TC Graffiti: democratizando arte- Amaro de Duarte Abreu

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL - ULBRA CANOAS/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

Amaro de Duarte Abreu

GRAFFITI: DEMOCRATIZANDO ARTE

Canoas, junho de 2016.


Amaro de Duarte Abreu

GRAFFITI: DEMOCRATIZANDO ARTE

Trabalho de Curso apresentado como prérequisito parcial para a obtenção de título acadêmico de Licenciado em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professore Rejane Reckziegel Ledur e Renato Garcia dos Santos.

Canoas, junho de 2016.


Agradecimentos

Agradeço aos professores Rejane Reckziegel Ledur e Renato Garcia dos Santos, que me orientaram neste TC e em diversas aulas ao longo do curso; a todos os outros professores com quem tive aula na Universidade; a minha mãe, meu pai e alguns amigos que apoiaram desde o início a minha escolha por Artes Visuais.


Resumo

O trabalho de curso foi desenvolvido a partir da pesquisa e aplicação do projeto de ensino “Graffiti: democratizando arte”, envolvendo alunos da 9ª série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Doutor Glicério Alves, em Porto Alegre/RS. O tema trabalhado foi o graffiti, contextualizado na historia da arte. Alguns autores utilizados foram: Yara Tupynambá, Celso Gitahy, Vera Pallamin, Miguel de Almeida Portelinha e Paulo Freire. O tema foi escolhido por eu já ter uma prática com graffiti e por perceber que esse assunto era muito próximo a realidade escolar. O graffiti ainda é uma manifestação artística muito jovem, carente de informação e carregada de diversos preconceitos. Além disso, conectar essa arte atual com períodos da historia da arte faz com que os alunos não se sintam tão distantes do assunto. O objetivo geral foi despertar o interesse dos alunos para arte e o graffiti. Algumas das principais metodologias utilizadas foram: leituras de imagens, questionários avaliativos e trabalhos coletivos. Sendo que os resultados mais significativos surgiram ao atender individualmente os alunos, explicando e solicitando atividades práticas, resultando assim, em um método que me permitia atuar em sala de forma que me permitisse trocar experiências com os alunos. Os artistas trabalhados foram: Diego Rivera, José Orozco e David Siqueiros, no Muralismo Mexicano e Os Gêmeos, Aryz, Blu, Banksy e Inti, no graffiti. Tive resultados positivos em relação a visão que alunos passaram a ter sobre arte urbana. Ao final é relatado as diversas novas percepções que tiveram a partir das aulas. Também na parte prática, me deparei com resultados inesperados, quebrando minhas expectativas iniciais.

Palavras-chaves: Graffiti. Critica Social. Arte-Educação


Sumário Introdução......................................................................................................................... 6 CAPÍTULO 1 – Reconhecimento do Espaço de Ensino................................................ 12 1.1 Dados Gerais da Escola............................................................................................ 13 1.2 Observações Silenciosas........................................................................................... 14 1.2.1 Primeira Observação Silenciosa......................................................................... 14 1.2.2 Segunda Observação Silenciosa......................................................................... 15 1.2.3 Terceira Observação Silenciosa.......................................................................... 16 1.2.4 Quarta Observação Silenciosa............................................................................ 17 1.2.5 Quinta Observação Silenciosa............................................................................ 18 1.2.6 Sexta Observação Silenciosa.............................................................................. 19 1.3 Análise das Observações Silenciosas....................................................................... 20 1.4 Análise do questionário respondido pela professora................................................ 22 1.5 Análise dos questionários respondidos pelos alunos................................................ 23 CAPÍTULO 2 – Pesquisa Sobre Tema nas Artes Visuais.............................................. 24 2.1 Graffiti: democratizando arte.................................................................................... 25 2.2 Arte Rupestre.............................................................................................................26 2.3 Arte no Egito, Grécia e Roma...................................................................................27 2.4 Muralismo Mexicano.................................................................................................29 2.5 Graffiti.......................................................................................................................34 CAPÍTULO 3 – Projeto e Prática de Ensino em Artes Visuais..................................... 46 3.1 Dados Gerais do Projeto de Ensino.......................................................................... 47 3.2 Prática de Ensino.......................................................................................................48 3.2.1 Primeiro Encontro............................................................................................... 48 3.2.2 Segundo Encontro............................................................................................... 60 3.2.3 Terceiro Encontro................................................................................................73 3.2.4 Quarto Encontro..................................................................................................82 3.2.5 Quinto Encontro..................................................................................................93 3.2.6 Sexto Encontro..................................................................................................104 3.2.7 Sétimo Encontro...............................................................................................108 CAPÍTULO 4 - Conclusão........................................................................................... 119 4.1 Conclusão................................................................................................................120 Referências................................................................................................................... 135 Apêndices..................................................................................................................... 137 Apêndice 1 – Estatística do questionário dos alunos....................................................137 Apêndice 2 – Questionário da professora titular.......................................................... 138


