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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA CANOAS / RS UNIDADE ACADEMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

Priscila Setter Fróes

S/ título, S/ gênero, S/ preconceito

Canoas, 11 de Junho de 2014


Priscila Setter Fróes

S/ título, S/ gênero, S/ preconceito

Trabalho de curso apresentado como prérequisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciado em Artes Visuais, pelo curso de Licenciatura em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade

Luterana

do

Brasil,

sob

orientação dos professores Dr. Celso Vitelli, Me. Ana Lucia Beck e Me. Renato Garcia

Canoas, 11 de Junho de 2014


Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas/RS. Curso de Licenciatura em Artes Visuais Estágio em Artes Visuais IV ATA Nº 100/2014 Ao décimo primeiro dia de Junho de dois mil e quatorze, no horário das 19:40 horas, fez-se a apresentação pública do Trabalho de Curso intitulado “S/ TÍTULO, S/ GÊNERO, S/ PRECONCEITO”, nível de Graduação — da prática de Ensino em Arte desenvolvida no Ensino _____________________ pela acadêmica Priscila Setter Fróes, aluna do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sendo a mesma avaliada pelos professores: Ma. Marina Reidel e Me. Renato Garcia dos Santos. Realizada a apresentação, a Comissão de Avaliação conferiu à mesma NOTA ____. Esta nota será confirmada como grau final da disciplina de Estágio em Artes Visuais IV, mediante a realização das correções indicadas pela Comissão de Avaliação e a entrega da versão final impressa do Trabalho de Curso.

___________________________________________________________________ Me. Renato Garcia dos Santos – Prof. Orientador do Estágio em Artes Visuais IV

___________________________________________________________________ Ma. Marina Reidel – Professora Examinadora

___________________________________________________________________ Me. Renato Garcia dos Santos – Coordenador do Curso de Licenciatura em Artes Visuais


Quero agradecer a D’us por ter permitido eu chegar aonde cheguei. Quero dizer as pessoas que são contra o fato de eu ser transexual: se eu cheguei aqui, diante de tantas adversidades, é porquê D’us está do meu lado e minha vitória nesta etapa de minha educação é a prova disto. Eu faço parte deste mundo e sou igual a qualquer outro Ser Humano.


Nasci cromossomicamente XY. Tornei-me mulher. Mulher, moça, menina, fêmea, feminina; sempre tive interesse por tudo que envolvesse esse universo, o meu universo... (Flavia Leme de Almeida, com adaptação).


RESUMO O presente trabalho foi desenvolvido a partir da pesquisa e aplicação do projeto educativo de ensino “S/ título; S/ gênero; S/ preconceito” envolvendo alunos do primeiro ano do ensino médio na Escola Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva pertencente a rede publica do Rio Grande do Sul, no município de Porto Alegre. O tema a ser desenvolvido no projeto foi “corpo como escultura”, ou seja, uma reflexão baseada em autores como H. W. Janson, E. H. Gombrich e Umberto Eco, sobre a forma como a figura humana é representada ao longo dos séculos. Este tema foi escolhido através de uma preocupação com a educação como base principal para a formação de cidadãos ativos e reflexivos dentro da sociedade brasileira. O objetivo foi desenvolver a capacidade de reflexão dos alunos frente ao preconceito social contra as diversas manifestações corporais, disseminando dentro de nossa sociedade o respeito ao próximo e a igualdade de gêneros. A metodologia de ensino foi propor a reflexão sobre o que vivemos na contemporaneidade com reproduções de imagens de séculos atrás, dentro das artes visuais, procurando desenvolver a capacidade imaginativa e critica dentro de aulas teóricas e praticas. Além disso, diversos outros autores, como Ana Mae Barbosa e Libâneo deram base para o planejamento das aulas ministradas. Resultaram da pratica de ensino diversas respostas comportamentais dos alunos que não estavam previstas inicialmente. Importante foi que esse comportamento inesperado levou ao tom correto de um projeto que parecia não estar bem definido. Isso me levou a pensar no real papel que um educador de artes visuais tem dentro de uma sala de aula. Palavras-chave: Preconceito. Corpo. Gênero


INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 8 1. ESCULTURA DA FIGURA HUMANA ............................................................................................. 15 1.1. 1.2. 1.3. 1.4. 1.5.

ESCULTURA GREGA ................................................................................................................................ 15 ESCULTURA MEDIEVAL A GÓTICA. ......................................................................................................... 18 ESCULTURA RENASCENTISTA ................................................................................................................. 21 ESCULTURA BARROCA ............................................................................................................................ 25 ESCULTURA ROMÂNTICA A REALISTA. ................................................................................................... 32

2. RECONHECIMENTO DO ESPAÇO ESCOLAR. ............................................................................ 38 2.1. 2.2. 2.3. 2.4. 2.5.

DADOS GERAIS DA ESCOLA OBSERVADA .............................................................................................. 38 OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS. ................................................................................................................. 38 ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS .......................................................................................... 42 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELA PROFESSORA ............................................................ 44 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELOS ALUNOS. .................................................................. 46

3. PROJETO E PRÁTICAS DE ENSINO EM ARTES VISUAIS. ........................................................ 49 DADOS GERAIS DA ESCOLA. ................................................................................................................... 49 DADOS GERAIS DO PROJETO DE ENSINO. .............................................................................................. 49 3.2.1. Justificativa .............................................................................................................................. 50 3.2.2. Objetivo geral. ......................................................................................................................... 50 3.2.3. Conteúdos ................................................................................................................................ 51 3.2.4. Metodologias ........................................................................................................................... 51 3.3. DENTRO DA SALA DE AULA. ................................................................................................................... 51 3.3.1. Primeiro encontro .................................................................................................................. 51 3.3.3. Terceiro encontro ................................................................................................................... 69 3.3.4. Quarto encontro ..................................................................................................................... 76 3.3.5. Quinto encontro ...................................................................................................................... 84 3.3.6. Sexto encontro ........................................................................................................................ 89 3.3.7. Sétimo encontro ................................................................................................................... 100 3.3.8. Oitavo encontro .................................................................................................................... 112 3.3.9. Nono encontro ...................................................................................................................... 120 3.3.10. Décimo encontro .................................................................................................................. 127 3.3.11. Décimo primeiro encontro ................................................................................................. 133 3.3.12. Décimo segundo encontro................................................................................................. 141 3.3.13. Décimo terceiro encontro .................................................................................................. 150 3.1. 3.2.

4. CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 162 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 170 APÊNDICES ........................................................................................................................................ 174


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Introdução Muito prazer, meu nome? Priscila Setter Fróes. A experiência que irei relatar ao longo deste trabalho ocorreu em uma escola estadual de ensino médio chamada de Colégio Estadual Presidente Arthur Costa e Silva, localizada no bairro Sarandi, na cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul. A turma contava com aproximadamente 30 alunos com idades entre 13 a 16 anos. Por ser uma escola estadual, contava com alguns alunos de baixa renda. Foi observado que a própria professora comprava os materiais em artes a serem utilizados devido a esta dificuldade. A partir das observações efetuadas ao longo dos estágios no ensino fundamental e médio, percebi que muitas vezes a escultura era deixada de lado, talvez pelo alto custo e tempo de dedicação e execução que as mesmas exigem, ao contrário de desenhos ou pinturas, que são mais rápidas de se realizar, isso se refletiu até mesmo nos questionários. Os alunos preferiam trabalhos em pintura ou desenhos à escultura. Alguns alunos pediram algo na linguagem tridimensional, como forma de ter algo novo a se fazer nas aulas de artes, então me baseando nesses pedidos determinei a linguagem que seria trabalhada dentro da sala de aula. A escolha do tema de pesquisa surgiu do fato de eu ser uma mulher transexual, ou seja, de antes vir a me tornar Priscila ser José Carlos Fróes. Nós transexuais levamos a moldagem do corpo muito a sério, e dentro do universo artístico, a escultura é o que chega mais próximo desse desejo. O tema consiste em pesquisar as diferentes formas de representação da figura humana durante a história da arte até o século dezenove. Pesquisei e apresentei quais eram os pensamentos que se tinha a respeito da figura humana naquela época e porque tais representações eram realizadas. Desde a visão de saúde e corpo malhado dos gregos. Comecei pesquisando a partir da arte grega, chegando até o Realismo no final do século dezenove. Utilizei E. H Gombrich e Janson para dar base ao cenário artístico e político de casa época, usei conhecimentos de Umberto Eco para tratar sobre o belo em cada período e Georges


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Duby entre outros autores para falar especificamente da escultura ao longo da história ocidental. Os principais artistas citados foram Michelangelo e Gian Lorenzo Bernini, dois escultores que podem ser equiparados em qualidade artística. O desenvolvimento básico de todo trabalho partiu da figura humana, aliada a linguagem tridimensional. Esse trabalho surgiu a partir da existência de José Carlos Fróes, enquanto ele estava em um processo chamado de Crisálida. Os eventos relatados nos realizados são todos frutos da experiência de Priscila Fróes, sua forma madura e adulta. Houve dois projetos de ensino, o primeiro foi aplicado no ensino fundamental, no qual pretendi trabalhar com a figura humana, baseando justamente no tema de pesquisa. Apliquei esse projeto, pois pouco se conversava e trabalhava com escultura em sala de aula, os alunos não possuíam, em sua maioria, a experiência com o desenho ou escultura da figura humana. Meu projeto tinha como objetivo desenvolver nos alunos a expressividade e os retorcidos movimentos dentro da escultura barroca. O segundo projeto de ensino foi aplicado no ensino médio. O projeto trabalha com a comunidade escolar a partir da reflexão dos alunos, de que o preconceito social contra as diversas formas de manifestações corporais estão equivocadas e que nossa cidade poderá ser um local melhor de conviver se este tema forma abordado. Tem como objetivo criar desenvolver reflexões dentro da mente dos alunos e que os mesmos por sua vez, possam disseminar isso aos seus pares. A explicação para dois projetos de ensino tão distintos é de que, no ensino fundamental, não senti necessidade de trabalhar em cima do preconceito, primeiro, porque a professora titular de artes, chamada Marina Reidel é uma professora atípica, ela é transexual assim como eu. Durante minhas idas a escola percebi que ela usava as aulas de artes mais como uma forma de desenvolver nos alunos uma reflexão de que preconceito não é uma atitude que deva ser perpetuada. Então como ela tratava deste tema em sala de aula, acreditei que poderia ficar distante disto e desenvolver outro trabalho no estágio que não me expusesse tanto. Não pretendia ser identificada como uma professora transexual.


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Por fim, foi no ensino médio que percebi que não devia me esconder. Consegui enxergar que há necessidade de se trabalhar sobre o corpo e não a figura humana. Percebi que devido a minha transexualidade e o preconceito que sofro em nosso país, estava na hora de eu erguer uma bandeira, e esta seria a desconstrução das diversas faces do preconceito. As aulas trataram do negro, do gordo, do travesti e etc., pois vivemos em uma sociedade em que muito se vê, mas pouco se comenta, e quando é realizado um comentário é através de pequenas ofensas. Então será possível notar a diferença entre o capitulo de pesquisa e o projeto de ensino para o ensino médio. Justamente pela mudança de gênero social que José sofreu. Nisto, entrará Priscila que se esqueceu da figura humana e passou a falar de corpo com seus alunos, mudança esta que deve-se a uma concretização de sua própria figura, na qual ele deixa de apenas idealizar e passa a vivenciar. Para Priscila, a figura deixa de ter importância, pois agora, tem autonomia sobre seu corpo e quer entendê-lo de outras maneiras. Ele se torna ela, e ao mesmo tempo se materializa como a figura outrora admirada, como uma escultura. Aquele ser distante, em pedra, frio e intocável, passa a ser de carne. Foram ministradas aulas em Artes Visuais no Ensino Fundamental e Médio. A escola escolhida para ministrar no ensino fundamental foi a Escola de Ensino Fundamental Rio de Janeiro, situada no bairro Cidade Baixa em Porto Alegre no ano de 2012. A turma era de oitava série no turno da manhã, contava com a professora titular chamada Marina e possuía 18 alunos. Possuíam em média 18 anos. Como estavam em uma escola estadual sua situação econômica não era muito favorável, sendo assim foi necessária a compra dos materiais para os alunos. No ensino fundamental, através de aulas expositivas, dialogadas e práticas, desenvolvi conteúdos, tais como desenho e escultura da figura humana, nas quais tinham como principais objetivos, preparar à partir de desenhos de observação, o olhar dos educandos para quando fossem desenvolver um trabalho em escultura. Para que os objetivos fossem alcançados, realizamos uma série de trabalhos práticos. Começando com uma atividade em escultura de observação, à partir de um modelo vivo, no qual muitos alunos sentiram dificuldades, mas apresentaram bons


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resultados. Já que, segundo eles, este exercício havia sido o primeiro exercício de observação em artes que eles haviam realizado em suas vidas. Após esse exercício prosseguimos com outras atividades como desenho de observação, no qual muitos alunos se surpreenderam com o que eles conseguiam realizar. Outros alunos já não se sentiam a vontade de realizar tal atividade, diziam que ela era massacrante, difícil de ser realizada. Em outra aula a ser mencionada foi a de recorte e colagem, na qual criaram personagens, que intimamente estavam ligados a eles, como um alter ego. Eles se divertiram nesta atividade e diferente das aulas de observação, se sentiram mais livres e os resultados foram ótimos. Após a realização da atividade, eles falaram um pouco sobre quem eram esses personagens. Um trabalho que marcou muito foi o trabalho de um aluno que juntou figuras de um corpo masculino com o feminino, uma pena ele não ter conseguido falar sobre seu trabalho, ficou com vergonha. Como trabalho final, eles realizaram uma escultura em argila, na qual deveriam transformar seus personagens bidimensionais em tridimensionais. No inicio os alunos tiveram dificuldade, mas trabalhando em conjunto conseguiram obter bons resultados, além do que esperavam deles. Ao final realizamos uma grande conversa sobre sua evolução no trimestre. Ficaram surpresos ao ver o quão bons eles eram com o desenho e escultura. Uma aluna em especial se disse surpresa e que nunca pensou que tivesse talento para atividades que envolvessem artes. Ao final do projeto, pude perceber que embora alguns não tenham atingido os objetivos propostos, muitos deles evoluíram rapidamente em apenas meio trimestre. Como prova disso, ao final foi realizada uma pequena exposição dentro da sala de aula na qual os alunos puderam fazer uma retrospectiva de sua evolução dentro das aulas de artes e depois uma aula em que falamos sobre o corpo dentro da arte e o que ele poderia representar para a sociedade na qual vivemos. Já a escola de ensino médio se localiza no bairro Sarandi e se chama Colégio Estadual Presidente Arthur Costa e Silva, o nome da professora titular em arte é Claudia e os alunos possuíam em média de 13 a 16 anos. Assim como a turma do


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ensino fundamental, a escola por ser estadual, contava com alguns alunos de baixa renda. Foi observado que a própria professora comprava os materiais em artes a serem utilizados. Por fim, no ensino médio, através de aulas expositivas, dialogadas e práticas, desenvolvemos conteúdos como, diálogos sobre o corpo na arte, preconceito social, desenho e escultura do corpo humano. Nas quais tinham como principais objetivos desenvolver ou mesmo aprimorar o pensamento dos alunos sobre o preconceito social ligado o corpo. Para que os objetivos fossem alcançados realizamos uma série de atividades dialogadas, interrogativas, e práticas, partindo de uma atividade, em que exibi imagens de diversas reproduções de obras de arte. Na qual eu esperava que os alunos comentassem bastante e pudéssemos falar sobre corpo, então um aluno fez um (in)feliz comentário acerca da mulher negra. Foi a partir desta atividade que pude ter certeza de estar no caminho certo do meu projeto de ensino. Após essa atividade, tudo ficou mais claro, por isso, em outra aula realizamos atividade em recorte e colagem, no qual deviam retratar corpos que sofrem com o preconceito. Os resultados foram pouco criativos, tendo em vista que tiveram 3 aulas para desenvolvê-los. Mesmo a atividade anterior tendo obtido um mau resultado, em outra conseguimos desenvolver um diálogo em que pude interligar diretamente arte, corpo e preconceito. Diferente das outras atividades, a maioria dos alunos tiveram participação. Falaram sobre o que pensavam sobre arte, sexo, sexualidade e preconceito. Depois realizamos uma atividade na qual deviam desenvolver um corpo tridimensional, este corpo devia se relacionar com o tema preconceito, ou seja, retratar o negro, o homossexual, o deficiente, enfim, qualquer pessoa dentro da sociedade que sofra com preconceito devido ao seu corpo. Infelizmente durante o estágio não foram atingidos resultados relevantes conforme o proposto nos planejados, diferente do projeto de ensino no ensino fundamental.


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Então através deste trabalho, será possível identificar as dificuldades pelas quais Priscila Fróes passou. Sua transexualidade foi fator fundamental para o processo de aprendizagem. É partir disto que foi possível identificar o quanto a transexualidade e traumas passados influem no presente e consequentemente no modo como as aulas eram ministradas, com medo, receio. Quando menciono sucesso, não significará que os objetivos propostos para o projeto foram alcançados, pelo contrário, as marcas que foram gravadas a fogo e ferro na pele de José Carlos ainda permanecem em Priscila, embora pareçam diminuir com o tempo.


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CAPÍTULO 1 ESCULTURA E FIGURA HUMANA


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1. Escultura da Figura Humana 1.1.

Escultura Grega

“Nosso instinto primitivo está ligado a criar corpos irreais, nos compelem a exagerar e suprimir parte dos corpos” (Como a Arte Fez o Mundo – Mais Humano que Humano; BBC, 2005). Estudado de forma infindável por milênios, o corpo humano talvez seja a maior forma de representação na arte. Por onde quer que passemos pela história da arte, ali esta ele, implacável, colossal e humano. Mas por que tanta vontade de se representar? Talvez a resposta para tamanha vontade seja obviamente a curiosidade humana, amamos nossos corpos e de outros, e é impossível conceber a arte sem essa representação. Para não estender muito esse trabalho, é necessário começarmos por onde grande parte da arte ocidental se fundamentou, a arte grega. A Grécia para o Ocidente foi a fundação de nossas instituições, consideramos a cultura clássica como nossa fundação . Segundo Gombrich (1999, p. 78) “os egípcios tinham baseado sua arte no conhecimento. Os gregos começaram a usar os próprios olhos”, ou seja, os gregos começaram a observar mais como era realmente o corpo humano e a partir de formulas pré existentes oriundas dos egípcios e dos assírios eles começaram a desenvolver uma nova forma de representação do corpo humano.


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Kouros, 615-590 a.c Disponível em < http://historiarte.ning.com/photo/kouroirmaos-cleobis-e?context=user > acesso em 28/05/2014

Na imagem acima podemos observar que partes que ligam o corpo, como joelhos e cotovelos estão em ênfase, comparando com os egípcios, essa linha divisória não existia. Obviamente a obra ainda se assemelha muito com uma escultura humana vinda do Egito, pesada, densa, mas com o diferencia de movimento nas pernas, como se ela quisesse andar sozinha por ai, esta atitude não parecia existir na escultura egípcia. Então a partir dessa observação a arte grega não pode mais ser contida. A cada nova descoberta que um escultor fazia era logo adotada por outro, uns aprendiam como deixar a escultura mais viva ou então outros como criar um sorriso. Lógico que muitas falhas em busca dessa representação perfeita aconteceram. Diferente da arte grega que era mais por experimentação, a arte egípcia, por certo, era mais segura de se seguir, mas os gregos não pararam, aprendiam com seus erros e logo tentavam novamente. As antigas fórmulas de retratar toda a estrutura do corpo fez com que os artistas gregos se empenhassem muito na exploração da


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anatomia humana, conhecendo suas articulações, ossos, músculos para assim criar imagens fidedignas (GOMBRICH, 1999). É engraçado pensarmos que o que vemos hoje das antigas estatuas gregas não passam de replicas, pois devido a ascensão do Cristianismo no século III d.C muitas esculturas foram destruídas em nome de um novo Deus. Mesmo as réplicas podem enganar nosso olhar, podemos olhar a arte grega como fria e sem vida quando na verdade não eram assim. Existem algumas descrições de como seriam tais esculturas, como por exemplo a estátua de Atena: possuía 11 metros de altura, coberta por pedras preciosas, com sua armadura e vestes de ouro, sua pele de marfim. Sem esquecer seus olhos feitos com pedras preciosas e sua armadura toda incrementada de joias coloridas (GOMBRICH, 1999). O Partenon é um símbolo do povo clássico, foi muito documentado e demasiadamente adornado por estatuárias figurativas. Na visão do artista naquela época, a obra que encarnasse o ideal deveria ser aceita a seguida por outros.

Antiga copia em pequena escala de Atena do Partenon. Antigo Museu Nacional de Atenas.

(Fonte: DUBY, 2006, p. 27)


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Para Fullerton (2002, p.16) “a arte grega é idealista, ao mesmo tempo em que se preocupa com a variabilidade da experiência humana”. Na antiga Grécia as estatuas eram criadas a partir de encomendas, de cunho particular ou público, mas todas possuíam algum propósito bem definido, seja na arquitetura, na funerária ou de forma votiva. Infelizmente não existem muitas informações escritas sobre a escultura grega e ainda sim os poucos textos encontrados revelam pouca informação. Diferentemente de outras culturas os gregos não faziam diferença entre a escultura de um Deus ou de um mortal1. Então, para diferenciá-los, é preciso saber em que ambiente elas se encontram, somente assim podemos saber o que ela supostamente pode representar (Philippe Bruneau, 2006).

1.2.

Escultura Medieval a Gótica.

Foi no ano de 311 D.C que o imperador Constantino oficializou a Igreja Cristã como um poder no Estado. Quando a Igreja alcançou o poder, ela começou a repensar o modo de como retratar a arte para os fiéis. Durante este período a escultura fora deixada de lado dos novos templos (denominados basílicas) para não confundir os novos fiéis de que o Deus Cristão era o mesmo deus supremo grego. Durante um bom período, a pintura foi a melhor forma de passar o evangelho para os analfabetos.

O conhecimento clássico não havia se perdido. Mesmo assim,

segundo Gombrich (2006, p.131),

Parecia serem poucos os artistas que se importavam com o que fora a glória da arte grega, seu refinamento e harmonia. Os escultores já não tinham paciência para trabalhar o mármore com o cinzel e para tratá-lo com a delicadeza e o gosto que foram o orgulho dos artífices gregos.

Está mais do que claro que a simplicidade e clareza começavam a superar a cópia fiel da natureza e ainda sim os artistas se esforçavam para objetivar a mensagem. Isso aconteceu graças à herança grega, de retratar as atividades do 1

Diferente de outras culturas como a Egípcia em que os deuses eram representados com cabeças de animais no qual previne a confundir Horus com o Faraó, ou a aureola do Cristianismo.


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espírito, mesmo que de uma forma muito diferente dos gregos, a Igreja jamais seria capaz de utilizar imagens para seus próprios fins se não fosse essa herança. Observando uma das primeiras esculturas de Jesus2 não notamos a figura barbada e adulta que estamos acostumados a enxergar nas obras renascentistas, ali está um Cristo jovem, tenaz, ao lado de São Pedro e São Paulo. Podemos notar o quanto de tradição grega está impregnada nessa imagem, a forma como representa os apóstolos é a forma como se representa os filósofos e para destacar que Jesus é uma figura divina, seus pés tocam o firmamento da Terra que é sustentado por uma outra figura, isso se deve pois mesmo na Idade Média o conhecimento clássico não havia se extinguido, embora apenas depois do séc. XIII é que podemos ver esculturas monumentais.

Detalhe do sarcófago de Junio Basso, séc. 4 d.c

(Fonte: DUBY, 2006, p. 250)

Deve-se lembrar que segundo Wittkower (1989, p. 34), “na Idade Média quase não se conhecia o termo escultor com o significado de artista que trabalha em três dimensões” e dificilmente havia distinção dessas profissões. O melhor termo que se pode encontrar é o artifex, para artistas em geral ou operarius, para 2

Cristo com São Pedro e São Paulo, 389 d.C. Relevo em mármore do sarcófago de Junius Bassus; Cripta de São Pedro, Roma.


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trabalhadores. Foi somente a partir do séc. XVI que os artistas começaram a desejar que sua classe foi separada das demais, em que arte e oficio ocupassem lugares distintos. “Ao estudarmos a Idade Média, teremos que voltar muitas vezes para a Antiguidade Clássica, pois o cordão umbilical que unia os artistas medievais aos antigos nunca chegou a se romper” (WITTKOWER, 1989, p.27). Foi a partir de 1100 que junto com o redescobrimento da Antiguidade feito no período Românico que a escultura Românica começou a se tornar monumental. A expansão desse tipo de escultura se deu através da decoração de fachadas das igrejas. No séc. XII os escultores românicos começaram a seguir este estilo que não se limitava apenas aos tímpanos, se tornaram uma complexa composição de imagens ao redor de toda fachada. Isso não foi nenhuma inovação iniciando no Românico, mas foi apenas olhando para o passado que os artistas puderam “re-inventar” os modelos monumentais. Os temas, ainda eram religiosos e talvez possamos falar de uma liberdade maior no fazer artístico deste período, pois ainda os estudos de anatomia não eram levados a sério como seria uns séculos após. Interessante notarmos que Após a praga ter se extinguido pela Europa, a arte adotou uma visão menos pessimista, “a escultura expressou essas ansiedades pela grande analise da realidade do corpo” (Altet, 2006, p. 406):

Precisamente o século quatorze é marcado pelo estudo do nu, pela pesquisa do realismo na imagem, e pelo progresso de investigação anatomica que levou a representação de corpos secos e guardou andamento com o progresso dentro do estudo anatômico universitário e a cirurgia e com o profundo avanço de conhecimento do corpo.

As buscas pelo realismo do definhamento do corpo podem ser observadas na figura de Jesus Cristo que está em agonia. A sua crucificação demonstra com um irresistível realismo sua dor, seu sofrimento. Toda essa preocupação durou até o final do século com representações realísticas de cadáveres, pois até então as pessoas mortas eram representadas de forma vigorosa, uma imagem idealizada a respeito da morte no qual a pessoa não parecia morta e sim adormecida.


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Corpo de Cristo na Capela de Wroclaw, primeira metade do séc. 14 d.c

(Fonte: DUBY, 2006, p. 406)

1.3.

Escultura Renascentista

Renascença significa renascer, ressurgir, todo o conhecimento clássico que havia sido destruído devido aos bárbaros devia ser restaurado, desde a arte até a ciência. Foi nesta mesma época em que o artista não era mais considerado um mero artesão, “para Alberti e Leonardo o artista eram um estudioso e a arte era um trabalho de pesquisa dentro dos mistérios da natureza.” (CEYSSON, BRESCBAUTIER, p..561) Podemos utilizar a leitura de Gombrich (1999, p..230) a respeito da escultura de S. Jorge (fig. 5) que, diferente das esculturas de santos medievais o artista, Donatello, se preocupou assim como os artistas gregos ao estudo do corpo humano, da observação e não dos modelos tradicionais implantados na Idade Média. Donatello, um dos grandes escultores no início da Renascença “deixou


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tantos trabalhos pelo mundo que seria correto afirmar que nenhum artista trabalhou tanto quanto ele” (CEYSSON, BRESC-BAUTIER, p.. 578). Foi através de trabalhos como David (fig. 6) que ele desenvolveu as primeiras esculturas que não se ligavam à arquitetura e à decoração do local. Donatello pode-se comparar apenas com Michelangelo3, ele foi o um dos precursores da escultura renascentista e de grande importância Assim como Brunelleschi foi para a arquitetura, na sua escultura de São Jorge, Donatello desenvolve a representação de um adolescente que mostra os novos atributos que deviam ser encontrados no novo homem.

Donatello: São Jorge, 1415-1417

(Fonte: DUBY, 2006, p. 556)

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Ou Miguel Ângelo dependendo da bibliografia estudada.


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Donatello: Davi, 1440-1442

(Fonte: DUBY, 2006, p. 573)

O estudo da figura humana vai incorporando o estudo das proporções clássicas e o desenvolvimento da perspectiva. A escultura, aos poucos, vai se desvinculando das decorações arquitetônicas, podendo ser vista de diversos ângulos. As proporções do corpo deveriam ser perfeitas e as esculturas geralmente se sustentavam sobre uma base. Em um mundo em que a filosofia era muito estudada, a realidade não era necessariamente uma reprodução fiel da realidade. Era também indispensável para os artistas que estudassem com afinco a anatomia humana, tanto que os artistas colaboraram com médicos na produção de ilustrações do corpo. Michelangelo praticava a dissecação de cadáveres para descobrir mais sobre as partes do corpo. A Academia de Florença também fazia o mesmo, tanto que em 1567, Allori e Vicenzo Danti desenvolveram um “Tratado da Proporção”, que afirmava que a harmonia do corpo, tal qual sua beleza estava ligada não apenas a regras matemáticas, mas também a Deus. O corpo humano, criado por Deus, obtém parte


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dessa divindade e assim como Deus é perfeito e belo, o ser humano também carrega parte desta herença (Bresc-Bautier, 2006). No início do Quattrocento era muito comum o nu masculino, ainda que muitas Vênus fossem produzidas e encomendadas no séc. XV, o nu masculino era o que mantinha as oficinas ocupadas, embora o nu masculino seja androginamente angelical. A perfeição do corpo era visto como uma extensão de Deus, para Alberti a perfeição da beleza só podia ser adquirida através “da harmonia e concordância de todas as partes da forma que era construída a um numero invariável, e a uma clara relação de ordem, como simetria, como manda a mais alta e perfeita lei da natureza.” (CEYSSON, BRESC-BAUTIER, p.614). Indo além de suas palavras, Albertini dizia que se devia superar a natureza, escolhendo as melhores partes de um corpo e deixando as imperfeições de lado, ou seja, o artista devia corrigir os “erros” da natureza. Assim como Albertini, Leonardo da Vinci também acredita que a imitação da natureza é indispensável, mas ao contrário de seu contemporâneo, Leonardo era menos insistente com relação a questão da teoria da proporção. A Renascença possuía uma dupla tendência, que combina o conhecimento com experiência e que virtualmente afirma dialeticamente. A vontade para criar a beleza perfeita move o artista a imitar e estudar gregos e romanos, mas ao mesmo tempo constrói um sistema de proporções ideais próprio. (CEYSSON, BRESC-BAUTIER, 2006). Entendemos melhor o que caracteriza este momento, a intenção de definir o ideal perfeito, mas naturalisticamente a representação do corpo humano devido ao novo modo de pensar de Florença no período Quattrocento. A cidade era um grande centro e atraía não apenas italianos, mas outros europeus. A arte Gótica era rechaçada pelos florentinos, pois não era algo nacional, então como forma de combater esse estilo, foi desenvolvida uma arte mais sóbria, rigorosa, que não imitou apenas a arte grega, mas a superou. O conhecimento se tornou parte da preocupação diária, aquilo que restou dos gregos e romanos não eram mais vistos com curiosidade, mas sim como uma forma de estudo profundo (CEYSSON, BRESC-BAUTIER, 2006). Deve-se entender que no Renascimento os escultores não reviveram ou copiaram a figura humana de forma direta, esse período foi mais


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cristão que pagão, foi também uma nova forma de intelecto, espiritual e literário (FULLERTON, 2002).

