(re)invenção / (re)invention | 19. Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia
Participação brasileira na 19. Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia � Brazilian participation at the 19th International Architecture Exhibition – La Biennale di Venezia 2025
Participação brasileira na 19. Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia � Brazilian participation at the 19th International Architecture Exhibition – La Biennale di Venezia 2025
Esta exposição é fruto da parceria consolidada ao longo de décadas entre a Fundação Bienal de São Paulo e o Governo Federal do Brasil, representado pelo Ministério da Cultura e o Ministério das Relações Exteriores. Unindo forças nesta iniciativa, reafirmam o compromisso do país em reforçar o diálogo global sobre arte e arquitetura. Inserida no contexto maior da 19. Mostra Internacional de Arquitetura, Intelligens. Natural. Artificial. Collective., mais uma vez temos a oportunidade de apresentar para um público internacional aquilo que temos de mais rico: a cultura brasileira.
A exposição (RE)INVENÇÃO nos convida a aprender com as práticas ancestrais, explorando a simbiose entre humanos, terra e natureza como um caminho para um futuro mais sustentável. Os conteúdos aqui expostos destacam a importância de estratégias que conciliam um compromisso real com o planeta e são resultado direto do trabalho e da criatividade de uma equipe liderada pelos curadores Luciana Saboia, Eder Alencar e Matheus Seco, do Plano Coletivo.
A mostra inaugura uma outra conquista realizada no próprio Pavilhão do Brasil, que passa a contar com uma nova configuração graças à recuperação do projeto original do edifício. Projetado por Giancarlo Palanti, Henrique Mindlin e Walmyr Lima Amaral, este Pavilhão acolhe o que há de mais atual no Brasil desde 1964, e seu restauro sublinha a vocação da Fundação em salvaguardar e manter em destaque o patrimônio cultural e arquitetônico brasileiro, como há quase setenta anos tem ocorrido com o Pavilhão Ciccillo Matarazzo em São Paulo.
This exhibition is the result of a decadeslong partnership between the Fundação Bienal de São Paulo and the Brazilian Federal Government, represented by the Ministry of Culture and the Ministry of Foreign Affairs. By joining forces in this initiative, they reaffirm Brazil’s commitment to strengthening the global dialog on art and architecture. As part of the larger context of the 19th International Architecture Exhibition: Intelligens. Natural. Artificial. Collective., we once again have the opportunity to present to an international audience the richest thing we have: the Brazilian culture.
The (RE)INVENTION exhibition invites us to learn from ancestral practices, exploring the symbiosis between humans, land and nature as a path to a more sustainable future. The content presented here highlights the importance of strategies that reconcile a true commitment to the planet, and is the direct result of the work and creativity of a team led by curators Luciana Saboia, Eder Alencar and Matheus Seco, from Plano Coletivo.
The exhibition inaugurates another achievement in the Brazil Pavilion itself, which now features a new configuration thanks to the restoration of the building’s original design. Designed by Giancarlo Palanti, Henrique Mindlin and Walmyr Lima Amaral, this pavilion has been home to the latest Brazilian art and architecture since 1964, and its restoration underscores the Fundação’s vocation to preserve and maintain Brazil’s cultural and architectural heritage, as has been the case with the Ciccillo Matarazzo Pavilion in São Paulo for almost seventy years.
Andrea Pinheiro Presidente � President Fundação Bienal de São Paulo
Representada em dois atos, (RE) INVENÇÃO constrói uma narrativa que atravessa tempos e territórios. No primeiro ato, a exposição revela como, há mais de 12 mil anos, os povos indígenas moldaram as paisagens ao seu redor, criando infraestruturas sofisticadas que integravam conhecimento técnico e estratégias de adaptação ao meio ambiente. Os povos originários empilhavam o solo para construir aterros sobre os quais erguiam suas casas de madeira e palha, muitas vezes dispostas em estruturas circulares, conformando pátios internos. Esses habitantes reocupavam o mesmo local durante períodos de dois séculos e depois partiam em ciclos migratórios ao longo dos rios de águas negras nessa exploração equilibrada em busca de novos territórios. Modificações antrópicas significativas baseadas em relações abertas com a natureza e pela ausência de formas rígidas de controle das plantas e animais estabeleceram adaptações na natureza, como as chamadas “terras pretas de índio”, e a criação de novas paisagens. Invenções de engenhosidade no bosque tropical.
O segundo ato desloca o foco para o Brasil contemporâneo, explorando as nuances das relações entre arquitetura e infraestrutura, assim como as possibilidades de ressignificação da cidade a partir de uma curadoria de pesquisas, processos e práticas em arquitetura. Dessa forma, foca-se o olhar para a possibilidade de reconhecimento e valorização de estratégias e operações projetuais “encapsuladas” na engenhosa produção herdada e apropriada em busca de equidade social e equilíbrio ecológico. Operações projetuais que priorizam estratégias inventivas em detrimento de estruturas teóricas rígidas.
O Pavilhão do Brasil propõe um debate sobre tradição e inventividade a partir do existente para buscar soluções criativas para fenômenos complexos em um mundo já transformado. Trata-se de atualizar o problema e colocá-lo em suspensão para considerar as contradições e questionar condições socioambientais da cidade contemporânea e seus territórios. Faz-se assim um apelo aos arquitetos do mundo todo para que se envolvam novamente com o tema dos projetos infraestruturais, ampliando-os e potencializando-os para o benefício coletivo das sociedades e, para além delas, da nossa existência enquanto humanidade neste planeta cada vez mais flagelado.
Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco Curadores Plano Coletivo
Presented in two acts, (RE)INVENTION builds a narrative that spans time and territories. In the first act, the exhibition shows how, more than 12,000 years ago, Indigenous peoples shaped the landscapes around them, creating sophisticated infrastructures that integrated technical knowledge and strategies for adapting to the environment. The Indigenous peoples piled up the soil to create embankments on which they built their wooden and straw houses, often arranged in circular structures that formed interior courtyards. These inhabitants would reoccupy the same site for periods of two centuries and then leave in migratory cycles along the black water rivers in this balanced exploration in search of new territories. Significant anthropic modifications, based on an open relationship with nature and the absence of rigid forms of plant and animal control, established adaptations in nature, such as the so-called terra preta de índio [Indian black earth], and the creation of new landscapes. Ingenious inventions in the rainforest.
The second act shifts the focus to contemporary Brazil, exploring the nuances of the relationship between architecture and infrastructure, as well as the possibilities of re-signifying the city through a curation of architectural research, processes, and practices. In this way, the focus is on the possibility of recognizing and valuing design strategies and operations “encapsulated” in the ingenious production inherited and appropriated in search of social equity and ecological balance. Design operations that prioritize inventive strategies over rigid theoretical structures.
The Brazilian Pavilion proposes a debate on tradition and inventiveness, based on what exists, in order to find creative solutions to complex phenomena in a world that has already been transformed. The aim is to update and suspend the problem in order to consider the contradictions and question the socioenvironmental conditions of the contemporary city and its territories. This is a call to architects all over the world to re-examine the issue of infrastructure projects, to expand and improve them for the collective benefit of societies and, beyond them, for our existence as humanity on this increasingly degraded planet.
Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco Curators Plano Coletivo
sumário � contents
Act One � Primeiro Ato
amazônia revelada revealed amazon
O Projeto Amazônia
Revelada usa a arqueologia como ferramenta para a proteção do bioma. O projeto vem realizando o mapeamento de sítios arqueológicos localizados ao longo do chamado “arco de desmatamento” com o objetivo de dar visibilidade às profundas marcas que os povos da floresta vêm deixando há milênios na paisagem, criando assim uma camada de proteção da região com base no patrimônio arqueológico revelado. Esse projeto visa construir uma rede de pessoas e instituições envolvidas com esse patrimônio arqueológico, como universidades, museus, associações comunitárias e ONGs, para atuar em diferentes áreas ao longo do arco de desmatamento da Amazônia, produzindo e compartilhando o conhecimento para transformar de forma decisiva o entendimento geral sobre os legados indígenas em questão. Os mapeamentos em larga escala de sítios arqueológicos são realizados por imagens feitas a partir de sensores
aéreos com a tecnologia LiDar com o intuito de revelar as construções e estruturas de terra hoje ocultas na floresta, produzindo imagens impactantes desse patrimônio ainda não revelado. Outra frente de pesquisa inclui as consultas e mapeamentos terrestres feitos de forma colaborativa com as comunidades locais, bem como escavações de sítios específicos.
The Projeto Amazônia Revelada [Amazon Revealed Project] uses archaeology as a tool to protect the biome. The project has mapped archaeological sites along the so-called “arc of deforestation” with the goal of making visible the deep imprint that forest peoples have left on the landscape for millennia, and thus creating a layer of protection for the region based on the revealed archaeological heritage. The project aims to build a network of people and institutions involved in this archaeological heritage, such as universities, museums,
community associations and NGOs, to work in different areas along the Amazon deforestation arc, producing and sharing knowledge to decisively change the general understanding of the Indigenous heritage in question. Large- scale mapping of archaeological sites will be carried out using images from aerial sensors with LiDar technology to reveal earthen constructions and structures currently hidden in the forest, producing striking images of this previously undiscovered heritage. Another area of research includes consultations and terrestrial mapping in collaboration with local communities, as well as excavations at specific sites.
Eduardo Neves Arqueólogo e professor � Archaeologist and professor Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo
mapa geral
A deep history of lands, roads and villages
Urban infrastructure and landscapes in the archaeology of the southwestern Amazon formas específicas de construir o pensamento e acessar vários tipos de conhecimento.
A construção de lugares e paisagens indígenas é uma atividade concreta, relacional e multivocal que deve ser entendida como um processo consciente, derivado de um projeto de planejamento sofisticado. Assim, além das dimensões associadas ao manejo da terra, das rochas e das espécies vegetais, é importante entender que os lugares e seus significados fabricam de forma persistente a vida social e são fontes de conhecimento que fornecem o cenário para a ação, o pensamento, o sentimento e a expressão. Os lugares não são apenas codificadores da história e da memória, mas criadores de múltiplos significados que envolvem um nível fenomenológico que conecta as percepções do mundo às sensações e experiências de vida de um indivíduo. Essas experiências incluem memórias do passado coletivo, comportamentos, ensinamentos e valores morais, e um nível cognitivo que destaca
A aplicação de tecnologias de escaneamento topográfico em áreas florestadas possibilita o mapeamento de uma malha arqueológica na forma de estradas e caminhos ligando diversas categorias de assentamentos arqueológicos em territórios indígenas do sudoeste Amazônico. A infraestrutura indígena resultante da antropização da floresta – ligada à longa história autóctone permeada pela cosmologia, economia, mobilidade, dieta e diversos outros aspectos da vida – ali conta com as mais antigas terras pretas conhecidas na Amazônia, com datas que remontam a cerca de 5.500 A.P. (antes do presente), além de montículos e ilhas florestadas que atestam que as paisagens vem sendo altamente alteradas desde o início do Holoceno, há mais de 10 mil A.P. Por
volta do primeiro milênio d.C., as paisagens urbanas e agrícolas se tornaram abundantes e muitas das estruturas daquele período permanecem visíveis até hoje. Embora a maioria das comunidades que construiu esses locais tenha desaparecido entre os séculos 13 e 16 d.C., incontáveis vestígios de sua infraestrutura ainda podem ser encontrados, ainda que retrabalhados por assentamentos e estradas contemporâneos.
general map
A deep history of lands, roads and villages
Urban infrastructure and landscapes in the archaeology of the southwestern Amazon
The construction of Indigenous places and landscapes is a concrete, relational and multivocal activity that must be understood as a conscious process derived from a sophisticated planning project. Thus, in addition to the dimensions associated with the management of land, rocks, and plant species, it is important to understand that places and their meanings persistently fabricate social life and are sources of knowledge that provide the setting for action, thought, feeling, and expression. Places are not only codifiers of history and memory, but also creators of multiple meanings that involve a phenomenological level that links perceptions of the world to individual sensations and life experiences. These experiences include memories of the collective past, behaviors, teachings and moral values, and a cognitive level that highlights specific ways of constructing thought and
accessing different types of knowledge.
The application of topographic scanning technologies in forested areas has made it possible to map an archaeological network in the form of roads and paths linking different categories of archaeological settlements in the Indigenous territories of the southwestern Amazon. The Indigenous infrastructure resulting from the anthropization of the forest – linked to the long autochthonous history, permeated by cosmology, economy, mobility, diet and various other aspects of life – includes the oldest known black earths in the Amazon, dating back to around 5,500 B.P. (before present), as well as forested mounds and islands, which attest to the fact that the landscapes have been highly modified since the beginning of the Holocene, more than 10,000 B.P. Around the
first millennium A.D., urban and agricultural landscapes became abundant, and many of the structures from that period remain visible today. Although most of the communities that built these sites disappeared between the 13th and 16th centuries A.D., countless traces of their infrastructure can still be found, albeit reworked by contemporary settlements and roads.
