Boletim Informativo Velhas nº47

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Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas | Dezembro/2024, Janeiro e Fevereiro/2025 |

Com recorde registrado em 2024, queimadas deixaram sequelas no ambiente

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Entrevista: Apolo

Heringer e a Meta 2034

Págs. 4 e 5

Comitê realiza conferência sobre efeitos da emergência climática

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Corrigindo a rota

Com inauguração de ETE, Sete Lagoas deixará de ser um dos maiores poluidores da bacia do Rio das Velhas

Serra do Cipó, no Médio-Baixo Rio das Velhas, foi uma das regiões mais castigadas pelo fogo em 2024.

Editorial

Tão logo 2025 começou, a Diretoria do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas iniciou uma série de visitas institucionais aos municípios da nossa bacia, com o objetivo de estreitar os laços com os novos representantes do Executivo que estão assumindo a gestão, visando trabalhar de forma mais eficaz as demandas de cada território e apresentar o trabalho do Comitê.

Essas visitas são fundamentais para garantir que os municípios compreendam a importância da gestão integrada e participativa dos recursos hídricos, um dos pilares do nosso Comitê. Oportunamente, a ideia é conversar sobre o processo de Enquadramento dos cursos d’água em classes, projetos em andamento em cada território, a importância do pagamento da Cobrança pelo uso da água e demais ações que têm interseção com o Comitê de bacia.

A integração entre os diversos atores é essencial para uma gestão eficaz da água no território. A água não conhece limites administrativos; tudo o que acontece em uma região impacta diretamente as áreas vizinhas. O trabalho conjunto entre o Comitê, os Subcomitês e os municípios é crucial para promover uma gestão responsável e eficaz dos recursos hídricos, algo que somente será possível com a colaboração ativa dos gestores municipais, dos usuários de água e da sociedade civil.

Esse esforço de aproximação demonstra claramente o nosso compromisso com uma gestão descentralizada e participativa. Até abril, nosso objetivo é percorrer todos os 51 municípios da bacia, buscando maior envolvimento dos prefeitos e prefeitas, e criando um espaço para dialogar sobre soluções coletivas. Esperamos que essa iniciativa fortaleça ainda mais nossa capacidade de proteger as águas e melhorar a qualidade de vida de toda a população da bacia do Rio das Velhas.

2025 promete ser um ano de muitos desafios e intenso trabalho na bacia do Rio das Velhas. Que possamos superar todos esses desafios com uma exemplar gestão democrática, descentralizada e participativa.

Poliana Valgas

Presidenta do CBH Rio das Velhas

2024 em chamas

Ano anterior registrou recorde de queimadas, que deixaram sequelas graves na bacia do Rio das Velhas

O período severo de incêndios florestais em Minas Gerais já terminou. A situação foi especialmente crítica entre os meses de julho e setembro do ano passado, quando o clima seco e o vento contribuíram para o aumento do número de casos. Agora, as cidades não estão mais encobertas pela fumaça e o cheiro forte causado pelas queimadas já se dissipou. A chegada das chuvas deu fim aos milhares de focos de incêndios que tomaram conta do país. Mas as chamas deixaram sequelas preocupantes para a biodiversidade do estado e reflexos que vão ser percebidos por um longo tempo.

Mesmo antes de chegar ao fim, 2024 já havia batido recorde no registro de incêndios florestais em Minas Gerais. De janeiro a outubro, o Corpo de Bombeiros contabilizou mais de 29 mil ocorrências de queimadas em vegetação no estado. O número é quase 70% maior que o registrado em todo o ano passado. Na comparação com os últimos anos, 2024 foi o mais devastador em número de incêndios florestais.

A pedido do CBH Rio das Velhas, o IEF (Instituto Estadual de Florestas) fez um levantamento sobre o número de incêndios florestais nas UCs da bacia. Até o fim do mês de outubro, o Instituto já havia contabilizado 272 ocorrências, mas destacou que os números reais poderiam ser bem maiores,

já que alguns casos ainda estavam sendo lançados no sistema.

Especialistas alertam que os incêndios florestais deixaram marcas profundas na biodiversidade. “Os impactos diretos são a morte da vegetação, animais e impactos em propriedades públicas e privadas. A longo prazo, isso gera degradação da vegetação e perda de biodiversidade, além de prejuízos na qualidade da água, doenças respiratórias e degradação do solo”, explica Ubirajara Oliveira, biólogo, mestre em Ecologia, doutor em Zoologia e pesquisador no Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG.

Os números preliminares do IEF apontam que 6.807 hectares de vegetação foram destruídos dentro das UCs da bacia do Rio das Velhas. Ana Alencar, coordenadora do MapBiomas Fogo, afirma que o Cerrado, bioma predominante na bacia do Rio das Velhas, historicamente sofre com vários impactos causados pelos incêndios. “2024 foi um ano muito seco, o que criou o cenário propício para a ocorrência desse número alto de incêndios, principalmente nos meses de agosto e setembro. No Cerrado, com a vegetação mais aberta, o fogo faz parte do ecossistema. Mas a intensidade e a frequência que os focos ocorreram desta vez comprometeram a biodiversidade. E isso gerou um impacto importante, afetando espécies que não são tão tolerantes ao fogo”, analisa.