1.4.

Escultura Barroca

Ao final do séc. XVI a arte parecia ter chegado ao limite, Grandes mestres como Michelangelo, Donatello e Leonardo pareciam insuperáveis. Os aprendizes ainda seguiam a norma de copiar os artistas clássicos até chegarem ao nível de seus mestres. Ainda sim havia artistas que acreditavam que nem tudo estava feito, assim como Michelangelo, que em particular desprezava convenções, fora ele que despertara no público a admiração por caprichos do artista, suas loucas invenções e,

conseqüentemente,

isso

deu

carta

branca

para

que

jovens

artistas

surpreendessem o público com seus trabalhos únicos. Para Dell’ Arco (2006, p. 708) a “escultura naquele tempo teve quase um papel triunfante, pois ocupou uma posição retórica na filosofia do século”. A idéia de poder induzir o pensamento através de imagens empurrou os artistas da época e outros intelectuais a redescobrir o poder da Retórica. Outros meios recorridos na época são as hipérboles e os oximoros:

Hipérbole consiste em exagerar uma idéia para se obter, através, a cumplicidade do espectador. Os escultores usavam a hipérbole através da distorção das proporções, salientando os materiais, refinando a qualidade de suas técnicas até realçar o maneirismo, adicionando elementos decorativos que frequentemente contrastavam, e pela intenção de aumentar a energia. O oximoro é normalmente presente na poesia. Consiste em combinar dois termos contraditórios, para ganhar um efeito mais expressivo [...]. os escultores praticavam algo deste tipo: uma calculada descontração, um caos controlado e uma fúria dinamicamente mal contida. (DELL’ ARCO, 2006, p. 710)

Os escultores no período Barroco demonstraram toda habilidade possível na representação da complexa anatomia estudada desde o final do Gótico, na


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demonstração de sentimentos através de expressão facial. Os escultores também misturavam diversas técnicas para chegar ao resultado esperado. Mesmo em obras de pequeno porte, como no busto do “Cardeal Mazarino” talhado por Antoine Coysevox, foi esculpido de forma clássica em mármore vermelho, encontrado também na Igreja de São Sulpício em Paris. O que interessa nessa obra é a forma como o artista usou da técnica da Antiguidade para chegar ao resultado de naturalidade, em que utilizou dois tipos de mármore, no qual o vermelho serviu para a criação da mozzeta4 do cardeal assim como a touca.

Antonio Coysevox: Cardeal Mazzarino

(Fonte: DUBY, 2006, p. 750)

Santo e profano andam de mãos dadas no séc. XVI. A figura humana é exaltada de forma plena no séc. XVII pode-se encontrar isso nos escritos de Giordano Bruno e Tommaso Campenella, Epicurinismo5 que trata do Homem e seu 4

Mozzeta é o nome que se dá ao traje que padres, bispos, cardeais, papas e outras pessoas pertencentes ao cléro Católico usam, é um traje que cobre os ombros e é abotoado por cima do peito. 5 Filosofia desenvolvida por Epicuro de Samos, filósofo ateniense do séc. IV a.c que prega o prazer ao invés da dor para a obtenção da elevação espiritual.


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corpo. Para o entendimento desse período Dell’ Arco (2006, p. 771) cita um pequeno trecho escrito por S. Francis de Sales.

Os corpos humanos são como taças de cristais, que não podem ser carregados juntos porque assim correm o risco de bater uns contra os outros e assim quebrarem-se. Eles são como frutas que, se intactas e bem preparadas, irão estragar se baterem uns nos outros. Água por sí só, contudo é pura dentro do recipiente que a guarda e que não pode mais reter sua pureza se tocada por qualquer outro animal. Então, Philothea, permita não permita que a toquem de maneira vulgar, nem por diversão ou nem por gentileza [...]

Esse pequeno trecho nos remete a uma das obras de Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), intitulada de “O Rapto de Perséfone”. Bernini, como sempre, enfatizou outro lado do mito, nesse caso a melancolia, Plutão a vê e tenta carregá-la à força. Ela, por sua vez, tenta escapar. Observamos como as mãos de Plutão mergulham dentro de sua pele macia, também observamos a tristeza da jovem mulher ao notarmos que ela está chorando. Podemos também fazer uma leitura mais chocante. Na mitologia, a deusa é raptada pelo deus do mundo subterrâneo e levada para se tornar sua rainha. A violência com que essa escultura é retratada contrasta com a beleza da mesma, é tão vivido, tão dramático, belo e ao mesmo tempo triste. Podemos sentir a força do deus segurando a deusa com toda sua força. A sensação ao se olhar essa imagem é ver uma mulher sendo estuprada e ficar maravilhado com essa visão, algo voyer.


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Gian L. Bernini: O rapto de PersĂŠfone, 1621-1622

(Fonte: DUBY, 2006, p. 772)


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Gian L. Bernini: O rapto de PersĂŠfone, 1621-1622 (detalhe)

Gian L. Bernini: O rapto de PersĂŠfone, 1621-1622 (detalhe)


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Para alguns, o Barroco exprime o espírito da contra-reforma, e a Igreja foi o principal patrocinador deste período. Os nobres católicos foram exaltados por suas excentricidades ao invés de seu fervor religioso. Roma foi o centro do Barroco. Patrocinada pelo Papa, foi um modo de fazer Roma a cidade mais bela do mundo 6, em nome de Deus. Um de seus escultores mais famosos, Bernini, trabalhou durante a maior parte de sua vida para a Igreja (fora incumbido de decorar a Basílica de São Pedro). Uma de suas obras, o tabernáculo fundiu a arquitetura com a escultura, no qual existe “quatro colunas salomônicas, profundamente decoradas [...] no canto há estátuas de anjos e volutas acentuadas com vigor que erguem bem alto o símbolo da vitória do cristianismo sobre o mundo pagão”, tudo é tão retorcido e magnífico que resume o barroco. Se olharmos para o passado, em Roma antes da ascensão dos cristãos, as mesmas colunas eram utilizadas (em menor escala). A escultura barroca não ocupa o espaço de forma isolada como no Renascimento, ela cria a ilusão, existe um comportamento quase que teatral por parte das estatuas (JANSON, 2007). Segundo Dell’ Arco (2006, p.762) “Bernini foi o primeiro escultor a introduzir o fogo na escultura”, o fez na escultura que dá o titulo de “Martirio de São Lourenzo”, um trabalho que representa seu santo patrono. Ele também é o criador da escultura chamada “O Êxtase de Sta. Tereza”, nela podemos ver dois corpos sutilmente deslocados, em que num movimento gracioso o anjo-sátiro retira a flecha que estava cravada no peito da santa, capturado num momento antes dela cair para trás. No centro disso tudo a santa caindo e o sátiro se move para frente para segurá-la. Em outra escultura de Bernini, conhecida como “Apólo e Dafne”, podemos observar um sentimento esquematizado pela coreografia. Bernini reinterpreta o mito de Apólo e Dafne. Apolo assume uma forma Católica, a figura da mulher esconde de forma discreta sua nudez, seus dedos começam a se transformar em galhos.

6

Assim como na Idade Média a arte foi usada para transformar Roma novamente na capital do mundo.


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Gian L. Bernini: O ĂŞxtase de Santa Tereza, 1621-1622

(Fonte: DUBY, 2006, p. 735)

Gian L. Bernini: Apolo e Dafne, 1621-1622

(Fonte: DUBY, 2006, p. 732)


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1.5.

Escultura Romântica a Realista.

Junto com a Revolução Francesa, a Arte começou a romper com conceitos que até então eram tidos como absolutos e inalteráveis. A Revolução Industrial acabava com o artesanato e junto com isso quase “acabou” com a arquitetura. As construções realizadas nesse período não seguiam um estilo próprio, e sim diversos estilos:

As igrejas tinham sempre o estilo gótico, porque este predominara no período conhecido por Era da Fé. Para teatros e casas de óperas, o estilo barroco, com todo seu aparato, era considerado, o mais próprio, e também se acreditava que palácios e ministérios adquiriam um aspecto mais digno se edificados nas suntuosas formas da Renascença italiana.”. (GOMBRICH, p. 499).

Nunca na história da Arte os artistas sentiram tanta necessidade de se auto afirmar como artistas quanto no século XIX. Isso se deve à ruptura (para não dizer quebra total) com a tradição clássica, sem idealismos. Entretanto a liberdade de temas e “estilos” gerou atrito entre os artistas e seus clientes. Mais do que nunca, o artista não estava preso ao cliente, ele não se via mais na obrigação de satisfazer o que seu cliente desejava. Entretanto, essa nova prerrogativa podia lhe custar o dinheiro do aluguel, da compra dos materiais e comida. Junto a essa nova liberdade a classe artista se dividiu entre os que obedeciam “as convenções do público e os que se orgulhavam de seu isolamento auto-imposto”. (GOMBRICH, p. 501). Para Gombrich, estilo é como uniforme, e o número de uniformes disponíveis no século XIX era grande o suficiente para que os artistas pudessem se expressar da forma que achassem melhor. Quando ele compara Rembrant e Vemeer Van Delft, nos diz claramente que ambos eram pessoas com histórias de vida e personalidade diferentes, mas não possuíam a escolha para se expressarem artisticamente devido ao tempo em que se encontravam. No século XIX a escultura começa a tomar outro rumo, não apenas como um objeto decorativo de igrejas, demonstração do poder real ou mesmo para enfeitar as cidades. A escultura foi, segundo Joseph Beuys, descrita como pensamento, que


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segundo Schneckenburger, “colocou a arte tridimensional numa esfera de reflexão intelectual perto do domínio do sonho” (pintura). Foi no século que XIX que a escultura começou a se expandir (embora tenha sido no final do século XIX e início do século XX que ela tenha se libertado completamente das amarras gregorianas). O centro de todo este desenvolvimento aconteceu em Paris, tornando-a assim a capital da cultura no século XIX, tirando a Italia de vista. No Neoclassicismo, o mármore era ainda muito utilizado pelos artistas, embora os esboços fossem feitos de argila. Podemos resumir o Neoclassicismo com os trabalhos de Antônio Canova, que foi comprado a Bernini. Diferente de Bernini que se inspirava em mitos e na emoção através da luz e sombra, Canova, tinha como inspiração a Grécia Antiga, embora tivesse sido treinado no estilo Barroco. Mas o interesse da Canova pela antiguidade se deu através da arqueologia e teoria. Canova esculpiu diversas figuras feminina ao longo de sua carreira, entre elas, Hebe. Outro precursor do Neoclassicismo é Bertel Thorvaldsen. As esculturas de Canova e Thorbaldsen diferem muito uma da outra, pois Thorvaldsen se assemelha mais aos gregos, com corpos menos tencionados do que os de Canova que “sugere um refinamento da arte Helenística, como faz com os detalhes dourados que ornamentam a figura” (NORMANDO-ROIMAIN, 2006, p 855). Canova se beneficiou muito da proteção de Napoleão, se tornando muito conhecido na França. Napoleão se apoiou na arte para se manter no poder, fazendo de sua imagem sua propaganda, tal quais reis e papas fizeram durante o Barroco, com a propaganda da Fé e Poder. Muitos bustos de Napoleão sugerem uma retomada da arte romana, com feições dos antigos Cesares romanos. Juventude estampada em sua face, imperativísmo são algumas dessas características. Canova foi o responsável pela obra Napoleon as Peace-Bringing Mars, que o retratava nu, como o deus Marte, deus da guerra, Napoleão não se preocupava, mas na França, naquela época, não foi permitida a exibição. No Romantismo os artistas usaram suas habilidades para se sobreporem ao modo como à figura humana idealizada deveria ser representada desde o Renascimento, que mesmo diante de todas as curvas do Barroco este ainda mantinha um ideal sobre as esculturas. Para se afastarem do Neoclassicismo os artistas buscaram inspiração em obras literárias ou pela cultura de outros países.


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Algumas obras do início desse novo estilo são “Os Goblins”, de Antonin Moine, “Loki”, de Ernst Freund e a famosa obra “O Pensador”, de Rodin. Todas essas obras foram inspiradas em autores como Shakespeare, Dante, Tasso e outros autores românticos contemporâneos a sua época.

Ernst Freund: Loki, 1822

(Fonte: DUBY, 2006, p. 876)

Foi a partir de 1880 que o Realismo começou a se firmar, no qual esculturas mostram homens e mulheres proletariados. O Realismo mostrava que uma nova Era se aproximava, enquanto no passado santos, mártires olhavam para o Céu os artistas realistas não permitiram que a religião interferisse em suas obras. Um escultor neste período, chamado Vincenzo Vela, criador da obra “As vítimas do trabalho”, espelha bem o que o Realismo queria mostrar ao público. Esta obra reflete as mulheres mortas na construção do túnel de São Gotthard (o terceiro mais longo do mundo).


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Augusto Rodin: O Pensador, 1904 DisponĂ­vel em < http://classicos-e-cia.blogspot.com.br/2013/04/auguste-rodin-o-pensador.html > acesso em 28/05/2014

Vincenzo Vela: Vitimas do trabalho, 1882

(Fonte: DUBY, 2006, p. 921)


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Outra obra desse período que pode ser citada é a “Explosão da mina” em que a mulher que olha para o morto parece uma nova Pietá pelo modo em que sua cabeça está inclinada e demonstra compaixão pelo morto. O estilo realista estava para se tornar um dos estilos que participaria da vida pública, ou seja, monumentos públicos, retratando pensadores, revolucionários ou mesmo pessoas comuns ou com algum certo prestígio. O realismo tratava de mostrar o novo homem, uma sociedade que estava se industrializando e consequentemente um povo que sofria com o trabalho pesado. Ainda que o homem fosse retratado quase da mesma forma anatômica como era no Renascimento, no Barroco, Neo Classicismo, mas mantevese original pelo modo quase que inacabado de algumas obras e pela utilização do bronze ao mármore e pela não idealização do Homem.


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CAPÍTULO 2 RECONHECIMENTO DO ESPAÇO ESCOLAR


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2. Reconhecimento do Espaço Escolar. 2.1.

Dados Gerais da Escola Observada

O estágio foi realizado na Escola Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva, localizada na Rua Baden Powell, 409, bairro Sarandi, na cidade de Porto Alegre. A escola possui sua data de fundação em 07 de janeiro de 1970, como escola de 1º Grau, pelo decreto 20.053 da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul e em 22 de Dezembro de 1975, através do decreto 24.329 do mesmo órgão, passa a ser reconhecida como escola de 1º e 2º Graus. Com 46 turmas, distribuídas pelos três turnos de funcionamento da instituição, a saber: manhã, tarde e noite, possui um quadro funcional constituído por 10 funcionários e 62 professores. O

corpo

discente

é

constituído

de

aproximadamente

950

alunos,

predominantemente integrantes de uma classe social mais carente do que alunos da rede privada. O espaço físico é caracterizado por três prédios, no qual se distribuem as dezesseis salas de aula, a biblioteca, os laboratórios de informática, química, física e biologia, auditório, o refeitório, a cozinha e o bar, bem como a área destinada a administração escolar: direção, vice-direção, conselho escolar, coordenação pedagógica e supervisão escolar. Sua área externa é contemplada com duas quadras esportivas, um play ground em um galpão crioulo.

2.2.

Observações silenciosas. Primeira Observação Silenciosa

Data: 21/08/2012 1 Período Alunos Presentes: 22

Assim que cheguei à sala de aula, os alunos se mostraram bastante ativos e questionadores, faziam-me perguntas pessoais e esperavam que eu cooperasse nas respostas. A professora pediu a atenção deles e explicou o porque de eu estar ali presente. Após isso pediu para cessarem com o barulho e a bagunça e prestassem atenção na atividade.


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A primeira aula observada silenciosamente consistiu em desenhos abstratos a tinta nanquim. A professora me informou que seus alunos estavam trabalhando durante o trimestre com diversas possibilidades de explorar materiais de pintura, pois, no final do trimestre anterior aprenderam sobre o Abstracionismo. Os alunos não pareciam cooperar com a professora e se mostravam muito ativos. Um bom sinal a meu ver, pois assim será melhor de trabalhar meu projeto de ensino, penso eu. Observei que os meninos mais agitados não estavam realizando a atividade proposta e sim realizavam outro tipo de desenho. Os mesmos possuíam maior habilidade com o desenho. Possuíam noção de espaço, volume, linha. Um aluno em especial, o mais agitado aquele dia, chamado Marciano, possuía uma habilidade muito boa e me chamou a atenção, pois ele conseguia convocar toda a turma para a desatenção com a atividade proposta com a professora. A todo instante a professora pedia para eles fazerem menos barulho. Os alunos estavam muito agitados. Ela se desculpava comigo a todo instante e dizia que nem sempre era assim. Informava-me que eles eram educados e que estavam agitados, pois eu era “carne nova” na escola e que nas próximas aulas o comportamento deles iria melhorar. Logo a aula acabou, pois temos apenas um período. Segui em direção a professora a mesma disse que as vezes usava o período de Religião para seguir com os trabalhos em artes, pois sabe que um período para atividades praticas é quase impossível, ainda mais com uma turma hiperativa como aquela. Segunda Observação Silenciosa Data: 28/08/2012 1 Período Alunos Presentes: 18

É a segunda aula em que os observarei. Dei-me conta de que as aulas de artes ocorrem depois do intervalo e que isso os deixa mais agitados ainda. A professora pedia gentilmente para eles se acalmarem e que agora já não era mais intervalo.


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Os alunos nesta aula se acomodaram e ficaram em silencio enquanto a professora informava que na aula de hoje eles trabalhariam com aquarela. A professora então distribuiu as folhas A3 para cara aluno e pediu para que eles cuidassem da margem da mesma ao fazer a pintura. Em silencio, os alunos se colocaram a produzir as pinturas abstratas. Aos poucos eles iam trocando diálogos entre eles e fui percebendo que haviam grupos dentro da sala de aula que trabalhavam melhor que outros. Uns ficavam só de brincadeira, enquanto outros produziam, embora, de forma empobrecida. Dois alunos discutiam entre si, Guilherme e Alisson, um provocava o outro, até que Alisson saiu de seu assento para tentar agredir Guilherme e então a professora interveio e os dois alunos pararam de trocar tapas e ofensas. Nisso a turma já se agitou novamente e a professora não conseguiu mais controlá-los. Continuando a observação, embora a agitação fosse geral, alguns alunos estavam trabalhando e percebi que suas composições, embora abstratas, não possuíam vinculo algum com as artes e sim era um trabalho em que podiam fazer o que queriam que a professora ia achar bom. Enquanto observava alguns trabalhos sendo realizados a professora chamou a atenção da turma para a pasta de artes. Nesse momento soube que os alunos tinham uma pasta de artes individual em que guardavam seus trabalhos produzidos em artes naquele trimestre, seja pintura ou desenhos. A professora informava que havia pastas que não estavam completas e que os alunos deviam completar até o meio daquele mês que ela precisava fechar as notas deles do trimestre anterior. Após sua fala, o sinal tocou e ela foi se organizando para sair da sala de aula. Terceira Observação Silenciosa Data: 04/09/2012 1 Período Alunos Presentes: 12


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Foi um dia chuvoso e relativamente frio. Fui ao encontro da turma para observá-los uma ultima vez. A professora estava mais tranqüila que a aula anterior. Os alunos também estavam mais tranqüilos. Das três aulas observadas esta me pareceu ser a mais tranqüila. Em grande parte ela foi assim, pois, estava chovendo e muitos alunos não foram à aula. Quando falo dos alunos que não foram à aula eu falo dos alunos que deixam a turma mais agitada. Nesta aula pude observar mais atentamente o modo como outros alunos desenvolvem suas atividades em sala de aula. Consegui observar nesta aula que havia um casal de alunos na turma, também pude observar mais atentamente um trio de alunos que sempre sentavam juntos, Juliano, Esther e Amanda. Esses alunos em especial trabalharam em todas as aulas, não eram demasiadamente agitados como os outros e se concentravam nas tarefas propostas pela professora. A atividade de hoje consistia basicamente de reunir todas os trabalhos realizados ao longo do semestre anterior e entregar para a professora em uma forma de pasta. Alguns alunos não possuíam todos os trabalhos e então a professora informou que deveriam acabar hoje. Como o tema era o abstracionismo, muitos materiais foram explorados, lápis de cor, giz de cera, carvão, tintas nanquim, recortes e colagens. Então como faltavam certos trabalhos, a professora forneceu alguns materiais que possuía a Mao para que assim os alunos pudessem terminar o trimestre com boas notas. As alunas Esther e Amanda não haviam terminado seus trabalhos. Esther não tinha um trabalho em carvão e Amanda não havia terminado os recortes e colagens. Observando, notei que ambas estavam cooperando uma com a outra, pediam observações, o que uma achava o que deveriam fazer. Ao final da aula, os alunos entregaram a pasta de artes para a professora e ela agradeceu e nos retiramos da sala de aula.


42

2.3.

Análise das Observações Silenciosas Com base nas observações, posso enfatizar que o que mais surpreendeu foi

o comportamento extremamente agitado dos alunos. Mas se por um lado eles eram agitados, por outro eles produziam. Acredito que se a energia deles for direcionada da forma correta poderão elaborar grandes observações durante o estágio. Como a base é a observação, acredito que, esteticamente, os alunos estão no estágio adequado para suas respectivas idades, que vão dos 13 até os 15 anos. Conforme Jean Piaget eles estão na fase Pseudo Naturalismo, embora eu prefira as classificações de Viktor Lowenfeld (1974), que são mais completas. Segundo o autor os alguns alunos estariam na fase Pseudo Naturalista e outros na Fase de Decisão, que é quando o jovem decide se continua a buscar seu aperfeiçoamento no fazer artístico ou deixa de lado por falta de encorajamento. Segundo o mesmo autor, Lowenfeld é importante que crianças, jovens exercitem artes para que assim desenvolvam pensamentos sobre si mesmos, e do ambiente que os circunda. Segundo este autor, “um dos mais importantes atributos de qualquer atividade criadora é o de nos tornarmos mais sensíveis as coisas com que lidamos (1974, p. 17)”. Como a escola é Publica, alguns problemas devem ser apontados, como por exemplo, a fala de uma sala especifica para artes. Com uma sala especifica para artes é possível trabalhar com diversas outras linguagens, experimentação de novas técnicas sem o medo que o relógio impõe geralmente ao docente de Artes, em que deve deixar tudo arrumado para o próximo professor. Outra questão a ser apontada não está na escola e sim um pouco nas famílias que compõe a comunidade escolar. Em que dão prioridade para objetos como roupas, celulares, sapatos ao invés de fornecer materiais básicos como tesoura, tinta guache. Conforme Art. 12º da LDB a escola publica deve fornecer esses materiais conforme o que recebe de recurso pelo Estado, mas é necessário que a própria comunidade tenha consciência de que o Ser é mais importante do o Ter. Então se há condições de se comprar um tênis Nike para o filho, há de se ter condições também para se comprar lápis de cores, tesouras, pinceis e etc. Nesse caso não devemos apelar para o que é por Direito, mas do bom senso.


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A ultima aula observada me levou a crer que há alunos específicos que comovem os outros e os levam a fazerem bagunça. Não os identifiquei, pois nessa ultima aula, estava chovendo e pouquíssimos alunos foram para a escola. Importante enfatizar que esses alunos que faltaram não moram em regiões de alto risco e costumam usar o transporte publico para voltar para casa. Acredito que aqui posso salientar mais uma vez a importância da comunidade escolar, da família na educação de seus filhos e que as mesmas sirvam de incentivo para que persigam com o caminho da educação. Percebi que professora tenta ao máximo trazer para os alunos técnicas novas, novas formas de explorar a linguagem da arte. Notei que embora ela tenha se estressado com os alunos diversas vezes, ao final ela sempre saia da sala de aula aliviada de ter feito seu trabalho, é carinhosa com os alunos, e parece carregar a esperança de que algum dia eles terão um brilhante futuro a sua frente. Com esse parágrafo posso encerrar a analise das observações com a citação de Libâneo, Oliveira e Toschi (2012) em que os autores afirmam que

a educação deve ser compreendida como um direito universal básico e como um bem social publico, condição para a emancipação social. Deve ser concebida, portanto, no contexto de um projeto amplo de inclusão social, em que são contemplados os interesses da maioria da população, implicando a conquista da democracia e da qualidade social.


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2.4.

Análise do Questionário Respondido pela Professora A professora Claudia é Licenciada em Artes Visuais há 20 anos pela UFRGS

e desde então sempre trabalhou como educadora em Artes, atualmente também a mesma desempenha papel de educadora na disciplina de Religião. A mesma informa que ela compra os materiais escolares para a sua disciplina, que incluem, tesouras, lápis de cor, cola e etc. Ela informa que quando o material é mais caro, como por exemplo em uma aula em que ela usou madeira em MDF para os alunos comporem um trabalho, a escola ajudou financeiramente. Claudia diz também que pede ajuda dos alunos, sempre que podem eles doam algo para ela, mas que é difícil. Lowenfeld (1974) diz que muitos materiais ao mesmo tempo disponíveis para os jovens os deixa confusos e ao invés de estimular, dificulta, levando a um resultado medíocre. A solução ao que parece, é dispor materiais em quantidades suficientes para que a mesma consiga estimular sua expressão criativa. Importante haver esse estimulo de materiais na escola pois o aluno precisa das ferramentas corretas para poder se expressar, negar o acesso a isso é a mesma coisa que o desestimular. Conforme suas respostas nos questionários, a mesma prefere as atividades praticas, pois acredita que assim os alunos podem ter a oportunidade de explorar outros materiais além do caderno e livro. Embora a mesma admita que suas aulas sempre possuem um embasamento teórico antes de passar para as atividades praticas. Libâneo nos dirá que “o caráter pedagógico da pratica educativa se verifica como ação consciente, intencional e planejada no processo de formação humana, através de objetivos e meios estabelecidos por critérios socialmente determinados (1994, p.24)” A mesma diz que estimula seus alunos a desenvolverem um pensamento critico sobre seus próprios trabalhos, incentiva os alunos a desenhar, modelar, pintar, não acredita quando dizem: professora, não sei desenhar. Claudia crê que todo aluno é capaz de se desenvolver artisticamente. O professor não deve apenas produzir trabalhos e mais trabalhos se não há uma reflexão a ser feita, não é ensinando diversas técnicas que o aluno irá ter


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interesse em aprender, para aprender o aluno deve ser instigado a querer investigar o mundo a sua volta e é investigando que ele irá refletir sobre as coisas que o cercam, ultrapassando assim, o senso comum, em Artes damos o nome de educação estética em que “deverá articular-se com esse “fazer”, partindo do contexto da percepção, do uso, conhecimento, apreciação e critica artística” (FUSARI e FERRAZ, 1992, p.56), para isso o professor de Artes deve mobilizar reflexões a partir da história da arte, criando pontes entre o passado e o presente. A professora não gosta de usar a arte para decorar, embora a mesma tenha habilidades artesanais e goste muito de pintura e em casa desenvolva esse lado, ela pensa não ser essa a função da sua formação e da disciplina que leciona. Lowenfeld dirá que o melhor professor de artes seria o “artista que tivesse ao mesmo tempo, profunda compreensão dos problemas humanos e grande desejo de ajudar as crianças e jovens em seu crescimento e desenvolvimento (1974, p.219).” Lowenfeld (1974) felizmente nos dirá que para ser um bom professor de artes não há necessidade de ser de fato um artista, mas é essencial que ele seja dotado sim, de habilidades como desenho, pintura, escultura e etc.


46

2.5.

Análise do Questionário respondido pelos Alunos. Todos os alunos responderam os questionários, possuem idade entre 12 e

16 anos. A grande parte dos alunos gosta da disciplina de Artes, principalmente das atividades praticas, dizem que não aprendem nada com a teoria em artes. Talvez esse pensamento perpetuado pelos alunos, anos após anos esteja enraizado no mito de que apenas a disciplina da artes só tem poder e objetivo quando esta desenvolve atividades praticas, como desenho, escultura, pintura e é a disciplina que deve trabalhar com a criatividade do alunos (Fayga, 2009). Por isso trabalhos práticos se tornam muito importantes nessa etapa, pois em outras disciplinas eles já são massacrados por teorias e decorebas. É claro que o trabalho prático não deve ministrado de forma leviana, é necessário trabalhar em conjunto com a leitura de imagens, trabalhos teóricos oriundos da estética, critica e história da arte.

Fora do campo artístico, a arte poderá ser importante auxiliar como elemento mediador de conhecimento, em carreiras cientificas, comerciais ou técnicas através de filmes, fotografias, vídeos, rádio, TV etc., que informam e, ao mesmo tempo, recriam ambientes e componentes estáticos (FUSARI e FERRAZ, 1992, p. 59).

