TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA, CIBORGUES E INFERÊNCIA ABDUTIVA João Queiroz Pedro Atã
Ciborgue cognitivo: "A mente está lá fora!" Humanos são ciborgues inatos, criaturas simbiontes "cujas mentes e selfs estão distribuídos pelo cérebro e por circuitarias não-biológicas." (CLARK, 2003, p.3). Esta tese está relacionada a nossa capacidade para estender a cognição através de dispositivos não-biológicos e para acoplar atividades cognitivas com operações baseadas em ferramentas e artefatos, criando sistemas externos e distribuídos. Literalmente, "a mente está lá fora!" (WHEELER, 2005, p.193); "a mente está cada vez menos na cabeça!" (CLARK, 2003, p.4). Nossos corposmentes vivem acoplados a uma parafernália de ferramentas e artefatos para alterar a percepção, a atividade motora, a memória e muitas outras competências. Não estamos falando de ciborgues como criaturas que resultam de implantes digitais ou eletrônicos, os cyberpunks. Esta tese não é uma metáfora epistêmica, e o acoplamento, invasivo ou superficial, de corpos-mentes com diversos aparatos tecnológicos não se baseia em casos historicamente contingentes ou em situações especiais e contemporâneas. Não há pós-humanidade nesta propriedade, como defendido por muitos autores (HALBERSTAM; LIVINGSTON, 1995). Trata-se de um processo evolutivo, e biológico (STERELNY, 2004). “Tecnologia” não se aplica apenas a dispositivos mecânicos ou eletrônicos, como o termo é muitas vezes usado, mas a diversos tipos de artefatos distribuídos em atividades externamente situadas. Eles integram nossas vidas – alteramos estados da consciência e da atenção através de drogas farmacológicas; congelamos o pensamento através de sistemas de notação; organizamos, comparamos, calculamos, prevemos através de números, mapas, grafos e diagramas. Ferramentas como lápis e papel, ábaco, calculadora, calendário, modelos matemáticos, listas de compras, sinais de trânsito, 205