Cartola #5

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AMOR Adam Martinakis / Andre Costa Breno Freitas / Chrystian Henrique / Paulo Anjos Pedro Fonseca / Rayssa Lima / Suelen Romani #5


@ u s ev k (84) 98718-27 5 8 / 9 8 7 1 8 -4 0 4 7 / 2 0 1 0 -2 2 1 4 Av. Prudente de M orais, 5 9 6 2 , C a n d el รก r i a , N a t a l -R N, 5 9 0 6 5 -5 0 0 u s ev k b y v k .c om.b r


#EDITORIAL

Amar é preciso S

egundo o filósofo grego Aristófanes, inicialmente os seres humanos eram duplos, completos e classificados em três gêneros: masculino duplo, feminino duplo e masculino feminino (andrógino). Mas os deuses dividiram em duas partes o que era uma unidade. E assim o ser humano, mutilado, viu-se obrigado a procurar a parte que lhe faltava. Os andróginos procuraram sua outra metade – criando a heterossexualidade. E os masculinos e femininos duplos fizeram o mesmo – criando a homossexualidade. Hoje, indo além do mito, não seria exagero dizer que o ser humano tem a necessidade de se sentir completo, amar e de ser amado, mesmo que por ele mesmo. Amar trata-se, portanto, de se entregar para se sentir completo; de seguir uma jornada, solitária ou não. Quando cada vez mais o ódio surge e se propaga disfarçado de opinião política e religião, falar sobre amor é mais que preciso. É por isso que para a 5ª edição da Cartola mergulhamos nesse sentimento de corpo e alma: refletimos sobre amor próprio, relacionamentos líquidos e o amor na moda e arte, trouxemos uma exposição do artista polonês Adam Martinakis e 6 editoriais e séries artísticas exclusivas de artistas nacionais e internacionais. Esperamos que goste do conteúdo e ajude-nos a propagar mais amor pelo mundo! Paulo Anjos Diretor

CONTEÚDO

07 Eros 12 Amor fraternal 20 O terceiro travesseiro 26 The Lovers 38 King of hearts 46 Aquarius 52 Cores do amor 56 O amor resiste 62 O padrão é amar-se 63 Eu aprendi a me amar 66 Relações líquidas

CARTOLA #5 Direção artística, edição e projeto gráfico PAULO ANJOS Gerenciamento VITOR FRANÇA

Textos ALANA CASCUDO CRISTIANO FÉLIX TALLYSON MOURA

CAPA Fotografia PEDRO FONSECA Modelo HENRIQUE FRAGA Styling PAULO ANJOS Beleza ALINE DEMARTINO Flor ART’S CRIAÇÔES

CARTOLA É UMA PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE DE MODA E ARTE. FICA EXPRESSAMENTE PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA. OS ARTIGOS AQUI PUBLICADOS SÃO DE EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES E NÃO REFLETEM A OPINIÃO DA REVISTA.

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EXCLUSIVIDADE

AV. SENADOR SALGADO FILHO, 1653, LOJA 2. LAGOA NOVA, NATAL-RN @TOQUEDEMIDIAS | WWW.TOQUEDEMIDIASCOMUNICACAO.COM.BR


Eros

Fotografia ANDRE COSTA Modelo FELIPE SANTOS (MEGA MODEL) Styling GABRIEL BUENO Beleza MAX ARAUJO






AMOR FRATERNO Fotografia CHRYSTIAN HENRIQUE Direção criativa ALE GOMES (AG ASSESSORIA) Styling PAUL RIKES

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Moda RAFAEL SILVERIO, GIORGIO ARMANI, ALÉM JEWELS, NAM DESIGN, FILIPE FREIRE e BRECHÓ DE COISINHAS Agências DAS HAUS MODELS, MEGA MODELS BRASIL, OXYGEN MODELS e THE AGENT MODEL


