BdF PE - Ed. 105

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PERNAMBUCO| 08 e 9

Arquivo MST

MST realiza acampamento em Normandia para resistir a Despejo

Pernambuco

Recife, 13 a 19 de setembro de 2019

ano 3

e d i ç ã o 10 5

distribuição gratuita Reprodução

Sarampo

Quem deve se vacinar? Quais os locais com horários estendidos para vacinação? BRASIL|06 Paralisação

Empresa abandona negociação e funcionários dos Correios entram em greve

CULTURA | 13 Diversidade

Rappers LGBT’s resistem à onda conservadora produzindo cultura e arte

ESPORTES |15 Futebol

Torneio reúne seleções de imigrantes que vivem em Pernambuco


Brasil de Fato PE

Recife, 13 a 19 de setembro de 2019

2 | OPINIÃO

EDITORIAL

Centro Paulo Freire resiste: as lutas por democracia e reforma agrária são unidas, urgentes e atuais LUTA. A disputa em Normandia não é só mais jurídica, mas ideológica a última semana, o N Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) tornou público pedido de reintegração de posse efetuado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), referente ao Centro de Formação Paulo Freire e três agroindústrias dos assentados, localizados no assentamento Normandia, na zona rural de Caruaru. O terreno, ocupado em 1993, durante cinco anos foi palco de reocupações, despejos e greve de fome, até que as famílias saíram vitoriosas e a área tornou-se assentamento. Normandia é, hoje, exemplo exitoso, desenvolvendo atividades econômicas e educativas em parceria com o poder público, fundações, organizações e universidades, com forte impacto local e regional. As agroindústrias, por exemplo, fornecem merenda escolar para municípios pernambucanos.

Um governo convertido em ações políticas que favorecem a violência no campo A despeito disso e em decisão questionável, o Incra, autarquia federal que deveria realizar Reforma Agrária, se posiciona contrário a uma expe-

riência concreta de como fazer reforma em prol da coletividade, da educação e da justiça social. Essa ordem de despejo reflete um projeto político favorável ao aniquilamento de toda e qualquer possibilidade de justiça em benefício dos trabalhadores. No executivo federal, Jair Bolsonaro se posiciona contrário aos movimentos populares, em especial o MST, desde as eleições passadas. Para além do discurso, as ameaças têm se convertido em ações políticas que favorecem a violência no campo e o fortalecimento do agronegócio e seus venenos. Neste cenário, a dispu-

ta em Normandia não é só mais jurídica, mas ideológica, como apontou o dirigente do MST Jaime Amorim em coletiva de imprensa, na última segunda-feira (9). Sob uma falsa bandeira de “acabar com ideologias”, Bolsonaro e seus indicados utilizam-se da burocracia estatal para impor um projeto neofascista. O conflito que se desenha no Centro Paulo Freire é mais uma investida conservadora contra os ganhos históricos da população brasileira. No entanto, assim como tem acontecido na defesa da Educação, da Amazônia e da Aposentadoria, a resposta que os movimentos populares de luta pela terra têm dado é a resistência a cada investida contra o campo brasileiro. A história do Centro Paulo Freire, escrito nas trincheiras, é marcada por obstinação. Hoje, mais de duas décadas após as primeiras ocupações, temos a prova de que Normandia é terra fértil para as sementes da esperança de construção de um Brasil livre de fome e desigualdade, da exploração e da violência do latifúndio. Como já dizia Paulo Freire, autor que não à toa dá nome ao centro e se faz cada vez mais relevante no momento político atu-

Não é na resignação, mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmaremos al, “Não é na resignação, mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmaremos”. Em um ato coerente, o MST declarou que não desocupará o Centro de Formação e anunciou acampamento em Caruaru a partir deste sábado (14). Formam-se correntes de solidariedade à persistência do movimento, com apoios de educadores, comunicadores, militantes, ativistas, juristas e parlamentares. Todo esse processo tem dado ainda mais importância e visibilidade ao Centro, às experiências lá desenvolvidas e ao quanto que as lutas por democracia e reforma agrária são unidas, urgentes e atuais.

Expediente Brasil de Fato PE O Brasil de Fato circula nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Paraíba e Bahia com edições regulares. Em Pernambuco está nas ruas todas às sextas-feiras com uma visão popular de Pernambuco, do Brasil e do Mundo. Página: brasildefatope.com.br | Email: pautape@brasildefato.com.br | Para anunciar: brasildefatopernambuco@brasildefato.com.br | Telefone: 81. 96060173

Edição: Monyse Ravena | Redação: Vinícius Sobreira, Marcos Barbosa, Vanessa Gonzaga, Rani de Mendonça e Fátima Pereira. Articulista: Aristóteles Cardona | Colaboração: André Barreto, Bianca Almeida, PH Reinaux, Catarina de Angola | Administração: Iyalê Tahyrine Diagramação: Diva Braga | Revisão: Júlia Garcia | Tiragem: 20 mil exemplares Conselho Editorial: Alexandre Henrique Pires, Bruno Ribeiro, Carlos Veras, Doriel Barros, Eduardo Mara, Geraldo Soares, Henrique Gomes, Itamar Lages, Jaime Amorim, José Carlos de Oliveira, Fernando Melo, Fernando Lima, Laila Costa, Luiz Filho, Luiz Lourenzon, Marcelo Barros, Margareth Albuquerque (in memorian), Marluce Melo, Paulette Cavalcanti, Paulo de Souza Bezerra, Paulo Mansan, Pedro Lapa, Roberto Efrem Filho, Rogério Almeida, Rosa Sampaio, Sérgio Goaiana, Suzineide Rodrigues, Valmir Assis.


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GERAL l 3

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FRASE da semana Um recado para o prefeito Crivella? Isso foi só o início. Onde você tentar impor opressão, nós estaremos lá.

Nota

SERVIÇ0S Seleção em Sirinhaém Prefeitura de Sirinhaém

Divulgação

Felipe Neto, YouTuber, sobre a censura à livros com temática LGBT na Bienal do RJ.

Prefeitura de Sirinhaém está A com inscrições abertas para seleção com mais de 190 vagas

temporárias de nível superior. As inscrições devem ser feitas pela internet, no www.seletivo2019. com.br/sirinhaem/# até o dia 18 de setembro e tem taxa de R$ 50. Há vagas para diversas especialidades médicas, enfermeiro, odontólogo, fonoaudiólogo, nutricionista, analista clínico, professor de diferentes disciplinas, assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional, educador físico e veterinário. As remunerações chegam a R$ 7.200,00.

Qual a sua receita pernambucana preferida?

Bolo de noiva, aquele que é feito com ameixa. Ana Cristina, arquiterapauta.

Mutirão do Procon

Bolo Souza Leão e bolo de rolo.