Devemos parar de pensar que apenas cabe a disciplina de Arte trabalhar a imaginação e a criatividade do sujeito, essa idéia foi deformada com o passar dos anos, responsabilizando dessa forma o campo das Artes por formar pessoas criativas, e essa mesma criatividade é cortada quando se entra no mercado de trabalho, ela também é desviada para objetivos desumanos, tais como manipulação de massas. O profissional vende seu potencial imaginativo e criativo por dinheiro, não se importando com os efeitos colaterais de seu trabalho, Fayga (2009) diz que somos responsáveis por isso, que o artista (num sentido mais amplo e não restrito ao campo de Artes) é responsável pelas obras que cria. Por isso é importante que o professor faça seus alunos refletirem desde cedo as coisas que eles vêem e lêem. Conforme Fussari e Ferraz (1992, p.67),


47

por intermédio da explicação, da analise e da apreciação de trabalhos de arte (dadas a partir dos conceitos gerais de valores estéticos), o jovem pode chegar a entender e refletir sobre as principais correntes de critica de arte contemporânea. [...]É por isso que é importante fazer a classe chegar concomitantemente à produção de trabalhos em Arte. Através do “fazer artístico” torna-se mais fácil a compreensão de conceitos teóricos e da própria linguagem artística.

Muitos alunos sabem realizar uma leitura de imagem. Gostam de atividades como desenho, pintura, gravura. Possuem interesse em desenvolver mais atividades com desenho e pintura, outros respondem que desejam escultura por ser algo pouco trabalhado em sala de aula. Alguns alunos se preocupam com o vestibular e acreditam que artes deva ser substituída por disciplinas que realmente os ajudem a passar no ENEM e no vestibular. É muito positivo que alguns alunos se preocupem com isso, em contrapartida a maioria não respondeu isso nos questionários. Não que eu acredite que artes deva ser substituída e seja menos importante que outras disciplinas, mas é importante que os alunos tenham noção da sua importância e de desejarem um futuro melhor para si e quando se nasce pobre, um bom futuro começa em boa formação educacional, o ensino superior. Para esses jovens, o ensino superior não é apenas um estágio como alunos da rede particular vêem, mas a oportunidade de mudarem suas vidas.


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CAPÍTULO 3 PROJETO E PRÁTICAS DE ENSINO EM ARTES VISUAIS


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3. Projeto e práticas de ensino em artes visuais.

3.1.

Dados Gerais da Escola.

O estágio foi realizado na Escola Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva, localizada na Rua Baden Powell, 409, bairro Sarandi, na cidade de Porto Alegre. A escola possui sua data de fundação em 07 de janeiro de 1970, como escola de 1º Grau, pelo decreto 20.053 da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul e em 22 de Dezembro de 1975, através do decreto 24.329 do mesmo órgão, passa a ser reconhecida como escola de 1º e 2º Graus. Com 46 turmas, distribuídas pelos três turnos de funcionamento da instituição, a saber: manhã, tarde e noite, possui um quadro funcional constituído por 10 funcionários e 62 professores. O

corpo

discente

é

constituído

de

aproximadamente

950

alunos,

predominantemente integrantes de uma classe social menos abastada do que o grupo da rede privada.

3.2.

Dados Gerais do Projeto de Ensino.

Titulo do Projeto: S/ título; S/ gênero; S/ preconceito Escola: Escola Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva Endereço da escola: Rua Baden Powell, 409, Bairro Sarandi, Porto Alegre Turma: 104 – 1º ano do ensino médio Professora Titular: Claudia Castello Costa de Medeiros Tema de Pesquisa: O tema de pesquisa inicial tomou como ponto de partida o tema escultura da figura humana dentro da história da arte, desde o período grego A.C até o século XIX D.C. Partindo de autores como Janson e Gombrich que exibem o cenário político e econômico das artes visuais em cada período com o significado de beleza de Umberto Eco em cada um desses períodos e usando o autor Philippe Bruneau como principal locutor a falar sobre a linguagem escultórica. A pesquisa


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buscou apresentar as diferenças e semelhanças sobre a construção da figura humana dentro da linguagem tridimensional ao longo dos séculos nas artes visuais. Tema do Projeto de Ensino: O projeto buscou em conjunto com o tema de pesquisa abordar o tema preconceito social através do corpo. Após reflexões realizadas no estágio II e de minha vida pessoal, resolvi que em conjunto com o tema de pesquisa iria tratar do corpo humano e os tabus que o envolve, sobre o preconceito em geral.

3.2.1. Justificativa

Segundo o site da Secretaria de Direitos Humanos houve um aumento de 46,6% sobre a violência contra a comunidade LGBT do ano de 2011 para 2012, assim como em uma pesquisa em 2013 disponível no site do Senado, demonstra que cerca de 32% das mulheres brasileiras, não buscam a delegacia da mulher para registrar queixas de maus tratos. Baseando-se nesses dados acredito que seja pertinente ao ensino das Artes Visuais usar de seus conteúdos para desenvolver a reflexão acerca dos preconceitos sociais que se comentem contra mulheres, gordos, LGBT, negros e etc. Como representante transexual acredito que seja importante falar sobre o corpo dentro da sala de aula e a partir de reproduções de imagens desenvolver a reflexão sobre as variadas manifestações corpóreas que existem dentro de nossa sociedade, desde o corpo feminino, da cor de ébano dos negros até mesmo da distorção de imagem que nossa sociedade produz sobre nossos adolescentes, mostrando pessoas extremamente magras, brancas, loiras e felizes.

3.2.2. Objetivo geral.

Desenvolver a capacidade de reflexão dos alunos frente ao preconceito social contra as diversas manifestações corporais, disseminando assim, um outro


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pensamento dentro de nossa sociedade, se baseando no respeito ao próximo e a igualdade de gêneros.

3.2.3. Conteúdos

Figura Humana

Corpo Humano

História da Arte

Preconceito

3.2.4. Metodologias

Expositiva e Dialogada

Pratica

3.3.

Dentro da Sala de Aula.

3.3.1. Primeiro encontro Numero da aula: 01. Data: 25/09/2012 Duração: 1 hora. Serie: 1º ano Ensino Médio. Conteúdo: linha no desenho, mistura de cores, uso de tons com tinta ou lápis figura humana, pintura


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Lista de atividades: 

Apresentação à turma de mim como sua professora ao longo do

trimestre. 

Apresentação sobre o tema que iremos trabalhar ao longo do trimestre.

Exibição de algumas imagens de figura humana.

Instrução da atividade a ser realizada nesta aula.

Realização da atividade plástica em pintura ou desenho.

Auxilio aos alunos durante a atividade plástica.

Organização da sala de aula para o próximo período.

Encerramento da aula.

Objetivos específicos: 

Utilizar conhecimentos prévios da figura humana para a construção da

mesma. 

Desenvolver melhor a composição da figura humana, através da

proporção, ângulo, composição das partes do corpo. 

Pensar a respeito de como poderão construir a figura humana.

Metodologia: Prática dialogada. Materiais: 

Tintas guache, pinceis, potes, panos, folhas A3 e lápis 6B.

Avaliação: Avaliarei como eles irão construir o corpo humano, como estas imagens serão construídas, como serão os corpos desenhados ou pintados pelos alunos. Também será avaliado o uso das cores, caso o aluno tenha escolhido trabalhar com cor, linhas, no caso do desenho e uso das tonalidades se for pintura ou desenho. Será avaliada a originalidade do trabalho, ou seja, sem quer as imagens artísticas apresentadas não sejam as únicas referências para os trabalhos desenvolvidos. Planejado:


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Irei me apresentar aos alunos como sua professora, Priscila Fróes, ao longo do ultimo trimestre. Após essa apresentação, irei começar a aula com uma breve apresentação em PowerPoint com algumas imagens das infinitas possibilidades de representações da figura humana. Direi a eles que durante esse trimestre iremos trabalhar com o corpo humano na Arte e para exemplificar isso mostrarei imagens de pinturas no qual o corpo humano é o tema central. Começarei a distribuir folhas A3 para cada um deles e pedirei que cada um deles, em uma folha A3, desenvolva um trabalho plástico ao qual o corpo humano deve ser o tema central. Informarei que as linguagens plásticas que poderão ser usadas serão o desenho e a pintura. Poderão utilizar o material disponível na sala de aula como tinta guache e lápis 6b, também poderão se possível e desejarem a misturar cores que por ventura eles possuam prévio conhecimento. Quanto a utilização do lápis, irei avaliar o uso das escalas de cinza, modo como seguram o lápis. Após as instruções, irei circular na sala de aula auxiliando os alunos caso necessitem de ajuda. Ao final da aula pedirei que assinem seus trabalhos e direi que na próxima aula iremos discutir a respeito de imagens produzidas ao longo da história da arte.


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Realizado A aula iniciou na sala de vídeo da escola na qual a professora titular me apresentou à turma como a professora estagiaria e que este trimestre eu daria as aulas de arte. Após essa breve apresentação, iniciei informando a eles que durante minhas observações sobre a turma percebi que a professora havia trabalhado diversas técnicas em que o estilo abstracionista predominava, mas que nesse ultimo trimestre trabalharíamos com figuração, mais especificadamente a figuração humana. Então, no Datashow, comecei apresentando a primeira imagem chamada, No Woman No Cry de Chris Ofili de 1998 em que retratava o busto de uma mulher negra chorando e duas pedras sustentando o quadro e mais outra como adorno no pescoço da mulher. Discursei um pouco mais nessa obra tendo em vista que há alguns alunos negros na turma e outros ficaram se questionando o porquê da mulher no quadro estar chorando. Nesta obra, o artista retrata a mãe de um cidadão negro britânico assassinado por motivos racistas em 1993. O caso nunca foi solucionado e embora o quadro usasse cores quentes que dariam a sensação de alegria, o quadro em si não tem nada de alegre. Informei que essa obra era na realidade uma denuncia ao descaso da policia, por se tratar de um negro e que na arte conforme Anamélia Bueno Bouro (2002, p.54): “o artista, ao construir seu objeto, torna visíveis seus pensamentos, emoções, e sentimentos, organizando-os num texto visual prenhe de significados”. Deste modo, o artista atingiu seu objetivo de tornar este trabalho uma denuncia para que jamais se repetisse. Mas tendo em vista que trabalharíamos com tinta, era importante que eles observassem que poderiam usar a cor para construir suas figuras e não ficar apenas utilizar a cor preta para realizar seus trabalhos.


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Chris Ofili - No Woman, No Cry, 1998

Disponível em < http://www.google.com/culturalinstitute/project/art-project?hl=pt-br > acesso em 10/08/2012

Após verem essa imagem apresentei brevemente outras três: Perseu Liberta Andrômeda de Peter Paul Rubens em 1638. Após o retrato de Maria Dyacova de Dmitry Levitsky de 1778 e finalmente, Sem Titulo de Os Gêmeos de 2010. Falando dessas outras três obras, informei que o corpo poderia ser retratado por inteiro como em Perseu Liberta Andrômeda, uma forma mais clássica de representação da figura humana ou com auto retrato em Maria Dyacova e até mesmo de uma forma mais lúdica, no qual os elementos presentes nos remetem a lembrar do movimento Surrealista, surgido no inicio do século XX, como a obra Sem Titulo de Os Gêmeos. Quando fui apresentar a obra de Os Gêmeos, a professora titular me interrompeu, pois queria falar deles, já que sua filha, por ser grafiteira trazia muito material a respeito deles. Ela comentou que eram dois irmãos que começaram realizando trabalhos em grafite aqui no Brasil, em São Paulo, que vinham da cultura do Hip Hop e que hoje em dia realizavam grafites em muitas cidades ao redor do mundo, que suas obras valiam muito dinheiro.


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Os Gêmeos - S/Titulo (detalhe) – 2010

Disponível em < http://www.google.com/culturalinstitute/project/art-project?hl=pt-br > acesso em 10/08/2012

Após a fala dela, eu complementei dizendo que havia trazido parte desta obra, pois diferente das outras pinturas, nessa havia uma nova forma de concepção da construção da figura humana, podíamos observar a cabeça maior que pendia para o lado, formas humanóides, como a do grande sapo em que varias pequenas cabeças ficavam grudadas em seu torso e as outras formas mais autônomas de se construir o corpo. Falei também que na realidade, a obra é muito maior do que aparenta ser e que na próxima aula iria trazê-la completa. Concluindo minha fala, disse que eles deviam observar as obras e ver as diversas formas como o corpo poderia ser representado, como usar uma parte do corpo e que a cor era importante para trazer mais vida aos trabalhos que eles iriam produzir após a exibição destas imagens. Após a exibição, informei a todos que iríamos nos dirigir de volta à sala de aula e que lá realizaríamos um trabalho pratico. Eles deveriam em uma folha A3 compor uma imagem, em que a figura humana seria o tema central, eles poderiam se ater numa parte especifica do corpo ou nele todo e com isso construir um trabalho plástico. Iriam utilizar tintas guache e poderiam misturar cores para criar novas tonalidades e assim deixar o trabalho mais vivo. Os aconselhei a não usarem muita tinta, que pouco seria muito, já que a folha era fina, poderia estragar um trabalho que eles realmente gostaram de fazer e iria demorar a secar. Chegando à sala de aula os alunos começaram a ficar agitados e então a professora titular disse que ela não iria tolerar que o estágio sofresse pela falta de educação de alguns e que ela enviaria para a supervisão quem não se portasse


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bem. Então todos se acalmaram e expliquei de novo a atividade que iríamos realizar e disse que não havia tintas e pincéis disponíveis na escola para todos e que deveriam ser solidários com seus pares para desenvolver o trabalho. Então os alunos começaram a realizar a tarefa. Uma das alunas, chamada Esther, me perguntou se ela poderia fazer uma mão e um pé, afirmei que sim e que não haveria problema, só pedi que ela não fizesse o contorno da mão dela. Observei que alguns alunos, após ela ter feito a mão, começaram a fazer o mesmo. Alguns alunos demoraram a começar seus trabalhos, pois dependiam do seu colega ao lado para emprestar os pincéis. Um grupo de rapazes à frente da sala pareciam apreciar melhor a atividade, pois ao contrário dos outros, eles não se dispersaram em momento algum, se concentrando na atividade até o final da aula. Um aluno em especial, me chamou atenção, por ser muito ativo dentro da sala de aula, durante minhas observações, seu nome é Marciano. Durante toda a aula ele se concentrou no que estava produzindo e não dispersou a aula como costumava fazer. Ele e seus colegas ao lado trabalhavam em silêncio e usavam os pincéis com muita prática, mesmo os mesmos estando avariados. O tipo de desenho que eles faziam era o Grafite, já havia observado nas aulas que as fontes que esses alunos usavam remetiam a fonte usada pelos Grafiteiros profissionais. Outros trabalhos que me chamaram a atenção foram os de duas alunas que fizeram a mesma posição em que a imagem exibida de Andrômeda de Peter Paul Rubens. No inicio uma apenas havia feito esse trabalho e ao final da aula outra aluna copiou e para não deixar tão claro que era uma cópia do trabalho da colega colocou outros elementos como um olho no lugar em que deveria ser a face do corpo. Talvez para elas tenha sido mais fácil realizar a cópia, tendo em vista que é mais difícil criarmos algo que não esteja impregnado de realidade. Embora estejamos trabalhando com a figura humana, é possível a alterá-la sem que isso desmereça seu trabalho, pois se analisarmos, dentro de um possível trabalho escolar, um trabalho em que não possuímos conhecimento de suas formas, posições, proporções ou etc. e as jogarmos de forma aleatória em uma folha, por exemplo, não terá sentido algum, esse “criar fácil”, um criar gratuito, é desprovido de


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sentimento, pensamentos e etc. ele é o que é, um vazio sem sentido (Ortega y Gasset, 2005).

Peter Paul Rubens - Perseu Liberta Andrômeda, 1638.

Disponível em < http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Peter_Paul_Rubens_-_Andromeda__Google_Art_Project.jpg > acesso em 11/09/2012

A aluna Esther acreditava que seu trabalho com mãos e pés não estava bom o suficiente. Aconselhei-a para que não usasse apenas uma cor de tinta como estava fazendo e sim utilizar outras, como o amarelo para dar destaque ao seu trabalho, para que trouxesse à frente as mãos e os pés que ela havia pintado. Passando ainda pela sala uma aluna disse não ter gostado do trabalho que realizou e queria saber se podia fazer outro. Afirmei que sim e ela então pintou uma perna calçando um tênis All Star. No meio da aula, notei que um dos alunos não estava produzindo por não querer produzir nada em sala de aula. Como eu já havia sido alertada pela professora titular, sabia que esse aluno nunca trabalhava nas aulas de artes e


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sempre atrapalhava o grande grupo. Com o passar da aula, quase ao final ele estava produzindo, provavelmente, porque todos estavam concentrados em suas


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3.3.2. Segundo Encontro Numero da aula: 02. Data: 02/10/2012 Duração: 1 hora. Serie: 1º ano Ensino Médio. Conteúdo: Escultura, pintura, corpo humano. Lista de atividades: 

Apresentação de imagens da figura humana em PowerPoint para a turma.

Discussão professor-aluno e aluno-professor a respeito da imagem do corpo humano ao longo da história da arte e comparado a hoje em dia.

Elaboração de um resumo sobre o que foi discutido em sala de aula e a opinião dos alunos acerca do assunto debatido em aula.

Encerramento da aula.

Objetivos específicos: 

Discutir a respeito da importância da figura humana na arte.

Estabelecer comparações a respeito das figuras construídas ao longo da história da arte.

Desenvolver a reflexão através do debate a respeito da imagem do corpo humano na arte e na atualidade.

Metodologia: expositiva dialogada. Materiais: 

PowerPoint.

Avaliação: Será avaliado o diálogo estabelecido na sala de aula entre alunos e alunos ou professor e aluno. Os pensamentos desenvolvidos a cerca do corpo, e da arte pelos alunos também serão avaliadas finalizando com um trabalho escrito.


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Planejado: Começarei a aula fazendo uma apresentação de imagens de esculturas e pinturas da figura humana ao longo da história da arte e a imagem dos trabalhos produzidos na aula anterior. Com as imagens que eles produziram, espero poder estabelecer relações com as imagens artísticas, e assim os questionarei sobre o que pensam a respeito da figura humana na arte e porque nos representamos tanto. Que pensamento os antigos poderiam ter a respeito do corpo humano e que pensamentos temos hoje em dia? Irei fazer apontamentos sobre como os corpos humanos estão sendo apresentados, desde a questão física até emoções que pudessem ser expressas através do movimento corporal, então pedirei que eles falem o que pensam a respeito destas imagens. Faltando dez minutos para o término da aula, pedirei que elaborem um resumo sobre o que discutimos nesta aula e o que eles pensam individualmente a respeito da imagem do corpo humano hoje em dia.


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Realizado A aula iniciou com os alunos entrando um pouco agitados, pois como é o quarto período, eles voltam do recreio mais agitados. Todos se sentaram na sala de vídeo com um caderno e lápis em suas mãos. Informei que nesta aula iríamos olhar algumas imagens e discutir a respeito delas e que eles deveriam anotar o que fosse dito tanto por mim como por seus colegas. Informei que iríamos discutir a respeito do corpo humano. Comecei questionando o porquê do fascínio do ser humano em se retratar, e eles ficaram calados. Insisti novamente, mas eles não responderam. Então eu disse que, pessoalmente, eu acreditava que nos retratamos, pois somos curiosos a respeito de nossos corpos, tanto do meu quanto do outro, e essa curiosidade em se auto descobrir e pensar a respeito de qual nosso objetivo no mundo, qual nosso lugar, são algumas das hipóteses que podemos levantar a respeito do fascínio que a figura humana possui sobre nós. Comecei mostrando uma imagem de Henry Moore, em que os alunos ficaram desconcertados, pois a figura aqui retradada é muito diferente de obras clássicas. Escolhi essa imagem por ser uma figura construída fora desses moldes e que instigaria a visão deles a respeito de como o corpo pode ser retratado nas artes visuais e que isso poderia se refletir em seus trabalhos, em que o academicismo não seria a única alternativa. A leitura que os alunos fizeram dessa obra foi de um homem realizando sexo oral com sua parceira. Essa leitura me surpreendeu, pois eu nunca havia visto desta forma. Sabemos que Henry trabalhava muito com a figura feminina, mas nunca havia parado pra pensar nessa possibilidade. Tentei argumentar que não conseguíamos enxergar o resto da escultura, mas mesmo assim todos concordaram que era um casal mantendo relações sexuais.


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Henry Moore, Reclining Figure: Hand, 1979 Disponível em < http://www.henry-moore.org/works-inpublic/world/germany/hamburg/moorweide/reclining-figure-hand-1979-lh-709 > acesso 24/09/2012

Prossegui a aula mostrando outras imagens e, quando apareciam nus masculinos todos riam por ficarem constrangidos, comentavam da sexualidade, como se o homem exposto nu fosse sinal de homossexualidade, o que por sinal contrasta totalmente quando viam um nu feminino. Como quando apareceu a Venus de Urbino, em que todos pediram para parar ali e ficaram admirando, mesmo algumas meninas fizeram comentários negativos a respeito dessa imagem. A aula prosseguiu com muitos comentários desnecessários, principalmente por um aluno em especial chamado Guilherme que fazia comentários inapropriados, com teor sexual exacerbado, ou mesmo comentários preconceituosos, dispersando todos da turma. Ele falava mal das esculturas, ficava batendo numa colega. Não o expulsei da sala por não querer perder muito tempo com ele já que teriamos apenas um período por semana.


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Vênus de Willendorf, 24.000 e 22.000 a.C. Disponível em < http://www.infoescola.com/arqueologia/venus-de-willendorf/ > acesso em 05/08/2012

Enquanto passávamos por imagens de mulheres nuas, tanto na pintura quanto na escultura, esta imagem surgiu na tela e as reações não foram positivas. Perguntei por que e uma aluna disse que ela era gorda demais. Outro aluno apontou para os seios que para ele pareciam seios de mulher velha. Respondi prontamente que a idade chegaria para todos e que analisando essa pequena escultura dentro do seu tempo, os seios representavam alimento, os quadris largos, fertilidade. Complementei que esses eram símbolos de feminilidade na época, não que os corpos devessem ser assim, mas que espiritualmente a mulher era retratada assim, tal como o homem era retratado com um grande falo. A mesma aluna que disse ela estar gorda dizia: “Mas ela ainda sim é gorda”. E eu respondi: “E qual é o problema dela ser gorda? E a aluna não soube responder. Fiquei surpresa por ouvir esse comentário ter vindo de uma aluna que não se enquadra nos padrões de beleza vigentes de nossa época. Disse a eles que a mulher era adorada justamente por ser portadora da vida, que a concepção era um mistério e a mulher era a única que detinha esse poder, ela dava a vida e alimentava.


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Ticiano Vecellio - Venus de Urbino 1538 Disponível em < http://www.backtoclassics.com/gallery/vecelliotiziano/thevenusofurbino/ > acesso em 05/08/2012

Fiquei impressionada com esse pensamento, pois a mesma já vinha apontando para as saliências nas barrigas femininas como na Venus de Urbino de Tiziano, A Primavera de Botticelli e Alegria de Viver de Matisse. Ela apontava para estas imagens como se fosse uma desfiguração total do corpo da mulher, quando na realidade esse é o corpo feminino em toda sua naturalidade e não o esqueletismo que pregamos desde o século XX, quando, conforme Sandra dos Santos Andrade (2002, p.25) tornamos o corpo um artefato do mercado econômico/sócio/cultural.

Gian L. Bernini – Hermafrodite, 1516 Disponível em http://expo-escultura.blogspot.com.br/2010_05_01_archive.html > acesso em 19/08/2012


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Quando esta imagem apareceu na tela, chocou a todos, uns riram para disfarçar o constrangimento e só conseguiam ver o pênis de Hermafrodite. Perguntei se eles sabiam quem essa escultura representava e uns falaram a palavra travesti, “outros Hermafrodite”. O fato é que essa imagem, embora planejada para aparecer num momento mais tardio nesta aula, apareceu em um momento aleatório em estávamos vendo nus femininos e eu estava explicando que muitas vezes o seio é mais representado na arte por ser uma parte do corpo da mulher que exala feminilidade, muito mais que a genitália feminina e que no caso do homem é o pênis, e quando troco de imagem, aparece esta. Devido ao choque achei melhor não analisar profundamente esta imagem. Arrependi-me muito, depois, pois poderíamos falar naturalmente sobre algo que existe na natureza. Mas já que os alunos não sabem que estão tendo aula com uma professora transexual, pretendo levar esta imagem novamente, junto com outros trabalhos mais contemporâneos como os que encontrei de Diogo Dourado em que ele trabalhou a imagem da travesti. Quando apresentei a próxima imagem para a turma, os alunos negros da sala gostaram. Informei que essa era a representação de uma Vênus, pois diferente das mulheres santas, esta não estava coberta, tão pouco acompanhada de Jesus. Um aluno chamado Guilherme (em especial), realizou um comentário afirmando que seu pai disse que mulheres negras “não possuíam fundo” e rira disso. Após dizer estas palavras, os alunos negros da sala de sentiram extremamente ofendidos e eu censurei o aluno Guilherme. Afirmei que achava esta imagem muito bonita, pois durante muito tempo e pelas imagens que vimos, apenas observávamos que as Venus eram brancas de cabelos e olhos claros. Continuando minha opinião pessoal, achava que a cor negra nesta imagem mostra que mesmo naquele tempo, quando a escravidão de pessoas negras começou, o preconceito contra a cor negra ainda não estava tão enraizado, ainda mais na Europa.


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Antico - Venus Felix , 1495

Questionei a turma sobre o que eles achavam desta imagem, tão antiga e ainda representando uma mulher de pele negra. Os alunos disseram que gostaram da imagem, que diferente das outras esta não estava tentando esconder seu corpo, sua genitália. Devido ao comentário infeliz do aluno e diante de alguns comentários negativos a respeito dos corpos femininos eu pedi que para a próxima aula todos trouxessem imagens dentro das artes visuais nas quais pessoas que sofrem preconceitos estejam retratadas, negros, índios, travestis, mulheres, idosos, gordos e etc. Esta aula não atingiu os objetivos propostos, pois eu tentava instigar os alunos a falarem das imagens que viam, mas eles ficavam mudos e não era essa a proposta dessa aula. Embora os alunos não tenham se manifestado muito, tenho certeza que foi meu erro não ter instigado mais profundamente, pois queria que eles percebessem e discutissem a respeito das imagens. Após o comentário racista, consegui enxergar o caminho a seguir dentro da sala de aula para tratarmos do


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corpo humano. Acredito que uma aula em que eles exponham tais imagens e falem o porquê da escolha delas abrirá uma discussão melhor acerca do corpo humano na arte e na vida deles. Usando as artes visuais para tratarmos de questões como racismo, disformia corporal, identidade de gênero, papel social entre outros diversos tipos de preconceitos existentes na sociedade e que através da escola podemos tentar

melhorar

isso.


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3.3.3. Terceiro encontro Numero da aula: 03. Data: 09/10/2012 Duração: 1 hora. Serie: 1º ano Ensino Médio. Conteúdo: figura humana, pintura. Lista de atividades: 

Grudar imagens no quadro negro.

Seleção de algumas imagens a serem conversadas.

Explicações pelos alunos sobre as imagens escolhidas.

Debate entre a turma sobre os corpos das imagens.

Proposta de reflexão de uma atividade plástica para as próximas aulas.

Encerramento da aula.

Objetivos específicos: 

Desconstruir e construir um outro pensamento sobre o preconceito.

Usar a arte como artifício para discutir o corpo humano.

Apresentar corpos que sofrem com o preconceito na sociedade.

Metodologia: expositiva e dialogada, debate e reflexão Materiais: 

Imagens que os alunos trarão.

Avaliação: Avaliarei o cumprimento da atividade proposta ao final da aula anterior e do dialogo planejado para esta aula. Avaliarei a fala de cada aluno a respeito das imagens que trouxerem, o que pensam a respeito das mesmas e como se expressam em suas falas.


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Planejado: A partir dos comentários a respeito do corpo na aula passada, irei pedir para que todos os alunos grudem no quadro negro as imagens que pedi para trazerem retratando na arte os corpos de pessoas que sofrem algum tipo de discriminação social. Após eles grudarem as imagens, vou olhá-las e selecionar silenciosamente três imagens que sejam distintas e pedir que quem pesquisou e trouxe aquela imagem venha falar sobre ela, do porque selecionou esta imagem, o que podemos discutir em cima dela. A partir do que o aluno falar, irei relacionar com os tempos que vivemos atualmente e apresentar algum artista que tenha trabalhado com esse assunto. Como no caso de Diego Dourado que trabalhou com imagens das travestis e a prostituição ou mesmo Heitor dos Prazeres que trabalhou a cultura negra enquanto estava vivo. Ao final da aula, pedirei que eles escolham uma das imagens debatidas e reflitam a respeito dessas e como eles poderão tratar o assunto de forma plástica para as próximas aulas.


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Realizado A aula iniciou agitada, como os alunos estavam voltando do recreio creio que é mais difícil eles voltarem a se concentrar, ainda mais em uma disciplina que não tem como foco usar a racionalidade apenas. Isso os confunde, não deixando que desenvolvam um bom trabalho na disciplina de artes, que tende a ser uma disciplina mais “livre” em pensamentos e atitudes. Isso os faz relaxar para a próxima disciplina, que uma disciplina exaustiva, matemática. Assim que cheguei à mesa do professor, o aluno Wellington veio até mim e questionou se havia algum problema em ele ter desenhado a imagem que eu pedi que imprimissem. Pedi que trouxesse e disse a ele que não havia problema algum e que eu havia gostado do seu desenho. Fiquei realmente fascinada pelo seu desenho, no qual ele havia trabalhado com sombreamento através do esfumaçado, embora tenha abusado da técnica no topo da cabeça, e linhas que deram volume à roupa que a mulher vestia. Outro aluno chamado Carlos, havia selecionado uma imagem do final do século XIX de Paul Gauguin. Perguntei se mais alguém havia realizado a atividade que pedi na aula anterior e que havia sido reforçada no dia anterior pela professora titular da disciplina de artes. O restante da turma disse não. Então resolvi continuar o que havia planejado e pedi que os dois alunos viessem à frente e comentassem porque escolheram tal imagem. O primeiro a falar foi o aluno Wellington, dizendo que foi a primeira imagem que conseguiu localizar. Disse a ele que esta não era uma resposta aceitável, pois ele havia se dado ao trabalho de desenhá-la. Então ele fez um novo discurso dizendo que havia gostado das formas da mulher e que seria algo legal de desenhar, e que, assim, faria um desenho fora do universo japonês que ele estava acostumado a desenhar. Então ele disse que como o exercício consistia em selecionar uma imagem de uma pessoa que sofre preconceito em nossa sociedade, ele resolveu pegar a imagem de uma mulher negra. Nisso o aluno Guilherme mais uma vez tentou desvirtuar a aula falando mal do trabalho do colega, questionando porque ele não pintou ela de preto já que era uma mulher negra. Cortei sua fala dizendo que eu havia gostado muito do trabalho do Wellington e que ele fez o melhor que podia, diferente dele, Guilherme, que não havia realizado a tarefa e


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ainda por cima debochava do trabalho alheio. Ainda frisei que sua atitude estava errada, que deveria ter mais sensibilidade com os outros.

