Cartola #7

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CARNAVAL #7 Andrew Franรงa / Anie Barreto / Davi Sabbag / Felipe Cordeiro Jade Baraldo / Letrux / Mateus Albuquerque / Pedro Fonseca Pol Kurucz / Renato Filho / Renan Yuri Veiga / Romero Ferro Ubira Machado / Ulisses Moura +


#EDITORIAL

B

rasil, um país multicultural. Onde a diversidade é incorporada, inclusive, no jeito de fazer arte, moda e... festa! O Carnaval, por exemplo, é a a maior manifestação cultural popular do país e traduz traços da identidade de cada local, num conjunto amplo e diferenciado de festividades com características únicas. A origem da palavra é secular e remota, principalmente, à expressão da Igreja Católica “carnem lavare” (ficar livre da carne), que representa os últimos dias de liberdade antes da Quaresma. Essa manifestação movimenta milhões de pessoas e o mercado todos os anos, mas é preciso enxergá-la além disso. São nas festividades em grupo como essa que as diferenças “desaparecem” e o indivíduo passa a ser visto como coletivo. Isso porque, segundo o sociólogo Émile Durkheim, com o tempo a consciência coletiva tende a perder suas forças, e as festas restabelecem os nossos laços sociais. No Brasil, os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os “corsos” surgiram no final do século XIX. As pessoas se fantasiavam e desfilavam pelas ruas da cidade, numa mistura de calor humano, liberdade e diversão que dura até hoje, não deixando dúvidas: o brasileiro sabe fazer uma festa. Mas como tratar com seriedade o divertimento num país que já é pouco levado a sério? As festividades, como defende o sociólogo, são importantes reguladores sociais, uma vez que reconectam e reabastecem os indivíduos com energia para voltarem à “vida séria”. Por isso, esta edição da Cartola é uma grande celebração sobre o Carnaval. Uma festa para juntos termos energia para encarar o futuro.

Paulo Anjos diretor EXPEDIENTE direção criativa Andre Costa e Paulo Anjos

Fernando Moura, Nestor Mádenes e Viny Holanda

artigos e matérias Paulo Anjos e Rafael Oliveira

edição e projeto gráfico Paulo Anjos

beleza Aline Demartino, Amós Fonseca, Henrique Mello e Viny Holanda

assessoria jurídica Vitor França

fotografia Andrew França, Anie Barreto, Mateus Albuquerque, Pedro Fonseca, Renan Yuri Veiga, Renato Filho, Ubira Machado e Ulisses Moura styling Amós Fonseca, Camila Carlazzari, Djalma Rabêlo,

modelos Erico Valença, Erick Bezerra, Fernando Moura, Flávia Fernanda, Guilherme Holanda, Jerônimo Otto, João Victor, Lucas Leite, Luiza Medeiros, Mauro Barbosa, Mauro Ferreira, Murilo Barros, Mu Teh Lim, Otávio Konrad e Victor Mota

CAPA Otávio Konrad por Henrique Mello Fotografia: Renato Filho Styling: Nestor Mádenes

Cartola é uma revista independente de moda masculina e arte. Esta é uma edição digital, disponível gratuitamente para visualização e download. Versões anteriores impressas podem ser adquiridas na loja online ou nos pontos de venda. A publicação pertence à empresa Anjos Creative e não pode ser impressa sem autorização prévia. A reprodução online é permitida perante colocação dos créditos da revista. / @cartolamag contato@cartolamag.com www.cartolamag.com


“A luz da lua, a noite escura a cena toda como num cinema O bumbo ao longe, o metal anuncia tá começando mais um carnaval A rua está cheia eu vou me esgueirando feito um ninja no meio da multidão O peito inflama, a lágrima derrama Tá começando mais um Carnaval” (BAIANASYSTEM)


conte MODA

30 Somos Muitos Carnavais ARTE & CULTURA

CAPA

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Cores & serpentinas: Carnavais, memórias e identidades

Carnaval! Com alegria, a moda se une ao fantasioso e brinca do glitter às franjas. Do caos carnavalesco, o folião se agarra a um caleidoscópio de cores e estampas...

