Entre Costuras - Um Masterplan para o bairro do Bom Retiro

ENTRE COSTURAS

UM MASTERPLAN PARA O BAIRRO DO BOM RETIRO ANA CAROLINA CABRAL CARNEIRO

ENTRE COSTURAS UM MASTERPLAN PARA O BAIRRO DO BOM RETIRO ANA CAROLINA CABRAL CARNEIRO

Orientação: Profº. Me. Tiago Azzi Collet e Silva Co-orientação: Prof ª. Me. Juliana Bechara Saft

Trabalho Final de Graduação | Arquitetura e Urbanismo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo

São Paulo | 2019

Dedico esse trabalho aos meus avĂłs, Osvaldo e Joana (in memorian), com todo amor do mundo e gratidĂŁo.

* O monumento presente na foto é o monumento à Ramos de Azevedo, inaugurado em 1934 e se situava em frente a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Na década de 60 começou a ser removido e transferido para a Cidade Universitária, onde pode ser encontrado atualmente.

¹ O poema apresentado na epígrafe é de autoria do aluno da Escola Politécnica Alexandre Machado, que aprendeu a língua falada pelos imigrantes italianos no Bom Retiro do ínicio do século 20.

SODADES DE ZAN BAOLO¹

Tegno sodades dista Paulicéa, Dista cidade chi tanto dimiro!

Tegno sodades distu çeu azur, Das bellas figlia lá du Bó Ritiro.

Tegno sodades dus tempo perdido Xupano xoppi uguali d’un vampiro; Tegno sodades dus begigno ardenti Das bellas figlia lá du Bó Ritiro.

Tegno sodades lá da Pontigrandi, Dove di notte si vá dá um giro, I dove vó spiá come n’un speglio As bellas figlia la du Bó Ritiro Andove tê tantas piquena xique, Chi a genti sê querê dá un sospiro, Quano perto per acaso a genti passa Das bellas figlia lá du Bó Ritiro.

Tegno sodades, ai, de ti - Zan Baolo!

Terra chi eu vivo sempre n’un martiro, Vagabundeano come un begiaflore, Atraiz das figlia lá du Bó Ritiro.

Tegno sodades da garôa fria, Agitada co sopro du Zefiro, Quano ia durmia ingopa o collo ardenti Das bellas figlia lá du Bó Ritiro.

Alexandre Ribeiro Marcondes Machado

RESUMO

Os centros urbanos de grandes cidades podem acabar com o tempo degradados e preteridos pelos subúrbios, que apresentam uma densidade espraiada, são carentes de infraestrutura e forçam os moradores a percorrerem grandes distâncias diariamente para ir ao trabalho ou estudar.

Os centros urbanos apresentam toda uma infraestrutura consolidada, de saúde à mobilidade, o que por si só, já justifica a necessidade de adensar essas partes da cidade. Esse trabalho busca garantir que o bairro do Bom Retiro, localizado no centro expandido da cidade de São Paulo, atinja todo o seu potencial habitacional e comercial e que esteja preparado para absorver as demandas ambientais, populacionais e comerciais do futuro com qualidade e respeito à cidade, configurando espaços públicos de qualidade.

Palavras-chave: Centro Urbano, Bom Retiro, espaço público.

ABSTRACT

Urban centers in large cities could end up degraded and neglected by the sprawling suburbs, lacking infrastructure, and forcing residents to travel long distances daily to work or study. Urban centers have a consolidated infrastructure, from health to mobility, which in itself justifies the need to densify these parts of the city. This work seeks to ensure that the Bom Retiro neighborhood, located in the expanded São Paulo’s Downtown, reaches its full housing and commercial potential and is prepared to absorb future environmental, population and commercial demands with quality and respect for the city. , setting up quality public spaces.

Keywords: Urban Center, Bom Retiro, public space.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Primeira planta imperial da cidade de São Paulo, 28 Figura 2 – Estação da luz em 1903, 29 Figura 3 – Desinfectório Central em 1910, 29 Figura 4 – Planta da cidade de São Paulo em 1895, 30 Figura 5 – Ampliação da Planta da cidade de São Paulo, 1905, 31 Figura 06 – Ampliação da Planta Geral da Cidade de São Paulo, 1913, 32-33 Figura 7 – Ampliação do Mapa da cidade de São Paulo em 1924, 34-35 Figura 8 – Ampliação do Mapa da cidade de São Paulo em 1943, 36-37 Figura 9 – Ampliação do Mapa da cidade de São Paulo em 1952, 38-39 Figura 10 – Mapa base da Sé, 40 Figura 11 – Inserção Urbana, 41 Figura 12 - Perfil da ilha de Calor Urbana, 60 Figura 13 – Mapa de temperatura da Superfície da cidade de São Paulo, 61 Figura 14 – Mapa de índice foliar, 62 Figura 15 – Mapa de classificação térmica, 63 Figura 16 - Galpões da Rua Lopes Trovão, 68 Figura 17 - Galpões da Rua Rodolfo Miranda, 68 Figura 18 - Lixo na calçada da Rua Tenente Pena, 68 Figura 19 - Estado da Calçada na Rua José Paulino, 68 Figura 20 - Estado da Calçada na Rua Sólon, 69 Figura 21 - Lixeira na Rua José Paulino, 69 Figura 22 - Lixeira na Rua Sólon, 69 Figura 23 - Galeria Nova José Paulino, 70 Figura 24 - Lombroso Fashion Mall, 70 Figura 25 - Lombroso Fashion Mall, 70 Figura 26 - Interior das quadras sendo utilizadas como estacionamento, 70 Figura 27 - Estacionamento na Rua Júlio Conceição com a Rua Anhaia, 70 Figura 28 - Esquema de concepção, 72 Figura 29 - Pedestres no leito carroçável José Paulino, 87 Figura 30 - Pedestre desatento atravessando a rua José Paulino, 87 Figura 31 - Final da Rua José Paulino, 87

Figura 32 - Banco sendo utilizado na Rua José Paulino, 87 Figura 33 - Totem de Boas-Vindas, 87 Figura 34 – Estrutura para os vendedores ambulantes, 94 Figura 35 – Detalhe de banco, lixeira e paraciclo proposto, 95 Figura 36 – Detalhe do ombrelone proposto, 96 Figura 37 – Detalhe do ombrelone proposto, 97 Figura 38 – Detalhe mapa e painel digital, 98 Figura 39 – Detalhe poste e galeria técnica proposta, 99 Figura 40 – Detalhe balizador e grelha de proteção de árvores, 100 Figura 41 – Detalhe canteiro de rua, 101 Figura 42 – Detalhe canteiro, ciclovia e calçada, 102 Figura 43 – Detalhe galeria técnica no corte da rua, 103 Figura 44 – Detalhe praça de entrada, 104-105 Figura 45 – Imagem ilustrativa das propostas para a praça de entrada, 106-107 Figura 46 – Detalhe praça proposta, 108-109 Figura 47 – Imagem ilustrativa da praça proposta, 110-111 Figura 48 – Detalhe tipo de implantação das propostas para a rua, 112-113 Figura 49 – Detalhe tipo de implantação das propostas para a rua, 114-115 Figura 50 - Imagem ilustrativa da quadra tipo, 116-117 Figura 51 - Detalhe calçadão proposto, 118-119 Figura 52 - Imagem ilustrativa do calçadão proposto, 120-121 Figura 53 - Proposta de distribuição das lojas - Plano diretor de Renovação do Centro - 1999, 124 Figura 54 - Novos usos - plano de 1999, 124 Figura 55 - Centro de Normal, MasterPlan de 2015, 125 Figura 56 - Diagrama de águas pluviais, 125 Figura 57 - Corte do Uptown Circle, 125 Figura 58 - The Uptown Circle pronto e sendo utilizado pela população, 126 Figura 59 - O que as pessoas mais gostaram na intervenção, 127 Figura 60 - O que as pessoas gostariam que existisse no espaço, 127 Figura 61 - Diferentes tampas, 128 Figura 62 - Diferentes Postes, 128 Figura 63 - Diferentes paginações de piso, 128 Figura 64 - Mapeamento das condições existente, 128 Figura 65 - Levantamento da identidade visual, 129 Figura 66 - Corte existente e corte proposto, 129 Figura 67 - Planta proposta, 129 Figura 68 - Detalhe das calçadas em esquinas, 129 Figura 69 - Planta de iluminação, 129

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados demográficos da Subprefeitura da Sé, 41 Tabela 2 - Análise FOFA Aspectos Físicos, 44 Tabela 3 - Análise FOFA - Mobilidade – Carro, 46 Tabela 4 - Análise FOFA - Mobilidade - Transporte Público, 48 Tabela 5 - Análise FOFA - Infraestrutura Urbana, 50 Tabela 6 - Análise FOFA - Uso e ocupação do solo, 52 Tabela 7 - Análise FOFA – População, 54 Tabela 8 - Análise FOFA – Habitação, 56 Tabela 9 - Padrões de classificação termal, 60 Tabela 10 - Máximos e Mínimos mensais em um período de 30 anos, 66 Tabela 11 - Máximos e Mínimos diários em um período de 30 anos, 66 Tabela 12 - Predominância do vento mensal, 67 Tabela 13 - Análise FOFA - Verde, Recursos Naturais e Bioclimatologia, 67 Tabela 14 - Caracterização da Rua José Paulino, 90 Tabela 15 - Levantamento quantitativos das estruturas físicas da rua José Paulino, 90

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Empregos formais por setor de atividade na Subprefeitura da sé, 2012, 41 Gráfico 2 – Percentual de área construída por tipo de uso na subprefeitura da Sé, 2014, 42 Gráfico 3 – Percentual de terrenos vagos na Subprefeitura da Sé, 2014, 43 Gráfico 4 – Percentual de domicílios vagos no território 2000 e 2010, 43 Gráfico 5 – Famílias em Cortiços, 2014, 43 Gráfico 6 - Atropelamentos - Proporção de acidentes com vítimas envolvendo pedestres, para cada 10 mil habitantes, 46 Gráfico 7 - Acidentes de trânsito - Proporção total de acidentes de trânsito com vítimas, para cada 10 mil habitantes, 46 Gráfico 8 - Acidentes com bicicleta - Proporção de acidentes com vítimas envolvendo bicicletas, para cada 100 mil habitantes, 48 Gráfico 9 - Violência Racial - Proporção de ocorrências de violência, racismo e injúria racial, para casa 10 mil habitantes, 54 Gráfico 10 - População preta e parda - Proporção da população preta e parda, em relação ao total da população (%), 54 Gráfico 11 - Favelas - Proporção de domicílios em favelas, em relação ao total de domicílios (%), 56 Gráfico 12 - Área verde por habitante - Proporção de metros quadrados (m²) de cobertura vegetal, arbórea e rasteira, por habitante da Subprefeitura, 58 Gráfico 13 - Emissão de Poluentes atmosféricos - Emissão de Material Particulado (MP) Gerado por combustão e desgaste de pneus, freios e pistas, em relação à área do distrito, 58 Gráfico 14 -Arborização viária - Proporção de árvores no Sistema Viário, em relação à área total do distrito (km²), 58

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Localização das indústrias no Bom Retiro, 42 Mapa 2 – Aspectos físicos, 44-45 Mapa 3 – Mobilidade – Carro, 46-47 Mapa 4: Mobilidade - Transporte Público, 48-49 Mapa 5: Infraestrutura Urbana, 50-51 Mapa 6: Uso e ocupação do solo, 52-53 Mapa 7: Densidade populacional, 54-55 Mapa 8: Habitação, 56-57 Mapa 9: Verde e Recursos Naturais, 58-59 Mapa 10 -Morfologia Urbana, 70-71 Mapa 11 - Proposta para mobilidade, 73 Mapa 12 - Proposta para Uso e Ocupação do Solo, 74 Mapa 13 - Proposta para Uso e Ocupação do Solo - Fluxo de pessoas gerado pelo Centro Cultural Proposto, 75 Mapa 14 - Proposta para Habitação, 76 Mapa 15 - Proposta para Verde e Recursos Naturais, 77 Mapa 16 - Análise da Área de intervenção, 80-81 Mapa 17 - Propostas para a Área de intervenção, 82-83 Mapa 18 - Localização e quantidade de postes, 88-89 Mapa 19 - Localização e quantidade de árvores, 88-89 Mapa 20 - Localização e quantidade de bancos, 88-89 Mapa 21 - Hipsometria, 88-89 Mapa 22 - Uso do solo por lote, 88-89

SUMÁRIO

1. Entendendo a Complexidade do Macro 1.1 Histórico

Da cidade ao bairro, 28

O bairro, 29

A várzea, 34

Metropolização e morfologia urbana, 36

1.2 Caracterização

O Distrito do Bom Retiro dentro da Subprefeitura da Sé, 40

Caracterização física e social, 44

Caracterização bioclimática, 60

1.3 Diagnóstico, 68 1.4 Masterplan

Concepção e Contextualização, 72

Propostas, 73

2. Delimitando o Micro 2.1 Área de intervenção, 80 2.2 Propostas para potencializar o local a partir do Masterplan, 82

3. Agindo no local 3.1 Implantando o Masterplan na escala local

Análise, estudo e levantamentos, 86

Desenvolvimento e ações, 91

3.2 Desenho Urbano para a rua José Paulino

Apresentação gráfica das ações propostas, 94

Detalhes, 103

4. De onde vieram as principais ideias - Estudos de Caso

Estudo de Caso 1 – Uptown Norma, 124

Estudo de Caso 2 – Centro Aberto, 126

Estudo de Caso 3 – Broadway, 127

Considerações finais, 130 Referências Bibliográficas, 132 Anexos, 135

OBJETIVOS

GERAIS

I. Levantamento da história do bairro;

II. Realização da caracterização físico, social e climática do território;

III. Identificar as principais fragilidades;

IV. Desenvolver propostas para potencializar as qualidades do bairro.

ESPECÍFICOS

I. Criação de espaços públicos de qualidade;

II. Reforçar a referência do bairro na dinâmica da cidade;

III. Otimizar e valorizar a infraestrutura existente;

IV. Valorização do comércio local;

V. Valorizar os espaços livres, de cultura e de lazer presentes no território.

21

Organização do trabalho

1. Entendendo a complexidade do macro 1.1 Histórico

Busca apresentar a complexidade do bairro a partir de uma perspectiva histórica, localizando-o na cidade de São Paulo desde o início de seu loteamento, entendendo como se deu a ocupação das diferentes partes do bairro, o período em que ocorreram e os motivos que levaram ao adensamento populacional pontual.