Trabalho do Aluno Wellington FONTE: FROES, 2012

Após a apresentação de Wellington, o outro aluno que trouxe a imagem, Carlos, mostrou uma reprodução na qual uma mulher de pele escura estava deitada de bruços numa cama e olhava para o espectador. Pedi para ele falar a respeito da imagem que escolheu, mas ele estava tímido demais para se apresentar na frente de todos os seus colegas. Então, peguei a reprodução que ele imprimiu e trouxe e perguntei a ele quem havia feito ela. Ele disse que não sabia de quem era, que apenas procurou na internet e veio esta imagem. Informei a ele que quando ele havia me mostrado essa imagem eu já havia visto em outros lugares. Disse que não poderia dizer o nome correto dela naquele momento, mas que o artista que a compôs era chamado de Paul Gauguin, um artista que retratou diversas mulheres nativas, não do Brasil, mas de outro lugar do mundo. Continuando minha fala, disse que embora a imagem seja bem antiga, podemos esquecer por um momento esses dados e nos focarmos apenas na imagem. Perguntei à turma o que eles estavam enxergando na composição. Os alunos falaram da mulher que estava deitada e


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dormindo de forma bem sensual e de uma figura atrás desta que lembrava a morte. Ficaram brincando com a figura da morte, como algo terrível e engraçada ao mesmo tempo. Pronta a matar a pobre mulher que estava deitada e dormindo, davam risadas pois, segundo eles, a forma como a morta olhava era engraçada, seus olhos pareciam saltar para fora e ela não era bonita. Lembraram também que a morta tinha pele escura, tal qual a mulher deitada. Os alunos ficavam brincando com o fato da mulher deitada estar nua e de bruços. Fiquei questionando se a mulher estava mesmo dormindo (pois na pintura ela está olhando o espectador) e eles afirmaram que sim. Questionei isso diversas vezes, mas elas não conseguiam perceber que ela esta acordada. Talvez pela impressão não possuir uma boa qualidade não conseguiram perceber que os olhos dela estavam abertos.

Paul Gauguin - O espírito da morte espreita, 1892

Disponível em < http://www.pinturasdoauwe.com.br/2013/01/obras-de-gauguin.html > acesso em 10/08/2012

Então após a leitura da imagem, perguntei à turma se a arte não contribuía para alguns estereótipos sobre os corpos humanos, e não obtive respostas. Tentando trazer isso à tona questionei sobre pessoas negras não estarem muito na mídia. Como exemplo, citei que pessoas negras na televisão brasileira, até bem pouco tempo, interpretavam somente papeis de pobres, marginais, ou empregadas domesticas. Então os alunos deram nomes como Beyonce, Jay-z, Tais Araujo que estavam na mídia, mas concordaram que o número é bem menor quando


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comparamos com atrizes e cantoras de pele clara. Depois, questionei sobre pessoas acima do peso e perguntei porque delas não estarem na mídia. Então o aluno Guilherme começou a falar nomes de pessoas na mídia gordas, como Gilberto Barros, Faustão, Jô Soares e eu disse: “Ok, mas todos esses que tu me citou são homens, e as mulheres?”. Então a aluna Ester disse que era machismo, embora existisse a Adele, a mesma havia emagrecido desde que atingiu o sucesso. Os meninos nessa hora começaram a ficar agitados, falavam muitos nomes de pessoas, outros ficavam desvirtuando o propósito da aula, mas o que era importante, enfatizava, era perceberem como a arte, desde os primórdios, reflete aspectos que são comuns em outras linguagens como a poesia, musica ou literatura para o que é belo no corpo e o que não éEu disse que podíamos enxergar, como durante as exibições das imagens na aula passada, diversas formas de como a mulher foi e é representada na arte, principalmente a representação mais clássica, em que o corpo passa a ser um objeto de deleite, separa a mulher de bem, casta, virgem, mãe e a mulher mais sexual. Com essa afirmação pedi que pensassem a respeito de algo que, à primeira vista, pode parecer supérfluo, mas não é, como por exemplo a imagem feminina quase sempre estar ligada a algum tipo de erotismo, isso quando a imagem não se torna obscena. A aluna Esther fez um comentário pertinente ao que quero trabalhar com eles, em que ela estabelece diferenças entre a beleza americana e a beleza brasileira. Segunda ela, lá fora mulher magra é sinal de beleza, enquanto que aqui o padrão é a “gostosa”, com curvas, quadril, cintura fina e busto. Falou também que era preconceito dos homens não gostarem de mulheres gordinhas e que como ninguém quer ficar sozinho, as mulheres se submetem muitas vezes a emagrecer muito para tentar conquistar alguém. Um dos meninos lembrou de coisas que eu li na internet sobre as mulheres mais bonitas e com melhor aparência gerarem filhos melhores. De fato, essas características são marcantes, mas os lembrei de que padrão de beleza é mais cultural do que biológico. Ora, como? Nós nos cobrimos, criamos jogos de esconder ou mostrar, usamos maquiagem, cortes de cabelo, tudo isso com o intuito de agradar o olhar daqueles que pretendemos seduzir. A biologia explica a grosso modo certos padrões universais, mas ela não explica o porque de certos padrões se alterarem em certas civilizações (Castilho, 2001). Como no caso do Brasil e Estados Unidos, que possuem padrões de beleza diferentes.


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Minha conclusão a respeito dessa aula foi de que, houve muito transtorno nas aulas. Muitos alunos falaram comentários desnecessários e quase uma briga quando fui falar com eles sobre a imagem de Paul Gauguin, quando, pois o aluno Guilherme novamente havia feito um comentário racista e isso irritou seu colega Bruno. Pedi que todos se acalmassem e disse que ser negro não era motivo de vergonha ou deboche, que apenas pessoas pequenas possuíam este pensamento e que certamente esse não era o pensamento real de Guilherme, que só queria chamar a atenção sabe-se lá porque. Com essa resposta ele ficou quieto e a turma riu dele. O tempo foi realmente curto nesta aula, os alunos demoraram em se organizarem, ficaram de conversas paralelas. Tive que interromper diversas vezes a aula para fazê-los voltar à aula de arte. Começo a perceber que terei que trabalhar de uma forma mais incisiva, muito além da representação da figura humana e sim considerando na conversa com os alunos, discussões sobre do corpo, identidade e do preconceito social, apresentar artistas que sofrem com alguma deficiência ou mesmo são diferentes dos demais sem nenhuma necessidade especial. Não consegui apresentar os artistas que pretendia trabalhar nesta aula, pois eles não deixaram devido a tanta bagunça, espero poder usá-los nas próximas aulas, pois além do tempo ser curto, há assuntos básicos que eles não conseguem discutir, como a cor da pele do próprio colega ou o sobre peso do outro ou mesmo diferenças de gênero feminino ou masculino. Provavelmente há muitas questões que gostaria de levantar com eles e fiquei confusa ao propor muitas reflexões de diversos gêneros ao invés de me ater ao básico e ir trazendo para eles, de forma gradual, outras informações. Ao final posso afirmar que os objetivos foram atingidos parcialmente, utilizei a arte como artifício para debatermos questões de preconceito social, acredito que mesmo que todos os alunos não tenham participado, o tema tratado nesta aula tenha ficado dentro da memória de algum deles. É importante frisar que o que proponho com os objetivos da aula talvez não levem a um resultado imediato.


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3.3.4. Quarto encontro Numero da aula: 04 Data: 16/10/2012 Duração: 1 hora Serie: 1º ano do ensino médio Conteúdo: Figura humana, recorte e colagem. Lista de atividades: 

Informar como será a atividade planejada para esta aula.

Informar como devem efetuar a seleção de imagens para um trabalho mais proveitoso.

Levantar questões enquanto realizam o trabalho plástico sobre o corpo na arte, hoje em dia e etc.

Auxiliar os alunos quanto aos recortes, que intervenções poderiam realizar.

Organização da sala de aula.

Objetivos específicos: 

Preparar o olhar sobre o fazer artístico para a construção de uma figura tridimensional.

Desenvolver a imaginação.

Desenvolver uma nova concepção social a respeito do corpo humano.

Metodologia: Pratica Artística, Debate e Reflexão. Materiais: Revistas, tesoura e cola. Avaliação: Irei avaliar a partir de como se dará a construção do trabalho de recorte e colagem. Será avaliada a qualidade plástica do trabalho, as características individuais de cada um, como interferências, se ficou bem recortado e colado. Avaliarei também o que eles irão verbalizar a respeito de seus próprios trabalhos e de seus colegas e que sentido eles darão para os corpos construídos.


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Planejado: Conforme foi solicitado no final da aula anterior, os alunos deveriam em casa, selecionar varias imagens de pessoas e pensar em como poderiam reproduzir isso de forma plástica. Os mesmos deveriam trabalhar em cima de pessoas tidas como marginalizadas pela sociedade, ou seja, pessoas que são discriminadas justamente pelos corpos que possuem. No inicio da aula, irei informá-los de que irão trabalhar com recorte e colagem e que terão esta aula (16/10/2012) e outras duas (30/10/2012) para desenvolverem o trabalho, já que este consiste em, primeiro, procurar as imagens que desejam transportar para o papel, depois recortá-las, montar a imagem que eles desejam compor, analisar se foi uma escolha correta ou não e finalmente efetuar a colagem. Informarei

que

poderão

utilizar

intervenções

como

lápis,

canetas

esferográficas, hidrográficas, tinta, lápis de cor entre outros materiais que queiram utilizar. Após a explicação sobre a atividade de recorte e colagem, informarei que essa atividade deverá servir como auxilio para eles pensarem a respeito do corpo na arte, sobre como este pode ser representado, de que forma ele será representado (gordo, magro, amarelo, homem, mulher e etc.) e porque foi representado de tal forma. Ao longo da aula, irei passar entre os alunos para observar o que estão realizando. Ao final da aula irei solicitar que entreguem os trabalhos e que irei leválos e trazer novamente na próxima aula.


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Realizado Antes de a aula iniciar pedi à professora que me auxiliasse a buscar as revistas para os alunos realizarem a seleção de imagens para depois recortarem as mesmas. A aula iniciou novamente de forma agitada, mas pouco a pouco os alunos foram se organizando. Após se organizarem, perguntei quem havia realizado a tarefa que eu havia solicitado na aula anterior, somente um aluno respondeu positivamente, Carlos. Já pensando na possibilidade dos alunos não levarem imagem alguma, eu havia planejado esta aula para que eles começassem a selecionar imagens da figura humana em revistas. Mas caso já as trouxessem poderiam começar a pensar em como reformulá-las no espaço da folha A3. Como não levaram as imagens solicitadas, resolvi não distribuir as folhas e pedi para eles que somente selecionassem as imagens de corpos humanos, e que depois iriam realizar outra tarefa: a de dar um novo corpo para os corpos que escolheram a partir das imagens nas revistas. Uma aluna perguntou se era pra escolher apenas uma imagem, eu disse que não, mas sim várias imagens. Após essas instruções, os alunos foram pegando as revistas que estavam sobre uma mesa para trabalharem. Logo em seguida, notificaram-me que eram revistas apenas de decoração. Pedi calma para a turma e que fossem olhando as revistas lentamente à procura de representações da figura humana. Percebi que isso transtornou a aula, pois as revistas disponíveis na escola eram de decoração e não revistas em que figuras humanas fossem o foco, tais como Boa Forma, Capricho, Vogue e etc. os alunos tiveram que ficar catando figuras, o que tolheu boa parte do exercício original, pois não havia uma liberdade sobre as escolhas das figuras. Errei em pensar em que escola teria esses recursos, por minha culpa, meu planejamento iria atrasar. Seria necessário levar na próxima aula revistas que contenham bastantes figuras. Muitos alunos não se concentraram na atividade e ficaram realizando o trabalho de outra disciplina. Fiquei então circulando pela sala de aula e haviam alguns alunos que ficavam mexendo no celular ou dormindo. Não enxergo isso de forma positiva, pois parte destes alunos são os que dispersam a turma, não realizam tarefas, não participam das aulas e menosprezam as artes em suas vidas.


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Por outro lado, parte dos alunos estavam procurando o máximo de imagens da figura humana. Enquanto trabalhavam, escrevi no quadro uma pergunta que deveria guiá-los durante a execução do trabalho. Disse também que deveriam pensar a respeito dela, pois, no final do trabalho, iriam escrever uma resposta para a pergunta. A pergunta foi: “A arte é vitima, culpada ou cúmplice sobre o preconceito que temos pelas formas dos corpos?”. Essa pergunta foi baseada nas minhas leituras, nas quais Jeudy (2002) traz esta questão dentro de seu livro “O corpo como objeto de arte”. Enquanto discutia a respeito dos padrões de beleza do corpo, em que muitas vezes o feio nos parece belo, pois dependerá dos sentimentos que colocamos diante daquele corpo em nossa frente, e que isso cabia diretamente com o que falamos brevemente na aula anterior, na qual discutimos sobre certos padrões de beleza impostos pela sociedade brasileira e o que eles achavam ou não bonito. Após terminar de escrever no quadro, os alunos me perguntaram o porquê da pergunta e respondi que deveriam lê-la, pensar e refletir a respeito da questão durante a execução da atividade, e que como exercício final iriam escrever a respeito do que pensavam da arte na cultura do corpo em que vivemos atualmente, que conforme Romais (2001, p.66) “a grande aceitação e consumo da imagem erótica [...] fizeram da imagem sedutora do corpo [...] uma atividade mercantil de ponta”. Queria saber qual a opinião que eles têm a respeito da responsabilidade que a arte carrega quando tratamos do corpo, relembrando as imagens que vimos algumas aulas anteriores, o que podiam falar a respeito disso. Alguns alunos ficaram incrédulos, pois teriam que escrever numa aula de arte e eu respondi que sim, que estávamos já discutindo isso e eu queria saber o que eles pensavam na forma escrita, já que como havia observado na aula anterior eles não se concentravam para conversar, distorcendo o foco da aula o tempo todo. Esse comportamento talvez se deva a própria vergonha de falar abertamente sobre o corpo e as gracinhas ditas por alguns alunos vem a tolher colegas, evitando que eles construam um pensamento mais maduro além daqueles ensinados em aulas de biologia ou na própria internet. Eles são muito jovens ainda, é normal que sintam vergonha. É um momento de descoberta da sua identidade, de brincar com ela, descobrir quem se é o que gosta e o que não gosta. É uma fase complicada para os adolescentes. Por isso acredito que meu tema é interessante para eles, pois trata disso, do corpo, das diferentes tribos que existem em nossa sociedade e o que podemos fazer para


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melhorar nossa visão sobre tribos que as vezes não parecem estar de acordo com a nossa realidade, mas são reais. Acredito na importância do trabalho escrito também como outra forma de construção do conhecimento. A tarefa da escrita não deve se restringir apenas às aulas de Literatura ou Português. Os alunos já não estão no ensino fundamental e soube através deles mesmos que muitos já trabalham, um motivo a mais para afinarem seus conhecimentos, e a arte pode auxiliar na construção do conhecimento, já que nela podemos abordar diversos assuntos, muito além de técnicas, artistas e períodos históricos, mas ao mesmo tempo englobando tudo isso. No caso das nossas aulas, trabalhamos a imagem do corpo, não como forma de enfatizar preconceitos, mas também de desconstruir ideias que para eles existem por existir. Eles não estão acostumados em debater em busca de hipóteses e sim crêem ser verdade coisas ditas pelos meios de comunicação como a televisão, o radio, as revistas ou outros veículos de comunicação que imputam “verdades” sobre o corpo e a representação dele dentro do nosso mundo. Os alunos aceitam os modelos pré fabricados do corpo em nossa sociedade como se estar gordo fosse errado, ser uma figura andrógina também, ou mesmo a cor da pele como forma de catalogar uma pessoa. Prosseguindo com a aula os alunos ainda estavam tendo dificuldades para desenvolverem a atividade. Passando pela turma fui conversar com Carlos, um dos meninos da turma que gostam de ficar desenhando em sala de aula e que por sinal havia trazido imagens que ele achou na internet. Ele havia impresso varias imagens de corpos seminus de mangá. Fiquei impressionada e disse a ele que ele poderia trabalhar como intervenção do corpo, tatuagens, que são figuras impressas no corpo e que denotam muita autonomia. Talvez por isso o preconceito com o corpo em relação às pessoas tatuadas, pois elas assumem em seu próprio corpo sua identidade. Demonstram, em figuras quem são, e isso intimida muitas pessoas ao mesmo tempo em que é algo um tanto sedutor. Ele ficou olhando para a imagem sem entender como poderia realizar. Na próxima aula irei levar para ele imagens que mostrei na segunda aula em que dois artistas, Laura Spector e Chadwick Gray usam o corpo como tela para realizarem suas pinturas.


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Não fiquei analisando muito as imagens que os alunos selecionavam, tendo em vista a dificuldade que tinham em achar figuras humanas. Um dos recortes efetuados foi a escolha da cabeça de mulher, uma boca e um bebe que provavelmente a aluna Ester irá usar na sua composição, pois não é possível perceber que a imagem possui olhos (embora esteja usando um binóculos), o contraste de cores do cabelo vermelho e o binóculos verde, o tamanho da imagem em que há uma boca recortada é maior do que a da cabeça da mulher me dando a impressão de que será uma composição interessante devido a esses contrastes de tamanho e formas. O aluno Guilherme ficou mais concentrado nessa aula, diferente das anteriores em que ele se dispersava bastante, ficou concentrado em realizar a tarefa. Olhando para o que os outros alunos estavam fazendo, o aluno Alisson estavam desenhando ao invés de procurar imagens, ao contrario dos alunos que não estavam trabalhando devido a falta de imagens, Alisson estava desenvolvendo algo que faz parte de uma aula de artes, o desenho e por isso não havia motivo para pedir a ele que realizasse o que eu havia proposto inicialmente. Logo após observálo, o aluno foi até a mesa do colega Carlos e começou a reproduzir o desenho. Estava tendo dificuldades e ap.ando muito seus traços, dei a ele um lápis 6b, pois queria que ele tentasse desenhar com outro tipo de grafite, um grafite mais macio, ao contrario do HB que é mais duro, e disse para evitar ap.ar, pois isso só marcaria a folha e estragaria o desenho final.. Que realizasse o esboço de forma bem leve com o 6B, em que trabalhasse com tons de cinza e aos poucos fosse escurecendo o traço conforme estivesse seguro das proporções da figura e que também começasse a firmar mais as linhas do corpo que estava a desenhar. Outro aluno que fiquei observando foi o aluno Bruno, que ficou muito concentrado na atividade. Assim como todos estavam tendo dificuldades, ele estava a procura de alguma imagem com corpo, e ficou recortando meticulosamente esta imagem, para que seu recorte no contorno do corpo ficasse perfeito. Eu espero um bom trabalho dele, tendo em vista ser um aluno que participa da aula de forma positiva. Por fim, a aluna Alexandra realizou a tarefa e disse que já havia selecionado as imagens que queria colar. Informei a ela que então, na próxima aula, ela iria colá-las. Mas pedi também que na próxima aula desse uma olhada em outras figuras para ter certeza de que eram apenas essas imagens que ela iria trabalhar. Faltando alguns minutos para o final da aula, pedi que recolhessem o lixo que ficou no chão devido aos recortes e colocassem na lixeira. Pedi também que ajudassem a organizar as revistas pegas


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pelos alunos e as empilhassem a fim de levá-las de volta ao local de origem. Finalizei a aula informando que levaria mais revistas na próxima aula e que continuaríamos a realizar a atividade.

Trabalho da Aluna Ester FONTE: FROES, 2012

Trabalho do Aluno Bruno FONTE: FROES, 2012

Acredito que o inicio desta atividade foi proveitoso, pois consegui analisar melhor os alunos que trabalham dentro das atividades propostas e os que não estão nem ai para a aula. Fico temerosa em chamar a atenção destes alunos que não


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trabalham tendo em vista que como são alunos de escola publica possam encarar como algo de forma pessoal e não conseguirem entender a importância de terem aula, de terem a oportunidade de estarem em uma escola. Visto que eles terão dificuldades em compor as imagens ou mesmo seleciona-las, levarei imagens de recorte e colagem desenvolvidos por outros alunos com a mesma temática, corpo humano, para a próxima aula bem como mais revistas. Percebi que a escola carece de recursos básicos como tesouras, cola, materiais essenciais para o desenvolvimento da atividade proposta. Também sei que será muito delicado conversar com eles a respeito do corpo, tendo em vista suas idades e receios, que por sinal devem embaraçar a mente. Ainda penso em uma forma de chamar a atenção dos alunos que não participam das aulas, pois é muito importante que falem sobre o corpo sem medo, pois este assunto, corpo, irá acompanhá-los por toda vida. É uma forma de desenvolver introduzir na escola algo diferente do usual, trabalhar com uma reflexão sobre as diferenças, sejam étnicas, de gênero, físicas e etc. diferenças que eu acredito que devam ser trabalhadas na escola afim de aos poucos construirmos uma sociedade mais justa e igualitária para todos. Pois sabemos que muitas oportunidades não são dadas as pessoas não pela sua pouca formação, mas pela cor de pele, de uma cicatriz, orientação sexual, gênero e etc. A partir da arte, podemos começar a estudar aos poucos as diferenças e formular um outro pensamento, em que o mais importante é o Ser humano e seu caráter e não apenas seu exterior.


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3.3.5. Quinto encontro Numero da aula: 05 Data: 23/10/2012 Duração: 1 hora Serie: 1º ano do ensino médio Conteúdo: Figura humana, recorte e colagem. Lista de atividades: 

Informar como será a atividade planejada para esta aula.

Informar como devem efetuar a seleção de imagens para um trabalho mais proveitoso.

Levantar questões enquanto realizam o trabalho plástico sobre o corpo na arte, hoje em dia e etc.

Auxilio nos alunos quanto aos recortes, que intervenções poderiam realizar.

Organização da sala de aula.

Objetivos específicos: 

Preparar o olhar sobre o fazer artístico para a construção de uma figura tridimensional.

Desenvolver a imaginação.

Desenvolver uma nova concepção social a respeito do corpo humano.

Metodologia: Pratica Artística, Debate e Reflexão. Materiais: Revistas, tesoura e cola. Avaliação: Irei avaliar a partir de como se dará a construção do trabalho de recorte e colagem. Será avaliada a qualidade plástica do trabalho, as características individuais de cada um, como interferências, se ficou bem recortado e colado. Avaliarei também o que eles irão verbalizar a respeito de seus próprios trabalhos e de seus colegas e que sentido eles darão para os corpos construídos.


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Planejado: No inicio da aula irei entregar os trabalhos realizados na aula anterior para que os alunos possam continuá-los. Lembrarei a eles que esta será a penúltima aula em que poderão finalizar o trabalho e que o mesmo deve continuar sendo bem pensado, que não deixem colar imagens “por colar”. Continuarei informando que poderão utilizar intervenções como lápis, canetas esferográficas, hidrográficas, tinta, lápis de cor entre outros materiais disponíveis na sala de aula. Novamente irei explicar sobre a atividade de recorte e colagem, informarei que essa atividade deverá servir como auxilio para eles pensarem a respeito do corpo na arte, como este pode ser representado, de que forma ele será representado (gordo, magro, amarelo, homem, mulher e etc) e porque foi representado de tal forma. Ao final da aula, irei solicitar que entreguem os trabalhos e que pensem a respeito do que realizaram e escrevam sobre porque selecionaram tais imagens, porque este tipo de ser humano foi representado, que importância ele tem para a sociedade e o que a arte tem a ver com ele.


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Realizado O inicio desta aula foi diferente das anteriores, eles não estavam tão agitados. O que me lembrou da conversa que tive anteriormente a aula com a professora titular. Ela disse que eles estavam menos agitados. Talvez o fato de ser o ultimo trimestre e terem tirado notas abaixo da media os tenham levado a encararem com mais seriedade as aulas. Ao menos em realizar as tarefas e entregá-las. Cheguei e cumprimentei alguns alunos e fui a minha mesa retirar as revistas que havia trazido para esta aula. Comecei colocando-as em cima de outra mesa e informei aos alunos que nesta aula não haveriam problemas com a falta de figuras humanas. Pedi que prosseguissem com a seleção de imagens tal como estavam realizando desde a aula anterior. Prosseguindo com a aula os alunos já não estavam tendo o mesmo problema da aula anterior, o de ficar catando imagens de figura humana nas revistas. Passando pela turma fui conversar com a aluna Esther, uma das meninas, que por sinal, tem participação em aula fez um comentário a respeito da revista que tinha um teor evangélico. A primeira vista disse a ela que era o que havia conseguido trazer, mas ai ela percebeu que talvez estivesse criticando e reformulou suas palavras dizendo que gostava do pastor da revista. Fiquei mais aliviada, pois não queria criar uma tensão, já que sei que existem alunos evangélicos em sala de aula e já que tratávamos sobre preconceito, por mais limitado que esteja ao corpo, é importante respeitar a crença alheia, mas sem deixar que isso limite o tema abordado nas aulas de artes. Continuando a aula, diferente da anterior, fiquei mais focada em que tipo de imagens os alunos selecionavam e como eles recortavam as mesmas, para evitar que o trabalho ao final ficasse ruim. Cheguei aos alunos Vanderlei e Ashley e informei a eles que podiam recortar melhor suas imagens, respeitando o contorno do tecido e corpo da figura, para que quando fossem efetuar a colagem não ficassem bordas. Assim o trabalho teria maior qualidade plástica, não ficaria com “cara de mal feito”. A aula seguiu, de um certo modo, tranquila. Isso permitiu que os alunos que faltaram na aula anterior tivessem a chance de realizar o trabalho sem pressa e da


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forma pensada para esta aula. Alguns alunos que já não trabalharam na aula anterior continuaram sem trabalhar. Um aluno em especial me chamou atenção: seu nome é Elton. Cheguei em sua mesa e pedi que iniciasse seu trabalho. Ele disse que estava sem tesoura, disse a ele que então pedisse emprestado para um de seus colegas, pois muitos estavam conseguindo trabalhar, mesmo com poucas tesouras em sala de aula. Nesse meio tempo o aluno Alisson também reclama sobre tesouras e eu disse que material básico eu não iria fornecer. Disse que eles sabiam que iriam continuar trabalhando com recorte e colagem desde a aula anterior, então não havia desculpas para não ter o material. Nisso o aluno Elton pediu para sair da sala para pegar tesouras com a professora titular, e neguei veemente. Então ele saiu e foi buscá-las sem meu consentimento. Quando ele voltou com os materiais, os deixou a disposição da turma. Não consegui notar nenhuma diferença nessa atitude, pois embora o aluno Elton tenha ido buscar os materiais o mesmo não trabalhou, nem sequer pegou uma tesoura para começar a recortar. Essa sua atitude me deixou com muita raiva, não apenas pelo constrangimento que me causou, mas pela falta de razão em reclamar e não fazer nada para mudar sua situação de seu trabalho. De que adianta reclamar da falta de tesouras, ir buscá-las se o mesmo não trabalha? Seguindo a aula percebi que o aluno Guilherme estava mais calmo, ou seja, não estava bagunçando em sala de aula. Ele estava recortando figuras e estava mais concentrado na atividade, conversava com seus colegas, é claro, mas mantinha o foco da aula de artes. Senti uma mudança de atitude, uma mudança para melhor. O que é muito bom para ele do ponto de vista pedagogico. Alunos que pareciam desinteressados como na segunda e terceira aula (só ficaram de conversas paralelas) estavam trabalhando. Observei isso nos alunos Rafaela e Douglas. Ambos por sinal sao um casal de namorados. Passei a observar que os alunos que não trabalhavam em sala de aula ficavam ouvindo musica em seus celulares ou dormindo ouvindo musica. É dificil aceitar que para eles é mais prazeroso o ocio do que o trabalho. Eu não consigo atingi-los e não sei como poderei fazer essa tarefa, que por sinal é minha..


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Um dos objetivos desta aula é trabalhar de forma plástica o preconceito, a todo instante passava pela sala de aula e avisava os alunos disso. Que eles procurasse imagens que pudessem interferir e de que alguma forma retratassem pessoas que sofrem com preconceito físico. Chamado de investigação e solução de problemas, José Carlos Libâneo (2001) propõe que se coloque um “problema” e os alunos busquem uma solução. No caso da aula de artes, a solução se dá através de formas plástica, isso os incentivará no processo criativo e os estimulará a serem mais críticos perante a sociedade. Ao final, essa aula foi mais proveitosa que a anterior devido ao acesso mais fácil a imagens do corpo humano. Os alunos conseguiram atingir certos objetivos como a imaginação e pensar sobre corpo e preconceito. Consegui ensinar alguns como recortar de forma correta suas imagens, de modo que construam, na próxima aula, um trabalho plástico melhor. O comportamento dos alunos me agradou pois estão menos dispersos. Conversam, brincam entre si, mas não deixaram de realizar a atividade proposta. Segundo Ferraz e Fusari (1999) é importante que a disciplina não trabalhe com o que eu pessoalmente chamo “desenho livre”, tudo deve se vincular ao que chamamos de projeto escolar, ou seja, meu projeto possui objetivos e atividades para que esses objetivos sejam alcançados, não é uma atividade gratuita, livre como erroneamente alguns docentes confundem o ensino da expressão em artes. Fiquei pensando na possibilidade de levar materiais para a próxima aula, mas ao mesmo tempo me pergunto se não é importante além do meu trabalho como professora de artes ensiná-los a ter mais responsabilidade dentro do ambiente escolar. Eles não são alunos carentes, muitos trabalham, então é necessário mostrar a eles que no atual momento, suas educações devem vir em primeiro lugar.