24 O Carnaval de cores de Pol Kurucz EDITORIAL

10 O Caboclo de Lança, figura folclórica do estado do Pernambuco, é homenageado neste editorial carregado de cores e identidade


eúdo #CONTEÚDO

EDITORIAL

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Cidade das Cores Oh, linda! Olinda! A cidade com um verdadeiro arco-íris arquitetônico que no Carnaval ganha ainda mais vida

62 Simulacre

76 Mela-mela

86 Cinzas Satiras, Dourados Profanos

98 Revelry COMPORTAMENTO

56 Climão de namoro com desconhecido, calça rasgada, vender sacolé, paquita Spice... boas ou não, memórias devem ser lembradas como forma de exercício à própria identidade e história. Por isso, convidamos 5 artistas para compartilharem suas histórias de Carnavais mais marcantes


exclusivo para cartolamag.com fotografia BRUNO BARRETO modelo VITOR SORATTO makeup VINY HOLANDA styling YGOR VIEIRA


&

#ARTE&CULTURA

CORES

serpentinas CARNAVAIS, MEMÓRIAS E IDENTIDADES foto BRUNO BARRETO texto RAFAEL OLIVEIRA

Acabou nosso carnaval Ninguém ouve cantar canções Ninguém passa mais brincando feliz E nos corações Saudades e cinzas foi o que restou (Marcha de Quartafeira de Cinzas Vinícius de Moraes)

C

ostumam dizer no Brasil que o ano só começa após o Carnaval. Festividade laica que tem sua vez no calendário orientado por uma tradição judaico-cristã, a Páscoa, o Carnaval nos “obriga” a iniciar nossas vidas propriamente entre os meses de fevereiro e março. E depois que tem seu fim, a festa deixa muitas saudades, como no lamento do Poetinha que abre essa seção. A Quarta de Cinzas que representa o retorno ao pó para o homem, segundo os dogmas cristãos, também nos permite a associação com o apagar das luzes da festa, para alguns. Confrontado com o termo, passo a me valer das minhas lembranças. Músicas, cores, danças, gente, multidão, espaços, olhares, diversão, beijos, amores, brincadeiras, fantasias, alegria. Uma profusão de imagens se reconstroem diante dos olhos, semelhante a uma chuva de confetes e serpentinas. Uma fuga da vida real, a terça-feira de Carnaval (que se transforma em semana ou mês) é um respiro. De acordo com a antropóloga Rita Amaral, é um escape da monotonia cotidiana do trabalho pela sobrevivência, obtendo a função do retorno com mais coragem e disposição. Além disso, esse momento também proporciona a (re) criação e consolidação de identidades hegemônicas e subalternas. O Carnaval não apresenta um padrão único reproduzido em todos os lugares do mundo, muito embora sua institucionalização pelo poder público e setores econômicos ligados à cultura já tenha encontrado alguns modelos bastante lucrativos e promovido sua mercantilização. Sua diversidade de estilos e formas são incontáveis tanto quanto são os grupos sociais. Assim como suas formas, também são diversas suas origens. Tradicionalmente remetido à Antiguidade, principalmente às festividades em homenagem ao deus Dionísio ou mesmo às comemorações pelas boas colheitas. Hoje, a festa reúne contribuições de diversas matrizes. Apesar do seu caráter multicultural, ela apresenta elementos em comum. CARTOLA cartolamag.com

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“TEM POR EFEITO APROXIMAR INDIVÍDUOS, COLOCAR EM MOVIMENTO AS MASSAS E SUSCITAR ASSIM UM ESTADO DE EFERVESCÊNCIA, ÀS VEZES MESMO DE DELÍRIO” (Durkheim, 1968)

