Boletim Companhia das Ilhas #1'22

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jorge corvo branco

mar 2022


antes que seja tarde Boletim bibliográfico da Companhia das Ilhas Número 1 - Março de 2022

COMPANHIA DAS ILHAS | EDITORES Rua Manuel Paulino de Azevedo e Castro, 3 - 9930-149 LAJES DO PICO Telemóveis 912 553 059 || 917 391 275 || Rede fixa 292 672 748 www.companhiadasilhas.pt | companhiadasilhas.lda@gmail.com

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JANEIRO

As Quatro Estações Mário T Cabral

É já uma tese antiga, a de que existimos condicionados a um movimento constante amarrado a uma imobilidade permanente, próxima da solenidade. Primavera, tempo da revolução, dos recomeços brutais e das metamorfoses assíduas, cuja força germinadora emana também do ódio com que «o galo novo mata o galo velho». E se o Verão é a estação do vigor, regente de plenitude tal que pode já antever o seu decrescimento, o Outono, por sua vez, fica a postos para o «rodopio senil» e «o terror existe, efectivamente, ao fim da tarde», num impasse entre claridade e nostalgia. Por fim, no Inverno, lugar da cegueira, «luva sem dedos», não sabemos se estamos confrontados com o fim, se com o perpétuo replantio de novos fins. As Quatro Estações pode ser lido como um ensaio poético-filosófico, ou entendido como uma narrativa teleológica, onde, sob o manto em que o caos é o denominador comum, os eventos mínimos quotidiano subjazem sempre, como uma eterna sombra, a uma ordem maior do que a sua aparência. Entrecruzando diferentes artérias literárias num pulsar verbalmente intenso, a voz de Mário T. Cabral encara-nos, neste livro, com todo o seu despojo, clarividência, desassombro, fulgor, beleza.

ISBN: 978-989-9007-66-6 Dimensões: 17x23cm 88 páginas Janeiro de 2022 Poesia, com pinturas do autor Edição: # 249 Obras de Mário T Cabral #002 PVP: 16 €

Para Onde Vamos, Irmãs? Mário T Cabral

Serenidade e urgência, mas nunca medo: no confronto com as revelações implacáveis que a morte lhe traz, o sujeito destes poemas não resvala um só passo. Pelo contrário, mune-se dela. Pressentida e, portanto, desarmada, rendida ao poder criador do verbo, tão indefesa quanto libertadora, como em Antero, tão despida que se abre, a morte reduz-se, como nos célebres versos de Herberto, a nada mais do que uma «porta / para uma nova palavra». Que palavra? Esta parece, de facto, ser a pergunta suscitada pelo título. Para Onde Vamos, Irmãs? reúne textos escritos e reescritos entre 1985 e 2017, ano em que o poeta terceirense «enrolou todo o seu corpo em forma de viagem» e adormeceu como «as sementes que o lavrador atira, de mão em leque». A evidência da passagem e da partida não lhe merece nenhum timbre condoído, nenhum desconsolo encolerizado – à harmonia entre lei e natureza responde com a lucidez de quem «aprendeu a serenar», de quem regressa ao «reino do sol», como quem adquiriu um imperturbável «conhecimento sinestésico», mesmo que todo o conhecimento, já dizia o sábio do Eclesiastes, acarrete tristeza. É a tristeza, todavia, de quem constata estar só quando o sol «lhe entra pela boca» – nada que se compare com a miséria daqueles que querem ficar «vivos para sempre / ressequidos e podres».

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ISBN: 978-989-9007-67-3 Dimensões: 17x23cm 72 páginas Janeiro de 2022 Poesia, com pinturas do autor Edição: # 250 Obras de Mário T Cabral #003 PVP: 15,50 €

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Imagens

Luísa Freire

Selecção e prefácio de Ricardo Marques

«(…) Direi agora em conclusão: os livros de Luísa foram-se acumulando e coube-me a mim a grata tarefa de os seleccionar. O privilégio desta minha tarefa derivou então neste livro, que não será somente um florilégio, as melhores flores, mas uma perspectiva pessoal sobre aquilo que ainda ninguém leu. Da sua obra inédita, composta de 26 livros autónomos e de mais de 1000 poemas, ficou de fora o primeiro, Caderno A4, que se compõe de um todo dramático a que, a meu ver, não se podem suprimir partes. Dez anos de inéditos depois, a poesia de Luísa Freire pode agora ecoar em silêncio, som inaudível em que não se sintonizam estes tempos, mas onde qualquer um se pode ler a si: «Chamo-te no silêncio, minha voz habitual./ Quem me ouvirá por ti?», um espelho modificado — que espelho não modifica o espelhado? — das célebres elegias de Rilke, escritas há cem anos.» | ricardo marques