1.2 Caracterização

É uma análise quantitativa e qualitativa do bairro no século XXI. Faz-se uma comparação com os demais bairros da subprefeitura da Sé, com o objetivo de encontrar pontos a serem trabalhados e melhorados e de igualar com as condições pré-existentes dentro da subprefeitura.

1.3 Diagnóstico

Sintetiza os dados encontrados anteriormente, contribuindo para delimitação dos principais problemas a serem trabalhados no Masterplan do bairro.

1.4 Propostas Gerais – Masterplan

O Masterplan elaborado busca reimaginar o bairro do Bom Retiro propondo uma vida urbana mais vibrante em sintonia com o meio ambiente e inserido na política global de desenvolvimento sustentável.

Com base em todos os dados recolhidos e apresentados e na análise desenvolvida, definiu-se as diretrizes e estratégias a serem seguidas.

2. Delimitando o micro: propostas para potencializar o local

Para ilustrar as propostas do Masterplan na escala local, escolheuse a rua José Paulino para a elaboração de um projeto urbano. Para que o desenho proposto para a rua fosse potencializado e as chances de se alcançar os objetivos pretendidos fossem maiores, realizou-se um estudo do entorno e elaborou-se propostas específicas para a área em questão.

22

3. Agindo no Local

O projeto urbano busca transformar e reativar a principal rua do Bom Retiro. Através da restruturação dos usos dos espaços pelos diferentes atores da vida pública busca-se garantir uma usabilidade e vitalidade do espaço público em tempo integral.

Pretende-se potencializar os espaços públicos existentes, integrando-os a um desenho contemporâneo combinado com uma melhora ambiental com o objetivo de criar espaços públicos de qualidade.

4. De onde vieram as principais ideias - Estudos de Caso

Os estudos de caso apresentados foram escolhidos para dar suporte às diretrizes de projetos e deveriam atender pelo menos um dos seguintes pré-requisitos:

1) Ser sustentável.

2) Ser direcionado ao pedestre e estar inserido em um centro urbano;

3) Ter uma metodologia de projeto coerente e completa;

O primeiro estudo de caso se refere ao plano de renovação urbana feita para o centro da cidade de Normal, em Illinois, Estados Unidos da América (EUA). Apesar de possuir uma realidade social diferente da encontrada na cidade de São Paulo, esse estudo de caso destaca como a temática sustentável pode ser inserida dentro do projeto urbano.

O segundo estudo de caso – Rua Galvão Bueno – foi escolhido por estar mais próximo do contexto existente no bairro do Bom Retiro.

Por fim, o Streetscape Masterplan da Broadway foi escolhido por apresentar uma metodologia de projeto mais completa. Apesar da área de projeto ser apenas uma rua, oferece uma visão ampla do projeto urbano em camadas – desde o desenho da rua até a identidade visual da mesma na cidade. Assim como o projeto da Rua Galvão Bueno.

23

24

INTRODUÇÃO

O Bom Retiro faz parte do centro expandido da cidade de São Paulo, e pela proximidade do centro de uma grande metrópole, apresenta uma completa rede de infraestrutura. Porém, essa infraestrutura é subutilizada no território.

O loteamento e arruamento do bairro se deram de maneira acelerada e voltado para uma população mais operária, a partir da criação de lotes de frente estreita (MANGILI, 2009). Com a implantação da estrada de ferro Santos-Jundiaí, a condição operária do bairro foi consolidada, transformando-o no território ideal para a implantação de indústrias, pelo fácil escoamento pela ferrovia.

Além das indústrias e dos operários que se instalaram no bairro, o Desinfectório Central na rua Tenente Pena determinou um novo fluxo de pessoas circulando pelo bairro: os imigrantes que chegavam pela estação de trem. Ao desembarcar do trem, o caminho a ser seguido era pela Rua dos Imigrantes, e com o fluxo de pessoas circulando pelo bairro, criou-se a condição ideal para a instalação de comércios na região.

As indústrias se afastaram do centro de São Paulo ao longo dos anos, o Desinfectório Central se mudou para o bairro da Sé, os comércios se adaptaram à diferentes ondas de imigração e hoje, a atividade comercial e as estações de metrô e trem presentes no território geram um grande fluxo de pessoas em horário comercial.

A baixa densidade associada aos usos não residenciais (lojas, galpões, indústrias, escolas) resultam em um bairro sem vida aos finais de semana e durante a noite, abrindo possibilidades para situações violentas, despejo irregular de resíduos sólidos, edificações abandonadas e sentimento de insegurança, colaborando para a construção de um bairro degradado.

Esse trabalho busca realizar um levantamento da história local e uma caracterização física, social e bioclimática das condições atuais com o objetivo de desenvolver um Masterplan para o bairro. O Masterplan proposto é um conjunto de soluções pontuais que visam a criação de espaços públicos de qualidade associado a propostas econômicas, de mobilidade, de uso do solo, habitação e meio ambiente com o objetivo de promover o adensamento populacional. O conjunto de propostas desenvolvidas, inclui um projeto urbano para a rua José Paulino (Antiga rua dos Imigrantes), buscando através da revitalização da rua, alavancar toda a área comercial.

25

1 ENTENDENDO A COMPLEXIDADE DO MACRO

1.1 Histórico

Da Cidade ao Bairro

Até meados do século XIX, São Paulo não tinha grande importância para a economia do país (ROLNIK, 2009), sendo o maior destaque devido ao seu papel de entreposto comercial, configurando o ponto de cruzamento dos caminhos do Sul, interior do estado, Mato Grosso e Minas Gerais. O núcleo urbano da cidade ainda era composto apenas pelo “triângulo” que continha o povoamento original, sendo delimitado pelas ruas Direita, XV de Novembro e São Bento, o chamado “Triângulo Histórico”, representado na Figura 1. O centro urbano formado pelo “triângulo” era circundado por duas faixas concêntricas de caráter semiurbano ou rural. A primeira faixa é conhecida como “Cinturão das Chácaras” e viria a compor o centro expandido atual.

A segunda, é o “Cinturão Caipira” que nos anos seguintes viriam a se tornar os demais bairros, afastando cada vez mais esses “cinturões” do centro da cidade.

Figura 1 - Primeira Planta Imperial da Cidade de São Paulo, 1810

Fonte: (SMUL, 200-?)

A Figura 1, de 1810, corresponde à época em que o núcleo urbano se concentrava dentro do “triângulo histórico”. A área delimitada como “Guaré” fazia parte do Cinturão de Chacáras e concentrava grandes propriedades. Os campos do Guaré eram uma planície aluvionar junto 28

Figura 2 - Estação da Luz em 1903

Fonte: ARRUDA, 2016

Figura 3 - Desinfectório Central em 1910

Fonte: São Paulo Antiga, 2019

às várzeas dos rios Tamanduateí e Tietê. Com o avanço da urbanização para as periferias do “triângulo” inicial, o Cinturão de Chácaras passa a ser incorporado à cidade, iniciando o processo de loteamentos e arruamento de grandes propriedades. Esse processo se deu de maneira rápida nos Campos do Guaré devido à proximidade com o centro e, o bairro do Bom Retiro foi um dos primeiros a ser loteado e arruado.

A década de 1870 marca o início das grandes transformações ocorridas na cidade em decorrência da economia cafeeira. A posição econômica da cidade se transformou totalmente com a expansão do cultivo de café - introduzido inicialmente no Vale do Paraíba, por volta de 1850 (ROLNIK, 2009). A posição privilegiada de São Paulo no entroncamento de diversos caminhos favoreceu o aparecimento da ferrovia, que se tornou um importante organizador do espaço urbano, definindo novos usos e ocupações e induzindo a ampliação da malha viária da cidade. (AMADIO, 2004)

Com a inauguração da estrada de ferro Santos-Jundiai (1867) e a construção da Estação da Luz (1867) passam a ser instalados nos Campos do Guaré, edifícios de suporte à atividade ferroviária, tais quais oficinas, depósitos de materiais de construção, armazéns, que valorizaram a área.

(MANGILI, 2009)

Com a implantação da rede ferroviária, inicia-se a urbanização efetiva da área dos Campos do Guaré. A ferrovia valorizou as terras de várzea do Tietê e Tamanduateí, atraindo indústrias e imigrantes, influenciando na urbanização dos bairros adjacentes e determinando os eixos de expansão da cidade. Nos arredores das estações surgiram povoados que se tornaram polos atrativos de estabelecimentos fabris e novos assentamentos. Segundo Langenbuch (apud (MANGILI, 2009)) esse foi o principal processo de expansão urbana até a primeira década do século XX.

O acúmulo de capitais na cidade durante a virada do século, atraiu um intenso fluxo imigratório. Entre 1888 e 1900 passaram por São Paulo quase 900 mil imigrantes, dos quais 70% eram provenientes da Itália (ROLNIK, 2009).

Juntamente com o intenso fluxo imigratório, a cidade passou pelo seu primeiro surto industrial, baseado principalmente nas indústrias têxteis e alimentícias, que ocuparam as várzeas por onde passavam as ferrovias. Nos arredores das estações e próximo às fábricas, se formaram as primeiras colônias de imigrantes (ROLNIK, 2009).

A proximidade do centro e a presença da linha férrea atraíram as primeiras indústrias para os bairros do Bom Retiro, Barra Funda, Brás, Pari e Mooca.

O BAIRRO

As características de bairro operário no Bom Retiro advêm do loteamento realizado nas chácaras. Diferente dos loteamentos vizinhos, como o do Campos Elíseos, por exemplo, onde os loteadores buscaram atrair uma população de alta renda e, para tal, lançaram mão de lotes de dimensões mais generosas, os loteadores do Bom Retiro buscaram um maior aproveitamento das quadras, com a criação de lotes de frente estreita. A precariedade de infraestrutura e a dimensão dos lotes direcionaram as vendas para uma população menos abastada, gerando um bairro populoso de operários onde grande parte vivia em cortiços.

29

Figura 4 - Planta da cidade de São Paulo em 1895.

Na Figura 4, de 1895, o loteamento do Bom Retiro ainda não havia chego às margens dos rios Tietê e Tamanduateí, provavelmente devido às épocas de cheia do Rio Tietê, que alagariam as margens, dificultando a sua ocupação. Nesse mapa, podemos ver, que parte do bairro ainda não tinha sido construída, encontrando-se tracejada, indicando que foi planejada e está em período de execução. A área reservada ao Parque da Luz é uma quadra maior do que é nos dias atuais.

Na Figura 5, de 1905, o Parque da Luz apresenta um perímetro semelhante ao atual, sendo menor do que o representado no mapa de 1895. O projeto de retificação do rio Tietê já aparece em planta, Fonte: (SMUL, 200-?)

30

Figura 5 - Ampliação da Planta da cidade de São Paulo, 1905. (Anexo 01)

identificando os futuros limites do bairro em direção ao rio. As linhas em vermelho são as linhas de bonde operantes na cidade na época do levantamento. Em 10 anos o bairro já concretizou a urbanização e ocupação do solo prevista em 1895. Nesse mapa já aparecem edifícios importantes da história paulistana, tais como o Desinfectório, na Rua Tenente Pena e a Escola Politécnica, que anos mais tarde se mudaria para a Cidade Universitária, cedendo o espaço para o Centro Paula Souza.

Fonte: (SMUL, 200-?)

31

Na Figura 6, de 1913, é possível verificar que os limites do bairro mudaram com o passar do tempo. Em 1913, a rua Visconde de Taunay e a rua Afonso Pena eram limitantes do bairro no sentido oeste-leste (identificação feita pela linha traço-ponto em verde), limite esse que hoje é feito pela Avenida Rudge e a Avenida Tiradentes.

Ou seja, o bairro “aumentou”, incorporando quadras do bairro da Barra Funda e do Bairro da Luz.

32

Figura 6 - Ampliação da Planta Geral da Cidade de São Paulo em 1913. (Anexo 02)

Fonte: (SMUL, 200-?)

33

A VÁRZEA

A expansão do bairro para a várzea foi decorrente da retificação do rio Tietê nas décadas de 1930 e 1940, que criou dentro do bairro uma extensão de terras não urbanizadas. O alargamento da Avenida Tiradentes e a abertura da Avenida Santos Dumont resultaram em demolições e desmembramentos de lotes, além de criar uma ligação com a zona norte da cidade.

Dez novas quadras surgiram na porção noroeste e o parcelamento do solo seguiu a característica predominante, com lotes de frente estreitas e voltados para uma população mais operária.

Na Figura 7, de 1924, a retificação do rio prevista em mapas anteriores já se encontra em andamento. Um ponto interessante de se notar nesse mapa é que a Rua dos Imigrantes já teve seu nome alterado para rua José Paulino.

34

Figura 7 - Ampliação do Mapa da cidade de São Paulo em 1924. (Anexo 03)

Fonte: (SMUL, 200-?)