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Introdução

Desde criança sempre tive uma grande conexão com desenho. Quando terminei o Ensino Fundamental, me mudei do bairro Belém Novo, onde vivi e estudei na minha infância. Esse lugar se localiza no extremo sul de Porto Alegre, muito distante do centro. Tem características de cidade do interior, onde o comércio ainda é muito pequeno, desenvolvimento é lento e tudo demora muito mais para chegar. Junto com meus pais decidimos trocar o colégio, mas sem se mudar de casa. Iniciei os estudos do Ensino Médio no Colégio Julio de Castilhos, que ficava mais centralizado, possibilitando relações diferentes. Ao chegar nesse novo ambiente, comecei a reparar nos desenhos que estavam presente nas ruas. Isso me despertou muito a curiosidade por toda essa novidade que eu desconhecia. Fui aprofundando meus conhecimentos de desenhos e me inserindo mais nessa linguagem artística. Conheci alguns artistas que me convidaram para iniciar os meus primeiros murais de graffiti. Isso tudo foi me gerando cada vez mais prazer, mas quando acabei o Ensino Médio ainda me encontrava indeciso se isso era o que realmente iria fazer. Pensava em questões financeiras, junto com a possível reprovação de algumas pessoas próximas. Ao comentar sobre talvez entrar em vestibular de artes, me deparei com diversos argumentos de que a arte era mais uma diversão e que não dava retorno de dinheiro. Diziam para ver áreas na publicidade e design que poderia aproveitar mais. Grande parte dos comentários vinha por parte de parentes e amigos. Isso tornou ainda mais difícil a escolha. Apesar de tudo, havia muito poucas pessoas que apoiavam. Decidi encarar o desafio. Comecei a ver que havia mesmo uma dificuldade de trabalho, mas que haviam possibilidades e que isso me daria um retorno muito maior em questões pessoais. Durante a faculdade, exerci durante cinco anos oficinas de graffiti, pelo Projeto Mais Educação, no Colégio Estadual Doutor Glicério Alves, no bairro onde eu havia morado quando era criança em outra escola diferente da que eu havia estudado. Quando iniciei as oficinas, pensava, de forma errada, em fazer dos alunos artistas. Fui amadurecendo e passei a ver como uma atividade interessante de troca de experiências. No segundo semestre de 2014, comecei os primeiros estágios da faculdade. No primeiro semestre de 2015, acabei me mudando


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para o centro da cidade, mas mantive contato com a escola através dos estágios da faculdade e do Projeto Mais Educação. Este trabalho de conclusão contém quatro capítulos, sendo o capítulo 1 direcionado aos dados da escola e também aos relatórios, analises e reflexões das observações silenciosas, bem como dos questionários respondidos pelos alunos e professora. O capítulo 2 engloba a pesquisa relacionada as temáticas e aos artistas trabalhados em sala de aula. O capítulo 3 apresenta os dados gerais do projeto “Graffiti: democratizando arte”, os planejamentos, relatórios das aulas realizadas, as análises e reflexões feitas após cada aula executadas. Por fim, o capítulo 4, e último, é direcionado à conclusão deste TC, constando os pontos que considero importantes e relevantes da prática de ensino, junto à minhas reflexões e opiniões. Quando iniciou os estágios da faculdade, já estava pensando na possibilidade de trabalhar graffiti. O estágio 1 foi direcionado para observações silenciosas, captar dados da escola, observar uma aula de artes, escrever e refletir sobre ela, além da aplicação de questionário para alunos e professores, e escolha do tema a ser aplicado nas próximas etapas. Essa etapa foi fundamental, não só para escolher o tema que iria ser trabalhado, mas para reforçar a minha ideia inicial de usar o graffiti. O estágio 2 está relacionado ao desenvolvimento da pesquisa, aplicada na prática em sala de aula. Foi definido que o nome do projeto seria “Graffiti: democratizando arte”. Nesse primeiro contato como professor, adotei uma metodologia de atender individualmente cada aluno. Isso foi definitivo para os próximos encontros e para o meu contato mais próximo aos alunos. No estágio 3, a prática é realizada no Ensino Médio, utilizando o tema de pesquisa e escrevendo e refletindo sobre as práticas em aula. Esse foi o momento que passei a ver a ver as diferenças que ocorriam entre Ensino Fundamental e Médio. No estágio quatro, foi revisado o que foi feito anteriormente, bem como a definição de qual das práticas seria escolhida para desenvolvimento do trabalho. Durante as observações silenciosas apenas reforcei a minha ideia de trabalhar o graffiti. Durante Projeto Mais Educação, comecei a observar como era prazeroso para os alunos desenvolverem as propostas e como a arte urbana era próxima da realidade daquele ambiente escolar. Para ter certeza, ao final das observações, fiz uma pergunta que deveriam dizer qual arte mais gostavam. Graffiti foi o mais selecionado, confirmando minha escolha para o tema de pesquisa.


