BdF PE - Ed. 118

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O mais famoso frevo pernambucano foi escrito por uma mulher negra

ENTREVISTA| 11

Divulgação/IP.Rec

JOANA BATISTA RAMOS

Fundaj

ANDRÉ RAMIRO Vanessa Gomzaga

CULTURA | 13

Diretor do IP.Rec explica como proteger seus dados na internet

PE UMA VISÂO POPULAR DO BRASIL E DO MUNDO Pernambuco

Recife, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2020

ano 3

e d iç ã o 118

distribuição gratuita

Rani de Mendoça

Compra de fantasias e acessórios carnavalescos movimenta o comércio informal


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2 | OPINIÃO

EDITORIAL

Corrupção versa com educação? GOLPE. Os ataques à nossa frágil democracia foram intensificados a partir de 2016

Em 2019 acompanhamos os ataques do governo federal a educação pública

história do Brasil é A repleta de conjunturas onde a corrupção é

acusada pelos problemas econômicos e pela ineficiência dos serviços públicos, dentre outras mazelas que acometem a sociedade. Os ataques à nossa frágil democracia foram intensificados a partir de 2016 através de campanhas promovidas por setores do judiciário e camadas da classe dominante que incitavam o povo brasileiro a “acabar com a corrupção”. Passados quatro anos, a derrubada de uma presidenta legitimamente eleita e a eleição de um presidente que evoca o seu histórico de 30 anos de política sem cometer atos de corrupção, a Transparência Internacional, ao divulgar em 23 de janeiro de 2020 a pesquisa de Índice de Percepção da Corrupção, aponta que o Brasil apresentou em 2019 sua pior nota desde 2012 e

Educação (Fundeb) corre risco de não ser garantido a partir de 2021. O Fundeb, além de versar sobre quais os impostos e responsabilidades dos entes federados na garantia da educação, também dispõe sobre as regras de investimentos, buscando assim garantir critérios de equidade mediante às diversas realidades econômicas e políticas no território brasileiro. Como resultados da interrupção do fundo, apontamos o desvio de recursos públicos da educação para áreas que os governos considerem mais estratégicas e, consequentemente, na atual conjuntura a intensificação da fragilização das instituições democráticas. Para fazer frente a mais essa ameaça à construção da soberania popular é fundamental a mobilização da sociedade brasileira para a garantia de políticas educacionais baseadas na equidade, no desenvolvimento humano, no fortalecimento da democracia e no enfrentamento a todas as formas de opressão e desigualdade, dentre essas a corrupção, que é inerente ao sistema capitalista.

O que se intensifica no Brasil atualmente é o alto índice de desemprego caiu da 96ª para a 105ª posição.

Dentre os critérios considerados para a construção do parecer estão o desvio de recursos públicos e a habilidade dos governos em conter a corrupção, promovendo através de políticas públicas a diminuição das desigualdades sociais e a garantia de direitos para toda a população. No entanto, o que se intensifica no Brasil atualmente é o alto índice de desemprego e o desmonte dos sistemas de garantias de direitos para a classe trabalhadora. Nesse pacote encontra-se a Emen-

da Constitucional 95 que, dentre outras determinações, congela o investimento em políticas sociais para os próximos 20 anos. Dentre os danos que essas medidas desencadeiam, está a precarização do já frágil sistema de educação brasileiro, pois inviabiliza a vinculação de impostos para a implementação do direito humano à educação conforme garante a CF de 1988. Em 2019 acompanhamos os ataques do governo federal a educação pública, pois em tempos de reestruturação produtiva do capital a educação é disputada como mercadoria. Semelhante ao ano passado, o nascente ano de 2020 exige da sociedade brasileira a luta em defesa da educação pública. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da

Expediente Brasil de Fato PE O Brasil de Fato circula nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Paraíba e Bahia com edições regulares. Em Pernambuco está nas ruas todas às sextas-feiras com uma visão popular de Pernambuco, do Brasil e do Mundo. Página: brasildefatope.com.br | Email: pautape@brasildefato.com.br | Para anunciar: brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br | Telefone: 81. 96060173

Edição: Monyse Ravena | Redação: Vinícius Sobreira, Marcos Barbosa, Vanessa Gonzaga, Rani de Mendonça e Fátima Pereira. Articulista: Aristóteles Cardona | Colaboração: André Barreto, Bianca Almeida, PH Reinaux, Catarina de Angola | Administração: Iyalê Tahyrine Diagramação: Diva Braga | Revisão: Júlia Garcia | Tiragem: 20 mil exemplares Conselho Editorial: Alexandre Henrique Pires, Bruno Ribeiro, Carlos Veras, Doriel Barros, Eduardo Mara, Geraldo Soares, Henrique Gomes, Itamar Lages, Jaime Amorim, José Carlos de Oliveira, Fernando Melo, Fernando Lima, Laila Costa, Luiz Filho, Luiz Lourenzon, Marcelo Barros, Margareth Albuquerque (in memorian), Marluce Melo, Paulette Cavalcanti, Paulo de Souza Bezerra, Paulo Mansan, Pedro Lapa, Roberto Efrem Filho, Rogério Almeida, Rosa Sampaio, Sérgio Goaiana, Suzineide Rodrigues, Valmir Assis.


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GERAL l 3

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FRASE da semana

Renato Acha

A cidade passou por tragédias por causa das chuvas nesses últimos dias, foi, até onde sabemos tragédias naturais, mas há um ano houve o desastre de Brumadinho e esse não foi um desastre natural. Que a nossa música sirva de consolo no primeiro caso e no segundo, de perpétuo protesto. Caetano Veloso, em show em Belo Horizonte na última semana

Qual vai ser a sua fantasia de carnaval?

Nota

SERVIÇ0S Seleção de Agente Comunitário Ikamahã/ArquivoSesau

prefeitura do Recife abriu A um edital com 72 vagas para agente comunitário de saúde,

com salários de R$ 1.250. As inscrições podem ser feitas na internet até o dia 3 de março. Para participar, o candidato precisa residir no bairro de atuação, além de ter o certificado de conclusão do ensino médio e a prova, com questões de português, matemática e saúde pública está prevista para o dia 22 de março. As inscrições são feitas pela internet, no www.upenet.com.br.

Reprodução

IPVA

e inspirei no Hit do momento, ‘Tudo ok’! M Confeccionei uma tiara com amigas e estou planejando aquela produção! A intenção foi ser criativa e engra-

çada, e como é uma música muita gente vai entender a referência” Clara Fatel, produtora de conteúdo

o carnaval gosto de me fantasiar das bandas/ N cantoras que eu gostei nos últimos tempos. Esse ano, vou sair de Letrux, toda de vermelho, em noite de

climão! A cantora é uma Fenix musical, nos últimos tempos tem se posicionando bem nos palcos em defesa da democracia do país, além de suas músicas com conteúdo de empoderamento feminista, eu amo que só! Beatriz Eudócio, estudante

m Pernambuco, os condutoE res de veículos registrados no estado com placas terminadas

em 1 e 2 podem, a partir do dia sete de fevereiro, fazer o pagamento da cota única ou 1ª parcela do licenciamento 2020. O Governo do Estado está dando desconto de 7% para fazer o pagamento em cota única. Caso contrário, é possível pagar em até três parcelas. As datas de vencimento do IPVA observam o último dígito da placa do veículo.


