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BRASIL / RÁPIDAS
A SSAB já produziu o primeiro aço livre de combustíveis fósseis do mundo e o entregou a um cliente. A entrega experimental é um passo importante no caminho para uma cadeia de valor totalmente livre de combustíveis fósseis para a produção de ferro e aço e um marco na parceria HYBRIT entre SSAB, LKAB e Vattenfall. Em julho, a SSAB Oxelösund laminou o primeiro aço produzido com a tecnologia HYBRIT, ou seja, foi 100% reduzido em hidrogênio, sem uso de carvão ou coque, com bons resultados. O aço agora está sendo entregue ao primeiro cliente, o Grupo Volvo. “O primeiro aço livre de combustíveis fósseis do mundo não é apenas um avanço para a SSAB, ele representa a prova de que é possível fazer a transição e reduzir significativamente a pegada de carbono global da indústria siderúrgica. Esperamos que isso inspire outros a também quererem acelerar a transição verde”, disse Martin Lindqvist, presidente e CEO da SSAB.
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PETROBRAS ENTRA EM OPERAÇÃO PLATAFORMA NO CAMPO DE SÉPIA

A Petrobras iniciou (23/08), a produção de petróleo e gás natural do FPSO Carioca, primeiro sistema de produção definitivo instalado no campo de Sépia, no pré-sal da Bacia de Santos. Com essa unidade, a Petrobras soma 22 plataformas em produção no pré-sal, que juntas já respondem por 70% da produção total da companhia. A plataforma, do tipo FPSO (unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência de petróleo e gás), está localizada a aproximadamente 200 km da costa do estado do Rio de Janeiro, em profundidade de água de 2.200 metros. Com capacidade para processar diariamente até 180 000 barris de óleo e comprimir até 6 milhões de m³ de gás natural, o FPSO Carioca, unidade afretada junto à Modec, contribuirá para o crescimento previsto da produção da Petrobras.
BUREAU VERITAS EMPRESAS PÚBLICAS CERTIFICADAS PARA ATUAÇÃO NO NOVO MARCO LEGAL DO SANEAMENTO
O Grupo Bureau Veritas, líder mundial em Teste, Inspeção e Certificação (TIC), certifica as empresas públicas de tratamento de água e esgoto de acordo com os novos critérios exigidos pelo decreto 10.710/2021 para companhias que queiram atuar de acordo com o Marco Legal do Saneamento. Grupo atesta as especificações que devem ser comprovadas até dezembro deste ano, mostrando a capacidade econômico-financeira e a viabilidade das metas de universalização até 2033. “A certificação garante a chegada de Saneamento Básico para a população com um serviço de qualidade. Trazemos a nossa experiência para contribuirmos com esse processo de desenvolvimento do país”, diz Rafael Perez, diretor executivo de Construção & Infraestrutura do Grupo Bureau Veritas.

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RIO INDÚSTRIA INSTALAÇÕES DO SUBMARINO NUCLEAR DA MARINHA SÃO REVELADAS
A Rio Indústria, associação de indústrias do Rio de Janeiro, visitou (26/08) o complexo naval de Itaguaí com a Marinha do Brasil. Em um encontro exclusivo, a comitiva com executivos de diversos setores industriais conheceu as instalações do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB). A experiência revelou as estruturas e os simuladores do Riachuelo, primeiro submarino dos quatro convencionais que estão sendo construídos, simultaneamente. Eles representam uma relevante conquista para a indústria e defesa nacionais em um projeto inédito e ousado. O mar é o caminho de 95% das exportações e importações e guarda cerca de 90% do petróleo nacional. Para proteger esse patrimônio natural e garantir a soberania brasileira no mar, a Marinha do Brasil investe na expansão da força naval. A concretização do programa fortalece, ainda, setores da indústria nacional de importância estratégica para o desenvolvimento econômico do país.
HAPAG-LLOYD NOVO ESCRITÓRIO NO SENEGAL
Com a aquisição da NileDutch, transportadora de contêineres especializada no mercado da África Ocidental, a Hapag-Lloyd poderá ampliar ainda mais seu crescimento no continente. A Hapag-Lloyd continua fortalecendo sua presença na África e, no começo de agosto, inaugurou mais um escritório, desta vez em Dacar, capital do Senegal. Na região, a empresa transporta, principalmente, nozes, peixes, algodão e minerais para fora do Senegal. As importações consistem principalmente em produtos químicos, alimentos e roupas. O país está conectado à rede global da Hapag-Lloyd pelo serviço expresso semanal Dakar (DEX) com transbordo em Tânger. “O Senegal apresentou um crescimento econômico impressionante nos últimos anos e possui recursos naturais abundantes”, disse Dheeraj Bhatia, Diretor Executivo Sênior da Região do Oriente Médio na HapagLloyd. “Ao abrir nossos novos escritórios no Senegal, mostramos claramente nosso enorme compromisso com a África e perseguimos ainda mais nossas ambiciosas metas de crescimento no Senegal e em todo o continente.”

BRASILIT TECNOLOGIA PIONEIRA UTILIZADA EM TELHAS


PETRES A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA COMO FORMA DE REDUZIR IMPACTO E AUMENTAR SEGURANÇA NO PAÍS
É preciso promover uma transição energética eficiente e adequada do uso do petróleo como principal combustível do planeta, por fontes de energia limpas e renováveis. Essa foi a avaliação de umas das sócias da Petres Energia, Renata Isfer, durante o seminário online “Energias Renováveis e Desenvolvimento”, do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).
A Brasilit, empresa do grupo SaintGobain e referência em soluções para construção civil, registrou a patente da tecnologia utilizada nas Telhas Topcomfort, o primeiro produto do segmento de coberturas da empresa com desenvolvimento próprio para garantia de uma melhor performance térmica. Dessa forma, a TopComfort promove uma redução de até 8ºC na temperatura dos ambientes internos. A marca, além disso, foi também a pioneira na criação da tecnologia CRFS - Cimento Reforçado com Fios Sintéticos - que definiu o início de um novo ciclo para todo o mercado produtor de coberturas de fibrocimento. “Essa patente é mais um resultado do trabalho contínuo de inovação que desenvolvemos na Brasilit. Estamos contentes pelo registro da tecnologia e vamos seguir atentos às necessidades do mercado, sempre oferecendo soluções revolucionárias”, afirma Vinicius Araujo, diretor de Marketing da Saint-Gobain Produtos para Construção.
BELGO BEKAERT EMPRESA LANÇA MARKETPLACE E REFORÇA PRESENÇA DO ARAME NO VAREJO BRASILEIRO
A Belgo Bekaert, líder e referência brasileira na produção de arames de aço, lançou em 24 de agosto, sua loja online com entrega para todo o país. Com foco na oferta de produtos e soluções para o agronegócio, o lançamento da loja Belgo (www.lojabelgo. com.br) faz da empresa a única produtora de arames que oferece venda direta on-line para seus clientes finais. Na plataforma, serão oferecidos também produtos e soluções para cercamento urbano, construção civil e solda. A expectativa é que, em três anos, 5% do volume das vendas anuais destes segmentos sejam na modalidade online. “Queremos estar cada vez mais próximos do consumidor final, que já está habituado a multicanais de compra. Construímos um marketplace onde o cliente pode comprar produtos com a qualidade Belgo direto da
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fábrica, mas também por meio de dois parceiros comerciais importantes neste início: o grupo Alvorada, um dos maiores distribuidores de produtos agropecuários do país, e a ArcelorMittal, uma de nossas acionistas”, afirma Ricardo Garcia, CEO da Belgo Bekaert. Estas parcerias possibilitam não só a entrega no local escolhido pelo consumidor, como também a retirada da compra em um local físico (conforme disponibilidade).

ACCIONA USO DA METODOLOGIA BIM NA LINHA 6-LARANJA DO METRÔ DE SÃO PAULO
EDP SUBESTAÇÃO DE ENERGIA TERÁ TECNOLOGIA DE REALIDADE AUMENTADA PARA INSPEÇÕES E OPERAÇÃO
Equipamentos permitem redução de tempo nos atendimentos emergenciais, suporte especializado em tempo real e maior segurança na execução de atividades. A EDP, distribuidora de energia elétrica do Alto Tietê, Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo, acaba de incorporar mais uma tecnologia às suas subestações de energia: a gestão da manutenção e operação de ativos com uso de realidade aumentada. A primeira unidade a receber os novos equipamentos é a Estação de Distribuição de Energia Casa Branca, no município de Suzano. No dia 25 de agosto foi realizada uma visita à estação com a presença do prefeito, Rodrigo Ashiuchi, e da diretora da EDP, Cristiane Fernandes, para apresentação da nova tecnologia. A vistoria seguiu todos os protocolos sanitários vigentes de prevenção da Covid-19.
Em outubro de 2020 a ACCIONA retomou a construção da Linha 6-Laranja de metrô de São Paulo, que é o maior projeto de infraestrutura público-privado (PPP) em desenvolvimento na América Latina e o maior em infraestrutura da história da companhia. Com evidentes benefícios para a população, a Linha 6-Laranja fará ligação entre as estações São Joaquim e Brasilândia, em um trecho de 15 km com 15 estações distribuídas ao longo da sua extensão. Conectando o centro da capital com o seu extremo noroeste e cruzando diversos bairros onde estão localizadas as principais universidades da cidade. A obra foi retomada com melhorias além da implementação de novos e mais eficientes métodos de trabalho que também auxiliam na otimização de processos. Uma destas melhorias é a utilização da metodologia BIM (Building Information Modeling).



Um dos maiores mercados de veículos do mundo, o Brasil tem grande potencial de ser protagonista na transformação do setor para a mobilidade elétrica. Mas para não perder essa oportunidade, o país precisa ter diretrizes claras para nortear esse avanço para beneficiar governo, indústria e a sociedade como um todo. Essa foi a conclusão de executivos do mercado automotivo durante o painel “Mobilidade urbana: o futuro é elétrico” que ocorreu em 25 de agosto durante o Siemens Innovation Forum. Tendência em todo o mundo, a eletrificação dos veículos tem crescido no mercado brasileiro, mas a falta de infraestrutura voltada para o carregamento de carros, ônibus e caminhões é um dos principais desafios a ser superado para uma expansão mais rápida do segmento. Incentivos, limites em relação à produção de veículos a combustão e o aproveitamento da matriz.
FRONIUS MERCADO DE VEÍCULOS PESADOS AQUECE AS VENDAS
A empresa projeta crescimento de 20% para a unidade de solda em relação a 2020 com oportunidades na indústria 4.0, setor de veículos de carga, transporte coletivo e da linha amarela. A retomada da curva de crescimento da produção industrial está gerando reflexos positivos também no mercado de equipamentos. O cenário favorável para investimentos na automação e a retomada da produção de veículos pesados leva Fronius a expandir as vendas de soluções de soldagem para outros segmentos do mercado. “Estimamos um crescimento de 20% nas vendas em relação a 2020 e estamos trabalhando para isso”, afirma Claudio Sá, gerente de negócios da Unidade de Perfect Welding da Fronius do Brasil.
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CASE CE MÁQUINAS OPERAM NA INFRAESTRUTURA DO PROJETO PIPA, MAIOR CONCESSÃO RODOVIÁRIA DO BRASIL

A CASE Construction Equipment, marca da CNH Industrial, por meio de sua concessionária Brasif, integra parte da frota de equipamentos pesados que operam as obras do Projeto PIPA - Corredor rodoviário Piracicaba-Panorama, considerada a maior concessão rodoviária do Brasil, com investimento estimado em até 3,8 bilhões de reais, de acordo com o Ministério de Infraestrutura do país. Com mais de 100 anos de história, a CASE emprega tradição e robustez na produtividade deste projeto, com uma frota de mais de 50 equipamentos pesados, que incluem retroescavadeiras, pás carregadeiras, escavadeiras e minicarregadeiras. “A linha de produtos CASE foi criada e desenvolvida sob os conceitos de qualidade e produtividade, por isso, ficamos satisfeitos em saber que todo esse potencial está sendo utilizado em um projeto histórico como este”, afirma Maurício Moraes, Gerente de Marketing da CASE para América do Sul.

Adriano Pires é enfático ao afirmar que “não existe energia ruim” e defende que o Brasil precisa de uma matriz energética diversificada para garantir eficiência e a transição para fontes renováveis, como eólica, solar e biomassa. Embora a dependência brasileira das fontes hídricas já tenha caído de 90% para 65%, Pires ressalta que as matrizes ainda são essencialmente dependentes do clima e intermitentes, sem uma base que garanta o fornecimento no caso de uma crise hídrica como a que o país atravessa. Essa dependência de fontes intermitentes e/ou sazonais, avalia, é consequência da falta de estratégia e planejamento ao longo dos governos. Ele cita como exemplo, o investimento e subsídios em energia eólica e solar, sem um planejamento de longo prazo. “Em 2009, a então presidente Dilma Rousseff cancelou um leilão de térmicas e transformou em um leilão exclusivo de eólica. Foi a primeira vez que teve um leilão exclusivo de eólica e o governo, dali para frente, começou a criar subsídios, incentivos para o crescimento da energia eólica e depois para a solar. Assim, continuamos com a matriz elétrica muito refém do clima”, relata. Para sustentar a base da matriz energética, Pires destaca a necessidade de fontes que não sejam intermitentes ou sazonais: as térmicas movidas a gás natural, para curto prazo, e a energia nuclear para um futuro próximo. “A energia nuclear é de baixo carbono e não contribui diretamente para as emissões de gases de efeito estufa”, esclarece. A energia que vem do urânio fornece cerca de 10% da energia consumida no mundo. No Brasil, a participação é de menos de 2%, embora o
país tenha uma das maiores reservas mundiais de urânio. Pires analisa que energias não dependentes do clima, como as térmicas a gás natural e a energia nuclear na base da matriz energética, garantirão a eficiência que o Brasil precisa, sem riscos de apagão, com melhor administração da água dos reservatórios, de fontes intermitentes e, assim, com maior eficiência energética e preços mais baixos. “Tem muita gente no Brasil que confunde térmica a gás com térmica à óleo. O gás também é fóssil, mas é mui-“A semelhança to mais limpo e barato que o óleo. O gás, por exemplo, entre as crises nos Estados Unidos nos últimos anos ajudou muito a limde energia é par a matriz elétrica americana porque foram substituídas as térmicas a carvão que todas foram por térmicas a gás”, exemplifica o economista. causadas por Para ele, o Brasil poderia ter sofrido com mais crises de energia (foram três em 20 anos), se tivesse um ritmo contínuo falta de água nos reservatórios” de crescimento econômico no período. A situação atual, enfatiza, coloca o setor elétrico como um obstáculo à retomada do crescimento. “Eu acho que esse risco hídrico que o Brasil está vivendo vai prejudicar muito essa retomada”. E se não faltar energia, Pires afirma que de qualquer forma haverá prejuízo para o crescimento econômico em função do aumento na tarifa e da inflação gerada pela alta de preços. O economista diz que o setor elétrico brasileiro viverá três meses tensos até o período de chuvas que começa em novembro e deve melhorar o nível dos reservatórios das hidrelétricas. Acompanhe nas próximas páginas a entrevista completa da revista BRASIL ENGENHARIA com Adriano Pires.





BRASIL ENGENHARIA - O Brasil corre risco de apagão de energia elétrica no segundo semestre?
ADRIANO PIRES - Olha, o risco é alto, mas 100% (de certeza) a gente não pode falar. Corremos dois riscos hoje: um deles, chamamos de deficit de potência, que seria um corte de carga de energia nos momentos de pico de consumo; o outro “O governo seria deficit energético, que é o racionamento incentivou fontes propriamente dito, como ocorreu em 2001 e 2002. intermitentes Hoje, o mais provável, se e renováveis, acontecer, é o deficit de potência. O racionamencriando uma matriz to, acho que a probabili- desequilibrada” dade é muito baixa.
BRASIL ENGENHARIA - Se ocorrer o deficit de potência, quais são os principais prejuízos?
ADRIANO PIRES - Se houver deficit de potência, ocorre o corte de carga em determinado período do dia, em determinada região ou cidade e pode haver uma instabilidade muito grande no fornecimento. Como os reservatórios estão muito baixos, com 30% da sua capacidade, sendo a projeção de agosto para 20% e a projeção de setembro para 10%, teremos três meses muito tensos no sistema elétrico brasileiro, que são agosto, setembro e outubro, e quem sabe até a primeira quinzena de novembro porque a chuva começa a voltar nessa época.
BRASIL ENGENHARIA - Em 20 anos, essa é a terceira vez que o Brasil passa por situação semelhante no fornecimento de energia elétrica. Por que isso ocorre?
ADRIANO PIRES - Falta de planejamento. Nós temos um problema que é sistêmico na matriz elétrica brasileira desde 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso. Naquela ocasião, houve racionamento porque 90% da energia gerada no Brasil era com água. Houve, na época, uma estiagem e não havia fonte para substituir a água. Tanto que, para evitar um mal maior, na época se contratou as chamadas térmicas emergenciais que eram em balsas, com geradores a diesel, fontes muito caras, poluentes e ineficientes. Em 2003, quando o Lula (o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva) entrou, até a segunda metade do primeiro governo Lula, o governo começou a fazer leilões de energia para aumentar a quantidade de térmicas no sistema brasileiro porque eles tinham muito medo de haver um racionamento no governo do PT, pois o governo do PT sabia muito bem que um dos motivos que ajudaram a eleger o Lula em 2003 foi o apagão (ocorrido no governo Fernando Henrique Cardoso). Mas, em 2009 teve um evento, uma grande conferência ambiental em Copenhague (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2009, a COP15, realizada em Copenhague, na Dinamarca) e a Dilma (a então presidente Dilma Rousseff) foi lá e, para ela não sofrer aquela pressão do governo estar viabilizando muita térmica à óleo etc., ela cancelou, naquela época, um leilão de térmicas no final de 2009 e transformou em um leilão exclusivo de eólica. Foi a primeira vez que teve um leilão exclusivo de eólica e o governo, dali para frente, começou a criar subsídios, incentivos para o crescimento da energia eólica e depois para a solar. Assim, continuamos com a matriz elétrica muito refém do clima. Quando chegamos em 2014, houve outra crise hídrica e só não teve um racionamento porque tinha as térmicas construídas no governo do Lula. Então, ligaram todas as térmicas, aumentaram a tarifa e conseguiram se safar do racionamento. Mas foi doloroso, 2014 e 2015 foi doloroso, paralisou a Hidrovia Tietê-Paraná por 16 meses. E um pouco antes, em 2013, a Dilma fez a Medida Provisória 179 para baixar a tarifa na canetada. E para cumprir a promessa de baixar a tarifa ela usou muita água do reservatório. De 2013 para cá, o regime de chuvas foi muito ruim e não teve muita chuva para voltar o reservatório num nível ótimo. E agora em 2021 está havendo mais uma crise. A semelhança de todas as crises de energia – 2001, 2014 e 2021 – é que todas foram causadas por falta de água nos reservatórios. Mesmo hoje, em que a energia não é mais 90% gerada com água, mas 65%. Mas, as outras fontes também são intermitentes. Tem um evento também importante, no primeiro governo do Lula: na época a Marina Silva era Ministra do Meio Ambiente e ela proibiu a construção de hidrelétricas com reservatórios. Essas hidrelétricas com reservatórios é que davam segurança de abastecimento, confiabilidade ao sistema. E só foi permitido daí para frente a hidrelétrica fio d’água, sem reservatório, mas essas hidrelétricas só geram quando chove. Então, o Brasil tem uma matriz elétrica hoje muito refém do clima. O governo abriu mão da confiabilidade e incentivou, na minha opinião de maneira excessiva, essas fontes intermitentes e renováveis.
BRASIL ENGENHARIA - Mas isso é ruim?
ADRIANO PIRES - Não é que isso seja ruim, mas isso criou uma matriz desequilibrada. Eu acho que toda fonte de energia tem qualidade, toda energia é boa; o ruim é não ter energia. Mas, eu acho que o desafio daqui para a frente, se a gente não quer que o go-
verno se sobressalte, como nos últimos anos, e esteja sempre rezando para chover, é criar uma matriz mais equilibrada.
BRASIL ENGENHARIA - E como é essa matriz ideal?
ADRIANO PIRES - No curto prazo, tem que colocar as usinas com gás natural, porque gás natural é mais barato e mais limpo que óleo diesel, que é o combustível que a gente está usando agora. E quando colocamos a térmica a gás natural rodando a 70% ou 80% do tempo, temos vários benefícios. O primeiro é gerenciar melhor a água do reservatório, que tem uso múltiplo hoje: serve para gerar energia, para irrigação, para saneamento, navegação, turismo e para a geração de energia. Então, quando começa a ter pouca água e usar essa água em energia elétrica, os demais usos são prejudicados, o que causa também muito problema na economia. Assim, a térmica na base gerenciaria melhor o reservatório. O segundo benefício é reduzir a volatilidade do preço da energia. Hoje, quando a ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) despacha a energia, despacha primeiro da hidrelétrica. Quando a hidrelétrica está vazia, ele despacha tudo, as baratas e as caras, então os preços vão lá em cima. O terceiro benefício é que poderia continuar expandindo a oferta da energia eólica e solar sem abrir mão da garantia de suprimento. Então, a térmica na base serviria como uma espécie de bateria virtual para a eólica e para a solar. O desafio que a gente tem é o de construir essa matriz mais equilibrada. Se não, qual o perigo? Por que não tivemos mais crises de energia ao longo desses vinte anos, não ocorreram outros racionamentos como o que ocorreu lá em 2001? Porque há 10 anos que a economia brasileira não cresce ou cresce abaixo de 1%. Segundo, São Pedro tem sido até camarada, tem mandado uma chuvinha. Só não foi camarada em 2014/2015 e não está sendo camarada agora em 2021.
BRASIL ENGENHARIA - Por que o país não evoluiu nessas matrizes. Por lobby ou falta de planejamento?
ADRIANO PIRES - Eu acho que é falta de planejamento. O governo se deixou levar muito por esse lobby ambiental, da eólica, da solar, como se o Brasil já não tivesse uma matriz limpa. O Brasil, por causa
Adriano Pires
da água, talvez sempre tenha sido o país com a matriz mais limpa do mundo. E acho que tem agentes da cadeia que também se beneficiam com isso, por exemplo, comercializador de energia ganha dinheiro quando se tem muita volatilidade no preço, então também é muito beneficiado, mas não é culpa do comercializador. E também existe uma má vontade, uma lenda no Brasil com esse negócio de térmica. Tem muita gente no Brasil que confunde térmica a gás com térmica a óleo. O gás também é fóssil, mas é muito mais limpo que o óleo. E é muito mais barato que o óleo. O gás, por exemplo, nos Estados Unidos nos últimos anos, ajudou muito a limpar a matriz elétrica americana porque foram substituídas as térmicas a carvão por térmicas a gás. Então, o que a gente também tem que fazer no Brasil é aposentar “Na base, a térmica essas térmicas a óleo. serviria como uma Não aposentar no sentido de desmontar todas espécie de bateria as térmicas à óleo, tem virtual para a eólica que deixar algumas para alguma eventualidade. e para a solar” Uma térmica a óleo não existe para ligar todo dia, para ligar dois, três meses seguidos. Isso aí é uma anomalia, mas uma anomalia que acontece no Brasil porque a gente tem esse desequilíbrio na matriz. Então, o setor elétrico hoje é refém de variáveis exógenas a ele. O clima, por exemplo, ninguém controla o clima e o clima está cada vez mais louco com essa questão de mudança climática. E também pela questão do crescimento econômico porque se o crescimento econômico acontece, acaba atrapalhando o setor elétrico. Então é uma coisa muito doida, porque o setor elétrico não pode ser um obstáculo à retomada do crescimento. Agora, os bancos estão anunciando uma retomada do crescimento. Tem banco falando em crescer mais de 5% e eu acho que esse risco hídrico que o Brasil está vivendo vai prejudicar muito essa retomada. Primeiro, pode faltar energia. Segundo, mesmo que não falte energia, a tarifa vai ficar muito cara esse ano inteiro. Então, essa tarifa cara vai acabar aumentando a inflação e inflação alta é uma dificuldade para a retomada de crescimento econômico.
BRASIL ENGENHARIA -Ainda tem como contornar essa crise no curto prazo?
ADRIANO PIRES - No curto prazo, temos três coisas a fazer. A primeira é o que o governo já está fazendo, que eu acho que já deveria ter começado em março/abril, que é tarifa mais cara, bandeira vermelha nível II, que entrou a partir de primeiro de junho. E também o PLD (Preço de Liquidação das Diferenças), o preço da energia transacionada bem alta no teto, que são os 530 reais o megawatts-hora (MWh), que é para você poder despachar todas as usinas não hidráulicas. E a terceira coisa é rezar.
BRASIL ENGENHARIA - E no médio e longo prazo, há outros modelos de geração viáveis?
ADRIANO PIRES - O cenário ideal é colocar a térmica a gás, como eu já falei antes, e diversificar a matriz, pois quanto mais diversificada é a matriz, menor a chance de haver falta de energia. Por exemplo, resíduo sólido, lixo, que já começa a gerar energia no Brasil. É ruim? Não, é ótimo. É o que eu falo, não existe energia ruim. O ruim é não ter energia. A tarifa de energia mais cara é porque você não tem energia. Então, o que pode acontecer? Corte de carga, que é bem provável que aconteça no segundo semestre e isso é péssimo. Nos Estados Unidos, na Europa não tem nobreak; nobreak é coisa de país onde a qualidade da energia não é boa.
BRASIL ENGENHARIA - Dentro deste cenário qual o papel das hidrelétricas no Brasil?
ADRIANO PIRES - Tem um papel importante. Mas o que tinha que construir em hidrelétrica no Brasil já foi feito. Poderia fazer uma hidrelétrica na região do Amazonas, mas por questões ambientais isso é muito difícil. A nível de hidrelétrica, o que ainda tem um potencial grande para ser feito é o que a gente chama de PCH, que são pequenas centrais hidrelétricas. Ali na região do centro-oeste tem um potencial grande para fazer isso. Mas a tendência é que a importância da hidrelétrica reduza ainda mais na matriz elétrica brasileira, como já vem acontecendo.



BRASIL ENGENHARIA - E a energia nuclear? A participação desse modelo no Brasil hoje é pequena e há um receio sobre o uso desse modelo.
ADRIANO PIRES - Sim. A energia nuclear tem papel importante na transição energética, assim como “Eu acho que toda o gás natural, e é muito fonte de energia importante no combate à mudança climática. tem qualidade, Apesar de usar como toda energia é boa; combustível o urânio, diferente dos demais o ruim é não ter fósseis, a energia nuclear energia”é de baixo carbono e não contribui diretamente para as emissões de gases de efeito estufa. Então, é uma fonte limpa frente às fósseis e tem um histórico de segurança favorável. É uma fonte que também não tem a questão da sazonalidade ou intermitência, como a eólica e a solar. Agora em abril, quando foi realizado o Leaders’ Climate Summit, a Cúpula de Líderes sobre o Clima, convocada pelo governo norte-americano, a energia nuclear entrou em discussão pela sua contribuição para reduzir as emissões globais. Nesse momento, não somente no Brasil, mas mundialmente, a energia nuclear pode contribuir pela redução de emissões em prol do clima global, ao mesmo tempo em que garante a resiliência do sistema elétrico, que dará suporte à retomada das economias pós-pandemia. E o histórico de segurança da energia nuclear em comparação com os meios tradicionais de geração nos deixa tranquilos. Os projetos de reatores nucleares atualmente disponíveis são baseados em tecnologias maduras e comprovadas.
BRASIL ENGENHARIA - E a produção própria de energia? Também é uma grande tendência.
ADRIANO PIRES - O mundo está ficando cada vez mais eletrificado. Ninguém vive hoje sem eletricidade. E a eletricidade pode ser gerada de diversas formas e gerada pelo próprio consumidor, que é o que a gente chama de setor de geração distribuída. Em uma casa, você pode ter os painéis solares e até mudar a sua rede se você começar a produzir mais do que você consome. O biogás, por exemplo, também é uma tendência se for gerar para uma fazenda, por exemplo, a própria energia que ela consome.
BRASIL ENGENHARIA - Quais os parâmetros para decidir se você deve investir na geração própria?
ADRIANO PIRES - A questão é o valor da sua conta de luz. Se você investe em um painel solar, tem que fazer a conta do recurso disponível para fazer esse investimento e quanto tempo vai demorar para pagar aquele painel solar abatendo da conta mensal. Hoje, por exemplo, o solar está crescendo no Brasil na geração distribuída, mas ele está crescendo de uma maneira distorcida porque lá atrás foi feito um subsídio grande para o solar e ele continua hoje, quando você não precisa mais. Hoje, quando se coloca painel solar na sua casa ou quando constrói uma fazenda solar para levar para uma rede de supermercado ou farmácia, se não paga a linha de transmissão, nem transporte, nem a distribuição, nem determinados encargos. Aí, na realidade, fica muito barato e há um pay back muito rápido do investimento. Mas, por exemplo, eu que não tenho um painel solar na minha casa vou pagar muito mais caro a minha conta de luz. Então, esse subsídio hoje do solar é um subsídio que eu chamo de Robin Hood (um herói mítico inglês, um fora da lei que roubava da nobreza para dar aos pobres) às avessas porque é o pobre subsidiando o rico, porque pobre não tem dinheiro para investir em painel solar.
BRASIL ENGENHARIA - Como a energia solar e a eólica são intermitentes, qual a solução para o melhor uso dessas energias na matriz brasileira?
ADRIANO PIRES - Hoje, as baterias para armazenar essa energia são muito caras e nós somos um país pobre. E nossa tarifa de energia já é muito cara, então não dá para financiar bateria, por isso que a gente tem que ter uma transição com gás natural, onde o gás funcione como se fosse uma bateria virtual. O Brasil tem certa universalização no uso de energia, mas o consumo per capita ainda é muito baixo. Como o mundo tem ficado cada vez mais eletrificado, eu tenho colocado o seguinte: qual é hoje o objeto que você não consegue viver sem? A tomada. Não é o celular, não é o computador. Se você está hoje num aeroporto – que hoje está mais vazio por causa da pandemia, mas antes da pandemia você via muita gente procurando uma tomada para abastecer computador, celular, e não tinha para atender todo mundo.
BRASIL ENGENHARIA - E qual sua opinião sobre a política atual do governo para a energia elétrica?
ADRIANO PIRES - O governo atual errou no planejamento, como errou a Dilma, como errou o Temer. Agora, nesse momento ele está fazendo o que pode fazer mesmo, que é aumentar a tarifa e ligar tudo quanto é usina que não é hidráulica e rezar. Não tem muita opção.