No Brasil, o folguedo passou a ser comemorado quando data a colonização do território pelos portugueses. Mesmo que os registros sobre a festividade não fossem frequentes entre os séculos XVI e XVIII, o entrudo (correspondente ao Carnaval) ganhou maior repercussão e disseminação a partir do XIX. Ele consistia em atingir os brincantes com água, farinha, goma, barro ou cal, enquanto nos salões aconteciam grandiosos bailes. Ainda no XIX foi proibido pelas autoridades policiais, mas o caráter popular e espontâneo da festa, no país, não se perdeu e se diversificou cada vez mais. O maracatu, o frevo, o samba ajudaram a consolidar a “aptidão” brasileira para os ritmos e cores. Segunda a historiadora Mary Del Priori, havia uma preocupação no embelezamento dos espaços, na ornamentação das portas e janelas: “alcatifar as ruas com flores odoríferas, ornar as janelas com colchas de Pequim ou China, ou com as lindezas dos senhores desta terra; noz moscada era jogada nas portas de entrada, para perfumá-las.” Cada morador das cidades onde a tradição do Carnaval era construída se preocupou em contribuir para a composição do quadro. Os participantes viraram múltiplos: habitantes/foliões/atores/espectadores a fim de (re) criar e consolidar a identidade do espaço que a festa ocupava. 8

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Imagem acima: “Scene de Carnaval”, Jean Baptiste Debret (1834). Ao lado: Performer de Maracatu. Foto: Marcos André

O espaço público, onde se permite ver e ser visto, é o lugar próprio do Carnaval. Cenário de sociabilidade, alteridade e de um fenômeno mágico, ao mesmo passo que assustador, o indivíduo se transforma em coletividade, em uma única massa que age pela emoção e energia dissipada por ela mesma. No movimento dos pés comandados pelo ritmo dos tambores e na captação das matizes, memórias são construídas, identidades consolidadas, carnavais revividos. A partir do meio-dia da quarta-feira já não se ouvem as músicas e burburinho das ruas, guardamos as fantasias

no canto do guarda-roupa e na memória as lembranças que nos permitirão esperar pelo próximo Carnaval. “Eu falei faraó…”


“No Compasso do Frevo” Foto: Passarinho/Pref.Olinda

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ABO CLO

DE LANÇA O Caboclo de Lança, figura folclórica do estado do Pernambuco, é homenageado neste editorial carregado de cores e identidade

fotografia ANIE BARRETO modelo MAURO FERREIRA makeup VINY HOLANDA styling e direção VINY HOLANDA, CAMILA SCARLAZZARI e ANIE BARRETO produção executiva CAMILA SCARLAZZARI vestuário DAVID LEE


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#ARTE&CULTURA

O CARNAVAL DE

CO RES

de Pol Kurucz

POL KURUCZ

Um Carnaval de cores, texturas, fantasia e temas que provocam... Ainda que as palavras possam ser laminadoras de significados, por hora, podemos caracterizar o trabalho do fotógrafo húngaro Pol Kurucz dessa forma. O artista, que nasceu em Budapeste, é radicado em Nova Iorque e atualmente vive em São Paulo. Com cenários e visuais absolutamente surrealistas, suas fotografias já rodaram diversas galerias de arte pelo mundo. CARTOLA cartolamag.com

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GLAM JAIL

AMBULANTES

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VENUS BEACH


BOR3D IN BRAZIL CARTOLA cartolamag.com

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NOVOS PROJETOS Seu mais recente projeto audiovisual autoral conta história de caixas e clientes excêntricos atuando dentro de um cenário fantasioso de um supermercado enlouquecido. Intitulado de ‘Caixa Zero’, o projeto foi realizado entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019, em São Paulo. Cada fotografia revela a autenticidade de seus protagonistas através de imagens e/ou músicas e roteiros surrealistas, com assuntos da atualidade como consumismo, empoderamento de minorias, padrões de beleza e machismo. O elenco principal conta com a cantora paraense Gaby Amarantos, as gêmeas atletas Bianca e Branca Feres, a atriz e modelo Marcella Maia, a drag queen Nina Codorna entre outros. 28

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CAIXA ZERO

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SOMOS MUITOS CARNAVAIS por PAULO ANJOS

