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Transsexual Women and Feminist Thought: Towards New Understanding and New Politics de

Raewyn Connell

As reações de mulheres feministas face ao surgir da questão das mulheres transsexuais e dos ideais trans vieram moldar as visões políticas internas do movimento feminista e externas a um nível institucional.

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Inicialmente, o feminismo prestou pouca atenção a mulheres transsexuais, apesar de, muitas perfilarem nas lutas das mulheres cis-género. Em The Transsexual Empire, testemunha-se o primeiro ataque de uma feminista radical às mulheres transsexuais, acusando-as de serem homens invasores do território da mulher. Apesar desta linha de pensamento, com a qual muitas mulheres se identificavam, muitas outras suportam mulheres transsexuais, considerando a luta de ambas, a mesma luta.

As mulheres transsexuais, para as feministas que as apoiavam, vieram comprovar a plasticidade do género e a importância da pluralidade de género como parte da experiência das mulheres, indo muito ao encontro daquilo que Judith Butler argumenta e desconstrói no seu trabalho.

Raewyn Connell é bastante precisa ao aludir a discriminação que mulheres transsexuais sofreram de outras mulheres, enquanto tentam caminhar para um território que se demonstra receoso com a sua presença, apesar de a luta ser a mesma: a de lutar contra a imagem do homem enraizada em todas as instituições que gerem e comandam a sociedade ocidental.

No contexto do dia internacional da mulher celebrado a 8 de março de 2021, três mulheres trans, Alice, Leonor e Júlia, relatam as suas vivências num país que ainda é claramente homofóbico e transfóbico. O caminho que estas pessoas têm que percorrer para conseguirem ser vistas como mulheres numa sociedade completamente patriarcal, assente numa família binária e intransigente é um atentado aos seus direitos humanos.

As mulheres mostram como as suas experiências de vida não convergem apenas numa infância atribulada, repleta de incompreensão de pais e familiares e dificuldades de integração nas escolas, mas também nas experiências da adolescência, do acesso à saúde, do acesso ao mercado de trabalho e mesmo em contexto sociais completamente comuns.

Apesar de em 2018 Portugal, ter reconhecido o direito à autodeterminação da identidade e expressão de género e de ter sido aprovada uma estratégia para a melhor integração de pessoas LGBT no SNS, continua a existir um tempo de espera exasperante, aliado muitas vezes a comentários transfóbicos e dificuldades no acesso a tratamentos hormonais, algo que a pandemia só veio agravar.

Alice, Leonor e Júlia vêem-nos relembrar de como uma mulher não pode ser reduzida ao órgão reprodutor, e de que como sociedade temos e devemos proteger pessoas trans, especialmente mulheres trans. É imperativo refletir como podem os direitos humanos destas mulheres ser garantidos, para impedir que mais pessoas como elas sejam vítimas de crimes de ódio ou caiam em situações de pobreza sem acesso a trabalho.

Transgender History in the United States

Igualmente na visibilidade de pessoas trans, principalmente mulheres trans, a importância dos avanços médicos tanto cirúrgicos como hormonais permitiram o levantamento desta problemática ainda mais a fundo. Christine Jorgensen foi revolucionária também, no sentido de trazer para as bocas do mundo, a existência de pessoas como ela.

A história das pessoas transgénero desde os Índios Nativos Americanos e as suas expressões de género transgressivasreconhecendo muitos géneros para além do binário vigente na sociedade

Entende-se que a história contemporânea das pessoas transsexuais se movimentou depressa, lado a lado com o movimento LGB e feminista, reclamando direitos básicos humanos como proteção, acesso a trabalho e apoios para si também. O contributo de mulheres como Sylvia Rivera e Marsha P. Johnson, tanto para o movimento Transgénero, como para o movimento das mulheres e a sua influência nos dias de hoje é também de grande destaque no livro. A autora termina por denunciar a falta de leis que proteje as pessoas transgénero nos EUA e como isso tem efeitos diretos nos assassínios destas pessoas por todo o mundo, sendo as principais afetadas por esta rejeição de pessoas transgénero, mulheres negras transsexuais.

Cristã dos Colonizadores Inglesesaté à atualidade contemporânea com os movimentos e a surgente Teoria de Género ou

Estudos Transgéneros, é pouco relatada e reconhecida.

Genny Beemyn elucida a importância de sabermos que o termo “transgénero” é bastante recente e surge à luz de muitos outros movimentos e eventos históricos que tomaram lugar ao longo do séc. XX, por isto, fica em aberto a possibilidade de classificar como transgénero as pessoas que viveram numa época em que este termo não era existente, no entanto, a sua importância na história desta minoria é incontestável. Assim, não se pode esquecer as pessoas pioneiras das comunidades de drag do séc. XIX, que reclamavam para si uma nova forma de expressão de género através da aparência.

Narratives of Lesbian Existence in Egypt –Coming to Terms with Identities

de Christina Lindström

Narratives of Lesbian Existence in Egypt surge da necessidade de estudar e analisar as vivências de mulheres lésbicas no Médio Oriente, especialmente no Egito, onde as identidades homossexuais são consideradas inexistentes ou pecado, existindo uma invisibilidade destas mulheres.

Lindström aborda o tema da homossexualidade a partir de uma perspetiva de género, isto é, analisa apenas as representações e as experiências de mulheres, pois no Egito as imagens que existem destas mulheres são escassas ou bastante discriminatórias.

Para suportar esta assunção de invisibilidade da mulher lésbicas no médio oriente, são analisados diversos artigos ou ensaios que tratam da temática da homossexualidade nesta região e todos chegam a uma semelhante conclusão: a homossexualidade é uma ocidentalização das identidades e é um pecado consciente.

Neste sentido, a autora entrevistou cinco mulheres egípcias, que mantêm relações com mulheres, todas com educação superior (ou a frequentar) e a viver na cidade do Cairo, são elas: Khadidja, Negma, Sarah, Leila e Mariam. Todas estas fazem-se passar por mulheres heterossexuais, devido ao medo de retaliações que podem sofrer se revelarem a sua autêntica identidade.

As entrevistadas descrevem a perseguição e ódio que mulheres lésbicas sofrem quando são expostas como homossexuais, resultando em tentativas de expulsarem estas mulheres de Universidades e internamentos forçosos em instituições mentais. Em adição, as mulheres relatam também como as suas mães reagiram à possibilidade das suas filhas serem homossexuais, sendo que muitas entraram em negação, descartando essa ideia, adotando sempre atitudes bastante agressivas.

Este artigo, fornece um olhar bastante realista daquilo que é ser-se uma mulher lésbica numa civilização do médio oriente, entendemos o medo e a invisibilidade, de mulheres que vêm os seus direitos humanos violados, oprimidas enquanto são forçadas a casar para reprimir a sua verdadeira identidade.

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