Report - Confiar nos Becos - Artistic Residence in Ilhavo (PT)

con.FIAR nos Becos residência artística em Ílhavo 2 julho a 10 julho 2012

concepção: Fátima Luz coordenação: Chiara Sonzogni participantes: Cristiana Felgueiras, Fabíola Augusta, Filipa Cruz e Juliana Barreto estudantes finalistas de Artes Plásticas – Escultura da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto produção: Centro Cultural de Ílhavo

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índice

con.FIAR nos Becos: apresentação

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o processo de trabalho

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Cristiana Felgueiras

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Fabíola Augusta

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Filipa Cruz

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Juliana Barreto

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nota conclusiva

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os nossos agradecimentos

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con.FIAR nos Becos: apresentação

O projeto de residência artística “con.FIAR nos Becos” promovido pelo Centro Cultural de Ílhavo, imaginado e planeado pela Fátima Luz, direcionado aos/às finalistas dos cursos de artes plásticas, arquitetura e design, desenvolveu-se na área do centro histórico da cidade de Ílhavo durante os primeiros 10 dias de julho.

A vontade de intervir no centro histórico nasceu da exigência de dinamizar e valorizar uma área que está a sofrer pelo próprio esvaziamento. O espaço desenhado pelo conjunto de ruas e edifícios é muito característico, a sua conformação é comunalmente chamada “zona dos becos” onde beco define uma rua estreita, muitas vezes sem saída; os becos articulam-se numa estrutura labiríntica onde é fácil perder a orientação. Esta lógica de implantação deriva de questões de aproveitamento do espaço e de adaptação ao clima ventoso típico do litoral. O espaço assim desenhado representou ao longo de décadas um refúgio para quem vivia nesta cidade e ao mesmo tempo uma prisão: os becos dão a possibilidade de abrigar-se, de desfrutar ao máximo do espaço urbano mas ao mesmo tempo constringem a ficar dentro do sistema; a história da cidade, os acontecimentos do que fala a tradição, os eventos que a comunidade criou ao longo de décadas, mostram uma vontade de escapar, de criar fugas e expedientes para ir além do pequeno ambiente urbano.

Partindo da consideração que esta condição de dificuldade pode representar uma oportunidade, enquanto o homem encontra e procura soluções para “ser grande” quando sente o próprio ambiente pequeno, e acreditando na arte como forma de sublinhar potencialidades, decidiu-se atribuir à intervenção artística a tarefa de ajudar a reviver os becos e de ensinar uma nova forma de olhar “neles” e para eles.

A intenção nasce da vontade de criar uma colaboração entre a arte e o beco: este último oferecendo-se à primeira para que ela possa evidenciar, abstrair, ligar com o seu potencial.

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Acreditando no valor do espaço público como acolhedor das nossas vidas e dos nossos caminhos, resultante da nossa privacidade e ao mesmo tempo elemento onde cada um dos cidadãos se reconhece em quanto tal, decidiu-se focar a atenção em todos os elementos que descrevem uma rua (beco): pavimento/solo, fachadas/superfícies, céu, espaço e seus humores.

Além dos elementos físicos que participam na criação do espaço público, existe um outro ator/autor: o morador - quem vive e passa o seu dia-adia nas ruas. Acreditando na força desta relação, entre quem vive a cidade e o espaço da mesma, porque sem movimento não há espaço, focouse muita atenção em estabelecer um dialogo com os cidadãos para que a ação de romper, evadir, deitar abaixo o “fundo do beco”, pudesse ser explorada em todas as dimensões e soluções possíveis: desde uma escada para fugir até a um conto que faça escapar a mente, desde um olhar inesperado numa fechadura, até uma música que nos faça sair.

Os resultados desta pesquisa constituíram o material que se viria a traduzir em linguagens da arte contemporânea e que as artistas elaboraram com o objetivo de criar uma rede feita por nós de forma a traçar um conjunto, uma infraestrutura informal e efémera, como um “Fio de Ariadne”, que possa conduzir-nos fora do “espaço labiríntico” dos becos. Assim, chegou-se a sintetizar o objetivo da intervenção artística: confiar nos becos, no sentido de traçar um fio e ao mesmo tempo criar um sistema de ações que ajude a confiar neste espaço, nas suas pessoas, nas suas potencialidades.