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4 ||Mundo GERAL

NA

LUTA

Reprodução

8M

N

o Recife já iniciaram os preparativos para o ato do Dia Internacional de Luta das Mulheres, o 8 de março. Desde o início do mês, dezenas de coletivos, movimentos, partidos e ONG’s vêm organizando as atividades relacionadas à data. Para selecionar temas que sejam os motes das ações, as feministas estão fazendo reuniões para debater a conjuntura política na Região Metropolitana do Recife, no Brasil e no Mundo, selecionando as questões que impactam diretamente na vida das mulheres. A próxima reunião aberta acontece nesse sábado (01), das 10h às 16h com um almoço coletivo. A atividade acontece no Armazém do Campo, na Av. Martins de Barros, 387, Santo Antônio, Recife.

Eleições do CRESS PE Conselho Regional de Serviço Social de PernambuO co (CRESS – 4ª Região) inicia 2020 com as eleições do conjunto do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e

do CRESS para o triênio 2020-2023. No estado, uma única chapa foi inscrita, com o nome “Onde queres silêncio somos resistência”. Para o Conselho Federal, a única chapa inscrita foi a “Melhor ir à luta com raça e classe em defesa do Serviço Social”. Esse ano a votação será online. Para poder votar, o Assistente social precisa estar em pleno gozo de seus direitos profissionais e em dia com suas obrigações junto ao CRESS, inclusive com o pagamento da anuidade. É possível regularizar a situação e garantir o voto até o 28/02. Mais informações estão no site do CRESS, o www. cresspe.org.br/eleicoes-cfess-cress/

Direitos de Fato Trabalho Escravo: uma história ainda contemporânea data 28 de janeiro é marcada pelo Dia Nacional de ComA bate ao Trabalho Escravo, instituído em 2009, dia da chacina que assassinou auditores fiscais do trabalho na cidade mineira de Unaí, há 16 anos, enquanto que realizavam uma fiscalização de rotina em fazendas na área rural desse município. O trabalho análogo à escravidão, segundo o previsto no art. 149 do Código Penal, é caracterizado por jornada exaustiva, sobrecarga de trabalho, condições degradantes, restrição de sua locomoção em razão de dívida com o empregador e esforço excessivo, sendo a sua prática considerada crime e punida com pena de reclusão de dois a oito anos. Além da sua tipificação penal, no ano de 2003 também foi criada a Lista Suja do Trabalho Escravo, cadastro de empregadores que cometeram esses crimes, que compõe a base para combate dessa prática junto com o sistema de fiscalização, o qual conta com mais de dois mil fiscais do trabalho atuando nacionalmente, verificando denúncias e resgatando trabalhadores onde foi constatado o trabalho escravo. De acordo com o Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo, com dados de 2003 a 2018, foram mais de 45 mil pessoas resgatadas nessas condições no Brasil. Só em Pernambuco, foram quase 800 vítimas. Considerando o perfil dos resgatados no estado, 80% eram trabalhadores agropecuários e 28% estavam na fabricação de açúcar. Para denunciar casos de trabalho escravo, basta discar 100, sendo garantido o anonimato. *André Barreto é advogado trabalhista e membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia.)

Para entrar em contato e tirar dúvidas mande um email para contato.pe@brasildefato.com.br ou um whattsapp para 8199060173

ESPAÇo SINDICAL

Greve Dataprev O

s trabalhadores da Dataprev ligados ao Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados, Informática e Tecnologia da Informação em Pernambuco entraram em greve por tempo indeterminado juntamente com outras regionais que estão ameaçadas de fechamento e demissão dos seus trabalhadores, já que a empresa anunciou a possibilidade de demitir mais de 500 pessoas em 20 estados. A resistência está aumentando com a entrada na greve de estados como RJ, SP, DF, SC, CE, e RN. Sindpd PE

Consulta sobra a MP 905 Bancários PE

O

Sindicato dos Bancários de Pernambuco garantiu na mesa de negociação entre o Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), no dia 10 de dezembro, que os efeitos da Medida Provisória 905 não irão afetar os bancários do estado até que a categoria decida em assembleia se irá aderir ao aditivo. Na avaliação do Sindicato, o aditivo é bastante positivo e traz avanços, além de não permitir qualquer alteração à Convenção Coletiva, com as mudanças previstas pela MP 905: como por exemplo, ampliação da jornada de seis horas.


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Artigo

OPINIÃO I 5

Balbúrdia no Enem Ana Julia Ribeiro*

O

caos instalado e generalizado no Ministério da Educação (MEC), o maior órgão de educação do país, já não é segredo para ninguém. Após os escandalosos #errosnoEnem, tão difundidos pelas redes sociais, e que foram tratados com total relapso pelos técnicos do MEC e pelo ministro Abraham Weintraub, uma briga judicial foi instaurada. Sexta-feira (24), a Justiça Federal de São Paulo concedeu liminar suspendendo a divulgação dos resultados do Sistema de Seleção Unifica-

da (Sisu). No domingo, dia 26/01, após recurso à presidente do Tribunal Regional Federal da 3º Região, a decisão de suspensão foi mantida. No entanto, na tarde de ontem, 29/01, uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) atendeu o recurso do MEC, liberando a divulgação do resultado do Sisu 2020. Particularmente, continuo acreditando que a suspensão do Sisu é essencial para tentarmos recuperar o mínimo de integridade a todo o processo do Enem e dos demais programas (Sisu, Prouni e Fies) que o exame abriga. Pelo método de avaliação do Enem, a Teoria da Resposta ao Item (TRI), que conside-

Artigo

Nunca houve a real intenção de realizar o Enem com a seriedade que o exame exige ra a proporção de acertos e erros de todos os candidatos, a falha na nota de seis mil participantes podem influenciar, mesmo que por décimos, a nota de todos os demais candidatos. Por isso a necessidade de se corrigir novamente todas as provas. Entendo que é no mínimo

revoltante a todos os estudantes que realizaram a prova, a tamanha confusão e despreparo por parte daqueles que comandam o Ministério da Educação. Ainda assim, é importante lembrar que após a realização das provas o ministro Abraham Weintraub afirmou que o Enem de 2019 foi o melhor de todos os tempos, mesmo estando ciente que houve vazamento da prova, que as questões de filosofia e sociologia trataram somente sobre religião e que tentaram apagar parte da história brasileira ao não colocarem nenhuma questão referente ao período da ditadura militar.

O fato é que nunca houve a real intenção de realizar o Enem com a seriedade e eficiência que o exame exige. A educação de modo geral está abandonada no governo Bolsonaro. Com o esvaziamento severo do MEC e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ao mesmo tempo em que se exaure setores estratégicos da educação, torna-se absolutamente impossível promover com qualidade o maior processo seletivo de acesso à universidade do país. * Estudante, ativista por uma educação pública universal de qualidade

Sobre o Coronavírus: o momento é de reforçar os cuidados cotidianos Aristóteles Cardona Júnior*

assunto do moO mento, no âmbito da saúde, é o tal do Co-

ronavírus. Com as primeiras notícias surgidas na China, onde milhões de pessoas encontram-se em isolamento para tentar conter a propagação do vírus, vários outros países do mundo já apresentam casos a esta altura. Até agora foram cerca de 170 mortes, todas na China. Porém é certo que a cada dia este número seguirá mudando e somente com mais tempo é que poderemos compreender melhor o quadro e estimar o que vem pela frente. Aqui no Brasil, no mo-

mento em que escrevo esta coluna, temos nove casos suspeitos em investigação. Este vírus, chamado de Coronavirus, é da mesma uma família de outros vírus que causaram problemas recentemente. Em 2003, com 774 mortes em casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), e em 2012, com 858 mortes pela Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS). Ainda é cedo para se ter uma real noção da proporção que este surto assumirá. Há indícios de que, apesar da rápida propagação, a letalidade deste atual vírus pode ser menor que a do vírus que causou os casos

não há motivo para pânico maior em nosso país de SARS. Logo, repito, é preciso ter mais tempo e mais elementos para se ter uma perspectiva real sobre até onde vamos com este surto. É importante colocar estes elementos para reforçar que não há motivo para pânico maior em nosso país. Por ora, precisamos pensar os cuidados sob