ISBN: 978-989-9007-63-5 Dimensões: 13x18cm 192 páginas Janeiro de 2022 Poesia Edição: # 251 azulcobalto # 103 PVP: 16,50 €

Contas de Cabeça Leonardo

Poesia de quem ainda não passou muito tempo por esta vida, poesia de quem sente o seu mundo e o dos outros com alguma descrença («deus partiu-se aos cacos / enquanto armava o enredo»), poesia de quem lê os dos mesmo malfadado ofício e talvez por isso perca «sempre / os guarda-chuvas» É jovem mas não leva isso muito a sério. Nasceu nos Açores e por vezes importa-se com isso, de outras, não. «(…) o manequim / cumpre o horário / nunca acaba / de morrer» | carlos alberto machado

ISBN: 978-989-9007-58-1 Dimensões: 13x18cm 64 páginas Janeiro de 2022 Poesia Edição: # 252 azulcobalto # 104 PVP: 14 €

Ode Triumphal à Cona Cláudia Lucas Chéu

Terceiro livro de poesia publicado pela autora na Companhia das Ilhas – depois de Beber pela Garrafa e Confissão. A atenção ao que a rodeia, a linguagem disruptiva – mas bem humorada, sempre que possível… Inqualificável, e ainda bem. Alguns – e algumas – engolirão a língua, morta ou em acelerada decomposição, tanto faz. | carlos alberto machado

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ISBN: 978-989-9007-64-2 Dimensões: 13x18cm 104 páginas Janeiro de 2022 Poesia Edição: # 253 azulcobalto # 105 PVP: 15 €

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Na Cama com Ofélia

Henrique Manuel Bento Fialho «(…) Peça no feminino para um corpo feminino, Na Cama com Ofélia tem o arrojo de nos libertar deste Portugal dos pequeninos em que andamos sempre mono-centrados, pois não só retrata, por reflexo, um Fernando [Pessoa] menos conhecido — não está em causa o génio, mas nesta peça não tem espaço de manobra, mesmo sendo citado (mais valia excitado) — como traz à nossa actualidade um olhar novo sobre Ofélia, tão sempre apenas Ophelinha nas coisas portuguesas. Um dia destes, convocada pela sua própria capacidade vidente e rejuvenescida de novo, perde definitivamente os três.» | fernando mora ramos

ISBN: 978-989-9007-65-9 Dimensões: 14x22cm 56 páginas Janeiro de 2022 Teatro Edição: # 254 azulcobalto | teatro # 39 PVP: 12 €

FEVEREIRO

A Acção e o Poder no Drama Contemporâneo Jorge Palinhos

Nas últimas décadas assistiu-se a uma emancipação da cena em relação ao texto dramático, no sentido em que o teatro e as artes performativas deixaram de depender de um texto pré-existente e descobriram múltiplas fontes de criação e apresentação, que já não dependem da literatura e da construção textual, e geram obras performativas de uma enorme diversidade. Este livro apresenta um novo modelo de análise e construção dramatúrgica, assente no elemento fundamental de todas as artes performativas e narrativas: a acção. Partindo de uma investigação profunda a teorias filosóficas da ação, do discurso e do teatro, de autoria de Michel Foucault, Paul Ricoeur, Gilles Deleuze, Raymond Williams, Kenneth Burke e Alice Rayner, entre outros, é proposta um método de análise da dramaturgia de um espectáculo ou obra dramática com base na estrutura das acções e na relação que estas estabelecem entre si, com o discurso e com o respectivo contexto. Este método não só constitui uma excelente ferramenta de reflexão para criadores cénicos, como é ilustrado por exemplos de aplicação prática de análise a obras performativas de autores emblemáticos portugueses e brasileiros das últimas duas décadas, que permitem compreender a sua aplicação prática, bem como identificar algumas das características culturais e estéticas mais vincadas do teatro contemporâneo. | jorge palinhos

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ISBN: 978-989-9007-50-5 Dimensões: 14x22cm 228 páginas Fevereiro de 2022 Ensaio Edição: # 255 azulcobalto # 106 PVP: 17,50 €