35

Na Figura 8, de 1943, a retificação dos rios se encontra completa no trecho do bairro do Bom Retiro, e a urbanização inicia seu processo em direção às margens.

METROPOLIZAÇÃO E MORFOLOGIA URBANA

A década de 1930, marca o início do processo de metropolização da cidade de São Paulo e da expansão da malha rodoviária.

A intensificação do processo de industrialização e o crescimento populacional, acarretaram mudanças socioeconômicas que se refletiram no tecido urbano como transformações físicas.

Complementando o processo de expansão da urbanização iniciado pela presença das ferrovias, a malha rodoviária leva a área edificada para novos espaços suburbanos.

Inicia-se também, a criação de novas centralidades na cidade.

Na década de 40, a concentração de comércios e serviços voltados para a elite já havia se deslocado para a área conhecida como “Centro Novo”, e o “Centro Velho” passa a ter uma população predominantemente popular.

(MANGILI, 2009)

A expansão da cidade não se deu apenas no aumento do seu perímetro, mas também pelo adensamento dos lotes existentes.

De 1930 a 1954, ocorreram três processos de adesamento no Bom Retiro. Segundo Mangili (2009), são eles:

1) o aumento da área construída do lote sem demolição;

2) substituição da edificação, com demolição e construção de nova, e;

3) desmembramentos e remembramentos de lotes.

A área mais densa do bairro, mesmo que o loteamento tenha se dado em um curto período de tempo igualmente em todo o território, foi aquela mais próxima ao centro da cidade e à Estação da Luz, devido ao intenso fluxo 36

Figura 8 - Ampliação do Mapa da cidade de São Paulo em 1943. (Anexo 04)

Fonte: (SMUL, 200-?)

37

de pessoas e às possibilidades de comércio apresentadas por ele.

Um segundo fator que contribuiu para essa diferença, foi a rede de bondes, cuja proximidade de acesso favorecia o adensamento urbano.

Desde a década de 1950, o Bom Retiro apresenta as suas características atuais no que diz respeito aos lotes, ruas e o comércio da região. (AMADIO, 2004)

Na Figura 9, de 1952, podemos observar a progressiva substituição das linhas de bonde (linha vermelha contínua) pelas linhas de ônibus (linha vermelha tracejada). As ruas marcadas com as cores verde e amarelo representam as artérias principais da cidade nessa década: as ruas José Paulino, Julio Conceição, dos Italianos e Sólon.

38

Figura 9 - Ampliação do Mapa da cidade de São Paulo em 1952. (Anexo 05)

Fonte: (SMUL, 200-?)

39

1.2 Caracterização

O Distrito do Bom Retiro dentro da Subprefeitura Da Sé

A Subprefeitura da Sé conta com um grande contraste social dentro do seu território. Ao mesmo tempo em que apresenta bons índices econômicos, sociais e culturais, possui um considerável contingente de pessoas em situação de vulnerabilidade social – moradores de rua e usuários de drogas. Em contrapartida a territórios valorizados dentro da dinâmica urbana, como os bairros da Consolação, Bela Vista e Liberdade, a Subprefeitura apresenta precárias condições de moradia como um grande contigente de cortiços (657 em toda a subprefeitura) e aproximadamente 49 prédios ocupados de acordo com dados da Subprefeitura da Sé em 2018.

Atualmente os principais desafios da zeladoria incluem a recuperação dos espaços degradados, melhorar a segurança dentro do território, promover a redução de pontos viciosos de resíduos, lidar com a população que “reside” embaixo de viadutos, a manutenção de praças, canteiros e largos, sem contar a condição arbórea da região, que além de deficiente, precisa de atenção no tocante a poda e remoção.

Figura 10 - Mapa Base da Sé

Fonte: Subprefeitura da Sé

A Figura 10, é o mapa base da Subprefeitura da Sé e destaca o Distrito do Bom Retiro, que contém os bairros da Luz, Ponte Pequena 40

e Bom Retiro. O Bairro do Bom Retiro se encontra às margens dos rios Tietê e Tamanduateí e se encontra densamente construído, como pode ser observado na Figura 11, que representa uma vista áerea da região.

Figura 11 - Inserção Urbana

Fonte: Google Maps, 2019.

Dentro da Subprefeitura o distrito do Bom Retiro apresenta a menor densidade demográfica (8.473,00 hab/km²) enquanto que a Bela Vista (26.715,38 hab/km²) e a República (24.774,34 hab/km²) são os distritos mais populosos, como pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1 – Dados demográficos da Subprefeitura da Sé

Distrito

Área (km²)

População

Densidade Demográfica (hab/km²)

Bela Vista

2,60

69.460

26.715,38

Bom Retiro

4,00

33.892

8.473,00

Cambuci

3,90

36.948

9.4743,84

Consolação

3,70

57.365

15.504,05

Liberdade

3,70

69.092

18.673,51

República

2,30

56.981

24.774,34

Santa Cecília

3,90

83.717

21.465,89

Sé

2,10

23.651

11.262,38

Total

26,20

431.106

16.454,42

Fonte: Prefeitura Municipal de São Paulo, 2010

Os empregos formais por setor de atividade na Subprefeitura da Sé se encontram representados no Gráfico 1, que demonstra que a principal ocupação dessa subprefeitura se encontra no setor de serviços, seguido do comércio, a construção civil e outros tipos de serviços são os que menos empregam pessoas nesses bairros.

Gráfico 1 - Empregos formais por setor de atividade na Subprefeitura da Sé, 2012

Fonte: (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016)

41

O distrito do Bom Retiro concentra a maior porcentagem de empregos na indústria dentre os demais. Inclusive, porcentagem maior do que a do Município de São Paulo, representado pela segunda coluna intutulada “MSP” do Gráfico 1. O Mapa 1 apresenta a localização dessas indústrias, que são, em sua maioria, têxteis.

Mapa 1 - Localização das indústrias no Bom Retiro

Fonte: Autora com dados do Google Maps, 2019

Gráfico 2 - Percentual de Área construída por tipo de uso na subprefeitura da Sé, 2014

Fonte: (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016)

Ilustrando os dados de densidade populacional apresentados na Tabela 1, o Gráfico 2 expressa as porcentagens de área ocupada nos distritos por uso. Os distritos mais populosos, são aqueles em que o uso residencial (residencial vertical + horizontal) é superior ao uso não residencial. No caso, o Bom Retiro apresenta a menor densidade populacional da subprefeitura, mas não é o bairro com a maior porcentagem de área não residencial (73,8%), perdendo apenas para o distrito da Sé (87,1%).

42

Gráfico 3 - Percentual de terrenos vagos na Subprefeitura da Sé, 2014

Fonte: (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016)

A vista aérea apresentada na Figura 11 nos da uma pista de como o percentual de terrenos vagos dentro do bairro do Bom Retiro vai ser baixo, fato comprovado no Gráfico 3 que apresenta o percentual de terrenos vagos na Subprefeitura da Sé no ano de 2014, onde o bairro possuía apenas 2% de sua área composta por terrenos ainda vagos. Em relação aos domicílios vagos, o bairro apresentou uma queda de 13 pontos percentuais, apresentando 9,1% dos domicílios existentes ainda vagos como pode ser observado no Gráfico 4.

Gráfico 4 - Percentual de domicílios vagos no território (2000 e 2010)

Fonte: (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016)

Os 657 cortiços da Subprefeitura da Sé, abrigam 6.865 famílias, das quais 571 residem no distrito do Bom Retiro, considerando que cada família é composta em média por 3 pessoas, o percentual de pessoas vivendo em cortiços dentro do Bom Retiro é equivalente a 5,05% da população total residente do distrito.

Gráfico 5 - Famílias em Cortiços, 2014

Fonte: (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016)

43

Caracterização física e social do bairro

Aspectos Físicos

Entre as margens dos rios Tietê e Tamanduateí, o Bom Retiro é “cortado” por um córrego que se encontra canalizado desde o ínicio do loteamento do bairro. Possui três áreas sujeitas a inundação, nos pontos mais baixos. A topografia da área apresenta uma inclinação suave e gradual em direção aos rios, representada no Mapa 2 pelas curvas mestras a cada 5 metros.

Tabela 2 - Análise FOFA Aspectos Físicos FOFA ASPECTOS FÍSICOS Fraquezas

Áreas sujeitas a inundação

Oportunidades

Ter uma rede de drenagem preparada para lidar com episódios atípicos

Forças

Topografia suave Relação com os rios

Ameaças

Episódios climáticos atípicos Fonte: Autora

44

Mapa 2: Aspectos fĂ­sicos

Fonte: Autora com dados do Geosampa, 2019.

45

Mobilidade - Carro - Principais acessos : - Avenida Presidente Castelo Branco, Avenida do Estado, Avenida Rudge e Tiradentes/ Avenida Santos Dumont; - Rodízio: o bairro faz parte da restrição para circulação de veículos em sua integridade (MIAN), apresentando também uma pequena porção a Sul pertencente à Zona Máxima de Restrições à Caminhões (ZMRC); - Zona Azul: a porção central do bairro apresenta a aplicação de zona azul para estacionamento nas ruas, em especial nos locais mais próximos aos comércios;

O Mapa 3 apresenta a localização de todos os acidentes automobilísticos ocorridos no bairro de 2013 a junho de 2019. Os acidentes com vítima incluem motos e carros, mas não atingiram pedestres e podem ou não ter tido uma vitima fatal.

Gráfico 6 - Atropelamentos - Proporção de acidentes com vítimas envolvendo pedestres, para cada 10 mil habitantes

Fonte: CET, IBGE, Seade, 2018 apud Rede Nossa São Paulo, 2019 Gráfico 7 - Acidentes de trânsito - Proporção total de acidentes de trânsito com vítimas, para cada 10 mil habitantes

Fonte: CET, IBGE, Seade, 2018 apud Rede Nossa São Paulo, 2019 Tabela 3 - Análise FOFA - Mobilidade - Carro FOFA MOBILIDADE - CARRO

46

Fraquezas

Quantidade de acidentes e de atropelamentos

Oportunidades

Criação de vias mais seguras para os diferentes modais de transporte e para pedestres

Forças

Facilidade de acesso por outros bairros da cidade

Ameaças

Diminuição do fluxo de pessoas por um possível sentimento de medo das vias.

Fonte: Autora

Mapa 3: Mobilidade - Carro

Fonte: Autora com dados do Geosampa, 2019.

47

Mobilidade - Transporte Público

1. Ônibus:

- Pontos de ônibus: o bairro possui 63 pontos de ônibus, concentrados majoritariamente nas porções Sul, Leste e Oeste do território;

- Linhas de ônibus: as linhas de ônibus atravessam o bairro, porém há evidente carência de transporte público na porção Noroeste do território.

2. Trem

O bairro não possui estações de trem internas, e as linhas que atendem o bairro são a Júlio Prestes e Luz.

3. Metrô

As estações de metrô existentes estão concentradas na porção Leste do território, deixando grande parte do bairro sem acesso direto às linhas.

4. Ciclovia

O bairro possui uma rede de ciclovias instalada de forma a permitir a circulação entre as extremidades Sul e Norte, bem como a Leste e Oeste. A porção Noroeste do território apresenta uma malha cicloviária curta, compondo apenas um equipamento de lazer (Centro de Esportes Radicais) sem relevância dentro do sistema de transportes.

Gráfico 8 - Acidentes com bicicleta - Proporção de acidentes com vítimas envolvendo bicicletas, para cada 100 mil habitantes

Fonte: CET, IBGE, Seade, 2018 apud Rede Nossa São Paulo, 2019 Tabela 4 - Análise FOFA - Mobilidade - Transporte Público FOFA MOBILIDADE - TRANSPORTE PÚBLICO Fraquezas

Impossibilidade de acessar a porção norte do bairro através de transporte público. Restando como opção de deslocamento apenas o carro ou o trajeto a pé.

Oportunidades

Trabalhar a comunicação dos diferentes modais, oferecendo distintas opções de trajeto e com acesso a todas as partes do bairro.

Forças

Os meios de transporte existentes estão inseridos na rede municipal e possibilitam o deslocamento entre bairros.

Ameaças

A falta de opções de transporte coletivo levar a uma predominância e preferência pelo transporte individual, o que acarretaria em maiores números de congestionamento pelo bairro.

Fonte: Autora

48

Mapa 4: Mobilidade - Transporte PĂşblico

Fonte: Autora com dados do Geosampa, 2019.

49

Infraestrutura Urbana

A infraestrutura urbana analisada compreende a iluminação pública existente, os postes da região e as calçadas. No caso das calçadas, por não se tratar de um dado mapeado, a sua análise foi realizada com base em investigação in loco pelo bairro.

Os dados de sanemanento também foram analisados e considerados na análise FOFA. Tabela 5 - Análise FOFA - Infraestrutura Urbana FOFA INFRAESTRUTURA URBANA Fraquezas

Gestão ineficiente dos resíduos sólidos. Aos finais de semana há presença de grandes quantidades de lixo nas ruas do bairro. E durante a semana, também é possível encontrar concentrações de lixo nas ruas com menor fluxo de pedestres.

Passeio público deteriorado pelo tempo, falta de manutenção e acúmulo de intervenções de concessionárias que possuem redes subterrâneas.

Oportunidades

Integrar os catadores no sistema de coleta de lixo Centralizar toda a infraestrutura subterrânea de modo a evitar quebras desnecessárias ao passeio público. E também, evitar que outras redes sejam atingidas por engano. Por exemplo, a rede da Sabesp, possibilitando gerar economia (facilitando a manutenção) e evitar desperdícios.

50

Forças

Possibilidade de acessos de caminhões de lixo. Presença de catadores de lixo.

Ameaças

Inundações como consequência do acúmulo de lixo em bocas de lobo Fonte: Autora

Mapa 5: Infraestrutura Urbana

Fonte: Autora com dados do Geosampa, 2019.