duas perspectivas: a perspectiva do cuidado individual e do cuidado coletivo. Individualmente, o momento é de reforçar os cuidados cotidianos que devemos ter para evitar doenças como resfriados e gripes: fortalecer o hábito de lavar as mãos, evitar grandes aglomerados quando possível e manter-se sempre hidratado e com alimentação equilibrada. Coletivamente é preciso que os governos se mantenham preparados para garantir a estrutura necessária para o momento de chegada do vírus por aqui. Faz-se de fundamental importância também preparar os

profissionais para lidar com as situações potencialmente perigosas para a nossa população. O atual governo é reconhecido por manter posições que muitas vezes não têm base científica alguma. Porém, mais do que nunca, é preciso cobrar responsabilidade deste governo para a importância de lidar com a ciência e com as evidências científicas. Espero que não seja demais pedir por isso, pois está em jogo a saúde da população brasileira. *Aristóteles Cardona Júnior é Médico de Família no Sertão pernambucano, Professor da Univasf e militante da Frente Brasil Popular de Pernambuco.


6 | BRASIL

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Com chuvas, Rio São Francisco e lençol freático do Paraopeba podem estar contaminados ALERTA. Transbordamento do Paraopeba leva rejeitos da Vale para outros rios e cidades omitê da Bacia Hidrográfica do Paraopebas

dade pretende começar um levantamento para avaliar essas consequências. “Não há dúvida que isso suscita preocupação pelo teor das substâncias que essa água carrega. Por isso nós vamos fazer um levantamento próprio para saber como isso impactou o Rio São Francisco”, esclarece.

Amélia Gomes, de Belo Horizonte (MG)

P

assado um ano do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, o cenário é de caos em Minas Gerais. Com as fortes chuvas de 250 milímetros que atingiram a região central do estado nos últimos dias, o nível do Rio Paraopeba subiu mais de oito metros. Após um ano, os rejeitos da barragem da Vale ainda permanecem no leito do rio.

Enchentes obrigam o contato com rejeitos Diversas comunidades ao longo da bacia do Paraopeba estão enfrentando inundações. É o caso de Colônia Santa Izabel, em Betim, na Região Metropolitana da capital. Às vésperas do aniversário do crime da Vale em Brumadinho, centenas de moradores tiveram que ser retirados de suas casas pelo risco de enchente. À época, seu Sebastião Adão, de 76 anos, relatou a nossa reportagem a situação. “É um grande absurdo o que eles fizeram com a gente. Porque se a gente pegar uma contaminação ela vai vir cuidar da gente? Não vai, né.”, questionou. Por causa da situação, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) afirmou que acionou o Ministério Público e o Judiciário para que a Vale garanta ações emergenciais, como o fornecimento de água para a população, a retirada das comunidades que estão em

Lençol freático contaminado

Por causa da situação, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) afirmou que está acionando o Ministério Público e o Judiciário contato com a água contaminada e novas indenizações para as famílias que agora estão sendo atingidas. Para Joceli Andreoli, da coordenação do MAB, é preciso ressaltar que a situação não é apenas um fenômeno da natureza. “Não é uma enchente. É metal pesado, é lixo tóxico sendo jogado nas laterais do rio, entrando nas casas”. “A empresa teve um ano para resolver a questão e não resolveu.”, critica.

Rio São Francisco agora abriga rejeitos No dia que o crime da Vale em Brumadinho completou um ano, 25 de janeiro de 2020, a Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, que fica en-

É metal pesado, é lixo tóxico sendo jogado nas laterais do rio tre os municípios de Curvelo e Pompeu, abriu suas comportas para evitar um transbordamento. O local retinha, desde o ano passado, os rejeitos do rompimento. Com isso, o material foi para a Usina de Três Marias, onde o Paraopeba encontra o São Francisco.

Para se ter dimensão do impacto que o deslocamento destes rejeitos pode causar, o lago da represa conhecido como “Mar de Minas”, comporta 21 bilhões de metros cúbicos de água e tem uma extensão de 1.040 quilômetros quadrados de superfície. Já a bacia do Rio São Francisco possui uma extensão de quase 640 mil quilômetros quadrados, entre Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. De acordo com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) a bacia abrange 505 municípios, onde vivem 18 milhões de brasileiros. Anivaldo Miranda, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco afirma que ainda não há como saber qual foi o impacto causado ao rio, mas a enti-

Apesar da contaminação do rio Paraopeba, o lençol freático da região permanecia intacto à contaminação. No entanto, com o transbordamento do leito, a situação pode ter sido alterada. O impacto para o abastecimento na região e também para o consumo e venda de peixes pode ser imensurável. Como denuncia Winston Caetano de Souza, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Paraopeba. “Vários poços artesianos, inclusive que a Vale tinha construído aqui da região, foram entupidos com a inundação. A gente não sabe ainda o grau de contaminação dessas águas agora”, alerta. “Fica todo mundo refém da Vale, o poder político e financeiro dela cala todo mundo, inclusive o próprio Estado.” critica. Nossa reportagem entrou em contato com a empresa Retiro Baixo Energético S/A, que é responsável pela usina, para saber como foi realizado o procedimento de abertura das comportas e se as comunidades foram previamente alertadas sobre o ocorrido. No entanto, até o fechamento desta reportagem não obtivemos nenhum retorno da empresa.


Brasil Brasil de de Fato Fato PE PE

Recife, 31 31 de de janeiro janeiro aa 613dedefevereiro fevereirodede2020 2020 Recife,

MUNDO MUNDO || 77

Assassinado há 72 anos, Gandhi inspira lutas pelo mundo e é alvo de disputa na Índia MEMÓRIA. Pesquisadores divergem sobre o papel do líder da independência indiana, cujo legado é reivindicado até por seus algozes Daniel Giovanaz, de SP

O

fundamentalista hindu Nathuram Godse, de 37 anos, matou o advogado Mohandas Karamchand Gandhi, de 78 anos, com três tiros à queima-roupa em Nova Delhi. Talvez os jornalistas escolhessem essas palavras para abrir a notícia do dia, na seção policial, não fosse a vítima um dos homens mais influentes do século 20. Era 30 de janeiro de 1948 e o relógio ainda não havia batido as seis da tarde quando a cidade escureceu de repente. Horas depois, o mundo declarou luto: Mahatma Gandhi, líder da independência indiana, está morto. Setenta e dois anos depois, o aniversário deo falecimento do “pai da nação” não é feriado na Índia, embora seja considerado “dia seco” em três dos 29 estados do país – Maharashtra, Kerala e Rajastão. Nessas regiões está proibido comprar ou consumir bebidas alcoólicas nesta quinta-feira (30), em sinal de respeito. Gandhi está mais perto de ser unanimidade fora da África do Sul e da Índia do que nos territórios onde

Arquivo/Reprodução

Gandhi foi personagem central das lutas anticoloniais na Índia atuou em vida. Para entender essa controvérsia, o Brasil de Fato reuniu interpretações de diferentes pesquisadores.

Origens Antes de se tornar Mahatma, que significa “grande alma”, Gandhi passou a infância e a juventude no estado de Gujarat, oeste da Índia, educado conforme os princípios do hinduísmo. Ao desembarcar em Londres, no Reino Unido, para estudar Direito, conheceu a obra do escritor russo Liev Tolstói, que se tornaria sua principal influência. Uma nova migração, desta vez para a África do Sul, propiciou a Gandhi o primeiro

Gandhi empreendeu uma luta de profundo sentido anti-colonial

contato direto com a política. Durante seis anos, participou de greves e protestos de mineiros indianos no país, consolidando-se como referência entre os trabalhadores.