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eja no Norte, Nordeste, Sul, Sudeste ou Centro-Oeste, o Carnaval brasileiro é uma das datas mais esperadas do ano. Uma grande festa vivenciada coletivamente e que traduz traços da identidade de cada lugar, fazendo o país ser conhecido como ‘O país do Carnaval’. Expressão essa que é empregada como forma de caracterizá-lo com o símbolo cultural que mais representa a vida do brasileiro, mas que esconde um dos principais panoramas: a diversidade. O Brasil não é o ‘país do Carnaval’, e sim de vários ‘carnavais’. Como já disse Caetano Veloso em sua primeira coletânea, lançada em 1977: “Somos muitos carnavais”. Na moda, essa manifestação é constantemente representada pelas tradicionais fantasias e o samba, fazendo o olhar gringo se voltar ao Rio de Janeiro. Em 2014, por exemplo, o designer espanhol Francis Montesinos usou o Carnaval do Rio como uma de suas inspirações para sua coleção de primavera-verão, caminhando entre o boêmio e o nerd. Outro designer que também utilizou do mesmo tema como inspiração foi o inglês Bobby Abley, que em 2016 apresentou o ensolarado e vibrante Carnaval carioca nas passarelas do London Fashion Week. Seu charme e humor foram mesclados com imagens icônicas da cultura pop e um design contemporâneo de moda masculina, características marcantes de sua marca. São inúmeras coleções país afora que “vendem” o Brasil como o ‘País do Carnaval’ – sobretudo o da Cidade Maravilhosa –, mas que não representam a diversidade da manifestação no país. Fazendo com que a roupa, célula básica do fenômeno da moda, seja apenas um objeto para servir ao desejo pelo ‘novo’ e ‘exótico’ na moda. O que, para Canclini (1995), pode representar a perca da fidelidade com os territórios originários, realizando a apropriação de processos socioculturais.

“O CARNAVAL BRASILEIRO APRESENTA DIMENSÕES ESPECÍFICAS E PARTICULARES” (Paulo Miguez, 2009)

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#MODA

Por outro lado, nas passarelas nacionais, designers e artistas vão mais a fundo no tema. O estilista Ronaldo Fraga, por exemplo, apresentou em seu Verão 2011, no SPFW, adereços de cabeça que faziam referência ao Maracatu. Walério Araújo, em 2011, inspirou-se nos Caboclos de Lança, apresentando uma coleção marcante na Casa de Criadores. Ao passo que a marca Reserva, em 2012, apresentou sua coleção no Fashion Rio com modelos carregando suportes com fantasias carnavalescas, acontecendo após o desfile um baile de Carnaval juntamente com as pessoas que não tiveram acesso ao “show”. Entre a moda e a arte, é possível observar também o Carnaval nas obras de Hélio Oiticica. O Parangolé (obras de tecido que são “ativadas” quando vestidas), por exemplo, foram criadas intimamente ligadas à manifestação, à arquitetura das favelas e à experiência do samba. Uma simples vestimenta ou fantasia de Carnaval, que relacionada à descoberta do ato expressivo, tornou-se um trabalho artístico carregado de originalidade que fez o artista ganhar grande repercussão no cenário internacional. Assim como os Parangolés, na cultura brasileira e no imaginário popular, esse período representa liberdade e felicidade. Uma época para abastecer o corpo com energia para encarar o resto do ano. O que, coincidentemente, parece ser o zeitgeist de nosso tempo. “Liberdade pra dentro da cabeça”, já diz o reggae, e “Ser feliz” é a resposta de muitos jovens diante da pergunta sobre quais seus objetivos de vida. CARTOLA cartolamag.com

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Car na val

Com alegria, a moda se une ao fantasioso e brinca do glitter às franjas. Do caos carnavalesco, o folião se agarra a um caleidoscópio de cores e estampas...

fotografia RENATO FILHO modelos FLÁVIA SILVA, JOÃO VICTOR, MU TEH LIM e OTÁVIO KONRAD (Amazing Model) beleza HENRIQUE MELLO edição de moda NESTOR MÁDENES (S7YLING) assistência de moda JOSÉ LUCAS (S7YLING) locação CASA AURORA 371 agradecimentos ALÊ CARVALHO, MYCHELLE JACOB, FLÁVIA PINHEIRO, TIAGO SANTOS e VIVIANI SORATTO


máscara e vestido ALÊ CARVALHO tênis NIKE meias TRIFIL leque CAMARIM PE



trench coat ARMANI cabeรงa ALร CARVALHO meias TRIFIL sandรกlia, lenรงo, luvas e polainas CAMARIM PE



camisa branca RICARDO ALMEIDA camisa preta e cinto CAMARIM PE faixa CENTAURO calça LEOPOLDO NÓBREGA chapéu, lenço e coturno CAMARIM PE