Médico sanitarista, Apolo Heringer Lisboa fundou o Projeto Manuelzão e foi presidente do CBH Rio das Velhas.

Meta 2034 é “a chance de salvar o Rio das Velhas”, diz fundador do Projeto Manuelzão

Com a experiência das Metas 2010 e 2014 na bagagem, Apolo Heringer vê mais profissionalismo

nova proposta

Médico sanitarista, ambientalista, escritor e professor universitário, Apolo Heringer Lisboa foi o idealizador, na segunda metade dos anos 1990, do Projeto Manuelzão, da Faculdade de Medicina da UFMG, criado com o objetivo de mobilizar a sociedade para a recuperação hidroambiental do Rio das Velhas.

Ex-presidente do CBH Rio das Velhas e articulador das chamadas Metas 2010 e 2014, que perseguiam as condições para “nadar, pescar e navegar” no mais longo afluente do São Francisco, Apolo volta a empunhar a bandeira das grandes metas.

Na Plenária comemorativa dos 26 anos do CBH, de 28 de junho de 2024, apresentou a proposta de uma nova Meta para 2034, que concentra um conjunto de ações na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), onde estão “85% da poluição, 85% da população e 85% do PIB de toda a bacia”.

Indicado pelo plenário como “embaixador” da Meta 2034, Apolo conta a seguir como propõe que o CBH seja o propulsor de um amplo movimento para enfrentar e vencer o desafio de revitalizar todo o curso do Rio das Velhas.

Um giro pela bacia do Rio das Velhas

Reunião com a Subsecretaria de Estado de Saneamento

Com o objetivo de estreitar laços e buscar parcerias, foi realizada, no início de janeiro, uma reunião com o Subsecretário de Estado de Saneamento, Anderson Diniz, e os representantes do Subcomitê Rio Taquaraçu. Anderson apresentou as diversas ações e articulações realizadas pela Subsecretaria, considerando que não há recurso para viabilizar demandas diretas dos municípios, mas que é possível mediar a captação de recursos junto a fontes como o Governo Federal e emendas parlamentares. Como encaminhamento foi proposto um termo de cooperação envolvendo os municípios, uma visita técnica no território com a finalidade de conhecer a realidade local e a elaboração de projetos para demandas prioritárias.

Subcomitês Nascentes e Itabirito levantam propostas de ações

No intuito de pensar propostas de ações em comum, os Subcomitês Nascentes e Rio Itabirito realizaram uma reunião conjunta no início de dezembro. Uma das pautas foi o levantamento de atividades a serem realizadas nas duas UTEs (Unidades Territoriais Estratégicas) do Alto Velhas. Cada segmento representado nos Subcomitês elencou propostas como execução de projetos que promovam o saneamento básico, ações que apoiem iniciativas locais de preservação ambiental e atividades de educação ambiental.

Subcomitês Curimataí e Guaicuí parceiros da Transcabral

No intuito de promover o potencial econômico da Serra do Cabral, os Subcomitês Rio Curimataí e Guaicuí firmaram parceria com o Circuito Serra do Cabral no Projeto Trilha Transcabral. O momento é de aproximação das empresas que estão se instalando na região, principalmente na Serra do Cabral. A Trilha Transcabral será um eixo integrador de turismo e desenvolvimento regional, promovendo a conectividade de unidades de conservação, a valorização das paisagens naturais, a cultura local e o cuidado com o meio ambiente.

Saneamento rural na Serra do Cipó

No dia 23 de janeiro, ocorreu a visita de representantes da Construtora Joamar e da Agência Peixe Vivo à Serra do Cipó para reconhecimento do território e início das obras do Programa de Saneamento Rural na microbacia do Ribeirão Soberbo. O encontro contou com representantes do Subcomitê Rio Cipó e da Prefeitura Municipal de Santana do Riacho. Ao longo dos próximos 18 meses, cerca de 330 residências serão contempladas pelo programa de adequação das fossas sanitárias com soluções modernas que evitarão a contaminação do Ribeirão Soberbo.

Córrego Cercadinho é um dos poucos cursos d’água que corre em BH a céu aberto.

Subcomitê Arrudas solicita esclarecimentos sobre empreendimento em APP

O Subcomitê Ribeirão Arrudas solicitou, em ofício enviado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte, em dezembro de 2024, esclarecimentos sobre o empreendimento que prevê a implantação de um estacionamento em APP (Área de Preservação Permanente), com supressão arbórea e impermeabilização do solo no Córrego Cercadinho. Entre as solicitações estão os pedidos de estudos técnicos sobre o impacto dessa obra na impermeabilização de solo e o volume hídrico da construção para a área de APP, além de visita técnica na área em questão.