Não-violência Não -violência

Arquivo/Reprodução

Biógrafos de Gandhi apontam que seu maior mérito foi congregar os interesses de hindus, muçulmanos, proprietários de terras e intelectuais filiados ao Partido do Congresso Indiano e jovens que vinham sendo massacrados em confrontos com militares a serviço do Reino Unido. Todos esses setores pareciam querer a Índia independente, mas a libertação só seria possível se atuassem na mesma frente de batalha, com uma estratégia comum. Não-violência e desobediência civil tornaram-se as palavras-chave. Greves de

fome e paralisações, as táticas de luta contra os impostos abusivos cobrados pelos britânicos. Por 24 dias, Gandhi comandou a “Marcha do Sal” e incentivou uma multidão de indianos a produzir seu próprio sal, o que era proibido pela metrópole. “Gandhi empreendeu uma luta de profundo sentido anti-colonial para enaltecer o trabalho na roda giratória, bem como para generalizar o ‘khadi’ (tecido rústico fiado à mão), o que fortaleceu a indústria de artesanato familiar do país”, explica o economista Óscar Useche, diretor do Instituto de Não-Violência e Ação Cidadã pela Paz (Innovapaz) em Bogotá, na Colômbia. O girar da roda simbolizava unidade e resistência nos territórios. “Para Gandhi, a comunidade era o campo de relacionamentos por excelência para a não-violência”, completa o pesquisador.

Sistema de castas Autores indianos contemporâneos, como a escritora e ativista Arundhati Roy,

têm se dedicado a contrapor a narrativa predominante sobre o papel de Gandhi na independência. Para a autora de “O Deus das Pequenas Coisas”, enquanto a ala liderada pelo jurista Babasaheb Ambedkar se posicionava pela abolição completa do sistema de castas, Gandhi adotou uma postura intermediária, que prevaleceu na Constituição de 1950. Um dos escritos mais citados de Gandhi, quando se trata de criticar sua visão sobre o sistema de castas, é The Ideal Banghi, de 1935. Nele, o autor afirma: “A tarefa de um brâmane [casta superior] é lidar com a limpeza da alma, enquanto os intocáveis devem se ocupar dos corpos” – os dalits eram responsáveis por trabalhos relacionados a lixo, esgoto ou cadáveres. Fundadora da Associação Palas Athena e premiada pela Jamnalal Bajaj Foundation por contribuir na promoção dos valores gandhianos, a argentina Lia Diskin pondera que foi o próprio Gandhi quem insistiu para que Ambedkar se tornasse ministro da Justiça e presidente do Comitê de Redação da Constituição.


8 | PERNAMBUCO

Recife, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2020

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Medida cautelar determina remoção de pista na praia de Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guarapes

DENÚNCIA. Tribunal de Contas do Estado (TCE) se baseou em irregularidades da obra e ameaças ao meio ambiente

Reprodução

Daniel Lamir

A

criação de uma via pública não pavimentada no bairro de Barra de Jangada abriu um novo ponto de debate sobre a ocupação do litoral pernambucano. No dia 10 de janeiro deste ano, o jornalista Eddie Rodrigues se deparou com máquinas e trabalhadores despejando britas e material arenoso em plena areia da praia. Eddie foi uma das pessoas a acompanharem a formação da pista nas proximidades de placas de alerta sobre local de desova de tartarugas. A obra rendeu mobilização popular e pedido de impugnação. A Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes iniciou a remoção da via após recebimento de intimação do TCE no último 28 de janeiro. O documento consta de protocolos como ausência de informações públicas sobre a abertura da via, supressão de área de restinga da praia, além de ausência de licenciamento ambiental. A Prefeitura também está sendo notificada a apresentar informações sobre a obra. A via foi aberta pela Secretaria Executiva de Serviços Urbanos e, além do TCE, o pedido de remoção foi acatado pelo Ministério Público de Jaboatão dos Guararapes e pela Agência Estadual de Meio Ambiente. Enquanto movimentos populares, estiveram à frente o Movimento Salve Barra de Jangada, Meu Mundo mais Verde e Salve Maracaípe. As críticas feitas pelos mo-

:máquinas na praia é do momento em que a via estava sendo aberta.

O recuo das construções é uma saída vimentos sobre a abertura da via acendeu também o tema do acompanhamento popular sobre as formas de ocupação urbana no litoral. De acordo com a Secretaria-

-Executiva de Serviços Urbanos de Jaboatão, a abertura da via no local da praia era temporária, enquanto outras duas vias estavam sendo pavimentadas, no caso as ruas Água Doce e Maria Digna Gameiro. Considerando as três vias em questão, é possível delimitar um terreno baldio após a Avenida Bernardo Vieira de Melo. Dentro da questão, um dos alertas feito por especialistas é o cuidado com o processo de erosão marinha na orla da Região Metropolitana do Recife. Isso por conta

da urbanização irregular nas últimas décadas, que acentuou o processo de estreitamento da faixa de areia no litoral. Em 2013, a prefeitura de Jaboatão dos Guararapes gastou R$ 42 milhões de reais com obras de drenagem para engordar a orla do município em mais de um milhão de metros cúbicos de areia. “A ocupação urbana de Jaboatão dos Guararapes deu-se sem a preocupação de seguir um recuo seguro que deveria ser maior do que o existente, pois a maio-

ria das edificações está sobre uma das áreas de recarga natural da areia das praias que são os terraços marinhos. Por esse motivo, antes de 2013, com avanço do mar, essas edificações ficaram sob risco e precisaram da regeneração artificial das praias com areia de jazida submarina”, destaca Núbia Chaves Guerra, doutora em geologia, do departamento de Oceanografia da UFPE. A geóloga adverte ainda que não é recomendado nenhum tipo de obra em áreas de de praias que passaram por processo de engorda.


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Recife, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2020 Marco Mondaine

Marco Mondaine

Via não pavimentada aberta. Ou seja, antes da remoção.

Os movimentos populares que estão acompanhando o caso propõem ainda uma legislação que delimite a altura das edificações próximas da praia, a exemplo do que está em vigor em João Pessoas, desde 1989. Na capital paraibana, é proibido construir edifícios com mais de 12,9 metros na faixa de 500 metros da orla. Além disso, sugerem modificações que amenizem a atual estruturação no litoral pernambucano.

A obra rendeu mobilização popular e pedido de impugnação

PERNAMBUCO l 9 Marco Mondaine

Reprodução Google

“O recuo das construções é uma saída. Estudos técnicos apontam que os problemas de contenção de mar como os muros são resultado de construções irregulares que interferem no processo natural do transporte de sedimentos do mar”, destaca o gestor ambiental Felipe Meireles, especialista em auditoria e perícia aiental.