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Decidi fazer uma proposta que abordasse esse tema e conseguisse fazer uma ligação com alguns momentos artísticos da história da arte. O tema do Projeto de Ensino foi o graffiti. A ideia foi levar aos alunos a compreensão sobre arte urbana, conectando com a história da arte. A justificativa foi o interesse dos alunos na linguagem do graffiti percebido nas observações, e também por que eu trabalho com essa manifestação artística. Como ela é muito recente acho extremamente importante esclarecer para os alunos essa arte na atualidade. Os momentos da história da arte utilizados para contextualização foram: Arte Rupestre, Arte no Egito, Roma, Grécia e Muralismo Mexicano, considerando questões em relação a serem artes murais, do momento de ascensão da arquitetura, da parte de críticas sociais e políticas. O objetivo geral foi despertar o interesse dos alunos pela arte e o graffiti. Para alcançar este objetivo utilizarei os artistas Diego Rivera, José Orozco e David Siqueiros no Muralismo Mexicano e no graffiti Os Gêmeos, Aryz, Blu, Banksy e Inti. Quantos ao desenvolvimento da pesquisa, utilizei autores como: Yara Tupynambá e Celso Gitahy para a construção do entendimento da historia do muralismo, Vera Pallamin e Miguel de Almeida Portelinha para compreensão do graffiti e Paulo Freire para visões e reflexões criticas. Os encontros do Ensino Fundamental e Médio foram todos analisados a partir de Paulo Freire. A escolha de Paulo Freire foi fundamental para me questionar e manter a critica em minha metodologia. Seus conceitos foram essenciais para desenvolver a ideia de não ser apenas o transmissor de conhecimentos e sim a figura de troca de aprendizados. Quando comecei os estágios ainda não tinha certeza se usaria o graffiti como tema da minha pesquisa. Nas observações silenciosas, acompanhei algumas atividades propostas pela professora. Vi que havia atividades de desenho que os alunos colocavam bonecos pichando, spray de pintura e letras típicas de graffiti, além de uma vez escutar alguns alunos comentarem que conheciam arte urbana. Ao final, fiz um questionário que perguntava alguns tipos de arte para selecionarem e uma das mais votadas foi graffiti. Isso não me deixou mais duvidas. Também percebi que não havia menor interesse nas explicações sobre manifestações artísticas antigas comentadas em aula. Então, decidi conectar o graffiti com história da arte. Isso definiu uma linha de