O terceiro travesseiro Fotografia BRENO FREITAS Modelos PEDRO ALMEIDA, GABRIEL SATO e JULIA DELAY (JUST MODELS) Beleza SHEILA KAISER Produção RAFAEL MOURA Looks JOHN JOHN e NOVO LOUVRE







lovers lovers THE

Apaixonado, um casal expressa bons e maus momentos do relacionamento nas suas personalidades. Romantismo, uma pitada de clássico, outra de contemporâneo. O amor, como a moda, é uma caminhada junto ao tempo e emoções Fotografia PEDRO FONSECA Modelos HENRIQUE FRAGA (TRÁFEGO MODELS) e CECÍLIA DIAS (HI-LO MODELS) Direção de arte e styling PAULO ANJOS Beleza ALINE DEMARTINO Assistente de produção RENAN YURI VEIGA Flores ART’S CRIAÇÕES Agradecimentos MESTRE HAROLDO MARTINS (PAKUA)


CAPA

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moletom KENON BUCCA


camiseta KENON BUCCA cueca CAVALERA buquê ART’S CRIAÇÕES


calรงa BIOTWO


Cecília veste vestido REGINA SALOMÃO Henrique veste sobretudo DORINHOS blazer e calça BIOTWO bota CAVALERA



vestido CARLOS MIELE / camisa CALVIN KLEIN saia MARCELU FERRAZ / bota CAVALERA



Henrique veste camisa KENON BUCCA cueca CAVALERA Cecília veste blusa DIVINA PELE



KING of HEARTS Supremo, o amor a nós mesmos ultrapassa as barreiras da imagem e nos torna unificados ao Universo, desconstruindo estéticas das quais somos condicionados pelo fato de sermos diferentes. King of Hearts é um convite a pensarmos sobre a capacidade de um amor maior envolvendo a identificação com o coletivo como algo universal e não diferenciado pelo gênero, raça, nacionalidade ou status social Fotografia SUELEN ROMANI Modelo ARJAN MAHDAVI Styling JESSICA HUEZO Beleza BRITANNI ANTOINETTE Assistente de fotografia ANASTACIA ANTONOV


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Página anterior camisa IIJIN calça SOB correntes e luvas LA MAISON DE FASHION Nesta página camisa floral IIJIN body chain harness LA MAISON DE FASHION véu ERICA KOESLER


coroa LA MAISON DE FASHION / capa luna ALEXANDRA GRECCO camisa IIJIN / calรงa SOB


coroa LA MAISON DE FASHION / capa luna ALEXANDRA GRECCO / camisa IIJIN calรงa SOB / sapato WB



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blazer e calça IIJIN / calça jeans SOB / tênis ADIDAS


A qua ri us Fotografia ANDRE COSTA Modelos BRUNO CAMERON (MEGA MODEL) / 40 GRAUS, NAAMÃ FERREIRA (ROCK MGT) e FABRICIO SANTANA (ALLURE) Styling WOTHO Beleza VITOR GASPAR Looks JOÃO PIMENTA e FIORUCCI







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#ARTEECULTURA

Cores do amor Entre corações científicos e romantizados, há muitas nuances e versões multicolores. Nem tudo é preto e cinza, certo e errado. Para o amor, vale mais a subversão que a imobilidade. É o que faz pulsar a criação de grandes artistas e estilistas desde sempre Texto CRISTIANO FÉLIX Colagem PAULO ANJOS

U

m casal atravessa o salão, coloca-se na linha de frente e começa a se acariciar. De uma poética sexual comovente, a cena mostra que imperativo de amar é proteger o outro. Ao fundo, a projeção de um coração científico. No espaço, soava o exagero melodramático de Pimpinela cantando “Olvidame y pega la vuelta”, diretamente dos anos 1980. Foi quando o clima mudou e os dois se despiram, sem pudores. A moda não desapareceu com a ausência de roupas. Foi, ao contrário, quando começou a ser apresentada. Na primeira fila, eu observava aquilo com o mais honesto interesse. “Quero virar sua pele, quero fazer uma capa, quero tirar sua roupa” era o que cantava Mallu Magalhães no exato instante da troca. As peças eram amplas, estruturadas e, claro, com uma forte pegada de androginia. Mostravam, naquele primeiro ato do desfile intitulado “Amor”, do mineiro Ronaldo Fraga no São Paulo Fashion Week, que dois corpos podem ser um só. “Em tempo de guerra, falar de amor é um ato de subversão e resistência”, defende o estilista. Arruinar com ideias pré-concebidas sobre o amor continuou a ser objetivo. Surgiram a poesia do couro recortado a laser, os poemas eróticos de Hilda Hilst gravados em tecido; tricôs feito casulos, com largas tramas confeccionadas pelas artesãs da Vila da Seda, no Paraná, de onde a Hermès retira 30% dos seus fios de seda. Impactante até para a obra