Outro lado A presença humana em áreas litorâneas não configura necessariamente em degradação. Um exemplo são as 75 famílias que viviam na Ilha de Tatuoca, até 2016. A comunidade tradicional vivia há pelo menos duzentos anos no local, antes da construção do Complexo Industrial do Porto de Suape, nos municípios do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca. “Diversas comunidades que tinham laços ancestrais

com o território (como a que vivia na Ilha de Tatuoca, que hoje abriga dois estaleiros, um deles já desativado) foram confrontadas com um discurso colonial e racista de que a permanência delas no território era um entrave ao desenvolvimento. Um discurso violento acompanhando de práti-

cas também violentas para assegurar a saída dessas comunidades e a apropriação dos seus territórios por grandes empreendimentos econômicos”, destaca Mariana Vidal, assessora jurídica do Fórum Suape. Mariana destaca ainda a interrelação entre a violação do direito à moradia

com outros direitos negados, como à alimentação, à água, ao trabalho, à identidade. Em nota, a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes informou que a abertura da via pretendia facilitar a locomoção de viaturas e da Guarda Municipal em local com tráfico de drogas e prostituição. Anúncio


10 I CIDADES

Recife, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2020

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Compra de fantasias e adereços carnavalescos movimentam o comércio informal no Recife Nossa reportagem percorreu as principais ruas do centro da cidade e comenta os itens mais procurados pelos foliões Rani de Mendonça

O

centro da cidade do Recife é também um polo comercial. Os milhares de lojas e ambulantes que dividem espaços e fregueses as vezes anunciam a aproximação de datas comemorativas. No período pré-carnavalesco não é diferente. As cores e as fantasias tomam conta das prateleiras e dos tabuleiros dispostos pelas ruas e pelas calçadas. Neste período os artigos necessários para o material escolar têm dividido a atenção com os adereços e as roupas carnavalescas. Não precisa caminhar tanto para encontrar o que se procura, mas ‘lá para dentro’, nas ruas de mais difícil acesso, os preços são mais atraentes. Na rua de Santa Rita, que fica por traz do Mercado de São José, por exemplo, tem adereços para todos os gostos e bolsos. Desde o famoso “headband”, que são os arcos para cabelo, que custa R$3,50 até algumas presilhas em neon custando R$30. Outro queridinho que tem em todas

Rani de Mendonça

Rua de Santa Rita

As pessoas já começaram a procurar muito pelas fantasias as lojas são os brilhos, sejam em pó ou adesivos, são os mais procurados. As cores e os formatos são vários e diversos, como é, de fato a pluralidade da festa de momo em solos recifenses. Andando mais um pouco até a rua das Calçadas, os tabuleiros es-

tão abarrotados de fantasias infantis e adereços para a cabeça. Dona Natália Reis, 78 anos, ajuda sua cunhada em uma barraquinha de fantasias infantis há muitos anos, porque gosta de interagir com as pessoas e ouvir as histórias, mas diz que não perde tempo em convencer as pessoas a levarem a fantasia para os filhos. “As pessoas já começaram a procurar muito pelas fantasias. Elas só não estão gostando muito dos preços. Mas, a gente não tem para onde correr... todo ano sobe 5 ou 10 reais no preço das unidades. Mas, tem para todos os gostos, desde R$35 que são os palhacinhos e a gente vende muito, até

de vampiro e de Chaves, que custa R$50”, conta. No ranking das mais procuradas, Natália é rápida em dizer que disparadamente é a fantasia dos personagens Moama e de Mário Bros. Aline Silva é da cidade de Bom Conselho, no agreste de Pernambuco, mas mora na capital. Ela é artesã e está colocando suas produções à venda também na rua das calçadas. É seu primeiro ano expondo na rua, mas já avalia que vale a pena. “Tem muita gente, está bem agitado. Aos sábados mesmo, é uma loucura. Além daqui eu vendo pela internet e no boca a boca. Se a pessoa chegar aqui com uma ideia, eu faço”, conta. Já para Ladjane Veloso, agora que as vendas devem aumentar. A comerciante trabalha com produtos para recém-nascidos o ano todo e há seis anos que nesta época ela troca pelos artigos de carnaval: “O momento pede. A gente tem essa oportunidade de vender mais, ai eu vendo. As vendas estão melhores do que ano passado, mais ainFotos Rani de Mendonça

Dona Natália

Ladjane e Maria do Socorro

Ana Cataria e Aline

Ana Cataria e Aline

da não está no ápice, porque o pessoal ainda está comprando os materiais escolares. Semana que vem que começam as aulas é que o povo se preocupa com o carnaval”, diz. Sobre o que tem sido mais procurado, Ladjane conta que não dá para deixar de ter os “clássicos”, que são adereços para fantasia de noiva, diadema de diabinha, de sol, da lua. “Esse ano ainda não teve o adereço da moda. Ano passado foi malévola e da Jennifer (por causa da música de Gabriel Diniz). Mas, esse ano, ainda não apareceu e o povo tá seguindo a tendência do ano que passou”, afirma. A servidora municipal Maria do Perpétuo Socorro, estava correndo para dar conta das compras dentro do seu horário de intervalo. Levou da barraquinha de Ladjane uma headband de flores, que segundo ela, vai lhe acompanhar no bloco de carnaval do seu trabalho. Mas, ela já estava com várias sacolas porque já tinha comprado os adereços que faltavam para a fantasia deste ano, que será da personagem Pedrita, dos Flintstones. “Eu amo carnaval, brinco aqui e brinco em Bezerros, que é também muito bonito. Esse ano nos adereços, acho que vai ter muito neon e muito brilho”. Ana Catarina, outra cliente, levou 20 tiaras com rosas em neon diferentes. “Estou organizando a festa de 70 anos da minha irmã que será no tema de carnaval. Essas tiaras me chamaram atenção por causa das cores, que estão bem alegres”, conta.


Brasil de Fato PE

ENTREVISTA l 11

Recife, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2020

Segurança nas redes: “O próprio governo pode ser um agente de perseguição” Divulgação/IP.Rec

INTERNET. O Brasil de Fato Pernambuco entrevistou André Ramiro, diretor do IP.Rec, sobre privacidade e segurança na internet

A desinformação se combate com informação

Fátima Pereira e Vanessa Gonzaga

C

om a Internet, os dados de todo mundo são disponibilizados para cadastros em emails, redes sociais, lojas online e diversos outros sites. Mas nem todos são seguros, o que pode fazer com que seus dados sejam disponibilizados para outras pessoas. Essas informações podem ser usadas por estelionatários para realizar compras ou crimes virtuais. Por isso, o Brasil de Fato Pernambuco entrevistou André Ramiro, diretor do IP.Rec, o Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife para explicar sobre como proteger seus dados na internet. Brasil de Fato: Quais as atitudes dos usuários que deixam as suas informações mais vulneráveis na navegação na Internet? André Ramiro: A gente deixou para trás algumas políticas públicas de inclusão e educação digital, então a forma como são usados os programas mais famosos, como as redes sociais, esse tipo de comportamento gera uma visibilidade exagerada das vidas

segurança total não existe, assim como no mundo offline não existe. A gente pode ter três trincos na nossa porta mas ainda vai ter uma vulnerabilidade que alguém pode explorar e entrar na sua casa. Com aplicativos é a mesma coisa. As senhas são os primeiros passo para ter o controle das próprias informações. Costuma-se dizer que quem tenta quebrar senhas faz uso de dicionários, então essa é uma dica para ter senhas seguras, tente procurar palavras que só você conhece, que não está nos dicionários, porque quem ataca contas procura por palavras conhecidas, misturar números, usar frases. Senhas grandes e com criatividade, foi-se o tempo do 1234 e ABDCE.

