E SEU IMINENTE PLATEAU

Matheus Barbosa Da Silva

João Pedro Koji Bam Santos

Bruno Barreto Ferrari

Marcela Jungers Serafim

O mercado de videogames tem crescido rapidamente, impulsionado por avanços tecnológicos que permitem a criação de jogos com gráficos cada vez mais próximos da realidade. Essa busca por fidelidade visual tem sido uma estratégia central para grandes produtoras, resultando em produtos de alta popularidade e reconhecimento global. No entanto, ao observar o desenvolvimento contínuo dessa abordagem, surge a possibilidade de um ponto de saturação, a partir do qual melhorias adicionais no realismo gráfico se tornam menos perceptíveis para o público. Diante dessa eventual limitação, estilos alternativos, como os gráficos estilizados, ganham força no mercado, oferecendo uma solução criativa e mais acessível. Além de possibilitar produções com custos menores e maior compatibilidade com uma variedade de dispositivos, esses estilos proporcionam uma identidade única aos jogos, diferenciando-os em um mercado competitivo. Assim, é provável que o futuro da indústria passe a valorizar tanto o realismo gráfico quanto a originalidade artística, equilibrando as demandas de um público diversificado com os desafios tecnológicos.

PALAVRAS-CHAVE: Videogames; Indústria de jogos; Gráficos 3D; Arte em videogames, Gráficos realistas.

1. Introdução

Os videogames, uma forma moderna de entretenimento, permitem ao jogador, por meio de dispositivos eletrônicos, interagir com ambientes virtuais que proporcionam uma variedade de sensações. Dependendo do tipo de jogo, essas sensações podem incluir emoções como excitação, desafio, satisfação e até mesmo o medo. Dentro deste processo, nota-se a importância da imersão, elemento que representa o grau de conexão dos jogadores com a narrativa ou ambiente do jogo e, quando bem desenvolvida, contribui para criar uma experiência mais envolvente e cativante.

Segundo projeções da Statista, plataforma alemã especializada em coleta e visualização de dados, o mercado de videogames movimentou aproximadamente 184 bilhões de dólares em 2022, mantendo uma trajetória de crescimento contínuo em relação aos anos anteriores, conforme mostra o Gráfico 1.

Gráfico 1 - Crescimento anual do mercado de videogames (Em bilhões de dólares). Fonte: <https://www.statista.com/statistics/539572/games-market-revenue-by-region/> Acesso em: 02/03/2024

Diante desse rápido crescimento, as empresas buscam constantemente novas formas de atrair mais consumidores e, consequentemente, aumentar suas receitas. Por esse motivo, investem no desenvolvimento de tecnologias e jogos voltados para aprimorar cada vez mais a experiência do jogador.

Uma das estratégias utilizadas é o uso de gráficos realistas que, embora não sejam indispensáveis para gerar o sentimento de imersão, podem desempenhar um papel crucial no aprimoramento da experiência do jogador (FORD, 2023). Isso ocorre porque a representação mais fiel da realidade pode intensificar a sensação de estar dentro do jogo, o que permite aos jogadores se envolverem mais profundamente com o ambiente e os personagens.

Além disso, o avanço da tecnologia e o aumento da capacidade de processamento dos dispositivos permitem que os desenvolvedores criem ambientes mais detalhados e personagens mais expressivos, contribuindo para uma experiência mais rica e envolvente. Assim, os jogos tendem a se tornar cada vez mais realistas, como uma forma de aprimorar a imersão e proporcionar uma experiência superior aos jogadores.