Pedro Alves

Edel Almeida, psicóloga.

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té o dia 20 de setembro, pesA soas que desejam renegociar suas dívidas em bancos e admi-

nistradoras de cartão de crédito podem fazer isso pela internet. A ação é realizada pela plataforma de solução de conflitos do Procon nacional. Basta acessar https:// www.consumidor.gov.br/pages/ principal/?1568139027860 e em até 10 dias uma proposta de quitação da dívida é proposta pelo credor. Após isso, o consumidor avalia a proposta e pode propor alterações.


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4 ||Mundo GERAL

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Direitos de Fato Mutirão Cultural em Apipucos Reprodução

N

este fim de semana, o bairro de Apipucos tem um mutirão de atividades culturais. No sábado (14), a partir das 14h, o Grupo de Trabalho de Soberania Alimentar, em parceria com o Grupo de Trabalho de Infraestrutura, implementará o segundo módulo da Farmácia Viva no Conselho de Moradores de Apipucos, na Rua dos Caetés, 195. No início da noite, acontece a 9ª sessão do Luíla e Pretinha Cineclube com o filme “O Menino e o Mundo”, indicado ao Oscar 2016. Já no domingo (15), ás 9h, o Grupo de Trabalho da Memória promoverá um Passeio Sensorial percorrendo a Serra Pelada, a Rua dos Caetés, a Rua de Apipucos, a Rua Laura Gondim, o Mussu e o Areal e das 14h às 17h o Grupo de Trabalho Jurídico irá promover o 2° Seminário de Reestruturação do Conselho de Moradores de Apipucos.

20 de Setembro o próximo dia 20 de setembro, os trabalhadores e as trabaN lhadoras voltarão às ruas para realizar um ato em defesa dos direitos e do meio ambiente. A data é também o dia de mobili-

zação internacional da Greve Global pelo Clima. A manifestação vem sendo convocada pela Central Única dos Trabalhadores, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo junto com os movimentos populares, estudantil e ambientalista reunindo as pautas da luta por direitos, educação, empregos, soberania e contra a Reforma da Previdência, que está tramitando no Senado e poderá ser votada ainda no mês de setembro. No dia, a mobilização combinará atividades de paralisação de diversas categorias com atos de rua nas cidades.

Resistir às violações aos direitos humanos é defender o Centro de Formação Paulo Freire a última semana a Justiça Federal deferiu pedido do InstituN to Nacional de Reforma Agrária (INCRA) e determinou a reintegração de posse dos 15 hectares de terra que formam o assentamento Normandia. A região, gerida pela Associação Comunitária do Centro de Capacitação Paulo Freire, possui 41 famílias assentadas e é responsável por manter três agroindústrias que fornecem merenda escolar livre de agrotóxicos para municípios de Pernambuco. Além disso, Normandia conta com um Centro de Formação, com alojamento para 270 pessoas e auditório para mais de 700 pessoas, sendo um espaço de educação que possui convênio com diversas universidades e instituições do Estado. A proposta do Centro de Formação é promover uma educação libertadora e funcionar enquanto elemento fundamental para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, um dos objetivos fundamentais do pacto Constitucional de 1988. O INCRA, instituto criado com a missão principal de realizar a reforma agrária no Brasil, age hoje no obscurantismo da antidemocrática era bolsonarista. Resistir às violações aos direitos humanos é defender o Centro de Formação Paulo Freire e lutar pela única reforma agrária possível: a popular *Clarissa Nunes é advogada criminalista e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD)

Para entrar em contato e tirar dúvidas mande um email para contato.pe@brasildefato.com.br ou um whattsapp para 8199060173

ESPAÇo SINDICAL

Greve dos correios Agência Brasil

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a terça-feira (10), os trabalhadores dos correios os sindicatos filiados à Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (Fentect) entraram em greve. Além da ameaça de privatização dos Correios, que está no pacote de empresas que podem ser vendidas durante o governo Bolsonaro, a direção da empresa suspendeu as negociações de um novo Acordo Coletivo de Trabalho, sendo que alguns direitos já foram cortados, como o convênio médico dos familiares dos servidores e o auxílio-creche. Também foram feitos Planos de Demissão Voluntária (PDV), que causou um déficit de 40 mil funcionários. A greve é por tempo indeterminado e está condicionada à permanência dos direitos da categoria no novo ACT.

Financiamento do 13º CONCUT Dino Santos/CUT

O

13º Congresso Nacional da CUT “Lula Livre” acontecerá entre os dias 7 e 10 de outubro, na Praia Grande, em São Paulo. O mote será “Sindicatos Fortes = direitos, soberania e democracia” e irá definir estratégias e elaborar um plano de lutas para a classe trabalhadora, para o movimento sindical e para o povo brasileiro. O Congresso também vai eleger a direção para o período de 2019 a 2023. A CUT lançou a campanha de vaquinha virtual “Soma com a gente” com a meta de arrecadar R$ 100 mil para garantir a realização do evento. As contribuições podem ser feitas em qualquer valor, mas algumas faixas de contribuição recebem recompensas como kits personalizados e publicações especiais da CUT. Para quem quiser doar, o link é https://www.kickante.com. br/campanhas/apoie-13o-concut-2019


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Artigo

OPINIÃO I 5

79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda. O que isso nos diz? Katarina de Lima Fernandes *

A

questão do suicídio na sociedade atual é bastante complexa e vista ainda como um tabu. Em sociedades anteriores, como na Europa antiga, no que se chamou como Império Romano, a busca voluntária pela morte era aprovada e reconheciam formas legítimas para este ato como única forma de fugir do sofrimento naquele contexto de guerras. Ao longo do tempo este ato foi visto como um pecado, a partir de Santo Agostinho que, com herança cristã, denomina a vida como uma “dádiva divina” e pôs início a uma moral e condenação ao suicídio. Segundo os dados do Centro de Valorização da Vida (CVV),

Artigo

32 brasileiros se suicidam diariamente e no mundo ocorre uma morte a cada 40 segundos Devemos nos perguntar: quais têm sido as perspectivas de vida para a nossa juventude? Sabemos ainda que 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda, portanto o suicídio relaciona-se com questões de gênero, raça e classe social atreladas ao sistema de produção capitalista. No Capitalismo, a vida humana valorizada deve alcançar um lugar de aceitação social onde exige um padrão de beleza, de estilo de vida, de orientação sexual, de cor de pele, de prestígio e reconhecimento q deve