Uma segurança total nenhuma senha tem e informações do usuários. Muitos vezes eles começam a usar esses aplicativos sem saber quais são as configurações de privacidade, por exemplo, e terminam expondo mais suas vidas do que eles pensam, e também a dos amigos, familiares, parceiros. BdF: Quais as ameaças das redes sociais em relação a confidencialidade dos nossos dados? André: A configuração padrão das redes sociais que a gente mais usa, o Facebook, Instagram, YouTube, navegadores, o Google, nos induzem a essa superexposição e os riscos são diversos. Por exemplo, se no mundo of-

fline já vemos uma série de vulnerabilidades a minorias, como negros, indígenas, feministas, lgbtq, na internet esse tipo de violência e perseguição é possibilitado por padrões de configurações de privacidade somados a um desconhecimento da nossa parte sobre como estamos vulneráveis. Fora isso tem a ação dos hackers, que invadem os computadores e até mesmo de governos. O próprio governo pode ser um agente de perseguição e usar dessa falta de privacidade que as redes oferecem. Imagine uma agência de inteligência ou a Polícia Federal se quiser mapear o perfil de um ativista, ela consegue apenas entrando no Facebook dele. Uma série de fatores tecnológicos e sociais possibilitam uma vigilância cada vez maior em relação a gente, sobretudo quem tem uma vida política ativa. BdF: Qual o papel das senhas para as redes sociais onde nos cadastramos? Como fazer senhas seguras? André: Uma segurança total nenhuma senha tem. Na segurança da informação, costuma-se dizer que

BdF: Quais os maiores riscos em relação a segurança dos dados nas redes sociais? André: Existem várias formas de ver os riscos. A invasão da vida privada é consequência de uma segurança fraca. Alguém que esteja lhe perseguido pode lhe localizar e saber o que você fez, e ter acesso a você, sua família, seus filhos. O momento político talvez seja o que mais me chama atenção, com a criação de perfis políticos e que podem gerar uma ameaça à democracia. A partir do momento que o nosso senso crítico e a opinião política são desmontados, a gente não tem como ter o diálogo e construção política transparente bem informada. BdF: As redes sociais

foram um instrumento de disseminação de notícias falsas nas eleições do Brasil em 2018, o que gerou uma CPI para investigar o caso. Qual sua opinião sobre o papel das redes nas últimas eleições? André: As pessoas que a gente conhece que votaram em candidatos que disseminam fake news a gente vê que essa opinião política foi formada por essas informações. Mas não dá pra saber exatamente como isso funcionou, não tem como saber exatamente por quais motivos as pessoas foram induzidas a votar. Por mais que seja uma grande manobra por trás dessas eleições é difícil ter clareza até que ponto elas influenciam mas o que a gente sabe é que há uma grande indústria política e econômica por trás disso que se favorece da ignorância e da confusão. A desinformação se combate com informação e não com leis que criminalizam por exemplo o ato de compartilhar notícias falsas, porque é difícil medir a parcela de culpa de quem compartilha esse conteúdo. Todo mundo já compartilhou algo sem saber até que ponto era verídico. Essa pessoa deve ser presa por compartilhar algo que talvez ela nem saiba que é falso? A solução pra isso passa por uma questão mais social e de fiscalização.


12 |CULTURA

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O que

tu indica

Álbum “Esquartejada”, de Uma Martins * Gabriela Pessoa

Reprodução

I

ndico ouvir o projeto da cantora pernambucana Una Martins, intitulado “Esquartejada”. O álbum é maravilhoso e intenso como a artista. Com pouco menos de 40 minutos e 11 faixas, é daqueles que você escuta inteiro e no final quer ouvir de novo, até cansar. Acredito que a música “faz ideia” é

a mais conhecida do projeto, foi através dela que conheci Una e quis ouvir mais o que ela tinha para cantar-encantar. Outra canção que compõe o álbum e cativa os ouvintes é a faixa “útero”, com uma letra carregada de reflexões existenciais e a voz marcante de Una, nos faz emba-

lar num ritmo gostoso de ouvir. Outra coisa maravilhosa é também assistir o videoclipe da música, com direção de Olívia Godoy, o clipe de útero tem uma melodia envolvente e uma dramaticidade impecável. O cenário e tema do vídeo apresentam elementos referentes à terra, natureza e pertencimento, carregados de poesia e criatividade. Esquartejada é daqueles projetos que alimentam nosso ego pernambucano, cheio de orgulho em ser uma terra que produz música-arte de altíssima qualidade. O álbum está disponível nas plataformas digitais e o videoclipe no YouTube da cantora. Gabriela Pessoa, assistente social, residente de saúde mental e militante da Marcha Mundial das Mulheres

Agenda Cultural

Eu acho é pouco

Arrastão “Eu Acho é Pouco”

S

ábado, 01 de fevereiro, acontece a prévia/arrastão de carnaval do bloco Eu Acho é Pouco. O evento será realizado a partir das 9h, com saída da sede da agremiação, que fica na Rua de São Bento s/n - Carmo, Olinda, em frente à praça Laura Nigro. Eu Acho É Pouco sai às ruas com estandarte e dragão para brincar um Carnaval afetivo, político e inclusivo. O evento é gratuito.

Grupo bongar

Centro Cultural Grupo Bongar ia 01 de fevereiro, a partir D das 18h, vai ter apresentação do Grupo Bongar, Pirão Bateu, Xambá das Yabás e a participação de Marron Brasileiro para comemorar o aniversário de 4 anos do Centro Cultural Grupo Bongar- Nação Xambá. O evento é aberto ao público e ocorre na Rua Severina Paraído da Silva, 5330, atrás do TI Xambá.

Divulgação

Lançamento

o dia 6 de fevereiro, às N 19h, será realizado o lançamento do livro “Quando as

luzes artificiais se apagam”, organização de Pedro Severien. No evento, aberto ao público, o autor fará uma leitura do capítulo que dá título ao livro, com intervenção visual da artista Biarritz. O lançamento será no Sinspire Arsenal, que fica na Rua Da Guia, 234 - Praça Do Arsenal, Bairro do Recife, Recife.

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Qual é o Bairro?

Reprodução

Tejipió hama-se Tejipió, desde o século C XVII, a grande extensão de terra existente na margem esquerda

do rio Tejipió. De acordo com os linguistas, o nome Tejipió provém de uma alteração da palavra tupi tejupió, que significa raiz de teju, uma planta que existia em abundância naquelas terras. A localidade existia bem antes da invasão dos flamengos. Dela fazia parte um engenho de açúcar pertencente a Sebastião Bezerra. Depois de 1630, o engenho foi abandonado por seus proprietários e confiscado pelos holandeses, sendo vendido como uma grande fazenda a João Fernandes Vieira, em 1645. Ele, por sua vez, construiu uma bela casa para residir. Quando foi deflagrada a luta contra os holandeses, acampou em Tejipió a tropa vinda da Bahia, sob o comando dos mestres-de-campo André Vidal de Negreiros e Martin Afonso Moreno. Essa tropa tinha se juntado ao exército independente pernambucano, na povoação do Cabo de Santo Agostinho. Foi de Tejipió, inclusive, que partiram muitos soldados valorosos para a jornada que resultou na batalha das Tabocas. No início do século XX, o bairro de Tejipió era um distrito de Jaboatão até que no ano de 1928 foi anexado ao Recife, por ordem do Governador Estácio Coimbra.


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Variedades l 13

CULTURA | 13

O mais famoso frevo pernambucano foi escrito por uma mulher negra Fundaj

MÚSICA.Em meio a um cenário protagonizado por homens, a história da compositora é invisibilizada Rani de Mendonça

alvez com o nome T “Frevo nº 1 do Vassourinhas” você não se recor-

de, mas se já experimentou ir atrás de algum bloco na capital pernambucana ou em Olinda durante o carnaval, sabe bem que música é esta. É aquela canção que quando a orquestra começa a tocar “Pã rãn rãn rãn rãn rãn rãn“, ninguém ficara parado. O que era bastante desconhecido é que esta marcha de carnaval em sua versão original tinha letra e foi escrita por uma mulher negra. Joana Batista Ramos, junto com Matias da Rocha, criou um dos hinos do Carnaval pernambucano, em 6 de janeiro de 1909. Embora existam depoimentos de ex-participantes do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas de que a Marcha foi escrita na mesma data de sua fundação, um documento de 1949, descoberto por Evandro Rabello no 2º Cartório de Registro Especial de Títulos e Documentos, revela, numa declaração de Joana Batista, a autoria e a data da composição. “A marcha intitulada Vassourinhas pertencente ao Clube Carna Mixto Vassourinhas. Foi composta por mim e o maestro Matias da Rocha no dia 6 de janeiro de 1909, no Arrabalde de Beberibe em um Mocambo de frente à estação do Porto da Madeira, dito mo-

filmado ainda com poucas informações sobre Joana. O único documento público que comprovava a sua existência era o recibo de venda dos direitos autorais da música para o tradicional Clube Vassourinhas. Mas, agora é sabido que Joana era doméstica e que teve três filhos com Amaro Vieira Ramos. Já foram feitas entrevistas com familiares dela, como netos e bisne-

tos, além de artistas e militantes que defendem a visibilidade das mulheres negras, como Vera Baroni, advogada com especialização em Direitos Humanos e Saúde Coletiva, fundadora da rede de Mulheres de Terreiro de Pernambuco. A película ainda conta com participações das cantoras Fláira Ferro, Gabi da Pele Preta e Isaar França, todas pernambucanas.

