CARBONO UOMO #19

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CARBONO

CARBONO uomo Nº 19

Nº 19 C R I O L O Indicado seis vezes ao Grammy

Latino, o cantor, compositor e ator é o músico que melhor representa a nova era

C E N A A R T S Y Quem está por trás da jovem

Nº 19 - R$ 35,00

arquitetura brasileira e as apostas mais quentes do universo artístico no País

F A L A M O S C O M E L E S Fabrício Carpinejar, Artur Lescher, Arnaldo Danemberg e mais

M O T O R Testamos os elétricos chineses

que fizeram despencar os preços no Brasil

S I N A L V E R D E Um panorama atualizado

sobre a cannabis medicinal e um roteiro de pequenos produtores rurais no eixo Rio-SP

P Á G I N A S A M A R E L A S Bares, gadgets,

tapetes, vinhos, chapéus e sushi. Um pouco de tudo aquilo que a gente adora






Há oito décadas, no coração da cidade de São Paulo, começava a escrever-se uma história que se revelaria preciosa e repleta de dedicação - era o nascimento da Brasília de Jóias. Nesta intensa jornada que entrelaçou o passado com o futuro, emergiu um novo capítulo na história da elegância, graças à visão de Nelson. Assim surgiu a Frattina, um nome que carregaria as memórias de um lugar amado por nossa família, na Itália. No início, nossos olhos se voltavam somente para o tique-taque que marca a passagem das horas e identifica o seleto grupo de homens e mulheres que são apaixonados pelos melhores relógios do mundo. Marcas de renome internacional encontraram nas nossas mãos dedicadas e persistentes o local ideal para conectar-se com seus leais clientes no Brasil. Com o passar do tempo, emergiram joias autorais que eternizariam momentos, sentimentos e até mesmo vidas inteiras. O tempo avançou, e nossa mais valiosa herança, a tradição, encontrou sua continuação. A terceira geração da família Frattina traz consigo o frescor do amanhã, sem renunciar à âncora representada pela Brasília de Jóias e às oito décadas de reconhecimento e vivências. Sempre soubemos que o valor real reside na história, na dedicação ao trabalho manual, na curadoria das marcas e dos relógios e na paixão pela qualidade. Em uma era onde as horas fluem como rios digitais, a Frattina mantém viva a tradição de contar histórias por meio de suas joias. Bem-vindos ao nosso universo, onde tradição e inovação se encontram e onde o valor autêntico de uma joia é tão eterno quanto o amor e a história que ela representa.


Boutique Oscar Freire, 848 Boutique Shopping Iguatemi

www.FRATTINA.com.br Tel.: 11 3062-3244

@frattina








Ca r b ono U om o + MOËT & CHANDON

A M AIOR CA SA DE CHA M PAGNE DO MUNDO CELEBRA 280 ANOS DE OLHO NO FUTURO

A Maison Moët & Chandon, uma das marcas mais celebradas do mundo, completa 280 anos de história. Pertencente ao grupo LVMH – o maior produtor de artigos de luxo do planeta –, a empresa, fundada em 1743, é a principal referência quando falamos de champagne e traz em seu portfólio rótulos icônicos, como Moët Brut Impérial, Rosé Impérial, Ice Impérial, Ice Impérial Rosé, Nectar Imperial, e a coleção de Grand Vintage, com rótulos feitos entre 1999 e 2015. Este ano a Moët & Chandon foi listada novamente como a marca de bebidas mais valiosa do mundo no ranking Brand 14

Finance. E foi mesclando tradição, história e presente que a Maison chegou ao seu 280º aniversário acreditando que é possível transformar qualquer momento em uma ocasião especial. No âmbito do impacto social, a Casa trabalha para proteger a biodiversidade e vale destacar que, em 2007, recebeu a certificação ISO-14001 em todas as suas atividades e, em 2014, conquistou dupla certificação em viticultura sustentável e de alto valor ambiental. Desde 2009 também apoia iniciativas filantrópicas por meio do programa Toast for a Cause, sua conhecida ação social que conta com a


Ca r b ono Uo m o + MOËT & CHANDON

“A Möet & Chandon lidera o caminho para um futuro responsável ao proteger a natureza, preser var a biodiversidade em Champagne, reduzir sua pegada de carbono e garantir o brinde das próximas gerações”

participação de famosos mundo afora. Ainda pensando no futuro, a líder e dona da maior propriedade da região francesa de Champagne criou o programa Natura Nostra, projetado para responder aos desafios das mudanças climáticas que temos acompanhado nos últimos anos. A iniciativa apresenta os termos de compromisso da marca em longo prazo, visando estabelecer um equilíbrio ecológico ao reavaliar as intervenções humanas na natureza. Com a ação, a Moët & Chandon assume a responsabilidade de proteger a flora e a fauna locais por meio de ações de agroecologia.

Com isso, além de seus 1.280 hectares de vinhedos, a empresa dedicou 380 hectares à preservação da biodiversidade, incluindo 300 hectares de bosques e quase 80 hectares de pastagens naturais, e também já plantou 15 quilômetros de cercas vivas em parte de seus terrenos. Inspirada em seu legado e seu espírito pioneiro, a Moët & Chandon lidera o caminho para um futuro responsável ao proteger a natureza, preservar a biodiversidade em Champagne, reduzir sua pegada de carbono no meio ambiente e garantir o brinde das próximas gerações. @moetchandon 15


Pr i meiras P al avras

O Buraco Negro do Coração Uma pessoa que amo muito foi morar no campo. Ainda não conheci sua nova morada, mas dizem que o lugar é lindo. Que lá o ar é fresco e a brisa é sutil. Que os animais são calmos e os frutos, suculentos. E, em dias claros, dá para ver o mar. Dizem também que ali moram velhos conhecidos. E que a aura é de amor e respeito. O contato é bastante raro. Não há internet nem sinal de telefone. Fica difícil saber como andam os que lá estão. Mas muitos afirmam que acolá tudo é resplandecente! Nunca vi uma foto ou convivi com alguém que morou na região... Porém, prefiro crer que o que tanta gente afirma é verdade. Até então não fui chamada para frequentar. Mas me foi certificado que um dia visitarei essa casa no campo. E lá encontrarei todos aqueles que, antes de mim, já desviveram. Escolhi acreditar nisso. Que aqueles que amamos nunca morrem. Apenas se mudam para uma casa no campo que não podemos enxergar. Mas, e tudo mais aquilo que perdemos e que nos causa um mix de reações estranhas no coração? Para onde vai aquele momento irrecuperável, aquela ideia paralisada, aquela oportunidade desperdiçada? Para onde vai aquele pôr do sol que sumiu no horizonte enquanto você digitava uma mensagem? E aquela criança pedindo colo enquanto você estava carregando outros compromissos nos braços? São lutos que vivemos diariamente, mas, estes sim, evitáveis. Vivam! Pelo Deus que creem, vivam! Não se deixem sucumbir enquanto respiram. Abram os olhos, mesmo que cheios de lágrimas, e enfrentem a beleza da vida. Armem-se e cacem o que lhes faz suspirar. E, para aqueles lutos que não podemos evitar, nos resta desejar que a casa no campo tenha janelinhas azuis. E vista para um eterno arco-íris. Feliz 2024

Lili Carneiro Publisher

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Expediente

REDAÇÃO EDITOR A CARBONO P U B L I S H ER

Lili Carneiro lili@editoracarbono.com.br D I R E TO R E X E C U T I VO E D E L I FES T Y L E

Fábio Justos publicidade@editoracarbono.com.br D I R E TO R A D E A RT E

Mona Sung ED I TO R A CO N V I DA DA

Adriana Nazarian P R O D U Ç ÃO

Bianca Nunes revistas@editoracarbono.com.br R E V I S ÃO

Paulo Vinicio de Brito T R ATA M EN TO D E I M AG EN S

Cláudia Fidelis

COMERCIAL E BACK OFFICE D I R E TO R D E CO M U N I C AÇ ÃO E N E G Ó C I O S

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Valquiria Vilela financeiro@editoracarbono.com.br A D M I N I S T R AT I VO

Gisele Souza atendimento@editoracarbono.com.br

COLABORADORES

Marilia Levy Marina Lima Mason Wilson Mona Conectada Nathan Fernandes Paula Campoy Paula Chaffin Pedro Kok Pedro Rammsy Rafael Salvador Ramon Dionizio Raquel Fortuna Rebeca Martinez Regina Kotsubo Renata Guiotto Ricardo Dangelo Romulo Fialdini Rubens Starosky Ruy Teixeira Telma Shiraishi Thiago Couto Valentino Fialdini Valter Pontes Victor Lopes

Artur Lescher Bianca Nunes Bob Wolfenson Bruno Lopes Bruno van Enck Cecília Sampaio Daniel Mansur Denilson Machado Denise Andrade Diego Lopes Dimitri Mussard Ding Musa Dóris Sochaczewski Dudu Morettin Eduardo Simões Eric Tourneret Eron Costin Eugênio Augusto Brito Fabiano Al Makul Fabio Maca Fernando Pedroso Franz Venzin Gabi Monteleone Giovana Romani Guilherme Mion Ramos Hasselblad Humberto Maruchel Jairo Malta Javier Agustin Rojas João Bertholini José Neto Josemas Cutillas Karin Kussaba Laís Asca Luca Rosseti Luciano Ribeiro Luisa Alcantara e Silva Manuela Stelzer

EDITORA CARBONO Av. Rebouças, 3575 Jardim Paulistano 05401-400, São Paulo, SP C T P, I M P R ES S ÃO E AC A B A M EN TO

Stilgraf C I R CU L AÇ ÃO

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Carbono Uomo é uma publicação da Editora Carbono | CNPJ 46.719.006/0001-14

C A PA F OTO G R A FI A

Danilo Borges

• Nº 19 •

ED I Ç ÃO D E M O DA

Cuca Elias

GROOMING CO N C EP Ç ÃO ED I TO R I A L

A Editora Carbono não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam do expediente da revista não têm autorização para falar em nome de Carbono Uomo ou retirar qualquer tipo de material para produção de editorial caso não tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por um integrante que conste do expediente.

Sabrina Silva C R I O LO U S A

Handred

AG R A D E C I M EN TO

Casa Rosa Amarela

@CARBONOEDITORA



• Nº 19 •

A SEGUIR:

22. CU RTAS Apanhado geral 32. MEU BAIRRO Fabiano Al Makul 36. EN T RE V I S TA Fabrício Carpinejar 40. MEU ESTILO I Arnaldo Danemberg 42. L I T ER AT U R A Artur Lescher 46. PERFIL Criolo 66. ARQUITETURA Antonio Mantovani Neto 72. MINDS I Fábio Oliveira

VIAGENS 110. França — 116. Snow Tour 120. Itacaré

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74 . MEU ESTILO II Bruno Bertoli

94. ECONOMIA Pequenos produtores

76 . URBANISMO Nova arquitetura brasileira

10 0. MOTOR Elétricos acessíveis

82. ARTE Panorama atual

10 4 . SAÚDE Cena da cannabis

88. CO M P O RTA M EN TO Mood verão

12 4 . CARBONO ZERO Sustentabilidade no Brasil e fora

92. MINDS II Fernanda Caloi

131. PÁG I N A S A M A R E L A S Um guia Carbono Uomo



C U R T A S | Carbono Uomo

CURTAS Arte, moda, drinks, comidinhas, novidades, cultura e tendências. Um apanhado geral do que tem rolado por aí Por Carbono Uomo

S A L A D A M I S TA Damasco desidratado, uva-passa, laranja e limão-siciliano são alguns dos ingredientes usados na novidade lançada pela confeiteira Marilia Zylbersztajn: uma compota de frutas. Ótima dica para mimos de final de ano! @marilia_zylber_confeitaria

M A X I M A L I S TA Programa obrigatório para quem vai passar por Lisboa nas férias: a exposição de Joana Vasconcelos no MAAT. Grandes em tamanho, cor e criatividade, suas obras ficam ainda mais fantásticas nesse museu à beira do Tejo. Até o final de março. @maatmuseum

SIGA O MESTRE Em busca de um curso incrível para 2024? A Bottega Veneta acaba de criar uma escola com aulas inspiradas na arte do fatto a mano. E mais: depois dos aprendizados, os alunos selecionados terão chances reais de conseguir um emprego na marca. bottegaveneta.com

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Uma nova rede social promete chacoalhar o universo digital. A Squad é uma star tup brasileira que une platafor ma de pesquisa, troca de recomendações e comunidades. O app desenvolvido por Rafaela Goldlust e Larissa Cher n foca na social search (busca dentro de comunidade digitais). Funciona assim: se você quer saber qual o melhor lugar para tomar um café turco em São Paulo e acha as respostas do Google generalistas, ou trabalhoso demais perguntar aos membros de suas redes sociais, crie uma conta no Squad. Uma vez dentro da platafor ma, o usuário se conecta com pessoas com interesses em comum e lança perguntas sobre qualquer assunto que desejar. @sqdsocial

Fotos Bruno Lopes, Luca Rosseti e divulgação

RESPOSTA HUMANA


O RETORNO Quem ficou t riste com o encer ramento da Cosac Naify está em festa: a editora anunciou seu retor no, agora sob o nome de Cosac. Para marcar a nova fase, escolheu um livro dedicado à obra do ar tista Siron Franco e, entre os planos futuros, estão publicações sobre Daniel Senise e José Resende.

MAIS UMA DOSE O verão pede drinks refrescantes e nós já elegemos os nossos, 100% nacionais. Nesta temporada, vamos de Çã, um cider supernatural inspirado nos britânicos, e de Lena, cachaça saborosa e brasileiríssima. @caciderbr | @beba.lena

AUTORAL O Nou, restaurante paulistano tão gostoso quanto despretensioso, acaba de ganhar um vinho para chamar de seu. Os rótulos – um malbec, um rosé e um torrontés – foram criados em conjunto com a vinícola Lagarde, de Mendoza, para celebrar os 15 anos do endereço gastronômico. @nourestaurante

Em 2024 São Paulo recebe Andrea Bocelli, Beyoncé e Shakira. Já no line-up do Rock in Rio estão confirmados Ed Sheeran e Joss Stone.

BON APPETIT A família Troisgros abre mais uma casa no Rio de Janeiro. Thomas, filho do chef Claude, inaugura o Toto, em Ipanema, no melhor estilo neobistrot parisiense. No andar de cima será inaugurado o Oseille, focado em menu degustação. @totoipanema 23


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QUEREMOS…

F U N A RT Roberta Romanelli e Rodolpho Rivolta são os fundadores da R2 Art Lab, laboratório artístico focado em criações baseadas no processo de upcycling, onde materiais descartados são transformados em obras únicas e exclusivas. São peças com referências lúdicas dos anos 1980, pop art e collabs com artistas contemporâneos como Valentino Fialdini, Flavia Junqueira e Estúdio Mula Preta. @r2artlab 24

Fotos Bruno van Enck e divulgação

…tudo da nova coleção Harmonia, de Tiago Tormin! O artista plástico, em parceria com a Galeria Verniz, lançou uma série de peças únicas inspiradas na brasilidade e na natureza. Utilizando antigos mobiliários e matérias-primas estocadas da galeria, o jovem criou obras de arte originais e sustentáveis. São luminárias restauradas, esculturas de marcenaria e fragmentos de espelhos pintados à mão, que ganharam um novo significado pela expressão artística de Tormin. Sui generis! @tiago.tormin | @vernizsp


N AT U R A L M E N T E Estamos de olho no Clementina, bar de vinhos que acaba de ser aberto em Pinheiros (SP). A empreitada é dos mesmos donos do La Mar e aposta em rótulos naturais, orgânicos e biodinâmicos. Para acompanhar, queijos e itens de charcutaria feitos por pequenos produtores. @clementina___sp

ANO NOVO CEP A galeria Bafu (Barra Funda Autoral) está de casa nova. Agora, é um imóvel de três andares na Santa Cecília (SP) que serve de cenário para a curadoria super cool do projeto. Vale conhecer! @barrafundaautoral

O whisky single malt Glenmorangie Highland, fabricado desde 1843 nas terras Altas escocesas, gosta de novidades! Após ganhar uma campanha ultracolorida fotografada pelo renomado Miles Aldridge e inaugurar um hotel boutique Glenmorangie, no Reino Unido, relança sua embalagem com uma garrafa cheia de cores e detalhes lúdicos. Carbono Uomo adora o Glenmorangie Quinta Ruban, single malt 14 anos que começa macio e frutado e vai ficando mais escuro e profundo. Tim-tim! @glenmorangie

CABECEIRA Está em pré-venda pela Editora Companhia das Letras a edição inédita de Viagem a Portugal, de José Saramago. O livro conta com fotografias tiradas pelo autor, mapas com itinerários sugeridos por ele e texto de 1999 nunca antes publicado no Brasil. @companhiadasletras 25


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F R AT T I N A FA Z 8 0 A N O S E INAUGURA FLAGSHIP NO

Em comemoração aos 80 anos da marca, uma das maiores referências em alta joalheria do Brasil, a Frattina inaugurou uma nova loja conceito para fazer par com a boutique dos Jardins, na Rua Oscar Freire. O local escolhido foi o Shopping Iguatemi, em São Paulo, o disputado polo de compras e entretenimento da capital paulista. A nova flagship simboliza a evolução de posicionamento da Frattina, que investe na contemporaneidade sem deixar de lado seus valores e tradições. Fundada em 1943 por Nelson Waisman, a Frattina é hoje uma das maiores representantes de marcas de alta relojoaria suíça no Brasil e oferece um atendimento personalizado. A empresa, atualmente conduzida pela terceira geração da família Waisman, é guiada visando a uma constante e imprescindível renovação. A nova casa, localizada no 3º piso do Shopping Iguatemi, impressiona pelas extensas vitrines de mais de sete metros de largura, que traduzem a grandiosidade da história da maison. Pelos imensos vidros é

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possível apreciar as criações autorais de design único, totalmente distante dos desenhos massificados das cadeias globais. Projetada pelo escritório LoebCapote, a boutique foi inspirada nas raízes e na natureza brasileira. Muitos elementos orgânicos, como a madeira natural e os tecidos em tons de verde, remetem ao paisagismo tropical. A artista plástica Lúcia Loeb, conhecida por explorar possibilidades únicas de sobreposições e camadas artísticas, foi a responsável por desenvolver a porta de entrada principal, uma obra de arte que tem atraído olhares admirados de quem passeia no Shopping Iguatemi. Outra supernovidade, apresentada como parte das comemorações dos 80 anos da joalheria, ficou por conta da reabertura das únicas boutiques IWC Schaffhausen e Panerai da América do Sul, integradas à flagship da Frattina. Ambas as relojoarias trazem novidades exclusivas para a maison tripla, além de coleções de Vacheron Constantin, Hublot e Tag Heuer. @frattina

Fotos divulgação

S H O P P I N G I G U AT E M I


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SOB MEDIDA A Range Rover inaugura no Brasil seu serviço exclusivo de customização SV Bespoke Commissioning. Os proprietários dos veículos Range Rover Autobiography e Range Rover SV, da JLR, poderão escolher cores, materiais, acabamentos e temas para suas máquinas. Só na paleta para interiores, são mais de 400 tons disponíveis! @landroverbr

TESOURO E S C U LT U R A L O designer Jay Boggo, à frente da marca de moda autoral J.Boggo+, lançou uma linha de mobiliário e objetos de decoração. São verdadeiras esculturas para o lar, feitas de madeiras originárias do Pará. As peças saem da fábrica sustentável Rahr by Jay Boggo, nova empreitada do artista que visa ao reaproveitamento de toras do Norte do Brasil. Em dezembro, maxicandelabros e mesas extravagantes foram expostas na Art Basel de Miami. @rahrbyjayboggo

Aos fãs de perfume, eis um item digno de colecionador. A Guerlain convidou a designer de joias turca Begum Khan para colaborar em uma edição limitadíssima de sua fragrância Imagine. O resultado? Uma bee bottle composta de 37 gemas brilhantes de pavé, produzidas e inseridas à mão, e flor banhada a ouro 24 quilates. Mas a novidade é para poucos: foram fabricadas 4.415 peças, todas numeradas, e apenas dez estarão disponíveis no Brasil. @guerlain

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R E S TA U R A N T E V I S TA É A B E RT O NOS JARDINS SOB COMANDO DO CHEF TUCA MEZZOMO O badalado restaurante Vista, que ocupa o terraço do icônico Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, no bairro Ibirapuera, ganhou uma segunda unidade no rooftop do Shops Jardins, na R. Haddock Lobo. No comando da cozinha está o premiado chef Tuca Mezzomo – sua outra casa, o Charco, foi eleita a 56a melhor da América Latina pelo ranking Latin America’s 50 Best Restaurants. O novo endereço é um espaço lindíssimo, marcado pela madeira e pela iluminação natural, com um projeto que faz releitura dos anos 1950 e 1960, época das obras arquitetônicas de Oscar Niemeyer. O ponto alto fica por conta de um forno a lenha revestido de cobre, de onde saem as deliciosas criações de Tuca, como as pizzetas de ragu de linguiça artesanal ou de queijo de cabra com uvas assadas e o suculento leitão com pele crocante, que chega à mesa com tutu de feijão branco, couve-manteiga salteada e vinagrete de maxixe. O foco da sua cozinha é a comida brasileira, mas Tuca expandiu o trabalho para abordar mais do Nordeste, do Centro e do Norte do País, sem ficar preso apenas à sua terra natal, que é o Rio Grande do Sul. “Quis trazer uma brasilidade sob meu ponto de vista, minha perspectiva. A gente tem a moqueca baiana, o tutu mineiro. O Vista tende a ser um restaurante mais diverso em termos de paladar, que realmente agrada a todos os públicos”, ele define. Carbono Uomo adora o pastel de vatapá com lagosta, acompanhado de vinagrete de pimenta-de-cheiro, e as ostras de Santa Catarina com caviar uruguaio, preparadas no vapor, que vêm à mesa com creme de nata, limão-cravo e cebolete. @vistajardins

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Fotos Ricardo Dangelo e divulgação

INTIMISSIMI UOMO ABRE PRIMEIRA LOJA FÍSICA NO BRASIL A marca italiana Intimissimi Uomo, de underwear, knitwear, meias e moda praia, abriu sua primeira loja física no Brasil, marcando o início das operações presenciais da label-irmã da Intimissimi no país. A vertente de moda masculina da multinacional, com sede em Verona, na Itália, iniciou suas atividades no mercado brasileiro no começo deste ano com operações via e-commerce (intimissimiuomo.com.br/homem), e agora deu início à fase de expansão por meio de lojas físicas – a marca já conta com 200 lojas em 19 países do globo. “Acreditamos no potencial do mercado nacional e a prova disso é que trouxemos uma nova etiqueta com plano de expansão sólido dentro do País. Nossa intenção é sempre ampliar nossa oferta e nosso público sem abrir mão da nossa essência, e ser um aliado em vários momentos e necessidades do cliente Intimissimi. Foi um passo natural oferecer nosso know-how e design Made in Italy para os homens brasileiros, trazendo opções práticas e versáteis do underwear ao sportswear”, comenta Alvaro Gutierrez, Country manager do grupo Calzedonia no Brasil, responsável pelas marcas Intimissimi Uomo, Intimissimi e Calzedonia. Além das matérias-primas de alta qualidade e da tradição do fatto in Italia, a Intimissimi Uomo oferece peças que apostam no estilo casual e versátil: seja nas boxers e cuecas com estampas e cores vibrantes, ou nos melhores cortes de regatas, camisas e camisetas de algodão Supima. @intimissimiuomobrasil 29


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CORRENDO COM GOSTO

N A S A LT U R A S A Avenger, linha de relógios que é um clássico da Breitling há mais de 20 anos, tem novidades. A inspiração segue sendo a aviação – os modelos foram criados para atender os pilotos de caça –, que agora ganham detalhes militares sofisticados e materiais ainda mais resistentes ao desgaste. São três novos formatos, sendo um cronógrafo de 44 mm, um modelo GMT automático de 44 mm e um modelo automático de 42 mm. Todos com resistência a água de 300 m. @breitling 30

Fotos Franz Venzin, Guilherme Mion Ramos, Paula Campoy e divulgação

Uma nova marca de nutrição esportiva tem chamado a atenção de atletas de endurance no Brasil. A WeOn oferece suplementos para alto rendimento e performance e tem sido notada pelo sabor único de seus produtos. São géis para recarga rápida de energia; gomas de absorção gradativa – as únicas no mercado a conter palatinose, que promove esse tipo de absorção gradual durante a atividade física –; barras perfeitas para um snack saudável; e pós de whey protein ricos em aminoácidos. Os ingredientes são todos naturais e vegetarianos e, além dos sabores tradicionais, como chocolate e baunilha, tem goma de amora e de framboesa; barrinha de banana, nozes e amêndoas; drink mix de jabuticaba e de matchá de limão, além de gel de maçã verde com canela. Saudável e muito gostoso. @weonnutrition


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A S A S PA R A V O A R Fundada em 2020 por Marcos Amaro, João Mellão e Ksenia Kogan Amaro, a Amaro Aviation, empresa privada de aviação executiva, traz uma novidade: a partir de 2024 inicia seu novo serviço de gerenciamento de aeronaves e agrega mais duas unidades à sua frota de Pilatus Aircraft. Além das modalidades de propriedade compartilhada, pacote de horas e táxi-aéreo, a nova categoria foi desenvolvida para os já proprietários de aeronaves, que buscam praticidade, comodidade e redução de custos operacionais. @amaroaviation

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U r b a ni s mo | F A B I A N O A L M A K U L

MEU

BAIRRO

Fabiano Al Makul, fotógrafo e galerista

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U r b a ni s mo | J A R D I M A M É R I C A + P I N H E I R O S

O fotógrafo e galerista Fabiano Al Makul encontrou na região do Jardim América e no vizinho Pinheiros o lugar que precisava para firmar sua veia artística – e convidar outras pessoas a fazerem o mesmo

Retrato Danilo Borges

Por Fabiano Al Makul, em depoimento a Adriana Nazarian

“Um dia eu tive um sonho. Sonhei com uma casa amarela, que tinha uma janela no alto, escondida entre as flores, de onde pudesse recitar poesia e encantar certa rosa. Um lugar onde as pessoas pudessem entrar e expressar sua alma das mais diversas formas. Um lugar para viver e sonhar, da dor ao amor, mesmo que na plenitude da companhia da solidão.” Escrevi esse poema em 2013, um momento importante da minha vida, de transição. Eu, que sempre trabalhei na empresa de decoração da minha família, tinha iniciado a minha mudança de carreira. Motivado pelos amigos, fiz uma exposição com as minhas fotos, participei de mostras em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro e tive uma foto adquirida por uma importante coleção americana. Foi algo muito bonito para a minha vida e queria que mais pessoas passassem por isso. Decidi que precisava de um lugar para mostrar meu trabalho, desenvolver novos projetos e, inclusive, apresentar a arte de outras pessoas. Sempre tive um encantamento por essa região, que engloba o Jardim América e Pinheiros. Perto de corredores agitados, mas, ao mesmo tempo, um lugar tranquilo. E, principalmente, por se tratar de um bairro em que se pode fazer tudo a pé, algo imprescindível para mim. Na época em que trabalhei na marca de decoração, já frequentava a Alameda Gabriel Monteiro da Silva e adorava a vizinhança.