Transformação digital e mais fiscalizações são metas do Crea-SP
“um dos nossos principais desafi os é a continuidade da prestação de serviços relevantes para a sociedade, com uma fi scalização efi ciente que resulte em mais profi ssionais habilitados à frente das atividades técnicas, com maior segurança para a população”, afi rma o engenheiro vinícius Marchese, que iniciou este ano seu segundo mandato consecutivo como presidente do Crea-sP (Conselho Regional de Engenharia e agronomia do estado de são Paulo). Maior conselho de fi scalização de exercício profi ssional da américa latina e um dos maiores do mundo, o Crea-sP tem hoje cerca de 350 000 profi ssionais e 95 000 empresas registradas. anualmente, recebe cerca de 25 000 novos registros. O órgão tem a meta de alcançar 200 000 fi scalizações este ano. até o início de agosto, já haviam ocorrido 105 000 ações, o que representa 95% do que foi realizado em todo o período de 2020. “Quando assumimos, o Conselho possuía baixos índices de fi scalização em comparação aos Creas de outros estados. Entendemos que, por se tratar de um conselho com mais de 350 000 profi ssionais registrados, precisávamos assumir a dianteira, tornando são Paulo uma referência”, informa Marchese em entrevista à revista BRASIL ENGENHARIA. a transformação digital é outra grande frente do Crea-sP, que já conta com um novo site, mais dinâmico, responsivo e interativo, e um novo portal de serviços, com previsão de lançamento neste semestre, além de ter a tecnologia como grande aliada nas suas ações de fi scalização. “Considero que um dos maiores desafi os é a transformação digital, pois começa de dentro, por parte das pessoas. É uma mudança que acontece a partir da maneira de pensar e o nosso propósito é transformar a cultura do Crea-sP, sempre apoiados nas novas ferramentas tecnológicas, entendendo as demandas e acompanhando a evolução dos setores profi ssionais”, analisa Marchese. segundo ele, essa transformação digital tem cinco vertentes: a gestão transparente e colaborativa, a fi scalização digital, serviços mais ágeis e inteligentes, a capacitação profi ssional e a conexão com empresas e governos. Recentemente, o órgão também fi rmou um protocolo de intenções com Ministério da Ciência, Tecnologia e inovação (MCTi) para incentivar a formação e capacitação de profi ssionais da área tecnológica em todo o estado de são Paulo. “Com isso, promoveremos iniciativas conjuntas para estimular a tecnologia e a inovação”, informa Marchese.


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Vinícius Marchese
Presidente do Crea-SP
OCrea-SP tem a função de fiscalizar, controlar, orientar e aprimorar o exercício e as atividades profissionais nas várias modalidades da engenharia, agronomia e geociências, além das atividades dos tecnólogos.
Os agentes fiscais do Conselho, lotados em doze regiões administrativas, realizam pesquisas internas e externas, além das diligências de rotina nas cidades onde atuam. Essas diligências são feitas em frota própria de veículos, equipados com tecnologia de monitoramento e processamento de dados de última geração.
Nas diligências, são visitadas obras de empresas privadas ou de órgãos públicos, para verificação de responsabilidade técnica pelos serviços executados. Além de obras, são feitas visitas periódicas às próprias empresas da área tecnológica, geralmente para verificação da documentação de registro e de responsabilidade técnica.
Segundo a legislação vigente, a responsabilidade técnica sobre obras e serviços nas áreas citadas só pode ser atribuída a profissionais habilitados com registro no órgão.
Este ano, o Conselho foi ativo para barrar a tramitação de Proposta de Emenda à Constituição nº 108, de 2019, que pretendia transformar os conselhos profissionais em pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que atuam em colaboração com o poder público, retirando seu poder e tornando facultativo o pagamento de anuidade.
“Uma medida como essa tem um impacto negativo tanto para o profissional quanto para a sociedade, pois fragiliza um sistema criado para garantir a presença de profissionais habilitados para desempenhar atividades que são de caráter técnico”, afirma Marchese. Ele justifica que a fiscalização do exercício profissional reafiscalização do exercício profissional realizada pelo Conselho impede que leigos ocupem posições que devem contar com profissionais habilitados e com a devida competência técnica.
A seguir, confira e entrevista completa com o presidente do Crea-SP, Vinícius Marchese, graduado em engenharia de telecomunicações pela Universidade de Taubaté, com especializações em universidades como Mackenzie, Dublin Business School e Univesp. Com mais de 15 anos de carreira, atua no mercado de engenharia, construção civil e agronomia.
– O que os profissionais de engenharia devem esperar do mercado de trabalho? E o que o mercado espera desses profissionais?
“O mercado de trabalho exige muito mais do que se aprende na universidade. Por este motivo, é preciso que os profissionais da área tecnológica se especializem e estejam preparados para essa realidade. As habilidades técnicas, as hard skills, são as capacitações e formações essenciais para todos os profissionais. Porém, a exigência atual é muito maior, chegando às soft skills, que são outras aptidões indispensáveis aos profissionais e estão ligadas às capacidades pessoais. Essas soft skills não são identificadas em cursos, mas no dia a dia do trabalho, tratando-se da capacidade de liderança, ética, habilidades de comunicação, espírito de equipe e flexibilidade. É preciso desenvolver esse know-how para alcançar boas colocações no mercado.”
– O Crea-SP tem alguma ação voltada para os profissionais em início de carreira?
“O Crea-SP Jovem é o nosso braço no tocante aos profissionais em início de carreira e recém-formados. Trata-se de uma comissão permanente, criada para estreitar as relações do Conselho com os estudantes, contribuindo na formação dos futuros profissionais, apoiando movimentos empreendedores e discutindo a ética profissional. Nossa Comissão de Relações Públicas (CRP) também desenvolve um importante trabalho de apresentação do Conselho aos formandos da área tecnológica, por meio de palestras ministradas em instituições de ensino de todo o Estado. Além disso, também procuramos debater o futuro e o papel social das profissões abrangidas pelo Sistema Confea / Crea / Mútua.”
– E quais as ações voltadas para a inclusão, como de mulheres, pessoas com deficiência, negros e terceira idade?




“Estamos avançando nesses temas, tão caros à sociedade, e que trazem uma importante diversidade para as ações desenvolvidas no âmbito do Conselho. O Crea-SP instalou recentemente o Comitê Gestor do Programa Mulher, que tem como objetivo desenvolver iniciativas para alcançar a equidade de gênero no Conselho.
Outra iniciativa importante é o trabalho desenvolvido por nossa Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA) para a informação, sensibilização e capacitação dos profissionais da área tecnológica para atuarem corretamente e garantir a acessibilidade ao meio físico nos ambientes por eles produzidos, favorecendo o acesso da sociedade como um todo e em especial aqueles com deficiência ou mobilidade reduzida, o que inclui também os idosos.”
– Ao ser reeleito, no fim do ano passado, o senhor afirmou em uma entrevista que a sua prioridade era ouvir o profissional. Isso foi feito? Qual o resultado desse trabalho e o que está sendo feito a partir dessa iniciativa?
“Todas as nossas ações são pensadas a partir do profissional, ou seja, trazemos o profissional para o centro das nossas decisões. Nesse sentido, realizamos um workshop com a participação de profissionais convidados, para que pudessem contribuir com a elaboração do nosso novo portal

de serviços, que está em desenvolvimento. Também incluímos profissionais convidados em nossos comitês multidisciplinares, caso do recém-instalado Comitê para aprimoramento da fiscalização. Assim, conseguimos ter uma visão ampliada, agregando as opiniões de quem está lá na ponta e utiliza os nossos serviços.
Além disso, é preciso destacar que em todas as vertentes o foco é o processo de transformação digital do Crea-SP, que visa revolucionar a nossa forma de trabalhar e prestar serviço para os profissionais e a sociedade. Temos cinco pilares da transformação digital: a gestão transparente e colaborativa, a fiscalização digital, serviços mais ágeis e inteligentes, a capacitação profissional e a conexão com empresas e governos. O portal de serviços faz parte desse amplo projeto, que é responsável também por entregas como o novo site do Conselho, a carteira profissional digital, a implantação do chatbot e a possibilidade de pagamentos via Pix.
Em outra frente, investimos na ampliação e no acesso aos nossos canais de comunicação e atendimento, pontos que estão presentes em todas as nossas pesquisas. Há uma demanda enorme por um bom atendimento e acolhemos as percepções dos profissionais para melhorar nosso suporte nesse sentido. Recebemos um reforço importante com a contratação, por licitação, da empresa telefônica. Nossos atendimentos foram ampliados, tanto em horário quanto em número de atendentes, proporcionando mais agilidade e eficiência para o público.
Teremos quatro fases de implantação até dezembro e entre as principais vantagens está a possibilidade de escalar os atendimentos não só em volume, mas também em canais. Além dos meios já utilizados pelo Conselho, como telefone, e-mail, chatbot (a Minerva já disponível em nosso site), chat humano e SMS, implementaremos também o atendimento por meio de WhatsApp e Telegram. Com essa solução robusta, solucionamos a demanda por atendimento, que aumentou consideravelmente na pandemia.”
– Quais as prioridades da sua nova gestão?
“Temos duas prioridades importantes que balizam nossas iniciativas: a fiscalização, razão de existir do Crea-SP, e a transformação digital do Conselho. Com a fiscalização, temos avançado em todo Estado ao adotar forças-tarefas, um modelo que deu certo e nos proporciona mais assertividade de ações ao estipular uma região ou atividade específica para atuação dos agentes fiscais.
No sentido da transformação digital, temos feito uma série de entregas, entre elas constam o lançamento de um novo site, mais dinâmico, responsivo e interativo, a implementação da nova carteira profissional digital, um documento que fica disponível no celular dos profissionais, ao alcance de um toque. Também entregaremos o novo portal de serviços, “Temos prioridades que deve ser lançado ago ra no segundo semestre. - importantes que
E ainda há o encontro balizam nossas dessas duas frentes: a fiscalização com a transforiniciativas: a mação digital, pois temos fiscalização e a buscado aliar a tecnologia às nossas ações de transformação fiscalização, o que nos digital”trouxe resultados consistentes ao longo da nossa gestão no Crea-SP. Além de focarmos em forças-tarefas, seguimos planejamentos anuais de fiscalização, realizados em conjunto com as Câmaras Especializadas, responsáveis por dar um norte e apontar as prioridades para uma atuação mais certeira da nossa Superintendência de Fiscalização. Contamos ainda com as Comissões Auxiliares de Fiscalização (CAFs). Com essa integração de trabalho, conseguimos mapear, identificar e fiscalizar as atividades técnicas, considerando as particularidades de cada região do Estado ou segmento profissional.”
– Qual o balanço que o senhor faz da sua primeira gestão, de 2017/2020?
“É um saldo positivo, sem perder de vista o que precisamos fazer. Mas, temos conquistas e iniciativas fundamentais que têm se consolidado em nossa gestão. Quando assumimos, o Crea-SP possuía baixos índices de fiscalização em comparação aos Creas de outros estados. Entendemos que, por se tratar de um Conselho com mais de 350 000 profissionais registrados, precisávamos assumir a dianteira, tornando São Paulo uma referência. Considero que estamos cumprindo esse papel. Conseguimos alcançar importantes marcas, a exemplo das ações de fiscalização que registraram crescimento de 300% no período de 2015 a 2020, com as implementações citadas anteriormente. Somente no primeiro semestre de 2021 já efetivamos 105 000 ações de fiscalização, o que representa 95% do que foi realizado em todo o período de 2020. A nossa meta é realizar 200 000 ações de fiscalização neste ano e estamos confiantes de que a cumpriremos. Desta forma, garantimos a presença de profissionais habilitados para desempenhar atividades técnicas nas áreas das engenharias, agronomia e geociências em todo estado de São Paulo. Isso representa uma salvaguarda tanto para a empresa que contrata como para a sociedade, de que pessoas com a devida competência atuarão nesses segmentos, afastando leigos de atividades que exigem a presença de um profissional registrado. E para o próprio profissional, que tem o respaldo de um Conselho atuante.”
– Quais os principais desafios do Crea-SP hoje?
“Creio que um dos principais desafios seja a continuidade da prestação de serviços relevantes para a sociedade, com uma fiscalização eficiente que resulte em mais profissionais habilitados à frente das atividades técnicas, o que representa mais segurança para a população. Considero que um dos maiores desafios é a transformação digital, pois começa de dentro, por parte das pessoas. É uma mudança que acontece a partir da maneira de pensar e o nosso propósito é transformar a cultura do Crea-SP, sempre apoiados nas novas ferramentas tecnológicas, entendendo as demandas e acompanhando a evolução dos setores profissionais. Outro grande desafio já citado aqui é sobre a representatividade dos profissionais, para que passem a acompanhar as ações do Crea-SP e participem mais ativamente do dia a dia do Conselho. Por exemplo, temos iniciativas que auxiliam os profissionais em capacitação, com cursos realizados em parcerias com as associações, e até uma pós-graduação feita em conjunto com a Unesp e a Univesp, com foco em empreendedorismo e inovação. Nesse sentido, fornecemos as ferramentas necessárias para que os profissionais continuem se atualizando e se especializando, que são exigências do mercado de trabalho.”
– O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Crea-SP fizeram um acordo de cooperação. Qual a abrangência e o que ele significa na prática?
“O protocolo de intenções firmado com o MCTI visa incentivar a formação e capacitação de profissionais da área tecnológica
em todo o estado de São Paulo. Com isso, promoveremos iniciativas conjuntas para estimular a tecnologia e a inovação. A partir da celebração do protocolo, o Crea-SP e o MCTI empenham esforços para regular a cooperação técnica-científica nas áreas de atuação das engenharias, agronomia e geociências. Após a assinatura, passamos para uma segunda fase, que trata da elaboração de planos de trabalho para atender às disposições do acordo.”
– Quais os principais desafios da categoria diante da situação econômica e da desindustrialização do país?
“O desafio é imenso em todos os aspectos. O Brasil precisa de mais investimentos em tecnologia, inovação e ciência. Só assim poderemos fazer frente à crise econômica, que é mundial, e não está restrita ao nosso país. Contudo, os países desenvolvidos seguem reforçando os investimentos nessas áreas, de modo que conseguem um posicionamento a nível global, tendo um retorno positivo, ainda que a crise tenha se acentuado com a pandemia. Nós estamos na contramão desses exemplos. Entendo que um dos caminhos para revertermos o cenário de desindustrialização e da situação econômica atual é justamente aumentar os investimentos nessas áreas tão importantes, caso das engenharias, agronomia e geociências. Há preocupação em mudar esse cenário, a exemplo do protocolo de intenções firmado entre Crea-SP e MCTI para, justamente, estimular a formação e capacitação desses profissionais.”
– Qual a importância do profissional de engenharia e do tecnólogo no mercado de trabalho, como eles se complementam?
“Essas categorias são de vital importância para o país, pois são necessárias em todos os setores e capazes de alavancar a produção e a economia. Por trás de tudo, há um profissional habilitado pelo Crea-SP: da tecnologia empregada pelo agronegócio àquela utilizada para a construção e operação de uma aeronave. É inevitável que haja uma simbiose entre essas profissões, pois são complementares em diversos aspectos. Nos eixos tecnológicos, abrangem ambiente, controle e processos industriais, infraestrutura, produção alimentícia, produção industrial e recursos naturais – ou seja, não é possível separar as engenharias das atividades exercidas pelos tecnólogos.”
– Qual o futuro do profissional de engenharia no Brasil? Há tendência de crescimento da necessidade de mão de obra, em que áreas da engenharia?
“Temos uma perspectiva otimista quanto ao futuro da engenharia em nosso país, especialmente com a chegada do 5G, que promete revolucionar os principais setores econômicos. São avanços que representam aumento da produtividade, melhoria contínua dos processos e redução de custos. Isso significa não só a abertura de portas para a inteligência artificial, para a robótica na saúde, na construção civil, no campo, mas também a melhoria da qualidade dos serviços e uma otimização dos custos.
É uma tecnologia que traz aos nossos processos produtivos mais sustentabilidade, inteligência, eficiência e educação. E a engenharia é parte fundamental desse processo e será impactada em todas as suas áreas, uma vez que há uma gradativa demanda do mercado por profissionais da área tecnológica. Um estudo da consultoria McKinsey aponta que nosso país terá um gargalo de um milhão de profissionais de tecnologia até 2030. Esse deficit iminente é explicado quando olhamos para a formação da nossa mão de obra, pois formamos apenas um profissional de tecnologia para cada 11 advogados e administradores. Nos Estados Unidos e na China essa proporção é de três a cinco advogados e administradores formados para cada engenheiro.
Esse cenário se agrava, ainda, com a crise sanitária da Covid, que impacta diretamente a economia mundial. O processo de retomada demandará profissionais cada vez mais especializados e que possam fazer a diferença. Somos a principal engrenagem econômica do país. Nesse contexto, o Crea-SP cumpre o seu dever ao contribuir cada vez mais com a capacitação, desenvolvimento e valorização dos profissionais, investindo em parcerias com as instituições de ensino. A exemplo da já citada pós-graduação realizada em parceria com a Unesp e a Univesp. Da primeira turma, foram criadas 237 startups, que representam uma contribuição e avanço relevantes para o setor tecnológico.”
– Os profissionais de engenharia estão preparados para atender às demandas da indústria 4.0?
“Uma das principais características do profissional 4.0 é a sua flexibilidade. A capacidade de adaptação às novidades tecnológicas, competências emocionais e uma formação multidisciplinar. Estas são aptidões fundamentais para a adequação a esse novo mercado. A engenharia é dinâmica, exigindo cada vez mais que os profissionais estejam inseridos nesse contexto de transformação. O maior impacto continua sendo a necessidade de atualização constante.”
– A categoria recebe a devida valorização? O que esperar do mercado de trabalho nos próximos anos?
“O mercado de trabalho está cada vez mais exigente, buscando profissionais extremamente especializados e que estejam em sintonia com as crescentes mudanças tecnológicas. O que percebemos é que os profissionais precisam se reciclar com uma maior frequência e nesse ponto, temos os cursos em parceria com instituições de en-





sino e associações, conforme mencionado.
Estamos comprometidos com a defesa dos profissionais, para que tenham condições dignas de trabalho, como fizemos agora com a mobilização de todo o Sistema Confea/Crea e Mútua para barrar o avanço da Medida Provisória nº 1.040/2021, que tramitava no Congresso Nacional. A MP revogava o Salário-Mínimo Profissional das Engenharias e da Agronomia, disposto na Lei 4.950-A/1966. Emitimos posicionamento contrário e iniciamos uma atuação contundente no Senado e na Câmara para que esse dispositivo fosse derrubado. Conquistamos essa importante vitória para os profissionais, em acordo firmado com o governo Federal. As justificativas técnicas do sistema já haviam sido acolhidas pelo Senado Federal e a vitória foi concretizada na Câmara com votação favorável aos profissionais da área tecnológica. Quem ganha com isso são os profissionais, valorizados em suas atuações e respaldados por um sistema unido e representativo em prol de suas categorias.”
– O presidente da República solicitou a retirada de tramitação da Proposta de Emenda Constitucional nº 108/2019 no Congresso Nacional. A proposta feita pelo próprio governo previa a transformação dos conselhos profissionais das entidades privadas e tornava facultativo o registro profissional de atividades regulamentadas. Qual seria o impacto de uma medida como essa para o profissional e para a sociedade?
“Uma medida como essa tem um impacto negativo tanto para o profissional quanto para a sociedade, pois fragiliza um sistema criado para garantir a presença de profissionais habilitados para desempenhar atividades que são de caráter técnico. Sendo assim, tais atividades precisam ser realizadas por pessoas registradas em um Conselho. Desta forma, garantimos a proteção e preservação da vida. É de responsabilidade deste Conselho a fiscalização do exercício profissional para que leigos não ocupem posições que devem contar com tais profissionais habilitados e com a devida competência técnica.
O Sistema Confea / Crea / Mútua atuou incansavelmente durante todas as etapas, participando de audiências públicas e com parlamentares para sensibilizá-los sobre a importância da manutenção da natureza jurídica dos conselhos profissionais como autarquias públicas.”
– O senhor se manifestou favorável a uma readequação do Sistema Confea/Crea e Mútua. Por que e o que já foi feito na sua atual gestão?
“Há uma lacuna temporal que precisa ser superada, pois nossa legislação data das décadas de 1950 e 1960. Precisamos atualizar essa legislação e já existe um trabalho em conjunto com o Confea na busca por esse entendimento, para que possa beneficiar todo o sistema. Precisa- “O Crea-SP e o mos adequar e revisar os MCTI empenham nossos procedimentos. Os normativos não estão no esforços para mesmo tempo da socieda de, do mercado de traba regular a lho e das próprias relações cooperação nas profissionais. Precisamos de mais dinamicidade para áreas de atuação que tenhamos mais efetivi- das engenharias” dade em nossas ações.
Nosso objetivo é desenvolver esse trabalho conjunto de modernização, o que inclui a legislação. A integração com todos os Creas é essencial para alcançarmos essas mudanças, que representam uma desburocratização dos serviços, assim começaremos a atender o profissional de maneira mais eficiente.”
– O senhor também manifestou a intenção de transformar o Crea-SP em uma plataforma de serviços? Como será essa plataforma? Qual sua importância?
“O nosso portal de serviços está em desenvolvimento e estamos empenhados em trazer os profissionais para colaborarem com esse processo. A importância é unificar todos os serviços disponibilizados pelo Crea-SP em um único local, de maneira mais acessível e intuitiva.
Em março, tivemos um workshop para elaborar esse portal com a participação de profissionais convidados, como já explicado. Tivemos muitas ideias apresentadas, que foram tratadas com metodologias de mercado, levando em consideração a experiência do usuário, e depois encaminhadas ao setor de desenvolvimento. De lá, surgiu a implementação do Chatbot, a Minerva, que já está disponível em nosso site, para facilitar a interação com os profissionais. Com a validação do usuário, criamos um protótipo e em seguida, faremos o lançamento dessa plataforma, prevista para esse segundo semestre. O objetivo de utilizar essa metodologia multidisciplinar é justamente elaborar uma plataforma de serviços que atenda às necessidades dos usuários, melhorando a experiência de todos.”
– Como é a relação do Crea-SP (um dos conselhos maiores do mundo) com as demais regionais no Brasil? Há uma relação de parceria, ações conjuntas?
“Temos contato direto com todos os conselhos e trocamos experiências e informações para melhorar a atuação em todo o país. O objetivo é sempre fortalecer as categorias profissionais. Tivemos, recentemente, um reconhecimento importante durante o Encontro Nacional de Fiscalização (Enafisc) sobre o modelo adotado de forças-tarefas. O exemplo de São Paulo foi apresentado aos demais Creas para que a nossa metodologia pudesse ser replicada em outros Estados. Também recebemos a visita do Crea do Espírito Santo, que buscava entender o nosso processo de transformação digital para implementar melhorias por lá. Assim, compartilhamos as nossas práticas e o uso da tecnologia em nossas atividades cotidianas.”
– E com entidades de outros países? Há uma troca em prol da categoria?
“As tratativas para acordos internacionais são capitaneadas pelo Confea, a exemplo do termo de reciprocidade firmado com a Ordem de Engenheiros de Portugal (OEP). Os engenheiros brasileiros podem obter registro na OEP apresentando apenas a sua carteira profissional e passaporte em uma unidade de atendimento do Crea. Não há necessidade de passar pelo processo de revalidação do diploma. Os moldes desse acordo podem ser replicados em outros países, pois o Confea está em negociação avançada com Angola e Cabo Verde para assinatura de um termo como esse. Outra iniciativa extremamente importante é com o Mercosul. Depois de décadas de debates, em junho deste ano foi consolidada a proposta de acordo base para os países fundadores do bloco – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Desta forma, serão promovidos acordos bilaterais para a atuação recíproca de profissionais da agrimensura, agronomia, arquitetura, geologia e engenharias. Os trabalhos devem ser fundamentados em acordos de trabalho válidos por dois anos, prorrogáveis por até dois anos. A expectativa é que esses acordos bilaterais sejam incrementados de forma similar ao termo de reciprocidade firmado com a OEP.”




