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Jogos e brincadeiras


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O Descobrincar é um projeto direcionado aos alunos da Educação Infantil e pretende tornar a aprendizagem divertida, lúdica e pedagógica. Essenciais nessa etapa de formação, as brincadeiras e os jogos auxiliam no desenvolvimento da comunicação da criança consigo mesma e com o exterior, e por isso são indispensáveis para que ela adquira autonomia em sua conduta.
Experenciar situações-problema por meio das brincadeiras contribui para o desenvolvimento de habilidades e competências de maneira divertida. O psicólogo Vygotsky (1998, p. 137) afirma que “A essência do brinquedo é a criação de uma nova relação entre o campo do significado e o campo da percepção visual, ou seja, entre situações no pensamento e situações reais”. Essas relações irão permear toda a atividade lúdica da criança e serão também importantes indicadores do desenvolvimento dela, influenciando sua forma de encarar o mundo e suas ações futuras.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil, o principal indicador da brincadeira entre as crianças é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.
O brincar estimula a criança a experimentar, descobrir, inventar, identificar e se reconhecer a partir da representação de mundo que a cerca, enquanto aprimora seu desenvolvimento intelectual, verbal e físico.
Vygotsky (1994, p. 135) diz que:
Nesta época de globalização e de avanços tecnológicos o valor dos velhos brinquedos e brincadeiras está passando por um processo de transição, pois as crianças estão deixando de se envolverem com textotais situações devido à influência do computador, videogame, televisão e outros brinquedos eletrônicos que deixam o espaço e o tempo da criança restrito apenas a imaginação e não a manipulação que corresponde a situação real.
O pedagogo Lino de Macedo afirma que, para as crianças, o brincar e o jogar são modos de aprender e se desenvolver. Ao fazer essas atividades, elas vivem experiências fundamentais e, em razão disso, se interessam em repeti-las e representá-las até criarem ou aceitarem regras que possibilitem a partilha com colegas.
Em complemento a isso, o autor Kishimoto (In: SANTOS,1997, p. 24), diz:
Brincando, a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e atenção [...].
O brincar encanta pelo prazer de sua realização. Mesmo que se cansem, as crianças desejam continuar jogando e brincando. Há uma relação de afeto com a atividade, ou seja, ela agrada corpo e pensamento. Por isso, trata-se de uma experiência que pede repetição. Com as brincadeiras é possível reconhecer preferências e, assim, variar suas combinações.
O psicólogo Piaget divide o jogo infantil em três tipos: jogos de exercícios, simbólicos e com regras. O primeiro ocorre na primeira infância (a partir dos 18 meses de vida) e são compostos por repetições motoras. O segundo acontece no período entre 2 a 4 anos e é caracterizado pela representação corporal do imaginário. O último tipo, a partir dos 5 anos, destaca-se pela interação entre as crianças, com aprendizado de regras de comportamento, construção de relacionamentos afetivos e progresso do desenvolvimento social.
As brincadeiras e os jogos têm um papel importante na infância, pois é nesse momento que a criança explora a imaginação, a alegria, o prazer, o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e de raciocínio lógico. A partir de então, ela passa a lidar com a frustração quando recebe alguma negativa ou com a noção de que não se ganha todos os jogos. Além disso, começa a exercitar a autonomia, a representar um papel na brincadeira, a desvendar e a criar regras para os jogos.
Por exemplo, um jogo de percurso em que uma criança é convidada a movimentar uma peça de um ponto de partida até um ponto de chegada. O percurso é normalmente compartimentado ou dividido em unidades, sendo que em algumas delas, por vezes, estão instruções como "voltar à casa X" ou "perder a vez", entre outras.
Nesse tipo de jogo propõe-se um problema a ser resolvido: realizar um percurso, seguindo as regras, para enfrentar e superar os obstáculos propostos.
A utilização dos jogos na Educação Infantil contribui também para a fonetização da escrita, uma vez que estimula a atenção e a percepção das crianças para a dimensão sonora da palavra. Esse processo ocorre quando estão aprendendo as letras e ao refletirem fonologicamente sobre as unidades mais holísticas, como as rimas, as sílabas e seus fonemas.
A consciência grafofonêmica e a apropriação do princípio alfabético são outras ações em curso, com o propósito de serem consolidadas as correspondências fonográficas, o desenvolvimento da ortografia e a fluência de leitura. Tais elementos são aliados durante a construção do processo de alfabetização. No decorrer dos jogos, é essencial que o professor mediador observe e faça as devidas intervenções para averiguar se as expectativas de aprendizagem do aluno foram atingidas. Assim, após as atividades, é possível replanejar e modificar as estratégias para avançar e atingir as metas previstas no planejamento docente. Uma das funções dos jogos na prática docente é sistematizar as reflexões que já foram promovidas anteriormente. Portanto, é significativo buscar e ampliar conhecimentos sobre ludicidade, para que as técnicas que envolvam jogos diversos sejam aplicadas às crianças e ao desenvolvimento integral dos educandos. Os jogos e brincadeiras do Descobrincar estão plenamente alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que apresenta seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento para as crianças da Educação Infantil no Brasil. São eles: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se.
Brincar é uma prática essencial ao aprendizado. Utilizar jogos e brincadeiras como ferramenta metodológica na rotina da sala de aula é também desenvolver uma práxis transformadora da educação.
Agora e' so' aproveitar e se divertir, Que comecem os jogos!
Referências:
KISHIMOTO, M. Brinquedoebrincadeira. Usos e significações dentro de contextos culturais. In: SANTOS, S. M. P. (Org.). Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis: Vozes, 1997.
PIAGET, J. A. Formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
VYGOTSKY, L S. Pensamento e linguagem. Lisboa: Edições Antídoto, 1979.
VYGOTSKY. L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ROZA, E. S. Quando o brincar é dizer: a experiência psicanalítica na infância. Rio de Janeiro: Relume-Dumara, 1993.