Capacitação em monitoramento da qualidade de água no Baixo Velhas

A empresa Fortal, responsável pela execução do Programa de Conservação e Produção de Água no Córrego Pedras Grandes, em Várzea da Palma, ministrou um curso de capacitação em monitoramento da qualidade da água para acompanhamento do projeto. Realizada nos dias 19 e 20 de fevereiro, a capacitação teve como público-alvo os moradores da microbacia e membros do Subcomitê Guaicuí. O curso abordou temas como o papel do CBH Rio das Velhas, ANA e IGAM, explicou o que é potabilidade e ressaltou a importância dos indicadores de qualidade da água no Enquadramento. Além da capacitação, houve um dia de visita de campo nos locais em que foram feitas as intervenções como barraginhas, paliçadas, manta e plantio de árvores.

Membros do Subcomitê Rio Taquaraçu em reunião com o Subsecretário de Estado de Saneamento.

Pensar global, agir local

CBH Rio das Velhas realiza conferência para propor ações contra efeitos da emergência climática

Em dezembro, o Comitê promoveu a 1ª Conferência Livre de Meio Ambiente da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, com o objetivo de discutir, em conjunto, estratégias eficazes para mitigar e desacelerar os impactos decorrentes das mudanças climáticas. O encontro online contou com a participação de membros de diferentes instâncias do CBH e diversos atores dos 51 municípios.

A ação esteve alinhada às tratativas da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, que, nesta edição, tem como tema principal a emergência climática e o desafio da transformação ecológica. A iniciativa nacional tem realizado rodadas de conversas em todo o país, com um convite ao debate das melhores escolhas num momento tão desafiador da história, tanto para reduzir as emissões como para nos adaptarmos aos efeitos já visíveis do aquecimento global.

Os participantes da Conferência Livre foram divididos em grupos, conforme os cinco eixos temáticos criados pela 5ª Conferência Nacional

de Meio Ambiente: mitigação dos desastres, adaptação e preparação para os desastres, justiça climática, transformação ecológica e governança, e educação ambiental e governança.

Cada grupo contou com a presença de relatores, mediadores e facilitadores para orientar as discussões. Ao final, cada divisão apresentou duas propostas de ações dentro do eixo escolhido e compartilhou a ideia com os colegas de conferência, que puderam também fazer contribuições. Uma vez concluídas, as propostas foram enviadas ao Governo Federal, através do site do Brasil Participativo, e serão incorporadas às discussões nacionais.

Conselheira do Subcomitê Poderoso Vermelho, Maílla Soares participou ativamente da Conferência Livre e aprovou a iniciativa. “A conferência foi, para mim, muito importante e com resoluções igualmente importantes. Uma tarde apenas foi pouco para o tanto de caminhos e ações criados nesse evento. Que as propostas

tiradas da Conferência possam ser efetivadas e transformadas em ação urgente, pois as mudanças climáticas estão, em alguns aspectos, sem ponto de retorno”, falou.

REPRESENTAÇÃO NACIONAL

Ainda no encontro foi realizada uma eleição do representante da Conferência Livre da bacia do Rio das Velhas no âmbito nacional. Todos os presentes tiveram a oportunidade de se candidatar. O grupo elegeu como Delegada da Conferência Márcia Lopes, coordenadora do Subcomitê Carste, com vasta formação profissional na área e anos de dedicação à defesa da causa ambiental.

Serão selecionados 300 delegados representantes de conferências livres em todo o Brasil, que serão escolhidos por uma Comissão para estarem presentes na edição da Conferência Nacional.

INFORMATIVO CBH Rio das Velhas. Mais informações, fotos, mapas, apresentações e áudios no portal www.cbhvelhas.org.br

Diretoria CBH Rio das Velhas

Presidenta: Poliana Valgas

Vice: Ronald de Carvalho Guerra

Secretário: Renato Júnio Constâncio

Sec. Adjunta: Heloísa França

@cbhriodasvelhas cbhvelhas.org.br

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas comunicacao@cbhvelhas.org.br

Tiragem: 3.000 unidades. Direitos reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.

COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA

DO RIO DAS VELHAS

Rua dos Carijós, nº 244, Sala 622 - Centro Belo Horizonte - MG - 30120-060 (31) 3222-8350 - cbhvelhas@cbhvelhas.org.br

Comunicação: TantoExpresso (Tanto Design LTDA)

Direção: Paulo Vilela, Pedro Vilela e Rodrigo de Angelis

Coordenação de Jornalismo: Luiz Ribeiro

Redação e Reportagem: Yasmim Paulino, Paulo Barcala, Leonardo Ramos, Ricardo Miranda e João Alves

Fotografia: Bianca Aun e João Alves

Diagramação: Sérgio Freitas

Encontro foi realizado de forma on-line e reuniu cidadãos de várias partes da bacia.

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