de Jorge Amado, com uma Dona Flor e seus dois maridos, o desfile terminou repleto de camas e cinco modelos abraçados em cada uma delas. Fruto do poliamor. Quando a passarela é vetor do verbo amar, torna-se impossível dissociar o poder da representação. E o criador mais importante de imagens de todos os tempos é, sem dúvida, Alexander McQueen. Seja pondo a modelo em um anel de fogo no outono/inverno de 1998 ou com robôs disparando pistolas de tinta a pintar ao vivo um vestido branco, o estilista transformou o desfile em performance, elevando-o ao patamar de arte. O amor para ele era a mais exultante das emoções humanas e foi a moda que lhe deu força de expressão para agonias e êxtases, muitas vezes até de forma autobiográfica. Os desenhos de McQueen (1969-2010), “um verdadeiro romântico, no sentido ‘byroniano’ da palavra” eram “uma expressão dos mais profundos, em muitas ocasiões obscuras, aspectos de sua imaginação”, declarou Andrew Bolton, responsável pela mostra Savage Beauty, sucesso de público no Museu Motropolitan, em Nova York, um ano depois de sua morte. O curador evoca a linha de pensamento do escritor inglês Lord Byron caracterizada pelo grotesco. Egocentrismo, pessimismo e, por vezes, até satanismo estão entre suas formas de expressão artística. O título da exposição, CARTOLA cartolamag.com

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aliás (Beleza Selvagem, em inglês), fora inspirado na frase tatuada no braço direito do estilista: “o amor olha com a mente e não com os olhos”. Ela faz parte da obra “Sonho de uma noite de verão”, de Shakespeare. PINTANDO O AMOR

Avassalador, intenso, traumático, insubstituível. Quando o amor apresenta diversas faces, torna-se impossível de esquecer. O ser amado não sai da cabeça, despeito de o desenlace de corpos ser um trauma primeiro. O amor é sentimento derradeiro. Só se desfaz ao largo de muitos anos. Ou quiçá custe uma vida inteira. Tratando a dor da separação de Diego Rivera, Frida Kahlo pintou o Autorretrato de Tehuana – obra também conhecida como “Diego em Meu Pensamento”, em que a artista aparece vestida com um traje típico mexicano e o rosto do ex-marido na testa, demonstrando a dificuldade de afastá-lo do pensamento. A tela começou a ser feita no ano do divórcio do casal e só foi concluída três anos mais tarde, em 1943. Ora vibrante, ora melancólico, o estilo de Frida pulsa na pintura. Ela não é apenas sua arte, mas sua completa expressão. Desde o vestir até o despir-se, em tudo permeia o amor. Assim como a arte, sua relação com a moda não é uma via de mão simples. Difícil de categorizar, mas fácil de interpretar: é visceral. Corria o ano de 2016 quando a Vogue abriu a exposição “As aparências enganam: os vestidos de Frida Kahlo”, com curadoria de Circe Henestrosa Conoan em pleno jardim da Casa Azul. Seus vestidos, incluindo tehuanas, além de coletes que lhe serviram de suporte para o corpo traumatizado pelos trágicos acidentes ocorridos desde a adolescência e da bota que ela mesma desenhou depois que a perna direita foi amputada, foram destaque. As 300 peças ficaram guardadas por mais de 50 anos em um dos banheiros da casa e tiveram de passar por restauro para que fossem apresentadas da forma que inspirou ícones como Jean Paul Gaultier, Christian Lacroix, McQueen e Dolce & Gabbana. No enunciado da exposição que tive o prazer de visitar, estava avisado: a mostra não falava apenas do amor como força motriz e das convicções políticas de Frida para usar sua indumentária étnica. Ela propõe tradição e incapacidade como novos componentes que nutriram a decisão da pintora de abusar da excentricidade, mostrando estilo próprio. Frida foi figurinista de si mesma. No caminho oposto da associação, a moda está vívida em outro autorretrato histórico, datado de 1609. Rubens Brandt pintou uma obra barroca na qual aparece com a esposa Isabela, no ano em que os dois se casaram. Ao lado do casal, uma planta conhecida como madressilva simboliza o amor conjugal e a união. 56