A TRAJETÓRIA DA MÚSICA

epois de mais de 100 D anos de escrita, a música já passou por di-

versas modificações até chegar a famosa de hoje. Em 1945, o compositor e cantor Almirante (Henrique Foréis Domingues) descobriu que a letra da canção de roda se encaixava corretamente na de Joana Batista Ramos e Mathias da Rocha. Usou a segunda estrofe da canção de roda e escreveu mais duas outras e gravou com o nome de Frevo Número Um e um subtítulo - Marcha Regresso do Clube Vassourinhas.

Primeira versão escrita por Joana cambo, hoje é uma casa moderna”, diz o documento. Em 18 de novembro de 1910, os dois cederam para o Clube os direitos autorais da música, por três mil reis, de acordo com recibo assinado por eles, localizado no acervo do clube carnavalesco. Embora escrita em 1909, a Marcha nº 1, só teve sua primeira gravação, pela Continental, em 1945, com melodia e letra interpretada por Déo e Castro Barbosa. O pouco que se sabe sobre esta mu-

lher compositora, que talvez seja filha de escravos, é que ela faleceu em 1982, com 74 anos. O seu atestado de óbito foi encontrado pela equipe do documentário “Joana: se essa marcha fosse minha”, que pretende revelar a história completa de quem foi e o que fez Joana. O filme, que ainda não tem previsão de lançamento, é dirigido pela produtora cultural Tactiana Braga e os jornalistas Camerino Neto e Maíra Brandão e começou a ser

Somos nós os Vassourinhas Todos nós em borbotão Vamos varrer a cidade Ah, isto não! Ah, isto não! Tu bem sabes o compromisso Ah, isto não! Não pode ser A mostrar nossas insígnias E a cidade se varrer Ah! Reparem meus senhores O pai desse pessoal Que nos faz sair à rua Dando viva ao carnaval

Acervo Fundaj

Partitura da 2ª versão da letra da Marcha nº 1 do Vassourinhas (1945) |

Versão de 1945 Se esta rua fosse minha Eu mandava ladrilhar Com pedrinhas de brilhante Para meu bem passear A tristeza, Vassourinhas Invadiu meu coração Ao pensar que talvez nunca Nunca mais te veja, não A saudade, Vassourinhas Enche d’água os olhos meus Que tristeza, Vassourinhas Neste derradeiro adeus


14 | VARIEDADES

Recife, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2020

HORÓSCOPO

31 de janeiro a 6 de fevereiro Áries - 21/03 a 19/04

É um momento bom para você entender qual o melhor método de trabalho para que haja evolução. A revolução acontecerá quando o método for internalizado.

Touro - 20/04 a 20/05

Nosso corpo chega nos lugares primeiro que nossa alma. E acredite, ela demora para ir embora. Faça uma revisão dos espaços que você tem ocupado.

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Nossa cozinha Bolinho de arroz frito

Gêmeos - 21/05 a 21/06

A relatividade ainda não foi superada e o sol continuará a nascer para fazer novas manhãs. Aquário em Mercúrio te ajuda a projetar os dias futuros.

Câncer - 22/06 a 22/07

Sua sensibilidade deve servir para perceber os que olhos não conseguem enxergar. Sensibilidade não é aptidão para a sofrência. Ajeite-se.

Leão - 23/07 a 22/08

A liberdade nada tem a ver com o individualismo. Só há liberdade quando ela é compartilhada. O diálogo é sempre a chave certa. Diva Braga

Virgem - 23/08 a 22/09

A sabedoria acontece quando a cabeça começa a entender o propósito dos pés. É um bom momento para construções coletivas. Aproveite.

Libra - 23/09 a 22/10

Seu papel no próximo período é de ser ponte. Assim como uma ponte pode ligar também pode ser o que separa. Para isso, procure ter coerência.

Escorpião - 23/10 a 21/11

Muitas novidades à vista e ao tato. O amor, este sentimento tão subjetivo, é o que te ajuda a manter os pés fincados no chão. Aposte alto.

Sagitário - 22/11 a 21/12 e

Na dúvida, escute os saberes populares: ‘cachorro com dois donos morre de fome’. Tenha clareza das tarefas, delegue-as cumpra o que lhe cabe.

Capricórnio - 22/12 a 19/01

Você estará mais criativo. Suas relações são afetadas positivamente e há inspiração para o trabalho. É momento de transformações profundas.

Aquário - 20/01 a 18/02

É um momento de realização pessoal. As mudanças mais profundas acontecem quando conseguimos olhar para dentro e para fora, é a dialética.

Peixes - 19/02 a 20/03

As energias sexuais e as energias financeiras são muito parecidas. E estes dois setores em sua vida tendem a tomar sua atenção nesse momento.

Ingredientes 2 xícaras de arroz cozido 1 ovo 1/2 xícara de leite 4 colheres (sopa) de queijo parmesão ralado Farinha de trigo até o ponto Cebola, sal, cebolinha, coentro

Recheio: 01 Azeitonas sem caroço por bolinhho 01 pedaço de queijo Outro recheio que desejar.

Modo de preparo: Em uma tigela, junte o arroz, os temperos, o queijo e o leite e amasse tudo com um amassador (pode usar o fundo de um copo para amassar). Acrescente farinha de trigo até dar liga. Em uma tigela, misture todos os ingredientes. Faça uma bolinha, abra um furo no meio, coloque o recheio e feche o bolinho. Fritar em óleo bem quente. Pode fritar sem recheio também.


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Recife, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2020

ESPORTES |15

PAPO ESPORTIVO |

A camisa 24 e a homofobia que ainda existe em nosso futebol Reprodução / Twitter / EC Bahia

Luiz Ferreira, do RJ

aríssimos seres viC ventes que acompanham as nossas cor-

netadas semanais sobre esporte, não sei se vocês notaram, mas existe uma camisa considerada “maldita” no futebol brasileiro, usada apenas por atletas estrangeiros ou goleiros reservas. Me refiro ao número 24. Não é preciso ser um profundo conhecedor do velho e rude esporte bretão para saber que nossos clubes orientam seus jogadores a não utilizarem esse número. Quando usam é por exigência da Conmebol nas suas competições ou por jogadores estrangeiros. O espanhol Pablo Marí usou a 24 na conquista da Libertadores pelo Flamengo no ano passado. Já deu pra ver que esse número é praticamente proibido no futebol brasileiro. E também na sociedade de um modo geral. E nesse contexto, o “Jogo do Bicho” teve e tem uma influência fortíssima. Ainda hoje se associa o número 24 ao veado, animal relacionado com a homossexualidade. Enquanto a sociedade avança timidamente no combate ao preconceito contra LGBT’s, o futebol parece ter cravado as travas das chuteiras no mesmo discurso homofóbico que eu e você conhecemos bem. As exceções são raras e meritórias. Em termos de indivíduos e insti-

