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Entrevista: Raúl Manarte
Keynote
tantes de referir são as boas. Em qualquer crise humanitária em que já trabalhei vi exemplos de puro heroísmo e altruísmo extraordinário, de pessoas que estavam completamente desesperadas – até à garganta – e, mesmo assim, conseguiram por o bem-estar de outra pessoa à frente delas próprias; ter perdido tudo, até os membros da família, e salvar a vida a completos estranhos. Isso é inacreditável. E de que é que eu estou a falar? De, por exemplo, pessoas em Moçambique que passaram a noite toda a tirar água da casa para não morrerem afogadas com os filhos e logo no dia a seguir estavam a trabalhar, a ajudar outras pessoas. Houve um rapaz que perdeu tudo, mas sabia exatamente onde é que estava toda a gente na aldeia que precisava de assistência médica e levava-os em braços, se fosse preciso. A resiliência e o altruísmo que estas pessoas têm nestas situações? Eu não conseguia ter.
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Quais os sentimentos e as emoções que inspiraram “Moria” e “na Bissau”? Em “Moria” acho que é de tu estares noite após noite a atender pessoas desesperadas que têm os filhos a convulsionar com febre e teres de pedir para esperar, porque estão a entrar menores esfaqueados; ou teres de devolver ao campo um menor com um ataque de pânico, porque não tens tempo de o estabilizar - um menor que acabou de saber que a família tinha morrido no Afeganistão - não tens tempo porque estão a entrar outros casos. Nem sei, nem te consigo por uma palavra neste sentimento, tinhas de estar lá. Não sei como é que é com outras pessoas que compõem, mas para mim é como desabafar; depois transforma-se noutra coisa - e ainda bem - porque ajuda a passar uma mensagem que de outra maneira não daria para passar. A “Bissau” foi quase isso: trabalhámos em Pediatria Intensiva e Neonatologia Intensiva, portanto, muitas mortes por dia, de causas absolutamente desnecessárias noutro tipo de contexto, como aqui; um dia apercebi-me das percentagens de mutilação genital feminina e de tráfico de crianças e… (silêncio) o aperto que provocou saiu sob a forma dessa música.
Considera-se um homem feliz? Sim!
Quais os objetivos, projetos e expectativas para o futuro? Não sei… Uma coisa é continuar o trabalho humanitário, outra coisa é continuar a fazer música e tudo isso. O principal é arranjar formas mais eficazes de mudar as coisas no terreno e eu acho que neste momento é a mobilização da sociedade civil. Como é que nós conseguimos fazer ativismo mais eficaz? Por exemplo, só há campos de refugiados na Europa que não cumprem a legislação internacional, porque nós o permitimos.

Em Cabo Delgado as questões são mais complicadas, a soberania não é nossa. Claro que temos um papel e podemos ajudar, mas há uma diferença gigantesca quando trabalhas na Europa, porque a Europa sou eu, eu é que sou europeu, certo? Portanto, este campo é meu. A prioridade é arranjar uma forma de transformar toda a gente que é contra as condições dos campos ou na busca e salva no Mediterrâneo, traduzir isso em ação concreta, porque há gente suficiente, há mais do que gente suficiente que não quer ver 4 mortes por dia no Mediterrâneo ou ideação suicida nas crianças em Moria a chegar aos 25%.
Como é estar presente hoje no In4Med? É um privilégio. Às vezes vocês [médicos] têm uma fama um bocado má – esta resposta é que devias pôr (risos) – uma fama muito má, muitas vezes, de não terem tanta empatia como o resto da equipa hospitalar, de serem mais cerebrais, de quererem fazer mais, estarem mais preocupados no ganho monetário do que em ajudar a pessoa, estarem mais focados na parte biológica do que na psicossocial… Ouço muito isto! Mas já conheço muitos médicos que não são nada assim, como é óbvio, quer seja no Sistema Nacional de Saúde, quer seja no Cabo Delgado em Moçambique, e noto que este congresso teve essa preocupação, acho isso espetacular. Acho que cada vez mais a abordagem é mais holística, ou seja, vocês têm uma preocupação mais com o psicológico, com o social, e eu hoje vim tentar trazer outro ingrediente: a cidadania. Portanto, para resumir, sinto-me lisonjeado.
Nós cada vez mais tentamos - pelo menos falo por mim, porque foi um pouco isso que me motivou a vir para este curso e seguir esta profissão – sentir que temos ali uma pessoa à nossa frente, um doente; não fazer uma abordagem pela doença, porque aquilo não é uma doença, é uma pessoa que tem uma doença, é um doente, e muitas vezes a progressão e a evolução da doença e as suas consequências têm um impacto muito maior ou muito menor dependendo do tipo de pessoa e das pessoas que a envolvem. Por isso, acho que o que