51

Uso e ocupação do solo

O uso e ocupação predominantes do solo no Bom Retiro podem ser observados no Mapa 6, que mostra uma predominância de comércios na porção central do bairro e um baixo número de quadras em que a predominância seja residencial.

Tabela 6 - Análise FOFA - Uso e ocupação do solo FOFA USO E OCUPAÇÃO DO SOLO Fraquezas

Concentração de quadras com o mesmo uso predominante.

Nos conjuntos em que é predominante indústrias as ruas são mais “desérticas” com um fluxo de pedestres limitado

Oportunidades

Incentivar o uso misto dentro e entre as quadras para evitar pontos “desérticos”

Forças

Área comercial do bairro é reconhecida na dinâmica da cidade

Ameaças

O principal serviço oferecido na região (comércio têxtil) pode enfraquecer com as vendas online Fonte: Autora

52

Mapa 6: Uso e ocupação do solo

Fonte: Autora com dados do Geosampa, 2019

53

População

De um modo geral, o bairro é pouco adensado. Possui pontos concentrados de pessoas na favela do Moinho, em duas ocupações próximas ao conjunto residencial Parque do Gato, e no centro do bairro, próximo às estações de metrô e trem. A área de uso predominantemente comercial na porção sul, e a porção norte, possuem um espraiamento da população.

Gráfico 9 - Violência Racial - Proporção de ocorrências de violência, racismo e injúria racial, para casa 10 mil habitantes

Fonte: SSP, IBGE, Seade, 2018 apud Rede Nossa São Paulo, 2019

Gráfico 10 - População preta e parda - Proporção da população preta e parda, em relação ao total da população (%)

Fonte: Censo demográfico, IBGE, 2010 apud Rede Nossa São Paulo, 2019

Tabela 7 - Análise FOFA - População FOFA POPULAÇÃO Fraquezas

Fluxo de pessoas concentrado no horário comercial Presença de trabalho escravo segundo o Ministério do Trabalho Vulnerabilidade dos imigrantes

Oportunidades

Incentivar o aumento da densidade populacional Incentivar atividades entre as diferentes culturas

Forças

Diversidade de culturas e etnias no bairro

Ameaças

Vulnerabilidade da população em geral Fonte: Autora

54

Mapa 7: Densidade populacional

Fonte: Autora com dados do Geosampa, 2019

55

Habitação

Apesar de densamente construído, com uma densidade populacional baixa, o bairro ainda apresenta cortiços, favela e ocupações irregulares.

Gráfico 11 - Favelas - Proporção de domicílios em favelas, em relação ao total de domicílios (%)

Fonte: SEHAB, HabitaSampa, IBGE, 2018 apud Rede Nossa São Paulo, 2019

Tabela 8 - Análise FOFA - Habitação FOFA HABITAÇÃO Fraquezas

Presença de favelas, cortiços e edificações desocupadas Edificações subutilizadas como estoque

Oportunidades

Propostas de reuso, requalificação, renovação, etc.

Possibilidades de relação de proximidade entre casa e trabalho

Forças

Localização próxima de meios de transporte de massa (metrô e trem) Infra-estrutura urbana (postos de saúde, escolas, etc.) completa e acessível

Ameaças

Risco de incêndios nas edificações utilizadas como estoque Fonte: Autora

56

Mapa 8: Habitação

Fonte: Autora com dados do Geosampa, 2019

57

Verde e Recursos Naturais

O bairro conta com um Parque Municipal – Parque da Luz, onde há a maior concentração de verde do bairro, como pode ser observado no Mapa 9, no qual também é possível observar a ausência de arborização urbana em algumas ruas/e trechos de rua.

Gráfico 12 - Área verde por habitante - Proporção de metros quadrados (m²) de cobertura vegetal, árborea e rasteira, por habitante da Subprefeitura

Fonte: SVMA, 2015 apud Rede Nossa São Paulo, 2019

Gráfico 13 - Emissão de Poluentes atmosféricos - Emissão de Material Particulado (MP) Gerado por combustão e desgaste de pneus, freios e pistas, em relação à área do distrito

Fonte: Inventário de emissões atmosféricas do transporte rodoviário de passageiros do munpicipio de São Paulo, 2015 apud Rede Nossa São Paulo, 2019 Gráfico 14 -Arborização viária - Proporção de árvores no Sistema Viário, em relação à área total do distrito (km²)

Fonte: SMDU: Geosampa, 2015 apud Rede Nossa São Paulo, 2019

58

Mapa 9: Verde e Recursos Naturais

Fonte: Autora com dados do Geosampa, 2019.

59

Caracterização Bioclimática Ilha de calor

O termo “ilha de calor” foi usado pela primeira vez em 1958 por G. Manley para designar a diferença positiva de temperatura entre o Figura 12 - Perfil da ilha de Calor Urbana centro e a periferia das cidades.

Uma ilha de calor é formada quando a energia disponível nas aglomerações urbanas é superior à do campo envolvente. Os fatores que colaboram para o armazenamento de energia nas cidades são: a concentração e a geometria dos edifícios, a poluição atmosférica, a redução da evaporação e o calor antrópico. (GANHO, N., 1999). A Figura 12 apresenta um perfil genérico da ilha de calor urbana, demonstrando a queda de temperatura do centro para as regiões menos densas e mais arborizadas da cidade.

Em São Paulo, o primeiro estudo sobre a problemática foi realizado por Lombardo (1985), através da verificação da variação diurna, sazonal e espacial de temperatura e umidade relativa em 45 pontos de coleta.

Por que o Bom Retiro faz parte de uma ilha de calor?

A cidade de São Paulo se encontra em uma latitude aproximada de 23º21’ e longitude de 46º44’, próximo ao trópico de capricórnio, em uma área de transição entre os climas tropicais úmidos de altitude (com período seco definido) e aqueles subtropicais (permanentemente úmidos). Com um relevo colinoso e de planícies aluviais e terraços dos rios Tietê e afluentes, a cidade se encontra a uma altitude predominante entre 720m e 850m. (TARIFA; ARMANI, 2001 apud BARROS, H.R.; LOMBARDO, M.A.)

Barros e Lombardo (2016) desenvolveram o mapa de Temperatura da Superfície (Figura 13) através da análise dos dados resultantes de análise integrada e descritiva dos índices de área foliar, temperatura da superfície, padrões de uso do solo e por fim, realizaram a classificação termal da ilha de calor urbana (Figura 15). A temperatura da superfície foi estimada através da banda termal das imagens de satélite, que após transformadas em camadas vetoriais, puderam ser sobrepostas a outros índices, como a cobertura foliar da superfície. A análise da temperatura da superfície permitiu que os autores estabelecessem 3 padrões de classificação que podem ser observados na Tabela 9.

Tabela 9 - Padrões de classificação termal

Padrões da Classificação termal Ilha de calor forte

ΔT>8ºC

Ilha de calor moderada

5ºC <ΔºT<7ºC

Ilha de frescor

ΔT<4ºC Fonte: BARROS, H.R.; LOMBARDO, M.A. (2016)

60

Fonte: TRINDADE P.M.P.; FILHO W.P. (2016)

Figura 13 – Mapa de temperatura da Superfície da cidade de São Paulo

Fonte: BARROS, H.R.; LOMBARDO, M.A. (2016)

61

Figura 14 – Mapa de indíce foliar

Fonte: BARROS, H.R.; LOMBARDO, M.A. (2016)

62

Figura 15 – Mapa de classificação térmica

Fonte: BARROS, H.R.; LOMBARDO, M.A. (2016)

63

A ilha de calor forte apresenta o coeficiente da diferença de temperaturas da superfície superior a 8°C, em relação aos ambientes rurais. Há formação de um extenso arquipélago de calor, composto por um conjunto de seis ilhas urbanas de calor forte, distribuídas em eixos que são compostos por conjuntos de distritos (Figura 14) (BARROS, H.R.; LOMBARDO, M.A.).

O distrito do Bom Retiro se localiza entre os eixos 1 e 2. No mapa da Figura 22, o Bom Retiro é representado pelo número 6 e apresenta as médias anuais de Temperatura da Superfície em que a temperatura mínima e máxima variam de 23,1º a 27ºC e a sua ilha de calor varia entre moderada e de calor forte.

A vegetação na cidade e no bairro

A vegetação é o principal meio de combate às ilhas de calor urbana. No mapa da Figura 13, podemos observar que as “ilhas de frescor”, com temperaturas mais amenas do que as encontradas nos eixos de calor, são os bairros com maiores índices de cobertura verde, tais como Jardins, Morumbi, Paralheiros etc. A cobertura verde nas cidades, implantada com estudo apropriado, auxilia na:

a. Qualidade do ar, através da fixação dos poluentes e microrganismos nocivos à saúde;

b. Recicla os gases atmosféricos através da fotossíntese;

c. Aumenta a permeabilidade do solo por meio das raízes das plantas.

Barros e Lombardo (2016) também desenvolveram o mapa do índice de área foliar de São Paulo, que pode ser observado na figura 23. O Bom Retiro, representado pelo número 6 no mapa, apresenta um índice de área foliar entre 0 – 0,01, o mais baixo da classificação elaborada pelos autores.

Quais são as contribuições da bioclimatologia para melhorar as condições térmicas da área?

Através da caracterização bioclimática, pode-se definir uma estratégia de projeto urbano adequada ao local de estudo. É importante que a caracterização abranja pelo menos 30 anos de levantamento climatológico e que se pontue valores normais e os extremos no período estudado.

Os dados climáticos podem ser coletados em campos de estudo, sendo eles os campos térmico, hidrométrico, de insolação e de vento. A partir desses dados chegamos a um produto de riscos climáticos, que virá a ser a principal componente relacionada ao conforto bioclimático no projeto urbano. A seguir, os campos de estudo são detalhados com as informações que precisam ser coletadas.

1. Campo térmico: evidenciar o padrão térmico, identificar a ilha de calor urbano, etc.

a. Temperatura: valores máximos e mínimos diários assim como valores extremos. Permite gerir corretamente as necessidades térmicas dos edifícios determinando a necessidade ou não de equipamentos de aquecimento e refrigeração.

64

2. Campo higrométrico e pluviométrico: permite evidenciar contrastes espaciais de conforto ou desconforto bioclimático;

a. Umidade Relativa: determina diferentes graus de desconforto bioclimático e situações de stress térmico.

b. Precipitação: determinar as probabilidades de ocorrência de determinados limiares de quantitativos de precipitação em 24 horas. A determinação dessas ocorrências é importante para a gestão dos riscos de inundação e de movimentação de vertentes, e pela adequação das infraestruturas de escoamento de água pluviais.

3. Campo de insolação: determinar com base nas coordenadas, altura e azimute do sol ao longo do dia, evidenciar as áreas favorecidas e desfavorecidas de acordo com essa variável. Condiciona a adequação do tipo de materiais de construção e da cor em função dos seus comportamentos radiativos e de aspectos arquitetônicos dos edifícios.

4. Campo de vento: delimitar áreas favoráveis à acumulação de poluentes, condicionando a localização de indústrias poluentes para fora das áreas de incidência de inversões térmicas. O conhecimento dessa componente permite adequar a geometria urbana com orientação a largura das ruas, disposição e alturas dos edifícios, aumento na dispersão dos poluentes, e do conforto bioclimático dos usuários, diminuindo os efeitos dinâmicos do vento e stress térmico.

a. Vento: definição das direções dominantes, direção a que estão associadas com mais frequências maiores velocidades médias horárias e as maiores rajadas, direção com as mais baixas temperaturas e a frequência de ocorrência de situações de “calma” e sua incidência intradiurna.

5. Campo acústico: nível de ruídos no período da manhã, tarde, noite; durante a semana e finais de semana; e verificação da conformidade ou não com as normas reguladoras.

Caracterização bioclimática do bairro do Bom Retiro

1. Campo térmico

Com os estudos de Barros e Lombardo (2016), podemos identificar que o bairro se encontra dentro de uma ilha de calor urbana (Figura 24), com altas temperaturas da superficíe e um índice foliar baixo.

Também foi levantada a série histórica dos últimos 30 anos medidas pelo Mirante de Santana, que se localiza a 5 km de distância do ponto em linha reta mais distante do bairro. A partir da série histórica, levantou-se os dados de temperatura necessários para cobrir o campo térmico. O campo higrométrico e de vento também puderam ser completamente concluídos nessa análise. Para o campo de insolação, o INMET fornece apenas as horas de insolação, sendo necessário aplicar os estudos de insolação adequados as áreas de projeto. Devido a extensão da área estudada, o campo acústico foi restrito à área de projeto prevista no Masterplan.

A Tabela 10 foi extraída da série mensal disponibilizada no site do INMET em formato .txt, posteriormente foi inserida no software “Excel”, onde pode-se isolar os valores máximos e mínimos de cada dado levantado no Mirante de Santana. Em vermelho se encontram representados os valores “máximos” e em verde os valores “mínimos”.

65

Tabela 10 - Máximos e Mínimos mensais em um período de 30 anos

Fonte: Autora com dados do INMET, 2019

A Tabela 11 apresenta os valores extremos encontrados a partir da análise de todos os dias dos últimos 30 anos. Na comparação da tabela 3 e 4, podemos notar que o dia (17/10/2014) com a maior Temperatura Máxima registrada (37,80ºC) se encontra fora do mês (janeiro de 2014) com a maior Temperatura Máxima média (31,92ºC) registrada na análise do mesmo período. A menor Temperatura Mínima (0,80ºC) encontradas no dia 10/07/1994 se encontra dentro do mês que registrou a menor Temperatura Mínima Média (9,13ºC) em julho de 1994.