Desmonte do conjunto de políticas públicas de inclusão ser seguido por todos. Portanto, os serviços de saúde e os profissionais da saúde têm um papel fundamental em garantir um cuidado integral aos sujeitos que sofrem, pois o pensamento de morte pode acometer qualquer pessoa, mas a con-

cretização do ato é um passo que pode ser evitado a partir de uma escuta qualificada, atendimento especializado e atenção às demandas colocadas pelo outro neste momento de dor e sofrimento latente. É preciso que toda sociedade esteja atenta para além do Setembro Amarelo, pois o suicídio nos toma enquanto cotidiano e pode acontecer em qualquer mês do ano diante de um episódio de crise, angústia e desespero no qual o sujeito se veja com dor tamanha que já não consiga mais pedir ajudar para lidar com tal situação. Intensificar o cuidado é preciso de forma coletiva, não apenas

individualizada! Estejamos dispostos a discutir de forma aberta e desconstruir estigmas de que a pessoa está sendo fraca, dramática, quer chamar atenção ou está com “falta de Deus”. Devemos quebrar o silêncio! Onde procurar ajuda e suporte profissional: Unidade de Saúde da Família (Posto de Saúde), Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), UPA, SAMU, Centro de Valorização da Vida (CVV - 188). Psicóloga e residente em Saúde Mental pela Universidade de Pernambuco (UPE)o da população brasileira

E se o Consórcio Nordeste compreender a

importância da comunicação pública?

Ivan Moraes*

magina você ligar a I televisão e poder ver num só canal produções

vindas de diversos lugares do Nordeste. Tudo isso pode acontecer em breve. Basta que os governadores e a governadora que lançaram o Consórcio Nordeste compreendam a importância estratégica de uma rede que possa fortalecer essas interações e dar voz a narrativas que vão além dos interesses dos governos – mas da diversidade de nossas populações. É o que deseja o Fórum das Emissoras Públicas do Nordeste, composto inicialmente por representações de veículos de rádio e tevê de oito estados, que já se reuni-

É o que deseja o Fórum das Emissoras Públicas do Nordeste ram três vezes (em Salvador, Recife e Fortaleza) para debater sobre as bases da formação de uma rede que não apenas poderá facilitar a troca de conteúdos. Se o fortalecimento da comunicação pública era uma necessidade antiga para a construção de um país mais

democrático, a conjuntura atual tornou-a uma pauta urgente. As iniciativas públicas de comunicação, simbolizadas pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foram as primeiras a sentirem os efeitos da ruptura democrática: o presidente (com mandato) foi exonerado, o conselho curador foi extinto e as verbas, aos poucos, minguando. Na região Nordeste, há particularidades, naturalmente. Enquanto Piaui, com três milhões de habitantes, investe R$ 6 milhões anuais em sua TV Antares (R$ 2 por habitante), Pernambuco, onde vivem 10 milhões de pessoas, coloca no máximo R$ 4 mi-

lhões por ano em sua EPC (R$ 0,4 por habitante) e, nesta década, já chegou a gastar perto de R$ 100 milhões num só ano com pode ser confundida com propaganda. Embora cada vez mais as propaganda de governo. pessoas utilizem-se de fer- A rede a ser criada precisa ramentas digitais para ob- ser um instrumento à disterem informação, a ra- posição da sociedade em diodifusão continua sen- sua diversidade. do o principal meio acessaNeste mês de outubro, do pela população brasilei- em São Luís (MA), será ra. Para isso, é fundamental realizado o 4º Encontro que haja investimento real Nacional pelo Direito à e integrado. É preciso que Comunicação, realizado se invista tanto em equipa- pelo Fórum Nacional pela mentos de captação e transmissão quanto em pessoal capacitado e com independência para produzir informação, debate e entretenimento. Mas não estamos falando só de dinheiro. A co-

municação pública não

Democratização da Comunicação. Pense numa ocasião arretada pra se lançar uma rede dessa? *Ivan Moraes é escritor, jornalista, defensor de direitos humanos e está vereador do Recife pelo PSOL.


6 | BRASIL

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Empresa abandona negociação e funcionários dos Correios entram em greve Sintecet

PARALISAÇÃO. Categoria luta por manutenção de direitos, por reajuste salarial e contra o projeto de privatização da estatal Juca Guimarães

O

s trabalhadores dos Correios, organizados em 36 sindicatos e duas federações, aprovaram na noite de terça-feira (10) greve por tempo indeterminado que pretende alcançar todo o país. A paralisação começou mais forte em São Paulo e no Rio de Janeiro. Segundo os sindicatos, cerca de 7 mil trabalhadores participaram das assembleias nestas duas capitais. Antes de cruzar os braços, os sindicatos fizeram dez reuniões com a empresa. Porém, a estatal abandonou a negociação sem fechar o acordo coletivo, que estava sendo mediado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Mais de cinco mil trabalhadores participaram da assembleia que aprovou a greve em São Paulo

A empresa abandonou as negociações e não deixou alternativas além da greve A tensão entre trabalhadores e Correios envolve várias retiradas de direitos, como a exclusão dos pais dos empregados do pla-

no de saúde. A proposta de reajuste oferecida pela estatal foi de 0,8%, bem abaixo da inflação no período. que ultrapassou os 3%. “A empresa abandonou as negociações e não deixou alternativas além da greve, que começou forte em São Paulo e no Rio de Janeiro. A tendência é ampliar”, disse Douglas Melo diretor da FINDECT e do Sindicato dos trabalhadores dos correios de SP. Os Correios, segundo os sindicalistas, querem a retirada de 45 cláusulas do acordo coletivo em vigor. Nas contas da federação, isso significaria uma redução acumulada de até R$ 5

mil por ano na renda dos trabalhadores. Os Correios informaram, em nota para o Brasil de Fato, que é “insustentável” a proposta dos trabalhadores considerando o “projeto de reequilíbrio financeiro da empresa” que teve, segundo a estatal, prejuízo acumulado de R$ 3 bilhões. No entanto, os dados divulgados pelo ex-presidente dos Correios, o general Juarez Cunha, demitido em junho, depois de se posicionar contra a privatização dão conta de um resultado financeiro positiva no balanço da estatal. Em 2018, a arrecadação somou R$ 19,69 bilhões e as des-

pesas somaram R$ 19,53 bilhões, gerando um saldo de R$ 161 milhões. Os trabalhadores querem também o fim do projeto de privatização da empresa. Para os sindicalistas, a privatização acabaria com a integração nacional promovida pelos Correios, que atende todas as cidades do país. Na lógica empresarial, só haveria interesse em manter as operações nas 324 cidades que dão lucro. De acordo com os sindicalistas, cerca de 50% da categoria aderiu à greve. No Rio de Janeiro, mais de 3 mil trabalhadores estão participando dos piquetes desde às 4h da manhã. “O movimento tá muito forte. A nossa maior reivindicação, por incrível que pareça, é manter os direitos conquistados e que a empresa quer retirar”, disse Pedro Silva, do sindicato do Rio de Janeiro. Os Correios propõem a retirada de benefícios históricos como o tíquete refeição no 13º e nas férias, além de redução do adicional noturno de 60% para 20%. A próxima assembleia deve acontecer no dia 17 de setembro.