Chiara Sonzogni, julho 2012

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o processo de trabalho

O processo de abordagem ao sítio de intervenção foi a única fase planeada e pré-estabelecida.

A proposta feita a cada uma das artistas intervenientes no processo, foi de perder-se nos becos. Foi entregue um “mapa nu”, sem indicação nenhuma à exceção do desenho dos prédios e das ruas, desafiando cada uma a marcar os próprios pontos de referência, a encontrar os nomes formais e informais das ruas e a traçar, assim, o próprio percurso. Esta abordagem foi sugerida acreditando no potencial da ação de perda no espaço, na força da conseguinte necessidade de “encontrar algo para se encontrar” e na validade do resultado: confiar nos próprios passos quando guiados por etapas produzidas pela necessidade de nos orientarmos.

Já a partir da fase sucessiva de reflexão sobre o “percurso em ruas nuas”, as fases do processo articularam-se em forma espontâneas: cada uma das artistas criou o próprio fio condutor com quem olhar, observar, analisar; surgiram quatro diferentes objetos de pesquisa, quatro sentidos que guiaram os movimentos seguintes. Abstraindo estas reflexões foi possível associar a cada olhar um dos elementos que produz espaço: volume, superfície, movimento, sensações. Esta especificidade de cada elemento e ao mesmo tempo a necessária complementaridade entre eles permitiu avançar de forma completa a descoberta do espaço e das linguagens adequadas para transmiti-lo.

Decidiu-se orientar e desenvolver todas as fases de instalação da intervenção na área, por isso, desde a pesquisa espacial até à compra de materiais, foi feita no “campo de ação”.

O processo, assim articulado numa forma espontânea e guiada por poucos princípios, levou a estabelecer uma intensa colaboração entre o beco e o seu artista; cada intervenção por quanto efémera e, a pedido inicial, temporária, acabou por deixar marcas no tecido urbano, sinais, traças da passagem de novas energias e ligações humanas de inesperada intensidade.

Assim foi possível criar uma infraestrutura para os habitantes da cidade: um modo de criar o próprio fio, uma sugestão para evadir o ambiente urbano; mas, mais que tudo, uma motivação para ficar.

Chiara Sonzogni, julho 2012

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A contextualização do trabalho realizado na residência parte da contemplação e absorção sensorial diretas do espaço que constitui o centro mais antigo de ílhavo. O espaço mostra-se como que encoberto por uma película de estagnação no tempo e espaço, em que as evoluções mais notórias ocorrem a um nível de degradação material muito rápido por consequência do abandono dos espaços e infraestruturas. Nesse sentido, procurei estabelecer uma relação com o espaço exterior acessível, destacando pormenores que marcaram o meu ponto de vista sobre o lugar, tornando a sua qualidade enquanto elemento pejorativo caracterizador de degradação em elementos com um carácter estético inerente e dignificador.

Permanecer na ausência: compressões de tempo e espaço, reflete um sentido contemplativo e de observação cuidada do espaço, atentando em pormenores que destacam a fractura estrutural dos becos, comprimindo-os e fechando-os de uma outra forma – através de pequenos frascos que guardam e preservam algo que se mantém contido no espaço e no tempo, contrabalançando com a efemeridade do próprio objecto plástico, numa dualidade entre o tempo e a sua ação lenta e a sua efemeridade. A transformação torna-se algo incontornável e a fruição da peça varia conforme a oportunidade que cada um lhe dá. A fotografia como congelamento de momentos dilui-se e transforma-se, autorregenerando-se, pela degradação das matérias até ser não mais do que acumulação de matéria dentro de pequenos recipientes. A localização do trabalho torna-se pertinente pelo enquadramento aparentemente imperceptível na drogaria Vizinho, Irmãos e Filhos, Lda, edifício o qual já haverá servido diferentes propósitos, entre os quais, um teatro, principalmente pela camuflagem que adquire em relação aos inúmeros artigos expostos localizados atrás da peça, adquirindo um carácter de estranheza, depois de identificado.