O dia 17/12/2017 registrou o maior período de insolação (12,60 horas), porém, não se encontra dentro do mês (janeiro de 2014) com o maior número de horas de Insolação Total. Assim como o dia 25/05/2005 apresentou 140,40mm de precipitação e não se encontra dentro do período mensal (março de 2006) com a maior precipitação total no mês (607,9mm).

Tabela 11 - Máximos e Mínimos diários em um período de 30 anos

Fonte: Autora com dados do INMET, 2019

66

Tabela 12 - Predominância do vento mensal

Fonte: Autora com dados do INMET, 2019

O INMET também fornece os dados referentes à direção predominante do vento no mês. Optou-se por analisar a média mensal em um período de 30 anos. A tabela 12 contém o código de leitura da estação meteorológica e a sua respectiva direção. A coluna de ocorrência explicita durante quantos meses aquele código foi usado para identificar a média. E a coluna de predominância dos meses, identifica a estação do ano com base na predominância de meses.

Tabela 13 - Análise FOFA - Verde, Recursos Naturais e Bioclimatologia FOFA VERDE E RECURSOS NATURAIS Fraquezas

Planejamento urbano em desalinho com as questões climáticas, Por exemplo:ausência de flora e fauna; baixa permeabilidade do solo (poucas áreas verdes); elevada massa térmica e elevada absortância (concreto, asfalto), o que eleva a temperatura do ar; poluição do ar e acústica; falta de políticas para a sustentabilidade (uso racional da água e da energia, reuso, reciclagem, inclusão social, etc.)

Oportunidades

Associar a melhoria ambiental a uma proposta paisagística para ruas, avenidas, praças, etc.

Fazer bom uso dos dados existentes e estar preparado para lidar com qualquer situação climática que se imponha e usar os dados para melhorar os espaços públicos tornando-os mais resilientes a eventos climáticos extremos

Forças

Rede de dados disponível para consulta. Exemplo: INMET

Ameaças

Riscos decorrentes de alterações climáticas. Por exemplo: mudanças climáticas podem trazer ondas de calor e frio intensos, ventos fortes, chuvas acima da média, etc. e a região não está preparada para lidar com isso Fonte: Autora

67

1.3 Diagnóstico

O diagnóstico do bairro foi elaborado a partir de visitas técnicas Figura 16 - Galpões da Rua Lopes Trovão ao território e da análise dos mapas antigos e atuais da região.

Comparando o traçado atual ao de 1895 (Figuras 4 e 5), observamos apenas o incremento de novas quadras em decorrência da retificação do Rio Tietê. As quadras originais do loteamento do bairro, ainda mantém a sua característica predominante de frentes estreitas, o padrão de lote operário. A expansão do bairro para as margens, permitiu o avanço de Fonte: Google Maps, 2019 lotes institucionais, como o conjunto de edificações pertencentes ao DETRAN-SP, escolas, parques, clubes e ainda, um conjunto habitacional, Figura 17 - Galpões da Rua Rodolfo o Parque do Gato.

Miranda

Os maiores lotes dentro do bairro que não possuem uso institucional, são galpões, pequenas fábricas, ou estacionamentos. Os vazios dentro de algumas quadras são utilizados como estacionamentos, e poucas quadras fazem uso desse espaço para transição de pedestres entre ruas, tirando o máximo proveito do potencial comercial da área, exemplos disso, são o Shopping Bom Retiro, a Galeria Nova José Paulino e o Lombroso Fashion Mall.

Fonte: Google Maps, 2019

A conexão entre as quadras originais e as de várzea constitui uma barreira urbana para o pedestre, dificultando a conexão entre essas Figura 18 - Lixo na calçada da Rua duas partes do bairro. A Av. Presidente Castelo Branco, possui apenas Tenente Pena uma faixa de pedestre em frente ao conjunto habitacional Parque do Gato, atrapalhando, o acesso ao Centro de Esportes Radicais, Clube de Regatas e ao Estádio Municipal de Beisebol.

Outra barreira urbana dentro no território é a linha de trem, que separa a Favela do Moinho do restante do bairro, isolando a população em um espaço insalubre, com péssimas condições de acústica e que apresenta risco às crianças da região.

Fonte: Autora, 2019

Apesar ser bem servido de meios de transporte, eles não são Figura 19 - Estado da Calçada na Rua acessíveis em todo o bairro. Sendo a porção norte e noroeste as mais José Paulino prejudicadas. São os pontos mais distantes das linhas de trem e metrô, há poucas linhas de ônibus e as ciclovias existentes não se conectam com o restante do território. Sendo esta a porção mais residencial do bairro, fica a impressão de que a infraestrutura existente de transportes é feita para quem vem de fora, seja consumidor ou trabalhador, sem considerar as pessoas que de fato moram na região.

Onde a infraestrutura de transportes é satisfatória, ou seja, na Fonte: Autora, 2019 porção sul e sudeste, que correspondem a porção mais comercial do bairro há pouco uso aos finais de semana devido ao fechamento das lojas e a falta de outras opções de entretenimento pelo bairro.

Aos finais de semana, a porção mais densa do bairro, próxima ao metrô Tiradentes, é cheia de vida e uma mistura de etnias. Aos domingos 68

Figura 20 - Estado da Calçada na Rua Sólon

Fonte: Autora, 2019 Figura 21 - Lixeira na Rua José Paulino

Fonte: Autora, 2019 Figura 22 - Lixeira na Rua Sólon

é possível encontrar coreanos indo à igreja e judeus indo à Sinagoga.

Senhoras sentadas nas portas dos prédios conversando entre si, roda de senhores conversando acaloradamente enquanto tomam café em um dos bares da Rua Três Rios, porém, conforme caminha-se em direção ao centro do bairro, um sentimento de insegurança passa a tomar conta do pedestre. Todas as lojas estão fechadas, as pessoas que passam pelas ruas andam apressadamente sem olhar para os lados. Há moradores de rua por todo lado.

Aos finais de semana é perceptível a necessidade de pessoas nas ruas, de lojas abertas – ou apenas a padaria, para garantir que outras pessoas possam andar tranquilamente pelo bairro.

Mesmo durante a semana, as ruas que possuem quadras com uso predominante de galpões e indústrias, também refletem o mesmo sentimento de insegurança. Não apresentam olhos para a rua, apenas muros, ao lado de uma calçada estreita pela qual o pedestre segue sem saber se há alguém olhando para ele ou por ele. Também são essas as ruas escolhidas como desova de lixo, seja dos catadores de lixo que precisam fazer a triagem do que recolheram pela rua durante o dia, e o fazem nessas ruas onde não há olhos que zelem pelo bem público, seja pelo cidadão mal intencionado. Se é possível jogar lixo nessas ruas sem que ninguém veja ou se incomode, o que mais é possível fazer nessas condições?

Para garantir que o diagnóstico do bairro fosse feito com precisão e abrangesse o máximo de áreas de estudo possíveis, aplicou-se a análise FOFA (SWOT), buscando rastrear para cada área as fraquezas apresentadas, ou seja, os pontos negativos que podem ser melhorados.

As forças que as compõe e podem ser maximizadas. Prever as ameaças que podem ou não vir a ocorrer assim como as oportunidades.

Fonte: Autora, 2019

69

Figura 23 - Galeria Nova José Paulino

Fonte: Autora, 2019

Figura 24 - Lombroso Fashion Mall

Fonte: Google Maps, 2019

Figura 25 - Lombroso Fashion Mall

Fonte: Google Maps, 2019

Figura 26 - Interior das quadras sendo utilizadas como estacionamento

Fonte: Google Maps, 2019

Figura 27 - Estacionamento na Rua Júlio Conceição com a Rua Anhaia

Fonte: Google Maps, 2019

70

Mapa 10 -Morfologia Urbana

Fonte: Autora

71

1.4 Masterplan

Concepção e contextualização

A concepção do Masterplan foi feita respeitando alguns pressupostos baseados em Jane Jacobs em seu livro “Morte e vida de Grandes Cidades” (2014). Segundo Jacobs (2014), uma rua com infraestrutura para receber estranhos ao bairro (como compradores e turistas) e ser organicamente segura, precisa conter três características principais:

1) Separação nítida entre o espaço público e o espaço privado.

2) Devem existir olhos para a rua (apartamentos e comércios voltados para a rua), evitar empenas cegas ou grandes muros.

Figura 28 - Esquema de concepção

3) A calçada deve ter usuários transitando ininterruptamente

“As ruas devem não apenas resguardar a cidade de estranhos que depredam: devem também proteger os inúmeros desconhecidos pacíficos e bem-intencionados que as utilizam, garantindo a segurança deles. (...) Todos precisam usar as ruas.” (JACOBS, 2014)

Juntamente com Jacobs (2014) utilizou-se como referência o trabalho desenvolvido pela Farr Associates (O Estudo de Caso 1 trata sobre o masterplan proposto por eles para a cidade de Normal), Fonte: Autora com base do Google Maps, 2019 que busca realizar projetos de cunho sustentável. Para Farr (2013) a sustentabilidade vai além de apenas trabalhar áreas verdes na cidade. A sustentabilidade urbana também implica trabalhar os seguintes pontos: a. Densidade b. Água c. Integração entre transporte, uso do solo e tecnologia d. Fauna e Flora

No caso do Bom Retiro, busca-se intervir em um ambiente densamente construído no qual pretende-se pontual e juntamente com a comunidade local. As propostas do Masterplan foram desenvolvidas a partir da análise FOFA elaborada na caracterização e diagnóstico. As soluções apresentadas buscam dar o pontapé inicial para a construção de um bairro urbano sustentável dentro da capital paulista. A seguir, são apresentadas propostas que buscam aumentar a densidade da área, melhorar as condições de transporte e habitação existentes, valorizar o comércio local, aumentar a área verde e criar novos espaços livres e de lazer.

72

Mobilidade

Diretriz: Fornecer uma variedade de transporte de qualidade e garantir a livre circulação entre bairro e cidade Ações: 1- viabilização de uma travessia segura para pedestres na alça da Av. Castelo branco, que faz a ligação entre o centro de esportes radicais e o restante do bairro.

2- Restrição ao estacionamento de veículos. Para garantir a acessibilidade dos consumidores ao bairro, aconselha-se a verticalização de alguns estacionamentos existentes, transformando-os em “edifíciosgaragem”. O objetivo dessa restrição é desestimular a utilização do transporte individual em detrimento do transporte coletivo.

3- Expansão das linhas de ônibus para a porção noroeste e norte do bairro.

4-

Conexão das áreas verdes do bairro através de ciclovias.

5- Implantação do VLT (Veículo Leve sobre trilhos). Que pode vir a ser integrado à uma futura rede da cidade.

Mapa 11 - Proposta para mobilidade

Fonte: Autora

73

Uso e Ocupação Do Solo

a. Incentivar o uso residencial vertical.

Diretrizes:

1- Fortalecer o comércio local 2- Solidificar a presença de equipamentos públicos e culturais existentes incentivando o uso constante Ações: 1- Incentivo ao uso misto no bairro através da criação de áreas de concentração dentro do bairro. As áreas são:

A1 – Área verde associada ao lazer

a. Implantação do projeto de paisagismo previsto para o conjunto habitacional Parque do Gato; b. Conexão dos parques, praças e centros de esporte e lazer; c. Abertura de pontos de acesso ao bairro que sejam dotados de infraestrutura para o pedestre;

A2 – Projeto José Paulino

a. Projeto pontual com a intenção de alavancar as áreas adjacentes e possibilitar a implantação de novos projetos na região.

74

A3 – Residencial

A4 – Área pública

Área pertencente ao Detran, não há propostas para a área.

A5 – gastronômico

Cultural

e

a. Promover ações ligadas à cultura e lazer e incentivar atividades comerciais que ofereçam suporte a permanência de pessoas (turistas de compra, de cultura, etc.) no bairro.

1. Criação de um circuito cultural com paradas em museus, centros culturais, cinemas, etc. pelo bairro com o suporte do VLT. 2. Dar visibilidade aos equipamentos públicos com a proposição de lançamentos de moda local dentro desses espaços.

A6 – Comercial

a. Propostas de ocupação vertical, possibilitando que mais pessoas

Mapa 12 - Proposta para Uso e Ocupação do Solo

Fonte: Autora

morem na área ao mesmo tempo em que busca dar suporte às atividades comerciais da área. b. Edifícios-garagem com o propósito de desestimular o uso do carro. c. Atrair e articular investimentos públicos, privados e institucionais para melhorias urbanísticas na região.

Através de projeto participativo, levar a proposta para os moradores, comerciantes, prefeitura e instituições públicas e privadas, para levantamento de sugestões e críticas, posteriormente revisão e por fim, uma segunda reunião com os principais interessados para aprovação. d. Promover o empreendedorismo responsável

Incentivar os comerciantes locais a contratarem os seus funcionários dentro dos parâmetros legais. E instruindo os possíveis funcionários imigrantes a se regularizarem no país. e. Garantir a qualidade e legalidade dos produtos ofertados

Propor uma fiscalização mais rígida das fábricas e confecções locais, coibindo a mão de obra escrava e garantindo que as lojas e estoques estejam de acordos com as Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros de São Paulo f. Criação de um Centro Cultural e de formação em moda com cursos profissionalizantes para a indústria têxtil.

- localização privilegiada, gerando um novo fluxo de pessoas pelo bairro Mapa 13 - Proposta para Uso e Ocupação do Solo - Fluxo de pessoas gerado pelo Centro Cultural Proposto

Fonte: Autora

75

Habitação Diretriz: garantir moradias de qualidade para todos.

Ações: 1-

Remoção da favela do moinho

2- Construção de conjuntos habitacionais espalhados para o bairro, realocando as famílias da favela do moinho com prioridade.