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estudos que abordasse artes do passado, sem que isso parecesse algo tão distante de suas realidades. As observações silenciosas e as praticas de ensino foram realizadas todas na mesma escola citada ao início. O Colégio Estadual Doutor Glicério Alves se localiza na zona sul de Porto Alegre, no bairro Belém Novo. Atendendo ao ensino fundamental e médio. No local, encontram-se dois prédios, um de um andar e outro de dois e atende a um público de alunos a maioria de nível econômico bem baixo, mas que variava para uma classe média. A prática no Ensino Fundamental começou no inicio do primeiro semestre de 2015, começando 9 de abril até 21 de maio. Os encontros foram em um 9º ano da turma 92, com alunos que variavam de uma faixa etária de 14 a 18 anos. Os períodos eram dois em sequência, iniciando às 13h 15min e terminado 14h 55min A turma tinha em torno de vinte e poucos alunos, mas poucos com frequência constante. Em questões econômicas, variava bastante de alunos de nível baixo até algumas classes mais altas, que se misturavam, porém às vezes ficavam visivelmente separadas em grupos por afinidades econômicas. O estágio no Ensino Médio iniciou no segundo semestre de 2015, começando 16 de setembro até 29 de outubro. A turma era 2ºE do 2º grau e tinha por volta da mesma quantia de alunos do Fundamental, mas com idades de 17 à 19. Também tinham uma distancia econômica parecida, mas com uma separação um pouco menor. Os períodos dessa vez foram separados sendo 11h 50min às 12h 40min e o outro 7h 30min às 8h 20min. No começo eu ainda estava muito inseguro. Planejei falar de forma geral todas as etapas que iríamos percorrer: Arte Rupestre, Arte no Egito, Roma, Grécia, Muralismo Mexicano e que depois iríamos focar em graffiti. A metodologia que havia pensado foi de cada encontro falar para toda a turma sobre o assunto planejado, depois pedir para fazerem atividades práticas. Esse método começou a não apresentar bons resultados, havendo muita dispersão e precisando de adaptações. Após o segundo dia, comecei a fazer um experimento de passar em cada classe, explicando a matéria de forma individual. Isso se mostrou muito eficaz e passei a utilizar essa nova metodologia. Também foi aplicado um questionário que perguntava o que achavam do graffiti. Isso para relacionar com outro questionário final que pedia que dissessem como passaram a ver ao final das aulas. As respostas foram muito produtivas. Ao final, disseram que


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passaram a ver a arte urbana como forma de transmitir sentimentos, de criticar, de se expressar através da arte. No Ensino Médio foi apresentado superficialmente Arte Rupestre, Arte no Egito, Roma, Grécia e Muralismo Mexicano para fazer uma contextualização do graffiti, que seria nosso assunto principal. Desde a primeira aula foi dito que falaríamos desses outro momentos artísticos para chegar na atualidade. Uma atividade feita inicialmente foi um questionário para fazer ver como viam o graffiti ao começo das aulas. No último dia seria solicitada uma pergunta de como passaram a vê-lo ao final dos encontros. Com o objetivo de poder fazer uma análise de como foi o desenvolvimento das percepções dos alunos quanto ao assunto abordado. Os resultados não foram muito bons como no estágio anterior. Nessa etapa comecei desde o inicio utilizando a metodologia de atender individualmente os alunos. Outra prática feita ao final dos encontros foi a de finalizarem fazendo um desenho em uma folha comprida, com todos interagindo juntos. Antes de começarem, foi passado um vídeo editado de um evento de graffiti. Dessa vez o objetivo era fazer os alunos entenderem como funcionava um mural coletivo, onde diversos artistas trabalhavam em união. Os resultados não foram muito positivos, obtendo pouca interação dos desenhos. Foram poucos encontros para trabalhar melhor essas questões, mas foi alcançado o resultado de maior compreensão de como funcionam os eventos. Também de como existem possibilidades de trabalhos variáveis dentro do graffiti. Podendo ser feito também a organização dos eventos, a parte de fotografia e vídeo, edição das imagens, design dos materiais e sites de divulgação. Quando iniciei os encontros práticos, a experiência mais proveitosa foi no Ensino Fundamental. Por que foi a etapa que tive o primeiro contato como professor, passando pelas primeiras reflexões que serviriam de base para futuros pensamentos quanto a forma de condução em sala de aula. Passei por dificuldades e precisei utilizar criatividade para resolver os obstáculos. Portanto, neste TC irei analisar a prática realizada no Ensino Fundamental. O que mais absorvi dos estágios e que se mostra mais significativo para mim, são as reflexões. A maneira como analisei criticamente os alunos, as minhas metodologias e a mim mesmo, são construções de pensamentos muito mais maduras e consistentes. Isso irá me servir como base para encarar outros desafios tanto na vida


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escolar como na prática. Fez com que eu não me mantivesse em uma posição de autoridade e sim de troca de conhecimentos, portanto, não só ensinando, mas aprendendo e refletindo todo o tempo.