Então resolvi procurar algo por aqui. Gosto da alma do bairro, suas casinhas, seus portões. E foi assim, caminhando, que encontrei a casa onde hoje funciona minha galeria e espaço multicultural, a Casa Rosa Amarela. Tinha uma janela e um jasmim no meio, como no poema: nunca mais devolvi a chave. Hoje, passados alguns anos, fico muito feliz de ver que meu espaço serviu como porta de entrada para jovens irem viver seus sonhos. E essa região é muito especial. Um quarteirão supersossegado, mas ando poucos passos e já tenho restaurantes, lojas e outros endereços bacanas. Gosto de caminhar por aqui e viver o bairro. Muitas vezes saio da minha casa e venho correndo até a galeria. Antes de tomar banho e começar o dia, tomo café na padaria, observo cada detalhe da vida dessas ruas. Junto com o meu Coletivo Usufruto, inclusive, já fiz algumas exposições que retratam a alma do bairro. Espero que isso não se perca totalmente com a verticalização, penso que devemos nos preocupar com a história de um lugar. A verticalização pode ocorrer, mas é preciso ampliar a calçada, construir novas ciclovias e não parece ser isso que está acontecendo. Mas é o que digo: ainda há um tanto por aí. O colorido pode estar se perdendo, mas seguimos com muitas portinhas por aqui e não me canso de descobri-las.

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U r b a ni s mo | F A B I A N O A L M A K U L

jardim américa + pinheiros 01 ORIBA

“Adoro visitar as lojas da região e a Oriba é uma das minhas preferidas. É onde compro roupas. Tem sempre o básico, mas com qualidade. Para quem só usa jeans e camiseta como eu, é perfeita.” R. Artur de Azevedo, 1284 | @oriba

02 FOME DE QUÊ?

“É o restaurante da Aninha Gonzalez, chef que também é artista, inclusive representada pela minha galeria – sob o nome de Ana Berganton. Comida deliciosa e um ponto de encontro no bairro. Adoro almoçar lá, especialmente às sextas-feiras, quando tem o bacalhau espiritual.” R. Cônego Eugênio Leite, 437 | @fomedeque_deli

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E S PA Ç O F I K A

GOIABA URBANA

“Por trás das portas fechadas dessa casa esconde-se um lugar pouco conhecido e muito especial. Além de oferecer aulas e workshops de cerâmica, esse estúdio também serve de atelier para algumas marcas, como a Caju Cerâmica, que tem peças lindas.”

“Outra loja que adoro na região. A curadoria é ótima. No Natal da minha família já se tornou uma tradição eu levar um presente surpresa da Goiaba Urbana.”

R. Luís Pereira de Almeida, 50 | @fika.open.art.studio 34

R. dos Pinheiros, 259 | @goiabaurbana


U r b a ni s mo | J A R D I M A M É R I C A + P I N H E I R O S

sete acertos

05 LE JAZZ PETIT

“Sou muito fã desse bar. Da música, dos drinks, de tudo. Gosto muito desse quarteirão da Rua dos Pinheiros, que tem uma alma mais boêmia e musical.” R. dos Pinheiros, 262 | @lejazzbrasserie

06 CASA ROSA AMARELA

“Meu espaço é um lugar de manifestações artísticas das mais diversas. Na frente, uma galeria e, nos fundos, uma sala de música, onde realizamos saraus esporádicos. A Casa Rosa Amarela me transformou em galerista e fico feliz que tenha sido porta de entrada para jovens irem viver seus sonhos.”

Fotos Bianca Nunes, Laís Asca e divulgação

R. Cônego Eugênio Leite, 244 | @casarosaamarelaoficial

07 Q U I TA N D A

“Um supermercado daqueles bem de bairro, mas de altíssima qualidade. Gosto de tudo, até dos panos de prato. E você encontra as pessoas, conversa, tem vida.” R. Mateus Grou, 159 | @quitandapinheiros 35


Entrevi st a | F A B R Í C I O C A R P I N E J A R

Retrato Diego Lopes

Sobre viver

Carpinejar, um poeta real da vida real


Entrevi st a | F A B R Í C I O C A R P I N E J A R

Em tempos de recomeço, o poeta Fabrício Carpinejar dispensa tabus para falar de emoções contemporâneas – da gratidão ao luto – necessárias e longe da positividade tóxica que tanto domina as redes sociais Por Marilia Levy

“Passar por uma pandemia e não rever seus hábitos e afetos é sinal de que há uma falha no conceito de empatia”. Quem diz isso é o poeta Fabrício Carpinejar. Para o escritor, de 51 anos, a Covid-19 foi um momento de “julgamento coletivo” e os recomeços só se fazem possíveis por meio da aceitação dos limites e da humildade. “Acreditamos, erroneamente, que somos capazes de mudar a realidade, que é tudo uma questão de ‘se impor’. Mas ninguém fala do respeito aos limites. Todo mundo tem uma espécie de obsessão pelo impossível”, diz o autor. Fanático por seu time de futebol, o Internacional de Porto Alegre, e divertido na intimidade, como ele mesmo gosta de colocar, Carpinejar vê o ofício da escrita como algo capaz de libertar e emocionar, tudo ao mesmo tempo. São mais de 50 livros publicados que nos convidam a rever temas como relações amorosas, beleza interior, coragem, continuidade, entre tantos outros assuntos necessários.

Carbono Uomo Vivemos um momento desafiador, com guerras, discursos ferverosos e polarizações. Como se blindar desse fenômeno nas redes sociais e não se deixar levar? Fabrício Carpinejar O momento é delicado e difícil. Vivemos uma banalização do ódio. Da raiva. Do desaforo. As guerras, parecem que autorizam a truculência. As pessoas ficam mais ásperas. Porque elas se sentem no estado defensivo-reativo, como se estivessem sendo atacadas e precisassem se defender. Eu tenho umas quatro a cinco horas por dia off-line. Realmente sem celular. Uso esse tempo para assistir a um filme, ler um livro ou para caminhar. Tudo isso me ajuda a não me deixar contagiar pela ansiedade.

E, em sua mais recente obra, é o luto que ganha espaço para discussão. Em O Manual do Luto, Carpinejar explica que somos cobrados, como sociedade, a nunca sofrer e que aceitar a finitude é o primeiro passo para um recomeço saudável, longe da positividade tóxica das redes e diferenciando projetos de sonhos. “Projetos são circunstanciais, sonhos são resistentes. O projeto teremos sempre que adaptar. Os sonhos, não. O sonho você leva de um projeto ao outro. O nosso recomeço, agora, é ter aprendido algo com tudo o que vivemos.” Em tempos de renovação – seja bem-vindo, 2024 –, conversamos com o poeta para saber onde estamos – e para onde vamos – diante dos acontecimentos do ano. Seu desejo? Que aprendamos a agradecer e a sentir saudade com qualidade. “Agradeço por estar vivo, estar com a família, produzindo. Sou grato antes de um dia sentir falta”, conclui, lembrando que os melhores rituais de fim de ano passam pela gratidão. Para ler, refletir e colocar em prática!

inadiável. E que se está perdendo algo. A nossa sensibilidade não descansa. O ansioso não dorme, ele desmaia. Não sabe diferenciar os momentos. E vejo que a ansiedade é a velocidade interior dos nossos tempos. Carbono Uomo Seu mais recente livro é sobre o luto. Acredita que o luto é uma forma de humanizar e equalizar todos? Fabrício Carpinejar O que mais queremos da vida? Sermos lembrados. Tudo o que fazemos, todo reconhecimento, seja do trabalho, seja amoroso, é para não sermos esquecidos. Queremos ser marcantes na vida de alguém. E ser marcante é justamente marcar seu espaço na preservação da memória.

Carbono Uomo A necessidade de estar conectado gera uma ansiedade mesmo...

Carbono Uomo Qual, na sua opinião, é o maior tabu do luto?

Fabrício Carpinejar Sim, passamos a acreditar que tudo é importante,

Fabrício Carpinejar O enlutado não tem direito a sofrer. É catalogado 37


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como se fosse um doente, classificado como se fosse um desequilibrado, como se tivesse passado do ponto. Mas “enlutado” é uma condição, não é uma fase. Você nunca mais será o mesmo depois que você perdeu alguém. Não tem como retornar a quem você era, porque houve um impacto dessa experiência na sua rotina. Você teve que organizar seus pensamentos, sua funcionalidade. É um despertar para a finitude. Carbono Uomo E a saudade? Como se descreve a saudade? Fabrício Carpinejar A saudade é uma “alegria doída”. Só tem saudade quem foi feliz um dia. A saudade é uma tristeza que vem depois da felicidade. É um mirar para dentro de si. Todo mundo que sente saudade não enxerga o que há lá fora. Você sonha para dentro. E a saudade, diferentemente do que se acredita, não é falta. É presença. Você se dá conta do tanto que há daquela pessoa dentro de você. Carbono Uomo É um sentimento preenchido? Fabrício Carpinejar Sim. O que significa o luto? Não é o vazio criado, não tem um vazio a ser preenchido. É o contrário. É um tudo. Quem está enlutado transborda. Tanto, de tal maneira, de uma forma tão imperiosa, que não consegue nem mais esconder o que sente. Carbono Uomo Por que falar disso neste momento? Fabrício Carpinejar Acho que a pandemia foi um momento de julgamento coletivo. Quem não reavaliou suas escolhas não tem nenhuma empatia ou conexão com o mundo. Eu passei a meditar sobre o preconceito que sofre quem perdeu alguém. Durante a pandemia não era permitido homenagear os mortos, não havia enterro, nem velório. Setecentas mil pessoas no País não tiveram os rituais de despedida. Isso me fez pensar que, espiritualmente, sempre foi assim. Somos pressionados a voltar para a vida, a retomar a normalidade, a esquecer. 38

Carbono Uomo E os recomeços? Como nos engajamos nos recomeços? Fabrício Carpinejar Como se fazem os recomeços? Aceitando a finitude. O que ela pode nos dar? A humildade. Sempre digo que todas nossas doenças psicossomáticas vêm de um único ponto: tentar controlar a realidade. Todo o conteúdo da positividade tóxica trabalha com esse prisma. Que somos capazes de mudar a realidade, que é uma questão de “se impor”. Ninguém fala do respeito aos limites. Todo mundo tem uma espécie de obsessão pelo impossível. A humanidade não traz onipotência. Recomeçar é saber diferenciar projetos de sonhos. Carbono Uomo Qual é a diferença? Fabrício Carpinejar Projetos são circunstanciais, sonhos são resistentes. O projeto teremos sempre que adaptar. Já os sonhos, não. O sonho você leva de um projeto ao outro. O nosso recomeço, agora, é ter aprendido alguma coisa com tudo o que vivemos. A existência poderia ser vista como uma bagagem. Quanto mais nós viajamos, de menos coisas precisamos, porque vamos nos “essencializando”. Dando espaço para o improviso, para o inesperado. Tudo isso vem com a consciência da finitude. Carbono Uomo Passamos pela saudade. Como você vê a questão da alteridade? Fabrício Carpinejar A alteridade é perdoar. Aceitar as transformações. Damos o que podemos oferecer. Mas trabalhamos sempre no nível da culpa. E a ansiedade e a culpa são as duas prisões da mente. A culpa nos prende no passado, pensando que poderia ter feito melhor. E a ansiedade nos prende ao futuro, sofrendo por aquilo que não aconteceu. São duas prisões que não permitem a transformação.


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“A vida é instabilidade cardíaca. É justamente o zigue-zague. Por que o nosso ponto alto é a felicidade? Para mim, é a serenidade. É a confiança em si. A felicidade é um estado provisório. Ninguém aguenta ser feliz muito tempo” Carbono Uomo Por quê? Fabrício Carpinejar Não conseguimos entender as transformações nem de quem está do nosso lado. A gente quer ter segurança, quer entender que a outra pessoa é exatamente como a conhecemos infinitamente. Carbono Uomo Você acha que, nesse sentido, é muito fácil cancelar as pessoas? Fabrício Carpinejar O cancelamento acontece sempre que alguém se inspira em exemplos errados. Que não são compatíveis com a nossa vida, com a nossa personalidade. Você quer seguir alguém que não tem nada a ver com aquilo que você pensa ou acredita? Aí ocorre o cancelamento. Carbono Uomo Nesse sentido, como você vê o ativismo e o combate ao preconceito nessas plataformas? Fabrício Carpinejar Não existe mudança comportamental sem contundência. Nossos preconceitos estão arraigados e enraizados. E a gente precisa tomar atitudes enérgicas. Vivemos num país extremamente desigual. Carbono Uomo Acha que estamos com menos espaço para sentir? Fabrício Carpinejar Totalmente. A começar pelo luto. A gente não tem espaço para chorar, para a melancolia, para a tristeza. A gente não dá espaço para o sentimento mais

diverso de dentro de nós. Então; a gente fica crescendo unilateralmente e a gente não cresce como um todo. Porque a vida é instabilidade cardíaca. É justamente o zigue-zague. Algo que eu sempre questionei é por que o nosso ponto alto é a felicidade? Para mim, o ponto alto é a serenidade. É a confiança em si. A felicidade é um estado provisório. Ninguém aguenta ser feliz muito tempo. E repare o quanto você é capaz de ser muito mais grosseiro sendo feliz do que triste. Só que a gente vive numa espécie de pacto social pela felicidade. Carbono Uomo Escrever lhe ajuda a processar tudo isso? Fabrício Carpinejar Escrever me liberta. Eu não escrevo por obrigação. É uma conquista diária, porque sei o que eu posso atingir com cada texto. Eu fico emocionado com a responsabilidade. Não há maior liberdade do que a responsabilidade. Carbono Uomo Como é que você se equilibra? A sua escrita, com a saúde mental, a parentalidade, sua vida amorosa? Fabrício Carpinejar Eu sou muito divertido na intimidade. Eu falo bobagem, eu faço graça. Eu transformo meus amigos em crônicas, só para ver a reação deles. Eu sou fanático por futebol. Não perco um jogo do meu time. Eu tenho essa alma mundana. Gosto de sair, gosto de passear. Sou cinéfilo, vou sempre ao cinema. Amo ler. Esse é meu equilíbrio. 39


MEU ESTILO Por Bianca Nunes Retrato João Bertholini

4 Amuletos “Minha mulher, Katia, sempre me presenteou com anéis muito especiais, que celebram nossa trajetória. E gosto muito de um bóton, presente do meu pai, que representa o escudo do Flamengo, time de toda a família há algumas gerações.”

1 Gourmet “Meu hobby é a culinária. Da compra dos produtos nos mercados e feiras até o ato de cozinhar, existe ali um imenso mundo que exploro com afinco, alegria e satisfação.” 2 Cá e lá “Gosto muito de roupas confortáveis, mas também sou mais formal. Um blazer não pode faltar em meu guarda-roupa. Uso diariamente – de linho, em cores claras no verão, e mais pesados, em tons mais escuros no inverno.”

ARNALDO DANEMBERG PESQUISADOR, ESCRITOR E CRIADOR DO ANTIQUÁRIO QUE LEVA SEU NOME

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3 Aliados “Tenho mania de abotoaduras e anéis, além dos relógios de pulso.” 40

“Em Londres, gosto de visitar as lojas da Jermyn Street, uma rua conhecida pelo vestuário masculino. Lá me abasteço. Quanto às marcas, vou da Hawes & Curtis, Hackett, Armani e Zegna até a Uniqlo, da qual gosto muito pelo caimento e pelo conforto, além do excelente custo-benefício.”

Fotos João Bertholini e divulgação

Epicentro


6 Sete chaves “Tenho um baú português muito especial, do século 17. Quando comprei, no interior de Portugal, estava fechado. Chegando ao meu depósito, abri e me deparei com uma pintura da Virgem Maria, ladeada por duas árvores da vida. Para um devoto, como eu, foi uma linda surpresa.” 7 Estava escrito

Registros “Sempre carrego meus cadernos de anotações nas viagens. São a minha referência, minha memória. Uma espécie de agenda de mão, em que registro as compras feitas, o dia a dia.”

Papisa “Meu olhar apurado para o garimpo veio da minha curiosidade e minha alegria de viver. E dos anos de aprendizado com a mestra Tilde Canti, a papisa do mobiliário brasileiro.”

“Minha casa é rodeada de objetos afetivos e essa jarra francesa de porcelana de Tours é especial. A peça foi da casa do meu pai e, muitos anos depois, encontrei-a de surpresa na casa de uma cliente e recuperei.” 8 Pela estrada afora “Quando estou na Europa garimpando, a vida no caminhão é uma aventura. Acordo muito cedo, fico horas na estrada em busca daquela peça única. Geralmente o Anderson do Espírito Santo, meu funcionário de São Paulo, me acompanha, além da minha filha Paloma Danemberg, outra caminhoneira nata.”

9 Referências “Um livro que me marcou bastante e sempre releio é Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar. Além de todos os de Machado de Assis, um grande mestre.”

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L i vr os | ARTUR LESCHER

A ARQUITETURA DAS

LETRAS Um dos nomes mais destacados da arte contemporânea brasileira, Artur Lescher conta como a literatura o ajudou a se definir como artista. Foi quando descobriu as palavras de um livro como se fossem projetos arquitetônicos. “A elaboração de um texto me impressiona. Mais pela forma de escrever do que pelo conteúdo da narrativa em si”

Sinto que a literatura atravessa a minha família desde as minhas primeiras memórias até os dias de hoje. Minha mãe queria ser escritora. Chegou a escrever para jornais e revistas, como a Fon-Fon, mas sentia-se absolutamente exposta quando escrevia. Dizia que “escrever era como tirar a pele”. Não conseguiu suportar. Minha madrinha, por sua vez, era poetisa; meu filho, Caio, acaba de redigir um livro de contos sobre viagens e sonhos para o TCC de sua faculdade; minha irmã, Branca, é escritora. Está na nossa essência. Alguns momentos de infância que eu lembro com grande alegria são da minha mãe lendo para mim Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Todas as noites ela ia até meu quarto e lia alguma dessas aventuras. Até que, quando fiz seis anos, aprendi a ler. Ela me disse: “agora é a sua vez”. Aquilo que, na época, eu enxerguei como uma frustração, afinal estava “perdendo” o privilégio das leituras de minha mãe, hoje vejo como influenciou toda a minha vida. Fiz cinco anos de Filosofia procurando me formar como artista. Focava nas matérias mais pertinentes no objetivo de interpretar bem um texto, de captar as intenções dos autores. Isso me ajudou a prestar

atenção nas epifanias de uma escrita, muito mais do que ficar preso à narrativa da história. Com essa base me formei e fiz mestrado em Artes Plásticas. Sou um leitor de fases. Já li muito mais do que tenho lido atualmente. Sinto que a tecnologia roubou um pouco desse espaço. Estamos sendo chamados e distraídos o tempo todo. A velocidade que a comunicação de hoje exige é um fenômeno. Mas meu apetite pela literatura tem voltado com força. Se você não se propõe a ler, a se concentrar, você acaba perdendo o ritmo. Quando eu tinha entre 17 e 30 anos foi a época em que mais li em toda a minha vida. Passava as férias nas praias do Farol de Santa Marta e Guarda do Embaú, em Santa Catarina, e levava pelo menos 15 livros. Minha irmã e meu cunhado também. A gente trocava os títulos, passávamos dia e noite lendo. Era divertido! Durante a pandemia também li bastante. Fui morar em Piracaia e lia pelo menos três obras por mês. Leio muitos escritos teóricos, mas gosto mesmo é de literatura e poesia, de personagens que estão nesse lugar de embate, com conflitos interiores, de identidade, de como se colocam no mundo, se aqui existem ou se, mesmo vivos, já abandonaram o viver.

*Artur Lescher é representado no Brasil e em Nova York pela Galeria Nara Roesler; e na França, no México, em Miami e no Uruguai por galerias locais

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Retrato Ruy Teixeira

Artur Lescher, artista plástico


Fotos divulgação

L i vr os | ARTUR LESCHER

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L i vro s | ARTUR LESCHER

REINAÇÕES DE NARIZINHO Monteiro Lobato | Editora Brasiliense

Meu livro de cabeceira na infância. Foram as primeiras linhas que escutei da minha mãe e também as primeiras palavras que eu li. Nostálgico.

MARCEL DUCHAMP OU O CASTELO DA PUREZA Octavio Paz | Editora Perspectiva

A construção de linguagem de todas as peças de Octavio Paz me interessa. A forma como ele opera seu texto, sua engenharia de frases, é muito curiosa. Ele mostra bem que do atrito causado pelo encontro de duas palavras bem escolhidas pode surgir uma ideia maravilhosa.

O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO J.D. Salinger | Editora Todavia

PERGUNTE AO PÓ John Fante | Editora José Olympio

Li ainda jovem, na fase em que estamos buscando algo. Identifiquei-me muito com o personagem irreverente e sua paixão pela literatura. Ajudou-me a passar pela juventude e suas angústias. Além disso, procuro ler tudo da Editora Todavia.

Tem um personagem meio autobiográfico, em busca de um sentido no mundo, procurando por algo. Na época de faculdade me reconheci nele. Li tudo do John Fante. Quando gosto de um autor fico um pouco obsessivo.

SEIS PROPOSTAS PARA O PRÓXIMO MILÊNIO

POESIA RUSSA MODERNA

Italo Calvino | Editora Companhia das Letras

Boris Schnaiderman, Augusto e Haroldo de Campos | Editora Perspectiva

Uso bastante nas aulas que dou em faculdades. É um título importante para quem trabalha com artes visuais porque é possível perceber como ele cria imagens para as palavras, como a literatura dele se articula para criar discursos visuais. Ele cita vários autores e fala dos conceitos relacionados a eles. Desperta a curiosidade para outras leituras. Um baita aprendizado.

Marcou muito minha vida e abriu portas para a poesia russa, que adoro até hoje. Outro dia mesmo estava lendo outro poeta russo, Osip Mandelstam.

CARTAS DE AMOR A LILI BRIK

A INVENÇÃO DE MOREL

FINNEGANS WAKE

Vladimir Maiakovski Editora Ediciones de La Flor

Adolfo Bioy Casares | Editora Biblioteca Azul

James Joyce | Editora Ateliê Editorial

Esse livro começa e termina com a mesma palavra. Tem uma lógica de construção circular como um rio corrente, que deságua em outro rio, e em outro, e então no mar, evapora e volta para o rio. É todo escrito como se fosse um pensamento meio alucinado, sem pontuação, em uma velocidade delirante. Inspirou-me a criar uma série chamada Rios.

São pequenas poesias que o autor, apaixonado, envia para essa mulher entre 1917 e 1930. Adoro a relação deles. É um livro muito curioso. Li quase tudo escrito por Maiakovski.

Acho essa publicação bem bacana. É interessante porque a máquina tem um papel fundamental na história. Isso conversa muito com o meu trabalho. Produzir ficção na arte até passarmos a acreditar nela!

MANIAC

CONTOS DO IMIGRANTE

LAVOURA ARCAICA

Benjamín Labatut | Editora Todavia

Samuel Rawet | Editora José Olympio

Raduan Nassar Editora Companhia das Letras

Acabei de terminar Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, e Maniac é o que estou lendo hoje. Já li outros romances do autor chileno e gosto muito dele. Dependendo da fase que estou, percebo que algumas leituras me ajudam na minha vida e no meu trabalho.

Minha mãe falava muito dele como uma pessoa fora da curva em inteligência e sensibilidade. Acho que ela projetava muito dele em mim. Eu o conheci quando tinha oito anos. Lembro-me que ele me ensinou como voa um avião. Ele era uma pessoa bastante angustiada. Investiu tudo em sua obra literária e, infelizmente, não teve em vida o reconhecimento de seu trabalho. Para mim, ele é O artista.

É um autor brasileiro que escreveu pouco, se retirou cedo. Achei interessante esse posicionamento dele. O livro tem essa pegada do fluxo mental que eu gosto bastante. É uma prosa mais lírica, muito bonita.

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Per fi l | R O M U L O E S T R E L A


P er fil | C R I O L O

S U B O N E S S E PA L C O Cores marcantes, estampas repletas de personalidade e texturas nada óbvias. Neste ensaio cheio de significado, o músico Criolo prova que nasceu para brilhar

Fotos Danilo Borges Edição de moda Cuca Elias Grooming Sabrina Silva Agradecimento Galeria Casa Rosa Amarela

Camisa H A N D R E D


Pe r fil | C R I O L O

Camisa Polo Z A R A — calça M I S C I 48



Pe r fil | C R I O L O

Camisa H A N D R E D 50


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Camisa H A N D R E D Fotografia ao fundo FA B I A N O A L M A K U L

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Per fi l | G A B R I E L M E D I N A

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Produção executiva Bianca Nunes; coordenação de fotografia Regina Kotsubo; assistentes de fotografia Dudu Morettin e Ramon Dionizio; equipamentos Raineri Equipamentos e tratamento de imagens Jujuba Digital

P er fil | C R I O L O

Camisa H A N D R E D

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E ntr e vista | C R I O L O


E ntrevista | C R I O L O

MEU NOME É

CRIOLO Como o músico invisível até os 35 anos transformou sua despedida dos palcos em um renascimento Por Jairo Malta Fotos Danilo Borges

Kleber Cavalcante Gomes, também conhecido como Criolo, está sentado ao lado do fotógrafo Fabiano Al Makul que, por vezes, arrisca seu talento no piano. O cenário é a galeria paulistana de Fabiano, a Casa Rosa Amarela, onde estas fotos foram feitas, e, ao chegar para o ensaio, a partitura encontrava-se aberta em Pérola Negra, música de Luiz Melodia. Coincidência ou não, dias antes, o artista havia sido incumbido de cantar exatamente essa faixa em um tributo que está sendo gravado para o autor, já falecido. Criolo, portanto, não hesita. Vestindo uma camisa branca e uma calça cinza curta para um homem de 1,82 m, ele começa a acompanhar os acordes com sua voz suave, encantando quem estava por perto.