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MUNDO | 7

OEA resgata tratado da Guerra Fria para aumentar pressão contra Maduro na Venezuela Doze países votaram por ativar um tratado de defesa mútua do continente americano para tratar da crise venezuelana

Twitter/OEA

Da Redação

conselho permanenO te da Organização dos Estados Americanos

(OEA) decidiu nesta quarta-feira (11), aprovar uma resolução proposta pela Colômbia para ativar o Tratado de Assistência Recíproca (Tiar) contra a Venezuela. A proposta contou com o apoio do deputado Juan Guaidó, autoproclamado presidente da Venezuela, além do Brasil e dos Estados Unidos, somando os 12 votos favoráveis necessários para a convocação do órgão de consulta definido pelo Tiar, que prevê a defesa mútua das nações do continente em caso de ataques estrangeiros. Dos outros seis países signatários do tratado, cinco – entre eles o Uruguai e o Peru – se abstiveram e uma nação, as Bahamas, se ausentou. O Uruguai argumentou que o tratado, aprovado em 1947, no contexto da Guerra Fria, é válido somente para ataques de países estrangeiros e que, portanto, não se aplicaria à crise venezuelana, uma questão interna do continente.

Tensão Colômbia x Venezuela O governo da Colômbia tem acusado o governo de Nicolás Maduro de abrigar e financiar remanescentes das guerrilhas colombianas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN). “A crise na Venezuela tem um impacto desestabilizador, representando uma clara ameaça à paz e à segurança no hemisfério”, afirma a resolução aprovada. O governo de Maduro classificou a decisão de infame e tachou o Tiar de “instrumento nefasto”. Em comunicado oficial, a Venezuela afirma que o Tiar teve como propósito legitimar intervenções

militares na América Latina e que, quando existiu uma agressão externa contra um país-membro, no caso da Guerra das Malvinas, em 1982, “os Estados Unidos traíram o continente” e apoiaram o Reino Unido contra a Argentina. Um tratado “desmoralizado” Embora tenha sido invocado algumas vezes pelos Estados Unidos, o Tiar nunca chegou a ser efetivamente usado. Também conhecido como Tratado do Rio – por ter ocorrido no Rio de Janeiro, em 1947, a reunião da OEA que criou o pacto – o Tiar tem como ponto central a “doutrina de segurança hemisférica”, segundo a qual a agressão contra um dos seus membros representa ataque a todos os países do continente, o

que autorizaria uma ação conjunta contra o agressor. O artigo 8º do tratado prevê que o órgão de consulta dos países-membro poderão adotar as seguintes medidas: “a retirada dos chefes de missão; a ruptura de relações diplomáticas; a ruptura de relações consulares; a interrupção parcial ou total das relações econômicas ou das comunicações ferroviárias, marítimas, aéreas, postais, telegráficas, telefônicas, radiotelefônicas ou radiotelegráficas, e o emprego de forças armadas”. Durante a sessão da OEA desta quarta-feira (11), o governo da Costa Rica propôs uma emenda, rejeitada pela plenária, que limitaria o uso do Tiar para medidas que contribuíssem para “a restau-

ração pacífica da democracia na Venezuela, excluindo aquelas que impliquem no emprego das Forças Armadas”. Para o sociólogo e especialista em relações internacionais, Paulo Zero, o Tiar é um pacto “vetusto e desmoralizado” e representa mais uma aposta do governo dos EUA na desestabilização pela força do governo Maduro. “As tratativas anteriores fracassaram, mas, agora, sob o manto pretensamente multilateral e legítimo da OEA, poderiam ocorrer ações mais incisivas para promover a derrubada do governo bolivariano”, analisa Zero. Ele frisou ainda a mudança de postura do governo brasileiro, que sempre apoiou as negociações pacíficas e democráticas para resolução do conflito interno venezuelano.


8 | PERNAMBUCO

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Recife, 13 a 19 de setembro de 2018

MST anuncia acampamento em Normandia para resistir a despejo LUTA. Incra ameaça terras onde estão o Centro de Formação Paulo Freire e três agroindústrias Arquivo MST PE

entraves jurídicos foram sentidos desde a ocupação

PH Reinaux

Centro fica em Caruaru, agreste de Pernambuco

Vinícius Sobreira ssa semana, o MovimenE to dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realizou

uma coletiva de imprensa para esclarecer a posição do movimento diante do pedido de reintegração de posse de uma área de 15 hectares no assentamento Normandia, na zona rural de Caruaru. O pedido de reintegração efetuado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e autorizado pelo juiz Tiago Antunes Aguiar, da 24ª Vara Federal, afeta o terreno do Centro de Formação Paulo Freire e três agroindústrias dos assentados. O movimento deve recorrer ainda esta semana e, segundo os advogados do movimento, a Justiça espera que o movimento deixe a terra de for-

ma espontânea até o dia 19 de setembro. Em resposta ao processo, o dirigente do MST Jaime Amorim afirma que o movimento não vai se retirar voluntariamente. “Nós vamos organizar os assentados que estejam dispostos e faremos de Normandia um processo de luta importante. A partir do sábado montaremos um acampamento permanente”, disse Amorim. O movimento planeja realizar atividades políticas e culturais a partir deste sábado (14) na entrada do assentamento, às margens da BR-232, em Caruaru. Jaime Amorim lembra que os entraves jurídicos foram sentidos desde a ocupação, em 1993. O antigo proprietário era funcionário do Ministério da Fazenda. Ao longo dos cinco anos sendo despejados e reocupando,

O governador Paulo Câmara está ciente do caso os trabalhadores sem terra também precisaram enfrentar mais burocracia. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), sob influência do antigo proprietário, emitiu laudo técnico alegando que aquelas terras eram inférteis e, portanto, impróprias para reforma agrária. “Fizemos uma greve de fome, forçando o Incra

nacional a derrubar esse laudo e fazer um novo estudo”, recorda Jaime. Mas, das 41 famílias assentadas em Normandia, quatro não aceitaram o uso coletivo da terra. Sob liderança do Incra, abriu-se um processo. “Em 2008 o presidente do Incra nos garantiu que, independente do trâmite judicial, o órgão resolveria a situação administrativamente”, diz Jaime. “Hoje a relação é diferente daquela de quando se abriu o processo. Essas quatro famílias convivem com o movimento em comum acordo. Existe harmonia entre os assentados e o Centro Paulo Freire, existe harmonia com a sociedade de Caruaru e de Pernambuco”, diz Amorim, pontuando ainda que os 15 hectares em litígio englobam três agroindústrias que fornecem merenda escolar para municípi-