Francisco Pugliese Arqueólogo e coordenador do � Archaeologist and coordinator of Laboratório de Arqueologia Indígena, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília
Baseado nas pesquisas e publicações de � Based on the research and publications of Francisco Pugliese, Hugo Pires, Eduardo Neves, 2025. Projeto Amazônia Revelada, Projeto Médio Guaporé
Desenho � Drawing Carolina Guida, Isadora Furtado, Pedro Cardoso
Porité Arikapú foi o pajé cujo apelido, dado pelos seringueiros, nomeia esse sítio arqueológico multicomponencial único na arqueologia das Terras Baixas Sulamericanas. Casado com Marãunta Tupari, que lá está sepultada, viveu ali com sua família até o final da década de 1970, quando se mudaram para a aldeia Bom Jardim. Desde então, aquele local foi tomado
mais uma vez pela vegetação nativa, mas a prevalência de palmeiras estende-se por mais de um quilômetro a partir da antiga casa da família, no sentido do grande geoglifo circular da porção norte do sítio. Em partes apagada em seu contorno mais ao sul, aquela vala circular fica evidente como a primeira estrutura em terra construída na área, posteriormente sobreposta
pela grande aldeia de terra preta onde a presença de cerâmicas arqueológicas é massiva e conta, inclusive, com urnas funerárias bem preservadas. As estruturas reticulares que se estendem por toda a área de dispersão dos demais vestígios arqueológicos são achados inéditos, cujo significado não é ainda claro.
Porité Arikapú was the shaman whose nickname, given by the rubber tappers, gave its name to this multi-component archaeological site, unique in the archaeology of the South American lowlands. Married to Marãunta Tupari, who is buried there, he lived there with his family until the end of the 1970s, when they moved to the village of Bom Jardim. Since then,
the site has been taken over by native vegetation, but the prevalence of palm trees extends for more than a kilometer from the family’s old house, towards the large circular geoglyph in the northern part of the site. This circular trench, partially obliterated in its southern contour, is evident as the first earthen structure built in the area, later overlaid by the large black
Francisco Pugliese Arqueólogo e coordenador do � Archaeologist and coordinator of Laboratório de Arqueologia Indígena, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília
Baseado nas pesquisas e publicações de � Based on the research and publications of Francisco Pugliese, Hugo Pires, Eduardo Neves, 2025. Projeto Amazônia Revelada, Projeto Médio Guaporé
Desenho � Drawing Carolina Guida
earth village, where the presence of archaeological ceramics is massive and there are even wellpreserved funerary urns. The reticular structures that extend throughout the area, where the other archaeological remains are scattered, are unprecedented finds whose significance is still unclear.
vila de
bragança
Complexo Arqueológico, Médio Rio Guaporé, Rondônia � Archaeological Complex, Middle Guaporé River, Rondônia
Com uma cronologia que precede a construção do Real Forte Príncipe da Beira, o Complexo Arqueológico do Fortim Nossa Senhora da Conceição de Bragança apresenta ao menos cinco períodos de ocupação que vão desde as antigas aldeias fortificadas amazônicas até os assentamentos quilombolas que se estabeleceram na região a
partir de meados do século 18 e que resistem até hoje. Durante os conflitos daquele período colonial, na área que albergava a Missão de Santa Rosa foi construído o Fortim da Conceição e ali se formou uma pequena estrutura urbana que foi esquecida pelo tempo, a Vila de Bragança. Com a utilização do material do Fortim para a construção do Forte Príncipe, toda
aquela área passou a constituir a periferia do assentamento e, 250 anos depois, a arqueologia agora evidencia uma história em ruas, casas e praças, testemunhos do extermínio dos territórios e dos povos originários.
With a chronology that predates the construction of the Royal Fort Príncipe da Beira, the archaeological complex of Fortim Nossa Senhora da Conceição de Bragança shows at least five periods of occupation, ranging from the ancient fortified villages of the Amazon to the quilombola settlements that were established in the region from the mid-1800s and
that still exist today. During the conflicts of that colonial period, the Fortim da Conceição was built in the area where the Santa Rosa Mission was located, and a small urban structure, the Vila de Bragança, was created, which has been forgotten by time. With the use of the material from the fort for the construction of Fort Príncipe, the whole area became
Francisco Pugliese
Arqueólogo e coordenador do � Archaeologist and coordinator of Laboratório de Arqueologia Indígena, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília
Baseado nas pesquisas e publicações de � Based on the research and publications of Francisco Pugliese, Hugo Pires, Eduardo Neves, 2025. Projeto Amazônia Revelada, Projeto Médio Guaporé
Desenho � Drawing Carolina Guida
the outskirts of the settlement, and now, 250 years later, archaeology shows a history in the streets, houses and squares that testifies to the extermination of territories and Indigenous peoples.
sítio mariené mariené site
Floresta Nacional do Iquiri, Sul do Amazonas � Iquiri National Forest, Southern Amazonas
A bacia do rio Purus é reconhecida pela sua infraestrutura indígena arqueológica. Além dos geoglifos, estruturas interconectadas de até 2.500 A.P. com valas e leiras dispostas em formato circular, quadrangular ou composto, a partir de 1 mil A.P. surge na região uma profusão de sítios na forma de aldeias circulares com montículos
dispostos em torno de praças centrais, também conectados por redes de estradas. Os geoglifos foram descobertos no final do século passado em áreas recém desmatadas, e os dados atuais têm confirmado que sua área de distribuição é muito maior do que a identificada até recentemente. No sul do Amazonas, os geoglifos em áreas florestadas têm apresentado um excelente
estado de conservação, não só de suas estruturas escavadas como também suas conexões por estradas retilíneas e caminhos interfluviais mais curvos, revelando uma paisagem bastante alterada, marcada pelo legado indígena de familiarização com a natureza.
The Purus River basin is known for its Indigenous archaeological infrastructure. In addition to the geoglyphs, interconnected structures dating as far back as 2,500 B.P. with ditches and beds arranged in circular, quadrangular, or compound shapes, from 1,000 B. P. onward a wealth of sites appeared in the region in the form of circular villages
with mounds arranged around central squares, also connected by road systems. The geoglyphs were discovered at the end of the last century in recently deforested areas, and current data has confirmed that their distribution area is much larger than that identified until recently. In the southern part of Amazonas, the geoglyphs in forested areas have
Francisco Pugliese Arqueólogo e coordenador do � Archaeologist and coordinator of Laboratório de Arqueologia Indígena, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília
Baseado nas pesquisas e publicações de � Based on the research and publications of Francisco Pugliese, Hugo Pires, Eduardo Neves, 2025. Projeto
Amazônia Revelada, Projeto Médio Guaporé
Desenho � Drawing Isadora Furtado
shown an excellent state of conservation, not only of the excavated structures, but also of their connections by straight roads and more curved interfluvial paths, revealing a strongly modified landscape marked by the Indigenous legacy of familiarity with nature.
subterrânea do tanaru underground house in the
tanaru
Complexo Arqueológico, Sul de Rondônia � Archaeological Complex, Southern Rondônia
Neste ano, foi encontrada na Terra Indígena Tanaru o que parece ser a primeira casa subterrânea da Amazônia. Tais sítios, comuns no Planalto Meridional do Brasil, não haviam sido ainda registrados em áreas próximas à linha do Equador. Tanaru, ou o Índio do Buraco, é a maneira como ficou conhecido como o último sobrevivente do massacre de toda uma etnia, cujo flagrante foi registrado pelo Estado brasileiro casa
(Funai) em 1995. Desde então, Tanaru resistiu bravamente em uma ilha de floresta que restou da destruição causada pelo avanço do agronegócio na região. Após a sua morte em 2022, a frágil proteção daquela área já não garante que sua história não seja apagada e que o resto de seu território não vire mais um campo de produção de soja. Na tentativa de registrar os últimos vestígios desse povo e evitar que, esquecida, a história
se repita, a arqueologia revelou centenas de estruturas escavadas, caminhos antigos, acampamentos e aldeias. Tornando o cenário ainda mais incrível, está agora registrada a primeira casa subterrânea indígena no Brasil encontrada fora do contexto geográfico dos povos falantes de línguas da família Jê do sul do país, tornando ainda mais complexa a multivariada história indígena de Rondônia.
This year, what appears to be the first underground house in the Amazon was found in the Tanaru Indigenous territory. Such sites, common in the southern Brazilian Highlands, had not been recorded in areas close to the equator. Tanaru, also known as The Man of the Hole, became known as the last survivor of the massacre of an entire ethnic group recorded by the Brazilian State (Funai) in 1995. Since then, Tanaru has bravely
resisted in an island of forest left over from the destruction caused by the advance of agribusiness in the region. After his death in 2022, the fragile protection of this area no longer guarantees that his history will not be erased and that the rest of his territory will not become another soybean field. In an attempt to record the last vestiges of these people and prevent history from repeating itself, archaeology has uncovered hundredsof excavated
Francisco Pugliese Arqueólogo e coordenador do � Archaeologist and coordinator of Laboratório de Arqueologia Indígena, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília
Baseado nas pesquisas e publicações de � Based on the research and publications of Francisco Pugliese, Hugo Pires, Eduardo Neves, 2025. Projeto Amazônia Revelada, Projeto Médio Guaporé
Desenho � Drawing Isadora Furtado
structures, ancient trails, camps and villages. To make the scenario even more incredible, the first Indigenous underground house in Brazil, found outside the geographical context of the Jê-speaking peoples in the south of the country, has now been recorded, making the multifaceted Indigenous history of Rondônia even more complex.
Act Two � Segundo Ato strategies estratégias
O Brasil contemporâneo é constituído por um patrimônio natural e urbano de excepcional riqueza, fruto de suas dimensões continentais que conta com uma diversidade biológica própria em seis biomas distintos, além de três grandes ecossistemas marinhos. Ao todo, são mais de 116 mil espécies animais e mais de 46 mil espécies vegetais. O país é também o sexto mais populoso do mundo, com 212 milhões de habitantes em 77 regiões metropolitanas e mais de 5 mil cidades. Fruto da promessa de desenvolvimento e o desejo de emancipação cultural, particularmente ao longo da primeira metade do século 20, o país construiu uma série de infraestruturas de produção de energia, transporte, saneamento e habitação, com franca participação da arquitetura e do urbanismo, que juntas permitiram novos ciclos de ocupação desse imenso território. Complexa, mas desigual; útil, mas limitada; essa é a nossa infraestrutura herdada. Que lições, em termos de pertinência e significação, podemos extrair da relação entre esse patrimônio construído infraestrutural e o patrimônio natural?
Destacam-se três eixos expositivos. O primeiro é composto por ações projetuais inspiradas pelas ocupações informais nos morros e outras formas de apropriação social, partindo do entendimento da natureza e dos fenômenos sociais existentes. O segundo eixo trata das estratégias que configuram uma multiplicidade de espacialidades e arranjos programáticos a partir de uma estrutura aberta e de elementos mínimos. O terceiro, por fim, contempla as operações projetuais que evocam novas coexistências a partir de seus legados, desejados ou não, como formas de reciclagem. Ações projetuais inventivas que se apropriam do existente, mas também o tornam próprio, criam identidades e fazem do projeto uma oportunidade para se reinventar como realidade.
Contemporary Brazil is made up of an exceptionally rich natural and urban heritage, the result of its continental size, with its own biodiversity in six different biomes, as well as three major marine ecosystems. In total, there are more than 116,000 animal species and more than 46,000 plant species. It is also the sixth most populous country in the world, with 212 million people living in 77 metropolitan areas and more than 5,000 cities. As a result of the promise of development and the desire for cultural emancipation, especially in the first half of the 20th century, the country built a series of infrastructures for energy production, transportation, sanitation and housing, with the open participation of architecture and urbanism, which together allowed new cycles of occupation of this immense territory. Complex but uneven, useful but limited, this is our inherited infrastructure. What lessons of relevance and significance can we draw from the relationship between this built infrastructure heritage and the natural heritage?
Three exhibition axes stand out. The first consists of design actions inspired by informal occupations in the hills and other forms of social appropriation based on an understanding of nature and existing social phenomena. The second axis deals with strategies that configure a multiplicity of spatialities and programmatic arrangements based on an open structure and minimal elements. Finally, the third axis deals with design operations that evoke new coexistences based on their legacies, whether desired or not, as forms of recycling. Inventive design actions that appropriate the existing, but also make it their own, create identities and make the project an opportunity to reinvent itself as reality.