tshirt e bermuda GALERIA DO ROCK pelerine CASA AURORA 371


vestido CAMARIM PE sandรกlia JULIAN HAKES LONDON brincos BANANA SPLIT ACESSร RIOS



moleton PHARRELL WILLIAMS para ADIDAS toca BERLIM NATION legging e lenรงo CAMARIM PE



capa coreto por LUCIANA RIBEIRO


jaqueta IORANE RABELO tshirt JOHN CUNNINGHAM saia, cinto e meias CAMARIM PE bolsa THINK COLLECTION brincos BANANA SPLIT ACESSÓRIOS


tops CAMARIM PE bermudas e saia CYCLONE รณculos e colares CAMARIM PE


kafta WALÉRIO ARAÚJO sunga BLUE MAN óculos CAMARIM PE cabeça coreto por LUCIANA RIBEIRO


ci da de DAS CORES Oh, linda! Olinda! A cidade com um verdadeiro arco-íris arquitetônico que no Carnaval ganha ainda mais vida

fotografia MATEUS ALBUQUERQUE e ULISSES DE MOURA modelo FERNANDO MOURA (UNA MODELS)


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MEMÓRIAS DE

CAR NA VAL Climão de namoro com desconhecido, calça rasgada, vender sacolé, paquita Spice... boas ou não, memórias devem ser lembradas como forma de exercício à própria identidade e história. Por isso, convidamos 5 artistas para compartilharem suas histórias de Carnavais mais marcantes

por PAULO ANJOS

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memória é um processo de seleção que tem como base um jogo entre o que merece ser “perpetuado” e o que deve ser esquecido. Nem tudo pode ser memorizável, mesmo os acontecimentos vivenciados de forma marcante e que poderíamos entender como importantes. Até quando lembrados, as memórias necessitam, muitas vezes, ser estimuladas para suas reconstruções. Quem nunca teve uma história marcante, acontecida em um Carnaval, que só depois de anos pode ser lembrada após ver, cheirar, tocar, comer ou ouvir algo? Ah, O sentimento de nostalgia trago com os sentidos... eles funcionam como gatilhos para o processo de reconstrução do passado vivido e experimentado. A audição, por exemplo, é um dos sentidos que mais estimulam a reconstrução de memórias. Estudos recentes com pacientes com Alzheimer comprovaram que o 56

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nosso cérebro processa em zonas diferentes a experiência de ouvir música e as lembranças musicais. O som tem a capacidade de trazer lembranças relacionadas tanto a melodia e a letra de uma canção, quanto a eventos que aconteceram no momento que ouvíamos determinado som. Música é registro, e pode ser uma viagem para momentos vividos e a possibilidade de reviver e valorizar as emoções que sentimos. Registrar, valorizar e compartilhar memórias é, antes de tudo, um exercício de respeito à própria identidade e história. Uma vez que mesmo os acontecimentos ruins contribuíram para ser o que somos hoje. Partindo dessa ideia, propomos a um grupo de 5 músicos relembrarem e compartilharem suas memórias de Carnavais mais marcantes. São eles: Romero Ferro (PE), Letrux (RJ), Felipe Cordeiro (PA), Davi Sabbag (GO) e Jade Baraldo (SC).


Uma história marcante aconteceu comigo no carnaval do ano passado, estava fazendo um show em Recife/PE, em cima do maior palco do mundo. Eu sou aquele tipo de artista que ama fazer estripulias no palco, e durante o carnaval, meu corpo parece que fica mais quente ainda! Em um dos pulos performáticos que dei, minha calça rasgou completamente. Um buraco enorme. Cada movimento que eu fazia, sentia o buraco abrir mais e mais... fiz o resto do show com o corpo todo virado para a frente. Hoje penso duas vezes antes de fazer qualquer estripulia no palco rsrsrs”.