Equipamentos sao meios de ensino gerais, necessarios para todas as materias, cuja relaçao com o ensino é indireta. [...] Cada disciplina exige tambem seu material especifico, como ilustraçoes e gravuras, filmes, mapas e globo terrestre, discos e fitas [...] (LIBÂNEO, 2001, p. 173)


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3.3.6. Sexto encontro Numero da aula: 06 Data: 06/11/2012 Duração: 1 hora Serie: 1º ano do ensino médio Conteúdo: Figura humana, recorte e colagem. Lista de atividades: 

Informar como será a atividade planejada para esta aula.

Informar como devem efetuar a seleção de imagens para um trabalho mais proveitoso.

Levantar tópicos enquanto realizam o trabalho plástico sobre o corpo na arte, hoje em dia e etc.

Auxilio aos alunos quanto aos recortes, que intervenções podem realizar.

Organização da sala de aula.

Objetivos específicos: 

Preparar o olhar sobre o fazer artístico para a construção de uma figura tridimensional.

Desenvolver a imaginação.

Refletir sobre o corpo dentro da arte.

Desenvolver uma consciência social a respeito do corpo humano.

Metodologia: Pratica Artística, Debate e Reflexão. Materiais: Folhas A3, giz de cera, lápis 6B, figuras, revistas e cola. Avaliação: A partir de como se dará a construção do trabalho de recorte e colagem, assim como também será avaliada a qualidade plástica do mesmo, as características individuais de cada um como interferências, se ficou bem colado, o que eles irão verbalizar a respeito de seus próprios trabalhos e de seus colegas e que sentido eles darão para os corpos construídos.


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Planejado: No inicio da aula, irei entregar os trabalhos realizados na aula anterior para que os alunos possam continuá-los. Lembrarei a eles que esta será a ultima aula em que poderão finalizar o trabalho e que o mesmo deve continuar sendo bem pensado, que não colem imagens sem que as mesmas tenham sido bem pensadas. Continuarei informando que poderão utilizar intervenções com lápis, canetas esferográficas, hidrográficas, tinta, lápis de cor entre outros materiais disponíveis na sala de aula. Novamente irei explicar sobre a atividade de recorte e colagem, informarei que essa atividade deverá servir como auxilio para eles pensarem a respeito do corpo na arte, como este pode ser representado, de que forma ele será representado (gordo, magro, amarelo, homem, mulher e etc) e porque foi representado de tal forma. Ao final da aula, irei solicitar que os alunos me entreguem os trabalhos e que pensem a respeito do que realizaram e escrevam sobre porque selecionaram tais imagens, porque este tipo de ser humano foi representado, que importância ele tem para a sociedade e o que a arte tem a ver com ele.


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Realizado O inicio desta aula foi diferente da anterior, pois voltei a dar aula para eles após o intervalo, então eles voltaram agitados e estava complicado de iniciarem as atividades. Cheguei e cumprimentei alguns alunos e fui a minha mesa retirar os materiais como folhas A3 e giz de cera para distribuição dos mesmos. Comecei a distribuir para os alunos as folhas em tamanho A3, informando a eles que esta seria a ultima aula para finalizarem o trabalho de recorte e colagem. Disse, também que havia trazido lápis e giz de cera para eles, caso quisessem realizar alguma interferência nas imagens produzidas. Após a distribuição das folhas e dos avisos, comecei a entregar as imagens recortadas para os alunos que haviam realizado a atividade na aula passada, de recortar imagens que iriam utilizar. Então prontamente eles começaram a distribuir as imagens nas folhas de papel. O aluno Elton veio até mim pedindo uma folha e revistas para poder fazer o trabalho. Disse que as revistas que havia trazido eram para auxiliar aqueles alunos que já possuíam imagens e poderiam querer acrescentar e não para alguém que não se mexeu durante todas as aulas. Ainda o lembrei de quando ele foi buscar os materiais para recortar as imagens das revistas com a professora titular, me fazendo passar vergonha e o mesmo nem sequer se deu ao trabalho de realizar a tarefa. Ele prosseguiu perguntando o que era para ser feito e eu disse que não falaria novamente, pois já era a terceira aula dedicada ao trabalho e eu não iria gastar meu tempo com ele. Depois percebi que essa atitude não foi profissional e sim mesquinha, não devia ter perdido a oportunidade de permitir que um aluno realizasse o trabalho simplesmente por ter meu orgulho ferido e sentido raiva naquele momento. Alguns alunos que haviam realizado recortes acabaram não trazendo os recortes da aula passada. Para esses eu distribui as revistas novamente para que realizassem o trabalho. A aluna Alexandra era a que estava mais adiantada. Embora tenha achado seu trabalho simples demais, ela se propôs a falar de forma pertinente nas aulas e realizar as tarefas. Comparado a outros trabalhos o dela é comum, uma mulher branca e loira sentada, ela desenhou a casa onde essa mulher supostamente morava.


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Trabalho da aluna Alexandra (FONTE: FROES 2012)

Um aluno, chamado Wagner, em especial me chamou atenção, não apenas pelo resultado, mas pelo trabalho que estava desenvolvendo. Na primeira aula ele mal trabalhou, selecionou algumas imagens por selecionar e ficou batendo papo com “alunos problema”. Depois na segunda aula, o aluno começou a levar o trabalho mais a sério e não estava tão desligado da atividade como na aula anterior. Acredito também que por influencia do colega ao seu lado, Diego, que por sinal estava interessado na atividade.

Detalhes do trabalho do Aluno Wagner (FONTE: FROES 2012)


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Detalhes do trabalho do Aluno Wagner (FONTE: FROES 2012)

Gostei da disposição das imagens do trabalho do aluno Wagner, em uma posição diagonal, deixando assim o olhar menos pesado, para as figuras em destaque em que uma mulher está vestida com trajes masculinos e um homem com trajes femininos. Apreciei a pequena interferência que o aluno Wagner fez com os contornos do corpo, misturando desenho ao recorte. As imagens me parecem bem recortadas, embora seja possível ver alguns pequenos defeitos, mas nada que atrapalhe a visão. O que é um contraponto a imagem produzida por outro aluno, Alisson, que apenas se deu ao trabalho de recortar uma imagem e colar, sem trabalhar seus contornos e retirar o desnecessário dela. Talvez ele tenha tentado retratar o louvor religioso, mas acredito que haveria outras possibilidades de realização para a tarefa, sem contar que ele estava mais interessado em finalizar um trabalho de outra disciplina do que este.


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Trabalho do aluno Alisson (FONTE: FROES 2012)

Seguindo com a aula, fiquei observando os alunos que estavam produzindo e os que não estavam, alguns alunos como Rafaela e Vinicius que ficavam reclamando da falta de tesoura. Disse a eles para aguardarem um colega usar e pedir emprestado. Como eu havia dito na aula anterior, material básico eu não forneceria. Eu Estava realizando a chamada de alunos quando a professora entrou sorrateiramente na sala de aula sem que eu percebesse. Quando ela percebeu que eu a notei, disse que estava observando minha aula. Eu não senti problema algum nisso e disse que podia ficar à vontade. Então, vendo a dificuldade de certos alunos ela sugeriu vir entregar tesouras que ela possuía para que eles conseguissem realizar o trabalho. Eu disse que eu já havia dito que material básico como lápis, borracha, tesoura e cola eu não forneceria até porque eles tem que possuir estes materiais. Já estávamos no mesmo trabalho há 3 aulas e mesmo assim quem reclamava da falta de material nem sequer estava realizando quando os materiais foram trazidos na aula anterior. A professora tentou argumentar e disse que eles haviam feito uma vaquinha para comprar os materiais. Então eu disse que por mim tudo bem.


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A minha opinião a respeito deste assunto é de que não há necessidade de comprar materiais como estes, pois não era obrigação minha como professora gastar com tesouras. Existe o Estado para fazer isso. Outra coisa, como comprar materiais como estes, quando mais da metade da turma possui smartphones, Tablets e alguns trabalham? O que é prioridade para as famílias e para eles? Talvez não seja o ensino. O que faz com que alguns da própria sala de aula tenham cola e tesoura e os outros não? Não acredito que fornecer materiais, como a professora fez, seja o correto. Obvio que levaria certos materiais mais “exóticos. Por mais que a aula planejada não saia como eu queria, não posso me conformar com isso dando materiais. É fato que isso atrasou alguns alunos? Obvio, mas eles têm que desenvolver certas responsabilidades nesse estágio e no mínimo a dos materiais, pois o resto já é fornecido pelo governo. Eles possuem uma sala de aula, um quadro, uma sala de vídeo, uma quadra de esportes, livros e etc. Não estou dando aula em uma comunidade carente para comprar materiais, sendo que uns 35% (baseado nos 17 trabalhos entregues, de 26 alunos em sala de aula) não produzem durante as aulas de artes. Elton, Vinicius, Larissa, Lilian (que falta muito às aulas), Guilherme e outros não realizaram a atividade, não pela falta de material, mas por não se interessam. Ao final da aula, percebi erroneamente que a única deles que realizou foi à aluna Lilian e isso porque entreguei uma tesoura que a professora titular trouxe. Ela nem sequer se levantou para buscar esse material, mas a mesma realizou a atividade.


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Trabalho da aluna Lilian (FONTE: FROES 2012)

Eu não havia prestado atenção no trabalho dela devido ao seu histórico de faltas e por ela não realizar as atividades e nem falar durante as aulas. Mas quando fui analisar os trabalhos de forma mais profunda em casa, percebi que ela atingiu todos os objetivos propostos, sendo o principal para mim o de retratar uma mulher com corpo gordo. Analisei de novo e percebi que as setas apontavam para esta região do corpo. O rosto bonito talvez seja uma forma da aluna se auto avaliar: embora gorda, tenho um rosto bonito. A tiara talvez represente também a supremacia do corpo mais gordo sobre os demais. Essas questões certamente irão ser levantadas futuramente quando realizarmos uma reflexão sobre os trabalhos produzidos. Concluindo, gostei da simplicidade e objetividade do seu trabalho. Um trabalho muito diferente dos demais, que retrataram em sua maior parte a ambiguidade sexual humana. Esse trabalho realizado pela aluna Lilian me remete à representação das Venus antigas, antes da dominação masculina sobre o corpo da mulher, quando ela era muito mais que uma provedora de descendentes; era responsável pela manutenção da vida de forma sagrada e não era obrigada a usar seu corpo para reproduzir, ela seguia o próprio fluxo da sua natureza (ALMEIDA, 2010). Prosseguindo com a aula, observei que o restante dos alunos estavam empenhados em realizar a atividade. Ainda mais sabendo que era o ultimo dia para a realização da atividade proposta. Aproveitei e dei uma volta pela sala de aula e


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pude observar alunos, como Diego, comporem imagens que no fim se tornam engraçadas ao olhar dos outros. Tudo porque ele recortou uma mão que apontava o dedo indicador para a bunda de um menino, talvez se possa levantar questões de saúde, ou mesmo sexo como tabu. Outro trabalho que observei e para o qual fiquei sem palavras foi a composição da aluna Amanda, em que ela mistura diversas parte de um corpo e cria um novo, representando um ser hibrido, composto de partes femininas como cabelo e pernas e masculinas como a face e o tronco.

Trabalho do aluno Diego (FONTE: FROES 2012)


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Trabalho da aluna Amanda (FONTE: FROES 2012)

Minha avaliação final desta aula é de que os objetivos técnicos ligados a disciplina de artes foram atingidos, pois permitiu que os alunos desenvolvessem sua imaginação e trabalharam com seu olhar no sentido do fazer artístico. Quanto aos objetivos cognitivos, espero que tenham sido atingidos também, e que tenham compreendido a importância de se trabalhar com as diferenças, pois somente assim construiremos uma sociedade mais igualitária e consequentemente melhor. Ainda há um longo caminho a se percorrer dentro das próximas aulas de artes. Espero poder levantar questões sobre arte e corpo utilizando estas imagens e discutir a respeito da diversidade que possuímos no nosso planeta, de como somos diferentes. E que com isso passemos a tratar as pessoas com mais respeito. Não gostei da aula ter sido invadida da forma como foi, pois isso não alterou muito a disciplina e empenho da turma. O que eles precisam é, adquirir certas responsabilidades e enquanto alguns professores ficarem passando a mão em suas cabeças eles não vão compreender a importância de se estar dentro de uma sala de aula. Com a próxima aula espero poder conseguir me integrar mais a turma, pois


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tambĂŠm percebo que embora eles sejam agitados eu preciso conquistĂĄ-los mais, sorrir mais para eles. Para que assim possam confiar em mim e possamos desenvolver um trabalho melhor durante as aulas de artes.


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3.3.7.

Sétimo encontro

Numero da aula: 07 Data: 13/11/2012 Duração: 1 hora Serie: 1º ano do ensino médio Conteúdo: corpo humano, arte renascentista, arte barroca, arte moderna e preconceito racial e sexual, mulher. Lista de atividades: 

Informar como será a atividade planejada para esta aula.

Se dividirem em grupos e se organizarem num semi circulo.

Cada grupo deverá selecionar uma imagem posta em cima das mesas e em cada imagem estará escrita atrás uma palavra.

A partir da palavra o grupo deverá construir um pensamento e a partir dessas os outros grupos podem se manifestar contra ou a favor e o professor será o mediador dessa conversa.

Organização da sala de aula.

Encerramento da atividade.

Objetivos específicos: 

Discutir a respeito da importância da figura humana na arte.

Apresentar corpos que sofrem com o preconceito na sociedade.

Reorganizar o pensamento sobre o preconceito.

Refletir sobre o corpo dentro da arte.

Desenvolver uma consciência social a respeito do corpo humano.

Metodologia: Expositiva e Dialogada, Debate e Reflexão. Materiais: Folhas A4, imagens de reproduções artísticas. Avaliação: Será avaliado o dialogo estabelecido na sala de aula entre alunos e professor e alunos com alunos, bem como as observações pertinentes ao objeto de estudo. As


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comparações realizadas pelos alunos também serão avaliadas e assim como os pensamentos desenvolvidos ao longo do período. Planejado: No inicio da aula pedirei para a turma se dividirem em cinco grupos de aproximadamente cinco membros e formem um semicírculo na sala de aula, darei cinco minutos para que realizem esta atividade. Enquanto se organizam, irei juntar algumas mesas e colocarei algumas imagens artísticas viradas para cima da mesa, de forma que eles possam enxergar essas imagens. Atrás de cada imagem estará alguma palavra chave, em que cada grupo terá que desenvolver um pensamento a respeito da palavra. Estas palavras chave serão: arte, sexo, sexualidade, corpo e discriminação. As imagens artísticas terão como finalidade guiar o pensamento dos alunos, para que não fiquem desnorteados quando forem construir algum tipo de pensamento. As palavras chave e imagem deverão nortear o pensamento de cada grupo, mas elas não estarão isoladas, embora cada grupo levantará um pensamento a respeito da palavra que pegou, os outros grupos poderão complementar com as outras palavras que retiraram o pensamento dos outros grupos. Ficarei mediando o pensamento de cada grupo, colocando algumas questões em cima do que for dito, tentando responder duvidas que tenham a respeito das palavras, tentar desconstruir pensamentos preconceituosos, tentando criar um dialogo entre o que alguns alunos pensam com pensamento de outros colegas. Faltando cinco minutos para o termino da aula, pedirei que voltem a seus lugares e que semana que vem eles começarão a realizar uma atividade plástica em grupos de cinco.


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Realizado A aula iniciou como sempre muito agitada. Assim que cheguei à sala de aula, larguei meus materiais em cima da mesa e fui ao quadro escrever uma frase que dizia para eles se organizarem em grupos de cinco alunos. Aguardei um cinco minutos para eles perceberem que eu estava em sala de aula. Quando perceberam, pedi para realizarem o que estava pedindo no quadro. Que primeiro, eles deveriam se organizar em sala de aula, e depois realizaríamos um trabalho em cada grupo. Um aluno me perguntou se podia formar um grupo com seis componentes, neguei seu pedido, já que o máximo permitido seria cinco alunos. Mais que isso dispersaria a turma. Com a ajuda de um dos alunos contamos os que estavam em sala de aula e reduzi o numero de cinco para quatro alunos em cada grupo. Pedi então novamente que se reunissem em grupos de quatro membros. Eles ficavam relutando em se encaixar nos grupos. Um aluno chamado Juliano disse que suas colegas de grupo não haviam vindo no dia, disse a ele que se reunisse com outros para a execução da tarefa. Posso afirmar que levei quinze minutos desde que entrei em sala de aula, escrevi no quadro, determinei o numero de alunos em cada grupo e eles começarem a se mexer para formarem os grupos. Somando a isso, tive que elevar meu tom de voz para que fizessem os grupos e que a aula de hoje não era brincadeira. Após isso, se reuniram e pude dar inicio à segunda parte da atividade planejada para esta aula. A segunda parte consistia em colocar imagens produzidas na história da arte, tanto de esculturas como pintura em cima de mesas e pedir que cada grupo escolhesse uma imagem de sua preferência. As imagens escolhidas por mim para a aula foram: A Primavera de Sandro Botticelli, Davi de Michelangelo, Hermafrodite de Gian Lorenzo Bernini, O Rapto de Persefone de Gian L. Bernini e The Seed of the Areoi de Paul Gauguin. Escolhi a maior parte dessas imagens clássicas (com exceção de Gauguin) devido a sua fácil visualização e interpretação sobre o que viríamos a discutir em aula naquele dia. Assim que cada grupo selecionou uma imagem, pedi que se virassem a folha contendo a imagem e falassem em voz alta a palavra que estava escrita no verso.


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Cada um dos grupos pronunciou uma palavra: arte, discriminação, sexo, sexualidade e corpo. Comecei perguntando ao primeiro grupo, composto por alunos em que com os quais eu não consigo ter intimidade profissional, já que nunca querem trabalhar em sala de aula, não falam nada, o que vinha a significar para eles a palavra “arte”. Esses alunos relutaram demais em falar, queriam passar a vez para outros grupos. Insisti que queria a definição deles de arte e não a dos outros grupos. Então falaram que “arte servia para expressar sentimentos, era desenho, pintura, escultura e que eles não tinham nada a ver com a arte”.

Sandro Botticelli - A Primavera, 1482

Disponível em < http://www.google.com/culturalinstitute/project/art-project?hl=pt-br > acesso em 10/08/2012

Perguntei aos outros grupos o que vinha a ser arte para eles e eles responderam também sobre a expressão de sentimentos, questionei a todos se era apenas isso que a arte representava e se qual era o papel dela nas nossas vidas. Nenhum deles soube responder. O primeiro grupo estava com a clássica imagem de Sandro Botticelli, intitulada A Primavera. Vendo que eles estavam com essa imagem perguntei se ela representava a expressão de sentimentos do artista. Eles afirmaram que a imagem, tinha sentimentos como alegria, prazer e curiosidade. Perguntei a todos os alunos se eles concordavam com isso e disseram que sim. Então tentei argumentar que a imagem não expressava o sentimento do artista e sim das figuras mitológicas ali presentes, já que também a obra era uma encomenda feita por um


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dos membros da família Medici. Talvez se eu tivesse selecionado uma imagem expressionista poderiam falar muito mais de sentimentos do que dessa imagem do inicio do renascimento. Mas já havia pensado na resposta que eles dariam, então selecionei uma obra que usasse mais a racionalidade que a emoção. Continuando a aula, pedi ao segundo grupo que falasse sobre a palavra que eles pegaram. A palavra foi “corpo”. Perguntei a eles qual era a definição de corpo para eles, e qual a utilidade do mesmo. Esse grupo respondeu diversas coisas como servir para fazer exercícios físicos, se reproduzir, criar arte, pensar, amar. Com essas respostas, perguntei o que era o corpo e responderam que era uma matéria dotada de vida, de história, sentimentos e pensamentos. Questionei aos outros grupos de alunos e eles afirmaram que as definições estavam boas e não tinham o que acrescentar.

Michelangelo - Davi, 1504 (Fonte: DUBY, 2006, p. 617)

Partindo disso, pedi que virassem a folha e dissessem que imagem era a que seguravam. Falaram que era um homem segurando uma pedra e ele estava nu. Perguntei se sabiam quem era, disseram que não. Então disse que a escultura se chamava Davi, criada por Michelangelo, o maior escultor que o mundo já havia visto.


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Nesse meio tempo de aula senti muita dificuldade em falar e ao mesmo tempo em ouvir o que os alunos falavam. Já estava estressada pelo fato de ter entrado em sala de aula e eles terem demorado para se organizarem e mesmo enquanto os colegas falavam, uns que não estavam com interesse na aula, E atrapalhavam. O aluno David sempre levantava de seu lugar para mostrar alguma musica para outro colega. Ou quando o primeiro grupo tinha terminado de falar e passamos para o segundo, o grupo um ficou de conversa na turma. Tive que alterar meu tom de voz novamente e pensava que não era possível haver tanta falta de educação nesses jovens, não é normal, não é aceitável isso. Depois que a aula foi interrompida pelos mesmos alunos de sempre, pedi que o terceiro grupo falasse a palavra que haviam pego e definissem para a turma. A palavra era “sexo”. Juliano, e Esther foram os únicos do grupo a falarem, os outros dois ficavam calados. Juliano começou a falar palavras como masculino e feminino, casual, homem, mulher. Esther também falou força e delicadeza. Complementei suas palavras dizendo que sexo estava muito além do exterior e das genitais, que podíamos falar de sexo cromossômico, gonodal (genitais), endócrino (hormonal), fenótipo, ou seja, como o sexo externo se apresenta. Falei também sobre as diferenças entre homem e mulher. Então me lembrei das palavras de Esther, que falou em força e delicadeza. Perguntei ao terceiro grupo que imagem eles tinham pego, eles me mostraram e eu informei que era a imagem de uma escultura Barroca feita por Gian Lorenzo Bernini que representava o mito de Persefone. Esther e Juliano ficaram comentando do físico do homem, no qual seus músculos estavam muito ressaltados. Questionei a respeito dos músculos da mulher e Esther disse que não estavam ressaltados como no homem e era mais suave. Podia-se notar a diferença da pele masculina e feminina. Juliano comentou de a mulher estar sendo abraçada, então perguntei se parecia um abraço mesmo ou ela estava sendo agarrada. Ele respondeu que realmente ela estava sendo agarrada e não estava gostando, tanto que chorava. Foi então que este aluno fez o melhor comentário que já ouvi a respeito dessa escultura. Algo que sempre quis que percebessem quando exibia a imagem desta escultura.


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Gian L. Bernini: O rapto de Perséfone, 1621-1622 (Fonte: DUBY, 2006, p. 772)

Juliano falou que essa cena retratada na escultura de Bernini parecia um estupro. Ouvindo a resposta dele, tive que concordar com sua observação. Elogiei-o e disse que sim, essa obra por mais linda que fosse, retratava a violência contra a mulher, legitimada pela visão masculina e reproduzida na arte como algo a ser admirado. O que percebemos é um homem que agarra com força a mulher (Perséfone) e mesmo aos prantos e implorando para que não a machuque, ele a toma para si, como se ela fosse sua propriedade. Contei o mito de Perséfone e como ela foi raptada por Hades e no final se apaixonou pelo seu violentador. Disse que era uma versão clássica do que alguns pregam até hoje, a submissão feminina, na qual inclusive poderíamos falar sobre o que alguns senhores falam sobre a mulher não abortar mesmo em caso de estupro. Sei que esse tema é muito delicado, mas quis demonstrar para eles até que lugar pode ir o pensamento patriarcal sobre a mulher, em que ela não tem o direito de escolher sequer o homem com quem dividirá seu leito. Encerrei o assunto elogiando a participação dos alunos.


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Mais que admirar a imagem que trouxe, meu objetivo era promover uma reflexão sobre ela: O ato de ver e interpretar as produções das artes visuais perde, de alguma maneira, certa inocência e a crença da neutralidade das imagens artísticas. A partir dessas perspectivas teóricas e seus desdobramentos, a visão começa a ser concebida como uma construção social fortemente implicada na construção de subjetividades e identidades [...].(Icle, 2010, p. 152)

Passei a voz então para o quarto grupo que estava com a palavra “sexualidade”, perguntei a eles qual o significado da palavra sexualidade na visão deles. Para eles, a sexualidade estava relacionada à preferência sexual do individuo, seja ele homossexual, bissexual ou heterossexual e servia para expressar o amor. Informei que eles estavam parcialmente certos, mas, porém, essa não era a única resposta possível para sexualidade. Disse que podíamos falar sobre identidade de gênero, ou seja, a pessoa se sentir homem ou mulher de forma psicológica e biologicamente ser de outro gênero. Também informei que diferente da palavra “sexo”, a sexualidade era muito mais abrangente, não esta ligada apenas ao exterior, ao nu cru do corpo. Estava na sua essência, na verdadeira natureza do ser humano. Disse a eles que existiam formas sadias de expressar a sexualidade humana e outras erradas e puníveis como no caso da pedofilia e estupro. Pedi então que o grupo olhasse para a imagem na folha e dissessem o que observavam. A aluna Alexandra disse que não sabia identificar, já que a escultura parecia uma mulher, mas tinha pênis. Ela ficou confusa ao tentar dar um nome para a figura, então disse a ela que essa era aquela mesma imagem que vimos em nossa segunda aula e da qual eles haviam rido. Ela ainda continuou confusa, pois não sabia se falava hermafrodita ou travesti, essas palavras tentavam sair de sua boca, mas ela não conseguia definir. Quando chegamos na escultura de Hermafrodite, disse que essa imagem se tratava simplesmente de um ser hermafrodita. Então ela perguntou se pessoas assim realmente existiam e eu disse que sim, existem até hoje pessoas que nascem com essa condição biológica. Não apenas os cromossomos vão determinar o sexo ou mesmo as genitais, mas a mente. Ela ficou espantada e achava que hermafroditas eram mito.


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Disse a ela que os gregos retrataram muito sobre as condições sexuais do que vemos ainda hoje e achamos um absurdo. Mas também lembrei a ela e à turma que pessoas ambíguas não são bem vistas hoje em dia devido à herança grega e cristã de inferiorizar a mulher e tudo aquilo que pende para a feminilidade, como se ser mulher fosse motivo de vergonha. Disse que não era a toa que travestis, transexuais ou mesmo os intersexuais são vistos como anormais, pois fogem daquilo que se estabeleceu como comum na sociedade. A aluna Esther fez um comentário à turma de que os gregos eram gays e eu concordei, nisso o aluno Alisson me corrigiu dizendo que a palavra correta era homossexual, argumentei que “gay” não era errado, que a verdadeira discriminação está na forma como tu te dirige à pessoa e não na palavra em si. Disse que gays e lésbicas eram denominações para homossexuais, que não estava errado falar assim.

Gian L. Bernini – Hermafrodite, 1516 Disponível em http://expo-escultura.blogspot.com.br/2010_05_01_archive.html > acesso em 19/08/2012

Partindo para o quinto e ultimo grupo, pedi que lessem a palavra que tiraram e a palavra foi “discriminação”. Perguntei a eles o que significava para eles discriminar alguém. Responderam-me que era o ato de impedir alguém de fazer algo só por acharem que ela não é capaz devido a sua, cor, sexo e orientação sexual. Perguntei aos outros se concordavam com isso e todos assentiram e acrescentaram que também é o ato de xingar alguém, fazê-la passar vexame só por ser quem é, sem que essa pessoa seja ruim de fato.


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Perguntei que imagem eles estavam segurando e me mostraram a imagem de uma nativa retratada por Paul Gauguin, artista pós-impressionista frances. Perguntei se eles imaginavam porque eu havia trazido essa reprodução de Paul Gauguin, eles não souberam responder, os únicos alunos que realmente falaram no grupo foram Diego e Vanderlei, os outros dois ficaram ouvindo musica e passeando pela sala e aquilo me estressava. Depois de um tempo, Vanderlei disse que talvez pela cor dela, eu afirmei que sim, já que estamos no Brasil, poderíamos usar esta reprodução como um exemplo sobre como pessoas de pele mais escura são tratadas de forma diferenciada. Os informei que a imagem não retratava uma negra africana, tão pouco uma mulher brasileira, mas que era um exemplo que queria trazer a eles sobre a retratação de pessoas de cor (além do tom claro das pinturas Europeias sobre europeus) na arte. Perguntei quantas obras de pessoas assim eles já viram retratadas. Eles responderam que nenhuma. Disse que existiam, mas era um percentual tão pequeno se compararmos ao que já foi produzido em artes, principalmente à ocidental, européia. Tanto é que as imagens clássicas trazidas por mim retratavam pessoas brancas, traços europeus, nada de exótico como na nativa de Gauguin.