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MARÇO

Cinco Cavalos Abatidos e outros Poemas Rui Almeida

Rui Almeida – uma das vozes mais sólidas e seguras da contemporaneidade poética portuguesa – regressa à Companhia das Ilhas. A poderosa e desoladora imagem do título – Cinco Cavalos Abatidos – corresponde-se com um título noticioso do dia último de 2013 e constitui uma chave de leitura para estes poemas, em que se conjuga uma crítica implacável à realidade contemporânea com um aproveitamento prodigioso do material poético do quotidiano. Alguns destes textos remetem para outras obras artísticas, sobretudo nos campos da fotografia e da pintura, para a partir delas urdir um diálogo intenso com a actualidade, fundindo o olhar do poeta e o do cronista, num retrato avassalador que percorre a geografia nacional e a indigência das suas instituições, se desmaterializa e censura sem tréguas a hegemonia capitalista global e os seus algozes sem rosto, e a que sequer falta a reprovação dos oprimidos da ordem instituída, à qual, alienados, não oferecem resistência: «escravos do que consumis, escravos / Do que vos consome, esse Saturno / Insaciável, a quem tratais / Por pai e vos devora sem piedade». Cinco Cavalos Abatidos foi um título de notícia que se transmudou em título de um livro e de um poema nele contido – mas podia ser o de uma fotografia ou o de uma pintura, onde nos reveríamos todos assim, mortos «sem motivo aparente», sem tão-somente direito de encarar os nossos carrascos, despojados de «préstimo ou elevação», deserdados da «História, à qual tudo perdoamos / Em nome da erudição / (…) / Na heterodoxa afasia / Que tanto alívio dá à memória».

ISBN: 978-989-9007-68-0 Dimensões: 13x18cm 88 páginas Março de 2022 Poesia Edição: # 256 azulcobalto # 107 PVP: 15 €

Limbo, Inferno e Paraíso. Três Estados Apócrifos Nuno Dempster Três Estados Apócrifos, pois se Limbo, Inferno e Paraíso encontram inspiração na Comédia, já nada têm a ver com os de Dante. Três estados físicos, humanos: Limbo, a infância, as possibilidades luminosas, lugar dos que sonham e resistem. Inferno, comum estado de quase todos – perdida a inocência, aqui chegámos, rolo compressor de um quotidiano sem escape e da punição em vida. E o Paraíso, vasto lugar de concentrada riqueza e violento poder. O Purgatório não existe nesta mundividência, já que o remorso se afigura inútil. Cem poemas em que vibra uma consciência lúcida, acutilante, mas compassiva, que revisita o passado e disseca o presente.

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ISBN: 978-989-9007-69-7 Dimensões: 13x18cm 164 páginas Março de 2022 Poesia Edição: # 257 azulcobalto # 108 PVP: 16,50 €

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ABRIL

As Fogueiras do Mar Luiz Fagundes Duarte

De cunho testemunhal e lírico, concebidas semanalmente, entre 1999 e 2014, para o jornal Diário Insular, e agora compiladas com o selo da Companhia das Ilhas, estas crónicas do filólogo e escritor Luiz Fagundes Duarte (Terceira, 1954) remetem, com o poder metonímico do seu título – As Fogueiras do Mar –, tanto para a origem geológica das ilhas sobre as quais se debruça, como para a condição existencial de quem nelas nasce, habita, ou delas parte, ou nelas aporta. Não se conte, porém, encontrar aqui apenas o lugar sentenciado ao abandono e ao isolamento, geografia de danados e esquecidos. As ilhas destas crónicas apresentam-se-nos com as suas particularidades paisagísticas, sociológicas, linguísticas, mas não se esquece o cronista, «agnóstico meditabundo», de religar essas propriedades com o imaginário literário que o velho mundo ocidental urdiu até à contemporaneidade. O elemento marítimo surge nestes textos sobretudo como caminho de abertura, de desbravamento dos universos derredor e não é, por isso, de espantar que o leitor, na visitação da paisagem e das reflexões insulares, tropece em Ulisses ou em Rafael Hitlodeu, ou se depare com o mundo ficcional de Nemésio, ou até com a lírica de José da Lata. Aqui temos, em exercícios textuais enxutos, mas não secos, memorialísticos, mas sem ceder à proporção maçuda, a mestria discursiva de um autor que conjuga os saberes erudito e popular, as dimensões histórica e mitológica, impregnando-as com o seu olhar íntimo, a sua vivência pessoal feita de cartapácios e de «apanhar feijão e batatas», e aproximando a experiência da leitura de um itinerário cultural que promete a chegada a uma ilha que o leitor não encontrará no mapa, mas dentro de si.