Assim como essa cena, a trajetória de Criolo é digna de roteiro de cinema. “Eu sou uma anomalia”, comenta o rapper, ao relembrar sua história na música, que já soma 35 anos. “Foram 22 anos de estrada para alguma coisa dar certo. Hoje, tudo é resultado de muitos sonhos, de choros e da vontade de ser feliz. De pessoas que estenderam a mão e não me deixaram desistir.” Seu despertar para a fama veio em 2011, com o lançamento de seu segundo disco, Nó na Orelha. O álbum, pensado para ser uma espécie de adeus, transformou o rapper nascido no Grajaú, no extremo Sul de São Paulo, em um músico com um currículo que inclui colaborações com artistas como Milton Nascimento, Ney Matogrosso e Gal Costa.

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E ntr e vista | C R I O L O

A obra, produzida por Marcelo Cabral e Daniel Ganjaman, apresentou ao público faixas que se tornaram hits, como Subirusdoistiozin, Grajauex e Não Existe Amor em SP. Na época, Criolo lembra, muitos músicos, hoje reconhecidos como grandes artistas, buscavam criar o novo e, ainda assim, se manter pela arte. O disco foi gravado no mesmo período e estúdio em que a banda Metá Metá gravava seu primeiro álbum e, com isso, o trabalho ganhou participações de peso – Kiko Dinucci fez o refrão de Mariô e Juçara Marçal a voz das lavadeiras de Bogotá. “Foi um álbum que marcou uma nova música paulistana, com muitas misturas antes não imaginadas, nomes impensáveis. Foi com essa potência que eu fui apresentado ao mundo.” Uma estreia que deu a Criolo acesso vip a ídolos que, pouco tempo depois, passaram a ser chamados de 58

amigos. “A partir do momento que eu aproveitei aquela oportunidade, uma transformação aconteceu. Milton Nascimento ouviu uma música minha, comprou meu disco na Fnac de Paris e, quando voltou ao Brasil, me convidou para fazer a turnê com ele. O show foi batizado de Linha de Frente, nome da minha música que ele mais gostou”, diz. Em outro momento, o rapper foi até Paulinho da Viola e pediu ao músico que avaliasse seu samba inspirado em algumas de suas composições. “Paulinho me disse: ‘fica em paz, o samba é seu’. Anos depois, ele me convidou para um show chamado A Noite Veste Azul, em que cantava as minhas canções.” E Criolo complementa: “São coisas que a vida foi me apresentando e eu aproveitei. Eu conheci o Paulinho porque fui gravar duas faixas de um disco do Martinho da Vila. Álbum que depois ganhou o Grammy Latino

[De Bem com a Vida, de 2016]. Tudo é no tempo que tem que ser”. EU VIM DE LÁ Falar sobre o Grajaú, sua infância e trajetória são temas que ainda o tocam profundamente. Afinal, ele se lembra que, aos 34 anos, tinha seis dentes na boca e estava desistindo do rap. “Eu sou do Grajaú. Cresci no meio da guerra, da fome e da violência. Em um ambiente que dizia ‘ou você se vira, ou vai morrer’. E houve um momento em que viver de música não parecia mais possível para mim.” Mas, se a angústia faz parte de suas lembranças de uma vida anterior à fama, o orgulho de suas origens também é onipresente. Principalmente da mãe, Maria Vilani. Quando tinha 14 anos, frequentou junto com ela, na época com 39 anos, o ensino médio –


Entrevista | C R I O L O

hoje, Maria possui graduação em Filosofia, realizou cursos de extensão em História e Psicologia, além de concluir uma pós-graduação em Línguas e Semiótica. “Quando relembro a história da minha mãe, eu tenho esperança no ser humano. Tudo o que eu realizei desde os 11 anos é só um complemento do que ela faz”, diz o cantor. A família, segundo ele, foi fundamental para seguir sua estrada artística e a arte o resgatou de ter feito parte da triste estatística que aponta que os negros são a maioria das vítimas de crimes violentos no Brasil. “O sangue nordestino que corre em minhas veias faz toda essa diferença na maneira como essa musicalidade se manifesta em mim. Ser

filho de mãe e pai cearenses cria uma revolução cultural aqui dentro.” Não à toa, a versatilidade fez com que Criolo extrapolasse o ofício de MC e, consequentemente, ganhasse confiança para explorar outro de seus talentos – e fascínios: a atuação. O músico já contracenou com atores consagrados, como Fernanda Montenegro e Lima Duarte, em O Juízo (2019), suspense em que vive um homem escravizado, e encenou uma disputa conjugal com Chay Suede pelo amor de Laura Neiva, no filme Jonas (2015). “Como qualquer favelado, eu sirvo para tudo. Surgiu espaço, eu vou lá e ocupo. Então eu interpretei de tudo, de escravizado a ‘candeeiro.’”

Mãe é mãe e Maria Vilani Gomes diz que, apesar do sucesso do filho ter sido uma surpresa para a família, ela sempre acreditou em seu potencial. “Foi um período extremamente emocionante; motivo de muitas reflexões acerca da responsabilidade de ter um familiar na mídia, sendo reconhecido na sociedade. Um misto de felicidade e insegurança, porque é difícil conquistar um lugar à luz, mas ainda mais difícil é permanecer sob ela”, comenta. QUANDO EU ESTOU AQUI Aos 48 anos, uma coisa é fato: não há como tirar Criolo da luz. No dia desta entrevista, por exemplo, ele estava

Full look H A N D R E D Bolsa M O N T B L A N C 59


Camisas H A N D R E D

prestes a se apresentar em mais um show em Paris, com ingressos esgotados. Depois de passar os últimos anos se dedicando à MPB, em 2022 o artista lançou Sobre Viver, um disco visceral, que marcou seu retorno ao rap e trouxe inspirações norteadas pelo luto – um ano antes, sua irmã Cleane morrera por conta da Covid-19. “Há muita tristeza, mas eu não quero que ninguém se sinta triste. Muito ódio, mas quero isso longe do coração. Muita dor, mas não quero que ninguém sinta dor.” Envolto em emoções, ele segue atento às oportunidades e tendências ditadas pelas periferias e tem, entre os planos, fazer um disco de sertanejo e outro de samba. “Para conhecer o Brasil é preciso antes conhecer a favela. 60

“Do tecladinho agudo dos paredões de Belém do Pará até o funk eletrônico. É nesse território que a inovação musical vai acontecer. É nele que o novo grande sucesso da MPB vai surgir” Do tecladinho agudo dos paredões de Belém do Pará até o funk eletrônico que ganhou o mundo. É nesse território que a inovação musical vai acontecer. É nele que o novo grande sucesso da MPB vai surgir”, aposta. Maduro e com a facilidade de poder escolher os próximos passos da carreira, Criolo está em um momento de admiração por tudo o que

viveu na música até aqui. “Eu tenho música com Arnaldo Antunes gravada pelo Ney Matogrosso. Quem sou eu na fila do pão com esses dois? Há ainda um samba para ser lançado com Tom Zé. Sou o único que teve a honra de fazer uma turnê simultânea com Mano Brown e Nelson Sargento. Quer saber? Eu estou no modo gratidão.”


Entrevista | C R I O L O

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Moda elementar Inspirada na moda monocromática, com detalhes marcantes e texturas inovadoras, apresentada pelo músico Criolo nas páginas anteriores, Carbono Uomo elenca uma seleção descomplicada

FENDI


LACOSTE

FERRAGAMO

TUDOR

VILEBREQUIN


TA G H E U E R

INTIMISSIMI UOMO

PRADA

POLO RALPH LAUREN


CARTIER

LOUIS VUITTON

GUCCI


Ca s a | ANTONIO MANTOVANI NETO

a vida como ela é Para Antonio Mantovani Neto, um projeto arquitetônico precisa ter intensidade e contar histórias. Inspirado nesse conceito, o arquiteto criou uma morada feita para receber, com objetos carregados de significados e referências de suas andanças mundo afora Por Raquel Fortuna Fotos Denilson Machado

O apartamento do arquiteto Antonio Mantovani Neto, 47 anos, é resultado de muita bagagem. Dos itens que traz de suas viagens aos móveis assinados que o acompanharam em pelo menos três mudanças, tudo ali carrega um porquê. Morador do icônico Edifício Lausanne, no bairro Higienópolis, em São Paulo, há cerca de um ano, ele pilotou a própria reforma. Uma experiência um tanto inusitada para alguém acostumado ao ritmo ligeiro das obras corporativas do escritório do qual é fundador, o Pitá Arquitetura – são dele projetos como os do edifício do Nubank, escritórios do Linkedin e Spotify, expansão da rede We Coffee, interiores da escola Avenues, entre outros empreendimentos. “90% dos trabalhos do escritório são corporativos e costumam ser muito rápidos. Residencial não vai na mesma velocidade. Minha reforma durou sete meses e confesso que deu certa estranheza. Mas foi legal porque fiz tudo do jeito que eu queria. Coloquei, por exemplo, o piso de granilite com epóxi que não trinca e não tem junta, fiz a cozinha da Securit, que eu queria há 20 anos. Ficou superbacana”, conta Antonio. O apartamento foi um verdadeiro achado, para quem tinha algumas exigências: um lugar maior para morar – seus dois últimos endereços foram o bairro Pinheiros e o Centro –, próximo ao trabalho o suficiente para ir a pé e, de preferência, com assinatura de arquiteto. Deparou-se, então, com uma opção sob medida à venda no Lausanne. Coincidentemente, o projeto é do alemão Franz Heep, autor também do Edifício Itália, onde fica o Pitá Arquitetura, a 10 minutos a pé dali.

1 – Antonio e Leandro na morada do arquiteto, um apartamento feito para receber


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Ca s a | ANTONIO MANTOVANI NETO

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“Eu vou comprando as coisas que gosto e elas andam junto comigo. A Jangada, por exemplo, é um móvel para a vida toda” Localizado no 9º andar, com vista do belíssimo Iate Clube de Santos e também de um casarão tombado onde funciona a pós-graduação da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), o apartamento de 190 m 2 cheio de luminosidade e janelas que dão para as copas das árvores, estava em sua planta original: quatro quartos, sala pequena, sem suítes, nem lavabo. “Transformei dois quartos em duas suítes e criei um sacadão gigante sem mexer nos brises frontais do prédio. Fiz um lavabo para as visitas, abri a cozinha com a sala e um quarto, então ficou um espaço bem generoso”, explica ele. E põe generoso nisso: são quase 120 m 2 só de área comum, com direito a sistema de som integrado, tudo pensado sob medida para receber com 68

conforto. Sim, Antonio gosta de movimento e de casa cheia – ao lado do companheiro, Leandro Venera, que mora em outro apartamento, mas está sempre por lá, e das gatas Peruca, Granola e Iaiá –, costuma convidar os amigos e cozinhar. Por esse motivo encomendou uma mesa grande de madeira de demolição do designer Paulo Alves. A peça se tornou um dos destaques da morada, ao lado de itens marcantes como a poltrona Jangada, do arquiteto e designer romeno Jean Guillon, e o carrinho de chá vintage, “habitantes” desde a primeira morada de Antonio em Pinheiros. “Eu vou comprando as coisas que gosto e elas andam junto comigo. A Jangada, por exemplo, é o tipo de móvel para uma vida inteira, onde costumo me sentar para ler. Ela fica de frente para a

parede de arte, então é legal também para ficar contemplando”, conta. A coleção de arte – com obras “muito bem escolhidas”, nas palavras de Antonio – inclui trabalhos de artistas como Glauco Rodrigues e traz um colorido à paleta mais clean da base do projeto. “A escolha dos materiais e acabamentos foi simples e fácil. O prédio já tem os brises em branco, verde e vermelho, então usei muito branco. A ideia era deixar a cor só para a cozinha, algo dentro dos banheiros e ter muita parede para abrigar os quadros.

2 a 5 – Entre os destaques do projeto estão a parede dedicada às artes, a grande mesa de madeira, perfeita para juntar os amigos, e peças como a poltrona Jangada


Ca s a |ANTONIO MANTOVANI NETO

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Ca s a | ANTONIO MANTOVANI NETO

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Acho que o único ambiente em que exagerei foi no lavabo, para fazer um contraponto ao apartamento inteiro. Optei por colocar ali um papel de parede com cores mais pesadas, um quadro do Glauco e uma máscara que eu trouxe do Nepal”, detalha. Nepal, Tibet, Tanzânia, Everest, Monte Roraima, Chapada Diamantina: esse é um capítulo à parte da história de Antonio. Viajante inveterado, de tempos em tempos, ele coloca a mochila nas costas, sozinho, rumo a experiências de isolamento, na linha de se desconectar para se reconetar, que incluam trekking e escalada, se possível. “Pelo menos uma vez por ano, eu faço uma viagem dessas, em que você consegue vivenciar coisas muito diferentes da rotina.” De cada lugar que visita, Antonio costuma trazer algo para a casa – além 70

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da máscara do Nepal, outro exemplo são as bandeirinhas tibetanas que trazem proteção e harmonia, e que ele não abre mão de ter. “Sabe aquilo que você olha e passa um filme na cabeça? Gosto de coisas assim, que tragam memórias vivas”, diz. Somando suas aventuras aos roteiros que faz junto com Leandro, o arquiteto já conheceu 60 países. E a meta é chegar a 100. Seus lugares favoritos no mundo são Marrakesh, pela pegada de arquitetura e arte, e Tóquio, pelo constante frescor e pelas ideias fora da caixa. “Acho que o fato de poder ‘beber’ em outras fontes – religiosas, culturais, e também de arquitetura – amplia a visão e ajuda a criar mais empatia. Você consegue ter mais sensibilidade para a necessidade do outro, o que, no meu trabalho, em especial, é muito importante”, finaliza.

6 e 7 – Apesar de suave, a cor da cozinha propõe personalidade ao ambiente 8 – Detalhes de charme estão em toda parte 9 – Com tons mais fortes, o lavabo oferece um contraponto ao projeto clean do apartamento 10 e 11 – Peças garimpadas em viagens adicionam vida aos espaços


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“Gosto de peças que tragam memórias vivas”

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Ca rbo no Minds

Fábio Oliveira


FÁBIO OLIVEIRA

“Não preciso estar na linha de frente; sou aquele que monta o circo. Faço acontecer, mas não subo no picadeiro” Fábio Oliveira, sócio-diretor do Giro d’Italia Ride Like a Pro Brasil, enfrentou o desafio de trazer para cá uma marca centenária e ainda criou uma comunidade em torno do ciclismo de estrada Por Humberto Maruchel

Pode não parecer fácil compreender, mas, apesar de o empreendedor Fábio Oliveira ter passado a vida longe de querer ser o centro das atenções, a figura de líder sempre esteve presente em sua trajetória. “Desde a infância, nas brincadeiras escolares, até nos lugares em que trabalhei, era natural assumir esse papel. Quando percebia, todos estavam perto de mim. Eu era como um guarda-chuva”, relembra. Mais do que isso, ele sempre apreciou fazer as vezes de organizador. “Não preciso estar na linha de frente; sou aquele que monta o circo. Faço acontecer, mas não subo no picadeiro.” E é exatamente isso que ele tem feito nos últimos anos. Fábio é sócio-diretor do Giro d’Italia Ride Like a Pro Brasil, projeto inspirado na competição de ciclismo de estrada criada originalmente em Milão (Itália), em 1909. O convite não aconteceu à toa. Em 2014, o empreendedor trouxe a franquia do Tour de France para Cunha (SP). Embora não seja adepto do esporte, Fábio foi convidado pela RCS Sports, detentora do Giro d’Italia, para adaptar o circuito e expandir a marca para o Brasil. Há três anos, portanto, vive em Campos do Jordão, na Serra da Mantiqueira, cidade escolhida para sediar a disputa. Foi preciso adaptar uma das maiores e mais desafiadoras provas de ciclismo do mundo, que ocorre ao longo de três semanas e percorre uma distância de mais de 3 mil quilômetros. No Brasil, o concurso foi desenhado para ciclistas amadores, que podem escolher rotas de 63 ou 112 km, e dura apenas um dia. E, claro, como todo bom evento brasileiro, engloba muitas outras atividades, como shows de música e gastronomia. Neste ano, a segunda edição do Giro d’Italia Ride Like a Pro Brasil atraiu cerca de 2 mil participantes. Para abril de 2024 está prevista a terceira edição da prova, que terá um percurso de 54 km para aqueles que desejam começar com mais calma. Seja qual for a categoria, uma coisa é certa: quem estiver na frente, vestirá a Maglia Rosa, camisa que nasceu como homenagem à cor das páginas do jornal italiano La Gazzetta dello Sport, responsável por organizar o primeiro Giro. A CASA É NOSSA “Sou apaixonado por fazer um evento e promover boas experiências para as pessoas. Considero-me um bom anfitrião, tanto para receber alguém para jantar em casa quanto 2 mil ciclistas em uma competição.”

Retrato Victor Lopes

P E D A L E H I S T Ó R I A “O ciclismo é rico em história, em beleza. Quando você assiste ao Tour de France, que são cinco dias de transmissão, viaja pela história daquela região. Os competidores lhe mostram os castelos, por exemplo. Isso me gera um grande encantamento.” C R I A N D O V E N C E D O R E S “É lindo fazer com que o público entenda que, em cima de uma bicicleta, não tem apenas o esforço físico, mas tem também uma bagagem muito interessante para você se descobrir e se interessar mais do que apenas por sua capacidade de subir uma montanha. Essa paixão pela modalidade fez com que eu ficasse dez anos junto a esses caras, gerando experiências diferentes. Minha luta tem sido trazer um vencedor do Giro d’Italia para a próxima edição. Quero, cada vez mais, encostar o público brasileiro com a realidade da competição em sua essência.” L I N H A D E C H E G A D A “Emociono-me durante a competição. Afinal, é um trabalho de um ano. E ali dentro tem pessoas correndo por uma causa. O pai de um filho com câncer, que corre com sua foto embaixo da roupa, e por aí vai. Ele compete para dedicar sua vitória à criança. Tem muita coisa envolvida. O ciclismo acaba sendo um pano de fundo.” U M S O N H O , U M R I S C O “Não tinha dúvidas de que o projeto do Giro daria certo. Mas imaginava que gerar o mesmo modelo de negócio poderia ser ruim. Criar uma prova em Campos do Jordão, com o mesmo nível técnico, talvez fosse um tiro no pé. Assumimos, então, o risco de colocar o produto em uma prateleira de nível de dificuldade altíssimo. Convoquei campeões brasileiros e atletas internacionais para dizer se um atleta amador conseguiria ou não completar. Todos me disseram: ‘Faça. O mercado está precisando disso’.” C O M U N I D A D E “O ciclismo está no topo da pirâmide do esporte. Quando você tira o mountain bike e vai para a estrada, que é o nosso caso, é ainda mais exclusivo. Se eu quisesse conquistar 200 mil seguidores, eu faria uma ação para sortear uma bike, mas alcançaria pessoas que não têm qualquer envolvimento com o projeto. Chegaríamos a lugares que não precisamos. Essa é uma comunidade de nicho.” 43 7


MEU ESTILO Por Bianca Nunes Retrato João Bertholini

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Menos é mais

Sob medida

“Sou muito minimalista, gosto de peças que sobrevivam ao tempo. Devo ter umas quatro camisas, cinco calças, um terno de linho, outro de veludo cotelê e um casaco. E quase não uso acessórios.”

“Só uso mocassim ou alpargatas. Prefiro calçados confortáveis. Tenho certa dificuldade de comprar sapatos no Brasil. Eu os acho muito robustos, mas gosto da Soyvos. E ainda tenho modelos que comprei durante os dez anos que morei na Europa, feitos à mão por verdadeiros artesãos.”

Consciência coletiva “Procuro saber a origem da peça: se o material é natural, se leva em conta a sustentabilidade, como foi produzida. No Brasil, há marcas surgindo que buscam essa transparência na produção. A Handred é um bom exemplo.”

BRUNO BERTOLI SOMMELIER E EMPRESÁRIO, DONO DO BEVERINO

3 Fita métrica “Linho é um tecido que não falta no meu guardaroupa. Nunca usei calça jeans. A sensação física do tecido e o conforto são fundamentais para mim. Por isso acabo recorrendo muito a alfaiates. Vou a uma loja na 25 de Março, a Tecidos Vadinho, que tem linhos de vários lugares do mundo, e mando fazer algumas roupas.” 74

5 Redutos “Gosto muito de ir ao Cepa e à Enoteca Saint VinSaint – aqui, os sócios são grandes entusiastas dos vinhos naturais e dos alimentos orgânicos, adoro o trabalho deles. Também vou bastante ao Boca de Ouro, um clássico de São Paulo.” Inseparável “Tenho apego ao meu abridor de garrafas da marca francesa Laguiole. Ele me acompanha todos os dias no trabalho. E é um objeto bonito de se olhar.”

Fotos João Bertholini e divulgação

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Entrelinhas “Adoro escrever, principalmente ficção, e de fazer ilustrações. A identidade visual do Beverino, por exemplo, foi criada por mim. Tenho alguns cadernos que me acompanham: escrevo reflexões sobre algo que li, sobre situações que estou vivendo, sobre um vinho que tomei e tudo se mistura em uma espécie de diário.”

Paixão “Sou um bibliófilo inveterado. A leitura me acompanhou a vida toda. Nos dez anos que morei fora, mudei muitas vezes de cidade, mas a minha biblioteca estava sempre comigo. Isso me ajudava a ter a sensação de casa. Meus livros são meu santuário.”

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Berço do vinho

Mens sana

“Eu tenho um país afetivo, a Georgia. Além do acolhimento das pessoas, a cultura é muito ligada à minha área de trabalho. O destino é considerado o local de origem do vinho e eu nunca vi um lugar onde a bebida é tão democrática. O taxista faz vinho em casa, os casais costumam ganhar de presente de casamento uma ânfora para vinificar... é uma tradição ancestral.”

“A ioga entrou na minha vida aos 19 anos, quando fui fazer minha graduação em Trento, uma região alpina e pacata na Itália. Foi um período em que comecei a me interessar mais pela agricultura orgânica e um estilo de vida mais saudável. E a ioga me ajudou a ter consciência sobre meu corpo e a entender os efeitos daquilo que consumimos.” 75


U r b a ni s mo | ARQUITETOS EM F OCO

Conheça a nova e brilhante geração de arquitetos brasileiros que tem o respeito ao espaço e ao tempo como um de seus principais pilares Por Giovana Romani

“O futuro é ancestral e precisamos aprender com ele a pisar suavemente na terra.” A frase do intelectual indígena Ailton Krenak, autor de Ideias para Adiar o Fim do Mundo, apareceu recentemente em uma reportagem do The New York Times. Não era sobre a Amazônia e a urgente questão territorial. Mas sim sobre a atual geração de arquitetos cariocas que pensam em construções alinhadas com o ambiente – e não contrapostas a ele. Pronto! Como começar esta reportagem que você tem em mãos, sobre jovens arquitetos brasileiros, de maneira diferente? Pisar suavemente na terra parece ser o traço em comum entre os nomes que estão desenhando um novo, sustentável e auspicioso capítulo da nossa história. A seguir, contamos mais sobre cada um desses nomes – vale seguir e acompanhar. 76

Fotos Eron Costin, Karin Kussaba, Pedro Kok e divulgação

PRESENTE EM CONSTRUÇÃO


UNDIÚ São Paulo | @_undiu

Undiú, undiú, undiú: a sonoridade inexplicável e quase sagrada da palavra inventada por João Gilberto dá nome ao escritório caçula dessa lista, aberto em 2023 por Tomás Millan e Victor Oliveira. Formada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a dupla colaborou com o escritório MMBB, onde puderam conviver com Paulo Mendes da Rocha em seus últimos anos. Depois, viram na oportunidade de criar o novo edifício da Galeria Millan, uma das mais importantes de São Paulo, o ponto de partida para uma empreitada juntos. “O projeto teve como principal desafio conciliar qualidade espacial e luz natural em um terreno que, apesar de pequeno, exigia a criação de dois pavimentos para comportar o programa”, conta Tomás. A solução foi posicionar a sala expositiva no térreo e o escritório em um mezanino que, sem encostar nas paredes laterais, se articula como uma espécie de ponte no espaço – tudo isso somado ao desafio de estabelecer uma relação de diálogo e continuidade com o edifício já existente da Millan, situado no terreno vizinho.

