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Bruno Maia

Debate

Bruno Maia: Intervenções

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Maria Ana Carreira, 2º ano

“A canábis é uma das substâncias mais consumidas no mundo”, iniciou o orador. No entanto, a proibição desta planta obriga a que a sua obtenção provenha obrigatoriamente do mercado negro. Ora, do ponto de vista do Dr. Bruno, é claro que este mercado ilegal manipula o canábis com vista a aumentar o potencial do THC, a consequente adição dos seus consumidores e aumento da procura deste produto. Sublinha que é esta manipulação que está na base do aumento dos casos de surtos psicóticos e efeitos secundários adversos registados, pelo seu consumo. Na verdade, tal não se sucederia se esta planta fosse consumida de forma natural.

Na opinião do orador, a questão do tráfego está centrada na isenção de impostos do próprio produto; se fosse legal, a sua produção e distribuição poderia ser altamente regulada, evitando as consequências suprarreferidas do seu mau consumo, e os seus impostos poderiam mesmo contribuir para a riqueza nacional. Quando confrontado com os interesses lucrativos por negócio de cannabis, o orador relembra que, na realidade, o mesmo interesse rege a atual indústria farmacêutica. Reforça ainda que falar sobre redes de tráfego, no caso da canábis, seria desnecessário caso alterássemos o seu quadro legal, uma vez que, se não fosse ilegal, não haveria a necessidade de haver tráfego.

Sustenta o seu argumento em evidências do Canadá e Uruguai, os únicos locais no mundo onde a canábis está verdadeiramente legalizada, com limites para a sua produção e distribuição. Na verdade, apesar de não ter eliminado o tráfico, a sua não proibição tornou- o residual, uma notável melhoria em relação a Portugal, cujo seu consumo é exclusivamente feito de forma ilegal. Por exemplo, no Colorado verificaram que a legalização desta planta contribuiu para uma diminuição do consumo, por eliminação da pressão social. Não obstante, diz que não é correto tirar uma conclusão absoluta do contexto social desta planta,

uma vez que o seu consumo depende das questões culturais de cada região. Apontou também que, salvo os aditivados, o consumo de canábis é não problemático, isto é, é feito em baixas doses. Aliás, refere que as pessoas procuram esta planta de forma natural; no entanto, a sua proibição obriga a sua obtenção de modo manipulada.

Salvaguarda que não há substância nenhuma que esteja isenta de risco, alertando que até a água pode levar à morte, se em excesso; sendo nós organismos bioquimicamente diferentes, há, na verdade, a potencialidade de reagirmos mal a uma dada substância. Em ponto algum o orador nega que a cannabis pode prejudicar o desenvolvimento neurológico, reconhecendo que há mesmo estudos que o comprovam; não obstante, pede para refletirmos nos efeitos do álcool e no porquê da sua não criminalização. Acrescentou ainda que, apesar da má informação que circula nos meios sociais, não há overdose de cannabis; existem sim, problemas mentais associados ao consumo exacerbado desta substância.

Concluindo, o Dr. Bruno defende que a legalização do canábis estará por detrás do seu consumo de forma mais regulada, seja em quantidade, seja em qualidade, evitando, assim, as consequências associadas ao atual e obrigatório consumo de canábis com THC aumentado.

Quando questionado sobre o nível de informação dos médicos e profissionais de saúde, em relação à Lei 33 de 2018, artigo 10º, que regula a utilização de cannabis para fins medicinais, o Dr. Bruno Maia respondeu assertivamente que muito pouco ou nada é sabido por estas entidades. De facto, do ponto de vista do governo e da lei, denuncia que nada tem sido feito a este respeito; outrora, alerta que as associações de doentes e a sociedade civil têm um papel preponderante no desenrolar desta falta de formação. Nesse sentido, apela para que o consumo de canábis não seja visto como um medicamento específico, mas como uma introdução ao estilo de vida do doente; “nem todos os doentes apresentam um quadro clínico específico”, recomendando mesmo o consumo de canábis, como quem prescreve a prática do exercício física e a melhoria alimentar ao doente.

Termina lamentando a falta de informação em relação à eficácia e segurança desta planta e dos seus isolados; uma vez que, o quadro legal da mesma impede estudos que visam a sua avaliação para fins medicinais.

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