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Em intermitências da terra, procura-se recriar esses mesmos elementos referentes à degradação do espaço exterior tão específicos provocados pela erosão e que nos leva a refletir sobre questões de interior e exterior e público e privado. Invadindo o espaço público e conquistando interiores de paredes exteriores, criaram-se novas formas e texturas, sob desenhos abstractos e impulsivos com elementos naturais provenientes do lugar terra, água, sementes silvestres e pigmento de óxido de ferro, reformularam-se novas peles que irão desvanecer com a ação do tempo, autogerando novos desenhos, texturas e degradação de matérias, criando, assim, outras visões sobre o espaço e fomentando diferentes percepções em relação às novas intervenções e às velhas pré-existentes provocadas de forma natural e humana.

Cristiana Felgueiras, julho 2012

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TUDO O QUE TE QUERIA DIZER

PLACA TOPONÍMICA | FAIXAS | INSCRIÇÃO

No seu cerne, o espaço físico da cidade é descurado, maltratado, abandonado. Podemos não falar de maltratos e abandono “visível” ou fruto de vandalismo, mas pelo “invisível” e progressivo desprover de poesia. Tudo é concreto e funcional. Tudo pode estar, imaculada e perfeitamente organizado. Contudo, o pouco que nos é oferecido para lá de serviços é o que o próprio património continua a preservar.

Pela insuficiência poética oferecida à cidade, o meu projeto foi pensado numa continuação do que havia vindo a explorar. Depois, do Porto e de Vincennes (Paris), Ílhavo é, agora, o palco para o projeto. Neste sentido, um conjunto de ações passaram pelo pensar do espaço público. O stencil a branco (cor pensada pelas características locais) e placas toponímicas (também a branco) espalham o tudo/nada dito pelo tudo o que te queria dizer. Do mesmo modo, e apresentando semelhante estrutura semântica, é de ressalvar a intervenção que versou sobre uma inscrição preexistente. Aqui, tudo o que te queria dizer transforma-se e focaliza-se num fragmento particular da inscrição: tudo aquilo que eu quero. É, portanto, uma sua extensão que tanto revela um certo nível de independência como não deixa de manter os referidos laços semânticos. Assim sendo, um conjunto de caracteres a branco relaciona-se com o preexistente pelo que, pelo uso da palavra, se concede dignidade ao maltratado excerto que, agora, é automaticamente legívo-identificável.

Em qualquer das intervenções, a indefinição que lhe está inerente e a ausência de pontuação, faz com que toda a gente se possa apropriar das frases.

Filipa Cruz, julho 2012

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assim que se iniciou o processo de pesquisa e contextualização da área dos becos de ílhavo, senti-me inconscientemente atraída por pequenos detalhes nas casas abandonadas da área. pequenas frinchas, que permitem apenas um vislumbre de um interior que sugere, por sua vez, um anterior. tendo em conta que este foi um projeto que visava focar não só o local, como também a comunidade do mesmo, existiu a preocupação de tentar perceber como se estabeleciam as ligações entre habitantes, quer agora, quer no passado. existia um fio. um fio que unia as pessoas dos becos, como uma grande rede. deu-se portanto, a criação de um pequeno projeto cujo objetivo consistia em assinalar a união das narrativas privadas e públicas – tornar visível um ponto de conexão que, apesar de por vezes invisível, é sempre existente. aquilo que se vive em casa e na rua mistura-se, partilha-se, une-se. outrora. as casas abandonam-se, os vizinhos mudam, o tempo passa. e o que foi já não o é, e o que se dizia já não se diz, o que se partilhava já não se partilha. e fica um nó. na garganta, na soleira da porta. e, num sítio onde as palavras já se uniram de boca em boca como se não houvesse paredes, surgiu a vontade de criar um subtil elemento que aludisse a essa ligação: um fio condutor, um percurso pelos becos ponteado por novelos que formalizam de forma física, vermelho carmim, este nó que se formou na linha que entra e sai e se expande. ou contrai.

Juliana Barreto, julho 2012

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nota conclusiva

Cada uma das instalações realizadas trabalhou de forma diferente e ao mesmo tempo complementar o espaço. Além da criação de um percurso traçado a partir da localização das instalações, criou-se um conjunto de ações capaz de abordar cada sentido espacial.