ESTÚDIO 41 Curitiba | @estudio41

Basta entrar no site do Estúdio 41 para se impressionar com a imagem da Estação Antonio Ferraz, base brasileira na Antártica, inaugurada em 2020 e assinada pelo escritório brasileiro. Os sócios ganharam o concurso para remodelar o centro de pesquisas científicas, administrado pela Marinha do Brasil, que parou suas atividades depois de ser destruído por um incêndio, em 2012. “Esse é um dos nossos trabalhos mais importantes pela representatividade internacional, pelos desafios e pelas adversidades de projetar sob aquelas condições geográficas e pela importância para a ciência brasileira”, diz Fabio Henrique Faria, que comanda o escritório ao lado de João Gabriel Rosa, Martin Kaufer Goic, Eron Costin e Emerson Vidigal. Eles se conheceram na Universidade Federal do Paraná e se uniram pelo interesse em comum de participar de concursos de arquitetura e urbanismo. Entre os muito trabalhos estão os projetos do prédio Fecomércio/Sesc/Senac, em Porto Alegre (o primeiro do estúdio), do Setor Habitacional Pôr do Sol e da Orla do Lago Paranoá, no Distrito Federal, e da UBS Quilombola, na Paraíba. 77


JULIANA LIMA VASCONCELLOS Belo Horizonte | @julianalimavasconcellos

Rio, mostrou a que veio. Com vista do Pão de Açúcar, o imóvel de características déco ganhou as páginas de publicações importantes. Em 2015, partiu também para o design colecionável. “Percebi que algumas das peças que criava para projetos tinham força, contavam uma história.” A mais famosa é a cadeira Girafa, de 2018, que integra a coleção do Museu de Artes e Design de Nova York. Hoje, Juliana cria projetos especiais, como a nova loja da marca Haight, no Rio Design Barra, e é destaque em títulos como Elle Décor, Architectural Digest e Wallpaper. “Cheguei aqui exatamente por carregar em mim essa mistura de onde nasci, Belo Horizonte, minha relação com a natureza e com o que é ser brasileiro.”

Fotos Daniel Mansur, Josemas Cutillas, Paula Chaffin e divulgação

Está na cara dela, dos interiores que assina e dos objetos de design que cria: a moda, a arte e o universo criativo como um todo habitam as referências da arquiteta mineira Juliana Vasconcellos. Formada na Universidade Federal de Minas Gerais, ela morou em Londres, Barcelona e Nova York e hoje mantém um escritório em Belo Horizonte, um belíssimo apartamento no Rio de Janeiro e muitos trabalhos em São Paulo. “Comecei na arquitetura fazendo prédios e rodoviárias, mas a parte artística sempre me tocou. É algo visceral em mim. Flerto com a estranheza, ela me emociona”, diz. Sua imersão nos interiores começou em 2011 e, logo em sua segunda empreitada nessa área, o próprio apartamento no

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SAUERMARTINS Por to Alegre | @sauermar tins

Elisa Martins e Cássio Sauer, que estudaram juntos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e na Universidade do Porto, se uniram por dois interesses comuns: o amor e o desejo de usar a arquitetura como um instrumento que transforma realidades. “Buscamos sempre essa ideia de produzir um projeto que faça sentido no nosso contexto, edifícios contemporâneos que estabeleçam um diálogo com a memória do local, se utilizem de materiais ou técnicas construtivas tradicionais e proporcionem uma experiência positiva para os usuários”, diz Elisa. Entre os trabalhos do casal, vale a menção para o Galpão, no município gaúcho de Canela, um pequeno atelier construído como anexo a uma residência, e o Pavilhão Concêntrico, na cidade de Logroño, na Espanha, composto de duas peças geométricas que se complementam.

DENIS JOELSONS São Paulo | @denisjoelsons

Mestre em história e fundamentos da arquitetura e urbanismo pela FAU-USP e autor do livro Arquitetura e Luto na Obra de Adolf Loos, Denis Joelsons mantém seu escritório desde 2014, em São Paulo. “Procuro entrar desarmado nos projetos para buscar a especificidade de cada um. E ter presente as condições geográficas e urbanas, acima da condicionante artificial do lote”, diz. Um exemplo disso é a Casa da Meia Encosta, em São Francisco Xavier, no interior paulista, construída sobre o muro de contenção de um terreno íngreme, que forma uma zona de intersecção entre montanha e platô. Outro é a Casa dos Terraços Circulares, em Cotia, que reitera o estilo preciso e marcante de Joelsons. “A arquitetura é suporte para diferentes acontecimentos e vivências. Seu protagonismo estético geralmente não é bem-vindo. Para mim, a melhor contribuição que um edifício pode oferecer é tornar mais claras as relações que estabelece com seus usos e com o lugar e a cultura em que está inserido”, finaliza. 79


U r b a ni s mo | ARQUITETOS EM F OCO

VÃO ARQUITETURA São Paulo | @arq.vao

dar asas à experimentação. É arquitetura contemporânea, que respeita o tempo, o espaço, o contexto. É o caso do projeto da casa São José do Barreiro, na cidade de mesmo nome, no Vale Histórico Paulista, pensada para dialogar com o município e complementar o jardim que já existia lá, repleto de inhames, tinhorões, samambaias e antúrios. A inversão “uma casa para um jardim” resulta em um refúgio lindo de viver, com janelas que enquadram a paisagem da Bocaina a partir de um interior iluminado e despretensiosamente sofisticado.

Fotos Javier Agustin Rojas, Marina Lima e divulgação

Se você esteve na mais recente Bienal de São Paulo, Coreografias do Impossível, então conheceu o trabalho de Anna Juni, Enk te Winkel e Gustavo Delonero, da Vão. São eles os responsáveis pela expografia da mostra, que propõe um jeito diferente de transitar pelo edifício ícone de Niemeyer. Fundado em 2013 e com sede no bairro paulistano Vila Buarque, o escritório opera em diferentes escalas, tamanhos e contextos: além das expografias, assinam projetos residenciais. Usam a tecnologia, mas não dispensam o analógico; lançam mão de teoria e prática para

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MESSINA RIVAS São Paulo | @messinarivas

Os sócios Rodrigo Messina e Francisco Rivas se conheceram no Paraguai, quando trabalhavam no escritório Gabinete de Arquitectura, e perceberam ter similaridades dentro da profissão. “Talvez nosso olhar comum seja a vontade de nos equivocarmos juntos. Isto é, aprender fazendo. Ainda hoje temos certa dificuldade de saber por onde começar um projeto. E cada trabalho parece oferecer uma resposta possível”, diz Francisco. É bonita, sensível e extremamente possível a forma como a dupla enxerga o ofício, a partir da ideia de que uma obra nunca termina, está sempre em transformação, seja por quem projeta, constrói ou a habita. “Procuramos certa disponibilidade para o afeto, acreditando e entendendo que as coisas além de nós acabam ampliando as possibilidades de ação.” E isso inclui a própria natureza, vista por eles como uma grande arquitetura. “Se a entendemos dessa forma, a arquitetura passa a fazer parte dessa natureza, e vice-versa, e talvez consigamos gerar relações mais construtivas”, reflete Francisco.

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A r te | PA N O R A M A

QUADRO PROMISSOR O mercado de arte brasileiro ensaia retomada com maior número de feiras, abertura de galerias fora do eixo Rio-São Paulo e a criação de espaços expositivos alternativos. Analisamos o setor e listamos galerias, artistas e tendências para ficar de olho

Em 2022, o mercado de arte brasileiro teve um tímido crescimento: 1% em relação ao ano anterior, segundo pesquisa anual feita pela Art Basel e o banco UBS. No entanto, de modo aproximado ao que ocorreu entre meados dos anos de 2000 e 2010, um benfazejo espírito do tempo vem dando novo gás ao nosso cenário artístico. Com algumas peculiaridades distintas de uma década atrás, ressalte-se. Vale, antes, um breve retrospecto: em 2005, nascia a SP-Arte, feira que em poucos anos conseguiu atrair para o Brasil galerias do porte de White Cube e Gagosian. À época, a vinda das experientes instituições estrangeiras causou um efeito colateral nas locais, que precisaram profissionalizar seu modus operandi e, com isso, puderam se lançar no mercado internacional. Porém, as turbulências econômicas e sociopolíticas, de 2013 em diante, afastaram as casas gringas do Brasil, assim como o crônico problema das onerosas cargas tributárias sobre obras de arte no País. Veio a pandemia e, quem diria, o mercado começou a reagir 82

por meio de seus viewing rooms (as vendas on-line), que ampliaram, ao longo do tempo, os alcances nacional e internacional de suas transações, algo que permanece até hoje. E mais: de modo atento aos novos ventos que começavam a soprar no mundo da cultura, feiras e galerias abriram o leque de seus representados, em busca de diversidade. A SP-Arte, por exemplo, criou uma edição setembrina dedicada a projetos fora do eixo Rio-São Paulo. Na ArtRio, onde já havia programas de inclusão social, o debate gerou novas iniciativas. E o mercado, cujo potencial parecia cada vez mais promissor – em especial com a chegada dos millennials ao seleto grupo de colecionadores –, deu espaço para uma nova feira, a ArPA, também em São Paulo. Todas se mostraram atentas aos temas urgentes nas artes mundo afora – a saber, decolonialidade, sustentabilidade, reparação e restituição, e, last but not least, a produção de artístas indígenas, negros e LGBTQIA+. Tudo isso culminou, por sua vez, em um forte protagonismo desses “novos” atores da arte

brasileira na 35ª Bienal de São Paulo, que acaba de acontecer. Em tempo: o retorno do prestígio de nossas instituições levou à escolha do brasileiro Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, para ser o curador da Bienal de Veneza em 2024. Outro dado importante: o mercado se desvinculou da sazonalidade das feiras, criando espaços expositivos alternativos, como a Casa SP-Arte, a Casa Zalszupin e a Casa Gabriel. Em paralelo, pipocaram aqui e ali art advisors prontos para assistir os colecionadores neófitos. E surgiram galerias de peso fora do eixo Rio-São Paulo, como a Cerrado, em Goiânia, assim como instituições de grande envergadura, caso da Pinacoteca do Ceará e da nova Pina Contemporânea, em SP. Essa massa crítica de novas iniciativas e empreitadas no panorama da arte no Brasil não tardará a elevar aquele acanhado 1% a uma percentagem de dois dígitos. Leia, a seguir, uma seleção da Carbono Uomo de artistas em ascensão, assim como os agentes que vêm revigorando nosso sistema de arte.

Fotos Bob Wolfenson e divulgação

Por Eduardo Simões


Ar te | PA N O R A M A

HORIZONTES EM EXPANSÃO Em 1997, depois de fazer um projeto para a Casacor mineira, com criações de mestres como Joaquim Tenreiro, Sergio Rodrigues e José Zanine Caldas, a arquiteta Meire Gomide fez uma proposta ao filho, Thiago, que havia iniciado os estudos em Arquitetura. Por que não abrir uma loja para vender as peças que ela havia garimpado por preços módicos? A ideia foi um sucesso e, em paralelo, Thiago viu crescer seu interesse pela arte. O mineiro de Belo Horizonte começou a frequentar leilões e galerias e, em 2002, foi trabalhar com Bernardo Paz no que viria a ser o Instituto Inhotim. Passava, assim, a frequentar o grand monde da arte, como a Bienal de Veneza e feiras como a Art Basel. Em 2007, já em São Paulo, foi trabalhar na Bolsa de Arte, de Jones Bergamin. Novamente no mercado secundário, juntou-se à filha de Bergamin, Antonia, para abrir, em 2013, a sua primeira galeria paulistana, a Bergamin & Gomide. Uma década depois, uma nova guinada: em março, o galerista abriu a Gomide & Co, entre a Avenida Paulista e a Angélica. Lá mantém em seu portfólio grandes nomes do mercado secundário – de Volpi a Andy Warhol – e contratou a crítica e curadora Luisa Duarte para ajudá-lo a ampliar seu leque de artistas contemporâneos. E Gomide nos deu um spoiler: três de seus representados estarão entre os brasileiros convidados da Bienal de Veneza, em 2024.

A ARTE COMO DESÍGNIO Modelo desde os 15 anos, o paulistano Teo Bava segue a carreira nas passarelas, mas formou-se em Relações Internacionais na ESPM e, hoje, olha com atenção para “uma conexão muito forte com a arte”, que sempre o marcou. Há alguns anos, fez um inventário das obras de seu tio-bisavô, o pintor e desenhista Ubi Bava (1915-1988), artista que participou das três primeiras edições da Bienal de São Paulo, entre outras mostras. Hoje já são mais de 300 trabalhos mapeados, no Instituto Ubi Bava, onde atua como diretor. E, num almoço com Camila Guarita, dona da consutoria de arte KURA, veio o convite para ser um art advisor. “Pensei pouquíssimo. Percebo que a chance caiu do céu. Assessoro colecionadores na construção de acervos, na intermediação de compra e venda de obras. Pode até parecer bobo falar isso, mas é exatamente tudo com que sonhei.” 83


A r te | PA N O R A M A

Nascido em 1998, Gleeson Paulino teve algumas de suas primeiras experiências com fotografia com uma câmera Canon analógica, presente de sua mãe. Fazia o que chama de um trabalho “meio documental”, em que privilegiava a luz natural – até hoje, uma característica marcante de seu trabalho. Depois de uma temporada entre Londres, Berlim, Paris e Califórnia, se estabeleceu em São Paulo, onde firmou uma carreira de sucesso na fotografia de moda e publicidade para marcas como Natura, Melissa, Thom Browne e João Pimenta, além de publicações nacionais e internacionais. Em 2021, foi eleito pela revista I-D um dos melhores fotógrafos brasileiros. Recentemente, partiu para uma produção mais autoral. Em agosto deste ano, Paulino levou à Embaixada do Brasil em Londres a exposição Batismo, que já havia montado em 2022, em São Paulo. Transformada em livro, a mostra – que deve ser levada a Roma, Nova York e Tóquio – traz imagens do artista em expedições de redescoberta de suas raízes no Norte, no Nordeste, no Sul e, em especial, na Amazônia. Por ora, no entanto, Paulino não pretende abrir mão da fotografia de moda: “Eu aprendo muito e ela paga as contas”, diz. “Para prosseguir com uma fotografia mais autoral, sei que o mercado de arte exige uma dedicação em longo prazo. Esse meu trabalho ainda é muito novo e tenho um extenso percurso pela frente”, conclui. 84

“Esse meu trabalho ainda é muito novo e tenho um extenso percurso pela frente”

Fotos Denise Andrade, Hasselblad e Mason Wilson

R E G I S T R O S D O C U M E N TA I S


Ar te | PA N O R A M A

NOVAS FRENTES Alexandre Roesler tem se destacado no mundo das artes, e não é só pelo sobrenome de peso – ele é filho de Nara Roesler e sócio da galeria que leva o nome de sua mãe. O paulistano toca a área de promoção e vendas das obras da galeria para incorporadoras, que têm apostado em uma inserção cultural em seus empreendimentos de alto padrão. Entre as parcerias/curadorias já realizadas estão projetos para a Benx, a JHSF e a Tishman Speyer. Para os empreendimentos, levou obras de grandes nomes como Tomie Ohtake, Artur Lescher, Raul Mourão e Laura Vinci. São artistas com uma atuação importante no campo da arte pública, esculturas e instalações em grande escala. “É notável o crescimento do interesse do público pela arte contemporânea e, com isso, é natural que o olhar dos empreendedores se volte para isso. A Nara Roesler tem sido realmente bastante procurada para curadorias de obras em grandes projetos, onde a convivência do público com a arte é um diferencial”, afirma o galerista.

PROLÍFICO E AFETUOSO Curador, escritor e pesquisador, o carioca Bernardo Mosqueira é um dos mais criativos agentes do sistema de arte brasileiro. Em meados de setembro, abriu a nova sede do Solar dos Abacaxis. Ímpar, o espaço que ele ajudou a fundar em 2015 é voltado à experimentação em arte e educação. Lá reúne indivíduos e coletivos com uma proposta de trabalho que preza pela liberdade e pelo afeto. E a reabertura do Solar quase coincide com outra grande conquista, não menos bem-quista: em junho, ele foi anunciado como curador-chefe – cargo criado para ele – do Institute for Studies on Latin American Art, em Nova York. Uma de suas principais ações no novo posto é a abertura da nova sede, em Tribeca. Lá, está realizando duas coletivas com artistas brasileiros: Revisiting The Potosi Principle Archive: Histories of Art and Extraction, com obras de Cildo Meireles, e The Precious Life of a Liquid Heart, que mostra as novas aquisições do espaço, incluindo criações de UYRA e Nadia Taquary. (Mais) sucesso, Bernardo! 85


SEXO, PODER E VIOLÊNCIA

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INTERNACIONALIZAÇÃO Adriel Visoto, artista colecionado por Paulo Vieira, é um dos mais bem-sucedidos da galeria Verve. Seus trabalhos também foram comprados por Teo Bava e Adriano Pedrosa, do Masp. E estão em acervos públicos importantes como o do Museu de Arte do Rio (MAR). Para Ian Duarte, sócio da galeria, o mercado de arte brasileiro volta a ter um momento de internacionalização, com presença crescente de colecionadores estrangeiros em feiras do País, algo que sentiu, por exemplo, na mais recente edição da SP-Arte/Rotas Brasileiras. Não à toa, durante a Art Basel em Paris, Duarte vai abrir um galeria pop-up na capital francesa, com foco na obra de Francisco Hurtz. “Paris virou o quarto mercado do mundo. Para quem está pesquisando o mercado, uma pop-up é uma ótima plataforma para entender a dinâmica de cada cidade”, afirma o galerista.

Fotos Ding Musa, Romulo Fialdini e divulgação

Nascido em Niterói, Daniel Lannes tem apenas 42 anos, mas produz profissionalmente há duas décadas. Ao longo desse tempo, acumulou merecidos louros: foi ganhador do Prêmio Marcantonio Vilaça 2017/18 e suas obras estão em acervos públicos de peso, como Instituto Inhotim, Museu de Arte do Rio – MAR e Pinacoteca do Estado de São Paulo. “Sempre me interessei pelos códigos das pinturas figurativas, como afetavam a moral de cada época, qual era a ética da pintura, questões como nus e gênero”, diz. Sua produção se debruça sobre o corpo físico, cultural e histórico, sendo sexo, poder e violência assuntos fundamentais para a sua poética. “O que move o mundo na verdade são sexo, poder e violência. Quando você pinta um nu, está falando de sexo. Se pinta uma cena histórica, está falando de poder e de violência, não necessariamente violência física, mas a violência visual, a violência de um gesto.” Este ano, além de ter ganhado uma exposição na Galatea, fez parte da coletiva Brasil Futuro: As Formas da Democracia, com curadoria, entre outros, de Lilia Schwarcz. A mostra, no Solar Ferrão (Salvador), foi uma homenagem ao regime democrático que tem como pontos de partida recortes de gênero, raça e diversidade. Bem ao gosto de Lannes.


Ar te | PA N O R A M A

ONIPRESENTE Carbono Uomo conversou com Paulo Vieira, colecionador e diretorexecutivo do MAM Rio. Recentemente, o advogado carioca ainda assumiu o posto de presidente do Conselho Internacional da Tate, em Londres. Detalhe: é o primeiro não europeu no cargo. A seguir, dicas e insights que devem entrar no radar dos entusiastas das artes

Carbono Uomo O que lhe motivou a iniciar uma coleção? Paulo Vieira Comecei a colecionar por uma coincidência do destino. Meu melhor amigo de infância, Adriano Pedrosa, começou a estudar artes no Parque Lage. Com ele mergulhei na cena artística dos anos 1980 e tornei-me muito amigo de galeristas, como Luisa Strina e Marcantonio Vilaça, além de artistas da Geração 80, como Beatriz Milhazes e Daniel Senise. A decisão tomada nos anos 1990, já com a ajuda de Pedrosa, foi ter um assunto: escolhemos o tema de paisagens, que expandimos para a ideia de paisagens políticas e de artistas contemporâneos fazendo mapas, baseados em algum ângulo da realidade ou imaginário. A segunda decisão foi de adquirir obras no exterior, o que não era comum naquela década. Carbono Uomo Ao buscar obras, você procura acompanhar a trajetória de um dado grupo de artistas e, assim, ter mais coesão? Ou opta por mais diversidade? Paulo Vieira A escolha sempre foi por diversidade: o maior número possível de artistas, de diferentes nacionalidades. Carbono Uomo É possível e válido dar conselhos a colecionadores neófitos? Paulo Vieira O conselho só é válido se coincidir com o DNA do receptor do conselho. Tudo o que você fizer e que tiver coerência com a sua essência, com o seu DNA, tende a ter um efeito mercurial depois de alguns anos ou décadas, no sentido de ligar todos os pontos e fazer sentido como conjunto. Assim, entendo que o maior critério é seguir seu instinto e um plano, se ele tiver sido traçado. Carbono Uomo Na arte contemporânea, o colecionismo brasileiro tem seguido as mesmas tendências que o colecionismo, digamos, do norte global?

Paulo Vieira Entendo que sim, para o bem e para o mal. Mas, acho que já compreendemos como nossas particularidades são ricas, com a produção que vem dos artistas jovens e com pautas identitárias. Mas essa é uma ótima tendência global do colecionismo. Acho que o que falta é o colecionador brasileiro compreender a importância de se tornar um agente cultural e passar a fazer parte da governança e do círculo de apoiadores das instituições culturais do país. Carbono Uomo Você segue alguma tendência de colecionismo atual? Paulo Vieira Acho que me juntei a um grupo de colecionadores, galeristas e agentes culturais que lutaram muito para apoiar a participação dos artistas e das instituições brasileiras no cenário internacional. Isso foi nos anos 1990 e início dos 2000. Depois de duas décadas, dei-me conta de que havia negligenciado artistas, no Brasil, com pautas identitárias. Por sorte, isso passou a fazer parte da mesa da maioria dos colecionadores. Carbono Uomo Você poderia citar alguns artistas contemporâneos aos quais jovens colecionadores ou mesmo iniciados devem ficar atentos? Paulo Vieira Realmente procuro evitar individualizar e nomear. Mas diria que me emociona a fase espetacular pela qual passa o nosso importante artista Arjan Martins. O jovem Adriel Visotto também me toca profundamente. Carbono Uomo Qual feira internacional não deve ficar fora do radar do colecionador? Paulo Vieira A Freeze, de Londres, e a Art Basel original, de Basileia. 87


Te m p o r a d a | V E R Ã O

Q U E M FA Z

VERÃO Em qualquer época do ano e, agora, mais do que nunca. Com a chegada da estação mais aguardada, selecionamos pessoas solares. Daquelas para estar sempre de olho Por Manuela Stelzer

Não é à toa que há uma infinidade de versos e melodias que conectam verão e alegria – Ivete diz que é tempo de ser feliz; para Marina Lima, traz um calor no coração; e até Shakespeare escolheu contar histórias de amor, sonhos e magia em uma noite de verão (e não poderia ser em nenhuma outra). Seja pelo azul no céu, pelo aumento na dose de melatonina (e serotonina!) ou por ser a desculpa perfeita para abrir uma cerveja, fato é que o verão é a época mais aguardada do ano. E se organizar direitinho todo mundo consegue aproveitá-la. Para isso levantamos uma lista de pessoas que vão brilhar junto ao sol dessa estação e que podem servir para inspirar viagens, passeios, leituras e condutas para um 2024 mais feliz e positivo. São pessoas engajadas com a proteção de animais, com festivais de celebração das culturas negra e queer, com a valorização de ingredientes amazônicos, com a tradução de marcas e histórias por meio da música. Uma reunião de personagens bacanas e comprometidos a fazer o mundo mais solar. Neste verão, vale a pena tê-los por perto.

“Sou feliz por estar vivo. Apesar de todas as questões globais, acho que a vida só melhora.” Ricardo Moreno vive em busca do sol o tempo todo e sua plataforma The Summer Hunter é prova disso. Jornalista clássico de redação, Ricardo Moreno tirou um período sabático em 2013 e nunca mais voltou a ser o mesmo. Quis transformar o emaranhado de boas sensações das viagens em negócio. O que parecia impossível acabou criando um novo ramo no mercado. “Comecei a perceber que havia um interesse nesse discurso, de olhar o lado bom da vida”, conta. A ideia começou com um site com dicas de viagem, evoluiu para uma rede social nessa linha solar e hoje é o The Summer Hunter, uma revista no Instagram, um podcast, uma newsletter, um grupo de benefícios no WhatsApp, além de collabs mil com marcas como Corona, Havaianas, Neutrogena e Boticário, entre outras. Para o começo de 2024, o objetivo é vir para o mundo off-line no formato de casa de verão itinerante, uma espécie de clube com piscina, espaço para shows, drinks. “Só faz sentido o crescimento on-line se a gente consegue converter essa comunidade no mundo real. Olho no olho, ao invés da curtida, o abraço, tomar uma cerveja junto, dar um mergulho.” Pôr ou nascer do sol mais bonito que você já viu: Pescando na Baía de Guaratuba enquanto o sol nascia no horizonte, rodeado pela Serra do Mar, e o barulho da água batendo no casco de alumínio da embarcação. Uma música que não sai dos ouvidos: Impossível dizer uma. Mas nos últimos 12 meses foi uma mistura boa de Rubel, Bremer/McCoy, Xande de Pilares, Marina Lima, Grupo Revelação, Cigarettes After Sex e D2, nessa mesma proporção. Onde é seu verão ideal: Com família ou amigos, sol e mar, música e cerveja, qualquer lugar tem um verão ideal.

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“Desobediente e inconformada, mas também doce e sonhadora.” É como se define a artista visual Thaís Iroko, conhecida nas redes como Princesinha Periférica e uma das figuras mais promissoras no panorama atual das artes plásticas no Rio de Janeiro. “Sou a Thaís. A Princesinha Periférica é uma pequena parte dessa complexidade que me abrange”, afirma a artista de 31 anos. Nascida e criada no morro do Chapadão, zona Norte carioca, o nome para o usuário surgiu entre amigos e tornou-se quase um alter ego: “Ajuda-me a lidar de forma mais leve com a vida e principalmente com as redes sociais”. Em exposição no Museu de Arte do Rio até 2024, Iroko usa sua arte para mergulhar em questões como memória, imagem e território. Busca, assim, construir narrativas de pertencimento – “em um mundo que rejeita nosso corpo, intelectualidade e história”, segundo ela. Mas seu trabalho tenta reverter essa lógica: “Coloco uma ótica de não violência ali e abro espaço para uma energia solar. Meu convite é para um lugar onde memória, imagem e território se entrelaçam em narrativas ricas e diversas”. Uma dica para o verão 2024: Para quem estiver no Rio, indico visitar a exposição coletiva FUNK: Um Grito de Ousadia e Liberdade, que está em cartaz no Museu de Arte do Rio até agosto de 2024 e da qual participo com a obra Relíquia das Relíquias: 3500 bpm Depois de Cristo. Lembrando-se de se hidratar e caprichar na proteção solar. Lugar que mais quer conhecer: Sem dúvidas, o Egito! O que você mais gosta de fazer para relaxar: Amo nadar! Tento ir para a piscina pelo menos três vezes por semana. De quebra, ainda é o único aeróbico que eu realmente gosto de fazer (risos).