Paul Gauguin - The Seed of the Areoi, 1892 Disponível em < http://www.zazzle.com.br/paul_gauguin_a_semente_do_areoi_cartao_postal239805983445697714 > acesso em 19/08/2012


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Percebendo que faltavam dez minutos para o final da aula, voltei minha atenção para o segundo grupo e perguntei como Davi de Michelangelo estava sendo exibido. Os meninos do grupo informaram que era um homem aparentemente alto, com os músculos bem definidos, um rosto bem esculpido, embora a pose para eles fosse homossexual. Então pedi que o segundo grupo e o terceiro levantassem as imagens e perguntei à turma que diferenças eles observavam entre a escultura de homem de quinhentos anos atrás e o corpo de um homem nos dias atuais. Eles disseram que não havia muitas diferenças, que manter o corpo era importante, tanto pra conquistar mulheres quanto pra se acharem mais bonitos e confiantes. Questionei sobre a cultura do culto ao corpo que temos hoje. Exemplifiquei sobre pessoas obesas, mais gordinhas, com deficiências e pedi para olharem para Davi de Michelangelo e tentarem ver alguma diferença entre o homem ideial do renascimento e o de hoje, as respostas foram que nada mudou, fisicamente falando. O homem deveria continuar viril, com músculos bem definidos e jovem. Cheguei à conclusão com essa aula de que sim, tenho minhas falhas enquanto educadora, mas que a turma em si é muito mal educada, a todo o instante tive que parar de falar simplesmente por educação e deixar aqueles que “não queriam nada com nada falar abobrinhas”. Tentei fazer minha parte como professor, tentando trazer uma nova abordagem das artes dentro da sala de aula, sair do ensino de técnicas com materiais diversos para trazer um campo que é pouco e mal explorado no Brasil (Icle, 2010). Se fosse colocar neste relatório o tempo todo em que a aula sofreu interrupções por causa desses alunos, iria haver muito mais p.inas e eu não quero escrever daqueles que estão errados e sim daqueles que querem aprender e querem participar da aula. Esses alunos que participaram da aula conseguiram conversar comigo, até mesmo trocamos sorrisos, como quando disse sem querer: os gays gregos que eram mesmo gays. Quando na verdade queria falar: os homens gregos que tinha uma cultura de se deitar com outros homens. Isso foi valido, pois consegui me aproximar de alguns alunos como Juliano, Esther, Rafaela, Alexandra, o problemático Guilherme, que nesta aula foi muito educado e conseguiu falar bem em sala de aula, sem causar muita agitação. Enfim, são esses os alunos que valem a pena ser mencionados neste relatório. Esses alunos sim conseguiram atingir os


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objetivos propostos por esta aula. Dando opiniões, fazendo observações sobre as imagens e tentando construir um dialogo. Pessoalmente sai da sala ao mesmo tempo feliz, mas com um nível de estresse enorme por esses alunos que dificultaram a aula planejada, não me deixando mediar como havia planejado todos os assuntos. Foi difícil interligar as palavras e as imagens quando dois grupos, o primeiro e o quinto possuíam alunos que só tumultuavam a aula. O mais importante nessa aula era ajudá-los a formar novos conceitos, desenvolver o pensamento, usando a arte como artifício principal.

O professor trás conhecimentos e experiências mais ricos e organizados; com o auxilio do professor, a conversação visa levar os alunos a se aproximarem gradativamente da organização lógica dos conhecimentos e a dominarem métodos de elaborar as suas ideias de maneira independente (Libâneo, 1990, p. 168)


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3.3.8. Oitavo encontro Numero da aula: 08 Data: 19/11/2012 Duração: 1 hora Serie: 1º ano do ensino médio Conteúdo: figura humana, escultura. Lista de atividades: 

Informar como será a atividade planejada para esta aula.

Distribuir os materiais necessários para a realização da atividade.

Demonstrar como devem realizar a atividade e auxiliá-los quando necessário.

Realização da atividade.

Organização da sala de aula.

Encerramento da atividade.

Objetivos específicos: 

Desenvolver a imaginação.

Pensar a respeito de como poderão construir a figura humana.

Pôr em pratica as reflexões acerca do corpo como uma construção social e individual.

Metodologia: Pratica artística, Reflexão. Materiais: papel comum A4, cola e fita adesiva. Avaliação: Será avaliada a construção das esculturas por parte dos alunos. Cada aluno será avaliado individualmente, todos devem participar da criação da estrutura do corpo. Será avaliada a conclusão do trabalho bem como a qualidade plástica do mesmo.


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Planejado No inicio da aula, irei começar a distribuir quatro folhas de papel comum, como as de oficio, para cada aluno. Após a distribuição das folhas, irei informar que trabalho eles farão e como eles irão realizar o mesmo. Primeiro direi que, antes de começarem a escultura como havia dito na aula passada, eles irão criar um esqueleto para ela, pois com o material que eles utilizarão se fará necessário um suporte para pôr o papel machê. Após essa explicação, passarei à segunda fase que, será mostrar para eles como deve ficar o protótipo que começarão a realizar. Prosseguindo com a aula, irei demonstrar para eles como deverão enrolar os papeis comuns e fazer canudos com eles. Direi para enrolarem na diagonal e depois colarem a ponta com cola. Após realizarem três canudos de papel, pedirei que com a ultima folha façam um tubo mais grosso. Após terem feito três canudos finos de papel e um tubo pequeno com a outra folha, direi que agora eles irão começar a juntar as partes. Primeiro deverão dobrar ao meio um canudo para que este sirva como suporte para os braços e pernas do boneco. Depois deverão colocar um canudo dentro do tubo, de forma que forme o tronco do corpo. Em seguida pedirei que encaixem entre o vão do primeiro canudo os outros dois, um na parte superior representando as pernas e outro por cima do tubo, representando os braços. E, por ultimo, solicitarei que usem a fita adesiva para imobilizar os membros, como as penas e braços do protótipo de modo que fique assim:


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(Fonte: FROES, 2012)


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Realizado A aula começou super tranquila, até achei que estava entrando em outra turma. Com certeza o efeito pós recreio faz uma diferença tremenda em como os alunos se portam quando eu chego. Todos eles estavam sentados e em silencio. A professora da aula anterior ainda estava na sala de aula e me pediu um curto espaço de tempo para recolher os trabalhos dos alunos, consenti pois não havia nenhum problema nisso. Foi planejado para esta aula algo extremamente simples e fácil para todos eles realizarem. Comecei me organizando e distribuindo quatro folhas para cada um dos alunos. Eles me perguntavam o que iriam fazer com aquelas quatro folhas, disse para aguardarem que logo saberiam. Então após distribuir as folhas de oficio, tirei de dentro da minha bolsa três canudos finos feitos com folhas de oficio e depois um esqueleto de um corpo humano feito com esses canudinhos. Então informei a eles que iríamos realizar uma atividade que iria levar quatro aulas para ser concluída. A primeira parte seria essa, eles iriam construir uma estrutura com o formato de um corpo humano feito em papel comum e na próxima aula iriam preencher com papel machê. Eles pareceram gostar da ideia e logo queria saber como realizariam a atividade. Então primeiro disse a eles que deveriam enrolar três das quatro folhas no sentido diagonal e depois deveriam colar a ponta com cola. Então fui à mesa de um aluno, Juliano, e disse como ele deveria enrolar, a fim de deixar o canudo fino e não tão grosso. O método utilizado nesta aula foi a exemplificação descrita por Libâneo (2001): ensinei aos alunos, passo a passo como desenvolverem o trabalho da melhor forma possível. Por mais que a atividade fosse simples, eu imaginei que eles iriam levar a aula toda. Sozinha, eu consegui fazer o boneco em quinze minutos, mas conhecendo a turma, já sabia que iriam levar mais tempo que o necessário. Prosseguindo com a aula, fiquei andando na sala de aula ajudando os alunos que me pediam ajuda. Quando percebia que um aluno estava deixando o canudo grosso demais, eu ia até ele e pedia que desfizesse o rolinho e começasse novamente e mostrava como deveria proceder.


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Fiz isso mais com os alunos do fundo da sala de aula, que normalmente não fazem nada. O aluno Guilherme estava realizando a atividade e fiquei satisfeita, já que o mesmo demonstrou dificuldades, no inicio do projeto, já relatadas nos relatórios anteriores. Enquanto todos realizavam a atividade, percebi que um aluno não estava conseguindo. O aluno em questão estava apresentando dificuldades ao longo da disciplina, seu nome era Elton. Ele é um dos alunos problemas, muito querido, mas não produz absolutamente nada. Perguntei a ele qual era a sua dificuldade, ele disse que não conseguia enrolar os papeis como eu havia ensinado. Neste momento, ele me fez uma expressão de provocação e eu bem calma disse que aquela atividade não era difícil, que ele devia tentar que ele era capaz. Ele me desafiou com o olhar dizendo não saber, peguei um pedaço de papel e mostrei na sua frente como deveria realizar, não fiz o trabalho por ele, apenas quis mostrar que não havia dificuldade e que estava ali para auxilia-lo. Ele disse que era muito difícil e eu educadamente disse: Elton, eu consegui realizar esse trabalho quando tinha dez anos de idade, por que tu não consegues tendo em vista possuir vinte anos de idade? A partir dessa pergunta todos os seus colegas riam dele e então ele baixou a cabeça e parou de me desafiar. Ele não realizou a tarefa, mas também não ficou importunando seus colegas. Seguindo com a aula, após eles enrolarem as três folhas de oficio, disse a eles que eles deveriam pegar um canudo e dobrar ao meio, que essa estrutura seria semelhante à coluna vertebral do boneco, é a partir dela que os outros membros como braços e pernas iriam se ligar. Após eles dobrarem ao meio um canudo comecei a distribuir entre eles fitas crepes para que colassem as pontas dessa estrutura. Para aqueles que estavam atrasados, eu pedia que os alunos que estavam adiantados ajudassem seus colegas, não apenas para agilizar a aula, mas para eles compartilharem conhecimento, por mais pratico e simples que este seja, ajudando uns aos outros.


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(Fonte: FROES, 2012)

Durante todo o tempo, fiquei lembrando os alunos de que eles estavam criando uma estrutura para poderem trabalhar no outro dia com o papel machê. Lembrava também que deveriam representar um ser humano que sofre preconceito no sociedade devido ao seu corpo, e junto a isso já pedi que pensassem na posição em que seu boneco iria ficar, pois depois de colocarem o papel machê na estrutura realizada em aula, não seria mais possível o esqueleto. O mais importante para esta aula é que eles comecem a pensar em que corpos farão. Desde o começo das aulas falamos de corpo e depois de preconceito. Algo que deve ser trabalhado dentro da escola. É importante que eles aprendam porque é errado discriminar e não apenas serem politicamente corretos, ou seja, não discriminar porque é errado, é necessário discutirem porque é errado discriminar. Esse é um dos meus papeis, pois “requerem do professor uma compreensão clara do seu significado social e político do seu trabalho, do papel da escolarização no processo de democratização da sociedade [...] (Libâneo, 2001, p. 74)”. Logo que finalizaram essa parte, solicitei que com a quarta folha eles fizessem um tubo mais grosso, que representaria o tronco do boneco, em que eles iriam fazer a barriga e o peito quando fossem trabalhar com o papel machê. Então, quando terminaram de fazer o tubo, pedi que colocassem o primeiro canudo que dobraram por dentro do tubo e logo em seguida com o segundo canudo colocassem na parte de baixo do primeiro canudo a fim de segurar o tubo. Depois de realizarem essa parte, pedi que o ultimo canudo colocassem acima do tubo a fim de segurar ele por cima também.


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(Fonte: FROES, 2012)

Terminada essa primeira parte da atividade, pedi que, com a fita crepe, ele passassem por volta dos braços e pernas, a fim de imobilizar essas partes para depois conseguirem trabalhar melhor com seus bonecos. Aos poucos cada um foi fazendo a atividade. Enquanto alguns já estavam concluindo o boneco, percebi que outros alunos ainda estavam com dificuldades, pois seus rolos estava muito grossos. Fui até eles, Larissa e Vinicius, e comecei a explicar desde o começo e, vendo que faltavam poucos minutos para o termino da aula, fiz o trabalho de passar a fita crepe. Terminado o trabalho e faltando muito pouco para o termino da aula, uma aluna em especial fez um comentário positivo em relação ao que havia realizado, ela havia feito também um chapéu para o boneco. A aluna foi Ashley, uma das meninas desinteressadas nas aulas de artes. Fiquei muito contente porque de alguma forma consegui atingi-la de forma positiva. Lembro de que na nossa primeira aula ela reclamou que não sabia pintar nem desenhar e nessa ela ficou contente com o trabalho tridimensional que estava realizando e de fato havia realizado. Disse a ela que estava muito bem construído e que ela podia começar a pensar no que faria com ele amanha, quando começassem a preenchê-lo de papel machê.


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(Fonte: FROES, 2012)

Após a aula fiquei refletindo sobre a atitude do aluno Elton. Fica claro para mim que alguns alunos não possuem a maturidade exigida para suas idades, dezesseis a vinte anos, e para a série que estão atualmente (primeiro ano do ensino médio). Pois na minha experiência de vida, a melhor fase é a escola, depois que você sai dela, a vida te mostra que o mundo não é feito de boas pessoas, que a vida é cruel, vão haver momentos bons, obvio, mas muito mais momentos ruins se eles não adquirirem conhecimento e tiverem maturidade para entrar no mercado de trabalho ou seguir a vida acadêmica. Libâneo (2001) nos lembra que é preciso observarmos bem os alunos e tentar construir atividades que estejam no nível de maturidade e idade deles, pois não é possível o aluno chegar a um determinado objetivo se ele não tiver condições mentais mais tal, no final das contas o problema da aula não funcionar se deve a um erro de observação do professor e não dos alunos. Mas por outro lado devemos lembrar também que a idade biológica deles já corresponde ao nível de exigência que eu trago, se eles não estão no nível que se exige normalmente não sou a única responsável, tão pouco eles que nada tem a ver, mas sim a toda uma sociedade que apenas pensa em números e não em qualidade de ensino. Local em que o importante é passar de ano, independente se assimilou os conteúdos ou não.


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É isso que me preocupa, por isso adoto uma postura rígida em relação a eles. A academia não me ensinou a educá-los e sim a ensinar, não sou mãe, nem pai, nem tio e tia para dizer que se deve respeitar o professor em sala de aula. Se eu adoto a rigidez e rispidez é para mostrar a eles que não estou ali para passar a mão na cabeça como os outros professores fazem para não se estressarem e sim para ser justa e imparcial. Esse é meu trabalho, sinto que esse é meu modo de conduzir uma aula. Lembro das palavras da professora Tânia na disciplina de Fundamentos da Ação Pedagógica I, em que ela exemplificava diversas maneiras de ser professor, de como conduzir. Ela repetia que sempre deveríamos ser verdadeiros no modo de trabalhar, se é para ser um professor tradicional, que o seja da melhor forma possível, bem como se é para ser construtivista, mas evitar de não ter alguma identidade, pois isso iria refletir nos alunos e eles se sentiriam confusos. Talvez eu esteja equivocada, ou tão cega sobre como dar aula, pois estou muito estressada, não sinto tesão de estar em sala de aula. Eles conseguem me irritar profundamente, pois queria muito que as aulas dessem ao menos certo como essa, mas sei que não é uma realidade. Eu errei no inicio ao não querer levar materiais e exigir que eles levassem materiais básicos. Errei em forçar isso neles, mas não sei qual o meu erro, não sei quando acerto. Esse estágio esta muito mais difícil do que o do ensino fundamental, pois no ensino médio a maioria não produz. Concluindo, quase todos os alunos, com exceção de dois (Elton e Iago), conseguiram atingir os objetivos propostos em sala de aula. Pela primeira vez mais de noventa por cento da turma conseguiu realizar a tarefa e ficaram satisfeitos com o que haviam realizado. Senti que estavam contentes, talvez a atividade por exigir menos mentalmente do que as outras aulas os tenha feito relaxar um pouco mais. Minha avaliação dos trabalhos foi muito positiva, construíram os bonecos como eu havia proposto. Fiquei contente com os resultados obtidos. Encerrei a aula pedindo para que trouxessem os bonecos no outro dia para começarmos a trabalhar com o papel machê.

3.3.9. Nono encontro Numero da aula: 09


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Datas: 20/11/2012 Duração: 1 hora Serie: 1º ano do ensino médio Conteúdo: figura humana, papel machê, escultura. Lista de atividades: 

Informar como será a atividade planejada para esta aula.

Se dividirem em grupos de cinco pessoas.

Cada grupo deverá eleger um preconceito social para retratar na forma da figura humana na linguagem tridimensional.

A partir dessa escolha, deverão pensar em como poderão realizar o trabalho tridimensional.

Após decidirem a etapa anterior, deverão começar o trabalho de modelagem com o papel machê.

Após o termino da modelagem deverão deixar a escultura secar longe da umidade para que possam trabalhar em cima dela nas próximas aulas.

Organização da sala de aula.

Encerramento da atividade.

Objetivos específicos: 

Desenvolver a imaginação.

Desenvolver a criatividade.

Pôr em pratica as reflexões acerca do corpo como uma construção social e individual em uma linguagem tridimensional.

Desenvolver uma consciência social a respeito do corpo humano.

Metodologia: Pratica artística, debate e reflexão. Materiais: papel machê. Avaliação: Será avaliada a construção da figura humana na linguagem tridimensional por parte dos alunos. Cada aluno será avaliado individualmente, todos devem participar da concepção das suas esculturas. Avaliarei a imaginação, o desenvolvimento do


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processo criativo e como eles tratarão a escolha do assunto a ser abordado na escultura. Planejado: No inicio da aula, pedirei para a turma se dividir em cinco grupos de aproximadamente cinco membros e então começarei explicando que eles irão desenvolver uma escultura com a técnica de papel machê. Explicarei a breve história da técnica, onde ela surgiu e o que podemos fazer com ela. No quadro colocarei a receita para o desenvolvimento do papel machê, que consiste em rasgar tiras finas de papel de jornal, recipiente com água e cola branca. Explicarei para eles que é um material que demora para ser produzido, pelo menos vinte e quatro horas entre o processo de rasgar as tiras de papel e coloca-las no recipiente com água. Depois é necessário coar o papel e retirar bem a água absorvida, após, esmiuçar o papel em pequenos pedacinhos, quase que esfarelar e finalmente misturar com cola branca e obter uma massa consistente para efetuar o trabalho. Como não teremos este tempo em aula, já levarei a massa pronta para os alunos começarem a trabalhar. Levarei garrafas pet para eles usarem como suporte da escultura que irão criar. O exercício vai consistir em modelar com a técnica de papel machê uma figura humana. O preconceito, seja ele racial, de biótipo físico, sexo, gênero, idade, deficiência e etc., será o tema principal da escultura. Ao faltarem cinco minutos para o termino da aula, pedirei a todos que voltem a se organizar e deixem as esculturas secando, longe da umidade. Este planejamento prevê duas aulas para a modelagem das esculturas, sendo que a segunda aula será a continuação da primeira.


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Realizado Passado um dia desde a última aula, cheguei como de costume na aula e já esperava que eles estivessem agitados, já que hoje a aula seria dada após o intervalo. Dito e feito. Eles chegaram agitados e eu escrevi no quadro que se organizassem em seus respectivos grupos para darmos inicio ao trabalho com papel machê. Após falar isso, a maior parte da turma disse que não havia trazido os bonecos feitos na aula anterior. Apenas dezesseis por cento da turma trouxe os bonecos, ou seja, de trinta alunos, apenas cinco trouxeram. Isso me irritou profundamente, pois não havia desculpas para terem esquecido. Então pedi gentilmente que se reunissem nos grupos e que pelo menos desses grupos tivesse um membro que tivesse o esqueleto construído na aula anterior. Os alunos que haviam trazido eram Rafaela, Douglas, Carlos, Filiphi e Vanderlei. Pedi para aqueles que não tivessem trazido ou haviam faltado a aula anterior que fizessem um novo esqueleto. Então os alunos não se reuniram como eu havia solicitado tão pouco fizeram o que pedi. Na realidade pouco me importei, a partir daquela aula combinei comigo mesmo que daria aula apenas para aqueles que quisessem aprender. Ou seja, daria as instruções sobre como proceder com o trabalho de papel machê apenas para quem tivesse trazido o esqueleto que eu havia ensinado na aula anterior. Então comecei a distribuir bolas de papel machê para cada um dos alunos que trouxeram e pedi a eles para ficarem próximos uns aos outros, já que eram poucos, de forma que eu pudesse ajudá-los da melhor forma possível. Com exceção do aluno Vanderlei, os outros alunos se reuniram. Comecei instruindo que começassem preenchendo os esqueletos a partir do pescoço e aos poucos irem seguindo para os outros membros do corpo. O aluno Vanderlei achou a bola de massa de papel machê que entreguei a ele estranha e nojenta, me perguntou como eu havia produzido ela. Expliquei ao aluno que aquela massa era feita de papel higiênico úmido e picotado mais a adição de cola branca. Então comecei a explicar pessoalmente como deveria começar a realizar sua escultura em papel machê. Peguei o primeiro pedaço de papel machê


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nas mãos para demonstrar a ele que, primeiro, ele não deveria ter medo ou nojo da matéria que seria usada para a modelagem. Segundo, a quantidade que ele ia precisar de papel para por pôr cima do esqueleto para cobrir de forma satisfatória. Ele começou a cobrir, mas logo me apontou algo que estava ocorrendo e eu não previa, o papel desgrudava. Fiquei analisando como ele estava realizando o trabalho antes de apontar alguma solução e percebi que ele estava mexendo bruscamente o esqueleto, virando de um lado pro outro. Disse então que não podia ser assim, que fosse mais delicado e seguisse do pescoço pros braços e depois um pouco do busto e assim seguindo até chegar às pernas. Nisso fiquei entretida com ele e acabei esquecendo dos outros. Confesso que foi errado de minha parte, mas é que atividade pratica me deixa tão eufórica que sinto vontade de fazer junto com o aluno e acabo esquecendo todos a minha volta. De repente enquanto estava conversando com Vanderlei e ajudando ele com sua escultura, os alunos da outra ponta da sala de aula me haviam chamado e haviam dito que estavam com dificuldade de grudar o papel machê. Pedi um minuto para o aluno Vanderlei dando as ultimas instruções para que continuasse seu trabalho. Chegando ao outro lado da sala de aula, a aluna Rafaela e o aluno Douglas reclamavam que o papel machê não estava grudando. Disse a eles que deviam começar pelo pescoço e então peguei o esqueleto da aluna Rafaela mais um punhado de papel machê e comecei passando em volta do que deveria ser o pescoço do mesmo. Disse que deveriam usar muito papel e não pouquinho como estavam fazendo. Nisso me sentei e comecei a ajudar a aluna Rafaela no seu trabalho. Ela conseguiu entender como deveria proceder e seguiu seu trabalho. Nesse meio tempo em que fiquei ajudando a Rafaela percebi que o aluno Feliphi estava distante e não estava realizando a tarefa, perguntei qual era o problema e ele me respondeu que também não estava conseguindo grudar o papel. Nessa hora fiquei pensando se não foi erro meu na hora de realizar a receita que eu havia aprendido com minha colega. Pois a principio foi-me dito que estava correto. Refleti e pensei em revisar o que havia feito em casa e ver se o problema era o papel ou a forma como eles estavam utilizando ele. Para isso iria precisar aguardar até a próxima aula quando o papel deveria estar seco em volta do esqueleto.


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Percebendo que talvez pudesse ter cometido um erro, fui a cada um deles e disse que continuaríamos na próxima aula e que eu iria analisar se havia preparado o papel machê errado. Que por enquanto, para o papel não soltar, deveriam cobrir a metade do corpo do boneco e deixar a outra sem nada, afim de que uma parte secasse primeiro para depois realizar a outra, evitando assim que o papel desgrudasse. Nisso fiquei ajudando a aluna Rafaela a fazer a escultura dela já que ela apresentava muita dificuldade na hora de por o papel machê. Enquanto íamos modelando o corpo, percebi que talvez a falha poderia ser das duas partes. A qualidade do papel machê não estava suficientemente boa, mas por outro lado enquanto eu colocava papel na escultura, ele não soltava como quando Rafaela o fazia. Foi quando ela fez o comentário: “quando a sora põe o papel no esqueleto, ele fica grudadinho, agora comigo ele solta”. Com esse comentário disse pra ela ter mais firmeza na mão e usar o papel como eu estava usando. Nisso ela seguiu o que eu estava fazendo e prosseguiu. A aula foi tranquila e agitada, tranquila, pois eram poucos os alunos que eu precisava auxiliar e agitada também pois a todo instante tinha que me deslocar de um ponto da sala de aula a outro e dar atenção para cada um deles, de forma individual. Eu gosto muito desse tipo de atividade, pois posso falar um pouco com cada um deles e ficar mais próxima. Poder provar a eles que eu como professora de arte sou capaz de ensiná-los sobre esse tipo de atividade plástica. É um desgaste dentro da profissão como professora que vale a pena. É um estresse benéfico. Quanto aos alunos que não trouxeram os esqueletos realizados no dia anterior, não me estressei como fiz nas aulas anteriores. Eu tentei trabalhar com todos e havia conseguido na aula anterior e me decepcionou e muito ver que eles não estão nem ai para o meu trabalho durante esta aula. Os deixei conversando, a atividade foi passada, mas não sou o tipo de profissional que vai obrigar um aluno a realizar a atividade se ele não quer. Nem lembrar do básico (notas) eu lembrei a eles para não parecer uma ameaça, apenas olhava para uns e pensava: o que vai ser dessa pessoa no futuro? Não que a disciplina de arte seja a mais importante do mundo, não é e nunca será, mas será que a atividade que eu propus foi tão maçante? Mesmo eu tendo


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levado o papel machê, mais folhas, enfim, todo o equipamento necessário para eles realizarem a tarefa com sucesso? Após o final da aula tive, uma conversa breve com a professora titular e parece que ela agora está do meu lado, percebendo que não se trata apenas de levar ou não o material. Ela mesma estava reclamando de que levou pequenos tabletes de MDF e a turma em que estava dando aula não produziu quase nada, até quebrou uns dos tabletes. O maior ponto positivo de uma aula pratica é que você consegue perceber o que o aluno sabe e o que ele precisa desenvolver mais. Diferente das aulas teóricas, é na pratica que é possível instigar o pensamento do aluno ao mesmo tempo em que lapida a habilidade plástica dele. É nesse tipo de atividade que o processo criativo surge de forma mais intensa, a partir do trabalho, das limitações e da forma como irão transcender essas limitações. Não estou trabalhando com eles de forma plástica para eles se tornarem artistas, como é citado num livro:

“[...]Não é para isso que estão trabalhando. Mas a experiência de agora servirá onde quer que estejam amanha, como artistas, artesãos, industriais, técnicos, doutores, não importa. Ela lhes Dara um estação precioso para julgar e apreciar, sem desajustes e prejuízos, tornando-os aptos ao fazer e ao agir, ao pensar e ao sentir [...] (FERRAS E FUZARI, 1999, p. 78)”.

Ao final posso dizer que a aula foi um sucesso para os alunos que a realizaram. O desenvolvimento da imaginação foi possível, assim como a criatividade. Para incentivar as reflexões que deviam realizar, fiquei relembrando eles que este trabalho não era gratuito e que eles deviam pensar a respeito do que iriam criar.


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3.3.10.

Décimo encontro

Numero da aula: 10 Datas: 27/11/12 Duração: 1 hora Serie: 1º ano do ensino médio Conteúdo: figura humana, papel machê, escultura. Lista de atividades: 

Informar como será a atividade planejada para esta aula.

Se dividirem em grupos de cinco pessoas.

Cada grupo deverá eleger um preconceito social para retratar na forma da figura humana na linguagem tridimensional.

A partir dessa escolha, deverão pensar em como poderão realizar o trabalho tridimensional.

Após decidirem a etapa anterior, deverão começar o trabalho de modelagem com o papel machê.

Após o termino da modelagem deverão deixar a escultura secar longe da umidade para que possam trabalhar em cima dela nas próximas aulas.

Organização da sala de aula.

Encerramento da atividade.

Objetivos específicos: 

Desenvolver a imaginação.

Desenvolver a criatividade.

Pôr em pratica as reflexões acerca do corpo como uma construção social e individual em uma linguagem tridimensional.

Desenvolver uma consciência social a respeito do corpo humano.

Metodologia: Pratica artística, debate e reflexão. Materiais: papel machê. Avaliação:


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Será avaliada a construção da figura humana na linguagem tridimensional por parte dos alunos. Cada aluno será avaliado individualmente, todos devem participar da concepção das suas esculturas. Avaliarei a imaginação, o desenvolvimento do processo criativo e como eles tratarão a escolha do assunto a ser abordado na escultura. Planejado: No inicio da aula, pedirei para a turma se dividir em cinco grupos de aproximadamente cinco membros e então começarei explicando que eles irão desenvolver uma escultura com a técnica de papel machê. Explicarei a breve história da técnica, onde ela surgiu e o que podemos fazer com ela. No quadro colocarei a receita para o desenvolvimento do papel machê, que consiste em rasgar tiras finas de papel de jornal, recipiente com água e cola branca. Explicarei para eles que é um material que demora para ser produzido, pelo menos vinte e quatro horas entre o processo de rasgar as tiras de papel e coloca-las no recipiente com água. Depois é necessário coar o papel e retirar bem a água absorvida, após, esmiuçar o papel em pequenos pedacinhos, quase que esfarelar e finalmente misturar com cola branca e obter uma massa consistente para efetuar o trabalho. Como não teremos este tempo em aula, já levarei a massa pronta para os alunos começarem a trabalhar. Levarei garrafas pet para eles usarem como suporte da escultura que irão criar. O exercício vai consistir em modelar com a técnica de papel machê uma figura humana. O preconceito, seja ele racial, de biótipo físico, sexo, gênero, idade, deficiência e etc., será o tema principal da escultura. Ao faltarem cinco minutos para o termino da aula, pedirei a todos que voltem a se organizar e deixem as esculturas secando, longe da umidade. Este planejamento prevê duas aulas para a modelagem das esculturas, sendo que a segunda aula será a continuação da primeira.


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Realizado Hoje é 27/11/2012, falta apenas uma semana para o termino do estágio. Cheguei à sala de aula e como de costume eles estavam agitados. Mas eu estava calma, pois sabia que alguns alunos já estavam trabalhando nas suas esculturas e eu havia pedido para outros trazerem mais esqueletos para usarmos com o papel machê. Antes de começar a aula, escrevi no quadro o dia de nossas ultimas aulas, que ocorreriam na mesma semana seguinte nos dias 03/12/2012, numa segundafeira, e dia 04/12/2012, numa terça-feira. Como era de se esperar, isso não ocorreu, somente os alunos que trabalharam na aula anterior iriam trabalhar nesta aula também. Houve alguns alunos como Esther e Amanda que me perguntaram o que deveria ser realizado na aula e eu disse a elas que deveriam realizar um esqueleto para então poderem trabalhar com o papel machê. Entreguei as folhas para elas e ensinei como deveriam realizar os rolinhos de papel. Mesmo as ensinando não tomaram atitude alguma, no final, não realizaram a tarefa. Assim como na ultima aula, pedi que os alunos que já estavam realizando suas esculturas se aproximassem para poderem finalizar a modelagem com o papel machê na aula de hoje. Pois semana que vem iriam finalizar as esculturas através da pintura. Essa atividade era a atividade final, todas as outras (desenho, recorte e colagem, debates e exibição de imagens) deveriam capacitá-los para modelarem uma escultura da figura humana da melhor forma possível, sem contar que estava agregado todo um debate estabelecido algumas aulas anteriores:

Todas as atividade avaliadas concorrem para o desenvolvimento intelectual, social e moral dos alunos, e visam diagnosticar como a escola e professor estão contribuindo para isso. O objetivo do processo de ensino e de educação é que todas as crianças desenvolvam suas capacidades físicas e intelectuais, seu pensamento independente e criativo, tendo em vista tarefas teóricas e praticas, de modo que se preparem positivamente para a vida social (LIBÂNEO, 1994, p. 201).