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CAPÍTULO 1 RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO


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1.1. Dados Gerais da Escola

O Colégio Estadual Doutor Glicério Alves foi fundado no ano de 1964 e se localiza na cidade de Porto Alegre, no bairro Belém Novo. Atendendo ao ensino fundamental e médio, nos turnos da manhã, tarde e noite. Conta com 16 funcionários, 1300 alunos, 57 professores e dispõe de 20 salas de aula. Na direção existe uma diretora e três vices - uma para cada turno - e uma assistente financeira. No local, encontram-se dois prédios, um de um andar e outro de dois. O primeiro contém apenas salas de aula e um local para guardar bolas, redes e coisas utilizadas na educação física. O outro tem salas de aula, de informática, xerox, grêmio estudantil, biblioteca, banheiros, sala da direção, outra de reunião dos professores e uma para a coordenação do Projeto Mais Educação. Dentro do colégio, mas fora dos prédios, existe um estacionamento, uma quadra pequena e fechada, que é utilizada para jogar futebol, vôlei e basquete. Uma quadra aberta e média para jogar futebol e dois galpões que são usados para as aulas do Mais Educação. Em frente a um dos galpões tem um refeitório para alunos tomarem café e almoçarem. Ao lado mais dois banheiros, um masculino e outro feminino. Tem também o pátio, que fica entre os dois prédios, com bancos e bebedouros para alunos ficarem durante o recreio. Atende ao um público de alunos de uma classe baixa, que varia de bem pobres, e alguns com um nível socioeconômico um pouco maior.


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1.2. Observações Silenciosas

1.2.1. Primeira Observação Silenciosa Aula 1 Turma 72 – 7º série Prof. Astúria Vasconcelos 20 de agosto de 2014

Entrei em sala e a professora me apresentou, dizendo que eu era estudante de artes da Ulbra e como parte do meu estágio eu deveria ver as aulas. Agora eu me apresentei, falando o meu nome e dizendo que apenas observaria e no próximo semestre eu daria as aulas. Alguns alunos eu já conhecia do Projeto Mais Educação. Em sala tinha 25 alunos, não era muito grande, com um quadro negro na parede, um ventilador acima e outro na parede paralela. Uma janela muito grande por toda a extensão da parede transversal, que dava para o pátio, um armário sem utilidade e vazio que ficava em um canto da sala. Alguns alunos já estavam no local e outros foram chegando aos poucos, todos muito agitados. Depois de algum tempo para acalmá-los, me apresentou novamente para alguns atrasados, disse o motivo de eu estar ali e pediu para entregarem um trabalho solicitado na última aula. O tema era pesquisar sobre uma personalidade pública, trazendo um pouco sobre sua biografia e fazer um desenho relacionado à pessoa escolhida. A professora foi passando nas mesas para ver quem havia feito. Para os que não fizeram, ela trouxe alguns livros e revistas para fazerem durante a aula. Muitos não fizeram e outros não tinham terminado, então ficaram alguns fazendo e outros conversando ou mexendo no celular. A professora voltou para sua mesa, fez a chamada e depois voltou a passar nas mesas para auxiliar e ver o andamento dos trabalhos. Assim seguiu até acabar o período, quando os alunos saíram da sala para entrada de outra turma.


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1.2.2. Segunda Observação Silenciosa Aula 2 Turma 72 – 7º série Prof. Astúria Vasconcelos 27 de agosto de 2014

Quando entrei na sala de aula, a professora já havia chegado. Nesse dia havia alguns alunos que não estavam na primeira observação. Foi solicitado a eles a entrega do trabalho anterior. Havia um aluno que era muito agitado, falava o tempo todo e muito alto, distraindo os outros colegas. A professora apresentava muita dificuldade de lidar com ele e parecia não saber direito como fazer para impor limites. Ela apenas o ignorava ou, às vezes, fazia uma cara braba e pedia para não fazer algo. Nesse dia foi trazido alguns livros de artistas. A ideia de hoje era fazer a mesma tarefa, só que dessa vez apenas com artistas e durante a aula. Um grupo de alunos parecia estar curioso com a minha presença, ficaram olhando e depois de um tempo começaram a me fazer perguntas. Enquanto isso, a professora entregava alguns livros de artistas e momentos artísticos antigos. Reparei que não havia menor interesse sobre aqueles assuntos por que estava completamente desconectado da realidade dos alunos. Depois foi feita a chamada. Muitos não faziam, ficavam conversando, fazendo outras tarefas ou mexendo no celular. Porém, não pareciam ter muita preocupação quanto a isso. Terminada a chamada, a professora passou algum tempo fazendo suas anotações e depois começou a passar nas mesas para ver como estavam andando os trabalhos. Para os que estavam fazendo, ela deu algumas dicas, os outros ela apenas conversava sobre coisas aleatórias. Em alguns grupos tinha todos fazendo, enquanto em outros apenas um ou dois e o resto fazia outras coisas. Depois de passar em todas as mesas, a professora voltou às suas anotações. De vez em quando ela levantava para dar uma passada nas mesas ou atender alunos que a solicitavam. E assim seguiu até o final do período.