“Entendo-me como uma pessoa que luta pela liberdade todos os dias.” Diretor e fundador do Instituto Vida Livre, Roched Seba criou um centro de reabilitação e atendimento gratuito de animais silvestres, o único que funciona de maneira independente no Rio. Ainda que seja publicitário de formação, Roched Seba sempre foi fissurado em animais – cansou de ser questionado por amigos sobre não ter se tornado veterinário ou biólogo. “Desde criança gosto de bicho. Lia, pintava, desenhava, estudava sobre bichos. É uma pauta sobre a qual me debrucei e foi evoluindo.” O Instituto Vida Livre surgiu depois do mestrado em Engenharia de Produção, resultado de sua pesquisa acadêmica. Hoje, são oito anos de atuação, mais de 1,2 mil animais atendidos, suporte exemplar a diferentes espécies e até uma campanha de apoio ao Projeto de Lei 4.278, que aumenta a proteção de espécies silvestres no País. “Entendo que ainda é um instituto pequeno, mas já conseguimos nos envolver em trabalhos de impacto nacional. Nosso papel é tornar conhecidas as circunstâncias em que vivem os animais.” Se você fosse um animal, qual seria? Uma baleia. Uma viagem inesquecível: Ao Líbano, com meu pai, em 2019. Um livro: Sapiens, de Yuval Noah Harari. 89


“Além da cozinha, minha vida é em torno do meu território, a Amazônia.” Chef paraense e estudioso da cozinha do Norte, Thiago Castanho está por trás dos restaurantes Remanso do Peixe e o antigo Remanso do Bosque, em Belém. Recentemente, estreou em São Paulo com o bar de pescados e frutos do mar Sororoca, ao lado da turma do Lobozó. “Uma cangaceira braba.” Aos 27 anos, Alice Carvalho é uma das grandes promessas das artes cênicas. Veja por que a atriz potiguar é daquelas pessoas para não perder de vista não importa a estação do ano. “Sempre foi Exu” é a frase estampada no pescoço de Alice e que define bem sua personalidade — obstinada e habilidosa. A “atriz, roteirete y diretoura”, como se apresenta em seu perfil nas redes, trilhou um caminho longo de experimentações. Até conseguir o papel de Dinorah Vaqueiro, em Cangaço Novo, testou tudo, de stand-ups a escrita de roteiros. Para alguém que ganhava em média R$ 600 com bicos aqui e ali, o salto para uma produção de Fábio Mendonça e Aly Muritiba, transmitida pela Prime Video, foi uma evolução e tanto. Mas essa está longe de ser a linha de chegada. Agora, ela se desdobra entre as filmagens de Guerreiros do Sol, aposta do Globoplay para o próximo ano, e Renascer, novela das nove que deve entrar na programação de 2024. Nas telas, ainda veremos muito a presença solar e radiante de Alice Carvalho — ainda bem. Um lugar: São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte Um sonho para 2024: Ter energia e saúde para sustentar todos os trabalhos e ver mais a minha família. As outras coisas já estão acontecendo. Um filme para quem gostou de Cangaço Novo: Paloma, de Marcelo Gomes, e Carvão, de Carolina Markowicz. 90

A culinária amazônica tomou tanto da vida e do propósito do chef Thiago Castanho que até a casa ele perdeu por conta disso – o primeiro restaurante da família, Remanso do Peixe, foi montado dentro da sua (ex) morada. A partir daí, não teve mais volta: tornou-se chef e defensor do cardápio vindo da Amazônia. “Além da cozinha, minha vida é em torno do meu território. Tento sempre ter olhos atentos para o que a nossa região pode nos oferecer”, conta ele. Depois de uma onda de valorização dos ingredientes amazônicos, gourmetizados pelo mercado, Thiago ainda sentia falta de uma visibilidade para a cultura propriamente dita. “Hoje vejo as pessoas chegarem até aqui, seja Manaus, Alter do Chão, Belém. E isso me deixa muito feliz.” Segundo ele, fazer essa culinária ser reconhecida é algo necessário: “Porque os ingredientes vêm da agricultura familiar. Além de manter viva a tradição da cozinha, evita uma migração total para os centros urbanos. Faz com que as pessoas entendam o real trabalho que existe na base de cada ingrediente”. Ingrediente mais versátil da sua cozinha: Mandioca. O que quer em 2024: Conseguir conciliar agenda de trabalho com acompanhar e ver a minha filha crescer. Destino no Brasil: Barra Grande, no Piauí e Algodoal, no Pará.


“Um festival que transforma dor em felicidade.” Quando Maurício Sacramento sonhou com uma festa que celebrasse as culturas negra e queer em Salvador, ele nem imaginava que sua ideia se espalharia pelo País e viraria um festival próprio, com atrações como Karol Conká, Ludmilla e Liniker. Nas redes, Maurício Sacramento é Fresh Prince da Bahia — empreendedor, DJ, produtor, diretor de arte e styling, e foi considerado, em 2021, uma das 100 personalidades negras mais influentes da lusofonia pela Powerlist 100, da revista Bantumen. Mas sua carreira na cena cultural nacional começou despretensiosa. Sacramento queria criar um espaço que defendesse a estética preta, queer e da periferia como arte, moda e beleza. Sua ideia era, a partir da celebração e da felicidade dessas pessoas, vingar as violências que elas sofrem todos os dias. Mas o festival foi além e cresceu para outras frentes. Com a Batekoo Records, impulsionou artistas que frequentavam a balada desde o início, como Pabllo Vittar e Linn da Quebrada; desenvolveu a iniciativa Escola B, um projeto educacional com cursos de capacitação para pessoas negras e LGBTQIA+; e passou a oferecer consultoria para marcas, uma tentativa de auxiliar no avanço do debate de questões sociais e raciais. Artista favorito: M.I.A Destino que mais quer conhecer: Maranhão ou Manaus

Retratos divulgação

A pessoa que mais queria que comparecesse na Batekoo: Rihanna (risos).

“Música é um tecido cultural que permeia e une tudo. As marcas precisam entrar nessa.” Paulo Sattamini é fundador e diretor criativo da Tecla Music, uma agência de music branding especializada na curadoria e na gestão sonora para marcas. Seu trabalho, um reflexo sonoro do Rio de Janeiro, aparece em lugares tão descolados quanto o Hotel Arpoador e a loja Haight. A trajetória de Paulo Sattamini na música foi algo nada premeditado. Nunca estudou teoria ou tocou instrumentos — seu negócio era curadoria. Na infância, foi DJ da turma no último dia de aula e, na juventude, era o responsável por playlists de viagens, festas, encontros com os amigos. E o som que ele escolhia era sempre perfeito para a situação. Mais velho, formou-se em publicidade, passou por agências, abriu uma padaria, ficou um tempo fora do Brasil. E não teve jeito: o que vingou mesmo foi a música. Hoje à frente da Tecla Music, Sattamini atende marcas que querem encontrar seu posicionamento musical. “Pode ser uma playlist com jazz, reggae, hip-hop. Com músicas de diferentes gêneros, estilos, épocas. O que conecta tudo é um mood, uma vibe, uma energia que tentamos refletir na marca”, comenta. “As empresas querem estar presentes na vida dos consumidores e uma maneira de prolongar a experiência é pelo som. A música embala os momentos, ajuda a vida a ser mais solar.” O melhor verão para você: Em família, no Nordeste. Artista mais escutado do momento: Ouço tanta coisa. Para dizer um, o que andei ouvindo mais nos últimos tempos: Xande de Pilares cantando Caetano Veloso. Uma leitura: O Poeta Chileno, de Alejandro Zambra.

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Ca rbo no Minds

Fernanda Caloi 92


FERNANDA CALOI

“Uma cultura empresarial que valorize o diálogo e a abertura cria times mais colaborativos e humanos” No mercado corporativo ou em sua vida pessoal Fernanda Caloi acredita que um bom diálogo é fundamental para conquistar ambientes mais sustentáveis e humanizados Por Marilia Levy

Retrato Cecília Sampaio

Conciliar uma vida de executiva no mercado corporativo e morar perto da natureza – em uma comunidade – não é uma equação óbvia, nem tampouco fácil. Mas Fernanda Caloi, diretora de Projetos Especiais na Latitud, uma plataforma de inovação e fundo de investimentos para startups, assumiu o desafio e o transformou em projeto de vida. Há dez anos, quando ainda trabalhava no Google, onde foi líder global do programa para startups, Fernanda começou o sonho de fundar uma comunidade com alguns amigos, em um sítio no interior de São Paulo. A ideia era levar uma vida mais sustentável e aplicar, na prática, conceitos e valores muito discutidos na teoria. O projeto não só aconteceu como se desdobrou na TAO Bambu, uma empresa de produtos criados a partir dos bambus, plantados por ela, ao lado do marido, João, nesse mesmo sítio. Hoje, aos 39 anos, Fernanda se divide entre ser mãe de três, a vida de empreendedora e o universo da tecnologia e startups, sempre com um objetivo em comum: a busca por ambientes mais humanizados – seja no âmbito profissional ou pessoal. A seguir, ela conta como sua experiência como mulher a ajudou a defender questões urgentes da sociedade atual e a trazer visibilidade a grupos minoritários.

J U N TA S S O M O S M U I TA S “Eu me lembro exatamente do dia em que percebi que, por ser mulher, tinha uma voz e a possibilidade de abrir portas para outras mulheres. Eu estava no Google e comecei a ser chamada para falar no lugar do meu chefe – homem – em alguns summits e talks. Simplesmente porque estavam precisando de nós nessas conversas. Essa virada foi muito importante. Caiu a minha ficha de que eu não carregava a bandeira de ser mulher, eu era a bandeira. Essa tomada de consciência me fez perceber que posso usar meu espaço para dar mais visibilidade a outras mulheres.”

A T U R M A T O D A “É bem mais difícil do que parece. Foram anos de discussões e muitas descobertas. Experimentamos muitas coisas boas do viver coletivo. Atravessamos uma pandemia juntos. Tivemos filhos, montamos uma plantação de orgânicos. Contudo, para continuar evoluindo como comunidade precisamos trabalhar ainda mais o que nos une. É o nosso foco no momento. No meio do caminho, muitas coisas mudam. É um realinhamento constante.”

FA L A Q U E E U T E E S C U T O “Acho importantíssimo podermos ser quem nós realmente somos no trabalho. No meu time, trazemos isso e acho que fortalece a relação. A questão da escuta é muito importante no mercado corporativo. A cultura workaholic é o que mais prejudica, principalmente as mulheres. Não poder olhar para outros campos da vida e esconder sua vulnerabilidade é muito ruim. Uma cultura empresarial que valorize o diálogo e a abertura cria times mais colaborativos e humanos.”

A P O I O “Tenho muita sorte de estar em uma empresa que permite o modelo flexível. Trabalhar remotamente é um dos segredos para conseguir estar em ambos os lugares. Faço calls de onde estiver e sigo perto dos meus filhos, participando ativamente da educação deles. Mas não é só isso. Eu tive que me organizar e planejar essa escolha. Investir em uma vida sustentável ainda é algo difícil de fazer sozinha. Sem o apoio do meu marido, da Latitud e da nossa comunidade não daria certo. Nós, mulheres, cuidamos de muitas coisas e cada vez mais eu acredito que é preciso dividir essas tarefas.”

L I D E R A N Ç A “Acredito que as empresas estão muito mais conscientes sobre as dificuldades das mulheres. Fala-se em saúde mental, tempo para engravidar, adoção, licença maternidade estendida. Até pouco tempo, isso era de âmbito privado. Agora virou um tema de trabalho. E parte dessa mudança já é observada nas novas gerações. Vejo uma força imensa nas mulheres de 20, 30 anos. Elas sabem do poder que têm, já foram criadas a partir de novas referências. Aceitam bem as diferenças, sabem escutar muito mais.”

P R O P Ó S I T O “O ESG é a nova roupagem da responsabilidade social, mas agora com um olhar mais holístico. Antigamente ele tinha um foco unicamente assistencialista. Hoje, vejo uma área de ESG mais perto do resultado de negócio, e não apenas um braço filantrópico. É uma abordagem para o business e as empresas estão percebendo isso. Tenho confiança de que esse tema, que atrai olhares, investe em formação e cria novos expoentes, pode ser um bom futuro para empresas realmente interessadas em fazer disso um valor.” 43 9


E c onomi a | PROD UÇÃO ORG ÂNICA

EU PLANTO, TU PLANTAS… Eles se mudaram para o campo em busca de uma vida mais saudável. E acabaram transformando a vida na roça em um novo e promissor ofício. Conheça a história de produtores rurais que têm feito cafés, embutidos, queijos e outras delícias respeitando o que realmente importa: o tempo da natureza Por Luisa Alcantara e Silva

Se antes da pandemia a vida no campo era uma realidade distante para a maioria das pessoas vivendo em grandes cidades, hoje a história é outra. Segundo a pesquisa Viver em São Paulo: Qualidade de Vida, publicada em 2023, 61% dos moradores da capital paulista gostariam de trocar suas rotinas agitadas por terras mais calmas. E já tem muita gente que, inclusive, realizou esse desejo. Graças às possibilidades do home office, há quem tenha se mudado para o interior sem deixar 94

o dia a dia na frente do computador. Mas existe, ainda, uma turma que aproveitou o novo CEP para mudar também de profissão e viver, literalmente, da roça. São produtores rurais, que apostaram no cultivo natural e acabaram se beneficiando da busca cada vez maior por saúde e bem-estar do planeta. O casal Paulo Lemos e Yentl Delanhesi, por exemplo, deixou a correria paulistana, em que trabalhavam com comunicação, pelo sossego de Catuçaba, no interior.

Lá, começaram a se interessar pela “lida” na roça, passaram a produzir itens como queijo e mel e, ao perceber o interesse de seus seguidores, criaram a Lano-Alto, uma marca baseada em ingredientes de verdade. “Saímos de São Paulo achando que sabíamos mais e, vivendo aqui, vimos que não sabemos nada”, diz Paulo. A seguir, conheça as histórias de alguns desses produtores e aproveite para conferir suas redes sociais e provar suas delícias.


D I PA FA R M Ana Carolina Pires | @dipa_farm

“Dipa vem do sânscrito e significa luz e é muito mais que uma marca.” Assim a paulistana Ana Carolina Conde Pires define sua recém-lançada plataforma Dipa Farm, onde vende insumos naturais feitos em uma fazenda no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas, no interior paulista. A marca é resultado da experiência de seis anos vivendo na propriedade rural para onde ela e o marido decidiram se mudar em busca de uma criação mais saudável para as filhas. “Fui picada pela natureza”, brinca Ana, hoje uma empreendedora ambiental. Depois de ver seus produtos fazendo sucesso entre os amigos e a família, ela decidiu que era hora de investir em uma marca própria. Suas criações são feitas em cima de ingredientes naturais, como o óleo de lavanda – a propriedade tem cerca de 5 mil pés da planta, usados para fabricar perfumes, sabonetes e velas. E é ali, ao redor das lavandas, que também estão espalhadas as 200 colmeias de abelhas, responsáveis por outro hit da Dipa Farm, o mel de flores silvestres. Ana, que também produz própolis e café, pretende diversificar seu portfólio – chás e cosméticos estão nos planos –, sem nunca deixar de lado o respeito ao meio ambiente. Por ora, a manteiga, o queijo, o iogurte e o requeijão feitos com o leite das 17 vacas locais são para uso interno da fazenda. Afinal, é como Ana mesmo diz: “Seguimos o ritmo da natureza”. Ana e as filhas no dia a dia da fazenda de onde vêm os produtos da Dipa Farm 95


E c onomi a | PROD UÇÃO ORG ÂNICA

FA Z E N D A L A N O - A LT O Paulo Lemos e Yentl Delanhesi @lano_alto

O paulista Paulo Lemos e a gaúcha Yentl Delanhesi trabalhavam com comunicação em São Paulo até que, em 2010, foram passar uma temporada nos Estados Unidos. Venderam tudo o que tinham, exceto uma fazenda então recém-comprada em Catuçaba, no interior paulista. Em 2014, de volta ao Brasil apenas para uma temporada, decidiram hospedar-se na propriedade e tocar, de lá, seu estúdio de comunicação. “Só que a gente começou a curtir essa vida mais simples, mais ligada à natureza”, lembra Paulo. E, ao cuidar da terra, do gado e de outros animais, passaram a não gostar mais tanto do que faziam antes. Aos poucos, as longas horas em frente à tela do computador 96

foram sendo trocadas pelo trabalho rural e o novo lifestyle passou a fazer sucesso nas redes sociais da dupla. Não demorou muito para começarem a vender experiências e cursos imersivos, como oficinas de queijos artesanais. “Uma coisa é a pessoa ver um post e curtir, outra é ela vir aqui, ver como é o trabalho que a gente faz”, dizem. Com o tempo, Yentl e Paulo também começaram a vender seus produtos, que hoje contam com certificado de transição agroecológica – um passo importante para se tornarem 100% orgânicos. Nascia, assim, a Fazenda Lano-Alto como uma forma de manter o negócio sustentável economicamente. Deu tão certo que, em 2019, eles abriram um café no bairro Vila

Madalena, em São Paulo. Embora o endereço tenha fechado tempos depois por conta da pandemia, o negócio continuou com o formato de delivery e inspirou os dois a pensarem em novas possibilidades para atender a um desejo crescente de seu público: passar mais tempo na natureza. Mão na massa, o casal construiu duas cabanas dentro da fazenda, no topo da Serra do Mar, para oferecer hospedagens em clima de desconexão total. Seja como hóspede, visitante de um dia ou consumidor on-line, quem conhece a Lano-Alto tem a chance de experimentar itens naturais, que respeitam a terra. “A gente acredita em tudo o que faz e não tem nada melhor do que trabalhar dessa forma.”


E c onomia | P ROD UÇÃO ORG ÂNICA

“A gente acredita em tudo o que faz e não tem nada melhor do que trabalhar dessa forma”

Com o tempo, além dos insumos naturais e das oficinas, a Fazenda Lano-Alto passou a oferecer hospedagens imersas na natureza 97


Depois de reflorestar parte da Mata Atlântica, Josefina Durini apostou no cultivo orgânico de café e na criação de búfalas em sua fazenda carioca

FA Z E N D A A L L I A N Ç A AGROECOLÓGICA

A sustentabilidade é algo inegociável para Josefina Durini. Tanto é que, em sua fazenda no interior do Rio de Janeiro, o conceito aparece não só no plantio e no cuidado com os animais, mas também no projeto. Arquiteta de formação, ela usou materiais como reciclado de pet, telhas de TetraPak e bambus no restauro da antiga sede e nas novas construções que fez. Na propriedade, batizada de Fazenda Alliança Agroecológica, ela reflorestou parte da Mata Atlântica e apostou no cultivo orgânico de café e na criação de búfalas. Depois de muito empenho para encontrar técnicos que soubessem trabalhar de forma orgânica, respeitando a natureza, a fazenda passou a cultivar um café especial orgânico, sem o uso de agrotóxicos ou fertilizantes. O cuidado é tanto que, para a colheita, ela prefere chamar mulheres, que têm as mãos mais leves. Aos entusiastas do grão, seu café pode ser comprado on-line, mas uma coisa é certa: degustá-lo durante uma visita ou hospedagem na fazenda deixa tudo mais especial. O visitante também pode ver a criação de 140 búfalas, que fornecem matéria-prima para a produção de queijos, linguiças e outros itens, todos orgânicos, desenvolvidos no local. “Dizem que o orgânico é mais caro, mas e o quanto você poupa de gastos com a saúde no futuro? Consumi-los é investir em você. As pessoas precisam entender isso”, conclui Josefina, que hoje consegue ter uma alimentação 100% natural. 98

Fotos Thiago Couto e divulgação

Josefina Durini | @fazendaallianca


E c onomia | P ROD UÇÃO ORG ÂNICA

CURIANGO C H A R C U TA R I A A RT E S A N A L Rafael Cardoso | @curiango.ar t

Com um trabalho 100% sustentável, Rafael produz itens de charcutaria de alta qualidade e em pequena escala

Após quase 15 anos trabalhando como chef de cozinha, com passagens por restaurantes como o brasileiro D.O.M e o espanhol Mugaritz, Rafael Cardoso decidiu que era hora de uma transformação. Em 2013 mudou-se para uma fazenda em Silveiras, no pé da Serra da Bocaina, no interior de São Paulo, com a ideia de abrir um restaurante que funcionasse apenas nos finais de semana. “Não me mudei querendo trabalhar com a criação de porcos, mas, como já praticava a charcutaria, comecei a experimentá-la com os animais locais e a qualidade do meu produto deu um salto”, conta Rafael, conhecido como Rafa Bocaina. Aos poucos, seus embutidos preparados em caráter experimental ganharam força e ele criou a marca Curiango Charcutaria Artesanal. Seu modo de trabalho é 100% sustentável, com os animais soltos no pasto, proteção de mananciais, geração de poucos resíduos e o uso praticamente inexistente de insumos químicos. Ainda assim, Rafael não tem a certificação de orgânico. “Não vejo porque ir atrás desse selo. Na minha opinião, eles servem para pessoas que estão distantes do sistema produtivo”, diz o cozinheiro, que acredita na importância de estar próximo do consumidor para lhe contar o quão sustentável é seu produto. Certo de suas convições, ele produz curados, embutidos e defumados de porco caipira, da raça caruncho, em pequena escala. Um hobby que virou negócio, mantendo viva sua paixão pelas tradições caipiras. 99


M otor | E L É T R I C O S P O S S Í V E I S

MEU CARRO É ELÉTRICO Com o avanço da nacionalização, o preço dos carros elétricos passa por um reposicionamento e ganha ofertas mais acessíveis. Para entender, Carbono Uomo conversou com especialistas e, claro, testou um modelo chinês que tem dado o que falar

O aumento nos impostos de importação para carros elétricos, híbridos e plug-ins, anunciado em novembro, pode ter parecido um balde de água fria na frequente baixa de preços. Afinal, ao longo deste ano, desde que as marcas chinesas chegaram com força ao Brasil, os valores foram caindo, mostrando que empresas que já atuavam por aqui tinham margem para trabalhar os preços. No mercado de carros, esse fenômeno ficou conhecido como “efeito 100

BYD”, pois foi a marca chinesa de mesmo nome que deu a partida na corrida por preços mais baratos ao lançar o Dolphin por R$ 149.800. Com isso, carros menos sofisticados, como o Renault Kwid E-Tech, o Caoa Chery iCar e o Jac E-JS1, que custavam na faixa dos R$ 150 mil, reduziram seus preços em até R$ 30 mil. Mesmo assim, o mais barato deles, o Caoa Chery iCar, custa R$ 119.990 – ainda sem o novo imposto de importação. Vale lembrar que se

trata de um carro pequeno, de duas portas e que comporta quatro passageiros. “Por mais que estejam mais acessíveis, carros elétricos ainda são bens de luxo, né? Os valores continuam acima de 120 mil reais. Na verdade, o que existiu foi um reposicionamento de preços, principalmente em função da chegada com força dos chineses”, explicou Milad Kalume Neto, consultor da Jato. O executivo acrescenta que a mudança de valores aconteceu por dois

Fotos divulgação

Por Fernando Pedroso


M otor | E L É T R I C O S P O S S Í V E I S

motivos principais: a diminuição de vendas, que causou essa baixa em busca da retomada do sucesso nas lojas, e os preços iniciais realmente elevados. “Era um primeiro momento. Você tinha uma novidade dos carros elétricos por preços posicionados lá em cima. Quando os chineses chegaram com ofertas mais atrativas, os concorrentes precisaram repensar”, explicou Milad, que também citou o fato do dólar ter baixado após as eleições, o que ajudou na redução. ENTRE NÓS Mas, para entender como a BYD pôde ter causado esse efeito, Carbono Uomo testou um Yuan Plus, o SUV elétrico da marca, por alguns dias. Para começar, vale dizer que o valor, R$ 229.800 sem os impostos de importação, é próximo ao que se paga

por modelos a combustão, como Jeep Compass, Volkswagen Taos, Toyota Corolla Cross e Honda ZR-V em suas versões top de linha, mas tem a vantagem de não precisar passar no posto de gasolina. É preciso, sim, se preocupar com a carga da bateria. E isso acaba sendo feito em casa, com um carregador de parede chamado Wallbox. Também há estabelecimentos, como supermercados, shoppings e postos de gasolina, que resolvem a questão. Alguns até de forma gratuita. Mas o processo pode ser lento demais. Em um carregador rápido, a bateria vai de 30 a 80% em apenas 30 minutos com um aparelho DC de 80kW. No caso do Yuan Plus, a autonomia aferida pelo Inmetro é de 294 km. Na vida real, é possível rodar mais do que isso com tranquilidade. Durante o teste de Uomo, depois de percorrer 250

km, a bateria ainda estava em 36%. Quem gosta de desempenho também não vai se decepcionar. O motor elétrico dianteiro do BYD tem 204 cv e 31 kgfm de torque. Faz de 0 a 100 km/h em apenas 7,3 segundos. A velocidade máxima é limitada a 160 km/h como forma de proteção à bateria. Já o visual pode dividir opiniões. O desenho futurista está na frente com os faróis horizontais intermediados por uma barra prateada, que se acende à noite. Nas laterais, destaque para a cobertura prateada da coluna traseira: a ideia da textura, segundo a BYD, é imitar as escamas de um dragão. O interior é o ponto mais polêmico. Tem algumas extravagâncias, como a tela de 12,3 polegadas que pode ficar tanto na vertical quanto na horizontal, saídas de ar enormes com aletas arredondadas e maçanetas internas que se abrem girando, e não

O visual – interno e externo – do Yuan Plus, da BYD 101


M otor | E L É T R I C O S P O S S Í V E I S

“O que existiu foi um reposicionamento de preços, principalmente em função da chegada com força dos chineses” puxando. O acabamento geral, no entanto, é muito bom. Os bancos são do tipo concha, mais vistos em carros esportivos. São confortáveis e seguram bem o corpo do motorista em acelerações e curvas, mas tem uma combinação de cores – uma mistura de azul-marinho e bege com detalhes vermelhos – que não agrada todos os gostos. Ao volante, o carro satisfaz. O desempenho na cidade é bom e o conforto, acima da média. O silêncio do motor elétrico e sua consequente suavidade no funcionamento ajudam nessa sensação. E o espaço no banco

traseiro é outro ponto alto. Como o assoalho é plano – afinal, não tem túnel para escapamento –, três pessoas se sentam à vontade. Contam ainda com bom volume de porta-objetos nos encostos dos assentos dianteiros e nas portas. E há saídas de ar-condicionado e portas USB. E M A LTA Modelos como esse, portanto, têm ajudado a colocar os elétricos em destaque. Em outubro deste ano, 2.370 veículos desse tipo foram vendidos no Brasil. Um recorde de emplacamentos

do segmento em um único mês. O número representa um crescimento de 272% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 636 elétricos foram vendidos. Se comparado com setembro, o aumento é de 29,5%. E, de acordo com a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), o modelo mais vendido do período foi outro BYD, o Dolphin, com 1.366 unidades comercializadas. O Yuan Plus vem logo depois, mas ainda longe, com 215 emplacamentos registrados. Em terceiro ficou o Volvo XC40, com mais de 130 emplacamentos no mês. Estamos de olho!