3- Regras de ocupação vertical para edifícios comerciais com mais de 3 pavimentos (térreo + 2). A forma de ocupação proposta precisa de aprovação da associação de comerciantes da região.

• O uso do térreo mantém seu uso comercial, podendo ser compartilhado com estoque e outros usos que não sejam o residencial.

• O primeiro e o segundo andar destinam-se a atividades de suporte ao lojista.

•

A partir do terceiro andar o uso é recomendado para habitação.

Mapa 14 - Proposta para Habitação

Fonte: Autora

76

Verde e Recursos Naturais Diretrizes:

1- Garantir a limpeza do bairro e a destinação correta dos resíduos sólidos gerados dentro do bairro 2- Alinhar o desenvolvimento local e econômico ao uso racional e sustentável dos recursos ambientais 3- Aumentar a permeabilidade do solo com consequente aumento da área verde do bairro Ações: 1- Implantação de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Município de São Paulo – PIRGS* 2- Implantação de cooperativa de reciclagem de resíduos provenientes da indústria têxtil associada aos catadores locais e a empresa responsável pela coleta de lixo local

população local e interessados. O aplicativo pode conter uma sessão sobre novos projetos para a área e as considerações ambientais feitas.

4- Criação do Parque do Moinho no lugar da favela do moinho 5- Criação de ruas Boulevard integrando a infraestrutura verde do bairro 6- As ruas sem saída, de acesso ao interior das quadras, serão transformadas em praças, em que é permitido apenas o carro de moradores e a velocidade reduzida, para que crianças possam brincar na rua, e que seja um espaço para a comunidade local.

3- Integrar os dados ambientais no planejamento urbano - propõe-se parcerias entre a associação de moradores e comerciantes do bairro com universidades para o desenvolvimento de diagnóstico ambiental por meio de medições in loco e simulações em sofwares; - desenvolvimento de aplicativos de diagnóstico ambiental para acesso da Mapa 15 - Proposta para Verde e Recursos Naturais

Fonte: Autora

77

2 DELIMITANDO O MICRO

2.1 Área de intervenção

A análise do entorno é um zoom dentro do diagnóstico realizado no bairro. Busca identificar os usos realizados nas quadras ao redor da R. José Paulino, identifica os acessos, os caminhos de pedestres e as oportunidades de caminhos que podem ser exploradas dentro das quadras. Também é importante identificar barreiras urbanas que podem de alguma forma contribuir para a desvalorização da área, como é o caso da favela do Moinho, que possui suas entradas em locais pouco seguros como viadutos e aberturas nos muros da CPTM, gerando um sentimento de insegurança para a área e desvalorizando os comércios próximos.

Esse diagnóstico foi elaborado em cima do mapa de morfologia urbana com o objetivo de localizar facilmente os cheios e vazios do bairro com a intenção de servir de base para a elaboração do projeto para a região nas próximas etapas.

80

Mapa 16 - Análise da Área de intervenção

Fonte: Autora

81

2.2 Propostas para potencializar o local a partir do masterplan 1 - Parque do Moinho - Restauro e reconfiguração do moinho existente; 2 - Demolição dos galpões existentes e construção de edificações destinadas a habitação; 3 - Edifício Garagem 4 - Edifício Escolar 5 - Reconfiguração viária com demolições e criação de novos lotes destinados ao comércio alimentício 6 - Reconfiguração viária com demolições e criação de uma praça a ser conectada com o calçadão proposto para a quadra 7 - Edifício de múltiplo uso em lote subutilizado 8 - Praça seca com quiosques

82

Mapa 17 - Propostas para a Área de intervenção

Fonte: Autora 83

3 AGINDO NO LOCAL

3.1 Implantando o masterplan na escala local Análise, estudo e levantamentos

Dentro do Masterplan e das propostas desenvolvidas na escala do micro, propõe-se o projeto de requalificação da Rua José Paulino com o potencial de ser um elemento catalizador de mudanças significativas dentro do bairro

Escolheu-se a R. José Paulino para ser a imagem de referência do que o bairro do Bom Retiro pode vir a ser com a implantação do Masterplan por sua relevância dentro da área e no munícipio atualmente, e por historicamente ser uma rua de extrema importância para a construção do bairro. Atualmente possui definições similares à rua dos Imigrantes, que no início do século XX era por onde os recém-chegados na cidade faziam o trajeto ao Desinfectório Central, e por conta do fluxo de pessoas constantes, criou um espaço propício para o aparecimento de estabelecimentos comerciais. O comércio predominante nos dias de hoje é o comércio de roupas que se expande para as ruas vizinhas, mas ainda assim, a R. José Paulino é referência e é por onde os consumidores passam ao deixar às estações de trem Luz e Júlio Prestes, a partir de onde, se espalham em outras direções dentro do território para a realização de compras.

No cenário brasileiro de vestuário feminino, é inegável a relevância do Bom Retiro entre os maiores polos comerciais de moda.

Estima-se que 55% da produção do segmento tem origem no bairro e que 60% das compras são realizadas por revendedores de moda, gerando uma movimentação de 3,5 bilhões por ano. Segundo a Entidade Oficial Dos Lojistas do Bom Retiro (200-?), o bairro apresenta cerca de 1700 lojistas, dos quais 1400 são fabricantes e geram em torno de 50 mil empregos diretos e 30 mil indiretos. Diariamente circulam pelas ruas 80 mil pessoas, chegando a 120 mil próximo ao natal. Por dia, são criadas em média 6 novas peças por grife.

Para a implantação do projeto, recomenda-se a apresentação dele à comunidade local, prefeitura e associação de lojistas da região para possíveis alterações e por fim, aprovação de todos os diretamente envolvidos.

Análise da área de intervenção

As calçadas da rua apresentam dimensão variando de 2 a 2,40m, e nessa largura dividem espaço com camelôs, lixeiras, propaganda de lojas (uso de manequins na porta das lojas, som, entre outros), arborização e mobiliário urbano, que juntos, formam uma barreira à livre circulação de pessoas, principalmente nas épocas mais movimentadas do bairro.

Os conflitos existentes nas calçadas, e a atratividade que as lojas oferecem aos consumidores, incentivando atravessar a rua sempre que 86

Figura 29 - Pedestres no leito carroçável José Paulino

algo interessante surge, criam um novo conflito entre carros e pessoas, abrindo precedentes para acidentes.

A comunicação visual fica a cargo de cada loja, gerando fachadas distintas entre si, dificultando um senso de unidade e gerando uma poluição visual (fachadas que não respeitam os limites da loja, luzes voltadas para a rua, fontes ilegíveis, excesso de materiais, entre outros) da rua.

Autora, 2019 Figura 30 - Pedestre desatento atravessando a rua José Paulino

Quanto a acessibilidade, a rua conta com rebaixamento da calçada onde há faixas de pedestres, mas não apresenta uma continuidade na pavimentação que permita o fácil trânsito de uma cadeira de rodas, ou uma caminhada confortável.

Estudo da área de intervenção

Autora, 2019 Figura 31 - Final da Rua José Paulino

- Postes e sinalização

A rede de postes de iluminação foi recentemente enterrada pela prefeitura, e os postes encontrados na rua servem de suporte para placas de trânsito, indicando áreas de estacionamento e zona azul, além de serem utilizados para suporte das lixeiras presentes. A sinalização presente na área é direcionada apenas ao carro e as bicicletas. Na figura X se encontra representados os postes localizados na rua.

- Arborização

A arborização é escassa, apresentando apenas 13 árvores na extensão de 900m, o que equivale a uma árvore a aproximadamente 70m. As árvores presentes são de porte pequeno e médio e se encontram implantadas em um canteiro de aproximadamente 1x1m. A figura X mostra a localização e quantidade de árvores encontradas.

Autora, 2019 Figura 32 - Banco sendo utilizado na Rua José Paulino

A pavimentação do leito carroçável não apresenta buracos, mas seus remendos são claros, além de ter a pintura das faixas desgastadas.

A pavimentação das calçadas fica a cargo de cada proprietário, não apresentando unidade na pavimentação ou nas propostas de acessibilidade (há lojas que tentam se adequar a NBR 9050, mas que só aplicam no trecho de calçada em frente a sua propriedade). As empresas que possuem infraestrutura enterrada nas calçadas, possuem uma forte influência no estado de conservação do passeio público, através de sucessivas intervenções e de finalizações de acabamento mal sucedidas, o calçamento além de não possuir unidade, se encontram em péssimo estado de conservação, dificultando o trânsito continuo de pessoas.

Fonte: Autora, 2019 Figura 33 - Totem de Boas-Vindas

- Pavimentação

- Equipamentos urbanos

Os equipamentos urbanos presentes na rua se restringem à lixeiras, ocasionais bancos e telefones públicos. A figura X mostra a localização dos bancos encontrados.

Levantamentos

Fonte: Google Maps, 2019

- Topográfico

A rua não apresenta uma topografia acidentada, tendo uma inclinação constante em direção ao centro do bairro e ao rio Tietê como representado no esquema gráfico da figura X. 87

88

Lojas

Galerias

ImĂłveis Vazios

Restaurantes

Outros usos

NĂŁo analisado

Mapa 18 - Localização e quantidade de postes

Fonte: Autora, 2019 Mapa 19 - Localização e quantidade de árvores

Fonte: Autora, 2019 Mapa 20 - Localização e quantidade de bancos

Fonte: Autora, 2019 Mapa 21 - Hipsometria

Fonte: Autora, 2019 Mapa 22 - Uso do solo por lote

Fonte: Autora, 2019

89

- Uso do solo por lote

O mapa da figura 14 apresenta o levantamento do uso por lote na rua, identificando que ela é predominantemente comercial, e apresenta imóveis vazios e poucos estabelecimentos voltados para alimentação.

Muitos lotes possuem mais de um comércio no térreo, e, isso foi levado em consideração no momento de construção do mapa.

As tabelas 14 e 15 apresentam uma síntese dos levantamentos realizados in loco.

Tabela 14 - Caracterização da Rua José Paulino Comprimento

974m

Largura

Entre 8 e 10m

Largura das calçadas

2~3m

Cruzamentos

5

Quadras

9

Lojas

269

Galerias

9

Estabelecimentos para alimentação

8

Estacionamento

1

Pontos de ônibus

3

Imóveis vazios ou para alugar

18

Imóveis com uso não identificado

3

Camelôs

31

Fonte: Autora, 2019 Tabela 15 - Levantamento quantitativos das estruturas físicas da rua José Paulino Tampas nas calçadas (Sabesp, Eletropaulo, Vivo, Telefônica, NET, CET, Incêndio etc.)

752

Árvores

13

Boca de Lobo

33

Lixeiras

44

Telefone Público

7

Farol de pedestres

23

Farol

4

Faixas de pedestres acessíveis

18

Totem de identificação da área

1

Placas de orientação para carros (estacionamento, zona azul etc.)

60

Paraciclo

2

Hidrantes

1

Bancos

11

Sirene

2

Luminárias

33

Radar

1 Fonte: Autora, 2019

90

Desenvolvimento e ações

Desenvolvimento de projeto Como partido de projeto busca-se através da reestruturação dos usos dos espaços pelos diferentes atores da vida pública busca-se garantir usabilidade e vitalidade do espaço público em tempo integral. Pretendese potencializar os espaços públicos existentes, integrando-os a um desenho contemporâneo integrado com o entorno imediato.

Busca-se atender aos seguintes pré-requisitos:

1. Conceber espaços públicos ativos e convidativos que valorizem o comércio local;

2. Garantir conforto e segurança para o pedestre;

3. Delimitar uma separação clara entre espaço do pedestre, carros, ciclistas e catadores de lixo;

4. Facilitar o processo de manutenção das redes subterrâneas e garantir a integridade das calçadas;

5. Propor materiais de fácil manutenção e reposição além de serem ecologicamente corretos;

6. Aumentar o “verde” presente na rua;

7. Implantar mobiliários tecnológicos que valorizem a região e facilitem no período de compras;

Ações de projeto

Ação 01: instalação de galerias técnicas visitáveis em toda a extensão da rua, localizando toda a tubulação subterrânea no centro do leito carroçável e permitindo a entrada através de alçapões a cada 50m.

Com essa ação, busca-se reduzir a interferência direta entre empresas concessionárias (energia, telefonia, água, gás) e as calçadas, garantindo a integridade das mesmas por mais tempo.

Também pretende-se organizar o subsolo da área, sabendo exatamente onde cada tubulação pode ser encontrada, evitando erros de furação, escavação e assim impedindo que uma empresa acidentalmente danifique a infra-estrutura das demais.

91

Ação 02: pavimentação urbana e calçadas

A ser realizada com o concreto drenante nas cores indicadas em planta. A escolha por esse material se deu pela sua alta qualidade ambiental e seus índices que permitem a redução de ilhas de calor e por reduzir o escoamento superficial da água. Propõe-se a pintura do concreto em formatos circulares, onde serão locados os ombrelones, árvores, bebedouros e postes.

As calçadas foram dimensionadas observando os parâmetros mínimos necessários à: faixa de transição, faixa de livre circulação de pedestres e a faixa de serviços. O lado esquerdo da rua, apresenta as dimensões recomendadas, com uma largura total de 2,60m, a sua faixa de serviços conta apenas com a instalação de lixeiras, placas e ocasionais postes de iluminação. Para o lado par, reservou-se uma maior extensão de calçada, para que pudesse ser implantado no passeio públicos, canteiros de árvores e arbustos, bancos, estrutura física para os camelôs – as barraquinhas, bebedouros e estacionamentos.

Ação 03: Mobiliário urbano

- Bancos

Em toda a extensão da rua, locar bancos de madeira com estrutura de ferro a cada 30m.