2. Gráficos 3D em jogos

Os gráficos de um jogo podem ser representados de maneira tridimensional (3D) ou bidimensional (2D). Os gráficos 2D são menos complexos quando comparados aos 3D, pois envolvem objetos desenhados em planos horizontais, sendo, portanto, mais fáceis de serem “renderizados”, ou seja, processados pelo computador. Eles fizeram parte das primeiras gerações de jogos produzidos. Conforme a tecnologia foi se aprimorando e as máquinas se tornaram capazes de realizar cálculos mais complexos, surgiu a possibilidade da criação de gráficos tridimensionais, os quais dependem de vários aspectos para serem inseridos em um jogo, diferentemente dos modelos bidimensionais, sendo eles:

2.1.Polígonos

Considerando a definição de polígonos no contexto da modelagem tridimensional dada pelo grupo 3d-Ace (2024, s.n.p):

“Cada polígono é definido por vértices e arestas que se unem para formar uma forma fechada, tipicamente triângulos ou quadriláteros. Triângulos e quadriláteros são o padrão da indústria devido à sua eficiência (...). Na modelagem 3D, uma aresta é representada como uma linha que conecta dois vértices. Quando pelo menos três arestas se unem, um polígono é formado, como um triângulo. A forma plana que surge na formação de um polígono é conhecida como uma face. Por exemplo, um cubo básico na modelagem 3D é composto por seis faces, doze arestas e oito vértices, demonstrando como esses elementos se interligam para formar um objeto 3D.”1

Cada vértice de um polígono é calculado pelo computador por meio de coordenadas que representam sua posição no espaço. Como os modelos 3D exigem o cálculo de múltiplos vértices para cada polígono, a quantidade de polígonos em um modelo aumenta exponencialmente a carga computacional. Isso explica por que os triângulos são as figuras mais eficientes, afinal, são as menores formas possíveis de serem criadas utilizando uma quantidade mínima de pontos. Nos jogos 2D, pelo contrário, os gráficos bidimensionais envolvem apenas o cálculo de pixels na tela, o que demanda significativamente menos poder de processamento.

Figura 1 - Comparação da quantidade de polígonos dentre dois modelos tridimensionais. fonte:<https://www.lightshape.net/en/blog/article/from-cad-data-to-low-poly-models-forinteractive-applications> Acesso em: 09/05/2024

1 Tradução dos autores

Ao analisar a figura 1, observa-se que ambos os modelos possuem um número de polígonos visivelmente diferentes. A quantidade de polígonos em um objeto tridimensional impacta substancialmente sua complexidade, o que explica seu aumento com o passar das gerações de videogames. Afinal, a fim de tornar os gráficos cada vez mais realistas, é necessária também uma maior fidelidade nas representações.

2.2.Textura

De acordo com a definição fornecida pela Adobe (2024) em 3D Texturing Solution with Adobe Substance 3D, pode-se afirmar que a textura em um modelo tridimensional funciona como uma 'roupa' que cobre o objeto, adicionando detalhes que o tornam mais realista e interessante. Basicamente, trata-se de uma superfície, isto é, uma imagem 2D que cobre as faces de um modelo 3D, conferindo-lhe características como cor e sensação de profundidade (como pode ser visto na figura 2).

Em modelos com uma quantidade maior de polígonos, há uma maior densidade de pontos compondo a superfície do modelo. Isso permite que a textura seja aplicada com mais precisão, pois há mais pontos para mapear os detalhes da imagem. Por exemplo, em um modelo de rosto humano com uma grande quantidade de polígonos, a textura da pele pode ser aplicada de forma mais realista, capturando detalhes como poros, rugas e texturas. Em suma, uma maior quantidade de polígonos em um modelo tridimensional permite a aplicação de texturas mais detalhadas e complexas.

Figura 2 - Modelo tridimensional com e sem sua textura. Fonte: <https://www.researchgate.net/figure/Left-3D-Model-with-and-without-texture-mappingRight-2D-texture-Image-taken-from-7_fig5_301818620> Acesso em: 02/05/2024

2.3.Limite visual

Apesar da evolução apresentada em imagens e explicações anteriores, o aumento do realismo nos gráficos tridimensionais possui seus limites. A quantidade de polígonos, assim como a diferenciação de texturas de um modelo 3D, torna-se um fator cuja melhoria se torna cada vez menos perceptível.

quantidade de polígonos

Fonte:<https://wccftech.com/difference-polygon-count-resolution-xbox-one/> Acesso em: 09/05/2024

Como pode ser observado no exemplo (figura 3), apesar de a quantidade de polígonos ter sido multiplicada por 10 – aumentando a complexidade do modelo –, a mudança torna-se cada vez menos perceptível à medida que ocorre. Seguindo esse padrão, espera-se que aconteça um eventual plateau, termo utilizado para classificar algo que não apresenta expectativas ou possibilidades de evolução e aumento no realismo de jogos tridimensionais. Mais especificamente, o plateau está ligado ao limite de percepção visual do realismo, fator que influencia a busca por melhorias gráficas que visem a se assemelhar cada vez mais à realidade. Em outros termos, a limitação visual resultará na diminuição da demanda por jogos cada vez mais realistas, uma vez que sua evolução não fará diferença após o plateau.