Manaus – AM
10� corte climático • climatic section
Universidade Federal do Amazonas
Brasília – DF 03� plataforma jardim • garden platform
Universidade Federal do Amazonas
Instituto Central de Ciências
11� estrutura aberta • open structure CEPLAN
Rio de janeiro – RJ
01� infraestrutura travestida • transfigured infrastructure Floresta da Tijuca
08� matriz oblíqua • oblique matrix
Conjunto Maria Cândido Pareto
10� corte climático • climatic section
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da URFJ
Porto Alegre – RS
10� corte climático • climatic section
Edíficio FAM
Afuá – PA
04� malha anfíbia • amphibius grid
Infraestrutura
Teresina – PI
10� corte climático • climatic section
Assembleia Legislativa do Piauí
Salvador – BA
02� percurso drenante • drainage path
Escada Drenante
06� arrimo habitado • inhabited prop wall
Restaurante COATI
Belo Horizonte – MG
07� habitat encapsulado • encapsulated habitat
Centro Cultural Lá da Favelinha
São Paulo – SP
05� articulação telúrica • telluric articulation
Centro Cultural São Paulo
09� diagrama mutante • mutant diagram
Ocupação 9 de Julho
12� modelagem metamórfica • metamorphic modeling
SESC 24 de Maio
infraestrutura travestida transfigured
infrastructure
Estratégia � Strategy
André Cavendish, Guilherme Lassance, Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco
Desenho � Drawing
Carolina Guida, Lucas Freitas, Victor Suarez, André Cavendish
Baseado na pesquisa de doutorado de � Based on the doctoral research of André Cavendish, “Infraestruturas travestidas de floresta. Encenações, contenções e infiltrações” (PROURB-UFRJ, 2025); e na pesquisa � and on the research “Potencialização socioambiental da infraestrutura herdada “, Guilherme Lassance (coord.)
O travestimento é uma operação de transmutação entre estados distintos que guarda características de ambos, visando um objetivo específico. Nesta estratégia, a operação da infraestrutura travestida transforma mutuamente o espaço infraestrutural, no qual se encontram as redes de infraestrutura básica, de logística e de comunicação em paisagem natural, como também a natureza se beneficia dessa relação como forma de preservação.
Frequentemente, as infraestruturas urbanas se operacionalizam por meio de um intrincado agenciamento de territórios considerados externos às cidades. Essas paisagens operacionais são construídas sem considerar o impacto nos territórios por onde percorrem e passam a ser por vezes obstáculos intransponíveis no cotidiano citadino. Outras vezes são dispositivos “escondidos”, que cortam o território discretamente por dentro do tecido urbano com grandes construções de grandes canalizações de rios para o escoamento de esgoto e redes de energia que causam imenso impacto ambiental. Dessa foram, o espaço infraestrutural sustenta a permanência de vazios em cidades compactas, como também a articulação do território existente entre redes de núcleos urbanos em transformação. Acreditamos que é nesse hiato da urbanização extensiva do território constituído pelo espaço infraestrutural que se encontra a chave para pensar a dimensão espacial da natureza enquanto subsídio ao campo do projeto urbano, visando um equilíbrio ecológico e social.
Transfiguration is an operation of transmutation between different states, retaining characteristics of both, to achieve a specific goal. In this strategy, the operation of the transfigured infrastructure reciprocally transforms the infrastructural space, where the basic infrastructure, logistics and communication grids are located, into a natural landscape, and nature also benefits from this relationship as a form of conservation.
Urban infrastructures are often made operational through a complex management of territories that are considered external to cities. These operational landscapes are built without considering their impact on the territories through which they pass, and sometimes they become insurmountable obstacles in everyday urban life. At other times, they are “hidden” devices that discreetly cut through the territory from within the urban fabric, with large-scale construction of river channels for sewage disposal and energy grids that cause immense environmental impact. In this way, the infrastructural space sustains the permanence of voids in compact cities, as well as the articulation of the existing territory between networks of urban centers in transformation. We believe that it is in this gap of extensive urbanization of the territory constituted by infrastructural space that we find the key to thinking about the spatial dimension of nature as a subsidy to the field of urban design, aiming at an ecological and social balance.
floresta da tijuca
Rio de Janeiro – RJ, 1869-1897
Ações paisagísticas
Auguste Glaziou
Desenho
Carolina Guida, Lucas Freitas, Victor Suarez, André Cavendish
A invenção da Floresta da Tijuca, ainda no século 19, dialoga com uma certa ideia de natureza que ganha centralidade na vida urbana da época. Ao longo do século, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, o paisagismo transcende a pintura para desenhar a cidade e fazer surgir os primeiros parques públicos. Obras de embelezamento urbano adornam fontes e chafarizes nas praças e jardins públicos, sublinhando os recursos naturais na cidade. Nas montanhas da Tijuca, a floresta se materializa a partir dessa mescla entre espaço público, infraestrutura e natureza autônoma. Dessa maneira, os reservatórios, para além de sua performance técnica, performam
ativamente na criação de uma forma singular de espaço cívico da cidade, contribuindo para o projeto de convivência entre a metrópole e a floresta.
No caso da Floresta da Tijuca, essa operação “teatraliza” a natureza enquanto espetáculo que se reproduz à revelia de ações humanas. Os bastidores desse teatro são justamente sua dimensão infraestrutural, que media sua sobrevivência no meio urbano. Nesse sentido, os reservatórios de água localizados no conjunto de montanhas do Maciço da Tijuca são infraestruturas que, para além de sua performance técnica, colaboram para a criação da floresta enquanto parte da cidade. A Floresta que
está no coração geográfico do continuum urbano do Rio de Janeiro não é um território unitário e homogêneo, mas sim o resultado de um conjunto de fragmentos que mesclam concepções diversas da noção de natureza com dispositivos de ordem infraestrutural. Essa combinação é crucial para a manutenção do ecossistema florestal einfraestrutural enquanto figura urbana central para a metrópole carioca. A proteção legal, a geografia acidentada e a importância cultural da floresta são fatores que contribuem para sua preservação no coração de uma região metropolitana de mais de 12 milhões de habitantes.
tijuca national park
Rio de Janeiro – RJ, 1869-1897
Landscaping actions
Auguste Glaziou
The invention of the Tijuca National Park in the 19th century dialogued with a certain idea of nature that was at the center of urban life at that time. Throughout the century, especially in Europe and the United States, landscaping went beyond painting to design the city, giving rise to the first public parks. Urban beautification works adorned fountains in public squares and gardens, highlighting the city’s natural resources. In the Tijuca National Park, the forest materializes from this mixture of public space, infrastructure and autonomous nature. In this way, the reservoirs, beyond their technical performance, actively participate in the creation
of a unique form of civic space in the city, contributing to the project of coexistence between the metropolis and the park.
In the case of the Tijuca National Park, this operation “theatricalizes” nature as a spectacle that reproduces itself without human intervention. The backstage of this theater is precisely its infrastructural dimension, which mediates its survival in the urban environment. In this sense, the water reservoirs located in the mountains of the Tijuca Massif are infrastructures that, beyond their technical performance, contribute to the creation of the forest as part of the city. The forest, at the geographical heart of
Rio de Janeiro’s urban continuum, is not a single, homogeneous territory, but rather the result of a series of fragments that mix different conceptions of nature with infrastructural devices. This combination is crucial for maintaining the forest ecosystem and infrastructure as a central urban figure for the metropolis of Rio. The legal protection, the rugged geography and the cultural importance of the forest are factors that contribute to its preservation in the heart of a metropolitan region of more than 12 million inhabitants.
Drawing
Carolina Guida, Lucas Freitas, Victor Suarez, André Cavendish
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percurso drenante drainage path
Estratégia � Strategy
Carolina Pescatori, Luciana Saboia, Leandro Cruz, Eder Alencar, Matheus Seco
Desenho � Drawing
Luiza Ceruti
Baseado na pesquisa � Based on the research “Narrar por paisagens: questões em arquitetura, projeto e tectônica”, Luciana Saboia (coord.) e nos livros � and on the books “Cidade pós-compacta: estratégias projetuais a partir de Brasília” • "Post-Compact City: Drawing Out Design Strategies from Brasília", Guilherme Lassance, Luciana Saboia, Carolina Pescatori, Cauê Capillé; “João Filgueiras Lima, Lelé”, Giancarlo Latorraca (2021)
Um dos grandes desafios dos países do Sul global é a vulnerabilidade ambiental e de infraestrutura da urbanização informal. Como são ocupações extremamente densas, é muito difícil implementar as infraestruturas de drenagem, saneamento e transporte convencionais sem desencadear processos de remoção e demolição em massa. O percurso drenante inverte as lógicas tradicionais do urbanismo e do planejamento, articulando a arquitetura de pequeno monte como estratégia para adaptar, escalonar, fundir e modular a infraestrutura, permitindo a oferta de percursos seguros para as pessoas e para a água. A adaptação é a adequação da circulação e rede de águas pluviais às possibilidades reais do espaço. Onde não é possível a circulação de veículos, privilegia-se o mais importante, a circulação de pedestres, respeitando as condições topográficas variáveis. O escalonamento é a redução do porte dos elementos que compõem a rede de drenagem e o sistema de transporte às dimensões da cidade informal. A fusão é a combinação de mais de uma rede de infraestrutura no mesmo projeto. A modulação é a fragmentação dos elementos da infraestrutura em módulos menores, facilitando o transporte das peças, a montagem das redes e a sua adaptação a contextos diversos.
One of the greatest challenges facing countries in the global South is the environmental and infrastructural vulnerability of informal urbanization. Due to their extremely dense settlements, it is very difficult to implement conventional drainage, sanitation, and transportation infrastructures without triggering mass displacement and demolition processes. The drainage path reverses the traditional logics of urbanism and planning, articulating small hill architecture as a strategy for adapting, scaling, merging, and modularizing infrastructure to provide safe routes for people and water. Adaptation is the adaptation of the circulation and stormwater systems to the real possibilities of the space. Where vehicular circulation is not possible, pedestrian circulation is most important, taking into account the changing topographic conditions. Scaling is the reduction of the size of the elements that make up the drainage and transportation system to the dimensions of the informal city. Fusion is the combination of more than one infrastructure network in the same project. Modulation is the fragmentation of infrastructure elements into smaller modules, making it easier to transport parts, assemble networks, and adapt to different contexts.
renurb
pré-fabricação em argamassa armada para saneamento básico
renurb
prefabrication of reinforced mortar for basic sanitation
Salvador – BA, 1980-1982
Arquitetura � Architecture
João Filgueiras Lima, Lelé
Desenho � Drawing
Luiza Ceruti
As escadarias drenantes foram instaladas em diversas comunidades localizadas em terrenos muito inclinados, alguns com mais de 45º de declividade, na cidade de Salvador. A escadaria drenante é composta por degraus de argamassa armada que operam como calhas com seção em “U” de 50 cm, 70 cm ou 1 m de largura, conectadas por encaixes simples e cobertas por placas-degraus de 1,50 m de largura. Leves, fáceis
de transportar e instalar, não exigem mão-deobra especializada, o que permitiu a participação da população local na instalação.
Complementarmente às escadas drenantes, o sistema também incluiu elementos para formação de canais de drenagem de maior porte. Duas peças de argamassa armada, uma para as paredes de contenção e outra para formar o fundo do canal,
permitem a estruturação de redes de drenagem de maior capacidade, sem perder as características básicas: leveza e dimensões reduzidas. Em conjunto, as peças formam a rede de infraestrutura que funde as funções de percurso e drenagem, criando caminhos de pedestre que dão acesso às edificações, enquanto fabricam um sistema de drenagem pluvial que provê segurança para a ocupação de morros e encostas.
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sistemade esgoto
macro-draining: pre-castsewersystem
Drainage stairs have been installed in several communities located on very steep slopes, some with a gradient of more than 45º, in the city of Salvador. The drainage staircase consists of reinforced mortar steps that act as U-shaped gutters 50 cm, 70 cm or 1 m wide, connected by simple fittings and covered by 1.50 meter- wide steps. Lightweight, easy to transport and install, they do not require skilled
labor, which allowed the local population to participate in the installation.
In addition to the drainage stairs, the system also includes elements for creating larger drainage channels. Two pieces of reinforced mortar, one for the retaining walls and the other to form the bottom of the channel, make it possible to structure larger drainage networks without losing their basic
characteristics: lightness and reduced dimensions. Together, they form an infrastructure that combines the functions of footpath and drainage, creating pedestrian paths that allow access to buildings, while at the same time creating a rainwater drainage system that guarantees safety for the occupation of hills and slopes.
Julio Pastore, Paola Ferrari, Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco
Desenho � Drawing
Paulo Honorato
Baseado no livro � Based on the book “Cidade pós-compacta: estratégias projetuais a partir de Brasília” • "Post-Compact City: Drawing Out Design Strategies from Brasília", Guilherme Lassance, Luciana Saboia, Carolina Pescatori, Cauê Capillé;
na tese de doutorado de � on the doctoral thesis of Paola Caliari Ferrari, “Espaço universitário, impermanências e megaestrutura: análise do Instituto Central de Ciências” (FAU-UnB, 2023); no projeto de extensão � on the extension project Paola Caliari Ferrari, “Espaço universitário, impermanências e megaestrutura: análise do Instituto Central de Ciências” (FAU-UnB, 2023);
Plataforma-jardim como estratégia trata da articulação em plataformas com a operação de ajardinamento de modo a criar um mundo interior. O interior de grandes infraestruturas ou sistemas de circulação linear, comumente caracterizadas por módulos repetitivos e espaços externos em diferentes níveis pontuados por dispositivos de conexão vertical (escadas e rampas) e transversal (páticos, caminhos de jardins e praças) passam a articular espaços ajardinados como exteriores. O ajardinamento é a criação de um mundo interior; a partir da manipulação de texturas, espécies vegetais com adequação climática e respeito às temporalidades das estações e adaptabilidade às características do bioma existente. A jardinagem se mescla com a manipulação dos fluxos e das áreas de circulação e permanência em áreas livres das infraestruturas. A estratégia encontra-se também mobilizada em projetos de grandes equipamentos e arquitetura de fluxo caracterizados como não-lugares, mas que assumem cada vez mais o papel de novos espaços coletivos na metrópole.