CRISE HÍDRICA E O SETOR ELÉTRICO: OS LADOS OPOSTOS DA MESMA MOEDA
Se a crise hídrica coloca o Brasil em suspense sobre a possibilidade de um apagão de energia, desfalcando o bolso dos consumidores e prejudicando a economia, a espera pela aprovação do novo marco do setor e o crescimento dos investimentos em energias renováveis mostram que o país ainda pode ser modelo para o mundo
POR REGINA TROMBELLI “Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. A letra da música de Jorge Ben Jor poderia ter sido escrita em homenagem às múltiplas possibilidades de geração de energia elétrica no Brasil. Afinal, aqui temos abundância de sol, vento, gás natural, água (apesar da seca atual) e até mesmo urânio – citando somente os mais populares. Também não faltam soluções de engenharia, locais ou trazidas de fora. E tem quem afirme que tão pouco falta dinheiro para investimento. Ou seja, poderíamos ter fontes diversas, intermitentes ou não, em maior equilíbrio e ainda privilegiar as de emissão zero de carbono, contribuindo para diminuir a crise climática mundial. Mas, apesar de ter uma das matrizes geradoras mais limpas do mundo, a pouca diversidade das fontes faz o Brasil correr risco de apagão de energia pela terceira vez em 20 anos, ao viver sua pior crise hídrica nos últimos 91 anos. Por que o país chegou, mais uma vez e em tão curto espaço de tempo, a um problema já conhecido? “Falta planejamento dos governos anteriores e do atual”, afirma Reginaldo Medeiros, presidente executivo da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia






DA MESMA MOEDA
Se a crise hídrica coloca o Brasil em suspense sobre a possibilidade de um apagão de energia, desfalcando o bolso dos consumidores e prejudicando a economia, a espera pela aprovação do novo marco do setor e o crescimento dos investimentos em energias renováveis mostram que o país ainda pode ser modelo para o mundo


(Abraceel), bem como outros líderes e especialistas no setor, a exemplo do Adriano Pires, entrevistados nesta edição. O resultado dessa falta de planejamento, estratégia e ação já é sentida no bolso do brasileiro com a subida do preço do recurso. Em julho, a inflação acelerou 0,96%, sob efeito de reajustes da energia elétrica, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para 2022, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) projetou uma alta de 16,7% nas tarifas, que vai refletir no aumento de custos. “Energia está em todo produto e quanto mais barata for, melhor para a economia do país. Uma vez que a energia é cara para quem congela o frango, para quem cria o frango, a gente vai pagar o frango mais caro”, exemplifica Élcio Pasqualucci, coordenador do Grupo Técnico de Energia (GTE) da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi). Como reforçam os especialistas, executivos e diretores de entidades do setor entrevistados pela BRASIL ENGENHARIA nas próximas páginas, o risco de apagão e a energia cara são empecilhos ao crescimento econômico. Ao mesmo tempo, se a economia crescer, aumenta o risco de apagão ou racionamento.
Amatriz elétrica brasileira mudou nos últimos anos, mas continua bastante dependente das hidrelétricas em 61%, segundo dados do Ministério das Minas e Energia (MME). Há 20 anos, essa participação era de 85%.
O Plano Decenal de Expansão de Energia - PDE 2030 aponta para uma redução da participação da hidroeletricidade para 49%, bem como o aumento da participação das renováveis não hídricas.
Atualmente, entre as fontes renováveis, a eólica já corresponde a 11% da capacidade instalada de geração; a fotovoltaica, 2%; e a biomassa, 8,7%, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
Novas medidas já foram aprovadas desde o ano passado para impulsionar o setor de energia no Brasil, mas o Projeto de Lei 414/2021, já aprovada pelo Senado e aguardando votação na Câmara dos Deputados desde fevereiro, é o novo marco regulatório do setor, capaz de abrir o mercado, criar a portabilidade da conta de luz, gerar competitividade, baratear a tarifa e impulsionar investimentos.
O ministro Bento Albuquerque (MME) já pediu publicamente que os deputados votem o projeto de lei. “Esse importante projeto de lei vai permitir que a gente tenha uma expansão equilibrada do mercado livre”, afirmou.
O setor elétrico tem 2 tipos de contratação: o ACL (Ambiente de Contratação Livre) que permite a escolha do fornecedor e a negociação de condições contratuais, que é o foco da proposta citada; e o ACR (Ambiente de Contratação Regulada), no qual o consumidor compra energia diretamente das distribuidoras e no qual estão pequenas e médias empresas e a maioria dos consumidores residenciais.
Com a aprovação do novo marco, o governo federal espera alcançar a modernização do setor elétrico brasileiro “a partir de pilares como a ampliação do mercado livre, a maior flexibilidade setorial, a adequada alocação de custos e riscos e a racionalização dos incentivos”, como informa o engenheiro Christiano Vieira da Silva, secretário de Energia Elétrica do MME.
A principal medida para enfrentamento de situações de escassez hídrica no longo prazo consiste na diversificação da matriz elétrica e na expansão da transmissão.
Enquanto essas medidas não são possíveis, outras têm sido tomadas como aumento do uso de energia elétrica proveniente de usinas termelétricas (movidas a partir da queima de gás, óleo diesel, carvão, biomassa e fonte nuclear), que são uma geração mais cara, cujo custo é repassado para o consumidor final. Em alguns momentos, as térmicas têm gerado até um terço da energia consumida no país.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informa que em outubro do ano passado, diante da previsão da ocorrência climática, o tema foi levado ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que deliberou pelo despacho das térmicas alocáveis no Sistema Interligado Nacional (SIN), sem que haja vertimento de geração hídrica.
Em nota técnica, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) fez projeções até novembro de 2021, fim do período seco e início do período úmido, com dois cenários e ambos afirmam que não há risco de desabastecimento “embora o estudo indique que até o fim de 2021 a situação permanecerá sensível”.
As duas projeções, considerando o período de julho a novembro de 2021, são: - “Na primeira simulação, a previsão de acionamento do parque termelétrico é mais conservadora, não sendo consideradas no planejamento todas as unidades indisponíveis – por motivos diversos como manutenção, falta de combustível ou litígio. Nesta hipótese, há também flexibilização dos limites de transmissão, novos pedidos de flexibilização para as bacias de algumas usinas hidrelétricas e a maximização do despacho térmico fora da ordem de mérito.” - “No segundo cenário, teríamos uma maior participação das térmicas, considerando também a importação de energia dos países vizinhos e o despacho térmico fora da ordem de mérito. Além disso, não haveria alterações nas flexibilizações já em vigor e, também não estão contempladas mudanças nos limites de transmissão definidos conforme procedimentos de rede”.
MEDIDAS DO GOVERNO FEDERAL Christiano Vieira da Silva é engenheiro eletricista graduado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Desde 24 de maio de 2021, lidera a Secretaria de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), em substituição a Rodrigo Limp, que assumiu a presidência da Eletrobras. Antes de ir para o MME, Christiano Vieira liderava a SuFOTO: DIVULGAÇÃO perintendência de Regulação dos Serviços de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), posição que ocupava desde janeiro de 2015. Entre setembro e novembro de 2020, deu sua contribuição atuando como diretor substituto da ANEEL. À frente da SEE, Christiano Vieira Christiano Vieira da Silva, lidera a Secretaria tem participado de Energia Elétrica do Ministério de Minas e ativamente das Energia (MME) medidas para enfrentamento da situação de escassez hídrica que afeta os principais reservatórios das hidrelétricas da região sudeste e centro-oeste do País, bem como das discussões relativas à modernização do setor elétrico brasileiro. Nesta entrevista à BRASIL ENGENHARIA, ele enfatizou, ao detalhar as medidas para conter uma crise de energia, que o governo federal não trabalha com a hipótese de racionamento.
- Quais os principais desafios para a geração de energia elétrica no Brasil?
“São os desafios associados à transição energética. O Brasil é um país líder em termos de matriz elétrica limpa. Nossa matriz é cerca de 85% renovável. Estamos expandindo a participação das renováveis não hídricas. Essas fontes têm se tornado cada vez mais competitivas. Contudo para se ter uma operação segura é preciso ter geração controlável, isto é, que não dependa das condições climáticas para produzir. Por isso a diversificação da matriz elétrica é tão importante. Ao mesmo tempo precisamos alocar os custos da confiabilidade proveniente dessa geração

controlável de modo isonômico entre todos os consumidores. Esse é um assunto presente na discussão sobre a separação de lastro e energia, no âmbito da modernização do setor elétrico. O PL 414/2021, especificamente, será o instrumento legal para endereçamento desse tema, que desencadeará mudanças mais amplas para os diversos segmentos do setor elétrico e para a sociedade.”
- E para a estruturação do setor?
“Após a sanção presidencial da lei 14.182/2021, que permite a capitalização da Eletrobras, destaco que o principal projeto do setor em discussão no parlamento é o PL 414/2021. Com a sua aprovação, de fato caminharemos para a modernização do setor elétrico brasileiro, a partir de pilares como (i) a ampliação do mercado livre; (ii) a maior flexibilidade setorial; (iii) a adequada alocação de custos e riscos; e (iv) a racionalização dos incentivos. São desafios que precisam ser endereçados, e serão refletidos, por exemplo, através da maior liberdade para contratação de energia para atendimento ao mercado regulado, aderência entre a formação de preço no mercado de energia e a operação do sistema elétrico, separação entre lastro e energia, dentre tantos outros. É preciso avançar na discussão sobre a ampliação do mercado livre e como se dará o planejamento da expansão da geração e da transmissão nesse contexto. Outra discussão importante diz respeito à operação do sistema com uma participação cada vez maior de recursos energéticos distribuídos e o papel da distribuidora de energia elétrica nesse cenário. Todas essas questões fazem parte do escopo da modernização do setor elétrico.”
- O Brasil enfrenta sua terceira grande crise de energia/ hídrica em pouco mais de 20 anos, em função da dependência das hidrelétricas. Por que esse problema persiste?
“Vemos um aumento de eventos extremos associados a mudanças climáticas no mundo. Vivemos uma conjuntura inédita em termos de hidrologia. Trata-se da pior afluência no histórico de 91 anos. Justamente por ter 85% da matriz elétrica renovável, o sistema elétrico brasileiro é naturalmente suscetível às variações nos padrões de temperatura, precipitação, vento e insolação que podem afetar a oferta de energia. A principal medida para enfrentamento de situações de escassez hídrica no longo prazo consiste na diversificação da matriz elétrica e na expansão da transmissão. Esse processo de diversificação já está em curso. A participação da hidroeletricidade na matriz elétrica brasileira já foi muito mais expressiva. Representava 85% da capacidade instalada em 2001. Hoje corresponde à 61%. A matriz elétrica atual é bem mais diversificada. Atualmente a fonte eólica representa cerca de 11% da capacidade instalada de geração. O Plano Decenal de Expansão de Energia - PDE 2030 aponta para uma redução da participação da hidroeletricidade para 49%, bem como o aumento da participação das renováveis não hídricas. Com relação à transmissão, tínhamos cerca de 70 000 km de redes de transmissão em 2001. Hoje temos mais do que o dobro, cerca de 165 000 km de rede. E não para por aí. O PDE 2030 prevê o acréscimo de mais 37 000 km ao longo de 10 anos. Uma rede de transmissão robusta assegura o escoamento da energia elétrica onde quer que ela seja produzida para os locais de efetivo consumo.”
- Quais as principais ações do governo para lidar com a crise atual? O país conseguirá atravessar o ano mesmo sem falta de energia, mesmo em um cenário de crescimento?
“O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico realiza o acompanhamento permanente das condições de atendimento eletroenergético. Também foi criada a Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG), com poder para estabelecer medidas emergenciais para a otimização do uso dos recursos hidroenergéticos e para o enfrentamento da atual situação de escassez hídrica, a fim de garantir a continuidade e segurança do suprimento eletroenergético no país. A CREG é composta pelos ministros de Minas e Energia, Economia, Infraestrutura, Agricultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, sendo presidida pelo Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Desde outubro de 2020, quando se constatou o atraso na configuração da estação chuvosa, temos acionados geração termelétrica de modo antecipado e importado energia dos países vizinhos sempre que possível com o objetivo de preservar água nos reservatórios. Reduzimos as vazões em usinas importantes do sistema para preservar os estoques de água nos reservatórios de cabeceira. Alteramos as regras para importação de energia e para a geração de usinas termelétricas sem contrato com o objetivo de facilitar a mobilização desses recursos para atendimento à carga do sistema.
Esses são apenas alguns exemplos de ações em curso. Outras estão em processo de finalização. Trabalhamos com um cenário conservador para o planejamento da operação do sistema de modo a assegurar o atendimento à carga em qualquer hipótese. Não trabalhamos com a hipótese de racionamento.”
- E para 2022?
“Além das medidas conjunturais, há um conjunto de medidas de caráter estrutural que também estão em curso e devem produzir efeitos no médio prazo. Cito como exemplo os estudos para revisão dos parâmetros de aversão a risco inseridos na cadeia de modelos computacionais utilizados para o planejamento e programação da operação eletroenergética e para formação de preço no mercado de energia. Com essa revisão, será possível indicar o acionamento de geração termelétrica com mais antecedência, preservar mais água nos reservatórios e obter um menor custo total de geração para o sistema. Essa nova parametrização terá vigência a partir de janeiro de 2022. Destaco também o processo de revisão das garantias físicas das usinas hidrelétricas, que permitirá identificar a efetiva contribuição dessas usinas para o atendimento à carga do sistema levando em conta os parâmetros técnicos mais atualizados, em especial a hidrologia.”
- Como o atual governo desenha/ projeta o modelo energético brasileiro?
“Encontra-se em curso um amplo debate sobre a modernização do setor elétrico brasileiro. Esse movimento de modernização vem no sentido de agregar a necessária visão de futuro na qual estejam todos contemplados em prol da maior eficiência do setor elétrico. Dessa maneira, o aprimoramento de tecnologias de geração de energia elétrica, o desenvolvimento de novos arranjos de mercado, além do empoderamento do consumidor, adquirindo posição ativa em suas escolhas, tem norteado de maneira
significativa as alterações normativas do setor. Ao final, esperamos potencializar ainda mais a atratividade em se investir no setor elétrico brasileiro, e que os aprimoramentos realizados se traduzam em menores custos aos consumidores de energia elétrica, em base sólida e transparente, fruto do trabalho construído ao longo dos últimos anos.”
- Quais os benefícios que a desestatização da Eletrobras trará? Especialistas apontam que a medida traz riscos como a perda da soberania no setor, aumento da conta de luz entre outros.
“A capitalização fortalecerá a capacidade de investimentos da Eletrobras em energia renovável e novas tecnologias, trazendo competitividade para a empresa, em linha com a modernização do setor elétrico e com a transição energética global. Não há riscos de perda da ‘soberania no setor’.
A função do planejamento setorial continua com o Ministério de Minas e Energia na condição de Poder Concedente. A regulação e a fiscalização do setor elétrico encontram-se sob a competência da ANEEL. No que concerne aos usos múltiplos da água, a regulação e fiscalização é de responsabilidade da ANA. É importante lembrar que a maior parte dos investimentos no setor elétrico é de origem privada e que esse arcabouço regulatório é aplicado da mesma forma para empresas estatais e privadas. Dentre os benefícios esperados com o processo de capitalização, destacamos que cerca de 29 bilhões de reais serão destinados ao alívio da Conta de Desenvolvimento Energético em benefício dos consumidores. De igual modo, o excedente de Itaipu será utilizado para reduzir o impacto na tarifa dos consumidores cativos. Serão destinados 8,75 bilhões de reais para ações de revitalização de bacias hidrográficas e redução estrutural dos custos de geração na Amazônia Legal, com investimentos em geração limpa e renovável, abrangendo ações nas regiões norte, sudeste e nordeste.”
- Como o governo pretende vencer o desafio de levar energia a um menor custo e a mais brasileiros?
“A aprovação da Lei 14.120/2021 trouxe importantes medidas para a redução das tarifas de energia nos próximos anos. Há previsão de retirada gradual dos subsídios para geração oriunda de fontes de energia incentivadas. Estabelece a possibilidade de criação de mecanismos competitivos para a descontratação, total ou parcial, de contratos de comercialização de energia elétrica no ambiente regulado. Permite a contratação de geração na modalidade de reserva de capacidade, com os custos rateados entre todos os consumidores do sistema interligado nacional, sejam eles livres ou cativos, na proporção do seu consumo líquido.
Por sua vez, a aprovação da Lei 14.182/2021, referente à capitalização da Eletrobras, também possibilitará importante reduções nas tarifas dos consumidores finais. Estima-se uma redução tarifária total entre 5% e 7%. Por fim, destacamos que o Ministério de Minas e Energia tem desenvolvido suas atividades sempre pautado no aumento da competitividade e da atratividade para novos investimentos buscando custos menores de geração e de transmissão, na redução dos encargos tarifários e no aumento da eficiência do setor elétrico, em benefício de todos os brasileiros.”
- Há metas e projetos para redução do número de domicílios sem luz?
“Atualmente, temos 448 000 domicílios e aproximadamente 2,24 milhões de pessoas sem acesso à energia elétrica, localizados nos estados da região Norte, Bahia e Piauí. Desse total, 228 000 famílias se encontram em localidades passíveis de atendimento com extensão de rede convencional, que estão programadas para serem atendidas pelo Programa Luz para Todos. Os contratos para execução dessas obras já foram autorizados e têm previsão de execução até o final de 2022. Outras 219 000 famílias se encontram em regiões remotas nos estados da Amazônia Legal, cujo atendimento será feito pelo Programa Mais Luz para a Amazônia, com a instalação de sistemas de geração solar off grid. As metas iniciais do Programa Luz para Todos em cada estado já foram publicadas pela ANEEL e cabe ao MME a definição das metas e prazos de atendimento. Para o Programa Mais Luz para a Amazônia, o Ministério já autorizou os contratos para o período de 2021/2022, para o atendimento a 30 000 ligações, e aguarda o levantamento detalhado, a ser realizado pelas distribuidoras, para a definição das próximas metas.”
ENERGIA CARA O Brasil está diante da maior crise energética dos últimos 91 anos, a população sofre com alto custo do recurso, que também se tornou um entrave à retomada do crescimento econômico. Este é o resumo do cenário que a Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi) aborda na entrevista à FOTO: DIVULGAÇÃO BRASIL ENGENHARIA. A Abemi é uma entidade civil que congrega empresas de engenharia de projeto, construção civil, montagens industriais, fabricantes de equipamentos e manutenção e logística. O engenheiro e empresário Élcio Pasqualucci, coordenador do Grupo Técnico de Energia Élcio Pasqualucci, engenheiro e empresário, (GTE) da entidade, coordenador do Grupo Técnico de Energia acompanha de per(GTE) da Abemi to todos os acontecimentos no setor e destaca que a questão energética no país tem vários entraves, todos ligados a questões regulatória, além da instabilidade política no Brasil. Pasqualucci destaca a questão da precificação dos diferentes tipos de energia como uma das questões a ser resolvida. “Dentro da análise de risco, tem a questão de como vai ficar o pagamento de uma usina solar para a transmissora ou para a distribuidora de energia. Isso não está claro ainda, porque não foi resolvida a questão”, exemplifica o coordenador do GTE. A seguir, acompanhe os principais trechos da entrevista, na qual Pasqualucci avalia o risco de um apagão de energia, a Medida Provisória 1031/2021 (chamada MP da Eletrobrás) e outras medidas em andamento no país. SEGURANÇA LEGISLATIVA E REGULATÓRIA - “Para que tenhamos novas fontes geradoras e novos empreendimentos, nós temos que ter segurança legislativa e regulatória para tanto. Esse é um



grande problema. Temos a lei 14.120*, que abre para o governo ajudar na precificação dos atributos ambientais de cada fonte geradora. Por exemplo, se tivermos uma fonte de energia, uma usando carvão e a outra, biogás, como eu faço a comparação para que essas fontes consigam ser competitivas de maneira justa, considerando, por exemplo, todos os acordos que o Brasil tem na COP26?
Isso é, tentando respeitar as regras ambientais, principalmente na geração de gás de efeito estufa, como fica a questão da precificação de todas essas fontes? Toda essa precificação está em andamento. E a situação regulatória legislativa impacta diretamente na decisão de investimento. É isso que mais preocupa.
À Abemi e suas associadas, obviamente, interessa que haja projeto e obras, mas, acima de tudo, buscamos a competitividade, transparência e compliance. Visamos à competitividade da tarifa de energia para o usuário, seja doméstico ou industrial. E só vamos conseguir isso se tivermos transparência nas regras. Sem energia barata, a situação econômica do Brasil tende a piorar.
Há interesse por parte dos técnicos do governo em resolver essas questões (de regulação), com certeza. O exemplo disso é o esforço que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) está realizando para sugerir ao Ministério das Minas e Energia uma série de regras, que vão precisar de regulação, que vai precisar que o Ministério regule ou passe para o legislativo criar a regulação completa para tal.
O caminho dos agentes do setor é canalizar o que a gente chama de consenso do que é necessário para o país pela EPE, que é a responsável pelo planejamento energético do país.
Eu vejo muita preocupação dos técnicos, do ministério, da EPE, com isso. E há um caminho para ser colocado.” *A Lei 14.120, sancionada em março de 2021, entre outras regulamentações, altera regras do setor elétrico para conter tarifas, define compensações para seca, cobranças para consumidores e reorganiza estatais do setor nuclear.
ELETROBRAS - “A MP da Eletrobras trouxe desconfiança no setor porque há uma série de interesses paroquiais que foram colocados dentro de uma legislação para capitalização, inclusive capitalização da própria Eletrobras, que tem uma série de reservatórios e que precisa de investimento de capital. Aí aparece o que a imprensa chamou de ‘jabuti’. E isso também não colabora com o setor.
A MP 1031/2021 foi aprovada na Câmara dos Deputados em 21 de junho, com 17 emendas do Senado, e possivelmente será sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro com os ‘jabutis’. Dentre eles, está a obrigatoriedade de construir termelétricas a gás natural – considerado um combustível de transição – em locais muito distantes da fonte de gás natural e do mercado consumidor. Num primeiro momento, essa obrigatoriedade beneficia o setor de engenharia porque será necessário construir usinas e gasodutos, para levar o gás natural até elas, além de redes de transmissão, para distribuição de energia. Mas, a médio prazo, este é um benefício transitório, que não favorece o Brasil, pois precisamos reduzir o custo da energia para estimular a economia.”
A ENGENHARIA NO SETOR ELÉTRICO - “A engenharia, que é o nosso tópico, ela entra em tudo na questão energética. O ambiente regulatório, de negócios, não é só uma questão legal ou econômica e financeira, esse tema é estratégico para o Brasil. Temos que ter fornecimento de energia competitiva, dentro dos parâmetros de sustentabilidade, aos quais somos signatários.
Então, a nossa estratégia precisa da engenharia em tudo, da prancheta, para fazer projetos, da construção, no comissionamento, na manutenção, na opera-
CONHEÇA OS DADOS DA ENERGIA EÓLICA DO BRASIL
ção, em tudo. E para isso a engenharia brasileira se prepara no que a gente chama de indústria 4.0, que inclui a engenharia e construção 4.0, que exige uma visão holística do empreendimento.
A engenharia 4.0 entende o empreendimento como um todo. Vou dar um exemplo que normalmente não passa por nós engenheiros. O Brasil é muito rico em fontes geradoras de energia. Na comparação dessas fontes de energia, para a gente poder precificá-los, por exemplo, em relação ao crédito de carbono, ao mercado de carbono, a solução não é só modelo legal ou econômico, ela passa por modelos de engenharia, para poder entender o que são essas tecnologias e o futuro dessas tecnologias.
A engenharia colabora nesses meios necessários para gente avançar de forma estruturada, científica, baseado na engenharia, para avançar nos modelos de negócios de energia no Brasil.
A engenharia também absorve as famosas tecnologias. Na área de energia brasileira e mundial, costuma-se falar nos 3Ds: o primeiro é a descarbonização (ou a neutralidade de carbono); o segundo é descentralização (fontes de energias não só centralizadas, mas distribuídas. E o Brasil é rico nisso. Nós conseguimos gerar energia vegetal, de resíduo sólido, de palha, dentro do agronegócio); o terceiro e muito importante é a digitalização, porque a transformação digital entra na engenharia 4.0, que ajuda a engenharia a ter essa visão holística. As fontes geradoras também estão se digitalizando e o setor elétrico também está se digitalizando, principalmente nesse caso da geração distribuída. Então, a digitalização entra em tudo.
A engenharia é a responsável pela absorção e o uso dessas tecnologias desde o projeto até as condições de modelagem nos negócios. As empresas de engenharia industrial, de infraestrutura ou pesada, de engenharia para infraestrutura energética estão mobilizadas nessa modernização, usando novas ferramentas, discutindo os próximos passos. Vemos um grupo no Ministério das Minas e Energia discutindo as políticas de inovação e tecnologias junto com o governo. Então, essa mobilização das empresas é real, constante e necessária.
A ideia das empresas de engenharia hoje é aumentar sua competitividade não só para atender os projetos brasileiros, mas para atender os estrangeiros, especialmente na América Latina.
Essa modernização está sendo mobilizada tanto entre as empresas, através da Abemi, que tem 57 anos, como junto aos agentes públicos que colaboram nessa visão.
A gente tem dificuldades políticas, polarizações, mas a posição das empresas de engenharia é cada vez mais clara: a gente quer competitividade no setor energético brasileiro, porque sem essa competividade a gente não tem energia limpa, segura, barata, com qualidade para nossa economia.”
MERCADO LIVRE E A VARIEDADE DE FONTES - “O mercado livre avançou bastante. Ele é o responsável por boa parte da geração de energia. Há uma série de medidas regulatórias para o mercado livre que tem avançado e permitido projetos de geração distribuída e algumas empresas fazerem programas próprios de energia chamando de energia sustentável, que é um apelido de marketing importante para empresas no Brasil, mas também mundiais, principalmente depois que o (Joe) Biden assumiu a presidência dos EUA.
O Brasil tem essa vantagem de ter muito sol e muito vento, mas são intermitentes, então a segurança viria das termelétricas. O Brasil também tem muito gás do pré-sal. A ideia seria utilizar o gás associado do petróleo, que está sobrando, e usá-lo como fonte de transição. O gás da costa brasileira; não do Piauí, como estão querendo colocar.
O grande consumidor é o sudeste. Quem está sofrendo mais é o sudeste por causa da seca. De uma maneira simples, a aposta é nessas fontes renováveis, com a segurança das termoelétricas.”

QUAL A PARTICIPAÇÃO DA ENERGIA EÓLICA NO BRASIL?



AGRONEGÓCIO - “Há muitas outras fontes do agronegócio que na nossa opinião não estão sendo bem contempladas pelo planejamento do governo federal, por falta de melhor entendimento. Culturalmente, nossos técnicos da área não têm conhecimento suficiente dessa potência nossa no agro em termos de geração de energia. Essa é mais uma barreira cultural e técnica que vai acabar sendo rompida. Está faltando uma visualização melhor de outras fontes energéticas, porque é muito importante.”
CRISE HÍDRICA - “Se houver crescimento da economia, certamente vai faltar energia. Mas ouvindo os especialistas em hidrologia, vai depender desse gerenciamento de crise do governo. Existe um risco de faltar energia em alguns horários de pico. Existem maneiras de trabalhar com grandes consumidores para mudar horário de uso. Há coisas para serem feitas para evitar o apagão, o racionamento, mas realmente é difícil apostar, pois estamos no limite.
Tudo está acontecendo no mundo em energia e o Brasil em uma crise. E a engenharia é fundamental para colaborar na solução de tudo isso. Inclusive na questão da falta de energia, pode-se ter obras emergenciais para ajudar na questão da vazão e água, de atender alguma região por meio de obras emergenciais. Tudo emergencial é tudo obra cara. De qualquer forma, o nosso bolso vai ser afetado.”
FOTO: DIVULGAÇÃO
O BOLSO DO CONSUMIDOR - “Uma vez que a energia é cara para quem congela o frango, para quem cria o frango, a gente vai pagar o frango mais caro. Não é só a conta de luz da nossa casa, quando formos ao supermercado, vamos pagar de novo esse aumento. Isso é inevitável.
É falta de planejamento dos governos passados e atual, mas temos que avançar e é nosso dever como cidadão brigar por essa melhoria.
Há vários projetos grandes de energia solar e eólica saindo no Brasil. Mas quem tem dinheiro para in-
vestir nisso e esperar retorno no longo prazo, fica observando esse vai e vem de instabilidade, inclusive política e as coisas atrasam. E atraso para a indústria é dramático. Tem muito projeto, tem muita coisa por vir e a gente precisa de uma certa estabilidade nesse país para as coisas anReginaldo Medeiros, presidente darem.” executivo da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) RISCO BRASIL - “Dinheiro tem, sobrando até. O problema é a análise de risco que há de se fazer com relação a isso. Dentro da análise de risco, tem a questão de como vai ficar o pagamento de uma usina solar para a transmissora ou para a distribuidora de energia. Isso não está claro ainda, porque não foi resolvida a questão, está sendo resolvida, deve ser resolvida. A fonte de energia precisa pagar o fio, como chega a energia na pon-

BENEFÍCIOS DA ENERGIA EÓLICA DO BRASIL
ta para o cliente doméstico, industrial. Isso não está resolvido. Há os diferentes lobbies trabalhando nisso, mas temos um bom tempo pela frente para resolvermos tudo.
Os entraves são vários, mas todos ligados à questão regulatória e de instabilidade. Esses são os maiores. Os entraves de custos, de tecnologia de materiais estão sendo destravados no Brasil inteiro. Tem cada vez mais acesso a equipamentos muito melhores e eficientes, equipamentos mais modernos, desde a geração até a subsestação, nós temos acesso a tudo isso. Precisamos de planejamento e o ambiente de risco que vivemos no Brasil.
A mensagem é: a engenharia é fundamental em todos os aspectos.”
ENERGIA LIVRE E O DESPACHO DAS TÉRMICAS
A Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) é uma associação que defende a livre competição de mercado como instrumento de promoção da eficiência e segurança do abastecimento nas áreas de energia elétrica, etanol e gás natural, bem como de estímulo ao crescimento das negociações de créditos de carbono. Ela atua junto à sociedade em geral, formadores de opinião, órgãos de governo e outras organizações nessa área.
Em 2021, a atenção da Abraceel, assim como de boa parte do setor, se volta para a votação da PL 404/2021, que já passou pelo Senado e aguarda votação na Câmara dos Deputados desde fevereiro deste ano.
A aprovação da PL dará a portabilidade da conta de luz, independente do consumo e valor, ao consumidor residencial ou industrial, a exemplo do que aconteceu com a portabilidade da conta de telefone em 1997 com a aprovação da Lei Geral das Telecomunicações.
Para o setor, além de representar a alforria do consumidor, vai levar à abertura do mercado, trazendo mais investimentos, especialmente em fontes de energia alternativa, barateamento do recurso e melhora na economia do País.
“É importante que haja uma abertura maior no mercado para que, a exemplo de outros países, os consumidores possam participar do mercado livre, como acontece nas maiores economias do mundo. Na Europa, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, México, o consumidor, residencial inclusive, é totalmente livre para escolher o seu fornecedor”, explica Reginaldo Medeiros, presidente executivo da Abraceel.
A associação mostra, por meio de pesquisas, que o brasileiro quer poder escolher onde comprar sua energia e considera, hoje, o preço do recurso muito alto. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em 2021, a cada 10 brasileiros, oito considera o preço da energia elétrica caro ou muito caro. A pesquisa também mostrou que 81% dos brasileiros desejam ter liberdade de escolher sua fornecedora de energia, sendo que a maioria trocaria o fornecedor pelo alto custo cobrado atualmente.
Nessa entrevista, Medeiros avalia as condições da PL 404 e da crise hídrica, fala das vantagens da liberdade de escolha para o mercado e para o consumidor final.
FALTOU PLANEJAMENTO PARA EVITAR A CRISE ATUAL? - “É uma discussão que passa muito ao largo, uma discussão técnica. Há uma percepção de que modelos computacionais que despacham as usinas e formam os preços não estão representando corretamente a situação eletroenergética no país porque representam uma situação em que
CAPACIDADE INSTALADA E NÚMERO DE PARQUES


nós éramos muito mais hidrelétricas e menos renováveis e, mais além, tínhamos um volume de chuva maior que o que temos hoje.
Para entender a lógica da concepção desses modelos: é aproveitar ao máximo a água e as possibilidades de intercâmbio entre as regiões, para que a gente aproveite ao máximo a água para evitar o despacho de térmica. Mas quando precisa despachar térmica, deve ser a partir da mais cara para a mais barata.
Então, isso tudo é representado por modelos matemáticos, probabilístico que pega uma série histórica de chuvas, uma série histórica de vazões. Então, pode ser que o modelo atual não esteja representando muito bem o sistema e tenda a esvaziar os reservatórios. Essa é uma questão que está em audiência pública no Ministério das Minas e Energia nesse momento. E uma das alternativas que tem é mudar os parâmetros desse modelo, para que despache as térmicas mais rapidamente do que é despachado hoje. Esse é um dilema do despacho das térmicas.”
LIBERDADE DE ESCOLHA - “Hoje, somente consumidores acima de 500 quilowatt-hora, que pagam uma fatura acima de 90 000 reais, tem acesso ao mercado livre. Isso limita o mercado livre a 33% do mercado nacional.
É importante que haja uma abertura maior no mercado para que, a exemplo de outros países, os consumidores possam participar do mercado livre, como acontece nas maiores economias do mundo. Na Europa, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, México, o consumidor residencial inclusive, é totalmente livre para escolher o seu fornecedor. É a portabilidade da conta de luz. O setor elétrico não quer isso porque ele está deitado no monopólio. Quem compra energia para você é o governo. Ele faz leilões públicos a partir das declarações das distribuidoras, contrata essa energia de geradores. A distribuidora compra vários contratos de diferentes geradores e comercializadores e vende para você.
Agora, o governo está comprando mal até agulha de hospital, quem dirá energia para 86 milhões de lares brasileiros. Com o mercado livre, você se livra do governo para vender energia para você.
E quem vai vender energia para o consumidor final? Mais de 1 500 empresas que atuam no mercado. Só comercializadoras são 400. O restante é de geradores, que também atuam parcialmente como comercializador.
Esse é o mercado de energia do qual os grandes consumidores já participam. O que acontece hoje é que essa liberdade só é dada aos grandes consumires. E
nós queremos que essa liberdade seja dada a todos os consumidores.” ECONOMIA - “Nos últimos 18 anos, as empresas que foram para o mercado livre e passaram a gerir sua própria energia tiveram uma economia de 30% no preço, comparando com o de uma distribuidora. Outra vantagem: se você é um consumidor que tem uma preocupação grande com o futuro do planeta, você “O setor elétrico pode escolher pela energia renovável. não quer isso Outro, que não tem essa consciência, que ele só tem a preocupação com o (a abertura) preço, pode escolher também. porque ele está Outra questão é que com a pandemia as distribuidoras bateram na deitado no porta do governo e disseram: ‘Eu vou à falência, por favor, me arranja um monopólio” empréstimo’. E quem vai pagar esse empréstimo é o consumidor. Daí eu pergunto: você preferia ter pago sua conta de luz com juros ou sem juros? Mas o consumidor comum não tem essa escolha. Quem fez a escolha foi o governo, que endividou a distribuidora.” VANTAGENS PARA O MERCADO - “Para o mercado, o poder de escolha cria pressão competitiva para ter energia mais barata e tanto o consumidor residencial se beneficia, como quem produz. E energia está em todo produto e quanto mais barata for, melhor para a economia do país. Mercado livre é principalmente energia incentivada: eólica e solar e depois biomassa. Mas tem todo tipo de energia. Há muitos projetos para o mercado livre, com empresas de todos os tamanhos.”