- Bancos com ombrelones

Estrutura de metal, com cobertura com placas solares para garantir a iluminação dos mesmos, localizados no calçadão e praça propostos, contando ainda com um banco circular de madeira com estrutura metálica.

- Bebedouros

Estrutura de concreto conectada com rede de distribuição de água potável localizada nas galerias técnicas.

- Mapa digital

Tela touch screen, protegida de intempéries por cabine de vidro localizada na praça de entrada da rua e no calçadão, permitindo que as pessoas possam traçar suas rotas até as lojas desejadas, se localizar e fazer buscas de produtos específicos na região.

- Painéis digitais como suporte publicitário e informativo

Nas esquinas, localizar painéis digitais com informes publicitários da área e informações de localização.

- Barraquinhas para os camelôs

Estrutura física e estática, metálica, com cobertura com placas solares, garantindo a iluminação das barraquinhas para funcionarem em horários alternativos. As barraquinhas possuem travas, permitindo que apenas o dono, possa abrí-la e utilizá-la.

Ação 04: paisagismo

O paisagismo proposto apresenta 4 formas: 92

1 - Canteiro de separação da ciclovia com o leito carroçável O objetivo é evitar que os carros tenham contato com os ciclistas, então propões a separação desses dois usos por canteiros de arbustos com espaçamentos para permitir a passagem de pedestres. Cada canteiro conta com um balizador com iluminação.

2 – Canteiro de rua São os canteiros localizados em toda a extensão da rua no lado par, apresenta 3 variações de espécies vegetais propostas, mas sempre contando com uma árvore de médio/grande portes, arbustos, e vegetação rasteira.

3 – Árvores isoladas Localizadas na praça e calçadão propostos, não apresentam nenhuma outra espécie ao seu redor e necessitam de uma grelha de proteção especial.

4 – Canteiro dos ombrelones Dentro da circunferência dos bancos dos ombrelones, propõe-se espécies arbustivas de pequeno e médio porte.

Ação 05: iluminação

- Postes Poste duplo, garantindo a iluminação do passeio público e do leito carroçável ao mesmo tempo. Implantado de forma intercalada a cada 15m.

- Balizadores Localizados nos canteiros de paisagismo.

- Holofotes Localizados na praça de entrada da rua, iluminando o letreiro proposto.

Ação 06: reorganização dos estacionamentos

Estacionamentos localizados a cada 100m, configurando uma baia por quadra. Com espaço para 5 veículos de carácter especial, PNE, Idoso, carga e descarga, emergência, parada de veículos de aplicativos e uma vaga para carro elétrico.

Ação 07: comunicação visual

- Placa de boas vindas - placas para pedestres - diretrizes para lojas

93

3.2 Desenho Urbano para a rua José Paulino Apresentação gráfica das ações propostas

Figura 34 – Estrutura para os vendedores ambulantes

Fonte: Autora, 2019

94

Figura 35 â&#x20AC;&#x201C; Detalhe de banco, lixeira e paraciclo proposto

Fonte: Autora, 2019

95

Figura 36 â&#x20AC;&#x201C; Detalhe do ombrelone proposto

Fonte: Autora, 2019

96

Figura 37 â&#x20AC;&#x201C; Detalhe do ombrelone proposto

Fonte: Autora, 2019

97

Figura 38 â&#x20AC;&#x201C; Detalhe mapa e painel digital

Fonte: Autora, 2019

98

Figura 39 â&#x20AC;&#x201C; Detalhe poste e galeria tĂŠcnica proposta

Fonte: Autora, 2019

99

Figura 40 – Detalhe balizador e grelha de proteção de árvores

Fonte: Autora, 2019

100

Figura 41 â&#x20AC;&#x201C; Detalhe canteiro de rua

Fonte: Autora, 2019

101

Figura 42 â&#x20AC;&#x201C; Detalhe canteiro, ciclovia e calçada

Fonte: Autora, 2019

102

Detalhes

Figura 43 â&#x20AC;&#x201C; Detalhe galeria tĂŠcnica no corte da rua

Fonte: Autora, 2019

103

104

Figura 44 â&#x20AC;&#x201C; Detalhe praça de entrada

Fonte: Autora, 2019

105

Figura 45 â&#x20AC;&#x201C; Imagem ilustrativa das propostas para a praça de entrada

Fonte: Autora, 2019

108

Figura 46 â&#x20AC;&#x201C; Detalhe praça proposta

Fonte: Autora, 2019

109

Figura 47 â&#x20AC;&#x201C; Imagem ilustrativa da praça proposta

Fonte: Autora, 2019

112

Figura 48 – Detalhe tipo de implantação das propostas para a rua

Fonte: Autora, 2019

113

114

Figura 49 – Detalhe tipo de implantação das propostas para a rua

Fonte: Autora, 2019

115

Figura 50 - Imagem ilustrativa da quadra tipo

Fonte: Autora, 2019

118

Figura 51 - Detalhe calçadão proposto

Fonte: Autora, 2019

119

Figura 52 - Imagem ilustrativa do calçadão proposto

Fonte: Autora, 2019

4 DE ONDE VIERAM AS IDEIAS - ESTUDOS DE CASO

CAPÍTULO 4 - ESTUDOS DE CASO

ESTUDO DE CASO 1 – UPTOWN NORMAL Ficha Técnica

Local: Normal, Illinois, EUA

Autor: Farr Associates e Hoerr Schaudt

Ano: Plano diretor de renovação do centro, elaborado em 1999.

Implantação de 2002 até 2010.

Renovação do masterplan em 2015.

Financiador: Cidade de Normal, Illinois

Figura 53 - Proposta de distribuição das lojas - Plano diretor de Renovação do Centro, 1999

Orçamento:

- Masterplan de renovação urbana: 15.5 milhões de dólares

- Uptown Circle: 1.5 milhão de dólar

Contexto

O traçado do centro da cidade de Illinois remonta à época da Guerra Civil e se encontrava em decadência há décadas devido a uma estrada com trevo construída pelo governo federal, responsável por transferir todo o comércio de varejistas para lojas e redes nacionais localizadas na periferia da cidade. Com o objetivo de revitalizar e intensificar o uso do centro, a prefeitura de Illinois contratou a Farr Associates para realizar o plano diretor da área.

Fonte: (FARR, 2013)

Figura 54 - Novos usos - plano de 1999

O Projeto

O projeto Uptown Normal consiste em uma renovação urbana financiada pela prefeitura de Normal, com objetivo de revitalizar e intensificar o uso do centro da cidade. O programa inicial do projeto era composto por uma área de uso misto no entorno de um novo parque circular. Antes do plano, o centro possuía algumas moradias no segundo pavimento das lojas, majoritariamente alugados por estudantes da universidade de Illinois. Dessa forma, o projeto propôs novas moradias e prédios de uso misto, buscando aumentar a densidade habitacional da região. O plano também buscava aumentar o número de frequentadores do espaço, atraindo mais visitantes e, para isso, houve uma proposta de melhoria do sistema de transporte público, somada à maior oferta de espaços públicos de qualidade. Entre os novos edifícios propostos, há um hotel com um centro de conferências próximo ao terminal de transporte, um museu para crianças com certificação LEED Silver e um 124

Fonte: (TOWN OF NORMAL, 2015)

Figura 55 - Centro de Normal, MasterPlan de 2015

parque dentro de uma interseção circular.

O Parque é projeto da Hoerr Schaudt e inclui um espelho d’água alimentado pela água da chuva filtrada, que possui a intenção de ser uma obra de arte na cidade aliada às questões de sustentabilidade.

O estacionamento da área de intervenção foi reestruturado de modo a dar prioridade ao pedestre e incentivar o uso de transportes públicos.

Fonte: (TOWN OF NORMAL, 2015)

A Figura 53, mostra o plano inicial da Farr Associates para a região central, no qual é possível observar a distribuição das lojas. Já na Figura 54, é possível ver quais são as edificações que passam a ter uso misto, e as exclusivamente residenciais.

Principais características do projeto de 1999: • Todas as novas construções com mais de 700m² dentro da área do projeto devem ter a certificação LEED; •

O parque central e a praça Gateway Plaza criam espaços públicos;

• Os sistemas de gestão da água da chuva incluem uma bacia de retenção, um reservatório e um espelho d’água público; Figura 56 - Diagrama de águas pluviais

• Um terminal de conexão de vários modais de transporte une os sistemas de transporte coletivo regionais e locais; •

Sistema de ônibus ampliado;

• O projeto de paisagismo da área aproveita o escoamento superficial da água da chuva para regar a vegetação das vias públicas.

Fonte: (HOERR SCHAUDT, LANDSCAPE ARCHITECTS, 2011)

Principais características sustentáveis:

•

Gestão da água da chuva;

•

Integração entre transportes, uso do solo e tecnologias;

•

Benefícios econômicos de lojas e propriedades locais;

•

Espaços abertos;

•

Impacto do planejamento no consumo de energia das edificações.

A atualização do masterplan, encomendada pelo município de Normal em 2015 ao escritório Farr Associates, buscava aumentar a área de abrangência do plano inicial – de renovação do centro – para os demais bairros da cidade, com os seguintes objetivos:

Figura 57 - Corte do Uptown Circle

•

Promover melhorias nas ruas e avenidas;

•

Propor alternativas de design para uma passarela de pedestres;

•

Preencher os terrenos vazios do norte da cidade;

•

Planejar o desenvolvimento da porção sul da cidade;

•

Ajustar os padrões de zoneamento e design.

O centro de Normal, manteve o traçado das ruas, ganhando novas áreas verdes, como pode ser observado na Figura 28, onde um novo parque se liga com o parque projetado pelo escritório Hoerr Schaudt na rotatória do centro.

Fonte: (HOERR SCHAUDT, LANDSCAPE ARCHITECTS, 2011)

The Uptown Circle 125

Dentro da proposta de renovação do centro de Normal, foi previsto um parque circular dentro de uma rotatória, ligando cinco ruas e marcando o centro da cidade. O projeto foi desenvolvido pelo escritório Hoerr Schaudt com premissas sustentáveis ligadas à água da chuva. Na Figura 56, pode ser visto o diagrama de água da chuva e como a topografia as leva para o círculo. Na Figura 57, o corte explicita o funcionamento da estrutura, que capta a água da chuva, faz uma filtragem dessa água através da vegetação existente, e a disponibiliza em espelhos d’água acessíveis à população.

Figura 58 - The Uptown Circle pronto e sendo utilizado pela população

Avaliação

Pode ser elencado como um fator positivo o plano ter tido revisões ao longo dos anos, levando as melhorias conseguidas para os bairros periféricos da cidade. Em termos de sustentabilidade, o plano caracterizou a obrigatoriedade de as construções maiores de 700m² apresentarem certificação LEED.

Por outro lado, o plano inicial poderia ter sido mais bem detalhado e apresentar mais dados a respeito do desenho da rua, de soluções voltadas para os pedestres.

ESTUDO DE CASO 2 – CENTRO ABERTO Ficha Técnica

Local: Rua Galvão Bueno, Bairro da liberdade, São Paulo

Autor: SP Urbanismo em parceria com a CET e colaboração do escritório Gehl

Ano: Projeto e entrevistas no ano de 2015;

Implantação em 2016;

Avaliação do projeto em 2017.

Contexto

A rua Galvão Bueno é uma rua comercial estreita, de mão única.

Antes da intervenção Centro Aberto, contava com uma única faixa de rolamento para carros, uma de estacionamento com usos de Zona Azul, motos, idosos e carga e descarga, e, uma calçada estreita para os pedestres que ocasionava na invasão do leito carroçável da via em horários de pico. A rua também faz a ligação entre a estação de metrô Liberdade da linha 1 – Azul com o centro do bairro da Liberdade.

O Projeto

O projeto buscou trazer maior equidade no uso do espaço por pedestres e carros. Para tal, a SP Urbanismo, em parceria com a CET, realizou a coleta de dados no local, contando quantas pessoas utilizavam o espaço e quantos carros, chegando aos seguintes números: 95% dos pedestres ocupavam 44% do espaço, enquanto 5% dos automóveis, ocupavam 56% do espaço disponível.

Os principais objetivos do projeto eram: • Qualificar a área destinada ao passeio dos pedestres, restringindo o estacionamento de veículos e criando áreas confortáveis de permanência; 126

Fonte: (HOERR SCHAUDT, LANDSCAPE ARCHITECTS, 2011)

• Transformar parte da rua em calçadão aos finais de semana e, durante a semana, reduzir significativamente a presença do automóvel na região; Figura 59 - O que as pessoas mais gostaram na intervenção

Fonte: (SP URBANISMO, 2017)

Figura 60 - O que as pessoas gostariam que existisse no espaço

Fonte: (SP URBANISMO, 2017)

• Estabelecer maior equidade no uso do espaço público, por meio do incentivo e priorização da presença de pedestres, conferindo-lhes segurança e conforto e, potencializando a experiência de compras e lazer na região.

A intervenção realizada concentrou-se na rua Galvão Bueno e no Jardim Oriental, sendo uma intervenção de caráter físico focada no pedestre e no uso feito do espaço. Para elaboração do projeto foram feitas entrevistas aos frequentadores da região e aos comerciantes da rua no primeiro semestre de 2015. É uma intervenção permanente que já possui propostas de modificações baseadas nos estudos pós-implantação realizados no ano de 2017. A disposição dos bancos se mostrou pouco eficiente, concentrando boa parte do mobiliário em locais sem sombra e poucos na região mais próxima ao metrô – mais movimentado e mais sombreado. A conclusão do estudo de 2017 propõe o remanejamento de bancos, ou a instalação de novos bancos.