Garden platform as a strategy deals with the articulation of platforms with the operation of landscaping to create an interior world. The interiors of large infrastructures or linear circulation systems, usually characterized by repetitive modules and exterior spaces on different levels punctuated by vertical (stairs and ramps) and transversal (piazzas, garden paths and squares) connecting devices, now articulate gardened spaces as exteriors. Gardening is the creation of an interior world; from the manipulation of textures, plant species with climatic suitability and respect for the temporalities of the seasons and adaptability to the characteristics of the existing biome. Gardening is mixed with the manipulation of flows and areas of circulation and permanence in areas free of infrastructure. The strategy is also mobilized in projects for large facilities and flow architecture, which are characterized as non-places, but which are increasingly taking on the role of new collective spaces in the metropolis.
instituto central de ciências + jardim
de sequeiro
Brasília – DF, 1963-1971
Arquitetura � Architecture
Oscar Niemeyer
Paisagismo � Landscaping
Júlio Pastore
Desenho � Drawing
Paulo Honorato
A megaestrutura linear de 720 m do Instituto Central de Ciências abriga a urbanidade do campus universitário pela disposição de uma rua-jardim. O jardim gramado com poucas espécies que necessitava irrigação constante nos longos períodos de seca foi substituído em 2020 por espécies nativas de ciclo ou adaptadas ao cerrado. O jardim naturalista nasce, cresce, floresce e seca acompanhando a sazonalidade do bioma do Planalto Central em uma grande plataforma de estrutura pré-moldada em concreto protendido. A estrutura pavilhonar
modulada por pilares a cada três metros e que acolhe uma diversidade de situações espaciais e funcionais passa também a coabitar com a temporalidade e diversidades de flores, capins e plantas savânicas do Brasil central.
The 720-meter linear
mega-structure of the Instituto Central de Ciências houses the urbanity of the university campus through the layout of a garden-street. The grass garden, with few species that required constant irrigation during long periods of drought, was replaced
in 2020 with native species that are cyclical or adapted to the Cerrado. The naturalistic garden is born, grows, blooms, and dries according to the seasonality of the Central Plateau biome on a large platform of precast prestressed concrete. The pavilion-like structure is modulated by columns every three meters and accommodates a variety of spatial and functional situations. It also cohabits with the temporality and diversity of flowers, grasses, and savanna plants of central Brazil.
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isométrica � isometric
cortelongitudinal � longitudinalsection
malha anfíbia amphibius grid
Estratégia � Strategy
Guilherme Lassance, Pierre Antoine, Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco
Desenho � Drawing
Paulo Honorato, Carolina Guida, Lucas Freitas, Victor Suarez
Baseado na pesquisa � Based on the research “Potencialização socioambiental da infraestrutura herdada”, Guilherme Lassance (coord.)
A estratégia da malha anfíbia consiste em focar a ação de projeto na criação de infraestruturas autônomas em relação ao contexto físico em que se implantam, de modo a reduzir a necessidade de transformação deste pelos imperativos da ocupação urbana. A capacidade de convívio com condições adversas fica patente na criação de estruturas suspensas do solo permitindo a ocupação urbana de áreas alagadas ou sujeitas a alagamento. A estratégia faz aqui referência ao sistema construtivo das palafitas típicas do habitat tradicional ribeirinho amazônico, mas desta vez aplicado à escala urbana e dispondo de maior capacidade tecnológica agregada para provimento de múltiplos serviços – circulação, fornecimento de energia, coleta de resíduos sólidos, saneamento –, admitindo ainda ajustes dimensionais para acolher espaços públicos com capacidade de uso coletivo. Ao contrário de lutar contra as condições existentes para conformá-las às exigências de um padrão técnico ideal, essa menor dependência contextual permite lidar com as dinâmicas próprias do meio a ser ocupado, sem prejuízo das lógicas de desempenho que são próprias da infraestrutura instalada.
The strategy of the amphibious grid is to focus the design action on the creation of autonomous infrastructures in relation to the physical context in which they are implanted, to reduce the need to transform it by the imperatives of urban occupation. The ability to live with adverse conditions is evident in the creation of structures suspended from the ground that allow urban occupation of flooded or flood-prone areas. The strategy here refers to the construction system of stilt houses typical of the traditional Amazonian riverine habitat, but this time applied on an urban scale and with greater technological capacity to provide multiple services – circulation, energy supply, waste collection, sanitation – while also allowing dimensional adjustments to accommodate public spaces with the capacity for collective use. Instead of fighting against the existing conditions in order to adapt them to the demands of an ideal technical standard, this reduced contextual dependence allows us to deal with the dynamics of the environment to be occupied, without compromising the performance logic of the installed infrastructure..
distrito urbano do município de afuá, pará
Secretaria Municipal de Infraestrutura
Afuá – PA
Desenho
Paulo Honorato, Carolina Guida, Lucas Freitas, Victor Suarez
Implantado em plena foz do Rio Amazonas, o núcleo urbano ocupa terras sujeitas a constantes variações do nível das águas em razão do regime de marés oceânicas e do fluxo do próprio rio e de seus afluentes. Apesar dessas condições pouco favoráveis à ocupação urbana, a cidade consegue acolher uma população residente de mais de 30 mil habitantes graças ao sistema de passarelas elevadas organizadas em uma malha ortogonal relativamente regular. Inicialmente feitas de madeira usando técnica das palafitas tradicionais, o dispositivo vem sendo reforçado pela aplicação de uma chapa de concreto armado apoiada sobre a estrutura existente usada como forma. Esse
material mais resistente e perene exacerba ainda mais o contraste entre o planejado, projetado e mantido pela instância pública e o autoconstruído da esfera privada. Apesar da maior resistência, a infraestrutura suspensa permite manter certas restrições como a que impede a circulação de veículos automotores, sendo exclusivamente reservada ao uso compartilhado de pedestres e veículos leves como bicicletas e seus múltiplos derivados não motorizados (triciclos, quadriciclos e outras criativas invenções da engenhosidade local para responder a determinadas demandas), característica esta que gera um ambiente de convívio coletivo de alta urbanidade.
Esse dispositivo mais permanente, projetado e mantido pelas Secretaria Municipal de Infraestrutura, se articula a equipamentos públicos, também projetados, que ampliam suas dimensões quando necessário, para permitir a criação de espaços coletivos como praças, quadras esportivas, plataformas de conexão com o transporte fluvial e até mesmo um plano inclinado que serve de praia.
urban district of the municipality of afuá, pará
Municipal Infrastructure Department Afuá – PA
Drawing Paulo Honorato, Carolina Guida, Lucas Freitas, Victor Suarez
Located at the mouth of the Amazon River, the urban center occupies land subject to constant changes in water level due to the tides and the flow of the river itself and its tributaries. Despite these unfavorable conditions for urban settlement, the city manages to accommodate a population of more than 30,000 thanks to a system of elevated walkways organized in a relatively regular orthogonal grid. Initially constructed in wood using the traditional stilt technique, the system was strengthened by the application of a reinforced concrete slab supported on the existing structure used as a form. This more resistant and durable material further accentuates the contrast between what is planned,
designed and maintained by public authorities and what is self-built in the private sphere. Despite its greater resistance, the suspended infrastructure allows certain restrictions to be maintained, such as the one that prevents the circulation of motor vehicles, reserving it exclusively for the shared use of pedestrians and light vehicles such as bicycles and their many non-motorized derivatives (tricycles, quadricycles, and other creative inventions of local ingenuity to respond to specific needs), a characteristic that generates a highly urban collective living environment. This more permanent facility, designed and maintained by the
Municipal Infrastructure Department, is linked to public facilities, also designed, which expand their dimensions when necessary to allow the creation of collective spaces such as squares, sports fields, platforms connected to river transport and even an inclined plane that serves as a beach.
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articulação telúrica telluric articulation
Estratégia � Strategy
Ana Cláudia Barone, Guilherme Soto Messias, Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco
Desenho � Drawing
Jessica Duarte
Baseado na pesquisa � Based on the research Guilherme Soto Messias, “A telúrica do talude: Centro Cultural São Paulo” (FAU-USP, 2024), “Potencialização socioambiental da infraestrutura herdada”, Guilherme Lassance (coord.)
A emergência desta estratégia consiste na ocupação de vazios não edificados, áreas residuais que estão em constante negociação entre a topografia original e uma outra inventada e manipulada. É a articulação do solo por excelência. A terra é tornada oca em uma arquitetura de múltiplos níveis configurados por planos horizontais ou inclinados. Emergem plataformas elevadas em taludes e arrimos que normalmente segregam a infraestrutura viária destinada aos veículos motorizados. Por vezes, as grandes dimensões da terraplanagem permitem silenciar, ou ao menos contar, o ruído visual do entorno da cidade genérica e possibilitam criar o distanciamento necessário para colocar em cena o programa arquitetônico. A característica telúrica do espaço, ou seja, a relação com a terra emerge na existência e na criação daquele lugar, pela arquitetura. Sua condição em talude se traduz na arquitetura do jogo de níveis que constrói a espacialidade interna, as relações entre pessoas, as atividades, as interfaces entre interior e exterior, e a própria cidade em sua sobreposição de camadas, experiências e vivências.
The emergence of this strategy consists in the occupation of unbuilt spaces, residual areas in constant negotiation between the original topography and another, invented and manipulated one. It is the articulation of the ground par excellence. The land is hollowed out in a multi-level architecture configured by horizontal or inclined planes. Elevated platforms appear on slopes and embankments that usually separate the road infrastructure for motorized vehicles. Sometimes, the large dimensions of the earthworks make it possible to silence or at least counteract the visual noise of the generic urban environment, creating the necessary distance to stage the architectural program. The telluric character of the space, in other words the relationship with the earth, is expressed in the existence and creation of this place by the architecture. Its condition as a slope is translated into the architecture of the play of levels, which constructs the internal spatiality, the relationships between people, the activities, the interfaces between inside and outside, and the city itself in its overlapping of layers, experiences and sensations.
centro cultural são paulo
CCSP
São Paulo – SP, 1979
Arquitetura � Architecture
Eurico Prado Lopes, Luiz Telles
Desenho � Drawing
Jessica Duarte
Inaugurado em 1982, o edifício do Centro Cultural São Paulo (CCSP) instiga de múltiplas formas a sensibilidade arquitetônica de seus usuários. Incrustado no talude de uma importante avenida de fundo de vale da cidade, ele se integra à paisagem sem sobrepô-la, podendo até passar despercebido por quem trafega pela via expressa. No entanto, um olhar atento percebe o concreto da cobertura e das sustentações do jardim, desvelando ali a presença de um edifício. De um vazio residual derivado da implantação de infraestruturas urbanas metropolitanas – avenida e metrô – a edifício público de excelência, o Centro
Cultural demonstra a potência da arquitetura na transformação da cidade e das experiências coletivas. O acesso central faz-se por uma descida a partir da própria continuidade da calçada, inclinando-se ao encontro da rua interna que organiza o edifício.
A ideia é a instalação de planos longilíneos que acompanham a forma do talude criado a partir da adequação às suas curvas sutis da topografia do talude existente. A partir da infraestrutura herdada, rampas entrecruzadas unem os vários níveis, permitindo interconexão visual entre os espaços. Elas se apoiam em pilares e vigas metálicas que nascem do solo
com formato de árvore, mimetizando o próprio jardim de espécies da mata atlântica mantido em meio a esses planos de concreto. Da rua interna, avista-se uma parede inclinada revestida de tijolos de barro, remarcando a presença inequívoca do talude. O Centro Cultural devolve o talude à cidade como espaço vivo e vivenciado em escala metropolitana. Ao longo dos seus mais de quarenta anos, com seu público cotidiano, variado e volumoso, reitera o sucesso da arquitetura que se abre às possibilidades de transformação e ressignificação dos espaços da cidade.
Inaugurated in 1982, the building of the Centro Cultural São Paulo (CCSP) stimulates the architectural sensibility of its users in many ways. Nestled into the slope of an important avenue at the bottom of the city’s valley, it blends into the landscape without overwhelming it, and may even go unnoticed by commuters. On closer inspection, however, the concrete of the roof and the supports of the garden reveal the presence of a building. From a void left by the implementation of metropolitan urban infrastructures – avenue and subway – to a public building of excellence, the cultural center
demonstrates the power of architecture to transform the city and collective experiences. The central access is through a descent from the continuity of the sidewalk itself, sloping down to meet the internal street that organizes the building. The idea is to install longitudinal planes that follow the shape of the slope, created by adapting the topography of the existing slope to its subtle curves. From the existing infrastructure, intersecting ramps connect the different levels, allowing a visual connection between the spaces. They are supported by metal columns and beams that emerge from the ground in the shape
of a tree, mimicking the garden of Atlantic forest species maintained in the midst of these concrete surfaces. From the internal road, you can see a sloping wall covered with adobe bricks, which marks the unmistakable presence of the slope. The cultural center returns the hillside to the city as a living and experiential space on a metropolitan scale. For more than forty years, with its daily, varied and large audience, it has confirmed the success of an architecture open to the possibilities of transforming and resignifying urban spaces.