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FRIDA KAHLO Autorretrato como Tehuana, 1943

Pablo Picasso (1881-1973) também teve musas. Muitas, por sinal. Uma delas, Marie-Thérèse Walter (1909-1977), foi retratada em diversas obras que estão atualmente em cartaz na Tate Modern, em Londres. O levante das 80 peças foi feito pela historiadora Diana Widmaier-Picasso, neta do casal, e resultou na exposição Picasso 1932: Love, Fame and Tragedy, que celebra os 365 dias em que o artista pintou algumas das suas mais importantes obras, entre elas O Sonho, um retrato da amante. Naquela época, apesar de gozar férias com Marie-Thérèse na Riviera, o artista era casado com Olga Koklova, que sofria de um distúrbio nervoso, sem contar com o ciúme patológico provocado pelas traições do marido. Nessa história de amor conturbada houve espaço para passeios na praia que geraram pinceladas leves e abstratas, para a tensão entre as duas mulheres, abrindo espaço para pinceladas mais fortes e rostos com expressão de dor. A confecção de bustos de gesso com as formas da amante e alguns retratos nus que foram expostos na sua primeira retrospectiva na Galeria Georges Petit, em Paris, consolidando sua posição como o maior artista vivo do mundo. Isso sem falar num episódio marcante, que quase tirou a vida de Marie-Thérèse. “O amor por sua musa se intensificou quando ela remava no Rio Marne e quase se afogou, con-


traindo uma doença transmitida pela água que a deixaria muito magra e temporariamente sem cabelo. A jovem que ele achava ser sua salvadora agora precisava ser salva. Ele a pintava obsessivamente como banhista e ninfa: nadando, se afogando e sendo puxada para fora da água” escreveu Diana numa papelaria da exibição. Outra obra clássica a figurar entre as melhores pinturas sobre o amor da história da arte é O Beijo, de Gustav Klimt. Proibida por ser considerada um símbolo erótico durante muito anos, a obra de 1908, segundo alguns críticos, questiona a identidade de gênero das figuras retratadas. Pauta mais atual não há. Inconteste, porém, é a posição de uma delas, de joelhos. Envolta por um manto dourado, a cena coloca o amor – e o sexo, indissociavelmente – entre duas pessoas como algo sagrado. E que assim perdure, apesar de maldizerem criadores e criaturas.

PABLO PICASSO O Sonho, 1932

GUSTAV KLIMT O Beijo, 1908 CARTOLA cartolamag.com

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#ARTEECULTURA

o amor resiste Texto PAULO ANJOS Capaz de criar conexões e de transformar, o amor é inspiração para diversas obras artísticas desde a Pré-história. O registro mais antigo dessa relação é a obra “Os Amantes de Ain Sahkri” (10.000 a.C), escultura com conotação sexual que apresenta dois amantes, talhados de uma mesma pedra e unidos por milênios. Ainda hoje inúmeros artistas usam esse sentimento como inspiração, como o polonês Adam Martinakis. Nascido em Luban, é formado em arquitetura de interiores, decoração, design industrial e artes digitais, e há 18 anos vem trabalhando e experimentando novas formas de criação, unindo tecnologia e arte. Martinakis descreve sua arte como “uma ponte que conecta o espirito ao material, o vivo e o ausente, o pessoal e o universal; compondo cenários do não-existente, o eco do vazio vivo imerso na metafísica da percepção”. Suas obras digitais renovam o conceito de escultura e empregam aspectos do fotorrealismo e surrealismo para explorar sentimentos e condições do ser humano. “The Remains of a Memory”, por exemplo, aborda a história de um casal que caiu em um sono eterno, cujo amor e memórias resistem ao tempo e compõem a estrutura de fibras de seus corpos. Assim como a primeira escultura sobre amor que se tem registro, aqui, sob novas tecnologias, o amor também busca resistir ao tempo.


XXX, 2017

Cocoon, 2017

The remains of a memory, 2013 60

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The erotic void_II, 2017 CARTOLA cartolamag.com

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Alien_software, 2016

For the love of gold, 2017 62

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Return to Eden, 2017


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O padrão é

amar-se Texto TALLYSON MOURA Arte AUGUSTO B. M.