A tela de 12,3 polegadas e as saídas de ar enormes marcam o interior do carro 102


Com um quê de futurista, o desenho do Yuan Plus tem detalhes como faróis horizontais intermediados por uma barra prateada

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S a úd e | CANNABIS

VERDE QUE TE QUERO A maconha medicinal já é uma realidade e floresce cada vez mais na indústria farmacêutica. Mas para que espinhos do passado não retornem, especialistas buscam uma solução que transcende os consultórios Por Nathan Fernandes

Quando ainda era adolescente, Sidarta Ribeiro viu sua família se rachar. O irmão mais novo passou a frequentar festas, usar drogas e se envolveu em dois acidentes de carro, antes de ser expulso de casa. A culpa de tudo, na visão dos pais e do irmão mais velho, era a maconha. Na época, Sidarta ainda não era biólogo, neurocientista, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e um dos principais pesquisadores de substâncias psicoativas do Brasil. Ele havia absorvido o discurso de que a maconha é uma planta perigosa. Uma ideia que não sobreviveu aos seus anos de estudos. Em novembro, o pesquisador lançou As Flores do Bem: a Ciência e a História da Libertação da Maconha (Ed. Fósforo), um livro no qual expõe suas questões familiares para mostrar como o discurso proibicionista pode ser mais nocivo do que as drogas, desconstruindo ideias comuns que não encontram respaldo nem na ciência nem na sociedade. “Existe um pânico moral”, explica Sidarta à Carbono Uomo. “As pessoas falam ‘as drogas’ como se fosse uma coisa demoníaca. Mas, no geral, quando dizem isso estão se referindo a substâncias químicas das quais elas não gostam e que calham de ser ilícitas, ignorando aquelas que compram nas drogarias.” 104

De acordo com o pesquisador, não existem evidências de que substâncias ilegais, como maconha e LSD, sejam mais perigosas do que aquelas que são legais, como álcool e cigarro. “Outro ponto é a negação do prazer. As pessoas acham que, se alguém está se divertindo, isso não pode ser terapêutico, o que é uma besteira”, diz. “O livro não coloca a maconha como uma panaceia. Mapeia bastante bem todos os perigos em relação à planta [que não é indicada para jovens saudáveis em formação e pessoas com diagnóstico de psicose, por exemplo] e mostra que a coisa mais perigosa que pode acontecer a alguém que fuma é ser assassinado por causa da Guerra às Drogas.” Ao lado do Suriname e das Guianas, o Brasil é um dos únicos países da América do Sul onde o uso social é considerado crime. Desde 2015, o Superior Tribunal Federal (STF) julga a possibilidade de descriminalizar o porte de pequenas quantidades da planta para o consumo pessoal — uma medida bem distante da “legalização”, na qual o Estado regulamentaria o cultivo e passaria a arrecadar impostos, como acontece no Uruguai, por exemplo. Além disso, o projeto de lei número 399/2015 aprovado por comissão especial da Câmara dos Deputados, aguarda votação em plenário.

A medida propõe critérios claros para o cultivo de maconha com finalidades terapêuticas no Brasil, tanto para empresas quanto para associações de pacientes, autorizando ainda a fabricação de produtos fitoterápicos à base de cannabis pelas Farmácias Vivas do SUS — mas deixando de fora o cultivo familiar. Para Sidarta Ribeiro, a maconha é como o gênio que escapou da lâmpada: uma vez livre, não pode mais voltar ao confinamento. “O avanço é inevitável porque alinha interesses legítimos de muitas partes diferentes da sociedade, como pacientes e seus familiares, uma parte do espectro político, que vê a maconha como commodity, a direita que quer fazer dinheiro, boa parte da esquerda que quer medicamentos de baixo custo, e os cientistas”, enumera. A GRANDE DOR Apesar do uso por adultos saudáveis continuar sendo estigmatizado, o uso terapêutico (ou medicinal) da maconha já é uma realidade. De acordo com a Fortune Business Insights, em 2022, o mercado global da cannabis foi avaliado em US$ 28 bilhões, podendo chegar a US$ 197 bilhões até 2028. No Brasil, desde 2019 a Anvisa autoriza a comercialização de


produtos à base de maconha nas farmácias, desde que haja prescrição médica. De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides (BRCann), com base em informações da IQVIA, uma empresa de auditoria do setor farmacêutico, foram vendidas 155,8 mil unidades no período de janeiro a dezembro de 2022 contra 38,6 mil unidades em 2021. As importações também cresceram. Em 2022, foram solicitadas 79.995 novas autorizações, um aumento de quase 100% em relação a 2021, que recebeu 40.070 solicitações. Os números chamam a atenção, mas não são o único ponto que motiva os investidores. Em 2019, por exemplo, Fabrizio Postiglione, fundador da farmacêutica brasileira Remederi, trabalhava em uma fazenda de cultivo de maconha, nos

EUA, quando viu uma oportunidade de alinhar sua visão mercadológica com interesses pessoais. Naquele ano seu pai começou a apresentar um quadro difícil de saúde, que incluía ansiedade, síndrome do pânico e outros transtornos que poderiam ser tratados com maconha. Mas ele não encontrava médicos que pudessem prescrever o tratamento. “Foi aí que vivi uma grande dor, uma dor que não era só minha, mas do Brasil, onde temos pacientes que sabem que podem se tratar com a cannabis, mas não encontravam médicos disponíveis”, conta Postiglione, lembrando que, na época, havia cerca de 200 médicos prescritores no Brasil. Em janeiro de 2023, de acordo com dados da Kaya Mind, empresa especializada em inteligência de mercado para o setor, esse número já

era próximo de 12 mil. “Na época, precisei fazer contato com médicos internacionais para ver qual seria o melhor produto para o meu pai. Mas para importar foi outro problema, porque demorava meses.” Nascia, assim, a Remederi, farmacêutica especializada no assunto, que tem ganhado destaque mundo afora. Além de fazer os medicamentos – seus produtos são elaborados nos

“Hoje, estamos investindo tempo na pesquisa do CBG, um canabinoide que tem se mostrado um antiinflamatório muito interessante, usado na recuperação de atletas, recuperação celular e alta performance” 105


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“A maconha é como o gênio que escapou da lâmpada: uma vez livre, não pode mais voltar ao confinamento”

Estados Unidos, mas comercializados lá e aqui –, a empresa acompanha o tratamento dos pacientes e conta com um instituto de ensino e pesquisa que promove estudos e cursos de terapia canabinoide. “Hoje estamos investindo tempo na pesquisa do CBG, um canabinoide que tem se mostrado um anti-inflamatório muito interessante, usado em recuperação de atletas, recuperação celular e alta performance”, explica Postiglione. A maioria dos pacientes sofre de questões neurológicas ou psiquiátricas, como dor crônica, Alzheimer, esclerose, ansiedade, insônia e depressão. MACONHA NO SUS Para muitos ativistas e especialistas, também é crucial que os benefícios da maconha não se restrinjam àqueles com recursos financeiros. Isso porque um frasco com 30 mililitros de óleo contendo THC e CBD, dois dos 106

principais canabinoides da planta, pode ser vendido por cerca de 3 mil reais. Como aponta Postiglione, “quando a pessoa não tem alternativa e não consegue comprar algum produto na farmácia, é preciso buscar um meio de acesso. Seja por produção própria, pelo SUS ou pelo plano de saúde, isso já é uma realidade”. Em meio à indefinição federal, todos os estados já têm projetos ou leis de acesso à cannabis pelo SUS. O aumento no número de propostas ganhou força, especialmente depois que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sancionou uma lei do tipo, em janeiro de 2023. Mas a medida, que deveria ter sido colocada em prática em até 90 dias, ainda aguarda a regulamentação do governador. Propostas que ampliam o acesso à maconha terapêutica são uma forma de garantir a inclusão. Mas o assunto não se limita à medicina. Para muitos, buscar o uso médico

sem garantir a descriminalização é uma resposta incompleta para o problema das drogas. Como apontou o advogado Ricardo Nemer, da Rede Reforma da Política de Drogas, no livro Flores do Bem: “Como pensar em boutique de maconha se ainda existe uma guerra?” Ou, em outras palavras, como pensar na criação de uma indústria canábica enquanto existem pessoas, na sua maioria negras e periféricas, que são presas por portarem farelos, ou mortas sob a justificativa da Guerra contra as Drogas? “Foram as pessoas negras os seres humanos mais atingidos pela destituição da posse de uma planta ancestral e pelo punitivismo racista no Brasil pós-colônia, que dura até hoje. Retomar a pauta sem discutir e incluir ações reparatórias é perpetuar desigualdades, ainda que o lucro de alguns descendentes de europeus esteja garantido”, afirma Damaris Ribeiro, diretora do Instituto de Pesquisas Sociais


Cannabis sativa

(∆9-THC) ∆9-tetrahidrocanabinol (CBD) canabidiol

e Econômicas da Cannabis (IPSEC) e gestora da comunidade de negócios sociais e ambientais do Civi-co. Um exemplo disso pôde ser visto em 2021, quando Nova York aprovou a legalização da cannabis para fins recreativos, implementando uma lei que se compromete a redirecionar milhões de dólares provenientes da venda da planta a investimentos em comunidades afro-americanas e latinas. Além disso, em 2022, o presidente norte-americano Joe Biden perdoou todas as pessoas condenadas por posse e uso de maconha em nível federal, reconhecendo a incongruência que é prender pessoas por usar algo que já é legal em muitos estados. Como aponta o psiquiatra Luís Fernando Tófoli, referência nos estudos sobre drogas e coordenador do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Leipsi), da Unicamp, o encarceramento em massa, que foi alimentado por esse tipo de política, afetou de maneira desproporcional as comunidades de pessoas não brancas, perpetuando ciclos de pobreza e exclusão social. “Essa nova política norte-americana não é apenas uma mudança legislativa, mas um passo em direção à justiça social, à equidade e ao investimento em comunidades que foram injustamente prejudicadas por décadas de uma guerra contra as drogas que foi mal concebida e implementada”, considera. O Brasil, lembra o psiquiatra, tem a chance única de modelar um mercado de cannabis medicinal. Além disso, o solo e as condições climáticas dão oportunidades para o País se tornar líder na produção de cânhamo medicinal e industrial. Para isso, a abordagem brasileira não deve ser pautada pelo mesmo pânico moral que aterrorizou famílias como a de Sidarta Ribeiro, mas sim pelo rigor científico e pela responsabilidade social. “Assim podemos não apenas aproveitar os benefícios econômicos e sociais da maconha”, diz Tófoli, “mas também mitigar os riscos associados ao seu uso, criando um modelo sustentável e equitativo para o futuro da cannabis no País”. 107


VALE SABER NO MUNDO

US$ 28 bilhões foi o valor do mercado global da cannabis em 2022. US$ 197 bilhões é a estimativa de alcance desse mercado até 2028.

NO BRASIL

155,8 mil produtos à base de maconha foram vendidos no Brasil em 2022. 38,6 mil unidades foram vendidas em 2021. 79.995 pedidos de autorização para importação de produtos à base de maconha em 2022. 40.070 pedidos de autorização em 2021. *Fontes: Fortune Business Insights / BRCann / Kaya Mind

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219 mil pacientes têm autorização na Anvisa e podem realizar a compra online dos produtos importados a qualquer momento, até que vença a validade da permissão, dois anos após sua concessão. 188 mil pacientes ativos no país, segundo o anuário 2022. 97 mil pacientes compram os medicamentos em farmácias. 430 mil pessoas poderão se beneficiar de derivados medicinais da planta, considerando projeções até o final de 2023.


Saúde | CANNABIS

TRÊS PERGUNTAS PARA O NEUROCIENTISTA SIDARTA RIBEIRO Carbono Uomo No recém-lançado Flores do Bem, você escreve que a maconha é como o gênio que escapou da lâmpada: “uma vez livre, não pode mais voltar ao confinamento”. A sociedade está mais aberta? Sidarta Ribeiro São demasiados interesses contrários que afirmam a mentira de que a maconha é uma droga do diabo, uma erva terrível, que causa a destruição do tecido social. No fundo, isso só reflete racismo e colonialismo e reforça a ideia de “guerra contra as drogas”, que, na verdade, é uma guerra contra pessoas faveladas, periféricas, pretas, pardas e indígenas. Carbono Uomo No livro você mostra que o uso da maconha por adultos saudáveis também pode ser benéfico. Por quê?

Carbono Uomo Você fala abertamente sobre suas experiências com a maconha. Qual é a importância disso? Sidarta Ribeiro A importância é enorme, porque diminui o nível de hipocrisia na sociedade e aumenta a confiabilidade da interlocução. O movimento LGBTQIAPN+ demonstrou claramente que só quando as pessoas assumem publicamente o que são é que elas podem ser respeitadas.

Fotos Unsplash e divulgação

Sidarta Ribeiro À medida que envelhecemos o sistema endocanabinoide [que existe dentro do nosso organismo]

vai se tornando menos capaz de manter o equilíbrio metabólico, bioquímico e fisiológico, afetando sono, alimentação, formação de memórias e respostas imunes. A reposição de moléculas com função endocanabinoide, que podem ser produzidas pela maconha, traz benefícios que hoje são óbvios. Por isso, a não ser em casos específicos, a maconha não é recomendada para jovens, mas para pessoas adultas, maduras e aquelas que deram tão certo na vida que estão ficando idosas.

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VIAGEM F RA N Ç A Texto e fotos Dimitri Mussard

Chez moi Meio brasileiro, muito francês, Dimitri Mussard convida os leitores a viajarem por uma região única da França, onde passou sua infância e, até hoje, vive momentos memoráveis, marcados por belas paisagens e muito joie de vivre

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Desde que nasci, todos os anos, passo um mês em uma região da França que fica entre Provence e Camargue. Uma terra histórica na encruzilhada das civilizações, tão magnética quanto cativante. Sou parisiense de sangue, mas apaixonado por essa área específica – e pelo Brasil, para quem não sabe. Minha mãe tem uma casa em Maussane-lesAlpilles, uma vila muito bem localizada: fica aos pés dos pequenos Alpes chamados de Alpilles e a 15 minutos de Camargue, cidade de Arles, onde um dos meus irmãos mora. Portanto, essa viagem já se tornou uma tradição, que hoje repito com meus dois filhos, Vadim e Anatole, e minha esposa, Suada. E, em 2024, vamos passar um ano por lá, justamente porque quero transmitir para eles um pouco da cultura francesa. Gosto muito das tradições que seguem presentes e vivas por ali, inclusive nas gerações mais novas. Essa é uma viagem muito prazerosa, daquelas que recomendo para os mais diversos perfis. Mistura cultura, arte, gastronomia e tem uma sofisticação despretensiosa, uma beleza natural e autêntica que, para mim, representa o verdadeiro significado de luxo. Para completar, a região é de fácil acesso – 2h30 de trem partindo de Paris – e sai um pouco daquela paisagem mais óbvia da Côte d’Azur, que os brasileiros tanto gostam. 1 – A família de Dimitri em um dos almoços sem pressa na casa de sua mãe, em Maussane-les-Alpilles 110


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Começo o roteiro visitando os lugares que amo perto de Maussane-les-Alpilles, sigo para Camargue por alguns dias e termino em Marseille. Dessa maneira, consigo unir almoços e jantares sem fim na minha casa, passeios na natureza selvagem e maravilhosa de Camargue e programas mais culturais que acontecem na cidade de Marseille.

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2 – Sombra e água fresca, na casa da família 3 – Dimitri e os filhos com cara de férias de verão 4 – Suada, Dimitri e as crianças, em uma caminhada nos Alpilles

O N D E T U D O C O M E Ç O U Arles mantém o mesmo tamanho da época dos romanos, mas já faz algum tempo que deixou seu olhar exclusivo para o passado e assumiu uma função muito mais contemporânea. É difícil explicar, mas a cidade tem uma magia, uma luz, um clima diferente. Quando estou lá, amo andar. Embarcar em lindas caminhadas nos bairros de La Roquette e de l’Hauture. É um destino que tem muito a oferecer e recomendo aproveitar ao máximo: as corridas, o Festival de Fotografia, o Festival dos Gardians, as festas tradicionais, a eleição da Rainha de Arles, os mercados de ruas – às quarta e aos sábados – e a peregrinação da Santa Sara, a padroeira dos gipsys. Sabe aqueles clássicos da banda Gipsy Kings? Então, esse tipo de música teve sua origem na Índia, na Espanha e em Camargue. O flamenco era a base dessa música, que acabou misturada na “rumba camarguaise”, originando esse som gipsy repleto de emoção. Ouvir os ciganos tocando guitarra nas ruas à noite é algo único e também adoro quando meu amigo Tchandrou e seu filho, Vito, vêm em casa e improvisam um show! 1 11 11 1


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5 – Colheita de flores nos Alpilles – Suada é florista 6 e 7 – Momentos da família em casa: vida leve e despretensiosa 8 – O caminho de bicicleta até Les Baux-de-Provence 112

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Vi a g e m | F RANÇA

“Essa viagem mistura cultura, arte, gastronomia e tem uma sofisticação despretensiosa, uma beleza natural e autêntica que, para mim, representa o verdadeiro significado de luxo”

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Depois de revisitar meus lugares favoritos em Arles, é o momento de descer de carro até Camargue e explorar essa terra selvagem tão incrível. Na minha mais recente visita, fiquei realmente impressionado com a paisagem, parecia que eu estava na savana da Tanzânia! Um passeio que acho fantástico é entrar no hotel Domaine le Sauvage e pedir para Nadia, a gerente, abrir o caminho da praia das 3 Marias. A trilha passa por uma paisagem inimaginável para a França e a sensação é de ter se perdido. Trinta minutos de carro depois, o mar azulzinho do Mediterrâneo espera você, sem nenhuma pessoa, quiçá alguns cavalos e flamingos. A dica é almoçar ali perto, em um restaurante chamado La Cabane du Pêcheur. Prepare-se: eles não aceitam cartão, nem falam inglês ou português. Turistas? Não há! Ao final do almoço, siga o caminho da balsa Bac le Sauvage e continue por mais 15 minutos até a vila Saintes-Marie-de-la-mer. Essa é a capital dos gipsys e vale andar em suas ruas e visitar a igreja Notre-dame-de-la-Mer, onde fica a Santa Sara, padroeira dos gipsys. D E B O A N A L A G O A Antes de seguir viagem até Salinde-Giraud, recomendo andar ao redor do lago do Vaccarès. De um lado, o mar. Do outro, os lagos com flamingos, touros, cavalos e a silhueta da igreja Notre-dame-de-la-Mer – no pôr do sol fica ainda mais especial. Faça como os franceses para se sentir no paraíso: leve vinhos, cervejas, saucissons e queijos! Do outro lado de Arles, no sentido dos Alpilles, gosto de fazer longas caminhadas nos Alpilles mesmo, ou andar a cavalo partindo de Petit Roman, uma escola de hipismo que organiza ótimos passeios na região.

Também costumo levar meus filhos ao Carrière des Lumières, que tem exposições lindíssimas instaladas em um lugar no qual, antigamente, era extraído mármore. Depois, é possível caminhar na vila Les Baux-de-Provence, uma das mais lindas da Provence, na minha opinião. Do lado, na vila do Paradou, fica o meu restaurante preferido no planeta todinho, o Bistrot du Paradou. Pela comida, mas também pelo serviço e pela atmosfera super-rara na França – impossível achar garçons tão simpáticos! Cheio de história e vida, o endereço serve apenas uma entrada e um prato principal. Vinho à vontade, uma tábua de queijos colocada no centro da mesa e sobremesas inclusas no menu. Caso tenha comido demais – isso certamente vai acontecer – e queira fazer um pouco de exercício, alugue uma bicicleta elétrica e saia para pedalar no meio do campo de golfe do Domaine de Manville, entre oliveiras e vinícolas. Já imaginou? Prepare o fôlego e suba até a capela da Tremaie, que tem uma das vistas mais bonitas da região. A paz desse lugar é mística e o mais legal é fazer como os locais: levar uma garrafa de champagne e bebê-la todinha, em três pessoas. Afinal, com tradição não se brinca e, até hoje, essa região da França é feita das mais especiais delas.

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9 – Suada no Bistrot du Paradou, o “melhor restaurante do mundo” 10 – Dimitri e o vizinho, Robert, colocando as risadas em dia 113


Alpilles Onde comer

Bistrot du Paradou Meu restaurante preferido no mundo inteiro. Reserve e pode dizer ao Arthur, Julien ou Juan que eu que recomendei. Le Relais du Castelet – Comida excelente em um cenário bucólico, cercado das oliveiras do Vale des Baux. Le Jardin des Alpilles – A melhor mercearia de legumes e frutas do mundo. A seleção de queijos também é maravilhosa. La Fromagerie de Maussane – Excelente curadoria de queijos e vinhos. Compro todos meus vinhos lá. Pains des Alpilles Não deixe de ir a essa padaria para provar o pain du soleil, pão típico da região, com azeitonas, chorizo, pimenta. Peça também um bolo fraisier, incrivelmente leve e gostoso. 114

Arles

O que fazer

Onde comer

O que fazer

Carrière des Lumières – Para ver lindas exposições no coração de um lugar cheio de história.

Le Galoubet Pratos inventivos e deliciosos.

Librairie Actes Sud Um verdadeiro labirinto de livros incríveis.

Le Petit Roman Organiza passeios a cavalo no Parque Natural dos Alpilles.

Compras Moulin Castelas Vende azeites incríveis! Les Olivades – Adoro as camisas, mas também há lindos tecidos da Provence. L’Antidotes Bougies Para comprar velas deliciosas. Les Bijoux de Sarah As mais autênticas cruzes e joias com estilo gipsy.

Le Gibolin Para provar a cozinha inspirada nos ingredientes da região e os ótimos vinhos naturais. Le Criquet Pratos típicos da Provence, como a bourride, ou sopa de peixes. Fromagerie Arlésienne Para mim, lá oferece a melhor seleção de queijos. Bar du Grand Hôtel Nord Pinus O lugar perfeito para um drink depois de assistir a uma corrida de touros ou cavalos.

Fondation Van Gogh – Linda arquitetura, bela vista da cidade e, claro, quadros do mestre. Les Cabanettes Ouvi falar muito bem desse hotel, que tem uma piscina no melhor estilo motel vintage. Villa Benkemoun Uma joia da arquitetura dos anos 1970, decorada por Robert Heams. Fondation Luma Arles – Incrível complexo artístico, construído por Frank Gehry.


Vi a g e m | F RANÇA

Camargue

Onde comer

La Cabane du Pêcheur Restaurante superautêntico, à beira de um rio, que serve peixes e frutos do mar frescos numa atmosfera simpática. Chez Bob Para descobrir a cozinha simples da Provence e aproveitar shows de música gipsy improvisados. La Chassagnette Um dos melhores restaurantes da região, que ainda tem uma horta incrível no meio de Camargue. Moustiquaire Esse restaurante foi feito por um marceneiro amigo meu, Daniel Fouque.