O volante Flávio usou a camisa 24 na vitória do Bahia sobre o Imperatriz na última terça-feira (28), pela Copa do Nordeste /

tuições também. E vale destacar aqui o exemplo do Esporte Clube Bahia. Uma das metas da atual gestão é transformar o clube no mais democrático e inclusivo do país. E pelo que se tem visto, o Tricolor de Aço está no caminho certo. Além da criação de um núcleo de ações afirmativas, o Bahia encabeça campanhas contra a homofobia no futebol. Tanto que o volante Flávio usou a já citada camisa 24 na vitória da sua equipe sobre o Imperatriz nesta terça-feira (28), pela Copa do Nordeste. No entanto, a resistência contra ações afirmativas desse tipo ainda são fortíssimas. Pérolas

A repulsa ao número 24 diz muito sobre como as coisas funcionam por aqui como “futebol é esporte de homem” ainda toma conta do imaginário de quem trabalha dentro e fora das quatro linhas. Até mesmo formadores de opinião repetem falas como essas como se ainda estivéssemos na década de 1930. Quem se levanta contra o pensamento geral é taxado de “lacrador”, como se de-

fender a igualdade fosse algum pecado que deve ser punido com a morte por apedrejamento. A repulsa ao número 24 não me deixa mentir. O futebol ainda é um ambiente extremamente tóxico para quem “não se enquadra” no perfil geral. Ao contrário de atletas como a norte-americana Megan Rapi-

noe e da brasileira Cristiane (que seguem normalmente suas carreiras após terem assumido seus relacionamentos homoafetivos), a homossexualidade no futebol masculino ainda é um tabu. Jogadores já demonstraram apoio à causa LGBT. Clubes brasileiros e estrangeiros também. Mas essa luta ainda está no começo. Mais do que vestir camisas, precisamos mudar atitudes e pensamentos. Passando pelos gritos de “bicha” até às alcunhas e xingamentos homofóbicos. O número 24 é apenas um número. Mas diz muito sobre como as coisas funcionam por aqui.


16 | ESPECIAL

NA GERAL Luciano Abreu

Reprodução

Fed. pernambucana de atletismo

Elas no futebol - Elas no futebol Atletismo Parte I parte II em Pernambuco

A

CBF apresentou o Brasileirão Feminino A-2 2020 com 36 clubes. Náutico, Sport e Vitória das Tabocas são os representantes pernambucanos que vão tentar uma das quatro vagas de acesso à primeira divisão em 2021. Os 36 clubes vão disputar a A-2 em cinco fases, sendo a primeira organizada com seis grupos de seis times. O Vitória das Tabocas está no Grupo B, enquanto Náutico e Sport estão juntos no Grupo C. A segundona do Brasileirão feminino começa no dia 15 de março.

O

Náutico está com inscrições abertas para seletiva do time feminino. O processo de avaliação será realizado no CT Wilson Campos, no bairro da Guabiraba, nos dias 1 e 2 de fevereiro de 2020. A inscrição é obrigatória para a participação no processo seletivo. Além de documento oficial com foto, as jogadoras precisam levar chuteiras com trava, calção de cor escura e camisa branca. Para mais informações: /futebolcomelaspe/ (instagram) ou futebolfeminino.nautico@ gmail.com

Filipe Spenser filipespenser@gmail.com

estreia de Kieza como titular do Náutico não poderia ser melhor. Primeira vitória do clube dentro de casa, com direito a uma goleada de 4x0 e dois gols do artilheiro. O roteiro ideal para o bom filho que voltou para casa. Além da vitória maiúscula, o desempenho do time dentro de campo deu esperanças que esse ano a torcida terá alegrias. É provável, inclusive, que essas alegrias passem pelos pés do garoto Erick. O prata da casa se movimentou bastante, criou boas jogadas e ainda deu uma linda assistência para que Kieza fizesse o primeiro gol da partida. Além da dupla de ataque, quem contribuiu diretamente para o bom resultado foi o meia Jean Carlos que fez um belíssimo gol de falta. Ter um bom batedor de falta no elenco é um excelente recurso, principalmente para jogos mais truncados

A

Federação Pernambucana de Atletismo (FEPA) divulgou o calendário oficial de corridas do ano de 2020. Ao todo, são 113 disputas organizadas pela FEPA, divididas entre Corridas de Rua, Trilhas, Montanhas, Aventura, Maratonas, Ultramaratonas, Pistas e Campo de Pernambuco 2020. O calendário apresenta cada evento com dados como distância, local e informações sobre a organização. Para conferir, basta avessar www.atletismope.com.br

GOL DE PLACA

Contra o silenciamento Jeff Roberson

GOL

CONTRA

A favor do silenciamento reproducao_us_today

New Orleans Saints, cluO be de futebol americano dos Estados Unidos, está envol-

vido com crimes de pedofilia na Igreja Católica. Dentro de um esquema de investigação da Justiça, a Arquidiocese de New Orleans divulgou o nome de 57 clérigos acusados de crimes sexuais contra menores durante o século passado. Durante o processo, houve comunicação entre a Arquidiocese de New Orleans e o clube sobre as formas de tentar diminuir o impacto do escândalo. Ou seja, o Saints preferia silenciar sobre o que estava errado.

Julia Rodrigues brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br

O

egan Rapione, joM gadora dos Estados Unidos, está criticando as

regras que proíbem manifestações políticas durantes os Jogos Olímpicos. A atleta que “ganhou a aposta contra Trump” fez declarações públicas e postagens nas redes sociais opinando sobre uma postura atrasada do Comitê Olímpico Internacional (COI), que recentemente ratificou “punições severas” às comemorações com contexto político. No gancho da questão, vale pensar, será que silenciamento não se configura como uma posição política do COI? Ou ainda, as decisões internas do COI são totalmente isentas de política?

ADEUS INVENCIBILIDADE

A VOLTA DE KIEZA

A

Brasil de Fato PE

Recife, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2020

Santa Cruz conheceu sua primeira derrota na temporada, depois de cair por 1x0 diante do CRB, no Rei Pelé, na última quarta-feira. A equipe comandada por Itamar Schulle não conseguiu achar brechas no sistema defensivo adversário e impor um ritmo de jogo. Do meio para frente, desorganizado. No setor defensivo, o Tricolor teve mais postura e conseguiu barrar algumas pequenas tentativas do Galo alagoano. Por outro lado, o Santa provou do veneno do seu principal fundamento no jogo. A lateral direita, hoje ocupada por Júnior, adormeceu e não recompôs a marcação. O time regatiano aproveitou o vacilo e lançou na área. Danny Morais e William Alves, já ocupados marcando os dois jogadores concentrados na área, não conseguiram evitar o gol. Essa derrota é somente um reflexo das carências que o elenco do Santa Cruz enfrenta.

LEÃO DA GERAL Daniel Lamir daniel.lamir@brasildefato.com.br

e fosse uma brincadeira, diríamos que existe muita criatividade nas informaS ções públicas sobre dívidas que chegam ao

clube. Mas, voltando para a realidade, cada pessoa faz o julgamento sobre o que existiu nas gestões recentes. A velha mania de “adiantamento de verbas” resultou em inversão de realidade. Agora o clube se vê obrigado a fazer patrocínio por perdão de dívidas. O exemplo de contraste no vai e vem de receitas levanta um questionamento sobre o patrimônio: como manter um mecanismo permanente de responsabilidade financeira? Sanar as mazelas atuais não significa a imunidade de novas mazelas no futuro. Além disso, as mazelas que significam “dificuldades para contratar jogadores”, são, antes de tudo, as que causam injustiças para a maioria das pessoas que precisam bater ponto e trabalhar duro no clube.


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