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nossa imagem refletida no espelho diz muito sobre quem somos. O tom da pele, o formato do rosto, as curvas do corpo, as cicatrizes e os fios de cabelo - brancos, pretos, lisos ou encaracolados. As combinações são muitas, e cada detalhe nos faz únicos. Não existe ninguém igual a ninguém. MARAVILHA! Aprender a ver beleza na diferença e a valorizar o que nos particulariza é, acima de tudo, libertador. Quando desistimos de seguir padrões para seguir quem somos, a insegurança dá lugar à confiança; do autoconhecimento, emerge a autoestima; as comparações cessam. Não é preciso ter a boca de Cauã Reymond, os olhos de Henri Castelli ou o abdome de Marlon Teixeira para arrasar. O amor próprio é a maneira como a gente se enxerga, como a 64

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gente se posiciona no mundo. Não é algo definitivo, é uma construção perene, uma conquista diária. Ter um olhar amoroso sobre si tem muito a ver com a forma como acomodamos as frustrações, os planos que não saíram como queríamos. É sobre, mesmo considerando o entorno, aprender a não se sentir culpado por atender primeiro às suas necessidades, e não permitir, em hipótese alguma, ser maltratado, desvalorizado, desqualificado. O amor próprio não é agressivo. É calmo, tranquilo, seguro, não fala muito. Muitas vezes, porém, ecoa como um protesto pelo direito de existir. Eu posso sim me amar com meu corpo fora dos padrões. O padrão, aliás, deveria ser - e no fundo é - amar-se.


#COMPORTAMENTO

#EUAPRENDI AMEAMAR

Convidamos quatro potiguares para compartilharem suas experiências com o amor próprio e o resultado foi inspirador! Clicados sob o olhar sensível da artista visual Rayssa Lima, MC Priguissa (32), Ivan Baron (20), Lucas Azevedo (25) e Janvitu (22) contaram-nos um pouco sobre seus processos e caminhadas rumo ao amar-se Colagem PAULO ANJOS Fotos RAYSSA LIMA Agradecimentos ALINE DEMARTINO Siga @rayssalima e confira mais histórias em nosso site www.cartolamag.com. Compartilhe a sua usando #euaprendiameamar no Instagram.


MC Priguissa

Ivan Baron

Quando começou a se amar de verdade? Qual foi o “start” para que você começasse a dar mais valor a quem você é?

de 2015, que foi a época que me entendi e me identifiquei como um Homem Trans. JANVITU: Acho que se amar é algo constante. Não tem um ponto de partida muito menos um ponto final do amor próprio, é um exercício diário! Todo dia você tem que lembrar para você mesmo que ninguém é melhor que ninguém, estamos passíveis a fazer parte da sociedade, de nos relacionar, de nos vestir como quisermos, de comer muito sem ser “O ESFOMEADO”!

MC PRIGUISSA: O amor próprio é essencial para que você possa realizar seus sonhos. Sem ele, você acaba se sentindo impotente. A partir do momento em que descobrimos quem realmente somos, encontramos outras centenas de pessoas que compartilham das mesmas experiências que as nossas. Desse modo, o start para entender melhor em que contexto estamos inseridos parte dessa convivência em comunidade. IVAN: Quando desisti de seguir um padrão e criar meu próprio conceito de corpo perfeito para atender minhas expectativas. A partir do momento que eu poderia usar isso para outras pessoas se inspirarem e aceitarem do jeito que são. LUCAS: Na transição entre minha infância e minha adolescência, quando comecei a ser reprimido por coisas que não se adequavam a sociedade normativa, comecei a não gostar do que eu era, e de quem eu era. Não consigo definir um gatilho para o momento em que passei a me amar de novo, ou que passasse a me valorizar mais, foi um processo. O Eu que construí depois de anos, precisou passar por muitas coisas ruins para entender o que era, afinal, o amor próprio. Mas acho que o momento que me senti mais feliz e mais completo, foi quando tudo fez sentido, em janeiro 66

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Quando você se empodera do seu corpo, nada lhe abala, pois é nele que se busca força para enfrentar as dificuldades que a vida traz.