os do Agreste, Zona da Mata e para o Recife. “Não existe mais elemento jurídico ou administrativo. Hoje o processo não faz mais sentido. O Incra é que desenterrou isso porque quer despejar o MST”, diz Amorim. O processo teve seu trânsito em julgado no ano de 2017, após o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) dar ganho de causa ao Incra. “Mas o órgão não se apresentou para solicitar a execução, algo que só ocorreu agora, quase dois anos depois, em agosto de 2019”, explica André Barreto, advogado do movimento. Ele avalia que o Incra não poderia estar contra um centro de ensino que beneficia os trabalhadores rurais. “Ter um centro de formação de agricultores, voltado para a educação e do qual os assentados gozam, qual o prejuízo disso à coletividade ou à reforma agrária?”, questiona o Barreto. Por isso Jaime considera que a disputa não é mais jurídica, mas ideológica. “A política desse novo governo é de atacar o centro político das organizações. É isso que estamos sofrendo”, diz Amorim. Ele diz que o governo Bolsonaro já traçou um caminho para atacar o MST através da burocracia estatal. “Como eles podem enfraquecer o

Belo Jardim. No domingo uma comitiva representando o povo indígena Xukuru do Ororubá, da cidade de Pesqueira, visitou o centro em demonstração de apoio e solidariedade. Na coletiva de imprensa estiveram ainda as co-deputadas Jô Cavalcanti e Joelma Carla, ambas do mandato coletivo das Juntas (PSOL); o membro da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Olinda e Reci-

fe Marcelo Santa Cruz; o Padre Tiago, militante da Comissão Pastoral da Terra (CPT); além de militantes de Direitos Humanos de diversos movimentos populares e instituições. Desde a quinta-feira, quando o MST tomou nota da autorização da 24ª Vara, diversos movimentos, coletivos e partidos políticos emitiram notas de repúdio ao Incra e solidariedade ao MST e ao Centro de Formação Paulo Freire.

História O centro de formação faz parte da estrutura do assentamento Normandia e vem funcionando desde 1998

movimento? Acabando com nossas conquistas reais. Então pararam o processo de reforma agrária. E agora tentam avançar sobre nossos assentamentos, privatizando as terras, dando títulos individualmente e passando a área coletiva para o Estado”, critica. O deputado estadual Isaltino Nascimento (PSB), porta-voz do governo estadual na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), participou da entrevista coletiva na tarde desta segunda. “O governador Paulo Câmara está ciente do caso e o Governo de Pernambuco não vai reprimir o MST. Temos instituições para mediar essa situação e estamos procurando resolvê-la”, disse o parlamentar. Nascimento também criticou a forma como Bolsonaro está intervindo em órgãos federais, a exemplo do Incra. “Estamos vendo no país uma lógica de que as instituições precisam refletir exatamente

o pensamento do presidente. Isso é autocracia e personalismo, uma ideia de que o Estado pertence a si. Está errado”, disse Isaltino. “Temos instituições consolidadas que não têm dono”, completou. Por solicitação do deputado estadual Doriel Barros (PT), cuja base é composta por trabalhadores rurais, a Assembleia Legislativa se comprometeu a formar um grupo para mediar a situação e reunir o MST e o superintendente do Incra em Pernambuco, o coronel Marcos Campos Albuquerque, indicado ao posto pelo deputado federal Luciano Bivar (PSL). Jaime Amorim celebrou os apoios que o MST tem recebido e disse que o Governo do Estado se comprometeu a não dar ordens para a Polícia Militar despejar o MST. “Aceitamos negociação, desde que não apresente retrocesso no que conquistamos até agora”, disse o dirigente

do movimento. Com auditório para 700 pessoas, refeitório e alojamento para 270 pessoas, o Centro de Formação Paulo Freire tem servido ao longo de duas décadas não apenas ao MST, mas a formar pessoas para o trabalho com a agricultura, sejam elas vinculadas a Organizações que atuam com a população rural, sejam estudantes universitários de cursos que atuam na terra, também como profissionais de educação e saúde que planejam atuar nas zonas rurais. O local se tornou referência para militantes de movimentos populares, sindicatos e partidos políticos de esquerda em Pernambuco e no Nordeste. Como forma de apoio ao Centro Paulo Freire, turmas do Centro de Educação da UFPE agendaram aulas presenciais no Centro Paulo Freire para os próximos dias, assim como turmas do Instituto Federal (IFPE) de

Gustavo Silva

Fot me Jaime considera que a disputa não é mais jurídica, mas ideológica.

oi no dia do trabalhador e da trabalhadora que, em F 1993, 179 famílias ocuparam a fazenda na zona rural de Caruaru, no Agreste Central de Pernambuco. Em

1997, Normandia foi de fato reconhecido como assentamento. Garantir a permanência no espaço não foi fácil, foram cinco ordens de despejo, muito sofrimento, plantações queimadas, barracos derrubados e até greve de fome. Mas a organização, força e resistência de luta possibilitou a conquista.


10 I CIDADES

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Doença erradicada até 2016, 14 casos de sarampo foram confirmados em Pernambuco Divulgação

SAÚDE. No Brasil o número de casos já cresceu 18%; saiba onde e quem deve se vacinar Vanessa Gonzaga

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os últimos três meses, foram 2.753 casos confirmados de sarampo em 13 estados. Dos nove estados do nordeste, há casos em Sergipe, Piauí, Bahia, Rio Grande do Norte, Maranhão e Pernambuco. Aqui, 357 casos estão sendo investigados e, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), 14 já foram confirmados, sendo um deles a causa de óbito de um bebê de sete meses em Taquaritinga do Norte, no Agreste. O vírus da doença é transmitido pelo ar e a única forma 100% capaz de evitar a doença é a vacinação em duas doses. A primeira é a tríplice viral, que protege contra o sarampo, caxumba e rubéola é dada aos 12 meses e a segunda é a tetra viral, que também previne a varicela, aos 15 meses. Com o surto da doença, a recomendação é de uma dose entre 6 e 12 meses para todas as crianças. Já para os adultos, quem tem até 29 anos deve fazer a segunda dose caso tenha feito apenas uma. E a partir dessa idade, para aqueles que não tem comprovação de duas doses ou não se lem-

No Nordeste, há casos em Sergipe, Piauí, Bahia, Rio Grande do Norte, Maranhão e Pernambuco bram, é recomendado tomar uma dose. A médica de família e comunidade Erika Vasconcelos ressalta que há algumas contra indicações: “Não podem ser vacinadas as pessoas imunocomprometidas, que tem a imunidade diminuída por outro medicamento, como corticoides; pessoas que portam o vírus HIV; crianças lactentes com até seis meses; gestantes com até 20 semanas e pessoas que tiveram reação alérgica na primeira dose”, explica. Os sintomas mais comuns do sarampo são febre, manchas avermelhadas, que começam na cabeça e vão descendo para o restante do corpo, tosse e/ ou coriza e/ou conjuntivi-

te. Também é possível ter dores de ouvido, diarreia, perda de apetite, pneumonia e episódios de convulsão. Em casos muitos

raros h á risco de lesão cerebral e infecções no encéfalo. A vacina também pode trazer efeitos colaterais leves para até 15% do público vacinado, como explica Erika “Ela provoca uma resposta inflamatória do organismo de forma que ele mesmo produza os anticorpos necessários para combater uma possível infecção. Uma partícula específica do vírus é utilizada para que a pessoa desenvolva a imunidade.