SEGURANÇA JURÍDICA TRARÁ INVESTIMENTO
O Centro de Liderança Pública (CLP) é uma organização suprapartidária que trabalha por um Estado Democrático de Direito que seja mais eficiente no uso de seus recursos e com respeito à coisa pública, buscando engajar a sociedade e desenvolver líderes públicos.
Tadeu Barros, diretor da ONG, enfatiza dois pontos para o crescimento e melhoria do sistema elétrico no Brasil: a matriz energética diversa e sustentável e a abertura comercial desse mercado.
Para Barros, o PL 414/2021, que representa um novo marco no setor de elétrico, vai trazer muitos benefícios para o país, como segurança jurídica e, portanto, maior tranquilidade para investimento em infraestrutura, gerando emprego e renda.
“No novo marco, eu gero competitividade, abrindo o mercado de energia e fazendo com que o preço caia e a qualidade possa melhorar. Então, no fim do dia eu tenho melhores serviços para a população e serviços mais baratos porque eu estou gerando essa competição. Um grande exemplo que eu gosto de dar é que a abertura de mercado no setor elétrico deve gerar algo muito similar ao que a gente viu na década de 1990 com o serviço de telecomunicação, quando tivemos uma redução de custo e melhora na tecnologia. Nós podemos até achar que o nosso serviço de telecomunicação é ruim ainda, mas imagina comparar o serviço atual com o da década de 1990”, compara Barros.
Outro ponto importante desse PL, destaca Barros, é a redução de subsídios para o setor elétrico, estimada em cerca de 22 bilhões de reais para um ano. “Nossa técnica fez algumas simulações do quanto essa economia em subsídios - e ao mesmo tempo o quanto o fomento ao crescimento da economia no setor elétrico geraria - e o resultado foi de mais ou menos um aumento de 0,5% do PIB até 2024. Esse aumento do PIB vem da combinação de redução de gastos do subsídio que o setor elétrico recebe, que são esses 22 bilhões de reais, mais o quanto a economia cresce ao gerar essa competição entre players e liberando o mercado”, avalia.
Sem o PL, a inciativa privada não tem segurança para investir no país, acredita Barros. Formado em administração pública, ele já foi secretário especial do Governo de Alagoas, assessor especial do presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e diretor em áreas de gestão do governo de Minas Gerais.
O CLP publicou uma nota técnica sobre o novo marco do setor elétrico, onde analisa, entre outros fatores, os cinco dispositivos que considera de maior relevância no Novo Marco do Setor Elétrico: “A primeira prioridade a ser observada na discussão da matéria encontra-se no art. 16-A, acrescentado à Lei n° 9.074/1995. O projeto em discussão na Câmara propõe a abertura gradual do modelo comercial de energia elétrica, ao permitir que consumidores com carga inferior a 3.000 kw possam optar livremente pelo fornecedor. O novo dispositivo determina que, decorridos 42 meses da sanção da lei, todos os consumidores, independentemente da carga ou tensão utilizada, estarão aptos a escolherem o fornecedor de energia no mercado livre.
O mercado livre consiste em um ambiente no qual vendedores e compradores podem negociar entre si o fornecimento de energia elétrica, de acordo com as regras do setor. Por sua vez, o mercado tradicional de energia, que opera no ambiente de contratação regulada, não prevê a possibilidade de o consumidor escolher o fornecedor de energia. Hoje, esse fornecedor é necessariamente a empresa que detém a concessão da área onde se encontra o consumidor cativo. A mudança proposta no projeto de lei, portanto, amplia as opções disponíveis ao consumidor e prioriza a competitividade, o que estimula a redução de preços e o aumento de eficiência dos fornecedores de energia elétrica.
De acordo com a redação do projeto aprovado no Senado, além disso, é prevista a redução dos subsídios concedidos às empresas do setor elétrico, estimados em 22 bilhões de reais em 2020. Fontes incentivadas de energia, como eólica, solar, termelétricas à base de biomassa e pequenas centrais hidrelétricas consomem cerca de 3,6 bilhões de reais em subsídios atualmente, o que produz distorções significativas [1]. A maior parcela desses valores é arcada por consumidores que fazem uso do mercado regulado de energia elétrica, responsável pelo atendimento da população de baixa renda. A proposta em trâmite na Câmara dos Deputados, dessa maneira, visa à redução dessas distorções, por meio da substituição dos subsídios por mecanismo que valorize os benefícios ambientais dos empreendimentos de fontes incentivadas de energia, conforme a redação dos novos §§1°-C a 1°-F do art. 26, Lei n° 9.427/1996.
Adicionalmente, os artigos 16-C e 16-D, acrescidos à Lei n° 9.074/1995 pelo Novo Marco Regulatório do Setor Elétrico, permitem o compartilhamento, entre as distribuidoras, dos custos com a migração de consumidores para o mercado livre. A medida é salutar, uma vez que a expansão do mercado livre e a consequente redução do mercado regulado devem ocorrer de maneira equilibrada, a fim de se evitar que os consumidores cativos subsidiem aqueles que optarem pelo mercado livre.
Neste sentido, o art. 16-C estabelece aos consumidores que migrarem para o mercado livre a obrigação de pagar os custos remanescentes das operações financeiras contratadas para atender à finalidade de modicidade tarifária, mediante encargo tarifário cobrado na proporção do consumo de energia elétrica. O art. 16-D, por sua vez, impõe encargo tarifário a todos os consumidoTadeu Barros, diretor do Centro res, na proporção do consumo de de Liderança Pública (CLP), energia elétrica, para a cobertura a rma que setor elétrico precisa dos custos de sobrecontratação de segurança jurídica das distribuidoras, decorrentes da possível migração massiva dos consumidores cativos para o mercado livre. O quarto tópico do PL 414/2021, que merece atenção, encontra-se na separação entre lastro e energia elétrica. De acordo com a definição do novo art. 3°, §5°, I, da Lei n° 10.848/2004, lastro é a contribuição de cada empreendimento ao provimento de confiabilidade e adequabilidade sistêmica. Em outras palavras, trata-se de uma garantia de bom funcionamento do sistema elétrico, exigida pelo Ministério de Minas e Energia, a ser paga por geradores, distribuidores e consumidores de energia. Tais lastros, além de dar mais confiança ao consumidor, poderão facilitar obtenção de financiamentos no setor financeiro privado. Ocorre que, pelas regras atualmente vigentes, o lastro e a energia elétrica são negociados como um produto unificado, o que pode resultar na precificação equivocada e gerar distorções graves. De fato, os consumidores cativos, atendidos pelas distribuidoras, arcam com a maior parcela dos custos do lastro. O projeto, portanto, promove alterações legislativas que visam ao reequilíbrio desse encargo entre os consumidores dos mercados livre e regulado. O quinto ponto prioritário do Novo Marco Regulatório do Setor Elétrico, presente no novo art. 1°-A da Lei n° 12.783/2013, modifica o regramento de repartição da renda hidráulica, valor devolvido pelas hidrelétricas aos consumidores do mercado regulado. O dispositivo criado pelo PL 414/2021 admite a prorrogação dos contratos de concessão de energia hidrelétrica, uma única vez, pelo prazo de até 30 anos, de forma a assegurar a continuidade, a eficiência da prestação do serviço e a modicidade tarifária. Nessa hipótese, dois terços da renda hidráulica devem ser destinados à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), para a redução da conta de luz dos consumidores, e o outro terço, ao Tesouro Nacional (art. 1°-A, §1°, I e II).”
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FONTES EÓLICAS E FOTOVOLTAICAS CRESCEM, MAS AQUÉM DA CAPACIDADE
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Ainstabilidade jurídica e o baixo crescimento econômico são entraves para que o mercado de energia eólica e solar fotovoltaica no Brasil atinjam seu potencial com maior rapidez. “No caso do Brasil, especificamente, o principal gargalo hoje não é uma questão do setor eólico, mas da economia em geral, que precisa crescer para que haja mais contratação de energia”, destaca Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).
Desde 2019, a energia eólica é a segunda fonte da matriz elétrica brasileira. Em média, no ano passado, 9,97% de toda a geração injetada no Sistema Interligado Nacional veio de eólicas, sendo que elas já chegaram a abastecer 17% do País em momentos de recorde nos meses que fazem parte do período chamado de “safra dos ventos”.
“A energia eólica ainda possui muitas décadas de desenvolvimento e ótimas perspectivas de crescimento”, acrescenta Gannoum.
O ano de 2020 encerrou com 4 bilhões de dólares (20,6 bilhões de reais) investidos no setor eólico, representando 45% dos investimentos realizados em renováveis (solar, eólica, biocombustíveis, biomassa e resíduos, PCHs e outros) no Brasil.
Considerando o período de 2010 a 2020, esse número é de cerca de 37,3 bilhões de dólares. Os dados de investimento do setor são calculados pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF). A seguir, na entrevista à BRASIL ENGENHARIA, a presidente da ABEEólica fala sobre o cenário da energia éolica no Brasil e as perspectivas para o setor.
- Um dos maiores entraves para crescimento da energia eólica, assim como da
FOTO: FLÁVIA VALSANI solar, é a capacidade de armazenamento. Quais as soluções já que as baterias, por exemplo, ainda têm
custo inviável?
“Um dos modelos que estão em discussão são os parques híbridos, com energia eólica e solar juntas, por exemplo. De qualquer forma, o custo da tecnologia de baterias também segue caindo.”
- O que é neces-
Elbia Gannoum, presidente da Associação sário para aumentar Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) o investimento em
energia eólica no Brasil? Segurança jurídica, medidas que diminuam encargos, melhor regulação?
“O Brasil tem um dos melhores ventos do mundo e um potencial enorme. Considerando que o Brasil ainda tem um baixo consumo de eletricidade per capita e o crescimento estimado para o País, a energia eólica ainda possui muitas décadas de desenvolvimento e ótimas perspectivas de crescimento. Sempre que falamos de contratações e do futuro da fonte eólica no Brasil, é importante reiterar esse conceito muito importante: nossa matriz elétrica tem a admirável qualidade de ser diversificada e assim deve continuar. Cada fonte tem seus méritos e precisamos de todas, especialmente se considerarmos que a expansão da matriz deve se dar majoritariamente por fontes renováveis. Do lado da energia eólica, o que podemos dizer é que a escolha de sua contratação faz sentido do ponto de vista técnico, social, ambiental e econômico, já que tem sido a mais competitiva nos últimos leilões. Não temos como saber quanto será contratado nos próximos leilões do mercado regulado, mas o futuro certamente é promissor para a fonte eólica. No caso do Brasil especificamente, o principal gargalo hoje não é uma questão do setor eólico, mas da economia em geral, que precisa crescer para que haja mais contratação de energia.”
- Qual o futuro da energia do Brasil? Qual o futuro da energia eólica no Brasil? Quanto cresceu nos últimos anos e quanto deve crescer nos próximos?
“O futuro da energia será necessariamente renovável e de baixo impacto, porque a crise climática se impõe. No caso do Brasil, podemos dizer que o potencial eólico atual em terra é mais de três vezes a necessidade de energia do país. Hoje, somando todas as fontes de energia (nuclear, hídrica, térmica, eólica e outras), a capacidade instalada do Brasil é da ordem de mais de 160 GW. De potencial eólico, temos estimados cerca de 800 GW. Isso não significa, no entanto, e é bom que se explique isso de forma clara, que o Brasil poderia ser inteiramente abastecido por energia eólica. Há que se considerar algo muito importante: a matriz de geração de eletricidade de um País deve ser diversificada entre as demais fontes de geração e a expansão da matriz tende a se dar por meio de fontes renováveis, dentre as quais está a eólica. A eólica vem crescendo nos últimos anos a taxa de, em média, 2 GWs por ano, mas esse número tem crescido. Um exemplo, quando comemoramos o Dia Mundial do Vento em 2020, estávamos em 16 GWs. Na mesma data, neste ano, estávamos com 19 GWs. Foram 3 GWs de nova capacidade instalada em um ano.”
- Como os modelos energéticos alternativos do Brasil são vistos lá fora? Como o Brasil pode explorar esse conhecimento no exterior?

“Importante explicar que, em relação a outros países, o Brasil é um país que se destaca por já possuir uma matriz elétrica renovável, já que as hidroelétricas são grande parte da matriz. E no caso da eólica também já possuímos um importante destaque. Em 2020, o Brasil manteve a sétima posição no Ranking Mundial de capacidade eólica acumulada elaborado pelo GWEC (Global Wind Energy Council). No ranking que contabiliza especificamente a nova capacidade instalada no ano, o Brasil aparece em terceiro lugar, tendo instalado 2,3 GW de nova capacidade em 2020.”
- Qual a expectativa sobre a regulamentação da eólica offshore e o que ela deve representar para o setor?
“Quanto ao futuro, vale comentar que o Brasil ainda não tem energia eólica offshore, mas isso deve mudar num futuro próximo. Estamos vendo um importante movimento de agências governamentais se mobilizando para avançar nas regulamentações necessárias para que a energia eólica offshore avance no Brasil. A EPE, por exemplo, publicou um roadmap sobre o assunto. Essa publicação é muito importante, porque vem da agência governamental responsável pela pesquisa e planejamento do setor elétrico brasileiro e sinaliza um desejo importante do governo de trabalhar para que o vento offshore possa se desenvolver com segurança no Brasil. O IBAMA, responsável pela supervisão e regulamentação ambiental, tem trabalhado e se estruturado para atender pedidos de licenciamento para a eólica offshore há cerca de dois anos e já analisa mais de 40 pedidos de eólicas offshore. Acredito, portanto, que existe um grande potencial a ser explorado nessa área e sabemos que empresas e governo público estão se mobilizando para desenvolver esse setor que, na opinião da ABEEólica, é muito importante como uma das fronteiras da energia eólica no Brasil.”
TECNOLOGIA FOTOVOLTAICA PODE SER A NÚMERO 1
O setor solar fotovoltaico deve movimentar mais de 22 bilhões de reais de investimentos, o que gerará 144 000 empregos e trará uma arrecadação de 6,7 bilhões de reais para o poder público em 2021, segundo projeção da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar).
A expectativa é de que sejam 4,9 Gigawatts de potência adicionada, o que representa um crescimento de 68% em relação à capacidade instalada, que havia no início do ano.
Até 2050, projetam analistas de mercado, como a Bloomberg New Energy Finance, essa tecnologia deve se tornar a número um em geração de energia elétrica no Brasil e na maioria dos países do mundo.
O presidente executivo da Absolar, Rodrigo Sauaia, aborda na entrevista a seguir como o setor de energia solar fotovoltaica pode contribuir com a economia do país, especialmente na geração de empregos e renda, e as medidas necessárias para a atração de mais investimentos.
Uma das medidas esperadas é o Projeto de Lei 5829 de 2019, aprovado na Câmara dos Deputados em 18 de agosto. O assunto deve retornar agora para o governo federal e o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) terá seis meses para definir as diretrizes e, posteriormente, a Aneel deverá apresentar em outros 18 meses o detalhamento da valoração dos benefícios da mini e microgeração distribuída, base para cálculo da compensação.
- A crise energética atual abrirá caminho para a modernização e maior diversificação da matriz energética brasileira? Como que a solar se beneficiará?
“O Brasil está vivendo a sua pior crise hídrica desde o início dos registros de chuvas, há 91 anos. Então, essa situação é preocupante e ela também sinaliza que a mudança no regime de chuvas não é mais uma questão conjuntural, passou a ser uma questão estrutural.
As chuvas têm vindo de forma mais concentrada, mais intensa, mas por um menor período do ano e isso aumenta a pressão sobre os recursos hídricos, que tem utilidades múltiplas no país. Quer dizer, para além da energia elétrica, o recurso hídrico é usado para uso humano, para irrigação, para criação animal, para atividades produtivas no comércio, na indústria. Ou seja, é um recurso essencial e imprescindível para a sociedade, como também é a energia elétrica.
A matriz elétrica brasileira ainda é muito dependente do recurso hídrico, das águas. Já foi mais dependente no passado; nós chegamos, no início do ano 2000, a ter uma dependência de 85% de água para gerar energia elétrica. Isso já caiu para cerca de 60%, mas ainda é muito. Mais da metade da capacidade de geração de energia elétrica do Brasil vem de hidrelétricas. FOTO: DIVULGAÇÃO ABSOLAR E nesse sentido, diversificar é parte importante da solução porque ajuda diminuir a dependência da água para produzir energia elétrica e diminuir o risco que essas crises hídricas representam para a nossa demanda, suprimento da nossa população. E é importante que a diversificação seja liderada pelas fontes renováveis não hídricas, no caso, que complementam as hidrelétricas, ou seja, energia solar, energia eólica, biomassa, biogás. Essas fontes renováveis são as mais competitivas do país em comparação com fontes fósseis, que além de mais caras são também mais poluentes e levam impactos negativos não só no meio ambiente, mas na saúde das pessoas, o que acaba também levando maior pressão para o sistema de saúde brasileiro, trazendo custos para o sistema de saúde. Então, a diversificação é fundamental.
A energia solar fotovoltaica deverá ser uma das protagonistas nessa diversificação porque é hoje a fonte renovável mais competitiva do Brasil, além de ter a possibilidade de ser contratada pelo governo via grandes leilões de energia, para contratar as usinas de grande porte, que a gente chama de geração centralizada, mas também dado o papel de geração própria de energia solar, geração distribuída nos telhados, nas fachadas de edificações e em pequenos terrenos, gerando energia elétrica com investimentos diretos da população, investimento privado, sem precisar de recurso público e junto do local onde essa energia vai ser
Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar)

consumida, o que ajuda e reduzir perdas, diminui a demanda sobre as linhas de transmissão e com isso traz mais eficiência e eficácia para o sistema elétrico brasileiro.”
- Regulação e burocracia ainda são entraves para o investimento? Como vê essa questão no Brasil em comparação com outros países?
“Para que o Brasil continue avançando e para acelerar essa diversificação renovável da sua matriz, é fundamental que nós tenhamos segurança jurídica e previsibilidade e aí entram dois conjuntos de ações importantes que precisam ser desenvolvidas pelos nossos tomadores de decisão, seja no governo federal, seja no congresso nacional, no legislativo também, em prol desse processo. O primeiro deles é o estabelecimento de um marco legal próprio para geração de energia limpa e renovável.
Esse marco tramita hoje pelo projeto de lei 5829 de 2019, de autoria do deputado Silas Câmara e relatoria do deputado Lafayette de Andrada (o projeto foi aprovado em 18 de agosto, após a entrevista).
E esse projeto de lei vai justamente estabelecer um marco estável, previsível, seguro para que o setor possa avançar, para que os consumidores tenham menor percepção de risco nos seus investimentos em geração própria de energia solar e tenham garantido o direito em lei de gerar e utilizar essa energia limpa e renovável com investimentos próprios e contribua, portanto, nesse processo com mais investimentos, geração de emprego e renda e também movimentação da economia, que traz mais arrecadação para o poder público.
Então, é um círculo virtuoso que contribui para a resiliência da matriz elétrica brasileira com geração de pequeno porte, local e distribuída por todo o nosso país. Também contribui para o desenvolvimento econômico e social.
Por isso, esse projeto de lei 5829, é um sinal importante para sociedade de um caminho de futuro para geração limpa, renovável, que diversifique a matriz elétrica e reduza os riscos da crise hídrica.
E o segundo aspecto importante é justamente o governo, no seu planejamento, ampliar o protagonismo da energia solar fotovoltaica. Dado que ela é hoje a fonte mais competitiva do Brasil, é preciso que o governo também atualize o seu planejamento para ampliar a participação da fonte solar no crescimento da matriz elétrica brasileira, trazendo uma energia elétrica acessível, competitiva limpa e renovável para diversificar a matriz brasileira. Então, as ações junto a leilões e melhorias de processos para conexão desses projetos é importante nas usinas de grande porte, e o marco legal da geração distribuída é fundamental para o crescimento do setor.”
- Qual a perspectiva para o mercado de energia solar no Brasil para os próximos anos?
“A Absolar fez projeções para 2021 para o crescimento do setor solar fotovoltaico no nosso país e a nossa expectativa é de que o setor movimente mais de 22 bilhões de reais de investimentos, o que gerará 144 000 empregos e trará uma arrecadação de 6,7 bilhões de reais no ano de 2021 para o poder público, somando todas as esferas de governo. Isso é um avanço importante em relação ao que o país tem hoje de potência instalada. Esse crescimento vai ser liderado pela geração própria de energia solar, essa geração distribuída, e pela geração centralizada, que são as usinas de grande porte. Ao todo, no ano, nossa expectativa é de que sejam 4,9 gigawatts de potência adicionada, o que representa um crescimento de 68% em relação à capacidade instalada, que havia no início do ano. É um avanço importante, portanto, para o mercado e para o setor.
Esse crescimento da geração própria de energia solar não está desacoplado dos desafios da pandemia, então, naturalmente, este ano nós tivemos ainda reflexos e impactos importantes da pandemia de Covid 19 e isso pode acabar por afetar essa projeção de crescimento. Mesmo assim o ano será um ano importante, em que o setor solar fotovoltaico ajudará a recuperação econômica sustentável do Brasil, atraindo investimentos, gerando empregos de qualidade. Ou seja, contribuindo para que o nosso país consiga, de forma mais rápida e mais sólida, sair da tormenta da crise e já apontar para um caminho de crescimento e retomada da nossa economia.”
- No mercado offshore, o novo marco regulatório terá que impacto?
“A energia solar fotovoltaica é muito versátil e as suas aplicações incluem não apenas grandes usinas solares, mas também sistemas que podem ser instalados nos telhados ou nas fachadas das edificações, aproveitando, portanto, uma área já construída, sem utilizar um metro quadrado sequer de solo disponível. E pode também ser utilizada em cima de superfícies de água.
O mais comum, no caso de energia solar fotovoltaica, e a gente já tem visto projetos desse tipo em desenvolvimento no Brasil, é o que nós chamamos de energia solar flutuante. São flutuadores, estruturas que boiam em cima da água, e nas quais são instalados os equipamentos fotovoltaicos. Essas estruturas podem ser colocadas em cima de reservatórios de hidrelétricas, onde existe uma grande sinergia porque já há toda uma infraestrutura elétrica construída, uma equipe que faz operação e manutenção da usina hidrelétrica e pode acompanhar também a operação e manutenção do sistema fotovoltaico flutuante. Aí você tem sinergias importantes.
E o Brasil tem um potencial muito grande para aproveitar a energia fotovoltaica flutuante porque possui vários e vastos reservatórios de hidrelétricas disponíveis para receberem essa tecnologia.
Outra aplicação é o uso desses sistemas flutuantes em açudes, lagos de propriedades rurais, gerando energia elétrica sem ocupar área agriculturável ou de pastagem, de tal modo que você consiga aí ter uma eficiência produtiva da propriedade maior porque não precisa abrir mão dessas áreas de terreno.
Também existem já projetos no mundo que começam a incorporar essa tecnologia em lagos e no mar. Mas, habitualmente, é mais comum e fácil de acompanhar, controlar, gerenciar esses sistemas em represas, lagos, açudes, em áreas mais internas de reservatórios hídricos disponíveis.”
- Quais os principais entraves hoje para o crescimento da energia solar no Brasil?
“Outro aspecto importante. Um desafio que o setor tem e que precisa ser superado com o apoio das lideranças públicas é a questão tributária. Ainda existe uma carga tributária muito elevada incidindo sobre as matérias primas
dos equipamentos fotovoltaicos, para as empresas que produzem equipamentos fotovoltaicos no Brasil. A carga tributária em cima desses insumos é muito elevada, chega a 40%, 50%, enquanto em outros países do mundo não há essa cobrança e isso acaba prejudicando a competitividade de fabricantes nacionais em comparação com fabricantes internacionais. A solução para isso é o desenvolvimento de uma política industrial que apoie a nacionalização e a fabricação em território brasileiro de equipamentos fotovoltaicos. Essa é uma atribuição que o governo federal precisa desenvolver e que também pode avançar com o apoio do congresso nacional por meio de uma política industrial, política pública, voltada para essa área.
Ainda na área tributária, existe um desafio também que é a elevada carga tributária incidindo sobre a energia que é comercializada ou que é compensada, no caso da energia distribuída, e para isso a solução é a construção de um novo convênio ICMS, um convênio tributário, que seja autorizativo e por adesão (significa que os estados não são obrigados a aderir, aderem aqueles que tiverem interesse), trazendo para todo o Brasil as mesmas condições que hoje são aplicadas no estado de Minas Gerais, que é o único estado brasileiro hoje que tem uma situação tributária bem equalizada para o setor solar fotovoltaico. Isso faz muita diferença para que a gente consiga diminuir o preço e o custo da energia solar para consumidores, residências, para comércios, indústrias, para produtores rurais, de tal modo a acelerar a adoção dessa tecnologia e democratizar o uso dessa tecnologia no nosso país.
Outra área importante é o acesso a crédito, linhas de financiamento. O Brasil avançou no passado com a criação de várias linhas de financiamento por bancos públicos e privados, mas a gente percebe hoje que ainda existem desafios, por exemplo, na emissão de debêntures incentivadas. Para projetos de geração solar distribuída ainda existe incerteza e insegurança com relação a isso e é preciso, então, atualizar as portarias do Ministério das Minas e Energia que tratam do assunto para que a gente possa efetivamente trazer segurança ao mercado para a emissão de debêntures incentivadas para geração de energia distribuída.
E outro ponto importante é justamente o maior uso dessa tecnologia em edificações públicas ou em programas governamentais. Em edificações públicas, em especial escolas, universidades, postos de saúde, hospitais, delegacias, parques, museus, bibliotecas, que poderiam fazer uso dessa tecnologia ajudando a reduzir os gastos com custeio com energia elétrica, pago pelo poder público em todas as instâncias, além da incorporação dessas tecnologias em programas. Eu vou citar dois programas, como exemplo, importantes que podem se beneficiar dessa tecnologia: os programas habitacionais, que constroem casas populares, e essas casas podem passar a receber sistemas de energia solar fotovoltaica de fábrica, ou seja, no projeto e na construção, o que ajudaria a aliviar o bolso das famílias mais vulneráveis do nosso país, diminuindo o peso da conta da energia elétrica no dia a dia dessas famílias e liberando recursos para que elas possam investir em melhor alimentação, educação, saúde e outras áreas essenciais da vida.
E outro seria nos programas de universalização ao acesso à energia elétrica; levar energia elétrica às regiões mais remotas do nosso país com energia solar fotovoltaica, com sistemas de bateria quando é o caso, quando não há rede elétrica na região, de tal modo que as pessoas tenham acesso a esse insumo com qualidade, confiabilidade e de forma competitiva, com sustentabilidade.”
- Quais as principais vantagens no uso da energia solar em comparação a outras fontes renováveis?
“A energia solar fotovoltaica possui inúmeros benefícios e podemos citar os sociais, ambientais e os econômicos, além dos benefícios estratégicos. É uma tecnologia que atrai investimentos e ajuda no desenvolvimento de uma nova cadeia de valor no nosso país de alta tecnologia, gerando muitos empregos de qualidade. É a fonte que mais gera empregos no mundo entre as fontes de energia renovável. E pode contribuir de forma significante para gerar emprego e renda para
os brasileiros. Nesse momento que estamos batendo recorde de desempregados, ter um setor que é uma locomotiva de geração de empregos é muito importante para o país. Segundo aspecto é que estamos falando de uma tecnologia que é limpa, sustentável, renovável, que não emite qualquer gás de efeito estufa nem poluentes durante a sua operação, que não faz uso de água. A energia solar utiliza o sol, que é um recurso abundante, “O Brasil tem um disponível, gratuito, acessível em todo o Brasil. O Brasil tem um dos maiores dos melhores potenciais do mundo para o uso dessa ventos do mundo tecnologia, graças ao nosso sol de país tropical de alta intensidade. e um potencial É também uma tecnologia muito versátil que pode ser aplicada desde produenorme” tos de bens de consumo, como uma calculadora solar, um carregador de celular, uma mochila que tem um sistema para carregar equipamentos eletrônicos e elétricos até um sistema em uma propriedade, em uma casa, em uma fazenda ou uma grande usina de geração de energia para milhares ou milhões de consumidores. Então, é muito versátil a tecnologia e modular, com sistemas pequeniníssimos até gigantes usinas. É uma tecnologia que opera de forma silenciosa, tem baixa manutenção, tem longa vida útil, são equipamentos com garantia de performance dos seus fabricantes de 25 anos ou mais, portanto, equipamentos feitos para durar. Existem equipamentos no mundo operando ininterruptamente há 30, 40 anos e os sistemas fotovoltaicos são, além de tudo, recicláveis. Temos que 96% de um módulo fotovoltaico pode ser reciclado, portando ao final da vida útil os equipamentos não viram lixo. Eles são matéria prima valiosa, que pode ser aproveitada para outros produtos e processos industriais. Também é de rápida implementação, como nós precisamos nesse momento de crise hídrica. Sistemas de pequeno porte instalados em casas ou empresas podem ser instalados em algumas semanas ou meses, considerando a parte burocrática. Em uma casa, por exemplo, a parte do equipamento, um dia é suficiente para instalar. Até 2050, a expectativa de analistas de mercado, como a Bloomberg New Energy Finance, é a de que essa tecnologia se torne a número um em geração de energia elétrica no nosso país e na maioria dos países do mundo.”