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disse faz todo o sentido. Espero que possamos ser futuros médicos assim! Sim! Um dos meus pontos hoje é [os médicos] não serem líderes, mas seguidores, que ainda é um bocado um tabu. Eu noto isso no trabalho humanitário: tu mal chegas queres mudar tudo. De três em três meses chega uma pessoa internacional nova e quer mudar o esquema todo e às vezes o plano foi todo feito sem ouvir a população do Cabo. Vais intervir na mortalidade infantil, quando se calhar o principal era segurança laboral, porque se tiveres trabalho garantido passas menos tempo a trabalhar, os teus recursos sobem, já acompanhas a tua gravidez, por exemplo. Entendes o que eu quero dizer?
Sim. Ou seja, as estradas que vão dar a um problema de saúde são hiper mega amplas. Por isso, acho muito fixe. E não só o que tu disseste em relação ao doente, mas também por exemplo em relação à equipa, porque às vezes há a ideia de que o médico não joga bem com a equipa.
Sim, o médico é uma coisa e a equipa é outra… Exato!
Não. O médico é um membro da equipa. Tem de ser, senão não dá, não resulta! Era essencialmente isto que eu queria perguntar. Não sei se quer acrescentar alguma coisa… Queria desde já agradecer por ter vindo ao congresso e por nos ceder estas palavras! Obrigado eu! Depois envia-me, quando sair a entrevista!
Vai ser transcrito e trabalhado o texto. Depois nós enviamos!
Vais mudar tudo o que eu disse e ainda vais responder à pergunta que eu não respondi? (rindo)
Muito obrigada mesmo! Obrigada pelo trabalho que faz! Não digas isso!
Digo, digo, está gravado! Podemos tirar uma foto? Tem de ser com algum distanciamento social…


Miguel Figueiredo
Joana Mendes, 4º ano
Numa palestra cativante, Miguel Figueiredo convidou-nos a olhar para dentro de nós próprios e descobrir como podemos cultivar a nossa felicidade. Quando estamos felizes tornamo-nos mais produtivos, criativos, saudáveis e relacionamo-nos melhor com aqueles que nos rodeiam.
E como se define a felicidade? Não é a ausência de emoções negativas nem a satisfação de todas as necessidades, mas sim uma sensação geral de satisfação com a vida, aliada a uma maior frequência de sentimentos positivos. Estima-se que cerca de 60% dos fatores que contribuem para a felicidade estão fora do nosso controlo, tais como o tipo de personalidade e as circunstâncias de vida. Os restantes 40% constituem as percepções e comportamentos que podemos alterar. Não obstante, esta proporção é a mais significativa pois representa o papel crucial que todos temos na construção da nossa felicidade.
A “Metodologia HAPPY” é precisamente uma das formas de promover o nosso bem-estar pessoal, englobando 5 dimensões – Saúde, Atenção, Objetivos de vida, Pessoas, Eu. A dimensão “Saúde” consiste na adoção de hábitos que melhorem a qualidade de vida e a “Atenção” centra-se na importância de nos focarmos no momento presente. Os “Objetivos de vida” podem ser a carreira profissional ou uma vocação. Já o domínio “Pessoas”, exalta a importância das relações interpessoais.
No entanto, talvez o mais importante seja o domínio “Eu”, que consiste na relação que cultivamos connosco mesmos. Assim, é fundamental combater padrões negativos de pensamento, como a autocrítica, perfeccionismo e a comparação com os outros. Uma boa estratégia pode ser escrever um diário de gratidão, que nos permite focar nas qualidades pessoais, inverter perspetivas negativas e apreciar as oportunidades que surgem no dia-a-dia.
