obrador lardeartistas
contextualização e proposta:
O espaço Obrador se instala em um remoto terreno em declive no distrito de Glaura, MG, com o intuito de receber os músicos e demais artistas da cidade. O projeto foi concebido de modo a configurar um espaço suporte, capaz de ser apropriado e ressiginificado pela população conforme a sua vontade, consequentemente conferindo ao espaço uma relação intrínseca com o público. Tendo em vista a sua localização em um pequeno distrito colonial, a concepção arquitetônica buscou evitar a monumentalidade, em respeito à ambiência do conjunto urbano consolidado, sem clamar atenção para si. A implantação e o uso de materiais locais em novas aplicações permitiu que o Obrador se mesclasse aos arredores sem causar grande estranhamento, aparentando estar quase que familiarmente incrustrado no terreno, ainda que mantesse seu aspecto contemporâneo, evitando também mimetismos infundados. A sutileza com a qual o projeto qualifica o espaço é delicada ainda que potente, configurando variedades de pé direitos, iluminação e sombras, conferindo maior riqueza espacial e possibilidades de uso e apropriação.
A proposta preliminar compreende um morador fixo no espaço Obrador, cujo interesse seria a consolidação e manutenção de um espaço de livre acesso ao público de Glaura. O espaço do mezanino configura maior privacidade para esse indivíduo, ainda que seja um espaço indeterminado que pode ser apropriado para usos distintos. Um painel pivotante com sistema de contrapesos compõe uma das paredes, possibilitando a abertura desse recinto e garantindo a integração entre os diferentes ambientes do conjunto. De certa maneira, todos os espaços do Obrador conversam entre si, atestando a unidade do todo ainda que o delimitando sutilmente.
a intervenção:
O projeto trabalha o desnível do terreno como um potente qualificador do espaço que também viabiliza as principais premissas definidas para o Obrador. A possibilidade de estender a área para um nível semi enterrado, ao invés de elevá-la, preserva a não monumentalidade do edifício sem comprometer a área útil demandada pelo programa. Aos olhos do visitante que se aproxima pela rua, o volume construído aparenta muito menor do que de fato é, assemelhando-se a muros, edificados com as pedras locais. A angulação da implantação do menor bloco construído em relação ao maior, ao invés de paralelamente, não só concede maior interiorização do pátio interno como também esconde parte do comprimento do bloco de trás na perspectiva de quem se aproxima pela rua. Também corresponde à entrada principal, tendo em vista que nenhum dos blocos possui uma “porta de entrada”, eliminando uma possível hierarquia de espaços. Ao se aproximar das duas empenas cegas, o passante é convidado a se aproximar da brecha, através da qual a paisagem ao fundo e o projeto verdadeiramente se revelam. O trabalho suave com o terreno em plataformas e por fim arquibancada acompanhando as curvas de nível, ao invés de cortes e arrimos bruscos, contribui para caracterização do conjunto enquanto peça visualmente incrustrada e familiar ao sítio. Do lado oposto, uma rampa compõe acessibilidade e fácil acesso de grandes equipamentos e instrumentos que venham a ser necessários para futuros eventos no pátio inferior.
o espaço:
O projeto se desenvolve em três níveis distintos, integrados pelos vazios entre eles. Em nível da rua, os dois volumes construídos cumprem papel de suporte para eventuais atividades ou eventos, interligados pelo pátio superior que acomoda a entrada principal. No bloco menor, intitulado “galpão”, painéis deslizantes possibilitam a compartição do espaço de maneira flexível. No bloco maior, o acesso para o mezanino (a meio nível) ocorre ao lado das arquibancadas que levam ao pavimento inferior. Na cota mais baixa do terreno, duas arquibancadas (uma interna e outra externa) compõem a caixa cênica da sala de música que não só abriga ensaios como também se edifica enquanto palco. Nela, o desalinhamento intencional da sequência de paredes vistas pela perspectiva das arquibancadas externas simula a plasticidade de coxias, instruindo o espaço com uma sutileza teatral. Os vidros foscos usados somente nas aberturas dessa sala cumprem o mesmo propósito, podendo ser cênicamente explorados em espetáculos ou utilizados para resguardar uma peça ainda inacaba. Os painéis acústicos suspensos pelo teto auxiliam na absorção e difusão do som, ao mesmo tempo em que conferem certa plasticidade e interesse estético ao espaço.