FOTO: DIVULGAÇÃO
BRASIL RETOMA INVESTIMENTO EM ENERGIA NUCLEAR
“A expansão da geração nucleoelétrica no Brasil é inevitável, dada a necessidade que o país tem de mente 2,6% do consumo de energia no país e cerca de 40% do consumo do estado do Rio de Janeiro. geração térmica de base, com baixíssima O governo também pretende retomar geração de gases de efeito estufa”, afirma o mapeamento de novas jazidas no país. o presidente da Eletronuclear, Leonan dos Atualmente, o Brasil ocupa a nona colocaSantos Guimarães. ção mundial nesse quesito.
Para ele, a cri- Guimarães, nesse no setor elétrico ta entrevista expoderia ser evitada clusiva à BRASIL se o Brasil tivesse ENGENHARIA, fala dado continuidade sobre a expansão da aos investimentos energia nuclear no em energia nucle- Brasil, a crise hídriar, como a usina de ca e a participação Angra 3. “Se contás- do país no mercado semos hoje com uma mundial de combusmaior capacidade tíveis nucleares. Ele instalada de fon- também comenta tes de geração para sobre as críticas ao operação na base da projeto de Angra 3 e carga, estaríamos em a segurança no uso condições de enfren- de energia nuclear. tar essa mudança no Nascido no Rio regime das chuvas.” de Janeiro em 1960,
As obras na Usina Guimarães é grade Angra 3 começa- duado em Ciências rão ainda este ano e a operação comercial Navais pela Escola Naval e em Engenharia em 2026. Mas, o Plano Nacional de Ener- Naval e Oceânica pela Politécnica da USP. gia (PNE) 2050, do Ministério das Minas Possui mestrado em Engenharia Naval e e Energia (MME), prevê o acréscimo de 8 Oceânica pela USP e mestrado em EngeGW a 10 GW nucleares na matriz elétrica nharia Nuclear pelo Institut National des nos próximos 30 anos, além de Angra 3. Sciences et Techniques Nucléaires (INSTN)
O Brasil hoje conta com duas usinas da Universidade de Paris. em operação: Angra 1, de 640 MW de - A média de participação mundial da potência, e Angra 2, com 1 350 MW. Em energia nuclear na matriz energética é de 2020, ambas geraram mais de 14 milhões 16%. No Brasil, menos de 2%. Por quê? de MWh, o que equivale a aproximada- “Devido às suas características geo-
gráficas, o Brasil desenvolveu sua matriz elétrica majoritariamente a partir da hidreletricidade. No entanto, trata-se de um caso único no mundo. A maioria das nações precisou recorrer às termelétricas, especialmente o carvão, que ainda representa quase 40% da geração mundial. A energia nuclear se expandiu, principalmente, por conta das crises do petróleo nos anos 1970 e a consequente necessidade de se substituir a importação de combustíveis fósseis. No entanto, o potencial hidrelétrico do Brasil está se esgotando. O que resta está na região amazônica, o que representa obstáculos ambientais. A construção de usinas com amplos reservatórios de regulação plurianual no local ocasionaria a inundação de grandes áreas ocupadas por populações tradicionais, comprometendo, inclusive, a biodiversidade. Além disso, como as hidrelétricas dependem do regime de chuvas, é preciso ter outras fontes que possam complementá-las, especialmente no período seco do ano. Vale ressaltar ainda que o país passa por um momento de grave crise hídrica. Segundo dados divulgados pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), entre setembro de 2020 e março deste FOTO: DIVULGAÇÃO ABSOLAR ano, as hidrelétricas do país receberam o menor volume de chuvas em 91 anos. Para não depender apenas da hidreletricidade, a matriz elétrica brasileira vem sendo diversificada. A entrada das energias eólica e solar tem sido importante, mas essas fontes são intermitentes e, por isso, não podem operar na base do sistema. Dessa forma, o Brasil vem ampliando cada vez mais a geração de térmicas movidas por combustíveis fósseis, que são poluentes. Durante a crise atual, toda as térmicas a óleo diesel e combustível – que, além de sujas, são extremamente caras – disponíveis estão sendo usadas. Nesse cenário, a energia nuclear tem Leonan dos Santos Guimarães, presidente um grande potencial. As usinas nuclea-da Eletronuclear res têm impacto ambiental mínimo. Elas não emitem gases responsáveis pelo efeito estufa ou que contribuam para a chuva ácida, nem material particulado poluente e não produzem cinzas, ao contrário das termelétricas movidas a combustíveis fósseis. Também não dependem de fatores climáticos para funcionar. Outro ponto relevante é que podem ser construídas próximas aos principais centros de consumo do país, o que contribui para evitar congestionamentos nas interligações entre os subsistemas. Além disso, o urânio é

um combustível de baixo custo, uma vez que as quantidades mundiais exploráveis são muito grandes e não oferecem risco de escassez em médio prazo.
É importante destacar que, em 1975, o Brasil assinou acordo nuclear com a Alemanha, que previa a construção de oito usinas nucleares. Ou seja, o governo tinha planos de expandir o parque nuclear nacional, que, na época, contava apenas com Angra 1 em operação. No entanto, o programa não foi para frente, porque o país entrou em profunda crise econômica que culminou com a moratória da dívida externa nos anos 1980. Por conta disso, todos os projetos de infraestrutura foram paralisados, incluindo Angra 2, cuja construção já havia começado, e Angra 3, onde já haviam sido feitos trabalhos de preparação do terreno, além da compra de parte dos equipamentos. A construção de Angra 2 foi retomada em 1995 e concluída em 2000, sendo que a usina entrou em operação comercial no início do ano seguinte. Angra 3 começou a ser construída em 2010, mas as obras foram paralisadas em 2015, devido à interrupção da liberação de recursos financeiros pela Eletrobras.
A Eletronuclear vem trabalhando – com apoio do governo federal e da Eletrobras – para reiniciar a construção da unidade, o que deve acontecer ainda neste ano.”
- A participação da energia nuclear na matriz energética brasileira deve crescer? O que tem sido feito para isso?
“O Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 prevê o acréscimo de 8 GW a 10 GW nucleares na matriz elétrica nos próximos 30 anos. Isso não inclui Angra 3, que deve entrar em operação comercial em 2026.
Entre 2008 e 2011, a Eletronuclear realizou um estudo em todo o país, em parceria com a Coppe/UFRJ, para identificar áreas aptas a receber novas usinas nucleares. Foram identificados mais de 40 que apresentam características favoráveis para essa finalidade. Levando em conta o PNE 2050, o Ministério de Minas e Energia (MME) pretende retomar esse trabalho, que também contará com a participação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O estudo deve ser finalizado num prazo de 24 meses.”
“O Brasil hoje conta com duas usinas em operação: Angra 1, de 640 MW de potência, e Angra 2, com 1 350 MW. Em 2020, ambas geraram mais de 14 milhões de MWh, o que equivale a aproximadamente 2,6% do consumo de energia no país e cerca de 40% do consumo do estado do Rio de Janeiro. No ano passado, Angra 2 gerou 9.448.896 MWh, alcançando fator de capacidade de 79,44%. Angra 1 também teve uma performance significativa em 2020. A unidade produziu 4.603.623 MWh de energia elétrica bruta, atingindo fator de capacidade de 81,26%. Em 2019, a central nuclear de Angra teve o melhor ano de sua história, com geração total de 16.128.826 MWh. Isso seria suficiente para atender, com sobra, o consumo de um estado do porte de Pernambuco ou Goiás. Esse resultado veio na esteira do ótimo desempenho de cada unidade. Angra 1 bateu seu recorde de produção, gerando 5.546.164 MWh. Além disso, fechou o ano com fator de capacidade de 98,21%, o maior das usinas brasileiras, levando em conta todas as fontes de geração. Angra 2 também teve uma performance digna de nota em 2019. A usina produziu 10.582.662 MWh, a sua 8ª melhor marca. E operou com fator de capacidade de 89,38%, ficando atrás apenas de Angra 1 nesse quesito entre as usinas brasileiras, mesmo tendo parado por cerca de um mês para reabastecimento de combustível.”
- O Brasil é um dos maiores produtores de urânio do mundo. Parece um contraponto com a produção de energia nuclear no Brasil. Por que isso ocorreu?
“O Brasil tem uma das maiores reservas de urânio do mundo, mas não está entre os maiores produtores. A construção de novas usinas nucleares seria um fator importante para alavancar a produção de urânio no país, na medida em que aumentaria a demanda por combustível nuclear. Na verdade, o investimento em novas usinas é fundamental para dar escala a toda a cadeia produtiva do setor nuclear brasileiro.
Mas a participação do Brasil no mercado mundial de combustíveis nucleares é uma possibilidade que independe de novas usinas: é uma questão de investimentos e decisão estratégica, já que existe uma demanda reprimida no mundo, e as
condições desse mercado são, atualmente, muito favoráveis ao vendedor. No futuro próximo, tendem a melhorar ainda mais, na medida em que a geração elétrica nuclear for sendo entendida como uma estratégia eficaz, eficiente e efetiva para a descarbonização da economia mundial. Segundo o Ministério de Minas e Energia, o governo federal pretende retomar o mapeamento de novas jazidas no país. Atualmente, o Brasil ocupa a nona colocação mundial nesse quesito.”
- O custo e tempo de investimento em uma usina é um empecilho? Há falta de planejamento a longo prazo nesse sentido?
“A crise hídrica “O custo e o tempo de investimento não são empecilhos se forem devidamente seria mitigada se considerados, e se o prazo de implantaAngra 3 estivesse ção do projeto for controlado por meio de uma gestão eficaz de riscos para cada emem operação” preendimento específico. O maior inimigo da viabilidade econômica de uma usina nuclear são os riscos associados ao prazo de construção. Todos os esforços modernos em gerenciamento de projetos e em tecnologias de construção estão voltados para observar esse prazo de construção, o que tem se mostrado bem-sucedido, à medida que vemos usinas nucleares sendo construídas dentro dos prazos de projeto, em especial na Ásia.”
- A Eletronuclear realizou uma sessão pública para abertura de propostas de licitação para o plano de aceleração de Angra 3. Qual o tempo de reforma em Angra 3? O que falta ser construído/feito?
“Em janeiro, a Eletrobras aprovou o descontingenciamento dos recursos necessários para a Eletronuclear publicar o edital de contratação da obra civil de Angra 3 no âmbito do plano de aceleração do caminho crítico da usina. O objetivo é adiantar algumas atividades de construção da unidade antes mesmo de a Eletronuclear contratar a empresa que finalizará a usina. O principal objetivo do plano é preservar a data prevista de entrada em operação da unidade, que é novembro de 2026. Esses recursos são provenientes do Adiantamento para Futuro Aumento de Capital (Afac) aprovado pela Eletrobras em julho do ano passado. Em 2020, a empresa liberou 1,052 bilhão de reais para a Eletronuclear. Para 2021, estão previstos 2,447 bilhões de reais adicionais, dos quais 850 milhões de reais já foram repassados. O montante total do Afac consta no Plano Diretor de Negócios e Gestão (PDNG) 2021-2025 da holding. A decisão da Eletrobras de conceder a Afac
à Eletronuclear veio na esteira da aprovação pelo Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (CPPI), em junho de 2020, do relatório de um comitê interministerial sobre o modelo de negócios para concluir Angra 3.
O documento recomenda a contratação de uma empresa especializada por contrato de EPC – o que significa engenharia, gestão de compras e construção, na tradução do inglês – para terminar a obra, com base em avaliação independente feita pelo BNDES. Agora, o banco está fazendo o detalhamento do modelo selecionado pelo CPPI. O trabalho tem acompanhamento do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Isso ocorrerá paralelamente à execução do plano de aceleração do caminho crítico de Angra 3 por parte da Eletronuclear. O modelo que vem sendo trabalhado é o que foi aprovado pelo CPPI, com segregação de riscos entre um agente financiador e um parceiro epecista.
Entre as principais medidas que constam no plano de aceleração está a conclusão da superestrutura de concreto do edifício do reator de Angra 3. Além disso, será feita uma parte importante da montagem eletromecânica, prevista na fase inicial do cronograma de retomada da obra, que inclui o fechamento da esfera de aço da contenção e a instalação da piscina de combustíveis usados, da ponte polar e do guindaste do semipórtico. Em sessão pública realizada em 23 de julho, a Eletronuclear declarou o consórcio composto por Ferreira Guedes, Matricial e ADtranz vencedor da licitação para contratar a empresa que retomará as obras de Angra 3 no âmbito do plano de aceleração.
O lance vencedor foi de 292 milhões de reais, o que representa um deságio de aproximadamente 16% em relação ao valor de referência estabelecido pela Eletronuclear. O processo está agora na fase de recursos. A expectativa é que o primeiro concreto – marco importante da retomada das obras de Angra 3 – seja lançado ainda esse ano. Após a assinatura do contrato das obras civis que serão realizadas no âmbito do plano de aceleração, será feita, possivelmente no segundo semestre de 2022, a contratação de uma ou mais empresas via contrato de EPC para finalizar as obras civis e a montagem eletromecânica da usina. A preparação do edital será realizada pelo consórcio Angra Eurobras NES, contratado pelo BNDES.
É importante frisar que Angra 3 não precisará sofrer nenhuma reforma. Desde que a construção da usina foi paralisada em 2015, a Eletronuclear vem fazendo manutenção de toda a estrutura que já foi construída. O mesmo vale para os equipamentos já comprados.”
- Especialistas críticos às obras de Angra 3 afirmam que o projeto é obsoleto, que usinas semelhantes na Alemanha foram desativadas por risco e que o investimento é alto demais para o benefício que vai gerar. O que o senhor pensa dessas afirmações? As tecnologias usadas em Angra 1, Angra 2 e Angra 3 são seguras?
“Em primeiro lugar, Angra 3 não está obsoleta. Os equipamentos já adquiridos pela Eletronuclear são eletromecânicos, para os quais não houve grandes mudanças tecnológicas. O grande avanço ocorrido ao longo do tempo foi na instrumentação e controle, que em Angra 2 é analógica e em Angra 3 será digital. A empresa ainda vai adquirir esse sistema, que se encontra em fase avançada de projeto. Também é importante frisar que as tecnologias utilizadas em Angra 1 (reator de água pressurizada, ou PWR, da Westinghouse) e Angra 2 e 3 (PWR, Framatome) são muito seguras. A maior prova disso é que, desde o início da operação da central nuclear de Angra – Angra 1 foi ligada pela primeira vez em 1982 –, nunca houve qualquer incidente que colocasse em risco os trabalhadores da Eletronuclear, a população ou o meio ambiente.
As usinas nucleares alemãs foram desligadas por uma decisão política da coalização governante. As plantas do país sempre foram referência para o setor nuclear e sempre estiveram entre as mais seguras, eficientes e de maior geração do mundo. A conclusão de Angra 3, que tem potência de 1 405 MW, é importante por várias razões. Para começar, a usina vai operar com alto grau de confiabilidade e ajudar a garantir segurança de abastecimento para o sistema elétrico brasileiro. A geração da unidade será suficiente para atender cerca de 4,5 milhões de pessoas. Com a entrada da unidade em operação, a energia gerada pela central nuclear de Angra passará a ser equivalente a, aproximadamente, 60% do consumo do estado do Rio de Janeiro e 3% do verificado no país. Angra 3 também vai diversificar a matriz elétrica e reduzir os custos totais do Sistema Interligado Nacional (SIN), na medida em que substituirá a energia mais cara de térmicas a óleo diesel e combustível que hoje é frequentemente despachada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Vale lembrar que a capacidade total dessas termelétricas está sendo utilizada no momento, devido à crise hídrica severa pela qual o país vem passando. Além disso, Angra 3 vai gerar energia limpa, pois usinas nucleares não emitem gases responsáveis pelo efeito estufa, ao contrário das termelétricas movidas a combustíveis fósseis. A usina terá impacto ambiental mínimo. Outro ponto relevante é sua proximidade aos principais centros de consumo do país, o que contribuirá para evitar congestionamentos nas interligações entre os subsistemas. A construção da unidade também é fundamental para dar escala a toda a cadeia produtiva do setor nuclear brasileiro, da produção de combustível à geração de energia. O empreendimento representará ainda a criação de cerca de 7 000 empregos diretos, no pico da obra, além de um número muito maior de empregos indiretos. A grande maioria será contratada na Costa Verde do estado do Rio de Janeiro, o que será um importante fator para movimentar a economia da região.”
- Há outros projetos de novas usinas, com tecnologias mais atuais? Para quando?
“A Eletronuclear entende que a expansão da geração nucleoelétrica no Brasil é inevitável, dada a necessidade que o país tem de geração térmica de base, com baixíssima geração de gases de efeito estufa. O Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 prevê cenários com a entrada de, no mínimo, 8 GW de geração nuclear no período. Ainda não há uma definição sobre onde serão construídas as próximas usinas. A Eletronuclear fez um estudo em todo o território nacional buscando regiões com fatores técnicos adequados para abrigar essas unidades, mas a decisão final cabe ao Ministério de Minas e Energia. Quanto à tecnologia, as nossas usinas em operação já incorporam as principais atualizações do setor – da chamada geração III+ – em seus projetos. Novas usinas de grande porte não seriam fundamentalmente diferentes das que já temos em operação, mas teriam diversas carac-
terísticas que proporcionariam segurança e produtividade ainda maiores do que é verificado nas atuais.
- A exploração da energia nuclear é exclusiva do governo. O Brasil tem procurado parceiros para investimentos?
“Como já mencionado, a Eletronuclear concluirá Angra 3 por meio da contratação de uma empresa especializada por meio de um contrato de EPC. Os principais atores internacionais da área nuclear já demonstraram interesse em participar da conclusão da usina. Quase todos já visitaram o sítio da unidade e assinaram Memorandos de Entendimento (MOU, em inglês) com a Eletronuclear para troca de informações sobre o empreendimento. O grupo é composto por Westinghouse (EUA), EDF (França), Rosatom (Rússia), CNNC e SNPTC (China). Essas companhias também participaram de uma consulta ao mercado, conhecida como market sounding, sobre a construção de Angra 3, realizada pela Eletronuclear em 2019. Vale frisar que, como se trataria de um contrato entre as partes, isso em nada interfere no monopólio que a União detém em relação à exploração da energia nuclear no país, o que está determinado na Constituição Federal. A Eletronuclear continuará sendo responsável pela construção e a operação de Angra 3.”
- Na sua avaliação, qual o papel da energia nuclear em um mundo que busca as fontes renováveis e a emissão zero de carbono?
“Como já mencionado, a energia nuclear tem um papel importantíssimo a cumprir, por ser uma fonte que não emite gases de efeito estufa e que gera energia firme, podendo operar na base dos sistemas elétricos. As fontes renováveis são importantes, mas não são suficientes. A hidreletricidade não está disponível ou tem potencial limitado na maioria dos países. Eólica e solar são intermitentes, ou seja, não estão disponíveis o tempo todo. Por isso, têm um baixo índice de aproveitamento.
Dessa forma, não podem operar na base do sistema elétrico de nenhuma país. Também é importante destacar que a qualidade de vida de uma sociedade está diretamente ligada ao seu consumo de eletricidade per capita, que, no Brasil, está em torno de 2 300 KWh por habitante por ano, o que é muito baixo. Isso equivale à metade do consumo per capita de Portugal e a um terço do verificado na Espanha, por exemplo. Para alcançar o índice de consumo de Portugal, o país precisaria gerar o dobro da energia elétrica produzida atualmente. Isso pode ser alcançado de duas formas. Ou se dobra a capacidade instalada ou se investe, majoritariamente, em fontes com alto fator de capacidade, como a nuclear.
Esse fator é a relação entre a energia efetivamente gerada dividida pela energia que a planta geraria se funcionasse 100% do tempo. Quanto maior for o fator de capacidade média de um sistema, menor será a necessidade de potência instalada. Portanto, é vantajoso ter usinas com alto fator de capacidade.”
- O Brasil passa por sua terceira crise hídrica com riscos à produção de energia elétrica em 20 anos. Isso poderia ter sido evitado? Como?
“Sim. A crise hídrica que estamos atravessando seria em muito mitigada se Angra 3 já estivesse em operação. A usina deveria ter tido suas obras iniciadas imediatamente na sequência da conclusão de Angra 2, o que, infelizmente, não aconteceu. Durante muito tempo, o planejamento energético brasileiro considerou previsões nas quais as afluências hídricas retornariam às suas médias históricas, o que não ocorreu. A mudança no clima é um fato, e nosso sistema elétrico é intrinsicamente vulnerável a ela, devido ao grau muito elevado de renovabilidade de suas fontes de geração. A receita é ter geração térmica de base, que possibilite a entrada crescente de fontes renováveis variáveis, como eólica e solar. E, quando se fala em geração térmica de base, a principal candidata é a energia nuclear. Se contássemos hoje com uma maior capacidade instalada de fontes de geração para operação na base da carga, estaríamos em condições de enfrentar essa mudança no regime das chuvas.”


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TECNOLOGIA GARANTE PRODUTIVIDADE NA GERAÇÃO
Empresas fabricantes de equipamentos e soluções tecnológicas para o setor de energia projetam crescimento diante da demanda do insumo e da diversidade de fontes necessárias para uma matriz eficiente e com emissão baixa de carbono. FOTO: DIVULGAÇÃO
A demanda global por energia elétrica deve aumentar 62% nos próximos 30 anos, acrescentando 1,5% de aumento de consumo por ano, de acordo com a Bloomberg Energy Finance.
No Brasil, de 2019 a 2030, o Plano Decenal de Expansão de Energia 2030 prevê um crescimento de Daniel Meniuk, diretor executivo da GE Gas 1,5% por ano no con- Power América Latina, é otimista quanto à sumo per capita. Ain- retomada das hidrelétricas no país
da assim, longe de atingir o patamar de consumo dos países desenvolvidos.
O novo modelo de matriz energética que se desenha para o Brasil nas próximas décadas é diversificada, com maior participação das renováveis, especialmente das fontes intermitentes, como a eólica e a solar. E mesmo tendo na base fontes como hidrelétricas, nucleares ou térmicas a gás, por exemplo, a tecnologia se torna cada vez mais presente para garantir integração, produtividade, segurança e estabilidade na geração, transmissão e também na armazenagem.
“A modernização das hidrelétricas de nosso Sistema Interligado Nacional é uma necessidade vital para manter a disponibilidade de geração. Temos investido em novas tecnologias digitais que trabalham no monitoramento e levantamento de dados sobre a operação das máquinas”, comenta Daniel Meniuk, diretor executivo da GE Gas Power América Latina.
André Clark, general manager da Siemens Energy Brasil, afirma que “o Brasil continuará a investir com grande sucesso, como tem sido nos últimos cinco anos, no seu sistema de transmissão e distribuição de energia. Com isso, continuaremos a sofisticar esse sistema, com mais controle e digitalização”.

NOVO PAPEL DAS HIDRELÉTRICAS
Daniel Meniuk, diretor executivo da GE Gas Power América Latina, afirma que a empresa é otimista quanto à retomada das hidrelétricas no país, apesar da grave crise hídrica atual, e que ainda há muito a ser explorado nessa matriz. “É uma questão de tempo. Possuímos ainda um grande potencial a ser explorado, é uma energia limpa e sua tarifa acaba sendo bastante competitiva”, avalia.
Para ele, o avanço da vacinação contra Covid-19 e a retomada do crescimento da economia deve reaquecer o mercado de pequenas centrais geradoras hidrelétricas. “Além disso, acreditamos que o Brasil ainda vai precisar de usinas reversíveis, ou Pumped Storage, mas é algo que não veremos no curto prazo, embora estejamos prontos para atender esta demanda”.
A GE Gas Power América Latina tem soluções presentes em 30% de toda a geração de energia do país, tanto relacionadas à geração por meio de térmicas a gás natural, como pelo portfólio da GE Renewable Energy, voltado para energias renováveis e também hidrelétricas, assim como armazenamento, transmissão e distribuição, além de serviços digitais e sistemas híbridos renováveis. “Tudo isso nos posiciona de forma muito estratégica no mercado, ou seja, um mix de soluções complementares para apoiarmos nossos clientes diante dos objetivos de transição energética e descarbonização”.
Na entrevista para BRASIL ENGENHARIA a seguir, Meniuk faz uma
avaliação da situação energética no país e como a GE Gas Power atua no setor de geração e transmissão.
- Como a GE vê o futuro da energia no Brasil e no mundo?
“A GE acredita que a implantação acelerada e estratégica de energias renováveis de forma sustentável, por meio da transição energética e em busca da descarbonização, são parte essencial do futuro da energia. O crescimento das fontes renováveis, aliado com a segurança energética proporcionada pela geração a gás natural, por exemplo, são essenciais para mudarmos a trajetória das mudanças climáticas, permitindo reduções substanciais das emissões rapidamente e, ao mesmo tempo, continuando a fazer as tecnologias avançarem em direção à geração de energia com pouco ou quase zero carbono.”
- Como as necessidades socioambientais pautam os negócios da empresa?
“Precisamos sempre evoluir e nos adaptarmos às necessidades da sociedade como um todo. Hoje, é primordial assegurarmos que a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade sejam a base do nosso modelo de negócio. Para isso, desenvolvemos soluções tecnológicas, seguimos investindo em plataformas, serviços e digitalização no sentido de viabilizarmos essa transformação, de forma sustentável. Fazendo nossa lição de casa, assumimos um compromisso na GE para zerarmos nossas emissões de carbono até 2030. Estamos já aplicando esse plano em três grandes pilares: geração de energia, indústria e transporte. Fizemos uma série de estudos e o plano já está em prática, seja com os fornecedores ou dentro de casa, amparados pela nossa metodologia Lean, que é focada na melhoria contínua dos processos, reduzindo a emissão de carbono e cortando custos nos processos. Essa meta da GE está focada em suas mais de 1 000 instalações pelo mundo, incluindo fábricas, espaços de teste, depósitos e escritórios.
- Quais as soluções que ela disponibiliza hoje, de energias renováveis e não renováveis? A GE mantém o foco nos dois modelos?
“Somos participantes importantes do setor e temos soluções completas para o mercado de energia, tanto relacionadas à geração por meio de térmicas a gás natural, como pelo portfólio da GE Renewable Energy, um dos mais abrangentes em energias renováveis no mundo. Oferecemos tecnologias para a geração de energia limpa, por meio das fontes hidrelétrica, eólica e solar, bem como para o armazenamento, transmissão e distribuição, além de serviços digitais e sistemas híbridos renováveis. Tudo isso nos posiciona de forma muito estratégica no mercado, ou seja, um mix de soluções complementares para apoiarmos nossos clientes diante dos objetivos de transição energética e descarbonização.”
- Qual o peso que o impacto ambiental tem nos negócios da empresa?
“Essa é uma questão fundamental, pois a geração de energia está intimamente ligada à questão ambiental e essa combinação de energias renováveis com a energia gerada via gás natural tem todo o potencial de acelerar a redução de emissões no planeta. Além disso, o fato de, a cada dia, a geração renovável aumentar sua participação na matriz elétrica mundial, traz novos desafios e demanda em termos de segurança e estabilidade do sistema elétrico que, por sua vez, pode ser alcançada por meio da combinação de fontes de geração, além de novas tecnologias que garantem maior produtividade e segurança ao sistema.”
- Qual o impacto da tecnologia e das soluções digitais na matriz energética?
“A digitalização, em várias frentes, ajuda na otimização no uso dos recursos naturais, no caso a energia, seja ela vinda da força das águas, do vento, do sol ou de outros combustíveis como o gás natural. Além da evolução natural das soluções, que tornam a geração, transmissão e distribuição mais eficientes, também há um aumento da segurança no suprimento de energia com a capacidade de interligação e evolução tecnológica de soluções flexíveis que consigam lidar com uma matriz diversificada. Temos um pacote de tecnologias necessárias para a transformação do setor em direção a um futuro energético mais eficiente de ponta a ponta.”
- A GE aposta na modernização da matriz hidrelétrica a partir de soluções
“A digitalização é uma questão fundamental no controle dos sistemas renováveis” Produtos de alta tensão da GE Green Gas for Grid (g³) reduzem o potencial de aquecimento global em mais de 99%
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digitais? Como é a solução apresentada pela empresa para este modelo?
“A modernização das hidrelétricas de nosso Sistema Interligado Nacional é uma necessidade vital para manter a disponibilidade de geração. Temos investido em novas tecnologias digitais que trabalham no monitoramento e levantamento de dados sobre a operação das máquinas. Essa solução proporciona uma melhor manutenção preventiva e, com isso, podemos contribuir para o aumento da disponibilidade e trazer mais benefícios, como identificar a melhor forma de aproveitar ao máximo o potencial de cada turbina, a fim de aumentar sua eficiência. Tudo isso traz mais competitividade para nossos clientes, inclusive temos algumas ofertas no mercado para essas soluções e esperamos assinar novos contratos em breve. Além dessa nova tecnologia, oferecemos um portfólio diversificado de soluções para atualizar as usinas, fornecendo sistemas de controle e proteção mais modernos que facilitam sua operação e manutenção. Também contribuímos com nossa expertise na evolução do design de engenharia, a fim de desenvolvermos máquinas melhores e mais eficientes para nossos clientes.”