Os efeitos colaterais são, os sintomas do sarampo, como febre ou manchas pelo corpo e podem durar até três dias. Não é sarampo, justamente porque ela acabou de ser vacinada”. A vacinação vem sendo reforçada em todo o estado. De acordo com a SES, 574 mil doses foram distribuídas aos municípios, desde janeiro. Em Taquaritinga do Norte a estratégia é fazer uma varredura com 28,5 mil doses extras e imunizar o máximo da população, que hoje é de 28,7 mil pessoas. A vacina é distribuída pelo SUS e está disponível nos Postos de Saúde da Família ou Unidades Básicas de Saúde nos bairros. Basta levar cartão de vacinação, documento com foto e o cartão do SUS, que pode ser emitido no portaldocidadao.saude.gov.br ou no próprio posto.


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ENTREVISTA l 11

“É no Nordeste que nasce a lógica de desenvolvimento nacional” ECONOMIA. Em defesa da Petrobras, pesquisador aponta que privatização da estatal agravaria ainda mais a crise social

Reprodução Youtube

Marcos Barbosa e Vinícius Sobreira

duardo Pinto, pesquiE sador do Instituto de Estudos Estratégicos de

Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), conversaram com o Brasil de Fato PE sobre os impactos, para a população brasileira, das ameaças de privatização da Petrobras pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL) e a importância da estatal para o desenvolvimento econômico, social e cultural do Brasil, em especial para o Nordeste. O Ineep foi criado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) em 2018 com o objetivo de fomentar pesquisas acadêmicas e fornecer assessoria para os assuntos relacionados à agenda do setor de petróleo, gás e biocombustíveis no Brasil e no Mundo. Brasil de Fato: O que você destacaria como grandes avanços de investimento da Petrobras no Nordeste na última década? Diante do atual cenário político, o que a Petrobras está pensando para esses ativos feitos no Nordeste?

A Petrobras não ganha tanto dinheiro vendendo petróleo para fora Eduardo Pinto: A partir de 2003, até 2015, a Petrobras adotou como política a ampliação dos investimentos no Nordeste. Na área de refino, foi construída a refinaria Abreu e Lima (Rnest) em Pernambuco, reformada a refinaria Landulpho Alves, na Bahia. Além de tudo, se ativou a indústria de fertilizantes e a de biocombustíveis. O investimento foi fortemente ampliado. A Petrobras gastou recursos para construir essas atividades e isso gerou um impacto enorme na geração de emprego formal e de renda. Ou seja, o trabalhador que estava no corte de cana, virou metalúr-

gico na construção da refinaria instalada em Pernambuco. Mudou a estrutura econômica e social. Então, houve enorme efeito local e regional. A partir de 2015, no caso do Nordeste, a estratégia é vender todos os ativos da Petrobras, o que implica em redução de emprego, redução de renda e redução de qualquer possibilidade de política de desenvolvimento regional. Então, é um cenário muito negativo, em que a população vai ter uma piora na questão do emprego e da renda e se tem vendido uma mentira de que essa privatização vai reduzir o preço do gás de cozinha, da gasolina e do diesel. BdF: Você vê algum motivo para que se priorize uma região do país, enquanto a outra é colocada inteiramente para o capital privado? EP: O argumento que a Petrobras usa é de que vão focar no pré-sal. Então, esses outros ativos seriam menos rentáveis. Eles dão dinheiro, mas menos do que investir no pré-sal. Isso é uma meia-verdade. Os investimentos no Nor-

deste permitem que determinadas atividades gerem lucro e riqueza para as refinarias quando o preço do petróleo cai. Quando o preço do petróleo internacional cai, a Petrobras não ganha tanto dinheiro vendendo petróleo para fora, ganha refinando o petróleo, distribuindo por suas distribuidoras. Então, você vende as refinarias, vende as distribuidoras, que são fontes, é dinheiro na boca do caixa. Quem ganha com isso é o acionista minoritário da Petrobras, porque isso gera dinheiro em caixa em curto prazo para a Petrobras, mas perde de receita no futuro. Então, entra dinheiro com a venda do ativo, aumenta o preço das ações, quem tinha ação ganha dinheiro, mas quem perde é a sociedade brasileira, que é a verdadeira dona da empresa. É no Nordeste que nasce a lógica de desenvolvimento nacional e, nesse momento, a Petrobras está se colocando de costas para a região. BdF: Com essa possibilidade de privatização, para além do aumento dos preços, que impactos isso traria para a população nordestina? EP: Um impacto marcante e que afeta fortemente

Acho que parte da população ainda está meio letárgica

a população, é uma piora nas condições do mercado de trabalho. Você tende a reduzir o emprego formal, cair os salários e aumentar o desemprego. Porque, quando privatiza, o empresário compra um ativo que já existe, ele não vai investir mais. Ele, primeiro, vai querer recuperar todo o dinheiro que colocou na compra, para só depois investir. Ele vai diminuir funcionário, para ter mais lucro. Outra coisa importante, é que, como a Petrobras sai, deixa de atuar no apoio a eventos culturais, deixa de atuar junto às universidades em pesquisa e desenvolvimento tecnológico e regional. Na questão local, também reduz fortemente o impacto para pequenos e médios produtores rurais, com a saída das fábricas de biocombustível e biodiesel. BdF: O que está ao alcance da população diante desse cenário de retrocesso? EP: Acho que parte da população ainda está meio letárgica e acha que ainda pode melhorar alguma coisa. No caso específico da Petrobras, a bandeira de mobilização é: queremos um preço justo para o gás de cozinha. A sociedade brasileira exige isso. A partir disso, entender, de forma mais geral, como a Petrobras é importante para o Nordeste e o Brasil para um projeto de desenvolvimento que inclua a população, para gerar crescimento econômico, emprego, para trabalhadores e fornecedores. No polo de Suape, por exemplo, todos os fornecedores de alimentos, serviços e transporte ganham com essa atividade operando.


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12 |CULTURA

Brasil de Fato PE

Qual é o Bairro?