As fachadas e as suas superfícies foram trabalhadas de forma a sublinhar a própria sensibilidade à passagem do tempo, como se realmente fosse possível comparar a pele de um edifício com a pele de um ser vivente, que leva marcas, rugas, sinais. O tempo foi congelado, parado, fixado em imagens por sua vez presas numa atemporalidade física e conceptual. Sentiu-se o espaço do beco através do movimento do corpo, dos sons, usando o seu limite principal, o solo, como suporte, como tela, onde fixar emoções e sensações. Sugeriram-se novos olhares, através das dobras da malha do espaço: os buracos que destroem a separação entre interior e exterior, o céu e as suas articulações, os diferentes níveis que os nossos olhos podem atingir. Por fim, deixou-se uma marca poética, cobriu-se com um vestido transparente a nudez das ruas sem nome, fez-se da desorientação uma oportunidade, uma ocasião de liberdade, de inventar, de pensar, de dizer “tudo aquilo que eu quero...”

Cada uma destas intervenções sofreu ao longo da própria realização uma transformação e um ajuste, confirmando a força da relação estabelecida entre artista e espaço quando se trata de espaço público e de arte sensível à complexidade dele.

O mesmo processo que começou por uma exploração espacial solitária acabou com uma ação artística solidária, cada elemento tornou-se essencial à compreensão dos outros, cada gesto precisou do conjunto dos movimentos para se expressar, a inteligência e sensibilidade de cada artista compôs um unicum cuja articulação final permitiu chegar ao objetivo desiderato: confiar nos becos e na força da arte em orientar os nossos passos.

Chiara Sonzogni, julho 2012

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os nossos agradecimentos

à Fátima Luz por ter planeado a residência e por ter optado por esta forma pouco convencional de premiar jovens artistas: algo complexo que se validou apenas depois de termos pegado nele a quarto mãos e nos termos deixado envolver, acrescentando-lhe ainda mais valor e concordando com as palavras da Filipa: “Foi a forma melhor de acabar um ano escolar, um ciclo de formação”. Agradecemos, ainda, todo o seu apoio, disponibilidade e atenção. ao CCI e todos os membros que fazem parte da sua equipa, pela pronta disponibilidade e o apoio incondicional, pela paciência e a flexibilidade nas respostas aos nossos pedidos. Em particular agradecemos ao director do CCI, José Pina, à Vitória Teles, à Márcia Teixeira, ao João Correia, ao Nuno Pinho e ao José Ferreira da equipa técnica, ao Hugo Pequeno da comunicação, à Catarina Mano e Vasco Cardoso da produção, à Vanessa Magalhães do Serviço Educativo e ao António Calisto. à Isabel Reis por ter sugerido a Chiara Sonzogni como coordenadora da residência artística. a toda a cidade e aos seus moradores pela hospitalidade e pela capacidade e predisposição demonstradas ao deixar-se envolver pela arte e os seus autores. Em particular à D. Armanda; ao Sr. Armando e à D. Odete; à D. Conceição da Tricana; à D. Helena, António, Tiago e Gonçalo; à D. Fátima e à Rita; à D. Maria Helena; à D. Marília; à D. Tina; ao Sr. Orlando; todos os habitantes da travessa Arcebispo Pereira Bilhano entre os quais António Peixinho, Ana Coutinho e Beatriz; Sra. Horácia; D. Madô e outros moradores que não tivemos oportunidade de destacar pelos nomes.

Um grande obrigada pelo apoio, as palavras, as histórias, as músicas, os sorrisos e os olhares atentos. por fim, e muito especial, à Professora Rute Rosas por acreditar em nós, estudantes finalistas de Artes Plásticas – Escultura, nos ter integrado nesta experiência e pela óptima surpresa.

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O meu trabalho na residência artística con.FIAR nos becos teve forte incidência em quatro pontos: -acção (movimento, voz, ser) -eixo vertical, enfatizando por contraste toda a acção de incidência planar horizontal, trabalhando com as características efémeras do espaço: Vento e Luz (dinâmica) -plano horizontal per se. Características constantes do espaço: Solo -receptividade, e pesquisa antropológica, histórica e social focada nas memórias das mulheres e nas experiências de parto.