3. Possível alternativa

Chamados de gráficos estilizados, são aqueles que seguem um caminho voltado para uma abordagem artística, diferente da realista. Atualmente, são vários os exemplos de jogos que optaram por este caminho e que resultaram em um grande sucesso no mercado de jogos, como o jogo The Legend of Zelda: Breath of the Wild.

Figura 4 - Ilustração do jogo The Legend of Zelda: Breath of the Wild Fonte: <https://nintendoeverything.com/zelda-breath-of-the-wild-art-director-on-howthe-wind-waker-hd-shaped-the-games-art-style/> Acesso em: 10/05/2024

Lançado em 2017 para o console Nintendo Switch, o título da renomada série Zelda apresenta uma estética visual que combina elementos de arte cel-shading com um mundo vasto e vibrante. Os gráficos de "Breath of the Wild", graças ao foco no estilo mais cartunesco, contribuem para a identidade distinta e duradoura da série Zelda, atraindo jogadores de todo o mundo. O jogo recebeu a premiação de jogo do ano no evento The Game Awards 2017, no qual também concorreu ao prêmio de melhor direção de arte.

Os jogos que se afastam do realismo apresentam-se como uma alternativa cada vez mais atraente na indústria de jogos devido a fatores distintos que impactam positivamente tanto os desenvolvedores quanto os jogadores.

Primeiramente, a acessibilidade dos jogos estilizados é uma vantagem significativa. Ao adotar uma estética gráfica que não depende de detalhes realistas, esses jogos são capazes de funcionar em computadores menos potentes. Isso significa que um público maior pode desfrutar da experiência de jogo, independentemente de possuir uma máquina de última geração.

Enquanto os jogos realistas podem exigir uma configuração financeiramente pouco acessível para garantir um desempenho adequado, os jogos estilizados oferecem uma opção mais inclusiva para os jogadores que não possuem os recursos financeiros para investir em hardwares de ponta.

Outro fator importante é que o custo de produção dos jogos estilizados é consideravelmente inferior aos jogos realistas. De acordo com o artigo publicado pela MAGNA LUDUM CREATIVES (2023), How to Choose your Game’s Art Style: Is Stylized a Smarter Choice Than Hyper-Realism?, os modelos estilizados são tipicamente 60% mais baratos de se produzir quando comparados aos modelos realistas. Enquanto os jogos realistas podem demandar recursos substanciais para criar modelos detalhados, animações complexas e efeitos de iluminação e reflexo com alto grau de realismo, os jogos estilizados se beneficiam de uma abordagem mais simplificada e estilizada. Isso reduz significativamente os custos de produção, permitindo que desenvolvedores com orçamentos limitados ainda criem jogos de alta qualidade visual e jogabilidade envolvente. É importante ressaltar que muitos desenvolvedores independentes (indies), com recursos financeiros limitados, optam por adotar gráficos estilizados em seus jogos. Isso não só confirma a viabilidade econômica dessa abordagem, mas também destaca a preferência por uma estética visual única que ajuda a definir a identidade e a marca do desenvolvedor. Além disso, gigantes do mercado de videogames também demonstram uma preferência por esta estratégia, como a Nintendo, produtora do jogo The Legend of Zelda: Breath of the Wild.