Ivan Baron


#COMPORTAMENTO

Às vezes tenho a impressão que a sociedade cobra muito mais de pessoas Trans a respeito da estética, precisamos ser homens perfeitos para sermos um Homem. Hoje em dia desconstruí muita coisa, e só uso o que me sinto bem, confortável, me olho no espelho e vejo se me agrado, sem me preocupar no que as pessoas vão pensar.

Lucas Garu

Sabemos que o amor próprio vai muito além de gostar da sua própria aparência. O que você mais gosta em você? MC PRIGUISSA: Procurar evoluir como tal e conviver de forma harmoniosa com a família são características essenciais. Gosto de ser quem eu sou, independente de como me veem. IVAN: Amo e reconheço as minhas diferenças, elas me fazem ser único e inspirador para outras pessoas. Essa é a mensagem que tento passar. Me sinto corajoso por fazer algumas coisas que nem acredito que fiz, mas graças a autoaceitação isso é possível. LUCAS: Tenho o costume de me olhar todos os dias no espelho, sorrir, ter gratidão pela vida e pelas oportunidades que me aparecem de viver o bem, e de fazer o bem. Vejo as minhas mudanças físicas acontecendo da forma como sempre imaginei... Diante de tudo isso, vejo quanto sou forte e quantas lutas já travei por mim mesmo, e só posso chegar à conclusão de que não estaria aqui se não me amasse tanto! E o que me faz sentir cada vez melhor é a vontade de ajudar o próximo... JANVITU: O amor próprio é um exercício, pois constantemente estamos mudando, e como é algo natural, é preciso que a gente acompanhe nossas mudanças sempre tendo em mente que ser quem você é, é algo bom!

Lucas Garu

Janvitu CARTOLA cartolamag.com

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#COMPORTAMENTO

Relações líquidas em ódios sólidos

Tudo é touch, compartilhável, líquido, inflamável, passageiro, curtido, propagado! Entre o digital e o ser humano, Black Mirror seria tão distópico assim? Texto ALANA CASCUDO Colagem TIAGO LUÍS

A

internet derrubou barreiras geográficas, mas construiu o muro invisível da falsa segurança do usuário. Usuário este que se considera detentor de superpoderes ao ficar online, sente-se protegido pelos códigos, e esquece que a web também é feita de gente. São relações extremadas. O amor é líquido, mas, também, ardente. Por meio de aplicativos você pode escolher quem quiser: em um toque, uma foto e um milésimo de segundo, você optará pelo seu próximo parceiro. E, em outra aba, no mesmo senso, pode tornar tudo líquido, passageiro e já verificar uma nova pessoa, uma nova opção. Neste mesmo fluxo, fazer um comentário maldoso, mas, claro, ‘inofensivo’, afinal, quem se importa com uma crítica ‘construtiva’ sobre sua imagem no Facebook? Se, na vida análogica, você só concede permissão para os seus amigos íntimos entrarem na sua casa, na vida digital tudo é público, tudo é de ‘todos’. Mas até que ponto isso é saudável? Vivemos um tempo de modernidade, bem como de retrocesso. Presenciamos crimes de ódio, cyberbullying, páginas preconceituosas, 68

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intolerância política, divulgações de fotos sem consentimento, e até aquele comentário aparentemente ‘inofensivo’ que mina a autoestima de quem está atrás da rede até uma crescente insuportável. Então, você me pergunta: existe amor em tempos de internet? Há um novo amor, um encontro entre amigos, um grupo do whatsapp que encurta as distâncias de relacionamentos. Um amor por quantidade, e, às vezes, não qualidade. Um amor que precisa lembrar que o mundo offline coexiste. Todo assunto que ainda está em processo de vivência e construção nos cega um pouco. Logo, é difícil para a primeira geração que está realmente vivendo a experiência full da internet entender todos os prismas e consequências reais. Mas é importante a consideração do que é líquido, e sólido, do reflexo da sociedade, e do que é exacerbado pela web. Por isso te pergunto: existe amor e EMPATIA em tempos de internet?


@a loh a b e a ch clu b n a t a l ( 8 4) 84 98640 - 5120 R . Er i van Fran รง a, 1 8 4 - Pon t a Ne gra , Na t a l - RN, 590 90 - 230

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