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As primeiras turbinas eólicas com potência superior a 5MW do país, a Cypress
- A GE tem previsão de novos investimentos em hidrelétricas? Quais modelos? Qual cenário vê para as hidrelétricas?
“Somos otimistas quanto à retomada das grandes hidrelétricas e achamos que seja somente uma questão de tempo. O Brasil possui uma grande vocação para esta fonte, sendo a sua base de geração, a qual deve ser mantida na matriz energética. Possuímos ainda um grande potencial a ser explorado, é uma energia limpa e sua tarifa acaba sendo bastante competitiva. Ainda esperamos boas notícias com a retomada dos leilões de energia por parte do governo e, especialmente, a retomada do crescimento da economia que se espera acontecer ainda este ano, na medida do avanço da vacinação contra a Covid-19, possam reaquecer o mercado de Pequenas Centrais Geradoras Hidrelétricas. Além disso, acreditamos que o Brasil ainda vai precisar de usinas reversíveis, ou Pumped Storage, mas é algo que não veremos no curto prazo, embora estejamos prontos para atender esta demanda. Há vários estudos sendo realizados no país, encabeçados pela EPE, e devem surgir oportunidades no longo prazo.
- Como a GE divide hoje seus investimentos em energias renováveis? Vê a possibilidade crescente de mais investimentos nesse segmento? Quais investimentos deve fazer no Brasil no curto prazo?
“Por conta de nossa presença massiva em energias renováveis no Brasil, nossos investimentos no setor sempre acompanham esse movimento. Estamos presentes em cerca de 30% de toda a geração de energia no país e seguimos modernizando nossas fábricas e promovendo ações voltadas à metodologia Lean, focada em melhoria contínua de nossos processos, seja no chão de fábrica ou nos escritórios. Com isso, tornamos nossas operações mais eficientes e oferecemos soluções que ajudam nossos clientes a tornarem suas atividades de geração, transmissão e distribuição cada vez mais competitivas.
- Sobre a energia a gás, qual o foco
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GE Renewable Energy trabalhou no projeto de expansão da Usina Hidrelétrica de Curuá-UMA, da Eletronorte, no Pará
da GE no Brasil? Há mercado crescente para este modelo de energia no Brasil?
“Do ponto de vista de gás, estamos muito próximos dos clientes e players do mercado, preparando-nos para os próximos dois leilões neste ano. Estamos falando não só de novas plantas, mas também da nossa base de clientes que têm usinas em operação e querem me“Vejo com bons lhorar a performance dos seus ativos. olhos os próximos A GE trabalha com cinco a dez anos seus clientes para o que chamamos de no Brasil no setor upgrades, que são novas tecnologias de de energia” combustão e capacidade de geração em plantas já existentes, com o objetivo de ganhar competitividade nesse próximo leilão. Então, são essas as duas frentes de ação.”
- Como vê a integração entre energias renováveis e não renováveis e como pode ser uma solução para o setor e o meio ambiente?
“A maneira mais eficaz de garantir a confiabilidade do sistema de energia e a segurança da energia é por meio da complementariedade das fontes de geração. Essa integração também é fundamental para a transição energética e a consequente descarbonização. Nenhuma forma de geração de energia funciona sozinha em qualquer situação ou economia. Por exemplo, as energias eólicas e solar são variáveis, mas não consomem combustível e não emitem CO2; a geração abastecida por gás natural emite CO2, mas é despachável (ou seja, tem uma saída que pode ser prontamente

controlada entre a capacidade máxima e a redução a zero) para ajudar a equilibrar a oferta e procura; a energia hidrelétrica muitas vezes exige uma porção considerável do solo, mas é zero carbono, renovável e despachável e pode fornecer armazenamento de energia de baixo custo e a longo prazo. Todas se complementam de alguma forma, cumprindo o objetivo comum de entregar energia confiável para os consumidores.”
- A crise energética que se desenha hoje no Brasil já aconteceu pelo menos mais duas vezes nos últimos 20 anos. Como pode ser evitada?
“Ainda há muita dependência das questões hidrológicas, mas o setor evoluiu muito com a chegada das novas fontes como a eólica e a solar, além da modernização do próprio parque hidrelétrico para melhor aproveitamento deste, e do térmico com projetos a gás natural, muito mais eficientes, baratos e flexíveis. Devemos continuar trabalhando para que essa complementariedade exista e analisar oportunidades para inserir soluções como sistemas híbridos e armazenamento de energia para maior segurança e flexibilidade do nosso sistema elétrico.”
- O Brasil tem vantagens para o desenvolvimento de energias renováveis em relação a outros países? Como pode ser aproveitado em prol do país?
“Sim, há muitas especificidades no Brasil como a abundância hidrológica, além de termos ventos ideais para a geração eólica e incidência solar acima da média mundial para a geração de energia solar. Nosso país tem uma vocação natural para as energias renováveis e a GE têm apoiado esse desenvolvimento desde o início de sua história em terras brasileiras, seja na construção de hi- “Na indústria da drelétricas, linhas de energia elétrica, transmissão, parques eólicos e termelétri- o BIM reverbera cas a gás natural. Somos responsáveis por em resultados cerca de 30% de toda expressivos”a energia gerada no Brasil e seguiremos o nosso compromisso de fornecer energia acessível, confiável e sustentável.”
- Pode citar alguns cases da empresa hoje, inclusive na geração de energia a gás, e as soluções tecnológicas?
“As tecnologias digitais podem permitir que a otimização da geração seja combinada com a otimização da rede e uma compreensão em tempo real da demanda para habilitar um sistema que funcione perfeitamente para múltiplas fontes de geração, uma rede inteligente e uma demanda variável, a fim de maximizar a eficiência do sistema, reduzir as emissões de CO2 e garantir a confiabilidade. Para citar apenas alguns exemplos, recentemente, instalamos as primeiras turbinas eólicas com potência superior a 5MW do país, a Cypress. Elas já estão operando na Bahia, gerando energia no complexo eólico Serra da Babilônia, da Rio Energy. Outra inovação é o nosso robô subaquático capaz de realizar uma inspeção entre as palhetas do rotor de uma turbina hidrelétrica, em menos de duas horas, reduzindo em 95% os custos, os riscos da inspeção e o tempo de interrupção das operações. Na área de transmissão, expandimos nosso portfólio sem SF6 para incluir todos os principais níveis de alta tensão até 2025. Os produtos de alta tensão da GE Green Gas for Grid (g³) reduzem o potencial de aquecimento global (GWP) em mais de 99%, oferecendo desempenho técnico comprovado. Também somos responsáveis pelas primeiras subestações digitais da América Latina, além de projetos como a ampliação do Complexo Parnaíba I, no Maranhão, que conta com sete turbinas para a geração de energia a gás de classe F da GE.”
GE FARÁ MODERNIZAÇÃO DE SUBESTAÇÕES DA CHESF NO BRASIL
A divisão de Grid Solutions da GE Renewable Energy fechou em julho seu maior contrato de serviços de modernização de rede na América Latina com a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), uma das maiores empresas de energia do Brasil. De acordo com o contrato, a GE realizará o retrofit (fornecimento de materiais e serviços para a substituição de equipamentos antigos) de seis subestações da Chesf localizadas nos estados de Alagoas, Bahia e Pernambuco, no nordeste do Brasil, com suas mais avançadas tecnologias de grid.
O contrato prevê a substituição de cerca de 250 disjuntores e seccionadores, em operação há mais de 45 anos. Os engenheiros de campo certificados da GE serão responsáveis por oferecer uma estratégia para avaliação da condição dos ativos de alta tensão da Chesf, bem como pelo planejamento e priorização do processo de retrofit para propor a solução mais adequada sob os aspectos de custo e tempo.
Segundo a Chesf, a troca desses equipamentos de níveis de tensão de 69kV, 230kV e 500kV proporcionará mais confiabilidade ao sistema de transmissão da Companhia, contribuindo para melhorar a qualidade e o acesso ao fornecimento de energia elétrica. Permitirá, ainda, que milhões de pessoas continuem tendo acesso à energia limpa e renovável no país, através dessas instalações que ajudam a transmitir energia das usinas hidrelétricas e parques eólicos localizados no Nordeste para o Sistema Interligado Nacional (SIN).
“Temos a satisfação de apoiar a Chesf em seu compromisso de modernizar o seu sistema de transmissão nesta região. A equipe de Serviços da GE Grid Solutions traz mais do que apenas sua longa experiência em manutenção e substituição de equipamentos. Nossas mais novas tecnologias e soluções ajudarão a oferecer à Companhia mais flexibilidade operacional e maior competitividade”, disse Alexandre Ferrari, Líder Comercial da GE Grid Solutions para a América Latina.
O negócio fechado no primeiro trimestre de 2021, por meio de uma licitação pública, reforça o compromisso da divisão de Grid Solutions da GE Renewable Energy em oferecer as melhores condições à Chesf. Além da substituição de equipamentos, a GE oferecerá treinamento aos técnicos da Chesf e fornecerá kits de peças de reposição para cada tipo de equipamento. Todo o processo de retrofit, incluindo atividades adicionais, está previsto para ser concluído em 2025.
A GE Grid Solutions oferece diversos produtos e soluções para subestações em todos os níveis de tensão (69kV - 550kV), sendo referência em todos os segmentos, como na indústria, distribuição, transmissão e geração de energia. Com um amplo portfólio, expertise e tecnologia de ponta, a empresa ajuda a inserir mais energia limpa, acessível e sustentável na rede elétrica no Brasil e no mundo.

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TECNOLOGIAS COM BASE NA DESCARBONIZAÇÃO E NA DIGITALIZAÇÃO
Oexecutivo André Clark, general manager da Siemens Energy Brasil, considera que a grande pergunta a se fazer neste momento, em que o Brasil passa por uma reformulação da sua matriz energética, é: “O que vamos fazer com relação àquelas energias de ponta, que quando chamadas estão disponíveis?”
Para ele, o gás terá um papel bastante relevante no futuro, mas acredita que o aprofundamento dessa discussão também ocorrerá mais à frente. “O próprio modelo que faz o despacho prioritário de energias no Brasil precisa ser discutido. Um exemplo disso é o custo da água estocada nos reservatórios, que é valorizado a zero. Portanto, toda vez que temos que despachar energia a prioridade é uma hidrelétrica. Será que isso é correto, uma vez que a água tem que ser usada e reservada para outros fins, como agricultura e consumo próprio?”, questiona Clark.
A Siemens Energy Brasil tem um portfólio de produtos, soluções e serviços que cobrem quase toda a cadeia de valor de energia, com tecnologias baseadas em dois pilares: da descarbonização e da digitalização.
Como exemplo, a empresa trabalha com turbinas a gás, como as da família SGT, e a vapor, que já podem queimar hidrogênio e ser agentes de descarbonização, apoiando a transição energética. Além disso, grande parte do nosso portfólio de equipamentos está atrelado a soluções de análises de dados em tempo real, o que contribui para a competitividade de nossos clientes e parceiros. A seguir, a entrevista completa da
BRASIL ENGENHA-
RIA com André Clark.
- A crise energética atual abrirá caminho para a modernização e maior diversificação da matriz energética brasileira?
“A crise energética atual é uma crise de falta de água. Os regimes de chuvas, que historicamente enchiam os nossos reservatórios, em especial do Sudeste, onde temos 70% da nossa reserva de água, mudaram. O Brasil é profundamente dependente desses regimes de chuva para o fornecimento de energia e isso que estamos vivenciando, certamente, é reflexo das mudanças climáticas e da destruição florestal, tanto do Cerrado quanto da Floresta Amazônica.
O que vem à frente é um repensar dessa matriz energética. As renováveis, tanto eólica quanto solar, continuarão crescendo a uma taxa muito grande, porque são economicamente competitivas. O Brasil é um dos produtores de custo marginal mais baixo de energia renovável no planeta e isso irá continuar. A grande pergunta é: O que vamos fazer com relação àquelas energias de ponta, que quando chamadas estão disponíveis? O que vislumbro é que o gás terá um papel bastante relevante à frente, mas essa discussão ainda está por vir. Hoje, o próprio modelo que faz o despacho prioritário de energias no Brasil precisa ser discutido. Um exemplo disso é o custo da água estocada nos reservatórios, que é valorizado a zero. Portanto, toda vez que temos que despachar energia a prioridade é uma hidrelétrica. Será que isso é correto, uma vez que a água tem que ser usada e reservada para outros fins, como agricultura e consumo próprio? Essa é uma grande questão, que com certeza irá acender muitos debates nos próximos anos.”
- A Siemens Energy tem produtos e serviços em diferentes frentes, especialmente com novas tecnologias. Quais tecnologias vê como essenciais para a geração e uso de energia e o que a empresa tem desenvolvido nesse sentido?
“Nossas tecnologias estão baseadas em dois pilares, o da descarbonização e da diFOTO: DIVULGAÇÃO gitalização. Trabalhamos com turbinas a gás, como as da família SGT, e a vapor, que já podem queimar hidrogênio e ser agentes de descarbonização, apoiando a transição energética. Além disso, grande parte do nosso portfólio de equipamentos está atrelado a soluções de análises de dados em tempo real, o que contribui para a competitividade de nossos clientes e parceiros. Com apoio de pesquisas internas, desde 2011 estamos desenvolvendo o eletrolisador Silyzer, tecnologia criada para a geração de hidrogênio verde. A cada uma dessas versões, aprimoradas desde a década passada, a capacidade instalada aumentou 10 vezes em tamanho (da ordem de 0,1 MW em 2011, para 10 MW em 2018) e a tecnologia se tornou André Clark, general manager da Siemens Energy Brasil mais viável, pois sua capacidade de produção de gás e eficiência aumentaram. A nova geração em desenvolvimento, com lançamento previsto para 2023, contará com a capacidade instalada da ordem de 100 MW e prevê-se que a partir de 2030 sejam iniciadas as primeiras pesquisas em cooperação com a indústria química para uma geração de Silyzers posterior, da ordem de 1 000 MW.”
- Regulação e burocracia ainda são entraves para o investimento? Como vê essa questão no Brasil em comparação com outros países?


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José Paiva, country managing director da Hitachi ABB Power Grids no Brasil
“No setor de energia, a regulação é boa, forte e bastante consistente. O que o Brasil vive é um ambiente mais amplo de insegurança jurídica. Contratos que poderiam não ser judicializados vão até as cortes superiores e demoram muito tempo para gerar uma decisão. Acredito que o Brasil poderia se beneficiar de uma segurança jurídica maior e esse é um ponto fundamental à frente, de um país que precisa investir para recuperar a economia a sua infraestrutura no pós-Covid.”
- Qual a perspectiva para o mercado de energia no Brasil para os próximos anos? Alguma matriz se destaca?
“Minha visão sobre os próximos anos é extremamente positiva para o Brasil. Eu vejo um vasto crescimento das eólicas e solares, até pelo crescimento bastante acelerado do mercado livre. No Brasil estamos caminhando na direção da liberalização dos mercados de energia, e o mercado livre valoriza bastante as eólicas e as solares. Além disso, o Brasil continuará a investir com grande sucesso, como tem sido nos últimos cinco anos, no seu sistema de transmissão e distribuição de energia. Com isso, continuaremos a sofisticar esse sistema, com mais controle e digitalização. Como se isso não bastasse, no Brasil teremos ainda os leilões de 5G, que tem aplicação principal justamente na digitalização das infraestruturas. Por último, o pré-sal continuará sendo um ativo em franco desenvolvimento, não apenas com o óleo, mas com o gás associado, setor no qual veremos soluções importantes, em especial na região Sudeste. Dessa forma, vejo com muito bons olhos os próximos cinco a dez anos no Brasil no setor de energia. Temos muitos recursos naturais e excepcional qualidade para enfrentar essas novas realidades.”
- Quais os principais projetos e investimentos no Brasil no momento?
“Temos ótimas parcerias na região, em todos os nossos mercados de atuação, seja de geração e transmissão de energia, como também aplicações para clientes industriais. Um dos principais projetos é com a Braskem, que conta com a modernização do sistema termelétrico na unidade de Mauá (SP) e a instalação de uma unidade de cogeração movida a gás residual de processo com alto teor de hidrogênio, que envolve mais de meio bilhão de reais.
Também estamos fornecendo o escopo completo de soluções para GNA I, no Porto do Açu (RJ) o maior parque termelétrico da América Latina. Nesse projeto, iremos também realizar a operação e manutenção da usina para ajudar a garantir confiabilidade, disponibilidade e desempenho.”
DESAFIO DE CARBONO NEUTRO
A partir de outubro, a Hitachi ABB Power Grids passa a se chamar Hitachi Energy. A transição de nome reflete o ambiente energético em rápida evolução e a oportunidade de criar valor econômico, ambiental e social; e habilita a empresa a posicionar suas tecnologias pioneiras e digitais a atender a clientes futuros e já existentes, indo além da rede elétrica – abrindo uma variedade de oportunidades em áreas como mobilidade sustentável, vida inteligente e data centers.
Combinando soluções e serviços digitais avançados, como o Hitachi Lumada, com uma plataforma energética construída com base em especialização e experiência única do domínio, a empresa está atendendo aos clientes e parceiros para cocriar soluções globais e solucionar o desafio global de um futuro inclusivo e equitativo neutro em carbono.
José Paiva, country managing director da Hitachi ABB Power Grids no Brasil, concedeu a BRASIL ENGENHARIA uma entrevista em julho, logo após a empresa completar um ano e anunciar a mudança de nome. “Nós temos cerca de 1 250 funcionários no Brasil e atendemos o mercado de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, o mercado industrial de um mercado geral, mas também associados à geração e conexão à rede. Nós estamos sempre focados e associados à questão da energia elétrica”, explica Paiva. A empresa tem fábricas em São Paulo e em Santa Catarina.
Acompanhe a seguir os principais pontos.
ESTRATÉGIA DE REBRANDING - “Nós éramos uma divisão da ABB até um ano atrás e essa divisão foi vendida para o grupo Hitachi. Nós ainda permanecemos como uma joint venture, onde a Hitachi tem 80,1% de participação e a ABB se mantém com 19,9%. Temos quase 36 000 funcionários e todo esse grupo de pessoas saiu da ABB a um ano atrás e se tornou uma empresa independente, mas dentro de um grupo Hitachi.
A tendência é se consolidar cada vez mais. Somos líderes mundiais nas tecnologias associadas a redes elétricas. E aqui no Brasil também somos líderes. Temos mais de 100 anos no Brasil, participamos do desenvolvimento do sistema elétrico ao longo desse tempo.
Na celebração de um ano dessa joint venture, nós anunciamos que a partir de outubro nós vamos mudar nosso nome que hoje é Hitachi ABB Power Grids para Hitachi Energy. A tendência é que a ABB venha a sair dessa joint venture. O acordo inicial que havia era de três anos; já se passou um ano e essa é a tendência.”
CARBONO NEUTRO - “Existe uma mudança de estratégia no sentido que as redes elétricas estão mudando, então, com esse objetivo dos países e das empresas de em 2050 atingir uma situação de carbono neutro, é evidente que a estratégia da empresa agora é essa. Nós vemos que a participação dos renováveis vai ser muito maior, com esse objetivo de equilíbrio de carbono neutro, seja em 2030 ou em 2050.
Nós estamos presentes nas hidrelétricas, na grande maioria delas nós temos sistemas de transmissão de corrente contínua que trazem energia a partir de Itaipu, do Rio Madeira, no Norte, para a região Sudeste, por exemplo. Nós estamos presentes deste lado, mas a nossa visão é de que para atingir essa nova situação de energia, a participação dos renováveis tem que ser muito maior do que é hoje e que, portanto, esse seria o primeiro pilar da espinha dorsal do sistema de energia.
O segundo pilar que a gente vê, e é uma área que também atuamos e pretendemos atuar mais significativamente aqui no Brasil, é a questão do transporte elétrico. Então, vamos ter mais energia renovável no sistema, mais transporte elétrico. A expectativa é que mais de 60% do transporte seja elétrico até 2030, mas estamos falando principalmente do transporte coletivo, seja de ônibus ou caminhões.”
CONFIANÇA NO MERCADO LIVRE - “Nós tivemos um início bastante difícil no ano passado, mas ao final do ano, houve os leilões e o próprio mercado livre levou os negócios a terem um bom resultado no fim do ano passado. Ou seja, tivemos um crescimento em relação a 2019.
Nós pretendemos continuar crescendo, não podemos te dar números específicos. Acreditamos que este ano as coisas estão caminhando positivamente até aqui. Este ano não estão previstos grandes leilões pelo governo, o que pode ter algum impacto nos
negócios do ano que vem, mas acreditamos que o mercado livre deve ajudar a manter o volume de negócios.
Nas termelétricas a gás que estão sendo feitas, nós temos participação com a interconecção da termelétrica no sistema elétrico. Então, basicamente, a subestação elevadora da termelétrica para conexão com a rede, nós fazemos.”
EXPORTAÇÕES - “Uma parte do crescimento que a gente falou está associada à nossa capacidade de exportar transformadores, principalmente transformadores grandes. Temos tido sucesso na exportação dos transformadores para os Estados Unidos, por causa do preço do dólar.
Exportamos para toda a América Latina e, mais recentemente, em função da sobrevalorização do dólar, uma parcela significativa da nossa capacidade de produção, dependendo da época, essa fábrica pode estar fornecendo 50% do que produz para os EUA.”
INTERCONECÇÃO DO SISTEMA DE ENERGIA - “Vamos ter um sistema muito mais interligado no futuro, principalmente porque os sistemas de geração renováveis não são concentrados, como no caso das hidrelétricas, mas requer que o sistema esteja interligado, o que é um ponto positivo no sentido de evitar que flutuações eventuais na armazenagem de água acabem acarretando um problema de falta de energia em uma área específica do país. Ou seja, quanto mais interligado o sistema estiver, melhor nós vamos conseguir controlar o fluxo de energia que vem de uma e outra área de geração.”
SUBESTAÇÂO DIGITAL - “O que a gente está vendo também é que com essa interligação e as características dos sistemas renováveis, que não são constantes como nas hidrelétricas, a digitalização é uma questão fundamental no controle desse sistema. Então, temos investido na digitalização, temos feito vários projetos com clientes. Temos os primeiros, como uma subestação digital para a Aneel de 500 kilowatts.
Essa subestação digital, do ponto de vista da energia, não tem muita diferença de uma normal. O que ela tem de diferente é que para cada elemento da subestação, um transformador, um para-raio, um transformador de corrente etc., precisava trazer cabos para a sala de controle para monitorar esse negócio. Já a subestação digital tem fibras óticas percorrendo a planta propriamente dita onde estão os equipamentos. Todas essas informações – e é uma quantidade muito maior de informação que você pode absorver hoje em dia pela facilidade dos sistemas de medição e dos instrumentos que estão acoplados a esses equipamentos – é captado na própria planta onde estão os equipamentos, o pátio da subestação, e depois tem a sala de controle com um número limitado de fibras óticas.
Então, tem o benefício de diminuir a quantidade de material que você precisaria, dar uma condição no sistema de monitoramento mais rápido, além do próprio tamanho da subestação, que pode ficar menor. Você pode acomodar os equipamentos em um espaço menor e tem a velocidade de construção da subestação, não do ponto de vista civil, porque os equipamentos continuam sendo grandes, mas do ponto de vista das instalações elétricas tem muito benefício nesse sentido.
De modo geral, com essas tecnologias digitais, fica muito mais fácil ao invés de fazer manutenção corretiva ou mesmo preventiva, utilizando os dados que estão disponíveis, porque a quantidade de dados que você pode ter a partir dessas tecnologias digitais é infinita, então, utilizando esses dados, você pode fazer a manutenção preditiva e nesse sentido, garantir primeiro que as falhas no sistema sejam muito menores, mas também que você possa estender mais a vida útil dos equipamentos, o que significa que fica mais barato.”
O IMPACTO DO BIM NO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA
Segundo os principais estudos de mercado promovidos por companhias como McKinsey&Company e PWC, há desafios estruturais na indústria de energia elétrica, voltados para o atendimento às restrições das políticas e regulações governamentais, iniciativas de integração da matriz energética com fontes renováveis e a atualização e confiabilidade da infraestrutura existente.
Nesse âmbito, novas tecnologias e soluções inerentes à Indústria 4.0 podem alavancar a transformação digital nas principais concessionárias de energia elétrica do país e em todo o seu ecossistema.
Para Fernanda Machado, especialista técnica da Autodesk, entre as potenciais ações de digitalização que agregam valor para estas empresas, é relevante mencionar a otimização e o mapeamento de usinas e demais ativos pertencentes às áreas de geração, transmissão e distribuição, assim como a gestão de interferências em contexto, a manutenção preditiva e baseada em condições, a prevenção de interrupções e, finalmente, o alcance da eficiência operacional e de análises avançadas orientadas por dados.
Na visão de Joyce Delatorre, também especialista técnica da Autodesk, a realidade mostra que há um caminho a ser percorrido que exige uma gestão de mudanças organizacional, uma vez que é observada a carência de um inventário da infraestrutura existente, as dificuldades de acesso às informações dos ativos, e um gap observado entre os ativos que já estão em operação e a inexistência de documentação digitalizada e atualizada.
A Modelagem de Informação da Construção, mais conhecida como BIM, é a expressão atual que melhor traduz a transformação digital nos setores de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC). Como líder global em BIM, a Autodesk é o parceiro da indústria que ajuda as empresas a encontrarem melhores formas de trabalho e os melhores resultados para seus negócios e o mundo da construção.
Na indústria da Energia Elétrica, o valor agregado da adoção do BIM – incluindo políticas, novos processos e tecnologias – tem reverberado em resultados expressivos nos seus diversos segmentos, endereçando os desafios mencionados e as necessidades de mu-