ISBN: 978-989-9007-70-3 Dimensões: 13x18cm 118 páginas Março de 2022 Poesia Edição: # 258 transeatlântico # 043 PVP: 15,50 €

O Meu Caminho

Helder Bettencourt O Meu Caminho reúne as partituras de 12 temas para instrumentos de banda filarmónica. Maioritariamente composto por peças do cancioneiro açoriano, este trabalho representa a evolução musical do seu autor, o Maestro Helder Bettencourt – com 38 anos de vida musical. Significa também um desafio para renovar o repertório para clarinete, com quatro temas originais, especialmente dedicados ao trabalho das escolas de música açorianas. Um contributo importante para a preservação do repertório da música tradicional açoriana.

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ISBN: 978-989-9007-73-4 Dimensões: 22x30 cm 182 páginas Abril de 2022 Música Edição: # 261 Terra Açoriana # 007 PVP: 16 €

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O que acontece quando não se passa nada no Teatro Art’imagem breve alembrança seguida das peças:

O Vosso Pior Pesadelo e

Portugués, Guapo y Matador Manuel Jorge Marmelo Este livro é um exercício de memória — uma alembrança. Procura resgatar recordações que, em alguns casos, remontam há três décadas e que, pelas péssimas razões impostas pela natural degenerescência dos tecidos cerebrais, são agora vagas sombras que miseravelmente se agitam nas regiões profundas, quase líquidas, do córtex e do hipocampo. (…) A memória, seja como for, é uma arte imperfeita. (…) Fiz o que pude, mas fiquei com a nítida impressão de que não sou ainda suficientemente velho para recompor as histórias mais antigas, lembrando-me muito melhor daquelas que sucederam há menos anos. O texto que a seguir se apresenta resulta, pois, de um desafio que me foi lançado pelo José Leitão, dinossauro excelentíssimo do teatro do Porto, que tem sido a força motriz do Art’Imagem e o seu cimento. Destina-se a integrar o programa comemorativo do quadragésimo aniversário da trupe e constitui o relato possível do meu convívio — pessoal e artístico — com as pessoas que construíram a história da indómita trupe do Porto e da modestíssima participação que me coube nesse enredo, ao qual se seguem os textos das duas peças que, com quase duas décadas de intervalo, escrevi para a companhia. (…) | manuel jorge marmelo

ISBN: 978-989-9007-71-0 Dimensões: 14x22cm 192 páginas Abril de 2022 Teatro Edição: # 259 azulcobalto | teatro # 040 PVP: 17 €

Elogio da Descrença António Vieira Estes fragmentos exprimem, sucessivamente, a descrença na linguagem, no género Homo, nos deuses, nas essências, na liberdade e na história, e culminam no reconhecimento e na celebração de um Jogo do mundo como dinamismo de fundo original. Provêm de notas escritas ao longo de duas décadas. Trata-se quase sempre de estilhaços de escrita, ecos eles próprios de estilhaços de pensamento. Um tal viveiro de anotações dispersas obrigou à sua decifração, transcrição, ordenação e aclaramento, e o material por fim obtido, contendo breves momentos de ficção por entre elementos de reflexão, foi dividido em doze núcleos temáticos. Os capítulos resultantes, subdivididos eles próprios em segmentos, articulam-se por forma a que um fio discursivo guie os blocos de texto, dando-lhes unidade e extraindo da sua sequência o projecto de um livro. A sucessão de interrogações, asserções e comentários encadeados configura uma maneira de olhar o mundo e de estar no mundo, guiada pela ideia da fenomenologia. | antónio vieira

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ISBN: 978-989-9007-72-7 Dimensões: 14x22cm 232 páginas Abril de 2022 Ensaio Edição: # 260 terceira margem # 006 PVP: 18 €

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um autor

Mário T Cabral

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alexandre borges

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Fotografia : margarida quinteiro

N

asceu na Ilha Terceira em 1963, viveu em Lisboa e no Faial e regressou à freguesia natal, São Mateus da Calheta, para morar e trabalhar até ao fim da vida na casa de família, que transformou, diversas vezes, emcenário para a sua literatura: a Casa das Tramoias. Aluno e professor brilhante, leccionou filosofia e psicologia no ensino secundário e, mais tarde, filosofia para crianças. Doutorou-se pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa com uma tese em Agostinho da Silva, Teixeira de Pascoaes e Delfim Santos, onde faz a síntese do seu pensamento em teologia, filosofia e literatura: Via Sapientiae – Da Filosofia à Santidade, publicada pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda. Publicou também O Meu Livro das Receitas (Pedra Formosa), O Livro das Configurações (Campo das Letras), O Acidente (Campo das Letras, Prémio John dos Passos 2007), Tratados (Companhia das Ilhas) e O Mistério da Casa Indeterminada (Companhia das Ilhas). As boas maneiras podiam contar tanto para a nota de um seu aluno como o resultado de um teste escrito, dessintonizou um canal de televisão no dia em que estreou o primeiro dos reality shows e foi o primeiro director do Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo. Pintou, cuidou do seu jardim, colaborou regularmente com a imprensa e deixou vasta obra inédita que a Companhia das Ilhas começou a publicar em 2021.