Baseado na pesquisa � Based on the research “Narrar por paisagens: questões em arquitetura, projeto e tectônica”, Luciana Saboia (coord.); e nos livros � on the books “Lina Bo Bardi: obra construída”, Olívia de Oliveira (2014); “João Filgueiras Lima: Lelé”, Giancarlo Latorraca (2000)
Os muros de arrimo, normalmente empregados para conter terrenos e garantir a estabilidade estrutural de edificações em áreas inclinadas, são geralmente tratados como estruturas a serem ocultadas ou disfarçadas. A estratégia projetual de imitação que subverte a noção comum desses elementos está diretamente associada ao reconhecimento de uma espacialidade distinta entre infraestrutura e arquitetura. Essa estratégia subverte os princípios de limite e de finitude que definem a escala arquitetônica da edificação, inaugurando a possibilidade de um interior em rede, um anti-objeto, uma grande infraestrutura vivenciada. As paredes habitadas ressignificam os elementos estruturais da paisagem, colando-se numa espécie de tautologia em que elas não apenas delimitam o espaço como também são o próprio espaço habitado. Isso remonta às construções antigas e seus sistemas construtivos megalíticos, onde os limites entre estrutura e espaço habitável eram difusos. Quando essa lógica se aplica a um muro de arrimo habitado, a complexidade do conceito se intensifica, pois assim conforma-se uma estratégia em que um elemento supostamente secundário passa a ser o protagonista da construção.
Prop walls, normally used to contain land and ensure the structural stability of buildings in sloping areas, are generally treated as structures to be hidden or disguised. The design strategy of imitation, which undermines the common notion of these elements, is directly related to the recognition of a distinct spatiality between infrastructure and architecture. This strategy undermines the principles of limitation and finitude that define the architectural scale of the building, and inaugurates the possibility of a networked interior, an anti-object, a large infrastructure to be experienced. The inhabited walls re-signify the structural elements of the landscape, sticking together in a kind of tautology in which they not only delimit the space but are also the inhabited space itself. This goes back to ancient constructions and their megalithic building systems, where the boundaries between structure and inhabitable space were blurred. When this logic is applied to an inhabited retaining wall, the complexity of the concept is intensified, as a strategy is formed in which a supposedly secondary element becomes the protagonist of the construction.
esquemadeinserçãourbana � urbaninsertionscheme
restaurante
coati
coati
restaurant Salvador – BA, 1987
Arquitetura � Architecture
Lina Bo Bardi, João Filgueiras Lima –Lelé, Marcelo Ferraz, Marcelo Suzuki
Desenho � Drawing Marcela Peres
O projeto de 1987 para um restaurante localizado na região do Pelourinho, em Salvador, tem como partido a composição de planos de vedação autoportantes que conformam espaços curvilíneos, como também configuram mirantes para a Baía de Todosos-Santos. Os planos horizontais configuram- se como arrimos habitados, adquirem uma nova camada de significado e funcionalidade: eles passam a definir e articular o espaço, tanto na escala urbana como na organização interna dos ambientes. Além disso, o espaço construído dissolve temporariamente a dicotomia estabelecida entre tectônica e estereotomia, pois a massa construída do muro é, em um único gesto, o elemento que garante a estabilidade e que responde pela conformação da superfície envoltória de peças pré-fabricadas de argamassa armada. Ao invés de ser reduzido a um componente técnico, ele se torna um gesto arquitetônico que sintetiza estabilidade, definição formal e expressão artística em um único espaço. A materialidade
desses muros habitados também desempenha um papel crucial na sua experiência sensorial. Ao se trabalhar com concreto, pedra ou outros materiais maciços, a própria textura e a percepção do peso da construção se tornam partes integrantes da arquitetura. Além disso, a inclusão de elementos como aberturas, passagens, rampas fazem deste exemplo de arrimo habitado um organismo dinâmico, que dialoga com o entorno e se ajusta às necessidades de cada situação em que a estratégia é aplicada.
The 1987 project for a restaurant in the Pelourinho neighborhood of Salvador is based on the composition of selfsupporting fence planes that form curvilinear spaces and lookouts over the Baía de Todos-osSantos. The horizontal planes are configured as inhabited prop walls, acquiring a new level of meaning and functionality: they come to define and articulate space, both on the urban scale and in the internal organization of the environments. In addition, the built space temporarily
dissolves the dichotomy established between tectonics and stereotomy, since the built mass of the wall is, in a single gesture, the element that guarantees stability and is responsible for shaping the surface surrounding the prefabricated pieces of reinforced mortar. Instead of being reduced to a technical component, it becomes an architectural gesture that synthesizes stability, formal definition, and artistic expression in a single space. The materiality of these inhabited prop walls also plays a crucial role in their sensory experience. When working with concrete, stone, or other solid materials, the texture itself and the perception of the weight of the construction become integral parts of the architecture. In addition, the inclusion of elements such as openings, passageways, and ramps make this example of an inhabited prop wall a dynamic organism that dialogues with its surroundings and adapts to the needs of each situation in which the strategy is applied.
cortelongitudinal � longitudinalsection
concreto armado reinforced concrete
suporte estrutural structural support
brita crushed stone
habitat encapsulado encapsulated habitat
Estratégia � Strategy
Carolina Pescatori, Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco
Desenho � Drawing
Jessica Duarte
Baseado na pesquisa � Based on the research “Narrar por paisagens: questões em arquitetura, projeto e tectônica”, Luciana Saboia (coord.)
Os contextos urbanos informais são caracterizados por pequenas edificações em tecidos urbanos compactos e densos, normalmente com características muito similares: acabamentos simples, muitas grades e elementos de segurança, sem muita vegetação e espaços livres. A estratégia de encapsular uma edificação comum com uma roupagem diferenciada confere a ela uma nova composição que tem como objetivo destacá-la no tecido urbano. O encapsulamento ocorre por meio da aplicação de elementos arquitetônicos que envelopam a edificação, oferecendo novas características compositivas de ritmo, cores ou texturas. Opera como uma forma de arquitetura que produz legibilidade e dignidade, ou mesmo propicia outras características desejáveis, a depender do tipo de cápsula e da necessidade contextual. Ao criar novas estruturas na construção existente, como a cobertura da chamada quinta fachada, terraços ou lajes superiores são recriados para novos espaços de convívio. A envoltória amplia a possibilidade de leitura do conjunto urbano e compartilhamento de espaços coletivos, favorecendo novas perspectivas na leitura da vizinhança. Essa estratégia opera na escala humana, na escala simbólica e na dimensão arquitetônica, sendo uma potente estratégia para que os edifícios que oferecem serviços comunitários recebam um destaque condizente com a grande relevância de seus papéis sociais em territórios mais vulneráveis.
Informal urban contexts are characterized by small buildings in compact and dense urban fabrics, usually with very similar characteristics: simple finishes, lots of railings and safety elements, without much vegetation or open spaces. The strategy of encapsulating an ordinary building in a different guise gives it a new composition that aims to make it stand out in the urban fabric. Encapsulation is achieved through the application of architectural elements that envelop the building, offering new compositional characteristics of rhythm, color or texture. It works as a form of architecture that produces legibility and dignity, or even other desirable characteristics, depending on the type of capsule and the contextual needs. By creating new structures on the existing building, such as the roof of the so-called fifth façade, terraces or upper slabs are recreated for new living spaces. The envelope expands the possibility of reading the urban whole and sharing collective spaces, favoring new perspectives in reading the neighborhood. This strategy operates on the human scale, the symbolic scale and the architectural dimension, and is a powerful strategy for buildings that provide community services to be given a prominence consistent with the great relevance of their social role in more vulnerable areas.
centro cultural lá da favelinha
Belo Horizonte – MG, 2021
Arquitetura � Architecture
Coletivo LEVANTE
Desenho � Drawing
Jessica Duarte
O Centro Cultural Lá da Favelinha se localiza na Vila Novo São Lucas, Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, Minas Gerais, uma das maiores metrópoles do Brasil. É uma iniciativa independente e sem fins lucrativos que oferece oficinas de vários tipos, incluindo dança, música, poesia e outros, além de uma biblioteca comunitária. O espaço para o centro era um edifício existente construído em um lote exíguo, de menos de 80 m², uma situação comum nas favelas brasileiras.
Essa edificação não se diferenciava em nada das demais edificações do contexto da favela e não enunciava publicamente a importância do trabalho comunitário e cultural ali realizado.
O encapsulamento foi realizado por meio da aplicação de pórticos de forte cor vermelha que partem da fachada do 2º pavimento e dobram- se para dentro da edificação, transformando- se na cobertura do 3º pavimento, um espaço aberto generoso e totalmente envolto pelas vigas coloridas. Os pórticos
são feitos de uma estrutura metálica muito esbelta, recoberta por uma tela vermelha, demonstrando que a cápsula pode ser criada com diversos materiais, mesmo aqueles pouco convencionais e de baixo custo. A estratégia do encapsulamento dessa edificação operou para dar unidade interna e destaque externo para o centro cultural, demarcando para a comunidade sua importância coletiva e criando um potente invólucro identitário para a antiga edificação.
The Centro Cultural Lá da Favelinha is located in Vila Novo São Lucas, Aglomerado da Serra, in Belo Horizonte, Minas Gerais, one of the largest metropolitan areas in Brazil. It is an independent, non-profit initiative that offers workshops of various kinds, including dance, music, poetry and others, as well as a community library. The space for the center was an existing building built on a tiny lot of less than 80 square meters, a common situation in Brazilian favelas. This building was
no different from the other buildings in the favela and did not publicly announce the importance of the community and cultural work that was taking place there.
The encapsulation was achieved through the use of bright red porticos that start from the facade of the 2nd floor and fold into the building, becoming the roof of the 3rd floor, a generous open space completely enveloped by the colored beams. The porticos are made of a very slender metal structure covered with a red canvas,
demonstrating that the capsule can be created with a variety of materials, even unconventional and inexpensive ones. The strategy of encapsulating this building worked to give internal unity and external prominence to the cultural center, demarcating its collective importance to the community and creating a powerful identity shell for the old building.
Cauê Capillé, Guilherme Lassance, Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco
Desenho � Drawing
Lucas Marques
Baseado no livro � Based on the book “Rio Metropolitano: guia para uma arquitetura”, Guilherme Lassance, Pedro Varella, Cauê Capillé (2012).
A estratégia da matriz oblíqua projetada envolve o aproveitamento do relevo e inclinação do terreno como aliados na fabricação de sobreposições e justaposições oportunas. O diagrama fundamental dessa estratégia é o da declividade do terreno, na qual, em corte, o deslocamento no eixo vertical (z) ao longo do eixo horizontal (x) produz simultaneamente planos habitáveis (pisos) que são liberados de forma visual pelos desníveis (espelhos da escada). A integração do desnível topográfico se torna verdadeiro componente do projeto, os espaços coletivos de circulação e distribuição encaixam-se nas
“entranhas” do desnível acomodandose no espaço de menor habitabilidade com a vantagem de permitir micro apropriações por seus usuários. Essa estratégia incorpora a engenhosidade do saber local em ocupações urbanas existentes em encostas que permitem o uso coletivo e apropriações sociais da vizinhança. Apresenta-se, portanto, como uma importante alternativa à simples dicotomia que costuma opor a ocupação de comunidades vulneráveis em morros à arquitetura topograficamente amnésica dos empreendimentos imobiliários implantados em encostas urbanas.
The projected oblique matrix strategy involves using the relief and slope of the terrain as allies in the production of opportune overlaps and juxtapositions. The fundamental diagram of this strategy is that of the slope of the terrain, in which, in section, the displacement on the vertical axis (z) along the horizontal axis (x) simultaneously produces habitable planes (floors) that are visually released by the unevenness (stair mirrors). The integration of the topographical unevenness becomes a real component of the project, the collective circulation and distribution spaces fit into the “innards”
of the unevenness, accommodating themselves in the less habitable space with the advantage of allowing microappropriations by its users. This strategy incorporates the ingenuity of local knowledge in existing urban occupations on hillsides, allowing collective use and social appropriation of the neighborhood. It is therefore an important alternative to the simple dichotomy that usually pits the occupation of vulnerable communities on hillsides against the topographically amnesiac architecture of real estate developments on urban slopes.
conjunto habitacional maria cândida pareto
Rio de Janeiro – RJ, 1978
Arquitetura
Sergio Bernardes
Desenho
Lucas Marques, Jessica Duarte, Caué Capillé
A estratégia da matriz oblíqua no condomínio de Bernardes aproveita o relevo natural do terreno como um recurso ativo na criação dos espaços, transformando a inclinação da encosta em uma oportunidade projetual. A implantação oblíqua em uma encosta transforma o desnível em um componente fundamental do projeto, permitindo resolver questões relacionadas à contiguidade imposta pela malha regular, especialmente no que diz respeito à relação entre os espaços públicos e privados. O deslocamento vertical ao longo dos desníveis oferece uma variação de alturas e perspectivas, permitindo que cada morador experimente diferentes
níveis de privacidade e vista, enquanto otimiza o uso dos espaços abertos. A escada lateral não é apenas um elemento de circulação, mas torna-se o eixo central que conecta e organiza essa habitação integrada à topografia, potencializando a relação entre os espaços e a paisagem inclinada do morro.