La Telline Outro favorito em Camargue porque é também superautêntico. E serve as melhores tellines – o molho é incrível – da região. Cardápio pequeno, mas impecável. L’estrambord Verdadeira cozinha familiar, que serve especialidades locais, como o aioli e pieds paquets. La Playa – Para os peixes e frutos do mar fresquíssimos em Saintes-Maries-de-la-Mer. Recomendo reservar – fale com o Antoine. Les Marais du Vigueirat – O microrestaurante serve pratos feitos com legumes da horta. E ainda tem uma balada no meio da paisagem de Camargue. 115


VIAGEM R O A D

T RI P

Fotos e texto José Neto, em depoimento a Rebeca Martinez

Nem Hollywood tem O empresário José Neto revela detalhes de incríveis roteiros na neve a bordo de carros poderosos. Uma atração idealizada por um príncipe da Arábia Saudita que reúne aventureiros do mundo todo

Imagine embarcar em uma verdadeira aventura na neve, ao lado de pessoas de diferentes nacionalidades, a bordo de super carros, únicos no mundo, como um Porsche com mais de 1000 cavalos, batizado de Batmóvel, e uma limusine. É exatamente isso o que acontece no Snow Tour, viagem da qual faço parte desde 2018. A ideia surgiu do Sultan al-Saud, um príncipe da Arábia Saudita apaixonado por carros. Durante muitos anos ele participou de corridas consagradas de demonstração de automóveis e, ao perceber a dimensão tomada por esses eventos, pensou: por que não fazer algo assim com os meus amigos? 116

Em 2017 a história se tornou um tour quando conseguiu reunir um grupo interessado em aventuras sobre rodas. Uma turma formada por pilotos, artistas, profissionais das áreas de foto e vídeo e, acima de tudo, entusiastas de aventuras radicais. Entre eles, Jon Olsson, um dos principais pilotos da Red Bull, o fotógrafo Oskar Bakke, e o filmmaker Benjamin Ortega. Juntei-me ao time na segunda edição do Snow Tour – já foram quatro –, convidado por um grande amigo que, por sua vez, é amigo do Sultan. Verdade que já aconteceu a Desert Tour, que foi na Arábia Saudita, com uma proposta


Fast Cars As aventuras no gelo são a bordo de alguns dos carros mais fantásticos do mundo, entre eles o “Batmóvel” e o Austin-Healey 3000 Mark I

“O mais importante é ter no percurso alguns lagos congelados para que a gente possa fazer todas as manobras” totalmente diferente, com carros mais para rali e quase nada de estrada, mas tradicionalmente acontece no gelo. Tudo começa com a votação do próximo destino, feita em um grupo do WhatsApp cerca de quatro meses antes da partida. A maioria dos participantes reside no hemisfério-norte: franceses, noruegueses, americanos e suíços. E há os integrantes oficiais e convidados que entram vez ou outra. Com o país escolhido, Sultan e seu primo definem alguns trajetos e cidades. Depois é a vez do Chri, um sueco que é nosso principal videomaker, fazer as reservas. O mais importante é ter no percurso alguns lagos congelados para que a gente possa fazer todas as manobras. Cada um leva seu automóvel. Então, ao iniciarmos a viagem, tem gente que já rodou mais de 1000 quilômetros partindo de seu país. 117


“É o único lugar em que são reunidas tantas oportunidades diferentes de pilotagem”

Parada no gelo para abastecer e um dos muitos finais de tarde fabulosos que marcaram a viagem

Fast Cars

Na mais recente edição, escolhemos percorrer a Suécia. Foram dez dias de Estocolmo até Jukkasjärvi, no extremo Norte, passando por lugares bem remotos. São paisagens lindas, e cada nascer do sol é realmente único – o de Åre foi o mais especial! Mas ver a Aurora Boreal, algo que estávamos atrás desde 2020, quando rodamos na Noruega e na Suécia, foi inesquecível. O fenômeno aconteceu no oitavo dia, em Jukkasjärvi, depois de bons quilômetros percorridos. Chegamos ao hotel de gelo e, ainda no check-in, as primeiras luzes apareceram. Largamos tudo para filmar e fotografar. Apesar de rápido, foi bem legal. 118

Depois aprendemos todas as instruções para dormir no gelo – pode parecer simples, mas envolve bastante preparação. Eis que, no meio do jantar, o aplicativo que nos ajudou a seguir a Aurora começou a mostrar que o show estava acontecendo novamente! Não houve dúvidas: largamos tudo e, aí sim, conseguimos imagens espetaculares. Outro ponto alto da viagem foi Harads, onde nos hospedamos em um hotel em cima de um lago congelado, com uma área perfurada que cria uma piscina. Claro que só dá para pular nela rapidamente, depois de sair da sauna! Além dessa experiência, amanhecer naquela paisagem, com a sensação de

liberdade para fazer manobras com os carros, foi incrível. Nesses momentos trocamos os automóveis e temos vivências com os diferentes modelos de cada um. Parece até que estamos naquele jogo eletrônico Top Gear, em que alguém coloca nas suas mãos uma supermáquina. Tenho a sensação de que é o único lugar em que são reunidas tantas oportunidades diferentes de pilotagem. Com tanta potência quanto gelo ao nosso redor, é uma viagem que exige bastante dos participantes. São muitos quilômetros, sempre com tensão e, claro, alguns perrengues. No primeiro dia desse roteiro, por exemplo, o


A limusine de Mikkel Christiansen e o encontro com a Aurora Boreal. No detalhe abaixo, o surpreendente hotel Arctic Bath,em Harads

Batmóvel teve um problema. Estávamos a 60 quilômetros de Estocolmo e ele não ligava mais. A fabricante do carro o levou de guincho a um parceiro e seguimos. Ainda bem que foi consertado e entregue na noite seguinte, na nossa próxima parada. E a limusine personalizada pelo DJ norueguês Mikkel Christiansen, que pilota muito, também sofreu, pois perdia pedaços a todo momento. Ela praticamente se desmontou, mas chegou até o final da viagem, e mais, carregando um leão decorativo que ele encontrou no caminho. São muitas histórias. E todas elas trazem alguma boa lembrança ou

aprendizado. Na primeira viagem em que estive, aconteceu um acidente. Havia muita neve e estávamos um pouco acima da velocidade: ao fazer a curva sem ter freado com a antecedência que o clima pede, fomos parar em um barranco e, por muito pouco, não acertamos o amigo da frente, que também estava lá. Mas, de todas as edições, meu pior momento foi na última noite do tour 2023. Faltavam apenas 200 quilômetros para nosso destino final e o carro parou de funcionar, às 20h30 e debaixo de um baita frio. Tivemos que aguardar um guincho naquele cenário e isso atrasou todo nosso planejamento.

E, seja qual for a situação, temos o privilégio de contar com um registro de tudo. Isso porque vários dos integrantes, como o Arn Hoff e o Chri, são criadores de conteúdo e levam câmera e drone para fazer a cobertura. À noite, eles já editam, nos enviam e postam no Instagram oficial do grupo, o @teamgalag. Com isso, a viagem foi se tornando conhecida nas redes sociais. E o legal é que, em algumas cidades, há pessoas nos esperando para cumprimentar, filmar. É muito bacana! Ainda não temos o destino de 2024 definido, mas tudo indica que a votação vai dar Japão. Já imaginou? 119


VIAGEM I TA C A RÉ Por Luciano Ribeiro

Terra de encantos mil De carona no clima despretensioso do verão, contamos como é passar uma temporada no refúgio mais descolado de Itacaré, reduto de boas ondas, paisagens cênicas e um convite ao dolce far niente

A beleza das praias de Itacaré, que faz parte da Costa do Cacau

O voo de São Paulo até Ilhéus dura menos de duas horas. E basta desembarcar na capital mundial do cacau, terra de Jorge Amado (que dá nome ao aeroporto), para começar a sentir a boa brisa da região. Um motorista do hotel Barracuda lhe dá as boas-vindas e, durante o trajeto – cerca de 1h30 –, explica um pouco sobre a magia da Bahia. Por ali, há encontro do rio com o mar, formando mangues riquíssimos e praias com desenhos recortados. A Mata Atlântica ainda é muito preservada, o mar é generoso e oferece fartura de peixes como vermelho do olho amarelo (espécie que nada 120

a 200m de profundidade), robalo, guaiúba, cioba e, claro, barracuda. É ali também que a Dengo, marca de chocolate brasileiro que vem conquistando o País e parte para a Europa, instalou sua fábrica. E muitos surfistas do Brasil inteiro seguem para pegar onda em praias como Itacarezinho, Resende, Engenhoca, Jeribucaçu e Prainha (estas duas últimas com acesso via trilha). Na estrada até o hotel, você passa por uma única praia com 34 quilômetros de extensão. É quando nos lembramos, mais uma vez, que estamos na Bahia, estado com o maior


Itacaré

litoral do País (mais de 900 quilômetros). Ilhéus, assim como Itacaré, faz parte da Costa do Cacau, uma das cinco costas da Bahia – as outras são Dendê, Baleia, Coqueiros e Descobrimento. Ainda no trajeto, avistamos a Igreja de São Sebastião e o Bar Vesúvio, com sua história curiosa. Era lá que Gabriela, eternizada no romance de Jorge Amado, mas também uma figura real, trabalhava. E era onde os antigos coronéis se reuniam para conversar, falar sobre a cotação do cacau e o futuro da região, enquanto as mulheres rezavam na missa. O Vesúvio, para quem não se lembra, tinha um banheiro masculino e, nele, uma passagem secreta para o bordéu da cidade, comandado por Maria Machadão. Quando terminava a missa, o padre tocava o sino para avisar aos maridos infiéis. Até alguns anos atrás, o esconderijo ainda existia. QUE BRISA

O surfe é onipresente na região: praticantes do esporte estão sempre em busca de boas ondas em praias como Itacarezinho e Prainha

Ao se aproximar de Itacaré, a paisagem impressiona. Seu litoral é o maior remanescente de Mata Atlântica do Brasil, muito graças à particularidade do cultivo do cacau. O fruto que nos dá o chocolate exige sombra e, por isso, as árvores de grande porte foram preservadas. Brinca-se que o destino tem 365 dias de sol (e de chuva também). Mas o clima que faz lá fora não 121


Vi a g e m | ITACARÉ

Privacidade, natureza e aquela bossa típica da Bahia marcam o projeto do Barracuda 122

e Juliana Ghiotto sabem hospedar como poucos e fazem você se sentir, literalmente, em casa. Daniel, ex-surfista profissional, nascido e criado ali, explica que outros investidores do Barracuda são suecos (inclusive a rainha Sílvia tem uma propriedade no terreno do Barracuda) que se apaixonaram pela Bahia e escolheram o destino para montar o hotel. A princípio, contrataram um grande arquiteto paulistano para desenhar o espaço, as casas e os bangalôs. Mas preferiram manter a cor

local e fechar todo o projeto na região. A arquitetura mescla madeira, cimento e pedras. Na decoração, clássicas poltronas Astúrias, de Carlos Motta. O hotel será ampliado. Vai ganhar uma piscina e academia. Saindo do Barracuda, andando cinco minutos para a esquerda, estão as praias do Resende, Tiririca e Ribeira. Para a direita, também cinco minutos, o shopping a céu aberto da cidade: a Rua Pituba. Muito próximo dali, a Praia da Concha, onde deságua o rio

Fotos Luciano Ribeiro, Renata Guiotto e divulgação

é assim tão importante: ao chegar ao Barracuda você é recebido não só com bebidas frescas, mas também por uma vista espetacular das praias. O hotel fica a metros do Centro de Itacaré, mas foi construído no alto de um morro. O acesso da portaria até o lobby, a piscina e os quartos é feito por quadriciclos dirigidos pelo staff local. O silêncio é cortado apenas pelo som das ondas do mar. A sensação é de estar e não estar isolado ao mesmo tempo. Os sócios (e casal) Daniel Lima


Entre o mar e a mata, eis o cenário dos sonhos do hotel

A vista, a gastronomia, o bar, as aulas – de ioga a ginástica funcional – e o silêncio sugerem que você se esqueça da vida

de Contas, que nasce na Chapada Diamantina. No Centro, encontra-se acarajé com facilidade, mas, diferentemente de Salvador, o camarão seco é servido como um minibobó e a pimenta é suave, fraquinha. Lá você também conhece lojas que vendem parte dos mais de 40 produtores de chocolates locais – Ilhéus hoje exporta também a massa de chocolate pronta e a cidade tem o título de melhor castanha de cacau do mundo. Não é por acaso, portanto, que a Dengo escolheu a região e se tornou a primeira empresa a incentivar pequenos

produtores a cultivarem cacau orgânico. Começaram a pagar mais caro pelo fruto cultivado sem agrotóxicos e passaram a fazer análise detalhada e profunda da castanha (como é a colheita, a maturação, a secagem e sua acidez). Há outras fazendas sérias também, como Riachuelo, Vila Rosa e Santa Teresinha, que oferecem passeios para que o viajante descubra os detalhes por trás de um bom chocolate – se você tiver coragem de deixar o Barracuda. Hospedar-se ali é um convite ao dolce far niente. A vista, a gastronomia,

o bar, as aulas – de ioga a ginástica funcional – e o silêncio sugerem que você se esqueça da vida. Tudo com muita privacidade. E eles ainda podem organizar experiências especiais, como o passeio no rio das Contas, adentrando seu mangue e chegando à cachoeira. Ou pesca oceânica. Ou ainda surfe com o sócio Daniel, que sabe tudo sobre as melhores ondas de Itacaré. Coisas que só se acham na Bahia, terra, como dizia Caymmi, do branco mulato, do preto doutor e de encantos mil. 123


CARBONO ZERO POR

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Carbono Uomo tem uma nova editoria para contar o que as marcas têm criado no sentido de práticas ambientais, sociais e de governança corporativa, a tão falada – e importante – sigla ESG. De cumbucas comestíveis feitas de mandioca a tênis confeccionados com folhas de abacaxi, saiba o que anda movimentando os mercados brasileiro e global

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NO FRONT Conversamos com Cécile Lochard, chefe de sustentabilidade da Guerlain – há mais de 15 anos, a maison tem valores e projetos fantásticos na área Carbono Uomo Quais são os maiores desafios enfrentados pela Guerlain para seguir esse caminho que prioriza a sustentabilidade?

PA S S O F I R M E Boa dica de presente de Natal: as sandálias da Linus em parceria com a Cabana Crafts, marca paulistana de slow fashion que a gente é fã. Como nos outros modelos da grife, as novas versões também são feitas com PVC ecológico expandido, material 100% reciclável, e têm 70% de fontes renováveis em suas composições. O toque diferente fica por conta do desenho inspirado em trançados feitos à mão, técnica que tem tudo a ver com o DNA da Cabana. @cabana_crafts

FUTURO VERDE A A R Á B I A S A U D I TA P R O M E T E U Z E R A R S U A S E M I S S Õ E S D E C A R B O N O AT É 2 0 6 0 . A I N I C I AT I VA V E R D E S A U D I TA , REGIDA PELO PRÍNCIPE HERDEIRO M O H A M M E D B I N S A L M A N , FA Z PA RT E D E UM PROGRAMA QUE VISA MODERNIZAR S U A E C O N O M I A , H O J E 9 0 % V O LT A D A À E X P O RTA Ç Ã O D E P E T R Ó L E O .

Cécile Lochard • Há 16 anos a Guerlain se comprometeu com uma ambiciosa estratégia baseada em quatro pilares: Biodiversidade, Clima, Inovação e Sociedade. Isso pode parecer insignificante à luz dos quase 200 anos de existência da maison, mas, na verdade, é bastante se você considerar que a conscientização sobre a Responsabilidade Social Corporativa nas empresas, e em particular no setor de luxo, surgiu muito mais tarde. Reunimos toda a nossa energia e envolvemos todo o nosso savoir-faire em torno disso e, desde então, são muitas mudanças realizadas, como o desenvolvimento de fórmulas mais naturais e sustentáveis e o rastreamento das origens de nossas matérias-primas. Desde 2021 nossa unidade de La Ruche, na França, trocou o gás natural pelo que é 100% de biometano, o que permitirá que a Guerlain reduza sua pegada de carbono em 1.000 toneladas de CO2 por ano. Nosso programa de conservação Guerlain for Bees tem 15 parcerias e iniciativas significativas dedicadas à preservação das abelhas, e a ideia é que, em breve, 100% dos nossos novos frascos ou garrafas de vidro sejam feitos parcialmente de vidro reciclado. Carbono Uomo Como a Guerlain vê o futuro da indústria de luxo? Cécile Lochard • O luxo sempre foi precursor e também deve estar em um ângulo sustentável – hoje um valor padrão de exemplaridade. O setor deve conciliar dois requisitos: a criação e a inovação com a preservação dos ambientes natural, cultural e social. E investir, agir e se comprometer com a preservação da natureza não é uma restrição, mas um incrível estímulo para a inovação, um ponto de apoio para a criatividade. Nosso compromisso aumenta a capacidade de nos conectarmos com os clientes que, cada vez mais, têm expectativas crescentes como consumidores conscientes. 125


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FA Z E N D O H I S T Ó R I A A Emirates tornou-se, em novembro, a primeira companhia aérea do mundo a operar um voo (demonstrativo) utilizando combustível de aviação totalmente sustentável. Já a fabricante de jatos executivos Gulfstream anunciou, também em novembro, que realizou o primeiro voo transatlântico do mundo usando o mesmo combustível. O SAF 100% pode reduzir as emissões de carbono em até 85% se comparado ao combustível de aviação convencional. @emirates | @gulfstreamaero

À D E R I VA Os navios são grandes emissores de poluentes e o mundo das viagens está de olho nisso. Entre os bons exemplos está a nova embarcação da Hurtigruten Norway, batizada de Sea Zero. Ainda em fase de planejamento, a novidade usará motores elétricos equipados com baterias – a ideia é carregá-las nos portos –, velas retráteis com painéis solares, manobras feitas por meio de IA, hélices contrarrotativas e várias outras iniciativas em prol da sustentabilidade. Para ficar no radar! +hurtigruten.com

VOCÊ SABIA... QUE O GUIA MICHELIN, MAIOR GUIA TURÍSTICO G A S T R O N Ô M I C O D O M U N D O , T E M U M A C AT E G O R I A E S T R E L A V E R D E , C O N C E D I D A A O S R E S TA U R A N T E S Q U E A P R E S E N TA M C O M P R O M I S S O C O M A S U S T E N TA B I L I D A D E A M B I E N TA L ? P O RT U G A L É O AT U A L C A M P E Ã O , C O M T R Ê S E S TA B E L E C I M E N T O S P R E M I A D O S ! @ M I C H E L I N G U I D E

E O P R Ê M I O VA I PA R A . . . Nossa salva de palmas para a escola pública Joaquim Bastos Gonçalves, no Ceará, vencedora do prêmio Melhores Escolas do Mundo. Batizado de Adote um Estudante, o projeto vencedor foi criado no pós-pandemia para lidar com sintomas como ansiedade e baixa autoestima, compartilhado por muitos alunos. Por conta da iniciativa os estudantes têm atendimentos individuais com psicólogos, atividades esportivas e artísticas. 126


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NÃO VOU DE TÁXI U M L E VA N TA M E N T O D A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SHOPPINGS CENTERS, A ABRASCE, M O S T R O U Q U E M A I S D A M E TA D E DOS SHOPPINGS DO PAÍS JÁ TEM E S TA Ç Õ E S D E C A R R E G A M E N T O DE CARROS ELÉTRICOS E 93%

É DO BRASIL Curitiba está em festa e não é à toa. A capital paranaense conquistou recentemente o World Smart City Awards, que elege as cidades mais inteligentes do mundo. São muitos os motivos para tal. Entre eles a energia limpa gerada por painéis fotovoltaicos e a instalação de 310 pontos públicos que oferecem internet gratuita.

DELES TÊM BICICLETÁRIO.

FORA DA CAIXA ERA DOURADA

Fotos Eric Tourneret, Valter Pontes e divulgação

O QUE SERÁ QUE O CAPIM DOURADO TEM A VER COM A MODA? PA R A A A RT I S TA D O M I T I L A B A R R O S , T U D O ! S U S T E N T Á V E L , S U A M A R C A S H E I S F R O M T H E J U N G L E C A PA C I TA A RT E S Ã S Q U E C U LT I VA M A P L A N TA D E M A N E I R A L E G A L I Z A D A E C R I A M P E Ç A S A PA RT I R D E L A . @ S H E I S F R O M T H E J U N G L E _ B R A S I L

Sabia já existem embalagens comestíveis produzidas com ingredientes naturais que visam à diminuição do uso dos descartáveis? São potinhos e colheres feitos de fécula de mandioca que possuem sabor neutro – combinando com doces e salgados. @okabioembalagens

VIVENDO E APRENDENDO O Jardim Botânico de Salvador recebeu da Unesco o título de Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA). O que isso significa? Que o local, de 160 mil metros quadrados, abandonado até 2020, hoje é referência em projetos de conservação, desenvolvimento sustentável e conhecimento científico sobre as espécies da Mata Atlântica. Viva a Bahia! 127


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“Só quando a última ár vore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro.” Provérbio indígena

NAS NOSSAS MÃOS Mais um bom exemplo de sustentabilidade vindo da Patagonia. A marca acaba de mudar o material da Black Hole, uma de suas bolsas de lona mais icônicas. Os modelos agora são revestidos com uma espécie de poliuretano termoplástico 100% reciclado, contribuindo ainda mais para a conservação do planeta. @patagonia S A P AT O D E F I B R A A C A LV I N K L E I N E A I N D Ú S T R I A T Ê X T I L S U S T E N T Á V E L ANANAS ANAM SELARAM UMA PARCERIA PARA D E S E N V O LV E R U M T Ê N I S F E I T O D E F O L H A S D E ABACAXI. O CALÇADO É CONFECCIONADO COM UM T E C I D O A B A S E D E P L A N T A S C H A M A D O P I Ñ AYA R N . @ C A LV I N K L E I N | @ A N A N A S . A N A M

ERA UMA VEZ Há que se ter um olhar atento para tudo o que vem de Araquém Alcântara, ainda mais quando falamos de Amazônia. O fotógrafo, conhecido por fazer os mais incríveis retratos de natureza, acaba de lançar o livro Amazônia das Crianças. Sensível, a obra é um retrato da realidade de 15 meninos e meninas que vivem na maior floresta tropical do mundo.

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DESDE SEMPRE Cacau, frutas vermelhas, banana, mamão e maçã são os sabores da nova bebida da Zooreta, marca da Mãe Terra pensada para ajudar os pais a fazerem lancheiras mais saudáveis. A novidade é uma parceria com a Nude e, por isso, as receitas levam leite vegetal da melhor qualidade. E o mais legal: as embalagens vêm com o valor exato da pegada de carbono do produto – da fabricação ao descarte na lixeira correta, claro. @heynude

VOCÊ PODE A Can.U.Do (trocadilho inteligente, porque um dos primeiros produtos da marca foi o canudinho de bambu e inox), que já conta com um super ecoportfólio – garrafas, copos, escovas de dente, talheres e até óculos de sol feitos com o plástico retirado dos oceanos – lança agora uma mochila sustentável, biodegradável e reciclável. Feita de papel Kraft impermeável, tem compartimento interno para laptop, estojos e bolso externo com zíper. Apesar de pesar somente 300 g, é bastante resistente e carrega sem problema até 15 kg. Amamos! @can.u.do_

“A natureza não faz nada em vão.” Aristóteles

COBERTURA Já tem óculos para chamar de seus neste verão? Estamos de olho nos modelos da Archai, não só pelo design cool, mas principalmente pela proposta. Todas as peças são feitas a partir de matérias-primas sustentáveis ou vindas de upcycling. Design nacional, artesanal e responsável. @archai.store

C A F E Z I N H O D E AT I T U D E Pensando na cadeia produtiva do açaí, que gera toneladas de resíduos sólidos nas agroindústrias – como, por exemplo: somente no estado do Amapá, 25 mil quilos de caroços de açaí são descartados todos os dias nas áreas urbanas da capital Macapá e da vizinha Santana –, a nortista Engenho chegou a uma solução inovadora. Desenvolveu um café de açaí feito a partir desses resíduos. E tornou-se a primeira empresa do mundo a usar os caroços do fruto para fins alimentícios. @engenhocafedeacai

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P E L A F L O R E S TA E M P É O Anavilhanas, pequeno hotel de selva imerso na floresta amazônica, conquistou recentemente um feito e tanto. O lodge foi certificado pelo Sistema B, comunidade global de empresas que atendem a altos padrões de impactos social e ambiental. Da arquitetura que prioriza os saberes locais à construção de sua própria usina solar fotovoltaica, são muitos os motivos que levaram o hotel, único na Amazônia, ao resultado. Mas o maior deles é certamente o trabalho que o lodge vem fazendo desde sua fundação, em 2007, em torno das comunidades ribeirinhas da região. @anavilhanaslodge

BRASILEIRÍSSIMO Você já conhece a Singa? Adoramos essa marca nacional e não é só pelo mix de roupas e acessórios com uma pegada meio despojada e muito cool. A grife tem como propósito criar produtos de baixo impacto ambiental e usar o design para fomentar comunidades. Em parceria com a Farfarm e agricultores familiares do Ceará, eles plantam o próprio algodão agroecológico utilizado em suas peças, contribuindo com a qualidade de vida da comunidade local. Neste Natal, vale pensar: parte da receita anual da marca é distribuída para um grupo de instituições sem fins lucrativos que trabalham em prol da conservação do planeta. @singa.co 130

Boa notícia para os viajantes conscientes. Depois de ter grande parte de suas instalações destruídas por um incêndio florestal que acometeu a Austrália em 2020, o hotel Southern Ocean Lodge acaba de ser reaberto com foco em ações ecológicas e de combate ao fogo. E a comunidade da Ilha Kangaroo, onde o lodge está localizado, comemora: da alimentação às experiências, a ideia é priorizar sempre os fornecedores da região. E mais: o local ganhou uma área de proteção formada por suculentas e outras plantas nativas que dificultam a proliferação do fogo. @southernoceanlodge

Fotos divulgação

RELOADED


PÁ G I N A S A M A R E L A S Endereços e serviços que estão em alta: um guia inteligente por Carbono Uomo Ilustração Mona Conectada

“in vino veritas, in aqua sanitas”

SCI-FI

TRADIÇÃO

SOBE A SERRA

Mais modernos e funcionais, os smart glasses estão por toda parte. Estaríamos nós prestes a nos despedirmos do celular?

A chef Telma Shiraishi revela seus endereços favoritos para se comer a autêntica culinária japonesa. Vem, verão!

Gabriela Monteleone, sommelière das mais respeitadas, elege vinhos deliciosos para o calor. Da piscina ao mar, só vai!

SILÊNCIO, OK?

TA P E T E M A N I A

CABEÇA BOA

A onda dos listening bars, tendência forte lá fora, ganha adaptações e conquista também o público brasileiro. Indicamos lugares para se ouvir um bom som.

Dos clássicos às novidades, os tapetes estão em todos os lugares. Conheça os endereços que estão no nosso radar.

Totalmente apaixonada por chapéus, Doris Sochaczewski dá ideias de modelos para usar nas mais diversas ocasiões – do sol à neve!

CABELEIRA A busca por tratamentos capilares, incluindo os implantes, só faz crescer e há opções para todos. Com a palavra, os especialistas.

M E R C I Uma mensagem para encerrar o ano em tom de gratidão. 2024, estamos prontos!