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Joyce Delatorre, especialista técnica da Autodesk Fernanda Machado, especialista técnica Autodesk

dança. O BIM se potencializa com a colaboração, coordenação e comunicação em nuvem. O aumento do uso e o valor para os clientes fica evidente, e já é observado nos casos de companhias internacionais e brasileiras, relata Joyce Delatorre.
Por exemplo, em um projeto canadense de geração de energia hidrelétrica de 10,7 bilhões de dólares – que contempla como facilities uma barragem e uma estação geradora – o poder da nuvem e de soluções de modelagem de projetos de engenharia, além de simulações e análises de pré-construção, elevou o nível dos fluxos de trabalho de diversas companhias envolvidas. Onze escritórios de diferentes localidades utilizaram a Autodesk Construction Cloud para compartilhar documentos e modelos, realizar revisões, coordenar o projeto e monitorar alterações em tempo real. Os colaboradores passaram a economizar em torno de 20 horas semanais nessas atividades.
Por outro lado, a Insole, uma clean-fintech brasileira que integra o Porto Digital no Recife, em Pernambuco, dobrou sua produtividade e apresentou uma impressionante redução de 50% no custo dos projetos, após automatizar seus processos de vistoria, análise de viabilidade, projeto executivo e acompanhamento de obras de instalações fotovoltaicas – para incentivar o mercado de geração solar distribuída. A adoção de processos scan-to-BIM e o uso de soluções de programação visual, como o Dynamo, foram fundamentais para garantir a fluidez da informação e a integração das diversas áreas de negócio da companhia.
Em Medellín, na Colômbia, já no âmbito de projetos e obras de ativos de transmissão e distribuição, uma grande companhia trouxe a luz os desdobramentos da integração entre o seu Sistema de Informação Geográfica (GIS) e as soluções de projetos (BIM). A integração permitiu a redução de incertezas nos estágios iniciais de projeto, assim como a concepção rápida de soluções técnicas considerando restrições ambientais e de propriedade. Outra consideração foi a consolidação de informações entre operação, patrimônio e meio ambiente, que diante da automação GIS/BIM passou de 3 semanas de trabalho, diante da dispersão das fontes da companhia, para somente 1 dia.
Segundo Fernanda, outro caso impactante a ser citado é na área de desenvolvimento de projetos de subestações, onde apesar da complexidade das informações envolvidas, é possível notar um tempo de resposta no processo muito mais curto. Exemplo disso é relatado pela ESC Engenharia que, comparando dois empreendimentos equivalentes tecnicamente, constataram que a conclusão de layouts gerais foi até 22% mais rápido utilizando a metodologia BIM da Autodesk em comparação ao desenvolvimento em CAD. Eles verificaram também uma redução de 13% no desenvolvimento de detalhamentos gerados pela primeira vez e mais de 42% de redução de tempo após uso de um template elaborado para a criação de entregáveis.
Portanto, esses casos demonstram que, embora ainda emergente, o uso de novas tecnologias em sinergia com o BIM tem explicitado retornos sobre o investimento significativos nos diversos segmentos de energia. Ademais, observa-se por meio dos esforços organizacionais de digitalização, subsídios necessários ao enfrentamento dos desafios estruturais típicos do setor.
GERENCIAMENTO E AUTOMAÇÃO DA ENERGIA NA INDÚSTRIA
Felipe Figueiró* / Maria Fernanda Finamor**
Um comparativo feito entre 110 países, elaborado pela Global Petrol Prices, mostra que a energia no Brasil é a 37ª mais cara do mundo. Tal fato, associado à crescente adoção de políticas de GHG (Green House Gases) pelas empresas, trouxeram holofotes ao insumo energia.
O segmento industrial, por exemplo, apresentou um aumento de consumo superior a 6,4% nos últimos 3 anos (considerando 5 primeiros meses de 2021). No mesmo período, observou-se um maior volume de migrações ao mercado livre em nível de consumidores, resultando em 150 migrações por mês, o maior número desde 2016, movidos pela busca de fontes mais sustentáveis e economia na despesa de energia, tida comumente como uma das três maiores despesas dos consumidores.
O ano de 2020 foi de grandes impactos energéticos para todos os tipos de negócios, desde comércio até grandes indústrias, impactados diretamente pelas restrições para evitar o aumento da crise sanitária do COVID-19. Já em 2021, contrariando diversas projeções, observou-se eleva-
Felipe Figueiró, especialista de Portfólio da Engie Soluções
ção no consumo superando níveis observados nos últimos 3 anos.
Na contra-mão da retomada da demanda, tivemos a oferta diretamente impactada pela crise hídrica que vem se configurando nos últimos meses, resultado da pior estação chuvosa dos últimos 91 anos. Atualmente, estamos com o nível dos reservatórios do sistema em 40%, com a criação Maria Fernanda Finamor, de comitê específico para adoção gerente de Portfólio da de medidas de mitigação a crise, Engie Soluções com alternativas desde programas de resposta a demanda, até campanhas mais incisivas sobre uso consciente de água e energia. O custo, a partir da necessidade de acionamento de usinas mais caras, também deve encarecer a conta de todos os consumidores. Saber trabalhar com seus recursos em momentos como este é essencial para uma melhora na performance energética. Devido a este cenário, o gerenciamento e a automação da energia se solidificam como uma das melhores soluções para auxiliar as equipes responsáveis nas indústrias a otimizar o uso da energia com ferramentas que permitem FOTO: DIVULGAÇÃO administrar os parâmetros técnicos e financeiros, a partir de indicadores e KPI’s de consumo e custo. Os preços de compra de energia devem ser constantemente monitorados, de forma a manter uma estratégia de suprimento segura e assertiva. O gerenciamento de energia garante diversas vantagens à gestão energética e ao desempenho da organização. Entre elas estão: Combate ao desperdício, recebimento de alertas em casos de desvios, geração de dados para apoiar times locais na tomada de decisão, acompanhamento do fator de potência e FOTO: DIVULGAÇÃO a garantia de um melhor enquadramento da modalidade tarifária e demanda contratada. Este fator alinhado a automação, permite uma gestão ativa que resulta em economia. Além da sustentabilidade, a redução dos custos com eletricidade pode contribuir para mais oportunidades de negócios e aumentar a vantagem competitiva, o que é crucial nos dias de hoje. * Felipe Figueiró, especialista de Portfólio da Engie Soluções ** Maria Fernanda Finamor, gerente de Portfólio da Engie Soluções

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FONTES SOLAR E EÓLICA IMPULSIONAM INDÚSTRIA
Fabricante brasileira de pás utilizadas em geradores de energia eólica, localizada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, a Aeris Energy produziu em MW, no primeiro trimestre de 2021, 96% a mais que o mesmo período do ano passado. “Não divulgamos projeções de resultados, mas podemos dizer que neste ano bateremos novamente nosso recorde de produção em MW equivalente”, informa Bruno Lolli, diretor de Planejamento e de Relações com Investidores da Aeris Energy.
A empresa está bastante otimista com o potencial do mercado livre e as possibilidades no Brasil e no exterior. “Há uma série de investimentos na construção de usinas eólicas para comercialização neste mercado, no qual as indústrias podem negociar diretamente contratos e preços de energia. Considerando as oportunidades de crescimento nos mercados livre e regulado, esses empreendimentos eólicos deverão representar uma expansão anual de até 4GW em potência instalada na próxima década”, projeta Lolli.
Fora do Brasil, a Aeris está focada na energia offshore, especialmente nos Estados Unidos. Segundo o executivo, a empresa quer aproveitar o plano do governo dos Estados Unidos, que prevê implantar, até 2030, 30 gigawatts em eólicas offshore - suficiente para abastecer cerca de 10 milhões de residências e eliminar 78 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano.
A atual expansão do parque fabril da Aeris já permite à empresa produzir pás de até 120 metros, o que a coloca em posição de atender a esse segmento. Hoje, no mercado offshore esses equipamentos variam de 105 metros a 115 metros.
Segundo Lolli, hoje a Aeris exporta cerca de 30% das pás fabricadas no Brasil. No primeiro trimestre deste ano, os principais destinos das exportações das pás produzidas pela Aeris foram Estados Unidos, Austrália e Chile. LIDERANÇA EM RASTREADORES SOLARES A STI Norland, empresa espanhola especializada em fabricação e fornecimento de rastreadores solares para projetos de energia solar fotovoltaica, foi reconhecida
como a principal fornecedora de trackers do Brasil e da América Latina. De acordo com o relatório mais recente “Global Solar PV Tracker Market Share 2021”, publicado pela consultoria britânica Wood Mackenzie, que traz os dados de mercado consolidados de 2020, a companhia passou de 39% da participação de mercado no país para um total de 70%, em 2020, liderando o ranking do Brasil pela segunda vez consecutiva. A condição se estende a todo o hemisfério sul, de acordo com o relatório. Já na América Latina, a STI Norland dobrou sua participação em relação ao ano anterior, elevando de 17%, em 2019, para 35% e alcançou a 5ª posição no ranking mundial das principais empresas do setor. “O último ano, sem dúvidas, foi um dos que mais enfrentamos desafios, em todo o mundo e em todos os aspectos, desde a pandemia em si, até a falta de matérias-primas, câmbio, economias e toda essa instabilidade. Claro que ficamos apreensivos com o que iria acontecer, mas desde o início desenhamos estratégias com o que estava ao nosso alcance e focamos em continuar com nossas entregas, dedicando tempo e atenção por completo para cada projeto. O resultado foi muito positivo e conseguimos atravessar esse ano superando nossas expectativas”, destaca Javier Reclusa Etayo, CEO da STI Norland. O Brasil foi destaque no relatório, que já leva em consideração as consequências de um ano em pandemia, ao contrário dos resultados do bloco América Latina como um todo, que viu uma redução de 2% nas demandas. O setor de rastreadores solares no país aumentou de 1 992 MW, em 2019, para 2 788 MW, em 2020, crescendo 40% na produção e venda deste tipo de energia, ainda que em pandemia. FOTO: DIVULGAÇÃO Com suas oito filiais pelo mundo, apenas no ano passado, a STI Norland foi responsável por fornecer 3 102 MW de seus equipamentos para usinas solares, excedendo o crescimento esperado. O aumento foi de 99% em relação ao ano anterior, durante o qual foram fornecidos 1 558 MW de rastreadores solares. Esses dados fizeram a empresa espanhola aumentar sua participação no mercado global e se tornar a quinta maior fabricante mundial de rastreadores solares. Javier Reclusa Etayo, CEO da STI Norland
PEDIDOS ATÉ 2023

A Vestas, empresa líder em energia sustentável, fabrica e instala diferentes modularizações de turbinas eólicas para atender à demanda futura de energia

eólica, tanto onshore quanto offshore.
Diante das características dos ventos brasileiros, os modelos de turbina V150, nas variações 4.2 e 4.5 MW, têm sido usados em diferentes localidades. Tanto que a V1504.2 MW se consolidou como a turbina mais vendida de todos os tempos no país.
Em maio deste ano, a empresa ultrapassou 5 GW em pedidos para esse modelo, o que significa mais de 1 200 unidades. Em outubro de 2020, anunciou o Modo de Potência Otimizado de 4.5 MW para a V150-4.2 MW. Essa inovação faz parte da plataforma 4 MW, que já conta com dez anos de evolução a partir de uma tecnologia já validada. Os primeiros modelos serão instalados em 2022.
“Este tem sido um ótimo ano para nós. Destes mais de 5 GW em pedidos, ultrapassamos em abril 2 GW de naceles da V150-4.2 MW produzidas”, afirma Jonathan Colombo, gerente de Relações Institucionais da Vestas Brasil.
Atualmente, a Vestas possui 5.5 GW instalados ou em construção no país, o que inclui mais de 1 200 unidades da nossa principal turbina para o mercado local, a V150-4.2 MW, fabricada em Aquiraz desde 2018.
Além da unidade de fabricação em Aquiraz, no Ceará, a empresa tem um Centro de Serviços em Natal, no Rio Grande do Norte, e um escritório administrativo em São Paulo, onde são coordenadas as operações de vendas, construção e serviços no país.
As turbinas eólicas da Vestas no Brasil estão distribuídas nas cidades de Aquiraz, Trairí e Amontada, no Ceará, Campo Formoso, Morro do Chapéu e Umburamas, na Bahia e Mossoró e João Câmara no Rio Grande do Norte, todas em solo.
“Devido ao sucesso de vendas da V150-4.2 MW, até o momento temos pedidos para serem entregues pelo menos até 2023. Aqui se incluem os primeiros pedidos para o Modo de Potência Otimizado de 4.5 MW para a V150-4.2 MW, que têm previsão de entrega para 2022”, informa Colombo. CRESCE PROCURA POR CERTIFICAÇÕES
A pandemia de Covid-19 e a preocupação em reduzir as emissões de CO2 movimentaram as empresas de certificações, como o Bureau Veritas. “As companhias que adotam critérios ESG atraem mais olhares. De acordo com o estudo Global Institutional Investor Survey, 77% dos fundos das seguradoras e fundações, planejam aumentar seus investimentos em marcas que aderem a práticas ESG, diretriz que se firmou no meio empresarial como um componente indispensável para qualquer estratégia”, segundo José Cunha, diretor de Certificação do Bureau Veritas.
O grupo atua de forma completa para auxiliar cada vez mais as empresas, como as do setor de energia, em diferentes frentes. Com uma equipe multidisciplinar, realizam análises de viabilidade de projetos com levantamento de todas as informações e acompanhamento até a entrega final, controlando custos e prazos, além da avaliação e monitoramento de todas as condições de segurança para garantir qualidade na hora da execução.
“Também inspecionamos equipamentos de alta e média tensão, supervisionamos montagem de turbinas em campo, analisamos periodicamente se todas as normas e regulamentações brasileiras estão sendo cumpridas e avaliamos toda a rede de fornecedores”, explica Cunha. O trabalho do Bureau Veritas ainda inclui apoio nas operações comerciais, verificação de medição para combater as perdas não técnicas, leitura e entrega de contas de
FOTO: DIVULGAÇÃO energia, gestão de integridade de ativos e atualização da base com auditorias em campo, testes de aceitação de fábrica para validar se a documentação e performance dos equipamentos e sistemas estão de acordo com as especificações do cliente, além de diligenciamento fabril para minimizar potenciais atrasos e problemas. Jonathan Colombo, gerente de Relações Na entrevista Institucionais da Vestas Brasil para BRASIL ENGENHERIA a seguir, Cunha detalha como é o trabalho do Bureau Veritas.
- Quais são as principais certificações que o grupo oferece direcionado para sistemas de gestão de energia?
“Disponibilizamos diferentes certificações, como ISO 9001, ISO 14000, ISO 45001, ISO 50001, que garantem a legitimidade de todas as especificações e regulamentações internacionais. Além delas, oferecemos também certificações direcionadas para avaliações de documentações legais, análises de indicadores e verificações de relatórios de Sustentabilidade, analisando todas as medidas sustentáveis, como emissões de gases efeito estufa.”
- A procura por certificações de gestão de energia, direcionadas para sustentabilidade, tem crescido? Quanto? Desde quando é possível ver esse crescimento?
“As práticas sustentáveis é uma busca FOTO: DIVULGAÇÃO que segue em expansão mundialmente e as empresas estão se movimentando cada vez mais para se adaptarem a essa nova demanda que veio para ficar e que tornou-se um diferencial no mercado. Essa preocupação com as medidas mais sustentáveis já existe há alguns anos, mas é notável que a chegada da pandemia acelerou muitos processos e aumentou a preocupação das empresas com a sociedade e com o meio ambiente. A tendência é que essas medidas se fortaleçam e ganhem cada vez mais espaço. No setor de energia, por exemplo, as fontes ecologicamente corretas trazem economia às organizações, tem fácil instalação, pode ser utilizada em qualquer local, urbano ou rural, e ainda melhora a imaJosé Cunha, diretor de Certi cação do gem da empresa, fortalecendo a sua cultuBureau Veritas ra sustentável, um diferencial em relação à

concorrência. Além de tudo isso, reduzem a emissão de CO2 e as consequentes mudanças climáticas que vêm impactando o meio ambiente, melhorando a qualidade de ar, dos alimentos e a saúde das pessoas. As companhias que adotam critérios ESG atraem mais olhares. De acordo com o estudo Global Institutional Investor Survey, 77% dos fundos das seguradoras e fundações, planejam aumentar seus investimentos em marcas que aderem a práticas ESG, diretriz que se firmou no meio empresarial como um componente indispensável para qualquer estratégia. Essa transformação também é bem-vista para o mercado competitivo. No mundo, 84% das empresas já se movimentam para aderir a esses critérios e estima-se em 36% o aumento de investimentos em marcas mais sustentáveis. De acordo com a WSJ, apenas no segundo trimestre deste ano, foram emitidos mais de 31 bilhões de dólares em títulos verdes, mais que a soma de todas as emissões dos anos anteriores. A tendência é a procura aumentar. No Bureau Veritas, por exemplo, criamos o BV ESG 360 para atender essa demanda. O serviço é uma solução completa que reconhece o cumprimento das práticas ESG para empresas de todos os setores e portes que desejam aderir a medidas mais sustentáveis e não sabem como ou por onde começar.”
MERCADO DE MOTORES
“O mercado brasileiro tem se mostrado bastante promissor, com crescente demanda e oportunidades”, avalia Isabela Starling Costa, gerente de Marketing da FPT Industrial para a América do Sul. A marca é Líder em powertrain e fornecedora multi-power, com motores para diferentes missões, incluindo o segmento de geração de energia. Produz conjuntos geradores completos (chamados de Genset) e motores para geradores (G-Drive), das famílias de motores FPT S8000, NEF, Cursor e F5.
Como parte de uma extensa linha customizável, para geração standby (emergência), potência prime e potência contínua, de 30 kVA a 700 kVA de potência e mais de 30 modelos, nas configurações aberta e cabinada, os geradores de energia da FPT podem ser utilizados nas mais diversas aplicações, onde houver demanda de energia: desde hospitais, shoppings center e edifícios residenciais a canteiros de obras, indústrias, fazendas, estaleiros navais e plataformas de petróleo. A FPT Industrial também fornece motores para geradores para outras marcas conhecidas, como Himoinsa, Stemac, Generac e Pramac.
Somente na América do Sul, foram mais de 26 500 motores para geração de energia produzidos pela FPT desde 2007. Todos os modelos são produzidos no Brasil e contam com alternadores de alta eficiência, fornecendo energia limpa, rápida, confiável, eficiente e com baixo custo de manutenção e a já comprovada durabilidade dos motores da marca da CNH Industrial.

FOTO: NEREU JÚNIOR / DIVULGAÇÃO FPT INDUSTRIAL
ARMAZENAMENTO DE ENERGIA A Siemens, líder em soluções inteligentes de infraesIsabela Starling Costa, gerente de trutura, fortaleceu Marketing da FPT Industrial para a sua posição no América do Sul segmento de energia distribuída em parceria com a Micropower-Comerc Energia S.A. A empresa disponibiliza aos clientes bateria para armazenamento como serviço (bSaaS), que reduz os custos com eletricidade para os clientes e fornece energia de reserva muito mais rápida e limpa do que os geradores a diesel. A Siemens contribuirá com a Micropower-Comerc por meio de capital, engenharia, software customizado, uma plataforma digital de operações, além de outras ferramentas e serviços digitais. Não há a necessidade por parte dos clientes de realizar investimentos em equipamentos e instalação, e o serviço é custeado pela economia gerada pelo armazenamento de energia. Grandes consumidores de eletricidade como lojas de varejo, shopping cenFOTO: DIVULGAÇÃO ters, hotéis e plantas industriais poderão reduzir significativamente os gastos com energia usando o armazenamento para substituir o consumo de energia nas horas de pico, momento em que os custos com eletricidade são maiores. Além disso, o serviço da Micropower-Comerc melhora a eficiência energética ao reduzir oscilações e evitar perdas causadas pelas interrupções da rede de distribuição. A Siemens poderá monitorar remotamente o serviço instalado por meio do recém-inaugurado MindSphere Application Center, em Jundiaí (SP). As ferramentas e serviços digitais da Siemens baseadas na plataforma IoT (internet das coisas na sigla em Inglês), MindSphere oferecem muitos benefícios aos provedores de soluções de geração distribuída. As ferramentas digitais baseadas no MindSphere serão aplica-


das para otimizar as operações e gerenciamento do sistema, assim como antecipar as necessidades de manutenção ou melhorar o cronograma para maximizar a economia. O armazenamento instalado no local oferece ainda muitas outras aplicações, como abastecimento de veículos elétricos, eficiência de energia e edifícios inteligentes.
“O mercado brasileiro de hoje tem baixa qualidade na entrega de energia e os grandes consumidores ficam suscetíveis a flutuações e quedas na rede que prejudicam seus negócios. A solução de armazenamento da Micropower-Comerc e Siemens oferece não só benefícios diretos aos clientes, como também incentiva o uso de energia limpa pela sociedade em geral”, comenta Sergio Jacobsen, Vice-Presidente Sênior de Smart Infrastructure da Siemens Brasil.
“Além de introduzir o conceito de armazenamento de energia como prestação de serviço (o que em Inglês é conhecido pela sigla bSaaS), no mercado brasileiro, o novo serviço reforça o uso de energia limpa no país já que o Brasil utiliza anualmente mais de 2 bilhões de litros de diesel e derivados do petróleo para gerar eletricidade. Com a implementação dos sistemas de armazenamento, os clientes reduzirão a emissão de CO2 e poluentes, além de
incentivar o uso de recursos renováveis no país. Grandes corporações fizeram das metas ambientais uma prioridade em suas atividades. Vale ressaltar que a ativação da bateria para gerar energia leva menos de 1 segundo em caso “Empreendimentos de queda na rede de eólicos deverão distribuição, enquanto um gerador a diesel esse representar tempo fica entre 30 e 90 segundos.“ expansão anual “O Brasil é rico em de até 4GW” fontes renováveis e essa é mais uma solução que visa aproveitar todo esse potencial do país, que é um dos primeiros a investir nesse tipo de tecnologia. Tenho certeza no sucesso dessa parceria com a Siemens que trará muitos benefícios aos nossos clientes, principalmente na redução dos custos no consumo de energia”, afirma Marco Krapels, CEO da MPC. “Como o preço das baterias continua caindo, o armazenamento de energia distribuída se tornará a maior parte da nova economia de energia. Isso já está acontecendo em muitas partes do mundo como na Califórnia, Austrália e Alemanha, e essa parceria entre Micropower-Comerc e Siemens tornará essa tecnologia amplamente disponível no Brasil”, diz Krapels. “Isso permite que nossos clientes tenham um backup maior, e nossos sistemas de bateria controlados por software geram economia durante os horários de pico de consumo. Assim como os cavalos foram substituídos pelos carros até 1920, os geradores a diesel serão substituídos pelas baterias inteligentes. O futuro será distribuído, e o armazenamento terá um papel fundamental nessa transformação”.
Siemens Financial Services (SFS), braço de investimentos da Siemens, passa a deter uma participação de 20% da Micropower-Comerc. Esta transação representa o primeiro investimento no modelo “bSaaS” para a companhia, e posiciona a SFS para replicar globalmente os investimentos neste modelo de negócio.
“Temos grandes expectativas de transformar o setor de recursos energéticos distribuídos no Brasil junto com a Micropower-Comerc. A agilidade do time da Micropower-Comerc na execução do plano de negócios, junto com a marca, softwares e recursos de dados da Siemens são uma combinação vencedora”, diz David Taff, Gerente Sênior de Investimento da SFS Brasil.
McDonald’s hoje é um dos clientes no Brasil que já utilizam a solução da Micropower-Comerc. “Micropower-Comerc já instalou baterias de lítio-íon no Brasil incluindo um sistema em uma das nossas unidades em São Paulo“, afirma David Grinberg, Head de Comunicação do McDonalds’s Arcos Dourados. “O sistema da Micropower-Comerc nos permite reduzir os custos com energia e elimina a necessidade de ter um gerador a diesel diminuindo as emissões nocivas em nossa comunidade“.

EÓLICA E SOLAR CONTINUARÃO A CRESCER NA PRÓXIMA DÉCADA
FOTO: DIVULGAÇÃO
OGrupo Intertechne começou com alguns engenheiros especialistas em barragens e usinas hidrelétricas e nesse segmento se manteve nos primeiros 10 anos dos 34 que estão no mercado.
Com a desaceleração dos novos projetos em hidrelétricas, diversificou sua atuação até retornar à origem: projetos de geração de energia. Mas, desta vez, a eólica e, especialmente, a fotovoltaica.
“Quase que naturalmente fomos obrigados a nos preparar para atuar em outras fontes renováveis de energia e há uns sete anos começamos a nos dedicar principalmente aos solares”, conta Paulo Akashi, CEO da Intertechne, empresa de engenharia com sede em Curitiba (PR), que participa de alguns dos maiores projetos de usinas fotovoltaicas da América do Sul, como o Complexo Solar de Janaúba, em Minas Gerais.
O empreendimento está sendo construído pela Andrade Gutierrez, contratada pela Elera Renováveis, unidade do grupo canadense Brookfield no Brasil, e em sua primeira fase terá 830 MW de capacidade instalada. A Intertechne é responsável pelo projeto executivo civil e elétrico da usina solar fotovoltaica (UFV). O projeto teve início em janeiro e a expectativa é que comece a entrar em operação no início de 2022, com a conclusão dos 20 parques que compõem o complexo prevista para 2023. A área do Complexo Janaúba é de 3 000 hectares (mais de 2 700 campos de futebol). Nela, serão instalados mais de 1,5 milhão de painéis solares e a obra deve gerar 1 300 vagas de emprego no pico dos trabalhos. A Elera Renováveis informou que aproximadamente 1GW do projeto já foi vendido no Ambiente de Contratação Livre (ACL). Os compradores são as grandes indústrias, no mercado regulado para as distribuidoras que repassam ao consumidor final ou o mercado livre, onde estão grandes consumidores, as grandes indústrias.
Em projetos de implantação de usinas como o de Janaúba, a Intertechne desenvolve desde os estudos iniciais de identificação de áreas, medição de irradiação solar, definição de tecnologia, topologia, cobrindo toda a cadeia de estudos de viabilidade, até a execução para implantação, supervisão, encaminhamento de construção e operação. Para ajudar na redução de custos operacionais e gerar maior assertividade nos processos do projeto, os times da empresa utilizam a metodologia Building Information Modelling (BIM).
Segundo Akashi, a Intertechne tem participado de aproximadamente 15 projetos fotovoltaicos, especialmente nos últimos dois anos, com o aquecimento do mercado. “São projetos entre 30 e 700 megawatts, mas a tendência são os projetos acima de 200 megawatts”, informa.
Os desafios de implantação de complexos de energia, descreve o executivo, estão mais relacionados ao planejamento. “Talvez o maior desafio seja conciliar o arranjo do projeto com a logística e depois a operação do parque, supervisão de construção e, então, entrar em operação. Está muito mais relacionado ao planejamento, nunca deixando de olhar para como ele vai ser implantado, toda a logística, em função dos acessos, pela quantidade de contêineres”, explica. FOTO: DIVULGAÇÃO Paulo Akashi, CEO da Intertechne
MAIOR COMPETITIVIDADE E PREÇO ALAVANCAM SETOR

A tendência do mercado de energia no médio prazo, de 5 a 10 anos, é de forte crescimento das fontes solar e eólica, avalia Akashi, impulsionadas pela competitividade de preço que ambas alcançaram com o desenvolvimento tecnológico que deram escala aos modelos, pela questão ambiental e pelo desenvolvimento que deve ocorrer com as baterias, barateando o armazenamento de energia nesse período. “Temos acompanhado essa questão das baterias porque elas vêm para resolver esse problema da intermitência dessas fontes. Ainda é muito caro armazenar grandes quantidades de energia. Mas, na medida em que se viabiliza, com a queda do custo, o uso das baterias acaba com o problema da intermitência e não desperdiça porque haverá, então, possibilidade de armazenar

Norsk Solar, GDSolar e Órigo assinam acordo para a construção de 12 usinas fotovoltaicas no Brasil
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Parque eólico da Cemig em Parajuru, Ceará, tem 19 aerogeradores
e despachar quando houver necessidade”.
Embora na Intertechne o carro-chefe hoje seja a energia solar, a empresa também trabalha com as fontes eólica e hídrica. A empresa participa atualmente, por exemplo, da expansão da usina hidrelétrica binacional de Yacyretá, no Rio Paraná, entre a Argentina e o Paraguai. A obra consiste na construção de uma nova central hidrelétrica com três turbinas do tipo Kaplan, incrementando em 9% a potência atual. A ampliação, que teve início em junho de 2020, está prevista para ser finalizada em meados de 2024, quando a nova central contará com a potência instalada de 270 MW. MAIOR GERADORA DE ENERGIA RENOVÁVEL DO PAÍS
A Elera Renováveis conta com 66 ativos no país, sendo 43 hidroelétricas, 19 parques eólicos e 4 usinas de cogeração a biomossa. Segundo a empresa, três usinas em estágios avançados de construção: a PCH Foz do Estrela (PR), de 29 MW, que será concluída até o fim deste ano; o parque solar Alex (CE), de 360 MWp, que deve ser concluído agora no segundo semestre; e o parque solar Janaúba, de 1,2 GWp, com previsão de entrega em 2022 e com obras já iniciadas em janeiro deste ano.
No total, a empresa está construindo cerca de 1,6 GW de capacidade instalada, o que a levará a uma capacidade total de mais de 3 GW nos próximos anos, o que pode consagrá-la como a maior gerado-
ra de energia 100% renovável do país. A crise não afetou os planos da Elera, que vai investir quase 4 bilhões de reais em novos projetos hídricos, eólicos e solares até 2023 e seguem em busca de mais empreendimentos. CEMIG VAI AUMENTAR GERAÇÂO E INVESTE EM MODELO HÍBRIDO A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) possui um parque gerador composto 100% de energia renovável, totalizando uma capacidade instalada de aproximadamente 6 GW. A Cemig GT, subsi“No médio prazo, diária da estatal, pretende ampliar sua cao uso de baterias pacidade de geração vai acabar com até 2025, aumentando em 1 GW a capacidade o problema da instalada e diversificando a matriz energética, intermitência” com maior participação das fontes solar e eólica na carteira de ativos da companhia, informa Carlos Henrique Afonso, gerente de Expansão da Geração da Cemig. Os projetos de investimento em expansão hoje estão localizados em Minas Gerais, local privilegiado para desenvolvimento principalmente de usinas solares, mas também eólicos, e nos estados do Nordeste, para desenvolvimento de usinas eólicas. Os projetos de usinas solares de geração centralizada estão em desenvolvimento e foram recebidos recentemente da Aneel os Despachos de Requerimento de Outorga (DROs) dos projetos UFV Boa Esperança (85MW), da UFV Jusante (70MW) e UFV Três Marias I (60MW), uma usina solar flutuante, pioneira no país, a ser instalada sobre o reservatório da UHE Três Marias.
A usina solar flutuante deve ser instalada até o final de 2022, junto ao espelho d’água da hidrelétrica local e vai potencializar a geração de energia elétrica e solar. Com o modelo híbrido – fusão de duas fontes energéticas diferentes –, a CEMIG quer enfrentar os períodos de falta de chuva, como agora, recorrendo à energia solar.
Hoje, as usinas da Cemig em operação estão localizadas na sua maioria em Minas Gerais, mas também nos Estados de Goiás, Espírito Santo, Santa Catarina e Ceará. A empresa possui dois parques eólicos localizados no Ceará: Parajuru, com 19 aerogeradores, e Volta do Rio, com 28, formando uma capacidade de geração de 70,8 MW.
12 NOVAS USINAS FOTOVOLTAICAS
A Norsk Solar, empresa com sede em Oslo, Noruega, a GDSolar e a Órigo assinaram acordo para a construção de 12 usinas fotovoltaicas com capacidade de geração estimada de 37 MWp. O objetivo da Norsk Solar – que atua em mercados emergentes – é financiar, construir e desenvolver uma carteira de projetos de energia solar direcionada para os setores corporativo e industrial.
“Este acordo é um passo natural no plano de negócios da Norsk Solar no Brasil e consolida nossa entrada nesse mercado. Nossa equipe tem feito um excelente trabalho visando clientes dentro do espaço corporativo e industrial (C&I). O objetivo