Na costa nova, esperando pela hora de visita ao farol da barra, fui tirando do saco e dispondo estas peças triangulares: moldes em poliuretano de bases de ferro de engomar. Observando a fronteira mutável entre a terra e a água, e depois de algum tempo de exploração do chão/solo deste pedaço de costa, senti apelo a dispô-las em montes e por côr, lado a lado.

Estava vestida de preto, roupa que me acompanha muitas das vezes em que me sinto mulher-farol.

Os registos fotográficos a preto e branco são da autoria de Cristiana Felgueiras, sobre alguns dos quais intervi em composição digital e com lápis de cor.

O Solo, tapete branco* 3mx3,60m participa no enquadramento com um conteúdo depurado, minimal, cujo intuito é criar oportunidade: propiciando questionamento sobra a área-solo, que por sua vez potencia a acção, ou seja, o usufruto de vários espaço-tempo (volume).

Sendo eu agente activo, fui-o também habitando, explorando e fruindo, quer de dia quer de noite, do ringue que criei. *branco - todas as cores

Outro dos locais que escolhi situa-se na travessa Arceb. P. Bilhano, num local onde existiu um poço - feliz curiosidade revelada já depois de planeadas intervenções:

a) Acção: sobre um tapete branco 1,5mx3m, pinto de verde água utilizando bases de ferro de engomar, questionando e explorando movimento e conteúdo, tais como o acto de pressionar e de o fazer prolongar deslizando a tinta ou “carimbando” de forma estacionária. A cor utilizada é a mesma das peças que o mar levou consigo.

O tapete foi colocado no nº189 da Rua Direita, casa desabitada com janela partida. Três semanas depois, a janela encontrava-se já fechada com contraplacado, conservando-se o tapete lá dentro, apenas visível através do buraco da caixa do correio.

b) vídeo-instalação: Retirado o tapete da acção, o solo é agora uma vídeo-instalação que faz uso de um barrote para suspender o projector.

O conteúdo é o registo (com duração de 14 minutos) das placas empilhadas coloridas em que, segurando no peito a câmara e centrando-as num enquadramento que divide a imagem em terra a água , em que a última permeia a primeira avançando e recuando. A dada altura, uma das cores é derrubada, o que me leva a reflectir ainda mais a fundo acerca da relação de confiança com o mar. Um pouco mais tarde, a cor mais à direita é levada num ápice, desaparecendo com o retrair das ondas.

c) dinâmica: instalação de duração de um dia, por sentir apelo à reposição das plantas, uma vez que se trata do local do beco com incidência de vento menos violenta, e, portanto, adequada para a sobrevivência das mesmas, que lá estavam antes de eu chegar. Materiais: barrote, 3m fio de nylon , base de ferro de engomar cuja base foi tintada de verde água durante a acção sobre o tapete. vídeo disponível em: www.vimeo.com/dedendera

Página anterior e à direita: intalação de noite. Na imagem acima e na página seguinte: aspecto da instalação ao final da manhã.

d) (revisitando) dinâmica, com Chiara Sonzogni.: Trata-se de uma estratégia de re-integrar os tomateiros*, pertencentes aos habitantes e retirados do local para a acção e instalação, e de revisitar em dinâmica,o processo vivo de crescimento da planta.

A base de ferro de engomar mantém-se como simbolismo do contributo deixado ao beco, e não como instalação per se.

Três semanas depois, os vasos apresentam-se reposicionados ao gosto de um dos moradores.

Outra das formalizações foi a composição áudio, feita a partir de registos da acção na costa nova/barra, depois do evento registado em vídeo “levou-me uma cor.. a minha cor favorita.. respeito.”, e da visita ao farol, em acção-voz descendo a escadaria da torre.

Foi emitida aquando do festival Rádio Faneca, que durou todo o fim de semana, e a cuja emissão se acedia através dos aparelhos de rádio e também ao ar livre na cidade, ouvindo-se, ao longe, nos becos.

Disponível em: www.vimeo.com/dedendera

F “Para o senhor Orlando, com carinho, Brio e gratidão. F”

dedendera @gmail.com www.dedendera.blogspot.com