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1.2.3. Terceira Observação Silenciosa Aula 3 Turma 72 – 7º série Prof. Astúria Vasconcelos 3 de setembro de 2014

Cheguei à sala e observei que havia um aluno bem mais velho que não tinha vindo nas duas outras aulas. Dessa vez a professora deu desenho livre. Depois de passado algum tempo do início da atividade, percorri a sala percebi que em diversas situações eram desenhados personagens pixando, letras de graffiti e latas de spray para pintura. O aluno mais velho era muito agitado e se chamava Vitor. O outro aluno agitado também estava na sala e a professora mostrava grande dificuldade em lidar com eles, que passavam o tempo todo distraindo o restante da turma. Depois de um tempo o Vitor ficou fazendo perguntas e piadas com a professora. Ela não gostou muito e mostrou irritação, falando de forma com o aluno de forma severamente. Ele fez mais algumas brincadeiras, se acalmou um pouco e foi se sentar na sua classe. Foi feita a chamada e a professora estava corrigindo alguns trabalhos enquanto os alunos faziam a tarefa. Não havia muito interesse na atividade, alguns faziam outros não. Mas também não tinha muita preocupação por parte da professora em exigir muito deles. Ela ficou sentada em sua mesa e de vez em quando alguém ia à sua mesa para pedir ajuda, mostrar o desenho ou apenas ficar conversando. Ela parecia estar mais brava hoje e parece que os alunos mais agitados perceberam e estavam um pouco mais calmos que nos outros dias. Também alguns alunos pediam para ir ao banheiro e eu podia observar eles pela janela, passeando pelo pátio do colégio. A professora pediu para uma aluna entregar os trabalhos que havia corrigido. Depois de entregue seguiram mais uns dez minutos de aula sem nada de diferente.


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1.2.4. Quarta Observação Silenciosa Aula 4 Turma 72 – 7º série Prof. Astúria Vasconcelos 10 de setembro de 2014

Cheguei antes da professora, a sala estava um pouco agitada por que o professor do período anterior havia saído mais cedo. O Vitor e o outro aluno agitado e mais três colegas estavam reunidos no fundo da sala. Um tinha trazido um pandeiro e estavam tocando e cantando. Algumas meninas não gostaram e começaram a brigar verbalmente com eles. Começou uma discussão entre o grupo de meninas que não gostaram e o grupo de meninos que estava tocando. Em seguida, chegou a professora. Ela se mostrou muito irritava com a situação e perguntou o que tinha acontecido. Todos falavam ao mesmo tempo e ela pediu para ficarem quietos e escolheu uma menina para dizer. Enquanto ela explicava os meninos interrompiam para dizer alguma coisa, mas a professora tentava manter o controle. Depois de terminada a explicação, ela pediu para outros alunos confirmarem. Com a bagunça que estava, ela decidiu levar os envolvidos para a direção. Quando voltou disse que eles ficariam suspensos e só poderiam voltar quando os pais falassem com a direção. Sentou na sua mesa, fez a chamada e começou a falar sobre os meninos que estavam fazendo a bagunça. Depois disse para finalizarem os desenhos da última aula e distribui algumas folhas para os que já tinham terminado e os que não tinham vindo. De vez em quando a professora passava nas mesas e assim seguiu até terminar a aula.


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1.2.5. Quinta Observação Silenciosa Aula 5 Turma 72 – 7º série Prof. Astúria Vasconcelos 17 de setembro de 2014

A sala estava muito tranquila por ter poucos alunos e só os mais calmos. A professora fez a chamada e solicitou que os alunos fizessem desenhos em cima de livros de histórias que ela distribuiu. Os livros não tinham imagens, apenas textos de leitura fácil. A ideia era ler e depois ilustrar cada página. A atividade foi bem recebida e pareceu interter bastante os alunos. A professora levantou e começou a bater fotos e dizer que era para ela mostrar em casa. Que ela contava histórias dos alunos para as filhas e elas não acreditavam. Tirou uma foto minha e de um aluno e depois entreguei a ela o questionário do professor. Ela foi para a mesa dela, ficou olhando as fotos e depois me perguntou se podia entregar na próxima aula. Disse que sim e ela continuou olhando a câmera. Depois passou nas mesas como fazia de costume. Dando conselhos e ajudando os que estavam com dificuldade. Estava perto do final, uns poucos não tinham acabado, mas a professora disse para levarem os livros e terminarem os trabalhos em casa e entregar na próxima aula. Os que tinham terminado entregaram os livros e os desenhos e voltaram pra a classe. Em seguida bateu, terminando o período.