Foto legenda

Letícia Lins

O Sistema Brasil de Fato também já ocupou o Centro de Formação Paulo Freire em 2017, no Curso Nordeste de Comunicação Popular.

Foto: PH Reinaux

Agenda Cultural

Beto Figueirôa

1 ano de Bigu

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ssa sexta (13), o coletivo de comunicação Bigu Comunicativismo comemora um ano de existência com a roda de diálogo Tecnologias Comunicativistas às 18:30h, com os comunicadores Jones Manoel, Fran Silva e Lucas Araújo e a partir das 21h começa a noite cultural com o Grupo Bongar, DJ Antiproibicionista e as DJ’s Xapiris. A programação é gratuita e acontece no Armazém do Campo, na Av. Martins de Barros, 387.

Reprodução

Divulgação

Prévia do Forró de Meio Fio

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esde setembro de 2018, a banda de forró e fanfarra forrozística Forró de Meio fio faz no bairro do Carmo, em Olinda, um espaço público para quem gosta do ritmo. Nesse sábado (14), para comemorar um ano de atividades, o grupo vai literalmente para o meio da rua a partir das 20h com programação gratuita e a presença de músicos e cantores convidados. O evento acontece na Rua 27 de janeiro, nº85.

No Alto tem Coco

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esse domingo (15), a sambada No Alto tem Coco festeja seu terceiro aniversário com a banda Abê Adu Lofé, Coco dos Véi, Mestre Ulisses e Coco do Seu Mané, Coco do Besouro Mangangá, e vários grupos de coco e afoxé. O microfone também ficara aberto para intervenções artísticas. O evento é gratuito e inicia ás 14h na Rua Mercúrio, Água Fria, Recife.

Campo Grande ara quem não sabe, a capital perP nambucana também tem um bairro que leva o mesmo nome do conhe-

cido bairro onde tem carnaval em Salvador, o Campo Grande. No Recife, ele fica na Zona Norte, entre Feitosa e Salgadinho. O nome veio pelo fato de não possuir árvores e formar um vasto campo plano. O local já era registrado com esse nome em documentos desde o século XVII. Grande parte das terras eram seis grandes sítios, que pertenciam a Josefa Francisca da Fonseca e Silva. Foi nas terras dela que, em 1909, foi construída uma capela, que tinha como padroeira Nossa Senhora da Conceição. Durante a Revolução Praieira, em 1848, a capela tem uma atuação importante, já que Joaquim Nunes Machado, o fundador do partido praieiro, é ferido em combate e escondido ali para que não fosse morto pelas forças policiais. O local, que era repleto de mangues, permaneceu assim até a década de 1940, quando a Procuradoria dos Bens do Recolhimento de Nossa Senhora da Glória decide aterrar a propriedade, lotear e vender os terrenos, o que foi um grande incentivo ao surgimento de construções residenciais e o consequente crescimento de Campo Grande, na mesma década em que os recifenses construíram o Hipódromo de Campo Grande. Hoje o bairro tem cerca de 32 mil habitantes, sendo 61,8% autodeclarada negra e com uma renda familiar média de R$ 2.132,00.


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Recife, 13 a 19 de setembro de 2019

Variedades l 13

CULTURA | 13

Rappers LGBT’s resistem à onda conservadora produzindo cultura e arte

MÚSICA. Através da poesia e da batalha de rimas, MC’s enfrentam a LGBTfobia e criam redes de apoio

Divulgação

Gabriel Lucena

Crucifica, single de MC Soffio, está disponível nas redes sociais.

Bixarte atua desde os 9 anos e tem 1 EP Lançado.

Vanessa Gonzaga

onquistando espaC ços nos Slam’s, recitais, eventos e nas re-

des sociais, a temática da violência contra a comunidade LGBT e a sua resistência têm ganhado espaço. A discussão sobre identidade de gênero e sexualidade têm ganhado letras de músicas, performances, poemas e rimas que alcançam destaque não apenas pela temática, mas também pela qualidade do material produzido.

Assim é “Crucifica”, single do DJ Soffio, que vem sendo reconhecido como o primeiro MC gay do Recife a aproximar a temática LGBT do Hip Hop, se propondo a quebrar com a constante combinação de machismo e homofobia nas letras do ritmo. No videoclipe da música ele usa um pijama listrado com um triângulo rosa colado no peito, uma referência a identificação dos gays em campos de concentração nazistas durante a segunda guerra mundial, como forma de de-

nunciar que o tratamento diferenciado continua até hoje “A história do rap é uma história de libertação. Eu escrevi “Crucifica” quando estava muito chateado com essas situações e por saber que o rap também é um ambiente machista e homofóbico eu pensei em falar sobre o tipo de repressão que eu sofro dentro do canal que eles usam” explica Soffio, que relembra que desde o começo teve o apoio de outros rappers da cena, mas que percebe a homofobia especialmente no ambiente mercadológico. Ao entrar no universo das batalhas de rap, os Slam’s,

Bixarte, artista não binária e atua desde os oito anos de idade com teatro. Para ela, o rap tem um papel político “Nós vivemos numa conjuntura em que nossos corpos são alvos o tempo todo, seja dos eleitores do Bolsonaro que abominam a feminilidade, seja da polícia que nos mira todo dia. Nosso grande desafio é nos manter vivos e ao mesmo tempo conscientizar”, afirma. Seu primeiro EP, Revolução, traz ritmos como o rap, jazz e blues, ritmos norte-americanos originalmente negros. Agora, Bixarte está na preparação do EP Faces e res-

salta que suas inspirações são as mulheres rappers “Minhas referências andam comigo. São as MC’s que estão comigo nas batalhas, e também Mona brutal, Lucas Bombite, Bione, são pessoas que me inspiram e que estão no corre como eu”. Soffio ressalta que o rap nessa onda conservadora é uma ferramenta necessária “Quando você vê pessoas colocando arte na rua, que é o que eu também estou me propondo a fazer, é pra gente dialogar que existem outras realidades além daquelas onde o conservadorismo quer nos ajustar” finaliza. Anúncio