Então prossegui com a aula normalmente. Caso algum aluno viesse me procurar para fazer a atividade, que ainda dava tempo para concluir, eu não negaria


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ajuda. Lembrando- me da falha na aula passada, a respeito do papel machê, para evitar que o papel ficasse com uma qualidade ruim, coloquei mais cola à mistura do papel. Os alunos mais uma vez me perguntaram como se fazia esse papel. Então novamente informei que era uma mistura de papel higiênico molhado e picotado com cola. Os alunos que trabalharam com o papel machê na aula anterior ficaram maravilhados em ver como a escultura estava dura, segundo eles. Expliquei que o papel havia secado bem e agora eles poderiam fazer a outra metade que não estava preenchida com papel machê. De todos os trabalhos, o que mais me chamou a atenção foi o do aluno Vanderlei que ficou liso como deveria ficar para um bom resultado plástico do trabalho. O que contrastou e muito com o trabalho da aluna Rafaela que ficou muito poroso, dando um aspecto grosseiro.

Trabalho da aluna Rafaela FONTE: FROES (2012)

Plasticamente eu não achei o resultado bom, podia ter sido melhor se tivesse trabalhado com mais calma com o papel machê. Outra coisa que não me agradou foi o fato da escultura não estar em uma posição que a aluna tenha escolhido. A posição em que a escultura se encontra é o resultado do papel machê, a aluna em outras palavras se deixou dominar pela parte negativa do material e a escultura ficou sem expressão, sem movimento. Sei que ela se esforçou e muito para realizar este


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trabalho, ela brigava intensamente com o papel machê e eu ia lá, sempre tentando ajudá-la. Mas ao mesmo tempo em que eu mesma ia ajuda-la a colocar o papel machê e modelar, não podia dar atenção exclusiva para ela. Outro aluno que estava enfrentando o mesmo problema era o aluno Douglas, mas seu trabalho estava pior, pois o papel machê, como não havia sido bem colocado e moldado junto ao esqueleto, pequenos pedaços começaram a cair. Ele tentava consertar sem obter muito sucesso, disse para ele tentar usar mais papel machê para tentar “emendar” a escultura. Minha avaliação final de seu trabalho por enquanto é que está ruim justamente pela porosidade, pelos relevos que não deviam existir na escultura. Faltando alguns minutos para a aula acabar, pedi para todos se organizarem e quem trabalhou ir lavar as mãos. Um detalhe importante que observei após a conclusão desta aula, foi que a aluna Alexandra junto com o aluno Vanderlei colocaram nádegas para a escultura do Vanderlei. Eu fiquei maravilhada com essa escultura, pois parece que ao menos dois deles tiveram uma ideia para dar mais volume a escultura, para eles pode ter sido algo sério e engraçado mesmo tempo. Mas, para mim, isso é o resultado de um esforço mental muito grande, pois se apenas eles tiveram essa ideia, é porque os outros não estão no mesmo nível plástico deles.

Trabalho do aluno Douglas FONTE: FROES (2012)


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Acabei percebendo que todas as esculturas estão numa fase de realismo conforme pude interpretar a partir da leitura de Ferraz e Fuzari (1999), embora ela fale de desenho, isso também se pode- aplicar à escultura. Todas as aulas eram a mesma coisa, eles demonstraram o mesmo comportamento. Fiquei refletindo se o problema estava realmente em mim como professora, se antes eu era a culpada por não levar materiais básicos, nas ultimas aulas eu levei todos os materiais possíveis. Fiquei refletindo nas palavras da minha orientadora, mas não consigo enxergar mais falhas. Tento me abrir com eles, elogiar o talento que alguns possuem para artes, mas não adianta. Eles não mudam. Eu não quero que eles sejam mudos, ainda mais realizando uma atividade pratica, mas queria que eles fizessem. E entendessem que, se ao menos pra eles o que tento ensinar não tem valor, que façam para passar de ano. Muitos foram mal na disciplina de artes no trimestre anterior e uns continuam no mesmo embalo. É como se tivessem desistido de lutar, de avançar. Os alunos que realizaram a atividade atingiram o objetivo da aula, e fico feliz, mas me entristeceu que é apenas a minoria da turma.


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3.3.11.

Décimo primeiro encontro

Numero da aula: 11 Data: 03/12/2012 Duração: 1 hora Serie: 1º ano do ensino médio Conteúdo: escultura, figura humana, pintura. Lista de atividades: 

Informar como será a atividade planejada para esta aula.

Se dividirem em grupos de cinco pessoas.

Distribuir as esculturas para cada um dos grupos.

Após, será realizada a distribuição dos materiais para a finalização das esculturas.

Cada grupo deverá pensar em como irão trabalhar em cima de suas esculturas se baseando no preconceito social que elegeram, que cores utilizar, que adereços colocar caso seja necessário e etc.

A partir dessa escolha, deverão começar dar vida a suas esculturas em papel machê.

Irei circular pela sala auxiliando os alunos com suas esculturas.

Organização da sala de aula.

Encerramento da atividade.

Objetivos específicos: 

Desenvolver a imaginação.

Desenvolver a criatividade.

Pôr em pratica as reflexões acerca do corpo como uma construção social e individual em uma linguagem tridimensional.

Desenvolver uma consciência social a respeito do corpo humano.

Trabalhar com cores.

Metodologia: Pratica artística, debate e reflexão. Materiais: Tinta guache, pano, copos, materiais de artesanato, cola e pincel.


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Avaliação: Será avaliada a construção da figura humana na linguagem tridimensional por parte dos alunos. Cada aluno será avaliado individualmente, todos devem participar da concepção das suas esculturas. Avaliarei a imaginação, o desenvolvimento do processo criativo e quais os materiais que eles utilizarão na finalização da escultura. Levarei em consideração o uso de cores para a construção da figura humana, bem como suas misturas para a criação de novos tons. Planejado: No inicio da aula irei pedir aos alunos que se organizem em seus grupos e começarei a distribuir as esculturas que eles realizaram nas aulas anteriores. Após a entrega das esculturas, irei explicar a atividade que eles deverão realizar, que constituirá em pintarem suas esculturas. Deverão levar em consideração quem eles estão retratando socialmente. Após a explicação, irei deixar à disposição dos grupos potes de guache com as cores primarias, alguns materiais usados na confecção de artesanatos, panos e copos para eles limparem seus pinceis. Irei dizer aos alunos como que eles deverão trabalhar com misturas de tintas para a obtenção de novas cores. Irei escrever no quadro o que a mistura de cada cor primaria resultará, como forma de guiá-los no seu trabalho. Irei também dizer que eles possuem materiais de artesanato a sua disposição para incrementar suas esculturas, e que qualquer duvida eles poderão vir me consultar. Durante a aula irei passar entre os grupos e vou auxiliá-los no que for possível, tirando suas duvidas ou dando dicas sobre como podem melhorar seus trabalhos.


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Realizado Antes de começar a escrever os relatos, direi antes como essa aula foi planejada primeiro e o que ocorreu, tive que usar muito o improviso. Primeiramente essa aula levou dois dias para ser concluída, mas contei como um período apenas. Essa foi à gota d´água com a turma 104 do primeiro ano do ensino médio do Colégio Costa e Silva. Comecei chegando à escola com o material necessário para a composição final das esculturas, levei tintas para eles começarem e finalizar suas esculturas. Aqueles que não haviam realizado a atividade nas aulas anteriores teriam a chance de trazer o esqueleto novamente e através da papietagem que eu os ensinaria, eles iriam dar corpo à escultura e me trazer na ultima aula elas finalizadas. Ainda na aula anterior, dia 27/11/2012, eu havia escrito bem grande no quadro que nossas ultimas aulas seriam esta semana, nos dias 03/12/2012 e 04/12/2012 e que deveriam trazer os esqueletos no dia 03/12/2012 para eu ajuda-los. Cheguei à sala de aula e os alunos não haviam trazido o esqueleto (com exceção daqueles que já estavam produzindo, é claro). Nisso argumentaram que não sabiam de nada e eu não tinha avisado. A professora titular se enfureceu com eles, pois eu mesma havia combinado isso com ela na aula anterior, até mesmo a pedido dela para agilizar a finalização do estágio e ela fechar seus diários de classe. Ela disse que era uma vergonha eles não terem responsabilidade, e num tom de ironia, que eles nunca sabiam de nada, eram sempre os inocentes. Nisso ela avisou que quem iria avaliar e dar as notas finais era a professora Priscila e não ela, ou seja, que se entendessem comigo para poderem recuperar o trabalho perdido, pois teriam apenas mais uma aula. Após esse episodio, alguns alunos vieram me perguntar o que deveriam fazer, eu olhei para a cara deles e disse que deveriam começar pelo esqueleto e que depois iríamos conversar. Um aluno, Marciano, disse que não ia fazer, pois segundo suas palavras: “Era muita mão”. Olhei pra ele e disse que tudo bem, era uma decisão dele. Nenhum aluno me procurou para começar a fazer o trabalho, com exceção de duas alunas de quem falarei abaixo.


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Nisso as alunas Ashley e Alexandra vieram até mim e perguntaram como se fazia o esqueleto, pois segundo Ashley ela havia esquecido e Alexandra, havia faltado no dia em que dei aula e ela estava perdida. Nisso pedi para elas sentarem próximas uma da outra e começarem a fazer os rolinhos com uma folha de caderno. Nisso Ashley se sentou numa mesa e começou a fazer os quatro rolinhos que eu havia ensinado na aula anterior, deixei para ela um tubo de cola. Já com a aluna Alexandra, ela perguntou se podia continuar a ajudar seu colega Vanderlei, já que ela fez isso na aula anterior e que me traria o esqueleto já pronto amanha. Com base nessa informação, eu consenti. Então, nesse meio tempo, a aula ficou bem agitada, pois por um lado tinha que dar atenção para aqueles que já estavam fazendo há três aulas, mas não podia esquecer daqueles que tinham que fazer a escultura desde o inicio. Outro aluno que faltou na aula anterior foi o aluno Diego, nessa aula ele chegou e pediu desculpas pelas faltas, mas o que ele deveria fazer. Então fui a minha pasta e peguei um jornal e pedi para ele prestar atenção no que eu faria, não só pedi atenção dele, como também pedi para a aluna Ashley que estava ao lado dele, dizendo que ela deveriam fazer o mesmo após terminar o esqueleto. A instrução foi de recortar o jornal numa tira de espessura mediana e que colasse sobre o corpo do esqueleto, de forma que fosse cobrindo ele através das camadas de jornal e o deixasse mais encorpado. Então o aluno Diego, entendendo como deveria proceder agradeceu e começou a fazer como eu o havia instruído. Perguntei a Ashley se ela tinha alguma duvida e ela disse que já tinha feito os rolos mas havia esquecido como juntar as partes, então dei a mesma instrução que passei nas aulas anteriores sobre como juntar os membros para fazer o esqueleto. Então ela começou a fazer. Nisso fui ao outro lado da sala de aula, no qual os alunos Vanderlei, Douglas, Rafaela, Alexandra e Filiphe estavam trabalhando e disse que eles deveriam agora começar a pintar suas esculturas, podiam misturar tintas para criar novos tons, criar texturas com isso também, enfim, ficaria a critério deles, contanto que retratassem alguém que sofresse de preconceito em relação a seu corpo.


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Trabalho da aluna Rafaela FONTE: FROES (2012)

Como esses alunos já estavam adiantados e apenas precisavam finalizar, os deixei mais livres e fiquei dando atenção aos alunos Diego e Ashley que estavam mais atrasados. Mas percebi que eles estavam trabalhando de uma forma bem meticulosa, usando as cores para criar roupas, como podemos ver no trabalho de Rafaela (acima) ou mesmo dando cor à pele da escultura como podemos observar no trabalho de Vanderlei (abaixo)

. Trabalho do aluno Vanderlei FONTE: FROES (2012)


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Enquanto ajudava os alunos, quatro alunos vieram me perguntar como eles deveriam fazer o boneco. Esses eram Esther, Amanda, Carlos e Viviane. Disse que eles podiam fazer em duplas para podermos atingir a conclusão do trabalho de forma mais rápida. Para as alunas Amanda e Esther eu pedi que pedissem ao seu colega e amigo Juliano para as ensinarem, já que ele não faltou em nenhuma aula. Com isso as meninas começaram a fazer sem obter muito sucesso, pois enquanto estava orientando a dupla Carlos e Viviane eu vi que o aluno Juliano não estava ajudando suas colegas como eu havia pedido para ele. Nisso as meninas vieram me perguntar se dava pra por o nome do Juliano no grupo e eu disse que não, que essa chance seria dada a elas, já que, elas faltaram quando o esqueleto foi feito, elas então concordaram e foram fazer seu esqueleto. Após isso a aluna Ashley veio me perguntar como ela colaria o jornal por cima do esqueleto, então pedi que observasse seu colega do lado, Diego, e o aluno Diego a ajudou, dizendo que ela deveria cortar tiras e cobrir o esqueleto, tal como ele fez. Nisso percebi que Diego já estava avançado em seu trabalho, mas achei que ele usou poucas camadas de jornal e pedi para ele usar mais camadas, pois assim seu trabalho teria mais volume, ele disse que não precisava pois sua escultura seria assim, bem magra e estreita. Então disse que ele deveria tentar ao menos, pois o trabalho dele estava muito bom, só precisava de mais camadas. Nisso voltei para os alunos Carlos e Viviane, pedindo a eles que fizessem o mesmo que Diego estava fazendo com o jornal. Eles perguntaram como e então levei um jornal para eles fazerem as tiras e colarem sobre o esqueleto que já estava concluído. Percebi que a aula estava acabando. Nisso os deixei e fui dar uma nova olhada nos alunos que estavam mais adiantados conforme o planejamento. Pedi a eles que parassem de pintar e se organizassem. Pedi a uma aluna que fosse lavar os pinceis e comecei a liberar aos poucos os alunos que usaram tinta e cola para irem ao banheiro lavar suas mãos.


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Trabalho do aluno Diego FONTE: FROES (2012)

Enquanto toda essa agitação positiva ocorria, acabei me esquecendo de um aluno e fiquei mal por isso. Ele apresentou dificuldades no manuseio do papel machê. Estou falando do aluno Filiphe. Filiphe parecia desanimado desde a aula com o papel machê quando ele não conseguia grudar o papel no seu esqueleto. Então fui até ele e perguntei se ele precisava de ajuda. Ele disse que estava tudo bem, então eu falei para ele que a aula já estava acabando, mas que amanha eles iriam continuar o trabalho e que se ele quisesse poderia me trazer ele coberto por tiras de jornal e ai começar a pintar sua escultura. Nisso ele se interessou e perguntou como deveria fazer. Fui mais uma vez a minha mesa e tirei uma folha de jornal para ele e dei a mesma instrução que passei para a aluna Ashley e Diego. Nesse meio tempo as meninas Esther e Amanda vieram perguntar se o boneco delas estava certo, disse que sim, que a estrutura dele estava correta e então uma delas disse: “Então agora é só pintar né sora?!”. E eu respondi que sim, mas não para esta aula, pois não daria tempo, mas poderiam me trazer amanha sem falta. Nisso liberei elas para lavarem suas mãos e fui guardando meus materiais de trabalho, pois faltavam menos de cinco minutos para o termino do período. Então, quando o sinal bateu, me despedi de todos e disse que amanha iríamos concluir o


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trabalho e se alguém ainda quisesse trazer o esqueleto no próximo dia, não sofreria penalidades na avaliação.

Trabalho do aluno Filiphe FONTE: FROES (2012)


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3.3.12.

Décimo segundo encontro

Numero da aula: 12 Data: 04/12/2012 Duração: 1 hora Serie: 1º ano do ensino médio Conteúdo: escultura, figura humana, pintura. Lista de atividades: 

Informar como será a atividade planejada para esta aula.

Se dividirem em grupos de cinco pessoas.

Distribuir as esculturas para cada um dos grupos.

Após, será realizada a distribuição dos materiais para a finalização das esculturas.

Cada grupo deverá pensar em como irão trabalhar em cima de suas esculturas se baseando no preconceito social que elegeram, que cores utilizar, que adereços colocar caso seja necessário e etc.

A partir dessa escolha, deverão começar dar vida a suas esculturas em papel machê.

Irei circular pela sala auxiliando os alunos com suas esculturas.

Organização da sala de aula.

Encerramento da atividade.

Objetivos específicos: 

Desenvolver a imaginação.

Desenvolver a criatividade.

Pôr em pratica as reflexões acerca do corpo como uma construção social e individual em uma linguagem tridimensional.

Desenvolver uma consciência social a respeito do corpo humano.

Trabalhar com cores.

Metodologia: Pratica artística, debate e reflexão. Materiais: Tinta guache, pano, copos, materiais de artesanato, cola e pincel.


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Avaliação: Será avaliada a construção da figura humana na linguagem tridimensional por parte dos alunos. Cada aluno será avaliado individualmente, todos devem participar da concepção das suas esculturas. Avaliarei a imaginação, o desenvolvimento do processo criativo e quais os materiais que eles utilizarão na finalização da escultura. Levarei em consideração o uso de cores para a construção da figura humana, bem como suas misturas para a criação de novos tons. Planejado: No inicio da aula irei pedir aos alunos que se organizem em seus grupos e começarei a distribuir as esculturas que eles realizaram nas aulas anteriores. Após a entrega das esculturas, irei explicar a atividade que eles deverão realizar, que constituirá em pintarem suas esculturas. Deverão levar em consideração quem eles estão retratando socialmente. Após a explicação, irei deixar à disposição dos grupos potes de guache com as cores primarias, alguns materiais usados na confecção de artesanatos, panos e copos para eles limparem seus pinceis. Irei dizer aos alunos como que eles deverão trabalhar com misturas de tintas para a obtenção de novas cores. Irei escrever no quadro o que a mistura de cada cor primaria resultará, como forma de guiá-los no seu trabalho. Irei também dizer que eles possuem materiais de artesanato a sua disposição para incrementar suas esculturas, e que qualquer duvida eles poderão vir me consultar. Durante a aula irei passar entre os grupos e vou auxiliá-los no que for possível, tirando suas duvidas ou dando dicas sobre como podem melhorar seus trabalhos.


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Realizado Chegando à sala de aula no outro dia, 04/12/2012, que por sinal deveria ter sido a ultima, a professora titular chegou e disse aos alunos que essa seria a ultima aula, mais uma vez ela ficou braba, pois eles não haviam levado o esqueleto e isso iria prejudica-los em sua media final. Então ela me perguntou se essa seria a ultima aula mesmo e eu disse a ela na frente da turma que isso dependia dela. Nisso a aluna Ashley pediu que eu desse mais uma aula. Percebendo a necessidade de dar mais uma aula para acabar com o projeto de uma forma satisfatória, decidi que daria mais uma aula, então combinei com a professora titular que eu consideraria a aula anterior e esta como uma única aula, ela concordou e me deixou com os alunos para concluirmos. Nisso eu avisei a todos em alto e bom som, que, primeiro, essa seria a ultima aula para concluírem a tarefa, e segundo, que todas as aulas eram avaliadas, que ainda havia tempo de recuperarem o tempo perdido, pois teríamos essa e a ultima aula para terem tudo concluído. Nisso pedi a todos que estavam trabalhando desde a aula anterior, que se reunissem em uma parte da sala de aula para que assim o material ficasse ao alcance de todos. Pedi a alguns alunos que trouxessem os trabalhos dos outros para dentro da sala como de costume e então quando trouxeram, demos inicio a finalização. Enquanto os alunos trabalhavam, o aluno Filiphe me chamou e me mostrou o esqueleto dele preenchido. Quando olhei eu não acreditei no trabalho maravilhoso que ele havia realizado. Ele disse que misturou cola e papel higiênico, mas que ainda estava úmido, pois havia feito no dia anterior. Eu disse que estava tudo bem e que estava perfeito, só faltava concluirmos. Elogiei muito seu trabalho, pois daquele esqueleto magrinho, raquítico, ele havia dado vida, transformado o mesmo em uma escultura, só faltavam os retoques finais. Nisso os alunos Wellington e Diego viram o que ele havia feito e ficaram surpreendidos, não por Filiphe ter realizado um bom trabalho, mas pelo resultado ter ficado muito bom, bem preenchido. Até mesmo o pescoço estava bem moldado a cabeça e ao resto do corpo.


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Trabalho do aluno Filiphe FONTE: FROES (2012)

Durante a aula, a aluna Alexandra veio me falar que seu esqueleto estragou e queria saber se podia concluir o trabalho do aluno Vanderlei que não havia vindo nesta aula em particular (raramente faltava). Disse que tudo bem, já que ela estava ajudando ele desde a aula com o papel machê eu não via problema algum nisso. Só pedi que concluísse hoje para semana que vem eles poderem apresentar. Ouvindo isso, o aluno Juliano veio até mim para me perguntar se as meninas Esther e Amanda não podiam colocar o nome dele no trabalho delas. Eu disse que não poderiam, então ele perguntou porque e eu disse que ele não havia faltado nenhuma aula como havia ocorrido com as meninas. Nisso ele se alterou e começou a falar de uma forma que nunca vi falar com ninguém. Ele parecia desesperado para ter seu nome incluso no trabalho delas. Tentou argumentar comigo que roubaram seu esqueleto naquele dia e por isso não havia trazido. Então eu contra argumentei que isso não era responsabilidade minha, que eu havia ensinado eles a fazerem um esqueleto e que eles não haviam levado na aula seguinte (tiveram aula dia 19/11/2012 e 20/11/2012). Nisso ele ficou furioso, mas eu fui calma e firme e disse que não seria possível, pois estávamos na quinta aula e ele não se mexeu para fazer como alguns fizeram (no caso de Ashley e Diego), que se ele não correu atrás do prejuízo, não seria justo com os outros que correram. Ele não conseguiu nem


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perceber que poderia ainda fazer nesta aula a escultura, mas estava cego e não conseguiu enxergar isso. Foi a sua mesa e ficou la, de cabeça baixa e brabo. Prosseguindo com a aula, comecei misturando tintas de cor vermelha e branca para dar um tom rosado. Caso alguém quisesse fazer a pele, pois eu disse a eles que hoje não seria permitido fazer negros, pois dois alunos já haviam realizado, Vanderlei e Douglas. Então Alexandra começou a terminar de pintar a escultura de Vanderlei e fez uma sunga de tinta branca para, a escultura vestir.

Trabalho do aluno Vanderlei FONTE: FROES (2012)


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Trabalho do aluno Vanderlei FONTE: FROES (2012)

As meninas Esther e Amanda, num momento de desespero, começaram a usar as mãos para pintarem suas esculturas. Eu ria junto com elas, pois elas diziam que era algo nojento. Tentava acalma-las dizendo que depois elas iriam lavar as mãos no banheiro. Na verdade, elas usaram as mãos pois não haviam pinceis suficientes para todos e eu sugeri que usassem os dedos, para não pararem seus trabalhos e atrasar mais ainda. Eu sentia que esta aula estava sendo bem proveitosa para aqueles que estavam realizando as atividades propostas. Fiquei tentada ao tirar uma foto do resto da turma que não estava trabalhando, mas achei melhor não, seria constrangimento demais para eles. Fiquei muito chateada por eles não levarem nem mesmo a sério sua avaliação. O aluno Juliano me fez perceber que eles não tinham razão alguma em reclamar de mim, pois nessas ultimas aulas eu levei todo material e mesmo assim eles não assumiram a sua parte, a de alunos. Isso incomoda muito, pois eles mesmos se sabotam e depois vem até mim para reclamar sobre suas notas. Esse trabalho que eu propus nada mais é do que uma “prova final” de tudo aquilo que conversamos durante o trimestre. Como Libâneo (1994) relata que provas são necessárias, embora não devam ser os únicos meios de avaliação do conteúdo escolar. Como Ferraz e Fuzari (1999) falam, também é possível afirmar que é muito


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complicado estabelecermos uma avaliação pratica em artes. Por isso escolhi avaliar todas as aulas.

Trabalho das alunas Esther e Amanda FONTE: FROES (2012)

Ao mesmo tempo em que tudo isso ocorria, os meninos Filiphe e Diego estavam pintando também suas esculturas. Quanto ao Diego pedi que como ele não havia usado camadas de jornal, que usasse ao menos camadas de tinta, pois como a cor de pele era muito clara, ainda era possível ver o jornal por de trás da tinta. Ele compreendeu e fez o que solicitei. Quanto ao aluno Filiphe eu não tinha o que falar, pois sua escultura em si já estava ótima, não fiquei interferindo muito em seu trabalho, só pedi um pincel emprestado para um dos alunos para que ele pudesse dar um melhor acabamento em seu trabalho.


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Trabalho do aluno Diego FONTE: FROES (2012)

Trabalho do aluno Filiphe FONTE: FROES (2012)

Os objetivos desta aula foram alcançados por aqueles que trabalharam, cerca de 20% da turma no total. Não foi um sucesso total, mas como não havia mais jeito com os outros, só me resta sentir pena deles, pois minha avaliação não será outra a não ser um zero bem grande para estas ultimas aulas. Existem alunos que estão abaixo de 5 na media final. Conversei após a aula com a professora titular e ela ficou decepcionada também, pois isso ocorria com ela também, eles não tinham


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responsabilidade com seus trabalhos. Eu me senti muito mal por não ter atingido eles, mas como conforto é possível citar Libâneo (1994, p. 200) que diz, “por mais que o professor se empenhe na motivação interna dos alunos, nem sempre conseguirá deles o desejo espontâneo para o estudo”. É triste isso, mas ao mesmo tempo uma realidade, ela só se torna cruel quando não conseguimos atingir um ou dois alunos, mas sim mais de 50% da turma. O ano já esta acabando e eu deverei fechar as notas na próxima aula e doze alunos estão abaixo da media, de vinte e nove alunos. Eu acho um numero muito alto, ainda mais numa disciplina que deveria ser “fácil”, prazerosa. Eles só deviam me entregar os trabalhos, eu não estava exigindo muito além disso, mas nem para isso eles se mexeram e eles tiveram duas aulas, sendo que isso não estava planejado originalmente. Eu como cidadã brasileira fico pensando: “O que será dessas pessoas num futuro próximo?”. Minha exigência com eles é que não se tornem aquilo que uma parcela da sociedade quer: pessoas ignorantes para explorar.


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3.3.13.

Décimo terceiro encontro

Numero da aula: 13 Data: 11/12/2012 Duração: 1 hora Serie: 1º ano do ensino médio Conteúdo: escultura, figura humana. Lista de atividades: 

Informar como será a atividade planejada para esta aula.

Breve conversa sobre a avaliação final.

Cada aluno deverá apresentar sua escultura.

Avaliação da turma a respeito da escultura do colega.

Avaliação da professora sobre a escultura criada.

Organização da sala de aula.

Encerramento da atividade.

Objetivos específicos: 

Analisar os trabalhos criados.

Refletir a respeito do preconceito.

Avaliar e refletir a respeito dos trabalhos desenvolvidos pelos seus pares.

Metodologia: expositiva, debate e reflexão. Materiais: Esculturas feitas pelos alunos. Avaliação: Será avaliado de forma individual cada objeto tridimensional apresentado na frente da turma. Os alunos que desenvolveram a mesma em grupo, deverão falar sobre a figura representada, se a mesma possui um nome, qual segmento da sociedade esta figura representa, o porque de terem escolhido esse tema, como foi realizar este trabalho e etc. Irei avaliar não só apresentação dos alunos como


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também avaliarei a avaliação dos seus colegas sobre o trabalho dos outros e as reflexões que farão. Planejado: No inicio da aula irei pedir que cada aluno me mostre sua escultura realizada e que deveria ser entregue até esta aula. Principalmente para aqueles que não trabalharam em sala de aula. Após isso irei informar novamente como foi feita a avaliação de cada aluno. Irei explicar como havia dito na primeira aula que todas as aulas seriam avaliadas. Após a explicação sobre o modo de avaliação, pedirei que cada aluno venha à frente da sala de aula e fale a respeito de sua escultura. O que estavam retratando nela e qual discriminação estavam querendo mostrar. Perguntarei se foi difícil fazêla. Depois passarei a avaliação para a turma, questionando sobre a qualidade plástica do trabalho do colega e o que poderia ser feito para melhorar. Após essa avaliação, darei meu conceito final sobre o trabalho, informando sobre a qualidade plástica do trabalho, bem como o que poderia ter sido feito para melhor a escultura. Então, depois disso, irei pedir que outro aluno venha e assim até o ultimo se apresentar. Encerrarei a aula desejando boas festas a todos, que se foquem nos estudos e aproveitem as férias.