O condomínio residencial é fundamentado em uma matriz densa que explora a repetição e sua reprodutibilidade como solução para a demanda habitacional em cidades cujos desenvolvimentos urbanos são restritos por obstáculos topográficos.
A estrutura espacial do projeto permite micro-apropriações por seus moradores,
promovendo um alto grau de individualização e a apropriação do espaço de habitação, em um contexto social cada vez mais diversificado em termos de formas de morar e arranjos familiares. Embora as fachadas externas mantenham uma aparência controlada e regular, cada unidade é única em seus fechamentos, vãos, alturas internas e número de pavimentos. A flexibilidade da malha modular adotada como estratégia permite a personalização dos espaços internos sem comprometer a economia gerada pela repetição e uso de uma infraestrutura sistemática.
maria cândida pareto housing complex
Architecture
Sergio Bernardes
Drawing
Lucas Marques, Jessica Duarte, Caué Capillé
The oblique matrix strategy in Bernardes’ housing complex takes advantage of the natural relief of the site as an active resource in the creation of spaces, transforming the slope into a design opportunity. The oblique placement on a hillside transforms the slope into a fundamental component of the project, making it possible to resolve issues related to the contiguity imposed by the regular grid, especially with regard to the relationship between public and private spaces. The vertical displacement along the slopes offers a variation of heights and perspectives, allowing each resident to experience different levels of privacy and views, while optimizing the use of open
spaces. The side staircase is not only a circulation element, but becomes the central axis that connects and organizes this dwelling integrated into the topography, enhancing the relationship between the spaces and the sloping landscape of the hill.
The housing complex is based on a dense matrix that explores repetition and its reproducibility as a solution to housing needs in cities whose urban development is limited by topographical obstacles. The spatial structure of the project allows for micro-appropriations by its residents, promoting a high degree of individualization and appropriation of living space in a social context that is increasingly diverse
in terms of lifestyles and family arrangements. Although the external facades maintain a controlled and regular appearance, each unit is unique in its closures, openings, internal heights and number of floors. The flexibility of the modular grid adopted as a strategy allows for the customization of the internal spaces without compromising the savings generated by the repetition and use of a systematic infrastructure.
Rio de Janeiro – RJ, 1978
esquemadeinserçãourbana � urbaninsertionscheme
isométrica � isometric
diagrama mutante mutant diagram
Estratégia � Strategy
Cauê Capillé, Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco
Desenho � Drawing
Lucas Marques
Baseado na pesquisa � Based on the research “Habitação coletiva em tempos de crise”, Cauê Capillé, Thiago Soveral (coords.); e no livro � and on the book “IN-FORMAL – Infraestrutura urbana revisitada”, Guilherme Lassance, Beatriz Gomes, Lucas Freitas, Nicholas Manso (2024).
A estratégia envolve um conjunto de táticas de apropriação e alteração de edifícios que se tornaram obsoletos para as atividades urbanas contemporâneas. Muitas dessas arquiteturas se veem hoje como heranças obsoletas e mal adaptadas aos usos contemporâneos, se transformando em um legado ruinoso para as cidades. Diferente do planejamento tradicional, que resolve e encerra, essa estratégia exige um engajamento contínuo e adaptação constante a diferentes situações futuras, o que implica em um processo contínuo de ajustes, testes e protótipos, sem nunca alcançar uma obra finalizada. Há quatro ações principais: (1) uma
reprogramação de pavimentos, (2) uma revisão e atualização de circulação geral; (3) uma transformação de partições internas através de demolições e construções precisas; e, caso necessário, (4) uma revisão de estrutura portante e instalações prediais. Embora essas quatro ações sejam pensadas em conjunto, acontecem ao longo de várias fases, nas quais diversos atores são envolvidos em um processo de projeto colaborativo. O diagrama mutante com a estratégia de um projeto indeterminado, aberto e mutável, permite justamente aproveitar essa herança construída como oportunidade de enfrentar os desafios de reocupação do existente.
The strategy involves a set of tactics for appropriating and transforming buildings that have become obsolete for contemporary urban activities. Many of these architectures are now seen as obsolete heirlooms, unfit for contemporary uses, and become a ruinous legacy for cities. Unlike traditional planning, which resolves and closes, this strategy requires continuous engagement and constant adaptation to different future situations, which implies a continuous process of adaptation, testing and prototyping, without ever reaching a finished work. There are four main actions: (1) a reprogramming of the floors; (2) a review and updating of the
general circulation; (3) a transformation of the internal partitions through demolition and precise construction; and, if necessary, (4) a review of the load-bearing structure and the building installations. Although these four actions are considered together, they take place in several phases, involving different actors in a collaborative design process. The mutant diagram, with the strategy of an indeterminate, open and mutable project, makes it possible to use this built heritage as an opportunity to face the challenges of reoccupying the existing space.
ocupação
9 de julho
São Paulo – SP, desde 2016
Arquitetura
Movimento Sem Teto do Centro – MSTC
Desenho
Lucas Marques
Em São Paulo, temos alguns importantes exemplos da estratégia do diagrama mutante, como a Ocupação 9 de Julho, construída pelo MSTC com apoio de sua assessoria técnica. Na Ocupação, o projeto busca a adequação de um edifício que originalmente servia para escritórios de uma instituição pública para ser convertido para habitação coletiva – com apartamentos e áreas comuns, em repartições que negociam formas de comunhão e cogestão. O projeto envolveu uma reprogramação dos pavimentos, com destaque para a redefinição dos espaços das unidades habitacionais e das áreas de uso coletivo. A circulação geral foi revisada, com o fechamento dos elevadores (cujo custo de manutenção seria demasiado grande)
e a centralização do uso da escada como acesso principal aos andares residenciais. A transformação da torre, inicialmente projetada para escritórios em um edifício de habitação coletiva, ocorreu por meio de cortes precisos, com demolições e construções pontuais, como a abertura de portas e o fechamento de ambientes. Além disso, foram projetadas instalações prediais –como luz, água e esgoto – de forma aparente, a fim de facilitar a construção, manutenção e futuras alterações.
O edifício está posicionado entre duas ruas com uma grande diferença de nível. Todos os espaços desse desnível formam uma ampla área coletiva que se estende tanto para os espaços externos, com uma horta e galpões para
eventos, quanto para o andar que conecta ao nível da rua Álvaro de Carvalho. Acessível por uma ponte, o andar foi projetado para promover o uso comum, oferecendo uma cozinha coletiva para eventos, oficinas de trabalho e acesso à galeria de arte situada no andar inferior, no nível da rua 9 de Julho. O edifício está em constante atualização e modificação. Atualmente, por exemplo, alguns terraços estão sendo transformados por cortes e adições leves para a criação de um espaço para artes performáticas, como dança e teatro. Os projetistas dessas alterações –moradores, participantes do MSTC e arquitetos que formam a assessoria técnica – trabalham continuamente em um projeto que assume a incompletude como forma de pensamento projetual.
ocupação 9 de julho
Architecture
In São Paulo, we have some important examples of the mutant diagram strategy, such as the Ocupação 9 de Julho, built by the MSTC with the support of its technical advisory. In the Ocupação, the project seeks to adapt a building that originally served as the offices of a public institution, in order to transform it into collective housing – with apartments and common areas, in divisions that negotiate forms of community and co-management. The project included a reprogramming of the floors, with an emphasis on redefining the spaces of the residential units and the common areas. The general circulation was redesigned by closing the elevators (which would have been too expensive to maintain) and centralizing the staircase as the main access to the residential
floors. The transformation of the tower, originally designed for offices, into a collective housing building was achieved through precise cuts, demolitions and specific constructions, such as the opening of doors and the closing of rooms. In addition, the building’s utilities, such as electricity, water, and sewage, were designed in an obvious way to facilitate construction, maintenance, and future modifications.
The building is located between two streets with a large difference in level. All the spaces in this gap form a large collective area that extends both to the outdoor spaces, with a vegetable garden and sheds for events, and to the floor that connects to the Álvaro de Carvalho street level. Accessible by a bridge, this floor
was designed to promote communal use, offering a collective kitchen for events, workshops and access to the art gallery located on the lower floor, at 9 de Julho Street. The building is constantly being updated and modified. Currently, for example, some of the terraces are being transformed by cutting and adding light to create a space for performing arts, such as dance and theater. The designers of these changes – residents, MSTC participants, and architects who make up the technical advisory team – are continuously working on a project that embraces incompleteness as a form of design thinking.
São Paulo – SP, since 2016
Movimento Sem Teto do Centro – MSTC
Drawing
Lucas Marques
esquemadeinserçãourbana � urbaninsertionscheme
corteisométrico � isometricsection
corte climático climatic section
Estratégia � Strategy
Guilherme Lassance, Sérgio Marques, Carlo Nozza, Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco
Desenho � Drawing
Lucas Freitas, Lucas Bandeira, Marcela Peres, Victor Suarez
Baseado nas pesquisas � Based on the researchs “Potencialização socioambiental da infraestrutura herdada”, Guilherme Lassance (coord.); “Projetos Referenciais para a Contemporaneidade: Arquitetura, Cidade e Paisagem”,Sérgio Moacir Marques (coord.).
A estratégia consiste em priorizar a concepção de uma articulação que seja engenhosa e, ao mesmo tempo, envolvente, com uma estrutura construtiva e uma espacialidade compostas a partir da representação em corte do edifício, de modo a produzir condições microclimáticas favoráveis ao seu uso. A intenção é reduzir o impacto gerado pela construção, limitando seu consumo energético e promovendo uma maior simbiose com o contexto existente, sem prejuízo das exigências de conforto relacionadas com as atividades acolhidas pelo edifício. Para favorecer o amortecimento microclimático, a estratégia mobiliza diferentes elementos, com destaque para: (1) fachada espessa ou a pele dupla; (2) o desenho do próprio entorno imediato com a incorporação da vegetação, espelhos d’água, recuos; (3) inserção de sequências intermediárias que permitam um gradiente progressivo de transição entre exterior e interior como parte integrante do partido arquitetônico e, por fim, (4) a desvinculação entre sistema construtivo e compartimentação interna, implicando na adoção de uma estrutura primária independente como princípio da conformação tectônica, de pédireito amplo e planta livre organizada por estrutura secundária favorável à ventilação e à iluminação naturais como parâmetros principais da organização geral.
The strategy consists in prioritizing the design of an articulation that is both ingenious and engaging, with a constructive structure and a spatiality composed of the building’s sectional representation, in order to create microclimatic conditions favorable to its use. The intention is to reduce the impact generated by the building, to limit its energy consumption and to promote a greater symbiosis with the existing context, without compromising the comfort requirements related to the activities hosted by the building. In order to promote microclimatic attenuation, the strategy uses various elements, including: (1) a thick facade or double skin; (2) the design of the immediate environment with the incorporation of vegetation, reflecting pools, building setbacks; (3) the insertion of intermediate sequences that allow a progressive gradient of transition between the exterior and the interior as an integral part of the architectural design; and finally, (4) the separation between the construction system and the internal compartmentalization, which implies the adoption of an independent primary structure as the principle of tectonic conformation, with a high ceiling height and a free floor plan organized by a secondary structure that favors natural ventilation and lighting as the main parameters of the general organization.
clima tropical semiárido
Assembleia Legislativa do Estado do Piauí
Teresina – PI, 1984
Arquitetura
Acácio Gil Borsoi
Cobertura
Ariel Valmaggia, Dieste & Montañez S.A.
Desenho
Lucas Freitas, Marcela Peres
semi-arid tropical climate
Legislative Assembly of the State of Piauí
Teresina – PI, 1984
Architecture
Acácio Gil Borsoi
Roof
Ariel Valmaggia, Dieste & Montañez S.A.
Drawing
Lucas Freitas, Marcela Peres
Espaços exteriores arborizados e laje de cobertura do volume de garagem adjacente tratada com espelho d’água para reduzir a carga térmica da ventilação natural por evaporação, fachadas porticadas equipadas de grelhas para proteção contra a incidência do sol nas fachadas, cobertura de cerâmica armada abobadada conformando canais de ventilação cruzada que permitem descarregar termicamente o telhado principal, associando ainda grandes beirais e estrutura primária independente de pé-direito duplo formando elementos de proteção ao sol das fachadas e lajes dos volumes internos, circulação de distribuição exteriorizada para reduzir a necessidade de climatização artificial aos espaços de trabalho e maior permanência.
Wooded outdoor spaces and the roof slab of the adjacent garage volume treated with a reflecting pool to reduce the thermal load of natural ventilation by evaporation, porticoed facades equipped with grilles to protect against the incidence of sunlight on the facades, vaulted reinforced ceramic roof forming cross ventilation channels that allow the main roof to be thermally unloaded. It also combines large eaves and an independent primary structure with double-height ceilings, forming elements to protect the facades and slabs of the internal volumes from the sun, and external distribution circulation to reduce the need for artificial air conditioning in work spaces and longer stays.