Os gráficos estilizados também oferecem uma oportunidade para destacar e diferenciar um produto (jogo) no mercado altamente competitivo. Com sua estética visual distinta e original, os jogos estilizados têm o potencial de capturar a atenção dos jogadores e deixar uma impressão marcante em suas memórias, como ressaltado no artigo anteriormente mencionado e publicado pela MLC. Esse destaque no mercado é particularmente benéfico em um setor no qual a concorrência é intensa e os jogadores estão constantemente buscando por experiências novas e cativantes.

3. Conclusão

Os jogos estilizados representam uma alternativa atraente aos jogos realistas, oferecendo uma experiência mais acessível aos jogadores, custos de produção reduzidos e uma oportunidade única para destacar e diferenciar um produto no mercado competitivo de jogos. Com a demanda por gráficos realistas interrompida ou, ao menos, enfraquecida após o plateau gráfico, é de se esperar que muitas empresas busquem este novo caminho devido a sua crescente atratividade. Portanto, é provável que jogos que sigam este padrão se tornem cada vez mais comuns no mercado de videogames.

Referências:

3D-ACE STUDIO. DOES POLYGON COUNT MATTER IN 3D MODELING FOR GAME ASSETS?. 2024. Disponível em: https://3d-ace.com/blog/polygon-count-in-3d-modeling-forgame-assets/#:~:text=Hig. Acesso em: 27 fev. 2024.

ADOBE. 3D texturing solution with Adobe Substance 3D. 2024. Disponível em: https://www.adobe.com/products/substance3d/discover/3d-texturing.html. Acesso em: 27 fev .2024.

CLEMENT, Jessica. Games market revenue worldwide from 2015 to 2022, by region (in billion U.S. dollars). Statista, Apr 25. 2023. Disponível em: https://www.statista.com/statistics/539572/games-market-revenue-by-region/. Acesso em: 27 fev .2024.

FORD, Rhianna. How to Choose your Game’s Art Style: Is Stylized a Smarter Choice Than Hyper-Realism?. MAGNA LUDUM CREATIVES, 2023. Disponível em: https://magnaludumcreatives.com/stylized-or-hyper-realismgame/#:~:text=Cost%2DEffective%3A%20Creating%20stylized%20graphics,effective%20th an%20pursuing%20hyper%2Drealism. Acesso em: 27 fev. 2024.

JÄRVINEN, Aki. Gran Stylissimo: the audiovisual elements and styles in computer and video games DIGRA, v. 1. p. 13, June, 2002. Disponivel em: http://www.digra.org/digitallibrary/publications/gran-stylissimo-the-audiovisual-elements-and-styles-in-computer-andvideo-games/ Acesso em: 30 de ago. 2023.

SUNDKVIST, Nathan. How to Enhance Your Game with Visual Style Choices. Trabalho de Conclusão de Curso (Bachelor of Culture and Arts) - Metropolia University of Applied Sciences, 2020. Disponível em: https://www.theseus.fi/bitstream/handle/10024/753398/Sundkvist_Nathan.pdf?sequence=2&i sAllowed=y. Acesso em: 27 fev. 2024.

LIGHTSHAPE: DIGITAL EXPERIENCES. FROM CAD DATA TO LOW POLY MODELS FOR INTERACTIVE APPLICATIONS. 2020. Disponível em: https://www.lightshape.net/en/blog/article/from-cad-data-to-low-poly-models-for-interactiveapplications. Acesso em: 9 de maio, 2024.

HÖLL, Markus; HERAN, Nikolaus; LEPETIT, Vincent. Augmented Reality Oculus Rift: Development of an augmented reality stereoscopic-render-engine to extend reality with 3D holograms. 2016. Disponível em: https://arxiv.org/abs/1604.08848. Acesso em: 5 de maio, 2024.

PIRZADA, Usman. How much difference does Polygon Count and Resolution Really Make? –Xbox One. Disponível em: https://wccftech.com/difference-polygon-count-resolution-xboxone/ . Acesso em: 09 de maio, 2024.

G. Brian. Zelda: Breath of the Wild art director on how The Wind Waker HD shaped the game’s art style. Disponível em: https://nintendoeverything.com/zelda-breath-of-the-wild-art-directoron-how-the-wind-waker-hd-shaped-the-games-art-style/. Acesso em: 10 de maio, 2024.

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