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Planta solar de Dracena com um total de 90 MW, no Estado de São Paulo As primeiras plantas fotovoltaicas da Total Eren no País, no município de Bom Jesus da Lapa, na Bahia
é suprir a demanda por energia limpa, barata e com custo previsível. Este é o primeiro projeto de um pipeline de rápido crescimento e está alinhado com nossas ambições de crescimento na região”, disse Øyvind L. Vesterdal, CEO da Norsk Solar.
O investimento inicial previsto para essa fase totaliza 150 milhões de reais e a maior parte das usinas será construída no Estado de Minas Gerais. O contrato possui prazo de 25 anos. “O mercado corporativo e industrial brasileiro de energia solar está em rápido crescimento e vemos um grande potencial para nossa proposta de valor. Com essa operação estabelecemos uma marca forte no Brasil e garantimos uma boa posição de entrada no mercado. Nossa ambição é nos tornarmos um dos principais produtores de energia solar para clientes da C&I no País nos próximos anos”, afirma Mauro Benedetti, Country Manager para o Brasil da Norsk Solar.
O desenvolvimento da operação, a modelagem do negócio e a construção dos projetos é de responsabilidade da GDSolar, pioneira e líder no desenvolvimento de energia solar no Brasil. A sociedade com a GDSolar aumentará a reputação da Norsk Solar no mercado brasileiro e é um forte apoio ao posicionamento que a marca conquistou internacionalmente. “Aplicamos toda a nossa experiência para desenvolver esse modelo de negócio. Criamos a melhor e mais eficiente alternativa para que a nossa associação com a Norsk facilite a entrada da empresa no mercado solar brasileiro. Também vamos oferecer eficiência energética sustentável para que a Órigo amplie sua base de clientes. Dessa forma estamos antecipando o movimento de retomada da economia previsto para o próximo ano. Considerando o cenário que o setor tradicional de energia sinaliza para 2022, construímos uma operação sob medida para que nossos parceiros tenham uma vantagem competitiva no mercado de energia limpa”, afirma Alexandre Gomes, CEO da GDSolar.
A terceira empresa envolvida na operação é a Órigo Energia, pioneira no setor brasileiro de geração distribuída compartilhada e que atende atualmente através da gestão de cooperativas mais de 15 000 clientes, entre residências e pequenas empresas. A companhia, que tem em seu quadro de “Nossa ambição acionistas a TPG ART, é nos tornarmos MOV e Mitsui, é quem vai distribuir e gerir a um dos principais energia das novas fazendas negociadas na produtores de operação. “Essa ener- energia solar” gia gerada será distribuída como créditos para os nossos clientes, em linha com o nosso comprometimento de democratizar o acesso à energia limpa no Brasil, tornando-a acessível a todos, especialmente aqueles que se encontram na base da pirâmide social”, comenta o CEO da Órigo Energia, Surya Mendonça, que completa: “A economia proporcionada por esse modelo de geração distribuída é bastante significativa para as famílias, especialmente no momento desafiador que vivemos em vários aspectos e em que o custo da energia elétrica está em patamares elevados no país”.
Os projetos previstos nesse acordo estão alinhados com as diretrizes de investimento da plataforma de financiamento, a Nordic Impact Cooperation AS, estabelecidas pela Norsk Solar e Finnfund no início deste ano. METAS AMBICIOSAS E INVESTIMENTO EM RENOVÁVEIS A TotalEnergies atua no Brasil desde 1975 e aposta no potencial do País no setor de energia. Com o objetivo de ser protagonista mundial na transição energética, investe em uma matriz energética diversificada, que abrange toda a cadeia de energia: petróleo e biocombustíveis, gás natural, energias renováveis e eletricidade. Na área de renováveis, possui, atualmente, projetos solares e eólicos em desenvolvimento de cerca de 1GW no Brasil. Além disso, a empresa informa que está ativamente procurando assinar PPAs (Power Purchase Agreements - Contratos de Compra de Energia), no contexto do mercado livre de energia elétrica. A ambição da TotalEnergies é zerar suas emissões líquidas até 2050, junto com a sociedade, em sua produção e produtos de energia usados por seus clientes. Em 2030, a empresa prevê, por exemplo, que os produtos de petróleo serão responsáveis por cerca de um terço de sua produção e vendas de energia, e menos do que 20% até 2050, em comparação com 55% em 2020. A empresa possui ainda a meta de ampliar sua capacidade bruta de geração
de energia a partir de renováveis de 35 GW em 2025 para 100 GW até 2030, planejando ser uma das cinco maiores produtoras de energia renovável em 10 anos.
A Total Eren, dedicada às fontes eólica e solar, tem atualmente duas centrais eólicas, com cerca de 160 MW de capacidade instalada: os projetos Terra Santa (92,3 MW) e Maral (67,5 MW), localizados na cidade de Caiçara do Norte, no Estado do Rio Grande do Norte. A construção das duas centrais eólicas começou no fim de 2019, proporcionando uma diversificação e expansão na carteira de ativos da companhia no Brasil.
Os projetos vão ajudar a potencializar o Estado do Rio Grande do Norte como líder nacional na produção de geração por meio de ventos. A região possui mais de 150 parques instalados e cerca de 1 500 aerogeradores em operação, que alcançaram a capacidade instalada de cerca de 4,4 gigawatts de produção em 2020, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
As primeiras plantas fotovoltaicas da Total Eren no País, BJL 11 e BJL 4, localizadas no município de Bom Jesus da Lapa, no Estado da Bahia, foram inauguradas em 2018, com capacidade de 25 MW cada. Em 2019, a Total Eren também comissionou a planta solar de Dracena com um total de 90 MW no município de Dracena, no Estado de São Paulo.
Em março de 2020, a Total Eren garantiu um financiamento de 280 milhões de reais para o projeto de Dracena emitindo debêntures de infraestrutura de longo prazo cuja maturidade excede 17 anos. A Kinea Investimentos adquiriu 100% das debêntures, com avaliação AAA local pela Fitch Ratings. O investimento total foi de 350 milhões de reais.
TS INFRA E TAC INOVAM COM MÉTODO CONSTRUTIVO EM LINHAS DE TRANSMISSÃO
A qualidade de qualquer empreendimento é função da qualidade do processo e da qualidade do produto, e as obras de linhas de transmissão têm presença marcante neste contexto.
Aqui, qualidade do processo compreende utilizar materiais e métodos construtivos inovadores, sustentáveis e socialmente positivos, visando à execução das obras sem percalços e à entrega das mesmas dentro dos prazos previstos. E qualidade do produto significa disponibilizar à sociedade um recurso operacional seguro, eficiente, concebido sob a melhor técnica de engenharia e implementado com a melhor utilização possível de recursos financeiros.
Na realidade vivenciada pelo setor elétrico brasileiro, infelizmente não são novidade os atrasos na entrega em obras de linhas de transmissão. Somente no ano de 2020, cerca de um terço desses empreendimentos estavam inadimplentes com os prazos de entrega.
Nesse contexto, acresce lembrar outro lamentável elenco de números e gráficos que acompanham o segmento, dentre os quais os mais impactantes são os constantes acidentes. No empenho contínuo de reverter tal situação, os empreendedores se desdobram em esforços para mitigar tais riscos, desenvolvendo sucessivas campanhas de conscientização em briefings, treinamentos, palestras etc. nas frentes de trabalho.
Infelizmente, nem mesmo todos esses cuidados são suficientes para evitar acidentes ou incidentes, o que deixa clara a necessidade de se introduzir aprimoramentos que tragam maior segurança ao processo. Fernando Cruz*, Paulo Benites**
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Helicóptero transporta e posiciona módulos na montagem
Motivados por este cenário, nós da TS Infra e TAC estamos trazendo ao mercado um inovador método construtivo para utilização em linhas de transmissão, utilizando uma plataforma sustentável onde empregamos tecnologia para o desenvolvimento de ferramentas de apoio construtivo para acoplamento (travas e balizadores) e de engenharia utilizados na montagem das torres.
O método construtivo em tela se baseia numa logística customizada do projeto e compreende os seguintes procedimentos: - Desmembramento da torre em módulos; - Pré-montagem dos módulos no canteiro de obras; - Instalação das travas e dos balizadores nos módulos obedecendo a uma sequência lógica definida pelo Plano de Montagem; - Utilização de helicóptero para transportar os módulos do canteiro de obras ao local de montagem;
- Utilização de helicóptero para posicionar os módulos sucessivamente a partir das fundações, conforme definido no Plano de Montagem; - Utilização seletiva da equipe de montadores, minimizando sua interveniência no processo de montagem e os riscos associados.
Esta solução integrada, que trazem maior eficiência, redução dos ciclos construtivos e menor impacto ambiental além de mais segurança para os times de campo.
Temos plena convicção de que a inovação e a tecnologia são elementos primordiais para uma mudança de paradigmas neste setor.
* Fernando Cruz, presidente e CEO da TAC ** Paulo Benites, diretor comercial da TS Infraestrutura
Comprometimentos estruturais de empreendimentos instalados em orlas marítimas ou margens de rios
ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS*
Oavanço da urbanização e da ocupação utilitária do território brasileiro tem multiplicado o número de empreendimentos instalados na orla marítima e em margens de rios, com destaque à expansão urbana propriamente dita, portos, píeres, complexos turísticos, dutos, obras viárias, cabeceiras de pontes.
Nessa mesma proporção tem aumentado a frequência de graves eventos destrutivos associados à ação de elementos naturais da dinâmica geológica costeira e da dinâmica geológica fluvial sobre os referidos empreendimentos.
No que se refere à orla marítima a ocorrência de fenômenos erosivos (recuo da linha de costa) ou progradativos (avanço da linha de costa) é geologicamente natural, devendo-se à interação de fatores continentais, como o aumento ou a redução do fornecimento de sedimentos, e de fatores marinhos, como alterações sazonais do nível do mar, mudanças na dinâmica de ventos, temperaturas e correntes marinhas etc. A possibilidade de um aumento do nível dos mares como consequência de processos de aquecimento global seria um potencializador trágico dos problemas descritos, mas essa eventualidade não é hoje considerada como seu atual fator causal. O único elemento novo atuante nessa complexidade de processos costeiros é a progressão da ação direta do próprio homem, especialmente através do incremento (processos erosivos e assoreadores continentais) ou da supressão do fornecimento de sedimentos (caso de barragens cujos reservatórios retêm os sedimentos que normalmente seriam levados ao oceano). Em menor escala, mas importante localmente, as intervenções humanas na construção de obras marinhas, como diques, quebra-ondas, quebra-mares,
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espigões, também podem provocar, ao contrário, ou além de seus esperados objetivos benéficos, alterações de extremo risco para toda a orla próxima.
Quanto às margens de rios observa-se um acréscimo considerável de eventos destrutivos associados a fenômenos naturais, como é o caso das terras caídas na Bacia Amazônica, e a fenômenos induzidos por algum tipo de ação humana, como o aumento brusco de vazões decorrentes do maior e mais rápido aporte de águas de chuva advindos da elevação do Coeficiente de Escoamento Superficial proporcionada pela expansão das cidades e pela extensão das áreas rurais deflorestadas, como também obras diretas que alteram substancialmente a dinâmica fluvial, a exemplo de barramentos, derrocamentos, alargamentos, retificações de curso, implantação de diques, eclusas etc.
Em ambos os casos, ou seja, em orlas marítimas e margens fluviais, tem-se percebido um fator comum nos eventos destrutivos que se repetem, a ausência ou a insuficiência da consideração de elementos da dinâmica costeira e/ou da dinâmica fluvial nos projetos dos empreendimentos afetados ou causadores. O caso do acidente da ciclovia Tim Maia, na cidade do Rio de Janeiro, onde o projeto não teve em devida conta os eventuais impactos de ondas de ressaca sob o tabuleiro da pista, simboliza perfeitamente o infelizmente corriqueiro deslize técnico de não consideração das referidas dinâmicas.
A situação descrita aponta para a conveniência de duas providências. A primeira diz respeito à obrigatoriedade dos municípios litorâneos e ribeirinhos contarem em seu planejamento urbano com as determinações expressas em uma Carta Geotécnica municipal, que certamente delimitaria as faixas contíguas às orlas marítimas ou margens de rios que não possam ser de forma alguma ocupadas, assim como aquelas que possam ter algum tipo de ocupação desde que obedecidos certos critérios técnicos pré-definidos. A segunda providência diz respeito à adoção de uma legislação que torne obrigatória para a aprovação de projetos de empreendimentos situados em orlas marítimas e margens de rios a apresentação de um parecer técnico elaborado por especialistas em dinâmica costeira ou dinâmica fluvial. Sobre essa última providência a referida legislação poderia, por exemplo, envolver empreendimentos situados em uma faixa de 200 metros contados a partir da linha (cota) definida pela maré alta de sizígia, e no caso de margens fluviais, faixas de 50 metros contados a partir da linha definida pelo nível mais alto de seu leito regular para cursos d’água de até 10 metros de largura, de 100 metros para cursos d’água entre 10 metros e 50 metros de largura, e de 200 metros para cursos d’água com mais de 50 metros de largura.

* Álvaro Rodrigues dos Santos é geólogo, exdiretor de Planejamento e Gestão do IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas, autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia” E-mail: santosalvaro@uol.com.br
Estudo de caso: a concessão da CASAL
JOSÉ EDUARDO W. DE A. CAVALCANTI*
Aconcessão parcial dos serviços de saneamento da Região Metropolitana de Maceió (RMM), composta por 13 cidades, realizada pelo governo do estado de Alagoas, por delegação do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Maceió (poder concedente para este bloco de municípios), no último dia 29 de outubro por um período de 35 anos vencido pela BRK Ambiental constituiu no primeiro projeto licitado após a aprovação do novo Marco Legal do Saneamento (Lei 14.026 /2020). O processo foi conduzido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dentro de um programa que visa a estruturação de projetos de saneamento, desde a fase de estudos até a efetivação do contrato, tendo por objetivo atrair a iniciativa privada para o setor.
Anteriormente a esta parceria público-privada, foi promovido pela CONPESA em 2013 o maior contrato de PPP já assinado no Brasil. Trata-se do Programa Cidade Saneada, de Pernambuco, que busca elevar ao longo de 35 anos (período de duração do contrato), os índices de esgotamento sanitário nas 15 cidades na Região Metropolitana do Recife. Nesta PPP, vencida também pela BRK Ambiental, os investimentos estimados foram de 6,7 bilhões de reais, sendo 5,8 bilhões de reais do parceiro privado e 900 milhões de reais do parceiro público.
Outro contrato em moldes similares firmado em meio à discussão no Congresso sobre o novo marco foi o de responsabilidade da CORSAN - Companhia Rio Grandense de Saneamento, mediante um leilão de PPP visando a operação e manutenção dos Sistemas de Esgotamento Sanitário, bem como a execução de obras de infraestrutura, ampliações e melhorias dos sistemas de esgotos das cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre com investimentos estimados em 2,23 bilhões, dos quais 1,86 bilhão por Saneamento, atrair a iniciativa privada para o setor.

parte da AEGEA vencedora do certame por ter ofertado o menor valor de tarifa de esgoto faturado.
A modelagem da concessão da CASAL reza que a estatal continue responsável pela produção de água tratada para os municípios da RMM, incluindo captação e tratamento, até a entrega à concessionária nos reservatórios da rede enquanto o operador privado ficará responsável pela distribuição de água tratada até o usuário final e de todo o sistema de esgotamento sanitário, além de realizar obras de melhorias em todos os sistemas, inclusive o sistema que será operado pela CASAL.
As 13 cidades que compõem a RMM, têm uma população estimada de 1,5 milhão de habitantes em sua área urbana (cerca de 50% da população de todo o Estado). São as seguintes: Atalaia, Barra de Santo Antônio, Barra de São Miguel, Coqueiro Seco, Maceió, Marechal Deodoro, Messias, Murici, Paripueira, Pilar, Rio Largo, Santa Luzia do Norte e Satuba, hoje operadas pela CASAL à exceção de Atalaia, Barra se Santo Antônio e Marechal Deodoro que são operadas por suas autarquias municipais de água e esgotos. Estes SAAEs deverão ser extintos e suas atividades e responsabilidades absorvidas pelo contratado, sendo que as tarifas hoje praticadas deverão ser ajustadas até atingir a tabela praticada pela CASAL nos próximos 5 anos.
Há ainda uma peculiaridade nesta concessão representada por duas PPPs em andamento na Capital relativas a esgotamento sanitário: a primeira firmada com a SANAMA na modalidade de concessão administrativa visando a implantação, manutenção e operação do sistema de esgotos para 216 000 habitantes da Parte Alta de Maceió com prazo contratual de 30 anos. O contrato com a SANAMA será mantido até expirar recebendo dos usuários apenas a tarifa de água de acordo com o contrato de interdependência.
A segunda, na modalidade de locação de ativos firmada com a SANEMA, com um prazo de 32 anos para implantação em alguns bairros de Maceió de um sistema de coleta e tratamento de esgotos beneficiando cerca de 130 000 pessoas. A BRK assumirá a operação quando as obras estiverem concluídas, recebendo dos usuários a tarifa de água e esgotos de acordo com o contrato de interdependência. Entretanto, a existência destes dois contratos, com obras já em andamento, implicará na redução das receitas totais, pois parte dela está comprometida para pagamento destas obrigações contratuais.
A situação sanitária atual do Estado de Alagoas, segundo o SNIS, revela um quadro pouco animador. A CASAL com seus 1.024 funcionários (Dezembro/ 2018), atende 77 dos 102 municípios do Estado levando água a 55,1% dos habitantes e coletando esgotos de apenas 10,9%, excluídos os SAAEs. No Bloco Metropolitano, a população atendida com água, coleta e tratamento de esgotos é, respectivamente 88,4%, 29,2% e 27%. Estes percentuais tenderão a ser substancialmente ampliados com a colocação em operação dos sistemas contratados com a SANAMA e SANEMA, já citados anteriormente.
A receita operacional total da Companhia é de 466,2 milhões de reais e o investimento realizado é de 27,7 milhões de reais. A tarifa média aplicada é de 5,41 reais/m³, constituindo-se da mais alta tarifa dentre os estados do Nordeste.
MODELAGEM PROPOSTA
As metas de universalização dos serviços de saneamento para os municípios da RMM propostas pela modelagem do BNDES são as seguintes: água 100% em seis anos para todos os municípios e índice de perdas projetado de 25% em 20 anos; esgotos: 90% (80% em povoados) com prazos variando de 6 a 16 anos conforme o município. Maceió, por exemplo, seria contemplada com esta meta em um prazo de oito anos (percentual relativo à população composta pelos residentes em áreas urbanas e povoados acima de mil habitantes).
Em conformidade com as premissas adotadas (data-base do modelo financeiro: 31/01/2019 e prazo do contrato de 35 anos), os investimentos projetados em base real (sem inflação), na área de concessão (CAPEX), foram estimados pelo BNDES em 1.581.376.443,00 reais, sendo 896.629.605,00 reais para água e 684.746.838,00 reais para esgotos, enquanto os custos operacionais totais (OPEX), foram estimados em 11.882.271,00 de reais, dos quais 5.145.734,00 de reais (43,3%) destinados aos pagamentos da tarifa de água para a CASAL, estipulada em 1,59 reais/m³.
As receitas (direta, indireta e financeira) foram calculadas com base em diversas premissas, dentre as quais os consumos médios, as tarifas médias (residencial, social e não residencial) dos vários municípios, índices de inadimplência, resultando em uma receita total (35 anos), de 22,2 bilhões de reais, das quais 13,9 bilhões de reais para água e 8,3 bilhões de reais para esgotos.
Com relação às premissas tributárias, o modelo adotado considerou como impostos indiretos, sob regime não-cumulativo, o PIS e o COFINS com alíquotas fixadas, respectivamente, em 1,65% e 7,60%. Como impostos diretos, levou-se em conta, considerando-se o regime de lucro real, Imposto de Renda de 15% acrescido de 10% daquilo que exceder 250 000 reais e a CSLL de 9% (Os custos e despesas com água tratada no atacado, energia elétrica, produtos químicos, manutenção do sistema, análises laboratoriais e disposição de lodo são passíveis de créditos tributários de PIS e COFINS. Da mesma forma, a despesa contábil com amortização do ativo intangível provenientes dos investimentos realizados também foram abatidos da base de cálculo).
No que se refere as premissas de financiamento, considerou-se 70% do CAPEX total nos dez primeiros anos, com sistema de amortização SAC; carência de juros e amortização de dois anos; prazo de amortização de vinte anos após a carência e custo nominal da dívida com cesta de crédito composta de 50% de bancos públicos e 50% de debêntures. Dadas as premissas de financiamento, o nível médio de alavancagem ao longo de 35 anos será de 39,9%.
O modelo resultou em uma margem de EBITDA média de 41,2% com uma TIR de 9,33%.
O LEILÃO
O Leilão, vencido pela empresa BRK Ambiental do grupo canadense Brookfield com um lance de 2,008 bilhões de reais (13.182% de ágio sobre o mínimo estipulado), representando o maior valor de outorga superando as ofertas de seis consórcios, foi realizado após adiamentos em função da pandemia e em meio a decisões judiciais em 30 de setembro de 2020 na Bolsa de Valores B3, em São Paulo, sendo o primeiro leilão realizado após a aprovação do novo Marco Regulatório do Saneamento.
Em segundo lugar ficou o consórcio Jangada (formado por Iguá Saneamento
e Sabesp), que ofereceu uma outorga de 1,48 bilhão de reais. Em terceiro, ficou o consórcio EQS (formado por Equatorial e Sonel), com proposta de 1,29 bilhão de reais. Na sequência, veio a oferta da AEGEA, de 1,21 bilhão de reais. O consórcio Águas de Pratagy fez proposta de 666 milhões de reais. Já o grupo Paraíso das Águas (formado por Avivo e Enops), ofereceu 450 milhões de reais. O lance mais baixo foi da Águas de Alagoas de 250,2 milhões de reais. Ressalte-se que o valor mínimo de outorga exigido pela modelagem do BNDES era de apenas 15,125 milhões de reais. Note-se que a Sabesp participou consorciada com empresa privada neste certame.
REAÇÕES CORPORATIVAS
O modelo apresentado pelo BNDES suscitou reações adversas de setores representados por entidades que reúnem as corporações de trabalhadores de companhias estaduais de saneamento, serviços autônomos de água e esgotos municipais e de outros setores da sociedade civil que questionam o apetite das empresas privadas de se interessarem por municípios menores que, em consequência, acabarão por serem absorvidos pelas empresas públicas estaduais e pelas autarquias municipais sem o benefício do subsídio cruzado em que o superavit das cidades maiores financiam os serviços nos municípios menores.
Por outro lado, a iniciativa privada se anima em participar das licitações envolvendo concessões dos serviços de água e esgotos que estão sendo licitadas por diversos municípios de pequeno e médio porte, além de comparecer aos grandes certames envolvendo PPP’s e concessões de regiões metropolitanas e grupamentos de cidades, como foram os casos de Recife, Porto Alegre, Cariacica, Mato Grosso do Sul e do bloco metropolitano de Maceió, dentre outras.
A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (Abes), importante associação do setor, manteve reservas sobre o novo Marco Regulatório, tendo sérias restrições com relação à nova lei, defendendo até a derrubada dos vetos impostos pelo Governo, principalmente aquele que impede a prorrogação dos Contratos de Programa. Especificamente sobre o modelo de concessão adotado pela RMM, a Abes se manifestou da seguinte forma: “Uma primeira preocupação refere-se à qualidade das modelagens que embasam os processos. A licitação de modelagens por intermédio de pregões tem resultado em contratações com descontos escandalosamente altos, usualmente acima de 50%, inexequíveis para o cumprimento dos termos de referência propostos. A brutal redução de valor leva à virtual eliminação de serviços de engenharia com o grau de detalhe que seria necessário...”
Em contraposição, a Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), grupo que congrega empresas ligadas direta ou indiretamente à cadeia produtiva do setor de saneamento básico se manifestou positivamente como segue: “(....) Além dos concretos resultados que serão refletidos na vida dos alagoanos, o leilão realizado hoje mostra a real modernização do saneamento brasileiro. O certame contou com a participação de sete grupos sólidos, incluindo empresas públicas e privadas e agentes de outros setores da infraestrutura. Essa pluralidade concretiza a argumentação da atratividade do setor e da capacidade dos agentes e investidores de atuar no saneamento brasileiro (...)” “(...) Hoje, o mundo tem seus olhos direcionados para o saneamento brasileiro. É preciso comemorar e parabenizar todos os atores envolvidos nesse processo. O governo do Estado de Alagoas pela conduta visionária ao optar pelo caminho da competição, o BNDES pelo excelente trabalho desenvolvido, a BRK Ambiental e demais competidores pela ousadia e disposição de investir no setor (...)”
EPÍLOGO
Somente o tempo será capaz de revelar o sucesso ou insucesso destes e de outros empreendimentos cuja modelagem surgiu à luz do novo Marco Regulatório do Saneamento. O desafio é grande e muitas intervenções propostas no novo Marco ainda carecem de regulamentações e de um melhor entendimento.
O êxito deste processo e dos que vão se seguir vai depender da capacidade do contrato de concessão controlar os fatores de riscos. Parece que no caso de Maceió, e também o do Rio de Janeiro, o risco da demanda não se encontra devidamente considerado. Não se sabe se a população carente vai ter condição de pagar pela prestação dos serviços. De acordo com as avaliações feitas pela equipe econômica da CASAL, a tarifa de 1,70 de real, referente à água produzida, não será suficiente para suportar os encargos que lhe serão correspondentes, em especial a energia elétrica e o necessário subsídio aos sistemas do interior, especialmente os coletivos.
Por outro lado, tem-se o risco de que tenham êxito somente os blocos que são o “filé mignon” do negócio, enquanto aqueles considerados “ossos” sejam rejeitados pelo mercado. No caso de Maceió, este risco poderia ser controlado pela utilização dos recursos recebidos pela outorga para estruturar as duas PPPs para os demais blocos, com chances maiores de êxito. Entretanto, esta parece não ter sido a diretriz do Governo do Estado que domina o Conselho de Desenvolvimento da RMM e obteve carta branca do mesmo para utilizar como quiser os recursos da outorga.
É provável que também alguns prefeitos prefiram utilizar estes recursos em outros setores ao invés de subsidiar a população do sertão e do agreste.
Na verdade, observados os documentos do BNDES que definem o programa, trata-se de um modelo de desestatização do setor de saneamento. Além disso, este modelo de privatização em que pese todo o cuidado na montagem da lei pode liquidar com o sistema de subsídios cruzados e o mico da prestação dos serviços dos municípios inviáveis vai cair no colo dos governos estaduais e dos prefeitos.
Esperamos que este Estudo de Caso focando a CASAL possa contribuir de alguma forma para reflexão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] BNDES: Roadshow Concessão de Água e Esgotamento Sanitário da Região Metropolitana de Maceió (AL) 02/12/2019. [2] Agradecimento: O autor agradece as contribuições dos Engenheiros Ricardo de Castro Martins Vieira e Hugo Sergio de Oliveira.
* José Eduardo W. de A. Cavalcanti é engenheiro consultor, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e colaborador da BRASIL ENGENHARIA E-mail: cavalcanti@ambientaldobrasil.com.br