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Realizado Esta será a ultima aula. Na realidade nada me deu tamanha alegria ao saber que seria a ultima vez que veria alguns alunos. Iniciei a aula cumprimentando a todos e, tão logo solicitei que os alunos Elton e Wellington fossem buscar os trabalhos realizados na aula anterior na sala local em que eles estavam secando. A professora titular estava presente neste momento e disse aos alunos que esta seria a ultima aula deles comigo e que hoje eu iria fazer um encerramento das atividades com eles, que falaria a respeito também das notas finais. Então ela deixou a sala e logo vieram as perguntas a respeito das notas finais. Pedi a todos que se sentassem e se acalmassem, mas isso não ocorreu. Então disse a eles que todas as aulas eram avaliadas, que aula dada era aula dada, caso não houvesse justificativa legal para a ausência ou não houvesse a participação pertinente em sala durante as atividades em artes, a avaliação seria zero naquela aula em que faltaram ou não realizaram a tarefa proposta. Após essa resposta, muitos disseram que estavam então reprovados na disciplina, então eu disse que para toda ação haveria uma reação, quem havia realizado os trabalhos práticos, haviam falado de forma pertinente nas aulas de debate, estavam bem. Então veio outro aluno e começou a reclamar da nota, que por sinal nem ele sabia se era boa ou ruim. Veio dizer que eu estava errada na avaliação por eu vinha dar aula e na outra eu mudava o conteúdo. Eu não conseguia entender realmente o que ele falava. Primeiro pelo linguajar dele que atrapalhava sua dicção, segundo, pois ele não tinha razão alguma de reclamar pois não produziu praticamente nada o trimestre inteiro. Se ele tinha alguma nota, foi golpe de sorte e não proposital. A media dele final quando calculei foi 3,8. Até fiquei surpresa, pois teve uma media mais alta que o aluno Elton, que ficou com 2,3. Um outro aluno, Marciano, perguntou se eu não faria recuperação, eu disse que não, pois eles haviam tido cinco aulas para realizarem a atividade, algo que planejei para quatro no máximo. As alunas Esther e Amanda concordaram comigo, junto com os outros alunos que realizaram a atividade. Posso lembrar de Libanêo (2001) que fala sobre não usar a nota para punir os maus e recompensar os bons. Não foi essa minha intenção, a nota é apenas o reflexo das atividades realizadas. Em momento algum eu tirei nota pelo aluno ser


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mal educado, e sim por não realizar as atividades propostas. Por isso desde a primeira aula eu disse que toda aula seria avaliada, eles concordaram quando eu disse isso, disseram que era justo. Ainda mais quando falamos de uma aula de arte. Nunca dei um grande valor à qualidade estética do trabalho e sim a todo o percurso que o aluno percorreu para chegar a tal resultado, nem sempre alguém tem algum “talento nato” para o desenho, ou escultura e pintura conforme compreendi sobre a avaliação em artes de Ferraz e Fuzari (1999). Quem sou eu para dizer que o trabalho esta ruim ou sua fala esta inadequada quando naquele momento é o máximo que o aluno consegue chegar? Eu achei meu modo de avaliação justa. Então, o aluno David se sentou e parou de reclamar. Prosseguindo, todos estavam ainda agitados e pedi para as meninas Esther e Amanda começarem a apresentar sua escultura e falarem a respeito da mesma. Nisso a turma não fazia silencio e eu bati palmas pedindo atenção para o silencio, nisso os alunos Guilherme e Daniel também aplaudiram. Essa afronta foi a gota d’água, mandei eles se retirarem da sala de aula e da minha frente, que já bastava a falta de educação deles. Então eles se recusaram a sair e eu disse que iria chamar a vice diretora e nisso eles saíram e foram pro pátio da escola. Perguntei se mais alguém queria ir junto e todos se calaram, acreditei que isso fosse um “não”. Então novamente pedi que as meninas começassem a falar a respeito do seu trabalho. Elas começaram a falar que o boneco delas representava a homofobia, as corrigi e disse que seria um homossexual, ai elas rebateram e disseram que queria dizer que homofobia seria o preconceito que elas estavam representando, ai compreendi e disse que estava tudo bem. Ficaram falando que o colorido em volta da escultura representava a bandeira do movimento LGBT e que o brilho era pra enfatizar o quão gay era a escultura. Eu ria junto com elas, pois lembrei da aula anterior em que elas ficaram debatendo se colocavam ou não brilho na escultura, pois gay não era sinônimo de carnaval. Após elas terminarem seu discurso perguntei à turma o que eles achavam da escultura que elas fizeram. O aluno Marciano disse que achou ela muito “magra”, fina, já outros alunos disseram que a intenção era legal, mas faltava a cabeça, nisso todos riram. Então finalizei minha avaliação do trabalhos delas da seguinte maneira: visualmente vocês conseguiram atingir objetivo de vocês usando cores tidas como


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gay , o brilho, a intenção esta de acordo, mas plasticamente falando o trabalho de vocês não esta bom pois como vocês sabiam, deviam ter realizado algumas aulas anteriores à ultima. Disse que o grande erro delas estava nisso, se tivessem realizado o trabalho de uma forma mais seria quando eu havia solicitado há umas três aulas anteriores e elas estavam presentes. Elas concordaram com minha avaliação e eu disse que agradecia o esforço delas por mais que tenha sido de ultima hora e dei parabéns pela suas participações nas aulas.

Trabalho das alunas Amanda (a frente) e Esther (ao fundo) FROES (2012)

Depois pedi ao aluno Diego vir à frente falar de seu trabalho, estranhei, pois não veio somente ele, mas um colega que não fez o trabalho, Wagner. Deixei, pois não iria querer cortar aquele momento. O aluno que segura o trabalho não é o Diego, mas sim Wagner. Wagner ficava segurando a escultura enquanto Diego falava sobre o boneco, dizia que representava um atleta (por sinal o aluno Diego é atleta e veio do Paraná para treinar no Rio Grande do Sul), quis dar noção de movimento para o seu trabalho e que ele era “gay” devido à cor rosa. Eu sabia que o


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termo gay foi usado como desculpa de ultima hora para apresentar o trabalho, mas não liguei para isso, pois ele estava apresentando e ao contrario da maior parte da turma, ele realizou a tarefa sem nunca ter reclamado e sim perguntando como devia fazer. Perguntei a turma o que eles achavam e disseram que o boneco não era gay, mas sofria de anorexia, pois era estreito demais. Após esse comentário, eu elogiei o trabalho do aluno, mas disse que plasticamente ele estava realmente estreito demais, então Diego argumentou que ele era assim, pois era atleta, então eu disse que tudo bem, mas como havia orientado ele nas aulas anteriores, seu trabalho poderia ter sido melhor se tivesse usado mais camadas de papel para modelar o corpo, que plasticamente ficaria melhor. Enfatizei a turma ainda que Diego trabalhou usando a técnica de papietagem e não papel machê, devido aos transtornos e atrasos nas aulas anteriores, os alunos que não haviam usado o papel machê, trabalharam com papietagem, que era mais rápido de usar do que o papel machê.

Trabalho do aluno Diego (Wagner segurando a escultura) FROES (2012)


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Após a avaliação do trabalho do aluno Diego, pedi ao aluno Filiphe que viesse à frente para poder falar de seu trabalho. Filiphe veio e começou a falar que seu trabalho representava um deficiente que tinha um membro amputado, logo após sua fala, a aluna Amanda disse que era uma amputação parcial pois ele só não tinha uma parte do corpo. Gostei da sua observação e prossegui com a aula perguntando mais sobre a escultura. O aluno Filiphe, como sempre muito tímido, disse que não tinha mais nada a acrescentar, então perguntei à turma o que haviam achado, todos concordaram que o trabalho estava bom e o aluno Marciano disse que estava revoltado, que brincaram com a cara dele, pois o movimento dos braços da escultura era o mesmo que ele conseguia fazer com seus braços. O aluno Filiphe concordou e disse que se inspirou nele para fazer isso, com isso a turma riu muito e eu elogiei a originalidade de seu trabalho.

Trabalho do aluno Filiphe FROES (2012)

Minha avaliação final sobre o trabalho dele foi muito positiva, disse que plasticamente ele me surpreendeu, pois ele era tão magrinho e raquítico no inicio e


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no outro dia mostrou uma escultura com mais formas, mais volume, disse que gostei do uso das cores para representar roupa e pele. Disse que foi muito positivo ele ter usado outra alternativa para a construção da sua escultura já que não estava tendo sucesso em usar o papel machê. Enfim, seu trabalho estava muito bom. Agradeci seu trabalho, sua dedicação e lhe dei os parabéns. Então pedi ao aluno Vanderlei para vir falar sobre seu trabalho. Fazendo um adendo, eu estava muito contente com o trabalho deste aluno, que no inicio não produzia e ficava com os alunos que não trabalhavam, gostei da mudança de atitude dele e de como ele era educado com todos. Quando Vanderlei chegou, começou a falar que seu trabalho era simples, um homem negro usando uma sunga branca e que ele não tinha uma parte da perna. Agradeci sua participação e disse que havia gostado do trabalho que ele e a aluna Alexandra haviam realizado. Disse que gostei da bunda que eles deram à escultura que isso dava noção de volume ao trabalho, mais que os anteriores apresentados.

Trabalho do aluno Vanderlei (de lado e frente) FROES (2012)


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Lembrei ele sobre a dificuldade que os alunos que usaram o papel machê tiveram e que a escultura de costas estava muito boa, uma pena que de frente não ficou tão lisa como deveria ter ficado, mas seu trabalho estava muito bom. Agradeci seu esforço e o parabenizei pela participação nas aulas. Logo depois houve a apresentação do aluno Carlos, que não queria ir à frente apresentar seu trabalho. Quando ele foi à frente falar, falou que sua escultura sofria de câncer. Lembrei que isso não era um preconceito e ele disse que o trabalho dele estava um lixo. Então perguntei à turma o que achavam. os alunos responderam que realmente estava muito ruim. Fui obrigada a concordar com eles. Disse a Carlos que seu trabalho estava mesmo muito ruim plasticamente, que ele devia ter se esforçado muito mais, já que havíamos tido cinco aulas para terminar a tarefa e que infelizmente ele se dispersou fazendo trabalhos de outras disciplinas ao invés da aula de artes. Informei que ele não havia usado o trabalho de papietagem como eu havia ensinado aos alunos e a ele e que isso diminuiu seu trabalho plástico consideravelmente. Disse também que me decepcionei muito com o resultado, pois ele era um garoto com muito talento, com desenhos muito bonitos e que esse trabalho não refletia o talento pra artes que ele demonstrava ter no inicio das aulas. Que eu não o reconhecia ali. Então o lembrei sobre ele ter me dito que pretendia cursar Arquitetura, disse a ele que seu talento pra desenho iria ajudar e muito, mas que ele também iria trabalhar de forma tridimensional, realizando maquetes e que ele não devia apresentar um trabalho como esse que ele estava apresentando em sala de aula. Ele concordou e pediu desculpas por não ter se dedicado nas ultimas aulas. Agradeci e chamei o ultimo aluno para falar de seu trabalho.


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Trabalho do aluno Carlos FROES (2012)

Então o ultimo aluno presente naquele dia e que fez o trabalho, Douglas, foi a frente falar sobre seu trabalho. Disse que ele era negro, com um braço amputado, hermafrodita e o vermelho representava a calcinha e o sutiã. Nisso eu e toda turma começamos a rir porque eu fiquei incrédula que ele conseguiu pensar nisso tudo nos trinta minutos antes de apresentar seu trabalho. Achei a relação muito engraçada, realmente eles me surpreenderam em suas falas. Literalmente eu fiquei sem palavras. Então me refiz e disse que o trabalho estava mediano, pois houve algumas falhas enquanto ele moldava a escultura com o papel machê. Que eu não sabia como ele havia conseguido amputar um braço sendo que o esqueleto estava por dentro, nisso ele disse que sofreu um acidente. Disse pra ele que seu trabalho embora mediano estava bom, seu único defeito eram as falhas do papel machê, não estava tão liso como a escultura do Vanderlei.


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Trabalho do aluno Douglas FROES (2012)

Minha avaliação final da aula foi positiva. Após retirar os maus elementos de dentro da sala de aula, pudemos prosseguir com a aula sem muito transtorno. Todos de alguma forma colaboraram, seja durante as apresentações ou nos comentários pertinentes. Esta devia ter sido a atitude que devia ter tomado desde o inicio do projeto, talvez assim eles levassem mais a sério as aulas de artes. Ouço comentários sobre todos amarem os estagiários quando vão dar aula, mas não no meu caso, pois sacrifiquei meu projeto para ser justa e não me estressar por eles serem como são. Estou muito frustrada com a educação, e não falo a respeito de conteúdo didático ensinado nas escolas, esse é meu trabalho, mas das regras de boa convivência, etiqueta que alguns alunos não têm. Antonin Zabala (2002) nos lembra sobre a utopia, que sem ela não é possível falarmos de educação. Então não é exigir demais que eles tenham esse respeito pelos colegas e professores em sala de aula, assim como eu tentei fazer minha parte, tive falhas, tentei arrumar, eles também devem colaborar, pois o ensino não é uma mão única e


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sim uma troca, mas infelizmente essa troca não existiu devido ao estresse que eles me causaram e a minha falta de tesão em estar la com eles. No final eu consegui atingir e ficar mais próxima de alguns alunos, uma pena não poder ser a maioria. De todas as aulas essa foi a melhor, talvez não por ser a ultima como havia escrito no inicio, mas por ela ter fluido em partes de uma maneira como o planejado.


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4. Conclusão O estágio realizado no Colégio Estadual Pres. Arthur Costa e Silva foi tomado por uma tensão muito grande por parte da estagiaria Priscila. Seu projeto de ensino bem como as aulas planejadas não estavam sendo desenvolvidas como ela havia arquitetado. Era importante que ela tratasse de preconceito em suas aulas, mas a mesma não se desvencilhava de suas próprias amarras. Esse foi seu ponto fraco. Por causa disto, a raiva foi um sentimento que permeou todo o estágio de Priscila Fróes. Pude perceber o quanto ela se sentiu agredida, frustrada pelas aulas não estarem alcançando todos os objetivos que ela havia planejado para as mesmas. Foi um sentimento fácil dela admitir. Mas de difícil reflexão durantes os relatórios. A raiva de Priscila a cegava e fazia com que não enxergasse suas falhas a ponto de a todo relato, pôr a maior responsabilidade em seus alunos, como se eles fossem somente os responsáveis pelo insucesso da pratica de estágio. Se a conheço bem, acredito que, mesmo que quase todos os alunos tivessem agido de acordo com o planejado, ela ainda sim ficaria com raiva da mínima provocação, como ocorreu por parte de um aluno em especial, Elton. Houve diversos momentos em que o sentimento de fracasso tomou conta de Priscila e ela pensava a todo instante em acabar com tudo aquilo e desistir. As aulas não estavam progredindo do jeito que haviam sido planejadas. Estava estressada, e eu ficava pensando em como ela poderia realizar os relatórios das aulas se não haviam bons resultados. Essa sensação de fracasso ao final das aulas, levava-nos ao choro quando chegávamos em casa. Eu pensava com muita tristeza no que ela estava fazendo, se essa era a trilha que realmente ela deveria seguir em sua vida. O auge desse sentimento foi a partir da nona aula quando ela estava muito contente pelo fato de duas aulas anteriores tivessem atingido os objetivos propostos, até um certo ponto, atingindo a maior parte da turma e então simplesmente ficou decepcionada pela irresponsabilidade da turma em não levar o protótipo realizado na aula anterior. Foi o momento em que ela pensou: “vou dar aula para aqueles que querem aprender”. Talvez não tenha sido a melhor opção a se fazer, mas devido ao seu estado


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emocional ela já estava pronta para desistir e se agarrou aos últimos fios de esperança para a concretização do estágio. Relembrando como foram as aulas ministradas por Priscila, acredito que a oitava aula, tenha sido a melhor aula pratica ministrada. Porque de algum modo houve uma intervenção sobre os trabalhos dos alunos. Foi planejada uma aula em que os alunos deveriam criar um esqueleto e existiam regras para que esse esqueleto fosse montado de acordo com o esperado. Eles receberam instruções bem especificas, diferente das aulas com a técnica de recorte e colagem em que as instruções ficaram vagas e o resultado não saiu como foi planejado. Em que mesmo observando que os alunos não estavam selecionando boas imagens nenhuma intervenção mais incisiva da parte de Priscila foi realizada. Acredito agora que a metodologia pratica demonstrativa seja um ótimo método a ser utilizado nas aulas de artes. Pois assim os alunos compreendem de uma forma mais objetiva o que é esperado deles e se concentram mais na atividade proposta. Quando Priscila empregou essa metodologia não era esperado que desse certo já que todas as outras não saíram como o planejado. Foi um teste que deu certo. Para exemplificar novamente, mas com outra metodologia, a sétima aula, foi planejada de forma que os alunos deveriam, em conjunto com perguntas feitas a eles e exposições de imagens, falar sobre o que estava sendo exibido. O que difere da segunda e terceira aula, em que a metodologia empregada era muito mais Expositiva Dialogada do que Interrogativa. Pois Priscila tentou fazer com que os alunos falassem através das imagens exibidas, sem muitos questionamentos. Nas duas primeiras tentativas desta metodologia, Expositiva Dialogada, Priscila não obteve muitos resultados. Os alunos respondiam ao método, calados ou agitados demais. Já na sétima aula, Priscila estava mais confiante do que fazer, pois não era apenas uma atividade na qual expunha uma imagem, falava, e esperava uma resposta espontânea deles. Na sétima aula ela foi um pouco menos passiva, ou seja, distribuiu imagens bem definidas sobre o que queria conversar com os alunos, os separou em grupos para diminuir a agitação e ter mais controle sobre a turma. Logo após os questionou com perguntas sobre o que estava escrito no verso da reprodução e o que eles pensavam sobre aquela palavra de forma especifica.


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A partir desta aula, foi possível perceber outros sentimentos emanando dela além da raiva, o gozo da satisfação. Mesmo quando sentia muita raiva numa determinada aula – como por exemplo a sétima aula – na qual havia planejado e feito em casa todo um jogo em folhas de oficio com imagens e palavras para poder ter a melhor aula possível. Saiu de lá com um sentimento de dever cumprido. Aliás, essa foi a segunda aula em que senti isso nela depois da primeira aula, na qual ela saiu com um sorriso no rosto e muito feliz. Ao todo foram necessárias seis aulas para ela poder se sentir satisfeita com os frutos colhidos durante a aula. Isso também ocorreu na oitava aula quando os alunos estavam todos dispostos a colaborar com a aula e realizar a atividade proposta. Sentindo-se útil, amada e respeitada pelo posto que estava ocupando, pôde pela primeira vez se enxergar como uma professora de verdade. Senti que de algum modo ela havia superado certas adversidades com a turma e estava progredindo, mesmo que quase ao final do projeto. Pensando ainda na sétima aula, o silencio por parte dos alunos não era uma resposta aceitável, de modo que Priscila fez todos os alunos falarem, mesmo aqueles que não estavam interessados na disciplina. Voltando para esta metodologia, Dialogada Interrogativa, acredito que ela foi aplicada na sétima aula, pois ela sabia exatamente aonde queria chegar e como. Ela conseguiu perceber que as duas últimas aulas teóricas não haviam atingido os objetivos propostos por conta de alguns detalhes já citados. Então tentou algo mais dinâmico, que a aproximasse mais dos alunos e eles dela e não uma aula simplesmente expositiva, em que se expõe imagens e eles estavam lá enfileirados, em silencio, com medo de conversar. Todas as aulas práticas foram pensadas de forma que eles refletissem sobre o que estávamos falando – preconceito - e traduzissem isso de forma plástica. Chamo isso de Pratica Reflexiva. As aulas em que Priscila pôde notar uma eficácia desse método foi a partir da nona aula em diante, na qual os alunos realizaram a construção de um corpo tridimensional em papel machê. É necessário destacar que nem todos participaram da atividade. Talvez a falta de domínio sobre a turma nas aulas em geral, tenha prejudicado e muito o rendimento e a qualidade plástica dos trabalhos. Pois houve pouca reflexão acerca do preconceito social. Mas ainda assim é um bom método, mesmo Priscila não tendo aplicado da melhor forma possível e de como deveria se esperar de um método assim. O grande mérito deste método é


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que a atividade pratica possui um sentido muito maior e nobre por parte das artes. Não é apenas vencimento de conteúdos. Conhecer e experimentar novos materiais não é algo que deva ser aplicado ao ensino médio do mesmo modo que é aplicado no fundamental, não é uma fase de descobertas e sim redescobertas, sobre novas possibilidades, novos campos. Priscila não queria que o processo de formulação do pensamento e criação dos alunos fosse tomado pelos seus desejos e vontades, quase egocêntricos, de como eles deveriam pensar ou efetuar um trabalho plástico. Relendo os realizados ela não havia percebido o quanto essa parte foi importante para o “fracasso” do projeto. Eu não conseguia perceber que isso ao mesmo tempo estava minando suas aulas, e que sua raiva, como dito anteriormente, a cegou a ponto de não enxergar suas falhas. Talvez haja um lado positivo em tudo isso, para se conhecer profissionalmente e intimamente de verdade foi necessário passar por esse processo. O qual antes não era possível enxergar nada e atualmente ser capaz de enxergar e conseguir admitir que estava equivocada em suas reflexões. Quem sabe se ela tivesse sido um pouco mais energética, esse tipo de situação não ocorresse e ela ficaria mais alegre, mais motivada e mais próxima da turma. Durante todo o estágio, o processo de reflexão de Priscila se centrava apenas nos alunos como um empecilho para o sucesso das aulas. Ela não conseguia perceber que suas metodologia estavam fracas. Ela se utilizou muito mais de sua intuição do que de empregar novas metodologias baseando-se em suas reflexões. Ela acreditava que estava certa e os alunos errados. Por isso, após o estágio em sala de aula, Priscila conseguiu respirar melhor e dentre conversas com colegas conseguiu perceber algo que antes ela não havia refletido. Então, voltando alguns anos atrás, me vem a cabeça quando Priscila Fróes não existia e sim José Carlos Fróes e de termos sido ensinados por dois professores de matemática, um na sétima serie e outra professora na oitava. O primeiro professor, Augusto, acompanhava a turma desde a quinta serie e José tinha grandes dificuldades para aprender matemática e sempre tirava as notas mais baixas na disciplina. O professor deixava a turma muito livre para conversar e bagunçar, no ultimo ano com ele José recebeu por dois bimestres a media 3 sobre 10 em matemática, mas conseguiu passar de ano graças ao conselho de classe. Já na


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oitava serie, ele tinha uma professora, Luiza, que era vista como muito chata e rigorosa e com esta, sua media em matemática nunca mais ficou abaixo de 8 sobre 10. Tendo isso como uma lembrança que me ocorreu esses dias, fico pensando no modo como o professor se porta na aula e em sala de aula. Digo: a professora não era tão rigorosa como José e eu pensávamos, mas ela mantinha um controle da turma que Augusto nunca manteve. Ela sabia quando a bagunça estava demais e então tomava as rédeas da aula. Este outro professor embora pedisse as vezes para diminuir a bagunça, nunca impôs respeito sobre o ato de estudar, da importância que havia em estar numa escola, o “respeitávamos” gratuitamente, mas o respeito com a outra professora era diferente, não era por ela ser legal, era por exigir aquilo que era pedido pela escola, pelos pais além de as aulas não eram torturantes o tempo todo. A turma se divertia e aprendia matemática. Essa lembrança de uma parte da minha antiga vida se encaixa perfeitamente no modo como Priscila estava ministrando suas aulas. Talvez inconscientemente, ela tenha sido aquele nosso professor Augusto, que não quer se estressar ou mesmo arranjar confusão para o seu lado. Como não era turma dela, Priscila estava apenas estagiando nela, Priscila não queria se intrometer demais no ambiente. Como ir para dentro da selva e tentar se camuflar para não espantar os bichos e deixar que o circulo natural das coisas acontecessem? Mas por que ela agia desta forma? Talvez eu tenha a resposta. Houve muito medo da parte dela em ser reconhecida como uma professora transexual, seu medo era de sofrer novamente o preconceito que eu e o José sofremos durante toda nossa infância dentro do ambiente escolar. Acreditava também que se os alunos soubessem oficialmente, que isso prejudicasse seu rendimento tanto como estagiaria como aluna. É complicado pensar nisso e falar: se assuma. Somente quem sentiu o preconceito em carne viva durante a infância e adolescência sabe o quanto é difícil se desfazer das mascaras e escudos desenvolvidos ao longo de uma transição. A dor da vergonha, as lagrimas, o frio, a auto piedade, todas essas coisas dentro de uma única pessoa, algo que ela não queria vivenciar de novo. Compreendo que é nossa realidade, mas ela teve muito medo disso.


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Então, devido ao medo de ser rechaçada pelos alunos, Priscila adotou uma postura dócil, passiva diante dos alunos. Embora milhões de sentimentos não muito saudáveis estivessem borbulhando dentro dela. Ela manteve a calma na maior parte do tempo, pensando que assim a turma não teria domínio sobre ela. Pouco se intrometeu no modo como eles pensavam ou trabalhavam durante as aulas. Por fim, concluo que a metodologia não deva se basear apenas na intuição do professor, bem como no seu desejo em como as aulas devem ser. O professor deve estudar sempre novos métodos de ensino e aplicar o melhor método para aquela turma, pois cada turma possui um perfil. Não é possível nos dias atuais, que um professor siga em frente com um método que ele percebe não estar funcionando. É necessário flexibilidade por parte do profissional, pois deste modo os alunos serão capazes de desenvolver em conjunto com o professor, um excelente trabalho. Parando de falar apenas de Priscila e seus traumas, é necessário falar também do comportamento dos alunos, que ao mesmo tempo fascinou Priscila e depois a fez temê-los. Desde as observações ela avaliou que eles eram extremamente agitados em relação aos alunos do estágio II. Ela pensou que isso era algo positivo, se canalizado de forma correta. Pois para ela nada era pior que uma turma quieta, educada demais, mas que não tivesse impulso para produzir. Durante suas observações era claro que a professora titular não tinha um domínio total sobre a turma e se desgastava muito, admitia que amava o que fazia, mas que o estresse era muito alto. Durante todas as aulas em que Priscila ministrou suas aulas, ela pôde entender o que a professora titular queria dizer. Além da agitação dos alunos, outro comportamento que Priscila percebeu foi o desinteresse da turma por qualquer atividade proposta. Ela sabe que não pode falar isso de todos os alunos, mas a grande maioria não queria conversar ou praticar atividades em artes. Essa percepção foi mais visível a partir da terceira aula. Os alunos não tinham interesse em conversar a respeito das imagens exibidas. Em alguns momentos os alunos realizavam comentários ora pertinentes, ora impertinentes. De todos os comentários realizados um nos chocou demasiadamente. Um aluno – na segunda aula- havia ofendido seus colegas com comentários racistas, no qual além do racismo, expunha a mulher negra como objeto sexual. Fora isso, a maioria dos alunos não desenvolveram nada muito além do que simples


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comentários. Falavam muita bobagem e dificilmente tinham algo a acrescentar. Não a desafiavam como professora, não questionavam. Priscila sentia-se um robô, estava ali para dar o que eu havia planejado, eles não colocavam suas opiniões, desejos de que ela pudesse fazer algo diferente. O único desafio sentido por ela, foi o de sobreviver e que aquilo tudo acabasse. É muito provável a irritação e descaso de Priscila tenha provocado nos alunos uma postura de rejeição por ela e suas aulas, sua introspecção e falta de empatia foram alguns dos fatores, aliado a sua passividade, como dito anteriormente: não querer ser a professora chata. Também não é possível deixar de ressaltar as qualidades observadas na turma. Os alunos eram amáveis uns com os outros, mesmo brigando às vezes, também nunca falavam palavras de baixo calão para a professora. Mesmo diante de toda uma agitação existia um certo respeito, sem agressão verbal ou física. As frustrações de Priscila foram refletindo no seu humor e consequentemente no modo como as aulas estavam sendo ministradas. Cada vez que se decepcionava, menos ela queria continuar a dar aula e quanto mais ela gostava de uma aula, mais Priscila queria continuar o projeto. Quanto a qualidade plástica dos trabalhos dos alunos é possível observar a forma passiva como a professora se portou, de não interferir no trabalho dos alunos, esperando que eles magicamente produzissem coisas maravilhosas (acredito que essa foi sua expectativa real) e isso também reflete nos alunos em talvez pensarem que a professora não soubesse o que estava fazendo dentro de sala de aula, legando a eles o poder de fazerem o que quiserem e também de não se interessar pela disciplina. Muitos alunos não participaram das aulas e isso é muito ruim, pois quem participou atingiu alguns dos objetivos propostos para as aulas. Que consiste em desenvolver uma nova linha de raciocínio acerca dos diversos preconceitos existentes em nossa sociedade através de reproduções de obras de arte, trabalho manual com desenho e escultura da figura humana. Alguns alunos, em especial alguns meninos, possuíam um noção maior sobre desenho, conseguiam criar expressões, possuíam noção de espaço na folha, noção de volume, espessura das linhas, ou seja estavam um pouco além do esperado pela professora conforme observação dos trabalhos dos outros alunos.


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Como posso avaliar realmente se os objetivos podem ter sido atingidos ou não? Teria que fazer de uma forma geral ou mais individualizada? Eu acho justo avaliar que muitos objetivos foram atingidos por aqueles que desenvolveram seus pensamentos e questionamentos. Senti durante as aulas que o tema preconceito não estava sendo levado com seriedade pelos alunos. Percebi na ultima aula que aqueles que participaram das atividades conseguiram desenvolver melhor o que pensavam a respeito do preconceito. Percebi em suas falas e ações que os alunos estavam bem encaminhados quanto a este assunto. O principal objetivo foi atingido, o da reflexão a cerca do preconceito social. Embora, objetivos como, o do desenvolvimento da imaginação, criação de corpos rejeitados pela sociedade, refletir e relacionar isto em conjunto com a arte não tenham sido alcançados como os planejado. Isso provavelmente foi uma resposta ao não assimilamento dos conteúdos desenvolvidos durante todo o estágio. Concluindo,

durante

todos

os

estágios

Priscila

tentou

negar

sua

transexualidade. Como dito anteriormente, essa foi sua principal falha. Acredito que o professor deva ser honesto com aquilo que ele propõe a trabalhar. Com certeza o projeto de ensino teria tido mais sucesso se ela tivesse se assumido. Como tentou negar a sua existência seu projeto fracassou em muitos aspectos. Talvez ninguém melhor que ela, enquanto transexual para falar sobre corpos. Sobre todo um processo de auto apoderamento sobre seu corpo, sua moral e desejos.


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ApĂŞndices


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Apêndice 1: Avaliação realizada pela professora titular


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ApĂŞndice 2: QuestionĂĄrio respondido pela professora titular


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ApĂŞndice 3: QuestionĂĄrio respondido pelos alunos


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