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isométrica � isometric
clima tropical úmido oceânico
Edifício
para a
Faculdade Nacional de Arquitetura
Rio de Janeiro – RJ, 1957
Arquitetura
Jorge Machado Moreira, ETUB team
Paisagismo
Roberto Burle Marx
Desenho
Lucas Freitas, Marcela Peres
oceanic humid tropical climate
Building for the Faculdade
Nacional de Arquitetura
Rio de Janeiro – RJ, 1957
Architecture
Jorge Machado Moreira, ETUB team
Landscaping
Roberto Burle Marx
Drawing
Lucas Freitas, Marcela Peres
Tratamento paisagístico do entorno com estratégia de plantio e espelhos d’água, estrutura construtiva primária exteriorizada nas fachadas atuando como elemento de proteção ao sol das esquadrias equipadas de aberturas altas, pé-direito duplo apenas compartimentado pelas paredes internas da circulação central longitudinal equipadas de grelhas superiores vazadas e por elementos da ordem do mobiliário fixo (estantes-divisórias) que proporcionam ventilação cruzada e iluminação natural em profundidade.
Landscaping of the surroundings with a planting strategy and reflecting pools, primary constructive structure externalized on the facades, acting as a solar protection element for the frames equipped with high openings, doubleheight ceilings divided only by the internal walls of the central longitudinal circulation equipped with hollowed upper grilles and by elements such as fixed furniture (shelving dividers) that provide cross ventilation and natural lighting in depth.
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isométrica � isometric
clima subtropical temperado
Edifício residencial FAM
Porto Alegre – RS, 1964
Arquitetura
Carlos Maximiliano Fayet, Cláudio L. G. Araújo, Moacyr Moojen Marques
Desenho
Lucas Bandeira, Marcela Peres
temperate subtropical climate
FAM residential building
Porto Alegre – RS, 1964
Architecture
Carlos Maximiliano Fayet, Cláudio L. G. Araújo, Moacyr Moojen Marques
Drawing
Lucas Bandeira, Marcela Peres
Entorno com recuos frontal e laterais, ditados por norma urbanística, para garantir a incidência solar no inverno, ventilação no verão, soluções dinâmicas para um clima composto e envolvente equipada com diferentes dispositivos para controle da insolação, iluminação e ventilação natural em função da orientação (venezianas móveis para ajuste da proteção solar em função das estações mais marcadas e vãos de janela com lightshelf), organização interna definida de acordo com a orientação em relação à incidência do sol e favorecimento da ventilação cruzada, estrutura resistente com vigas invertidas e pilares delgados articulados ao sistema climático.
Surroundings with front and side setbacks, dictated by urban regulations, to guarantee solar incidence in winter and ventilation in summer, dynamic solutions for a composite climate and surroundings equipped with different devices to control insolation, lighting and natural ventilation depending on the orientation (movable shutters to adjust solar protection according to the most pronounced seasons and window openings with light shelf), internal organization defined according to orientation in relation to the incidence of the sun and favoring cross ventilation, resistant structure with inverted beams and slender columns articulated to the climate system.
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isométrica � isometric
clima equatorial úmido amazônico
Conjunto da Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Manaus – AM, 1973
Arquitetura
Severiano Mario Porto
Desenho
Lucas Bandeira, Marcela Peres
Preservação do entorno florestal com organização pavilhonar, vãos e leveza da estrutura metálica esbelta, telhado duplo ventilado, fachadas sombreadas e protegidas por grandes beirais, esquadrias favoráveis à ventilação cruzada e compartimentação interna muito reduzida com os espaços de circulação e distribuição exteriorizados de modo a reduzir a ocorrência de obstrução à ventilação natural.
amazonian humid equatorial climate
Complex of the Universidade
Federal do Amazonas – UFAM
Preservation of the forest environment with a pavilion- like organization, slender metal structure, double ventilated roof, shaded facades protected by large eaves, frames conducive to cross ventilation and very little internal compartmentalization, with circulation and distribution spaces located outdoors to reduce the occurrence of obstructions to natural ventilation.
Baseado no livro � Based on the book "Cidade pós-compacta: estratégias projetuais a partir de Brasília" • "Post-Compact City: Drawing Out Design Strategies from Brasília", Guilherme Lassance, Luciana Saboia, Carolina Pescatori, Cauê Capillé (2021).
O dispositivo da estrutura aberta, baseado em poucos elementos estruturais, possibilita a criação de diferentes arranjos espaciais, tanto pela composição dos planos estruturais de vedação quanto pela presença ou ausência dos planos de cobertura, com o uso da iluminação zenital ou aberturas para jardins internos. Ao adotar essa abordagem, o projeto busca uma máxima flexibilidade de usos e reconfiguração a diferentes funções ao longo do tempo. Do ponto de vista ambiental, essa estratégia tem um valor significativo, pois reduz a necessidade de novos materiais de construção, promovendo a reutilização e a adaptação de espaços existentes.
Essa flexibilidade é alcançada através da construção de regras estruturais simples, que permitem a multiplicação das possibilidades de uso e uma arte combinatória das funções. Uma estrutura modular, que favorece alterações futuras, é um exemplo claro dessa estratégia. Com elementos que podem ser facilmente rearranjados ou modificados, os espaços podem ser ajustados conforme as necessidades de seus ocupantes ao longo do tempo. A estratégia da estrutura aberta busca integrar esses espaços ao entorno, dialogando com a topografia e explorando a relação com o espaço externo.
cortelongitudinal � longitudinalsection
The Open Structure device, based on a few structural elements, makes it possible to create different spatial arrangements, both through the composition of the structural sealing planes and through the presence or absence of roof planes, with the use of zenithal lighting or openings to internal gardens. By adopting this approach, the project seeks maximum flexibility of use and reconfiguration to different functions over time. From an environmental point of view, this strategy has significant value as it reduces the need for new building materials and promotes the reuse and
adaptation of existing spaces. This flexibility is achieved through the construction of simple structural rules that allow the multiplication of uses and a combinatorial art of functions.
A modular structure, which favors future changes, is a clear example of this strategy. With elements that can be easily rearranged or modified, spaces can be adapted to the needs of their users over time. The open structure strategy seeks to integrate these spaces into their surroundings, dialoguing with the topography and exploring the relationship with the outside space.
espaço da memória
universidade de brasília UnB
Brasília – DF, 1962-1963
Arquitetura
Oscar Niemeyer, João Filgueiras Lima – Lelé
Desenho � Drawing
Jessica Duarte
O projeto do Blocos de Serviços Gerais (CEPLAN) em Brasília exemplifica bem essas ideias. Sua estrutura e infraestrutura modulares permitem uma fácil adaptação programática ao longo do tempo. O dispositivo arquitetônico, sintetizado em apenas três elementos estruturais (peças prémoldadas que formam o painel, a viga e a laje), permite estruturar o espaço com grande diversidade. Seja pela presença de elementos internos que se prolongam formando áreas externas
arborizadas adjacentes aos espaços de convívio, seja pela ausência de peças na cobertura, a concepção dessa estratégia permite capturar a luminosidade natural e criar o ambiente de forma surpreendente. Da formação de jardins externos à escavação do solo para criação de anfiteatros, a engenhosidade arquitetônica permite uma estrutura aberta para os diferentes usos e escalas.
The project for the Blocos de Serviços Gerais (CEPLAN) in Brasilia exemplifies these ideas well. Its modular structure and infrastructure allow for easy programmatic adaptation over time. The architectural device, synthesized in only three structural elements (prefabricated parts that form the panel, the beam and the slab), allows for the structuring of the space with great diversity. Whether through the presence of internal elements that extend to form wooded outdoor
areas adjacent to the living spaces, or through the absence of parts on the roof, the conception of this strategy makes it possible to capture natural light and create the environment in a surprising way. From outdoor gardens to the excavation of the ground to create amphitheaters, the architectural ingenuity allows for a structure that is open to different uses and scales.
isométrica � isometric
modelagem metamórfica metamorphic modeling
Estratégia � Strategy
Carolina Pescatori, Guilherme Lassance, Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco
Desenho � Drawing
Isadora Furtado, Leonardo Nóbrega, Lucas Bandeira
Baseado na pesquisa � Based on the research “Narrar por paisagens: questões em arquitetura, projeto e tectônica”, Luciana Saboia (coord.), e no livro � and on the book "Cidade pós-compacta: estratégias projetuais a partir de Brasília" • "Post-Compact City: Drawing Out Design Strategies from Brasília", Guilherme Lassance, Luciana Saboia, Carolina Pescatori, Cauê Capillé (2021).
Assim como nos processos geológicos de geração de novas rochas por metamorfose das já existentes, a estratégia da Modelagem Metamórfica consiste na transformação de arquiteturas existentes em novos tipos arquitetônicos. A estratégia pode ser aplicada à reciclagem de estruturas funcionalmente obsolescentes, mas também pode recorrer a concepção de um modelo prévio ao qual serão aplicadas as transformações morfológicas e espaciais de modo a produzir uma nova configuração arquitetônica em que se lê ainda a parte da estrutura original. A estratégia da modelagem metamórfica também implica na dilatação dos limites para
produzir uma ambiguidade entre interior e exterior por meio da incorporação recíproca de outras estruturas existentes ou espaços adjacentes. A modelagem passa pela desmaterialização do limite envolvente com a eliminação da relação frente-fundo e dissimulação dos espaços de serviço para viabilizar espaços abertos típicos do ambiente externo como: rampas, plataformas, grandes vãos em espaços generosos de circulação. Reconfigura-se o binarismo entre interno e externo em prol de um conceito de vazio com potencial de articulação e significado coletivo.
As in the geological processes of creating new rocks by metamorphosing existing ones, the strategy of metamorphic modeling is to transform existing architectures into new architectural types. The strategy can be applied to the recycling of functionally obsolete structures, but it can also be applied to the design of a previous model to which morphological and spatial transformations are applied in order to produce a new architectural configuration in which part of the original structure can still be read. The strategy of metamorphic modeling also involves expanding the boundaries to create an ambiguity
between inside and outside through the mutual incorporation of other existing structures or adjacent spaces. The modeling involves dematerializing the surrounding boundary by eliminating the front-back relationship and concealing the service spaces to allow for open spaces typical of the external environment, such as: ramps, platforms, free spans in large circulation areas. The binarism between inside and outside is reconfigured in favor of a concept of emptiness with the potential for articulation and collective meaning.
sesc 24 de maio
São Paulo – SP, 2017
Arquitetura � Architecture
Paulo Mendes da Rocha, MMBB Arquitetos
Desenho � Drawing
Isadora Furtado, Leonardo Nóbrega, Lucas Bandeira
A sede comercial de uma grande empresa foi transformada por uma série de ações arquitetônicas de extração e adição. O térreo fechado foi recortado para se transformar em praça-pilotis e permitir atravessamentos, em contraste franco ao entorno hermético. Escavou-se o chão para abrigar um teatro. Esquadrias de um pavimento intermediário foram removidas para criar uma varandamirante. Adicionaramse generosas rampas ao
longo das peles de vidro para transformar o vazio em percurso acessível, e uma piscina imensa foi adicionada, coroando o teto que virou água para mergulhar, nadar e ver a cidade. Porém, a maior reciclagem foi programática, transformando o espaço empresarial privado em um espaço coletivo vertical, com usos que alimentam o centro da metrópole de outras vivências possíveis.
The commercial headquarters of a large company has been transformed through a series of architectural actions of extraction and addition. The enclosed first floor was cut out to become a square-pilotis, allowing passersby to enter, in stark contrast to the hermetic surroundings. The ground was excavated to accommodate a theater. Window frames from a mezzanine floor were removed to create a viewing balcony. Generous ramps were added
along the glass skins to transform the void into a walkway, and a huge swimming pool was added to crown the roof, which became water for diving, swimming, and viewing the city. The greatest recycling, however, was programmatic, transforming the private commercial space into a vertical collective space, with uses that fill the center of the metropolis with other possible experiences.
cortetransversal � crosssection
concepção da instalação
Ressignifica-se a noção de infraestrutura como modo de habitar (et. latim strutura) e como sistema (et. grego systema): um todo organizado que compõe suas partes na busca por equilíbrio entre cultura e natureza. Essa coexistência presente na ancestralidade do território amazônico inspira um olhar para debater estratégias existentes, ações projetuais que configuram a arte de aplicar com eficácia os recursos de que se dispõe. O sistema, que se utiliza da estrutura do Pavilhão como suporte, comporta painéis verticais e uma mesa em compensado de madeira de reflorestamento interligados por cabos de aço tracionados. O equilíbrio das cargas é viabilizado
installation concept
The notion of infrastructure is redefined as a way of inhabiting (from Latin structura) and as a system (from Greek systema): an organized whole that composes its parts in pursuit of a balance between culture and nature. This coexistence, rooted in the ancestry of the Amazonian territory, inspires a perspective to discuss existing strategies and design actions that embody the art of effectively applying available resources. The system, which utilizes the Pavilion's structure as a support, consists of vertical panels and a table made of reforested plywood, interconnected by tensioned steel cables. Load balance is enabled by
Curadores
Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco
Plano Coletivo
pelo contrapeso de blocos de mármore suspensos nos cabos articulados nas polias fixadas no teto e em uma alça fixada no piso. A transmissão das cargas é garantida por dois cabos de aço em cada conjunto de painéis, que se entrelaçam no ponto central do sistema – um tubo metálico circular que distribui as forças de tensão e dá estabilidade à estrutura.