O estudo de 2017 realizou novas entrevistas com frequentadores e comerciantes para avaliar o impacto do projeto nos usuários. O projeto foi bem aceito pelos pedestres – que apenas reforçaram a necessidade de sombra, bebedouros e lixeiras na área de intervenção. Porém, o projeto divide opiniões entre os comerciantes. Primeiro, poucos comerciantes responderam às entrevistas realizadas em 2015 e 2017 e, dos que responderam, metade deles se mostrou favorável à mudança, enquanto a outra porção reclamou da distância entre os estabelecimentos e os locais de carga e descarga (realocados juntamente com as vagas de idosos para o lado ímpar da rua). Os comerciantes também reclamaram do aumento do número de comércio de rua após a intervenção. Também foi verificado que alguns bancos instalados começaram a ser utilizados como expositores de comerciantes ambulantes.

Avaliação

Dentre os pontos positivos do projeto, pode-se destacar:

•

A valorização do pedestre em detrimento do uso de automóveis;

•

Diálogo frequente com os usuários: pedestres e comerciantes.

Dentre os aspectos negativos encontrados, pode-se destacar os seguintes para serem melhorados: •

Diálogo com os comerciantes.

Implantação de equipamentos urbanos desvinculada da vegetação existente.

Os itens 2, 3 e 4 foram levantados como pontos negativos por terem sido negligenciados durante a elaboração do projeto, e se mostram importantes na avaliação pós-ocupação elaborada no ano de 2017, quando se verificou que os equipamentos urbanos mais utilizados eram aqueles que estavam na sombra, e justamente esses eram poucos.

As entrevistas realizadas em 2017, trouxeram à tona a necessidade dos usuários de se protegerem do sol e da chuva enquanto estão descansando, e as conclusões dessa avaliação, sugerem o remanejamentos do equipamentos ou a utilização de ombrelones.

ESTUDO DE CASO 3 – BROADWAY 127

Ficha Técnica

Local: Avenida Broadway, Los Angeles, EUA.

Autor: Os responsáveis pela elaboração do projeto são o CRA/ LA, o conselho do Bringing Back Broadway e a Prefeitura da cidade de Los Angeles

Ano: Aprovado pela comissão de planejamento em fevereiro de 2013. Faz parte do plano de desenvolvimento econômico “Bringing back Broadway” lançado em 2008 para a revitalização do corredor histórico da Broadway no centro de Los Angeles.

Figura 61 - Diferentes tampas

Fonte: (CITY PLANNING COMMISSION OF LOS ANGELES, 2013) Figura 62 - Diferentes Postes

Território – Contexto

No início do século XX, a Broadway se destacou como local de negócios, comércio e cultura. O distrito conta com o Historic Broadway Theatre District, contemplando a maior concentração de teatros históricos e de cinema de rua do país O Projeto

O projeto foi elaborado levantando-se em consideração as condições pré-existentes no local – histórico da região, ruas do entorno, Fonte: (CITY PLANNING comércio da região, espaços culturais próximos, espaços abertos etc. A COMMISSION OF LOS ANGELES, 2013) definição de objetivos do plano foi feita com base no que a comunidade do local imaginava para o futuro da rua, para a qual foi apresentada um plano que definia pontos de melhoria da paisagem urbana através da configuração da rua, calçadas, iluminação pública, materiais com Figura 63 - Diferentes paginações de piso critérios de localização.

O plano foi elaborado para ser implementado em fases, de acordo com o financiamento recebido, podendo ser feito por inteiro, caso houvesse financiamento suficiente para tal.

O plano de revitalização possuia os seguintes objetivos:

• Revitalizar o distrito histórico da Broadway entre a 2nd Street e a Avenida Olímpica; •

Ativar os teatros inativos;

•

Reativar os espaços de comércio sem uso;

•

Ajudar os varejistas;

•

Encorajar usos culturais, de entretenimento e de varejo;

Fonte: (CITY PLANNING COMMISSION OF LOS ANGELES, 2013)

Figura 64 - Mapeamento das condições existente

• Criar um senso de lugar e história através do planejamento urbano e das diretrizes de iluminação e melhorias na paisagem urbana; •

Restaurar os serviços de bonde;

•

Criar um ambiente multimodal;

•

Os princípios de projeto proposto são:

•

Manter a simplicidade;

•

Evitar recriações históricas;

•

Promover perspectivas visuais;

•

Criar e destacar conexões para pedestres;

•

Melhorar a percepção de segurança;

128

Fonte: (CITY PLANNING COMMISSION OF LOS ANGELES, 2013)

Figura 65 - Levantamento da identidade visual

•

Flexibilidade nas soluções;

• Sustentável; •

Incentivar o investimento privado.

O projeto teve início com o levantamento das condições existentes no local, verificando-se a sobreposição de diversos elementos urbanos ao longo do ano, como pode ser observado nas Figuras de número 61 até 69.

Fonte: (CITY PLANNING COMMISSION OF LOS ANGELES, 2013)

Figura 66 - Corte existente e corte proposto

O levantamento dessas condições resultou em um mapa síntese de tudo o que foi encontrado:

A identidade visual e a iluminação pública possuíram um papel de relevância no projeto e, para tanto, também fizeram parte do levantamento inicial, com seus resultados sendo demonstrados em cortes: Proposta

Fonte: (CITY PLANNING COMMISSION OF LOS ANGELES, 2013)

Figura 67 - Planta proposta

Na Figura 39, pode ser observado o corte existente e o corte proposto para a rua, assim como a planta (Figura 70) mostra o alargamento da calçada, criando mais espaço para os pedestres. Nos locais onde há faixas de pedestres, as calçadas são ainda mais largas (Figura 71 e 72), aumentando a segurança do pedestre durante a travessia.

Iluminação Pública

Fonte: (CITY PLANNING COMMISSION OF LOS ANGELES, 2013) Figura 68 - Detalhe das calçadas em esquinas

Proposta de substituição das lâmpadas de sódio por lâmpadas de alta eficiência energética de LED. Vegetação

O plano faz recomendações de espécies vegetais a serem utilizadas e oferece os critérios de locação baseados nas calçadas, distâncias entre lojas, postes e etc. – além de detalhar a drenagem.

Materiais e equipamentos urbanos

A escolha dos materiais de pavimentação foi feita respeitando-se as existentes nos trechos de ampliação das calçadas.

Fonte: (CITY PLANNING COMMISSION OF LOS ANGELES, 2013)

Figura 69 - Planta de iluminação

Fonte: (SP URBANISMO, 2017)

Da mesma forma, os equipamentos urbanos foram projetados respeitando-se a linguagem existente.

Avaliação

O plano apresentado é bem abrangente, decompondo a rua em vários aspectos – o leito carroçável, a calçada, os equipamentos urbanos, a vegetação, a identidade visual – respeitando os aspectos históricos do distrito ao mesmo tempo que trabalha a sua renovação. Apesar de abordar as várias camadas da rua, o plano não favoreceu nenhuma em detrimento das outras, muito pelo contrário, analisou-as como um todo, e a implantação de cada uma está condicionada às demais. Por exemplo, a vegetação tem condições de implantação baseadas nas distâncias da vegetação de postes, fachadas etc. A visão do sistema como um todo decomposto em várias camadas, apresentando a proposta ao lado do existente pode ser muito útil em trabalhos futuros, tornando o projeto mais simples de ser entendido por qualquer pessoa.

129

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O bairro do Bom Retiro apresenta uma grande concentração de comércio, indústrias têxteis e galpões. Sua infraestrutura é completa, porém, a rede de transportes públicos se concentra na porção sul/ sudeste do bairro, que também é onde se concentra a maior densidade habitacional do bairro, densidade esta, que é baixa e espraiada pelo território. A região faz parte de uma ilha de calor, o que aumenta o desconforto sentido pelos usuários do bairro, desconforto potencializado pela falta de manutenção do passeio público que inviabiliza trajetos confortáveis e voltados ao pedestre.

Este trabalho buscou entender a história local a partir da sua ocupação inicial, compreendendo como se deu a ocupação (em direção às margens do rio Rietê), e ao público a qual foi voltada (operários), com o advento da ferrovia, se tornou um pólo atrativo para as indústrias que pouco a pouco foram se mudando para bairros mais afastados do centro, e abrindo espaço para os comércios.

Realizou-se uma comparação do Bom Retiro com os demais bairros da Sub-prefeitura da Sé, buscando mapear as possíveis deficiências e forças em relação aos demais. Em sequência, levantou-se gráficos e mapas das condições existentes para a elaboração de um diagnóstico através da análise FOFA (SWOT), que possibilitou o desenvolvimento do caderno de propostas para o bairro presente no Masterplan.

O Masterplan desenvolvido buscou:

- a criação de espaços públicos de qualidade através de propostas de infraestrutura-verde e uso e ocupação do solo;

- otimizar e valorizar a infraestrutura local remanejando as linhas de ônibus existentes de modo que atendam à todo o bairro, conectando os espaços de lazer com ciclovias e inserindo o VLT como uma opção de transporte, que também remete a história local em um bairro que antigamente possuía bondes;

- garantir habitação digna a todos, através destinação de terrenos subutilizados ou abandonados para a moradia, e a criação de uma diretriz que estimula o uso da habitação na porção comercial;

- valorizar os espaços livres, de cultura e de lazer através da criação de uma área voltada só para o lazer e conectada com o conjunto habitacional Parque do Gato, assim garantindo um acesso seguro dos pedestres a esse espaço e criação de um parque no lugar da favela do moinho. Também foi criado um circuito com o VLT permitindo o acesso a todos os equipamentos de cultura e lazer do bairro.

E, por fim buscou-se valorizar o comércio da região, delimitandose uma área micro de trabalho a ser desenvolvidas propostas que maximizassem o projeto de requalificação desenvolvido na rua José 130

Paulino. A rua José Paulino foi escolhida em detrimento das demais, devido à sua relevância histórica e atual dentro do território.

Anteriormente conhecida como rua dos Imigrantes, era a rua por onde os imigrantes passavam em direção ao Desinfectório Central vindos da estação de trem. O fluxo de pessoas criado pela estação em direção ao centro do bairro, passava por essa rua, criando as condições ideais para o surgimento do comércio na região, que se mantém forte até os dias de hoje. O projeto elaborado limitou a área destinada a estacionamento como formar a incentivar o uso do transporte público, cedendo essas áreas à praças e um calçadão no final da rua em frente ao Centro Cultural de Moda proposto. A rua irá contar com um paisagismo específico e com a criação de mobiliário personalizado, garantindo o conforto dos usuários, sejam eles consumidores, lojistas, funcionários ou somente transeuntes. A posição privilegiada do Centro Cultural no final da rua José Paulino cria um fluxo de pessoas durante todo o dia em direção as estações de trem (reforçando a trajetória histórica, e buscando manter vivo o comércio da região).

131

REFERÊNCIAS

AMADIO, D. Desenho Urbano e bairros centrais de São Paulo. Um estudo sobre a formação e transformação do Brás, Bom Retiro e Pari. São Paulo: FAU-USP, 2004.

BARROS, H. R.; LOMBARDO, M. A. A ilha de calor urbana e o uso e cobertura do solo em São Paulo-SP. Geousp – Espaço e Tempo (Online), v. 20, n. 1, p. 160-177, mês. 2016. ISSN 2179-0892.Disponível em: http://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/97783.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA E ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÃO. Têxtil e Confecção: Inovar, Desenvolver e Sustentar - Encontra da Indústria para a Sustentabilidade. CNI/ABIT. Brasília, p. 74. 2012.

ENTIDADE OFICIAL DOS LOJISTAS DO BOM RETIRO. Números do Bom Retiro. Bom Retiro na Moda, 200-? Disponivel em: <https://www. bomretironamoda.com.br/historia/>. Acesso em: maio 2019.

FARR, D. Urbanismo Sustentável: Desenho Urbano com a Natureza. 1. ed. Porto Alegre: Bookman, v. 1, 2013.

INMET. Estação Meteorológica de Observação de Superfície Automática. Disponível em: < http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesAutomaticas>. Acesso em: julho, 2019.

JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

MANGILI, L. P. Transformações e Permanências no bairro do Bom Retiro - SP (1930-1954). São Carlos: [s.n.], 2009.

NASCIMENTO, D. Desinfectório Central. São Paulo Antiga, 2013.

Disponivel em: <http://www.saopauloantiga.com.br/desinfectorio-central/>. Acesso em: maio 2019.

REDE NOSSA SÃO PAULO. Mapa da desigualdade. São Paulo, 2019.

ROLNIK, Raquel. São Paulo. 3 ed. PubliFolha. São Paulo, 2009.

PREFEITURA DE SÃO PAULO. Cadernos das Subprefeituras - Subprefeitura Sé. PMSP. São Paulo, p. 48. 2016.

132

SMUL. Histórico Demográfico do Município de São Paulo, 200-?

Disponivel em: <http://smul.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1872.php>. Acesso em: Maio 2019.

TUDO DE BOM RETIRO. Avenida Tiradentes: Monumento a Ramos de Azevedo. Disponível em: < http://tudodebomretiro.com.br/historia/ avenida-tiradentes-2/>. Acesso em: setembro de 2019.

FERROVIASPR. Estação da Luz. Disponível em: <http://www.ferroviaspr.com.br/estacao-da-luz/>. Acesso em: setembro de 2019

133

ANEXOS

Anexo 01 - Planta da cidade de São Paulo, 1905.

Fonte: (SMUL, 200-?)

Anexo 03 - Planta Geral da Cidade de São Paulo em 1913.

Fonte: (SMUL, 200-?)

Anexo 03 - Mapa da Cidade de São Paulo em 1924.

Fonte: (SMUL, 200-?)

Anexo 04 - Mapa da Cidade de São Paulo em 1943.

Fonte: (SMUL, 200-?)

Anexo 05 - Mapa da Cidade de São Paulo em 1952.

Fonte: (SMUL, 200-?)