P á gin a s a ma r e la s

EU USO ÓCULOS Não se engane: os smart glasses podem até parecer óculos comuns, mas têm funções que chegam a substituir o uso do celular. Mergulhamos na tendência e mostramos os modelos do momento Por Eugênio Augusto Brito

Em 2012, o Google Glass foi apresentado como revolução da nossa interação com a tecnologia. Afinal, estamos falando de mais de uma década atrás e a proposta colocava mensagens, vídeos e outros recursos diretamente no seu campo de visão, sem tirar o celular do bolso. No entanto, o Google Glass não foi bem recebido por conta do design esquisito, de baixa resolução e do uso mais apropriado para empresas. Fora o preço elevado – US$ 1.500 – e as preocupações em relação à privacidade. Mesmo assim o mercado de óculos inteligentes chegou à versão 2.0. E não falamos do Apple Vision Pro. A aposta está em modelos discretos, parecidos com óculos comuns, úteis e acessíveis. Os recursos permitem áudio de qualidade para chamadas, músicas e podcasts, comandos de voz, alertas e notificações, proteção ocular em algum grau e, nas versões mais completas, fazer imagens em primeira pessoa. Seguido dos fones de ouvido e dos relógios inteligentes, o segmento promete crescer nesta década, movimentando pelo menos US$ 2 bilhões, segundo a consultoria britânica Global Data. A seguir, veja os destaques. 132

AMAZON ECHO FRAMES CARRERA

Desde 2019 a Amazon faz smart glasses em parceria com a grife italiana Carrera. Atualmente, são sete opções de armações, chassis de fibra de carbono e titânio, ponteiras de silicone, lentes escuras ou de prescrição. O sistema permite comandos de voz via Alexa para fazer pesquisas, ouvir músicas e podcasts, receber notificações e controlar dispositivos inteligentes de qualquer lugar. Com Bluetooth, os Echo Frames têm dois falantes por haste e baterias que prometem 6 horas de uso após 105 minutos de carga. E também entregam conforto diário, com filtro UV400 e para luz azul e proteção IPX4. Custam a partir de US$ 270, nos EUA. amazon.com


RAY-BAN META

A parceria entre a Meta e a Ray-Ban promete. As versões Headliner e Wayfarer, que variam entre US$ 299 e US$ 379, têm lentes de prescrição, escuras ou Transitions. A tecnologia é de ponta: câmera de 12 MP, LED de privacidade, botão de disparo, touchpad, microfone, falantes, 32 GB de memória e bateria. Aparentemente comum, o case tem conexão USB-C para até 36 horas de uso com recarga de 4 horas. Conectado ao celular por Bluetooth, faz vídeos de até 30 minutos. Mas também usa wifi para tocar música, fazer ligações ou pesquisas por voz. E o melhor: o visual é idêntico ao Ray-Ban analógico. Ainda não há previsão de venda no Brasil. ray-ban.com

MIJIA AUDIO SMART GLASSES

A submarca da chinesa Xiaomi tem cinco modelos, que recriam designs clássicos, mas com hastes grossas e metalizadas. Com 38 g, podem ser usados com lentes escuras ou de prescrição. Pelo Bluetooth, se ligam a celulares Apple ou Android, computadores Windows e Apple e reproduzem áudio espacial, mesmo em ambientes com ruídos de até 78 dB. As baterias são de longa duração e prometem uma semana em stand-by, dez horas de música ou sete de ligações. Importados da China, são encontrados na Ali Express (prefira lojistas representantes de Xiaomi ou Mijia) por valores a partir de R$ 810. aliexpress.com

RAZER ANZU RZ82

Fotos divulgação

BOSE FRAMES

Reconhecida por equipamentos de som premium, a Bose criou smart glasses para a prática esportiva. Os modelos Soprano e Alto são mais convencionais, enquanto o Tempo tem armação angulada, hastes flexíveis e lente retangular. As lentes polarizadas (VLT 12%, espelhadas) são resistentes a riscos e ainda filtram 99% dos raios UV. A porta USB-C (para recarga e até oito horas de uso) e os falantes oferecem proteção contra água e poeira (nível IPX4). Mas a grande virtude é também o maior defeito: para ter áudio robusto e bons graves, mesmo contra o vento a até 40 km/h, vem com minicaixas em cada haste. Além do visual estranho, o conjunto fica mais pesado. Valores entre R$ 1.100 e R$ 1.400 na loja da Bose na Amazon. amazon.com

A fabricante gamer Razer promete melhorar a vida dos jogadores, mas também de quem trabalha no computador de óculos. Com falantes e microfones embutidos na armação, o Anzu dispensa os pesados headphones, graças ao áudio de baixa latência para jogos e chamadas. Já as lentes originais filtram até 35% da luz azul de monitores – as versões polarizadas, opcionais, impedem 99% da radiação UVA/ UVB. Ligado por Bluetooth a celulares, usa comandos de voz e promete cinco horas de uso. Custa R$ 1.500 e pode ser encontrado na Amazon ou no site oficial. razer.com 133


Pá g inas am arel as

ARIGATÔ, TELMA O verão pede cardápios mais leves e não menos especiais. Então, que é melhor do que um bom e autêntico sushi para enfrentar as altas temperaturas? Convidamos Telma Shiraishi (@telmashiraishi), a respeitada chef do Aizomê, para indicar seus restaurantes favoritos desse tipo de culinária

YUNAGI EDOMAE-ZUSHI – SP

“Toshi Kawanami faz parte de uma nova geração de sushi shokunin, que trabalha com as raízes do estilo Edomae. Adorei seu makimono com kampyo de produção própria.”

KAN SUKE – SP

“Degustar a sequência de preciosismos feita por Egashira-san é a experiência mais próxima que podemos ter de um balcão exclusivo em Tokyo, ainda que do outro lado do mundo.” R. Manuel da Nóbrega, 76 - Jardins T 11 3266 3819 134

Fotos Rafael Salvador e divulgação

@yunagi_edomaezushi | R. Taperoá, 195 - Cidade Monções


P áginas amarel as

TABERNA JAPONESA QUINA DO FUTURO – PE

“Conhecer o trabalho do mestre Saburó, em Recife, foi uma masterclass sobre o atum de alta qualidade da nossa costa. Uma joia em nosso lindo Nordeste.” +quinadofuturo.com.br | R. Xavier Marques, 134 - Aflitos, Recife

SHIN-ZUSHI – SP

“Os irmãos Ken e Nobu Mizumoto são referências na culinária japonesa tradicional. Lembro-me sempre de um perfeito e surpreendente sushi de sardinha, que se destacou no meio de inúmeras iguarias.” @shinzushioficial | R. Afonso de Freitas, 169 - Paraíso

MAKOTO SAN – SP SUSHI HAMATYO – SP

“Yoshida-san é um dos nossos mestres veteranos. Conseguimos perceber uma vida dedicada ao seu ofício sintetizada em uma peça de sushi.” @sushi_hamatyo | Av. Pedroso de Morais, 393 - Pinheiros

“Ser recebida na casa de Makoto-san e sua família é um abraço em forma de sushi. Se você é fã de bluefin, o banquete ali é garantido. E, como bônus, ainda tem muita conversa e conteúdo para temperar a noite.” @makotosanofficial | R. Leandro Dupret, 108 - Vila Clementino

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Pá g inas amarel as

AMOR DE VERÃO Convidamos Gabriela Monteleone, uma das sommelières mais respeitadas do País, para eleger vinhos que têm o frescor da estação Por Gabi Monteleone Quando o preceito é “vinhos de verão”, gosto de pensar quais características sinestésicas podem traduzir essa ideia. Vinhos que traduzem o sol, seja em seus aromas de frutas mais maduras, tropicais... Vinhos que traduzem o mar, com sua salinidade elegante, que escolta tão bem os comes praieiros... Mas uma sensação que me é muito agradável e que permeia essa pauta é o frescor que encontramos em muitos vinhos e que nos aplaca o calor e nos prolonga a brisa do mar, na taça e na boca. Vamos aos escolhidos?

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SOL DE ROSÉE 2021

Domaine Rimbert | Languedoc-França

Domaine Armand Heitz | Bourgogne-França

Importadora: Delacroix Vinhos

Importadora: Uva Vinhos

Feito 100% com a variedade Colombard, esse branco é o típico vinho de verão. Com aromas de frutas tropicais frescas, boca ampla e salinidade final que o deixa ainda mais equilibrado e prazeroso.

Um rosé firme e vertical, com aromas de frutas vermelhas frescas e apimentado. Um vinho bem construído, que abarca o frescor imaginado com um rosé, com personalidade e boca saborosa. Feito 100% com uvas Pinot Noir, é uma opção elegante, que cai bem na piscina e numa mesa farta.

Fotos divulgação

SUR LA PLAGE 2020


POUR MA GUEULE PINOT NOIR 2021

Clos des Fous | Valle del Itata-Chile Importadora: World Wine O nome refere-se a um termo comumente utilizado na Bourgogne, que quer dizer para minha boca. Os produtores do país usam a expressão para falar de um vinho fácil e agradável de beber. E, ao contrário de seu apelo “fácil”, esse tinto apresenta textura elegante e bem delineada. Pode ser bebido levemente mais fresco.

PEQUENOS REBENTOS NAT’COOL 2020

Marcio Lopes | Minho-Portugal Importadora: Grapy Garrafeira Esse branco cheio e com personalidade é feito com a variedade Loureiro, em colaboração com Dirk Niepoort, grande nome da vitivinicultura. Em seu projeto Nat’Cool, Dirk corre o mundo fazendo vinhos em colaboração com vinhateiros competentes e comprometidos.

Conheça os princípios do selo Nat’Cool, ideia de Dirk Niepoort

SOL TARDANA 2020

Bodegas Gratias | Manchuela-Espanha Importadora: Dominio Cassis Esse vinho já carrega o verão no próprio nome. Sua fruta exuberante é contrastada pelo frescor e pelo equilíbrio na boca. Produzido com a variedade Tardana, é um branco vinificado em ânforas de terracota que, depois, passa três meses em barris de carvalho. Como resultado, um vinho harmonioso, fresco e com fruta crocante.

1o Sem regras; 2o Respeitar a primeira regra; 3o Menos é mais; 4o Cool = menos álcool, menos extração, menos confusão; 5o Autêntico, orgânico; 6o Em garrafa de litro; 7o Com preço acessível; 8o Incrivelmente leve na sua essência.

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P á gin a s a ma r ela s

SHHH... É preciso fazer silêncio para aderir à onda dos listening bars que, depois de movimentarem a cena noturna lá fora, começam a conquistar fãs por aqui – ainda que de maneira adaptada. Saiba mais sobre a tendência Por Luisa Alcantara e Silva

Você se senta e, enquanto beberica um drink, aprecia a música que sai das caixas de som com uma qualidade altíssima. No comando, DJs ou colecionadores de LPs. O conceito de bar de audição – ou listening bar, em inglês – veio do Japão, onde os clientes realmente valorizam o silêncio. Por aqui, a ideia fez sentido, mas com suas devidas adaptações. “A coisa do silêncio total é um pouco radical demais para nós. Então, trabalhamos com o conforto acústico, de maneira que as pessoas possam conversar sem atrapalhar a música, e vice-versa”, diz Guga Roselli, sócio do Elevado Conselheiro, inaugurado em agosto na Bela Vista, em São Paulo. Se você gosta da ideia de sair para ouvir boa música, vale ficar de olho nesses bares de audição abertos recentemente em São Paulo e Florianópolis.

ELEVADO CONSELHEIRO Idealizador do selo Mareh e do festival que leva o mesmo nome, Guga Roselli investiu seu conhecimento de mais de 20 anos no universo da música para abrir o Elevado Conselheiro, ao lado de outros sócios. “Queria um lugar onde eu pudesse me sentar para escutar música em altíssima qualidade sem ter que estar de pé, na pista”, conta. É ele quem escolhe os “artistas/colecionadores” que trazem ritmos que vão da eletrônica ambiente a funk e jazz. De acordo com Guga, “brasilidades preenchem 99% das noites”. A cozinha, de onde saem massas e grelhados, fica sob o comando do chef Felipe Grecco. “Ir ao Elevado Conselheiro é bonito para os olhos, ouvidos e paladar”, finaliza Guga. @elevado_conselheiro

HANGAR T6 A casa, no Centro de Florianópolis, foi aberta em 2017, mas se transformou em listening bar depois, no fim de 2019, quando Lelo Paungartner, um dos sócios, assumiu o local. O antigo bar de cervejas ganhou um investimento no projeto acústico e passou a atrair quem gosta de ouvir boa música. Instalações no teto e sob as mesas, além de madeiras na lateral, foram algumas das mudanças propostas. “Para 2024 teremos uma nova reforma, que deve melhorar ainda mais a parte acústica”, adianta Lelo, responsável também pela curadoria musical. @hangart6


DOMO

Fotos Pedro Kok, Pedro Rammsy, Rubens Starosky e divulgação

Os sócios do paulistano Takkø Café viajaram para Japão, Estados Unidos e destinos da Europa para conhecer listening bars antes de abrir o , inaugurado em julho, na Vila Buarque, no Centro de São Paulo. Em poucos meses a casa já vê a clientela crescer, trazendo artistas para residências mensais às quintas-feiras, como a peruana Cecyza, DJ e colecionadora de vinis, e nomes como Nyack, DJ que acompanha o músico Emicida. “Como não precisam fazer o público dançar, é uma oportunidade para eles tocarem discos que não conseguem levar a outros lugares”, conta Rodolfo Herrera, um dos proprietários. O público é eclético, mas sempre em busca de boas faixas. “Vem desde audiófilos a pessoas que gostam de música em geral.” @domobarsp

MATIZ Yuri Mendonça, um dos proprietários do bar Matiz, aberto em setembro também no Centro de São Paulo, buscava um espaço que entregasse uma experiência completa, fosse na coquetelaria, na gastronomia ou no principal: a experiência de ouvir música de alta qualidade. “Não nos intitulamos um listening bar, apesar de essa onda ter ganhado cada vez mais interesse do público. Nascemos para ser uma plataforma que possibilita aos clientes experienciar um novo jeito de ouvir música”, diz ele. Bar de audição ou não, sente-se, peça seu Tcha-tcha-tchá – drink que mistura vodca, gim, matchá e outros ingredientes – e pare para escutar os sets de DJs como K-Mina e Craig Ouar. @matizbarsp 139


Pá g inas am arel as

MIL E UMA NOITES Lendários, os tapetes são como joias que carregam a riqueza do tear manual. Mais do que isso, são capazes de delinear espaços e mudar a atmosfera de um ambiente. Fã da peça, Carbono Uomo mostra opções – das tradicionais às novidades – para se colocar a ideia em prática Por Mona Conectada

TAPILOGIE E TAPISANTIK

Com uma curadoria cuidadosa, suas fundadoras selecionam garimpos de tapetes antigos feitos à mão. São itens, como persas, marroquinos, iranianos e russos, que ajudam a movimentar a economia. Verdadeiras obras de lã entrelaçadas nos tons de rubi, topázio, lázuli e âmbar e, claro, repletas de histórias. @tapilogie | @tapisantik 140


AVEIA TAPEÇARIA ARTESANAL

Da tradição do artesanato em tear de Resende Costa – cidade mineira com pouco mais de 11 mil habitantes –, a Aveia Tapeçaria desenvolve tapetes que trazem aconchego ao lar. Muito por conta da textura felpuda do algodão na tecelagem manual, em paleta de cores serenas e mesclas de tom sobre tom. @aveia.tapecaria

BOTTEH TAPETES

Com mais de duas décadas de história, a Botteh apresenta um catálogo amplo e sofisticado. A seleção de tapetes vai desde peças com tramas contemporâneas aos feitos à mão no Oriente, passando por modelos assinados por designers. @bottehtapetes

Fotos divulgação

TAPETAH

TORTO

Desenvolvidos por Jan Albuquerque, são tapetes autorais, statement. Pense em peças feitas à mão, preenchidas por muita cor e energia fun. Com recortes orgânicos, os modelos trazem um olhar lúdico, capaz de movimentar os ambientes. @tapetetorto

Fundada em 1998, oferece uma curadoria completa nesse universo, aliando tecnologia e produção manual. E a exclusividade vai além, com a possibilidade de encomendar tapetes sob medida, que englobam formatos diferentes, recortes sinuosos e composições nas mais variadas combinações. @tapetahoficial 141


VOCÊ NÃO SAI DA MINHA CABEÇA A empresária Dóris Sochaczewski, figurinha carimbada das cenas paulistanas, não é mais vista por aqui há quase dez anos. Em 2004 se mudou para a Itália, em busca de um novo estilo de vida e por lá permanece até hoje. Atualmente está em Firenze, onde mora há três anos – após uma longa temporada na pequena Todi, na região da Umbria, onde abriu uma Locanda, plantou azeitonas e cuidou do jardim de cima de seu trator. “Mesmo curtindo muito os borgos medievais, a necessidade de estar perto de um centro urbano, que tivesse mais atividades culturais, falou mais alto. Firenze sempre foi minha cidade preferida na Itália, e agora entendo a postura visionária dos Médicis! Isso me atraiu para permanecer nesse lugar maravilhoso. A beleza salva as nossas vidas”, decreta Dóris. Vivendo o verdadeiro sonho italiano, tem algo que nunca sai da sua cabeça: um bom chapéu! “Sou muito chapeleira. No inverno europeu, vou de gorro, mas, no verão, é até automático colocar um chapéu! Não sou muito adepta dos óculos escuros e não gosto daquele calorão no rosto. Por isso, procuro sempre me refugiar na sombra das abas vastas de um bom cappello”. A seguir, sua seleção de achados.

Fotos Valentino Fialdini e divulgação

Por Dóris Sochaczewski


P áginas amarel as

SOUQ

COS

Dou-me conta da minha dependência por chapéus quando viajo e, por descuido, não levo um na mala. Acabo sempre comprando alguns onde estiver! Foi assim que começou a minha coleção. Em minha mais recente ida a São Paulo, encontrei um na Souq que me acompanhou a viagem inteira. Lá eles têm uma seleção ótima de modelos coloridos de abas largas, viseiras e estilo Panamá. @souqlovers

Meu preferido atualmente é um da Cos. Fica até meio grande na minha cabeça, mas proporciona uma sombra maravilhosa. O forte deles é o bucket hat, tipo de pescador, mas de tecidos superinusitados, como pelúcia, lã e nylon. @cosstores

GOLDLINE | NIKE

ELY.B

Confesso: meu xodó é meu indefectível boné preto que carrego sempre comigo. É da marca alemã Goldline, mas também gosto dos exemplares da Nike. Já me salvou de chuva, de fotofobia, de calor! Como ando muito a pé, o chapéu é o meu adereço de todos os dias mesmo. Questiono-me por que as pessoas não usam mais... goldline-gmbh.de | @nike

Passeando em Firenze descobri uma loja muito bacana! É a Ely.B, que produz os mais diversos acessórios para cabeça. Desde tiaras com pérolas até buquês de flores para fazer penteados. Mas os chapéus de lá são de cair o queixo! Peças statements, com plumas e pedrarias. Gosto bastante das viseiras transparentes com aba de PVC e das boinas de couro com laços de sedas. @elybhats

“Um pingente no chapéu Ouço uma oração Sinto um pedaço do céu...” Nessas minhas procuras por formas diferentes, encontrei esse com orelhinhas em um quiosque de rua em Veneza e dei para minhas netinhas. Elas amaram! Espero passar essa paixão para elas e poder seguir muito tempo com minha coleção. Deixo essa dica: não ir atrás somente de Borsalinos! Os mais inesquecíveis a gente encontra nas andanças descompromissadas pelas cidades. Pode acreditar.

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Pá g inas am arel as

GOOD HAIR DAY Um raio-x sobre o que há de mais atual no mundo dos tratamentos capilares Por Rebeca Martinez Nos últimos dez anos, a busca por implante capilar aumentou 250%. Tanto é que, no Brasil, esse é o principal procedimento estético cirúrgico entre homens de 30 a 50 anos. Outro dado relevante, segundo a médica Leticia Caproni, é que a faixa etária em que essa necessidade aparece também mudou. “Por questões hormonais e da nossa rotina, as pessoas estão apresentando a calvície mais jovens. Grande parte dos meus pacientes têm entre 30 e 40 anos.” A preocupação cada vez maior com a estética ajuda a explicar a tendência, mas não é só. Técnicas como a FUE (Follicular Unit Extraction, na qual os fios são extraídos um a um) ganharam avanços consideráveis, incentivando novos consumidores. E esqueça aquele aspecto de tufo que se via no passado: o tratamento é o mais indicado hoje, justamente por conta da naturalidade do resultado. Soma-se a isso uma recuperação rápida, que não atrapalha a vida do paciente. A seguir, conversamos com especialistas para saber mais sobre essa e outras tendências que ajudam a resolver questões capilares.

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DRA. LETICIA CAPRONI

Especialista em transplante capilar, a cirurgiã se dedica exclusivamente à técnica FUE, o tal implante “fio a fio”, que deixa o resultado natural e sem cicatrizes lineares no pós-operatório. “Quando reconstruímos o contorno facial do homem calvo, conseguimos proporcionar um rejuvenescimento de até dez anos.” Diferentemente de outros profissionais, a médica realiza Gigassessões (transplantes em áreas mais extensas, com mais de dez mil fios), possibilitando que até pessoas com calvíces mais extensas possam fazer um tratamento de uma única vez. Os resultados são ainda melhores com técnicas BHT, quando os fios são extraídos de áreas do corpo, como tórax ou barba. “Em todos os procedimentos que faço, priorizo o conforto do paciente e o aspecto natural. É importante que ele possa retomar logo as atividades, dirigir no dia seguinte e retornar aos exercícios em cinco dias.” E Leticia adianta outra tendência que promete crescer: o transplante de barba, tratado com a técnica BHT. @dra.leticiacaproni

DRA. ANA CARINA JUNQUEIRA

DR. LUCIANO BARSANTI

Para a especialista em medicina capilar, é importante fazer uma investigação personalizada e avaliar uma série de tratamentos clínicos antes da recomendação cirúrgica. A dermatologista, membro do Conselho da American Hair Research Society, explica que a lista de possibilidades é ampla e pode incluir desde medicamentos orais até o uso de lasers de ultima geração, como o FX Robotico (do tipo Erbium Glass), que induz a proliferação de células e proteínas enquanto realiza microfuros, permitindo maior absorção dos medicamentos tópicos. Outra tecnologia que vale conferir é o Exossomos, feito à base de partículas do mesmo nome, excretadas por células-tronco. Esse ativo 100% vegetal entrega um excelente resultado, tanto em pessoas com calvície quanto para quem tem doenças no couro cabeludo e doenças imunológicas. “Os Exossomos são a grande promessa em terapias celulares, pois envolvem o que é mais próximo à célula-tronco”, acredita Ana, que também aposta no Mesoject. Indolor, a tecnologia cria pequenos poros no couro cabeludo por meio do calor e pode ser usada até mesmo por crianças. @draanajunqueira

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Tricologia e diretor do Instituto do Cabelo, há uma série de fatores responsáveis por deixar os homens carecas cada vez mais cedo. “Mesmo que a calvície esteja relacionada à substância androgênica, questões como má alimentação, ingestão de álcool e drogas, stress e depressão têm importância significativa.” Para tratar tal realidade o médico usa uma abordagem multifatorial, que combina medicamentos, shampoos e protocolos não invasivos. Entre eles, há procedimentos quinzenais que removem as placas de gordura da superfície – ao bloquear a saída do fio, ela dificulta a chegada dos nutrientes à raiz. Também é realizado o estímulo da multiplicação celular por meio de três mecanismos de alta tecnologia: eletroestimulador, ionização e laser. @drlucianobarsanti

DR. SOLON EDUARDO

DRA. MARIA FERNANDA TEMBRA

A dermatologista Maria Fernanda Tembra, proprietária da clínica Manoah, dedicada a todos os tratamentos capilares, como quedas, alopecias, fios danificados e doenças dos cabelos, afirma que “homens com queda capilar podem ter diversos diagnósticos – e não apenas a alopecia androgenética, popularmente chamada de calvície”. Entre os motivos de queda, a doutora aponta: stress, inflamações, doenças sistemáticas, doenças autoimunes do couro cabeludo e até alguns processos químicos, como tintura e alisamento (sim, homens também fazem alguns tratamentos estéticos nos fios). “Por isso podemos entender que queda de cabelos é um sintoma, e não necessariamente a causa. Na maioria das vezes, quando tratamos bem dos fios, fazemos consultas a dermatologistas especialistas em tricologia e nos alimentamos bem, conseguimos amenizar alguns desses problemas”, completa a doutora. “Como tratamento indico injeções de substâncias que estimulam a recuperação dos cabelos ou lasers que contribuem com o crescimento dos fios. Alguns produtos favoritos: tônico antiqueda em spray, da Pilexil; shampoo estimulante Dercos, da Vichy; e loção antiqueda Pielus, da Mantecorp.” @mariafernandatembra | grupomftembra

Na clínica Speranzini, do Dr. Solon Eduardo, a equipe é composta de quatro cirurgiões plásticos e dois dermatologistas, permitindo um tratamento completo. A técnica utilizada é a FUE Evolution, que conquistou o prêmio de melhor trabalho científico do ano pela Sociedade Internacional de Cirurgia de Restauração Capilar, em 2021. Se antes a retirada dos fios era totalmente manual, hoje conta com a ajuda de aparelhos. Mas, no comando da extração da área doadora, está sempre o médico – evoluímos, mas um robô ainda não é capaz de mimetizar a precisão dos movimentos que um bom cirurgião faz. O médico Solon Eduardo comenta: “A parte do tratamento clínico é extremamente importante. Hoje, você faz testes que avaliam seu perfil genético para ver qual tratamento tem mais chance de resposta”. O especialista conta que também utiliza aparelhos com inteligência artificial para a contagem de fios, antes e durante a terapia, o que ajuda a avaliar os resultados. E o mais importante é estar sempre atento: “A sua área calva hoje pode não ser a mesma daqui a 20 anos. A calvície é um processo contínuo de aumento de área então a medicação associada ao transplante mantém um bom resultado ao longo dos anos.” @drsoloneduardo | @clinicasperanzini

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B O A S F E S TA S

2 0 2 ...4 Convidamos o artista Fabio Maca para criar uma peça artística sob medida para receber o novo ano. Sensibilidade, significado e beleza se encontram nessa obra feita para Carbono Uomo

Fabio Maca é calígrafo e escritor – autor de Tarja Branca e co-autor de Dois Avessos – e trabalha com artes, identidade visual e personalizações. Seu lettering é reconhecido de longe e, atualmente, também estampa tatuagens e campanhas publicitárias. “A letra de mão diz muito sem que se precise falar. Num mundo digitalizado, o papel da mão é quase que de resgate. Conecta-nos de volta conosco”, suspira o artista. @fabiomaca 146




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