A tração no cabo inferior resulta do encaminhamento da reação vertical para a alça, de forma que a mesa equilibra por compressão os esforços horizontais.
A mesa e os painéis, em suspensão, tornam ela própria uma nova estrutura e reconfiguram, assim, a espacialidade da sala.
Curators
Luciana Saboia, Eder Alencar, Matheus Seco
Plano Coletivo
the counterweight of marble blocks suspended on cables articulated through pulleys fixed to the ceiling and to a loop anchored to the floor. The transmission of loads is ensured by two steel cables in each set of panels, which interlace at the central point of the system – a circular metal tube that distributes tensile forces and provides structural stability. The tension in the lower cable results from the transfer of vertical reaction forces to the loop, so that the table balances horizontal stresses through compression. The table and panels, suspended, become a new structure themselves, thereby reconfiguring the spatiality of the room.
(RE)INVENÇÃO � (RE)INVENTION
Comissária � Commissioner
Andrea Pinheiro
Fundação Bienal de São Paulo
Curadores � Curators
Luciana Saboia
Eder Alencar
Matheus Seco
Plano Coletivo
Realização � Realization
Fundação Bienal de São Paulo
Embaixada do Brasil em Roma
Instituto Guimarães Rosa
Ministério das Relações Exteriores
Ministério da Cultura
Governo Federal � Federal Government
Presidente da República � President of the Republic
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro das Relações Exteriores � Ministry of Foreign Affairs
Embaixador · Ambassador
Mauro Vieira
Embaixada do Brasil em Roma � Brazilian Embassy in Rome
Embaixador · Ambassador
Renato Mosca
Instituto Guimarães Rosa
Ministro · Minister
Marco Antonio Nakata
Adido Cultural � Cultural Attaché
Secretário · Secretary
Luiz Filipe Maciel
Ministry of Culture � Ministério da Cultura
Ministra da Cultura · Minister of Culture
Margareth Menezes
Fundação Bienal de São Paulo
Fundador � Founder
Francisco Matarazzo Sobrinho · 1898–1977 presidente emérito · chairman emeritus
Conselho de administração � Governing board
Eduardo Saron presidente · president
Ana Helena Godoy de Almeida Pires vice-presidente · vice president
Membros vitalícios � Lifetime members
Adolpho Leirner
Beno Suchodolski
Carlos Francisco Bandeira Lins
Cesar Giobbi
Elizabeth Machado
Jens Olesen
Julio Landmann
Marcos Arbaitman
Maria Ignez Corrêa da Costa Barbosa
Pedro Aranha Corrêa do Lago
Pedro Paulo de Sena Madureira
Roberto Muylaert
Rubens José Mattos Cunha Lima
Membros � Members
Adrienne Senna Jobim
Alberto Emmanuel Whitaker
Alfredo Egydio Setubal
Ana Helena Godoy Pereira de Almeida Pires
Angelo Andrea Matarazzo
Beatriz Yunes Guarita
Camila Appel
Carlos Alberto Frederico
Carlos Augusto Calil
Carlos Jereissati
Célia Kochen Parnes
Claudio Thomaz Lobo Sonder
Daniela Montingelli Villela
Eduardo Saron
Fábio Magalhães
Felippe Crescenti
Flavia Buarque de Almeida
Flávia Cipovicci Berenguer
Flavia Regina de Souza Oliveira
Flávio Moura
Francisco Alambert
Heitor Martins
Isay Weinfeld
Jeane Mike Tsutsui
Joaquim de Arruda Falcão Neto
José Olympio da Veiga Pereira
Kelly de Amorim
Ligia Fonseca Ferreira
Lucio Gomes Machado
Luis Terepins
Luiz Galina
Maguy Etlin – licenciada · on leave
Manoela Queiroz Bacelar
Marcelo Mattos Araujo
Mariana Teixeira de Carvalho
Miguel Setas
Miguel Wady Chaia
Neide Helena de Moraes
Nina da Hora
Octavio de Barros
Rodrigo Bresser Pereira
Rosiane Pecora
Susana Leirner Steinbruch
Tito Enrique da Silva Neto
Conselho fiscal � Audit board
Edna Sousa de Holanda
Flávio Moura
Octavio Manoel Rodrigues de Barros
Conselho consultivo internacional �
International Advisory Board
Frances Reynolds presidente · president
Ana Helena Godoy Pereira de Almeida Pires vice-presidente · vice president
Andrea de Botton Dreesmann, Quinten Dreesmann
Barbara Sobel
Caterina Stewart
Catherine Petitgas
Flávia Abubakir, Frank Abubakir
Laurie Ziegler
Mélanie Berghmans
Miwa Taguchi-Sugiyama
Pamela J. Joyner
Paula Macedo Weiss, Daniel Weiss
Sandra Hegedüs
Vanessa Tubino
Diretoria executiva � Board of directors
Andrea Pinheiro presidente · president
Maguy Etlin primeira vice-presidente first vice president
Luiz Lara
segundo vice-presidente second vice president
Ana Paula Martinez
Francisco Pinheiro Guimarães
Maria Rita Drummond
Ricardo Diniz
Roberto Otero
Solange Sobral
Equipe � Team
Superintendências � Superintendencies
Antonio Thomaz Lessa Garcia superintendente executivo chief operating officer
Felipe Isola, Joaquim Millan superintendentes de projetos chief project officers
Caroline Carrion superintendente de comunicação chief communications of ficer
Irina Cypel superintendente de relações institucionais e parcerias chief institutional relations and partnerships of ficer
Superintendência executiva �
Executive superintendency
assessoria � advisors
Beatriz Reiter Santos executiva · executive
assistência � assistant
Marcella Batista administrativa · administrative
Superintendência de projetos �
Projects superintendency
coordenação � coordinators
Bernard Lemos Tjabbes
Dorinha Santos
Marina Scaramuzza
produção � producers
Ariel Rosa Grininger
Camilla Ayla
Carolina da Costa Angelo
Nuno Holanda Sá do Espírito Santo
Tatiana Oliveira de Farias
assistência � assistants
Fabiana Paulucci
Ziza Rovigatti
Superintendência de comunicação � Communications superintendency
coordenação � coordinators
Julia Bolliger Murari redes sociais · social media
Rafael Falasco editorial assessoria � advisors
Adriano Campos design
Eduardo Lirani produção gráfica · graphic production
Fernando Pereira assessoria de imprensa · press office
Francisco Bellé Bresolin projetos digitais e documentação digital projects and documentation
Luciana Araujo Marques editorial
Nina Nunes design
assistência � assistant
Marina Fonseca redes sociais · social media
jovem aprendiz � apprentice
Naomi Haddad de Brito
Superintendência de relações institucionais
e parcerias � Institutional relations and partnerships superintendency
coordenação � coordinator
Luciana Raele
assessoria � advisors
Raquel Silva
Victória Bayma
Viviane Teixeira
assistência � assistants
André Massena
Jefferson Faria
Laura Caldas
Educação � Education
gerência � manager
Simone Lopes de Lira
coordenação � coordinator
Danilo Pera
assessoria � advisors
André Leitão
Renato Lopes
Tailicie Nascimento
assistência � assistants
Gabri Gregorio
Giovanna Endrigo
Julia Iwanaga
Vinicius Massimino
jovem aprendiz � apprentice
Lincon Amaral
Arquivo Bienal � Bienal Archive
coordenação � coordinators
Antonio Paulo Carretta
Marcele Souto Yakabi
assistência � assistants
Ana Helena Grizotto Custódio
Anna Beatriz Corrêa Bortoletto
Gislene Sales
Juliana Bittencourt
Thais Ferreira Dias
auxílio� auxiliary
Ricardo Menezes
jovem aprendiz � apprentices
Ilana Alionço
Manoel Assis
Administração � Administration
Finanças � Finances
gerência � manager
Amarildo Firmino Gomes
coordenação � coordinator
Edson Pereira de Carvalho
assessoria � advisor
Fábio Kato
assistência � assistant
Silvia Andrade Simões Branco
Gestão de materiais e patrimônio �
Materials and property
gerência � manager
Valdomiro Rodrigues da Silva Neto
coordenação � coordinators
Larissa Di Ciero Ferradas
gestão de materiais e patrimônio materials and property
Vinícius Robson da Silva Araújo compras · purchasing
assistência � assistants
Angélica de Oliveira Divino
Sergio Faria Lima
Victor Senciel
Wagner Pereira de Andrade
auxílio� auxiliaries
Isabela Cardoso
Lucas Galhardo
jovem aprendiz � apprentice
Eduardo Fernandes Ferreira
Planejamento e operações �
Planning and operations
assessoria � advisor
Rone Amabile
Vera Lucia Kogan
Recursos humanos � Human resources
coordenação � coordinators
Andréa Moreira recursos humanos · human resources
Higor Tocchio departamento pessoal payroll and personnel department
assistência � assistants
Matheus Andrade Sartori
Patricia Fernandes
Tecnologia da informação �
Information technology
consultoria � consultants
Ricardo Bellucci
Júlio Coelho
Matheus Lourenço
assistência � assistant
Jhones Alves do Nascimento
19. Mostra Internazionale di Architettura – La Biennale di Venezia
(RE)INVENÇÃO � (RE)INVENTION
Curadores � Curators
Luciana Saboia
Eder Alencar
Matheus Seco
Plano Coletivo
Plano Coletivo
Luciana Saboia
Eder Alencar
Matheus Seco
André Velloso
Carolina Pescatori
Cauê Capillé
Daniel Mangabeira
Guilherme Lassance
Henrique Coutinho
Sérgio Marques
Pesquisadores e colaboradores �
Researchers and collaborators
Ana Cláudia Barone
André Cavendish
Carlo Nozza
Dilton Almeida
Eduardo Neves
Francisco Pugliese
Guilherme Messias
Júlio Pastore
Leandro Cruz
Marcos Cereto
Paola Ferrari
Pierre Antoine
Projeto executivo � Executive project
Mariana Castro
Victor Itonaga
Cálculo estrutural � Structural calculation
Miguel Maratá
Programação visual � Visual design
Lia Tostes
Editorial e design � Editorial and design
Adriano Campos
Luciana Araujo
Nina Nunes
Rafael Falasco
Tipografia � Typography
Brasilica, UnB Pro
Rafael Dietzsch
Assistência executiva � Executive assistance
Beatriz Reiter
Marcella Batista
Produção local � Local production
Mateo Eiletz
Claudia Ortigas
eo|a architects
Produção � Production
Camila Cadette Ferreira
Dorinha Santo
Carolina Guida
Isaac Alencar
Isadora Furtado
Jessica Duarte
João Magnus
Leonardo Nóbrega
Lucas Bandeira
Lucas Freitas
Lucas Marques
Luiza Ceruti
Marcela Peres
Paulo Honorato
Pedro Cardoso
Victor Suarez
Assessoria de imprensa � Press office
Fernando Pereira
Index
Sam Talbot
Redes sociais � Social media
Julia Murari
Marina Fonseca
Preparação e tradução �
Copyediting and translation
Bruna Paroni
Guilherme Ziggy
Mariana Nacif Mendes
Documentação em foto e vídeo �
Video and photo documentation
Rafa Jacinto
Francisco Bellé Bresolin
supervisão · oversight
Agradecimentos � Acknowledgements
Ana Mello
Carlos Alberto Maciel
Coletivo LEVANTE
Diego Gurgel
Joana França
João Magnus
Juliana Andrade
Liz Sandoval
Ludmila Andrade
Manuel Sá
Marcos Cereto
Marta Moreira
Milton Braga
Movimento Sem Teto do Centro – MSTC
Paulo Tavares
Rafael Dietzsch
Rafael Salim
Ricardo Trevisan
Rita de Cássia Velloso
Créditos da publicação � Publication credits
Coordenação editorial �
Editorial coordination
Fundação Bienal de São Paulo
Projeto gráfico e diagramação �
Graphic design and layout
Lia Tostes
Fotografias � Photos
Andrea Ferro, Fundação Bienal de São Paulo (p. 26–104)
Federico Carioli (p. 6–23; 160–173)
ISBN: 978-85-85298-97-5
Este livro foi publicado em português e em inglês em novembro de 2025. Seu conteúdo reflete o material exposto pela participação brasileira (RE)INVENÇÃO na 19. Mostra Internazionale di Architettura – La Biennale di Venezia, realizada de 10 de maio a 23 de novembro de 2025.
This book was published in Portuguese and English in November 2025. Its content reflects the material presented by the Brazilian participation (RE)INVENTION at the 19. Mostra Internazionale di Architettura – La Biennale di Venezia, held from May 10 to November 23, 2025.