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

VOCÊ VAI TRABALHAR MAIS, RECEBER MENOS E NÃO VAI SE APOSENTAR DEFENDA A SUA APOSENTADORIA

NÃO À PEC 6/2019


14 | VARIEDADES

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Amiga da Saúde

Coluna de Ciências | Reprodução

19 de agosto, o dia que virou noite em São Paulo. Renan Santos*

m fato carregado de simbolismo para quem tem o míniU mo de preocupação com o rumo das coisas. A maior cidade do país assistiu assustada aos efeitos da terrível crise am-

biental que o capitalismo instaurou em todo o planeta. O céu se cobriu de partículas originadas de queimadas. É verdade que tal fenômeno pôde ser observado em outras cidades do país, e que seus maiores efeitos impactam a região Norte. Mas é muito simbólico que a grande metrópole perceba o que acontece na floresta, a milhares de quilômetros, de forma tão nítida. Escancara-se o fato de que o ambiente é um só. O que ocorre em qualquer lugar da Terra afeta a todos. Os problemas ambientais não são coisa de ecochato, e sim uma grave questão que diz respeito a toda a sociedade. As queimadas e o desmatamento da floresta amazônica são frutos da ganância do capital. Seus promotores são a elite econômica, o agronegócio e o setor mineral, que veem a floresta e seu território como fonte de lucro. O governo federal, representante desses setores, estimula o crime ao negar os dados científicos que o atestam e ao diminuir a fiscalização. É irresponsável ao elencar como inimigos os povos indígenas e ONGs ambientalistas. As regiões de latitude média do planeta, localizadas próximo aos trópicos, concentram grandes desertos. É assim por todo o globo, com raras exceções. A maior delas se localiza na América do Sul. Essa região do nosso continente, que engloba grande parte da Argentina, Paraguai, Uruguai, Sul do Brasil até o estado de São Paulo, pela lógica deveria ser um grande deserto. Isso não ocorre graças à floresta amazônica e a um enorme rio voador, maior que o Amazonas em quantidade de água, que sobrevoa essa região e a mantem úmida. Funciona assim. A água do oceano Atlântico evapora e é carregada pelo vento para o continente, onde cai na forma de chuva. Na Amazônia, as árvores absorvem a água do solo e a devolvem para a atmosfera como vapor. Estima-se que uma árvore de grande porte pode bombear cerca de mil litros de água por dia. O vento segue até encontrar a imensa Cordilheira dos Andes, que então o desvia para a região do trópico de capricórnio. Se a Amazônia for destruída, esse rio seca. E a região com maior densidade econômica e populacional do continente provavelmente se tornará um grande deserto. Ou seja, perdem simultaneamente os que vivem na floresta e os que vivem na metrópole. Tudo em nome do lucro. Um abraço e até a próxima! *Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais

Tenho uma bebe de 4 meses com sintomas de intolerância à lactose. Ela toma só leite materno e o pediatra pediu pra tirar o peito. Eu não quero parar de amamentar. O que faço? Anônima

uando se trata de intolerância à lactose congênita os sintomas Q são graves e aparecem já nos primeiros dias de vida do bebê. Nesse caso tem necessidade de suspensão do leite materno sim. As ou-

tras formas de intolerância estão associados ao leite de vaca, não sendo esperado para bebês em aleitamento materno exclusivo. As alterações intestinais no bebê podem ter inúmeras origens, inclusive algo que a mãe esteja ingerindo. Os alimentos mais suspeitos são: chocolate, café, chás, refrigerantes, bebida alcoólica, corantes artificiais, temperos industrializados, etc. Às vezes é necessário suspender o leite materno por alguns dias para reduzir a irritação intestinal e verificar a origem do problema, nesse caso deve-se ordenhar o leite pra não interromper a produção, dar o outro leite no copinho, evitando qualquer bico e voltando a oferecer o peito após o período de teste.

Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br

Nossa cozinha

Carpaccio de beterraba INGREDIENTES:

1 beterraba grande 1 pequena 1 colher de sopa de mostarda 2 colheres de sopa de iogurte natural 1 Cebola média 1 colher de sopa de azeite Pimenta do reino 1 colher de sopa de alcaparras (opcional) Couve flor ou brócolis (opcional)

Diva

MODO DE PREPARO Cozinhe a beterraba grande inteira, com casca, em água fervente. Quando estiver macia, deixe esfriar um pouco, retire a casca e faça fatias bem finas. Fatie a beterraba crua bem fina também. Disponha as fatias de forma circular em um prato variando uma fatia crua e outra cozida. Amasse um dente de alho em uma pitada média de sal três colheres de azeite e meio limão, pimenta do reino a gosto e regue a beterraba. Leve à geladeira por meia hora. Junte a cebola fatida bem fininha. Fatie a cebila bem fina e Em um recipiente misture iogurte natural e uma colher de mostarda e uma colher de alcaparras (opcional), um fio de azeite e uma pitada de sal e sirva junto. Fica bem com Brócolis e couve flor cozido.


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ESPORTES |15

Torneio reúne seleções de imigrantes que vivem em Pernambuco comunicacao_CopaDosRefugiados

ESPORTE. Apoiada pela ONU, a Copa dos Refugiados acontece no domingo; ingresso é trocado por 1kg de alimento jogos terão duração de apenas 50 minutos. Às o domingo (15) a 9h30 entram em campo Arena de Pernam- Venezuela e Cabo Verbuco, em São Lourenço de. Definidos os venda Mata, sedia a 1ª Copa cedores, as duas seledos Refugiados e Imi- ções finalistas disputam grantes do Nordeste. Se- o título regional a partir leções da Venezuela, An- das 11h. Apesar de ocorgola, Cabo Verde e Sene- rer pela primeira vez em gal disputam semifinais Pernambuco, o torneio e final no mesmo dia. As é realizado anualmente portas estarão abertas a desde 2014 no Brasil. partir das 8h da manhã e para entrar basta levar 1kg de alimento não perecível. Às 8h30 da manhã a Copa é aberta pelo duelo Angola x Senegal. Os Vinícius Sobreira

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As portas estarão abertas a partir das 8h

Torneios similares ocorrem em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. Os campeões de cada estado se classificam para a etapa nacional da competição, que acontece no mês de novembro no estado do Rio de Janeiro. A Copa dos Refugiados e Imigrantes 2019 deve

reunir 1.120 atletas amadores de 39 nacionalidades em todo o país. Nos outros estados, além de seleções das mesmas quatro nacionalidades presentes no torneio pernambucano, há ainda equipes do Haiti, Colômbia, Guiné, Congo, Gana e Paquistão, entre outros. O tema da competição comunicacao_CopaDosRefugiados

este ano é “reserve um minuto para ouvir uma pessoa que deixou o seu país”. O evento é promovido pela organização não-governamental África de Coração e conta com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), através do seu Alto Comissariado para Refugiados (ACNUR). Os organizadores acreditam que a competição ajuda a reduzir preconceitos como o racismo e a xenofobia sofrida pelos imigrantes. Em Pernambuco a Copa é organizada por um comitê composto pelo Governo do Estado, pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Defensoria Pública da União, pela instituição católica Cáritas, as ongs Gade e Eacape Cidadania Africana, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE), Federação Pernambucana de Futebol (FPF), além do Clube Náutico Capibaribe e o Sport Club do Recife.


16 | ESPECIAL

Recife, 06 a 12 de setembro de 2019

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O A O A N O J E P S E D

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