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pré-publicação

I. LINGUAGEM É certo que as palavras, os seus dédalos, a imensidão esgotante das suas possibilidades, por fim a sua traição, têm algo das areias movediças.

georges bataille

H

á um carácter totalitário da linguagem, impetuoso e jucundo, que a acompanha desde o seu estado mais

elementar e a leva a visar todos os seres em jogo. Esta tirania da palavra exerce-se sobre um fundo emocional de pensamento dialéctico, opondo as díades eu/não-eu, nós/eles, aqui/ além, antes/depois, agora/outrora, e mais, e mais, e leva o sujeito falante a apropriar-se sem esforço da totalidade do mundo. Assim parte à conquista da Coisa-mundo, sem nada obter, é certo, da sua intimidade: não desvenda os segredos últimos,

António Vieira

ELOGIO DA DESCRENÇA

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mas funda sobre a matéria uma instância dialéctica de poder. Esta apropriação da totalidade dá-se de modo defectivo e fraudulento, porque as palavras não equivalem aos objectos, como bem se sabe: entre palavra e objecto denominado, entre linguagem e mundo, flutua uma membrana de indeterminação, de cuja substância se formam mitos, crenças e preconceitos, e à qual é confiada a conciliação contra natura entre a expressão verbal e a realidade das coisas. A fatalidade humana surge com a palavra: inventada e fixada sob as leis pragmáticas da evolução, saída incautamente da caixa de Pandora, eis que logo o feiticeiro é assediado pelo próprio feitiço: porque dizer projecta-o assimetricamente no passado e no futuro. Ao inquirir esses tempos problemáticos das origens e do destino, perde a apaziguadora impressão de viver no presente. O que deveria ser dádiva e benefício para o corpo vem inquietar o espírito e levá-lo à fronteira do desespero. [. . .]


Vitorino Nemésio Obra Completa Imprensa Nacional — Companhia das Ilhas Direção literária: Luiz Fagundes Duarte

POESIA I.

Poesia (1916-1940) Edição de Luiz Fagundes Duarte

II.

Poesia (1950-1959) Edição de Luiz Fagundes Duarte

III. Poesia (1963-1976) IV. Poesia Póstuma

Portugal e Brasil no Processo da História Universal (1952) O Campo de São Paulo — A Companhia de Jesus e o Plano Português do Brasil (1528-1563) (1954) IV. Vida e Obra do Infante D. Henrique (1959) Almirantado e Portos de Quatrocentos (1961)

TEATRO E FICÇÃO I.

Amor de Nunca Mais (1920) Edição de Chloé Pereira Paço do Milhafre (1924) O Mistério do Paço do Milhafre (1949) Edição de Urbano Bettencourt

II.

V.

Vultos e Perfis (2003) VI. Dispersos CRÓNICA I.

Varanda de Pilatos (1927) A Casa Fechada (1937) Edição de Luiz Fagundes Duarte com a colaboração de Francisco Maduro-Dias

III. Mau Tempo no Canal (1944)

Sob os Signos de Agora (1932)

II.

II.

A Mocidade de Herculano (1934) Isabel de Aragão, Rainha Santa (1936)

III. Relações Francesas do Romantismo Português (1936)

Corsário das Ilhas (1956) O Retrato do Semeador (1957)

III. Viagens ao Pé da Porta (1967) Caatinga e Terra Caída (1968) IV. Jornal do Observador (1971)

Conhecimento de Poesia (1958) Edição de Ângela Correia

Ondas Médias (1945) O Segredo de Ouro Preto e Outros Caminhos (1954) Edição de Cláudia Cardoso

ENSAIO I.

Quase Que os Vi Viver (1985)

Era do Átomo Crise do Homem (1976) V.

Se bem me Lembro… (1969-1975)

VI. Jornal Disperso (1916-1978),      (tomos i e ii)


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