ROMERO FERRO

Foto: Lana Pinho

#COMPORTAMENTO


Em 2014, eu e uma amiga resolvemos vender sacolé porque estávamos duras e queríamos ir pra Bahia, e uma outra amiga tinha vendido muitos sacolés num outro carnaval e tinha feito uma boa grana. Lá fomos nós, era uma saga, muita gente, muito caótico, muito quente, Rio de Janeiro lotado. A gente fazia amizade com gente bem maluca, risos. No final, nem vendemos tanto porque a amiga que lucrou esqueceu de dizer que tinha uma empregada pra fazer os sacolés pra ela, espertinha. A gente que fazia tudo, então uma hora enchemos o saco e a gente mais bebia os sacolés do que vendia, risos. Foi um carnaval bem bizarro, mas bem engraçado”.

LETRUX 58

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Foto: Sillas Henrique


Eu estava num palco no centro de Recife cantando no bloco Quanta Ladeira quando um amigo meu, cantor e compositor, me convidou para ir participar do seu show solo que aconteceria algumas horas depois em outro palco. Ele já estava alegrinho quando me fez o convite, mas algumas horas depois, quando cheguei no palco que ele fazia show, estava trêbado, sem condições e sendo acudido pela produtora no backstage enquanto a sua banda continuava o show meio que sozinha. Quando me viram chegar todos me olharam e pediram pra assumir e continuar o show, foi uma loucura, improviso total, tinha muita gente no público, algo em torno de cinco mil pessoas. Quando ele se recuperou um pouquinho, voltou pro palco e terminamos juntos, numa vibe meio Amy Winehouse. Fiquei achando tudo estranho, mas também uma experiência real de carnaval, foi divertido e nunca esqueço”.

Foto: Julia Rodrigues

FELIPE CORDEIRO


Um dos meus carnavais mais marcantes foi no Rio. Eu me vesti de Spice Girls com amigos. Eu fui a Baby Spice, óbvio! A gente andava pelas ruas com um som tocando os maiores sucessos delas, performando e cantando ao mesmo tempo. Quando eu estava sozinho as pessoas achavam que eu era a Xuxa, imagina! Foi um Carnaval inesquecível!”.

DAVI SABBAG


Sai num bloco um dia com duas amigas e acabei conhecendo uma galera digase de passagem diferente (risos). A partir de um certo ponto não me lembro de NADA. Só lembro de ter acordado no outro dia na casa de um boy num clima de namoro, a mâe dele fazendo almoço, me apresentando pra família e eu nem sequer sabia o nome dele. Fiquei feliz de estar viva mas não via a hora de ralar de lá. Esse foi meu auge de “locuragi” carnavalesca.”

JADE BARALDO


U S IM LACRE fotografia ANDREW FRANÇA modelos LUCAS MARQUES e ERICO VALENÇA beleza e styling AMÓS FONSECA




calรงa ZARA moletom COCA-COLA JEANS corselet vintage VERSACE


tênis RENNER / meias LUPO / calça ZARA moletom COCA-COLA JEANS / corselet vintage VERSACE




camisa HERING cueca CALVIN KLEIN meias LUPO



camisa xadrez CALVIN KLEIN camisa listrada OSKLEN camisa azul COCA-COLA JEANS camisa mostarda ZARA camisa branca HERING blazer ZARA




luvas GALPÃO 262 / espartilho LANÇA PERFUME



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fotografia RENAN YURI VEIGA modelos ANDRÉ QUINTILIANO, GUILHERME HOLANDA, JERÔNIMO OTTO, LUCAS LEITE, MAURO BARBOSA, MURILO BARROS e VICTOR MOTA vestuário ROMANCE BRAZIL agradecimentos TRÁFEGO MODELS

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Cinzas sátiras, dourados profanos

fotografia UBIRA MACHADO modelo FERNANDO MOURA (UNA MODELS) styling DJALMA RABÊLO (UNA MODELS) produção TACIANA RAMOS





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EVELRY

fotografia PEDRO FONSECA modelos ERICK BEZERRA, ERICO VALENÇA e LUIZA MEDEIROS makeup ALINE DEMARTINO assistência RENAN YURI VEIGA colagens TIAGO LUÍS



camisa e short IGUALES vestido DIVINA PELE


lenรงo usado como turbante JULIO CESAR NYC



camisetas CAVALERA calรงas BIOTWO


camisa e clazer ZARA gravata JULIO CESAR NYC



chapeu vintage PRADA saia/vestido JULIO CESAR NYC



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