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1.2.6. Sexta Observação Silenciosa Aula 6 Turma 72 – 7º série Prof. Astúria Vasconcelos 24 de setembro de 2014

Quando cheguei a professora não estava na sala e um aluno me disse que ela estava atendendo outra turma que não tinha professor. Antes de sair, ela tinha dito para que sentassem em grupos fazer um desenho de observação. Os grupos eram de quatro pessoas, mas alguns estavam com cinco. E foi colocado um objeto no centro da mesa para cada um fazer o desenho de um ângulo. Em seguida ela retornou à sala. Havia alguns alunos que não estavam fazendo e estavam conversando, mexendo no celular, jogando bolinha e aviãozinho de papel, mas quando ela chegou todos começaram a fazer. A professora fez a chamada, depois me entregou o questionário respondido e passou nas mesas, olhou o que os alunos estavam fazendo e recolheu os trabalhos que ficaram para fazer em casa da aula anterior. Viu que poucos tinham feito e falou que essa atividade valia pontos. Depois de um tempo, foi na porta e chamou um funcionário para cuidar deles enquanto atendia a outra turma. Ela estava atendendo duas turmas ao mesmo tempo. Pedi para um aluno que me conhecia do Projeto Mais Educação entregar o questionário dos alunos. Ele entregou e depois de um tempo passei nas classes para recolher. Em seguida dois alunos se desentenderam, mas em seguida o funcionário interveio, dizendo para pararem e tirando eles do mesmo grupo. Em seguida a professora chegou, ele explicou a situação e se retirou. Ela apenas deu um sermão nos dois e a aula seguiu normalmente. Deu mais uma passada nas mesas, recolhendo os trabalhos que estavam prontos e logo bateu para o fim da aula.


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1.3. Análise das Observações Silenciosas

Percebi que apesar da professora aplicar exercícios bons a turma não é muito interessada nas aulas. Todos são muito distraídos com diversas coisas, sem dar atenção para as aulas. Acho que seria interessante aproximar mais as arte do passado com as atuais, fazendo que isso desperte mais a curiosidade dos alunos. Muitas vezes me parecia ser uma aula apenas para distrair ou passar o tempo, onde nem a professora nem os alunos tinham uma vontade de se aprofundar no assunto ou refletir sobre o que estavam fazendo. Uma reflexão é muito importante para ser entendido o que estão estudando e como está sendo estudado. No caso das aulas de arte é importante para compreender como se faz leituras de imagens e consequentemente conseguir pensar melhor sobre a obra de um artista ou sua própria obra. A mistura entre fazer, pensar e falar faz com que tenhamos uma visão mais ampla sobre arte, faz também com que se consigamos organizar melhor nossos pensamentos. Segundo Paulo Freire:

Quando tentamos um adentramento no diálogo como fenômeno humano, se nos revela algo que já podemos dizer ser ele mesmo: a palavra. Mas, ao encontrarmos a palavra, na análise do diálogo, como algo mais que um meio para que ele se faça, se nos impõe buscar, também, seus elementos constitutivos. Esta busca nos leva surpreender, nela, duas dimensões: ação e reflexo, de tal forma solidárias, em uma interação tão radical que, sacrificada, ainda que em parte, uma delas, se ressente, imediatamente, a outra.(FREIRE, 1987, p.77)

Também observei que havia grupos fechados de alunos, sem muita interação geral da turma. Durante as aulas sempre se juntam as mesmas pessoas e quando havia trabalhos não havia mistura de grupos que não se falavam. Tenho impressão que havia essa distância pelas diferenças econômicas e consequentemente de realidades. Seria interessante que a professora quebrasse um pouco isso, juntando alunos diferentes para que houvesse uma socialização geral de todos. O diálogo apenas com as mesmas pessoas faz nos fecharmos demais em poucas ideias. Enquanto que, quando estamos em contato com diversidades nos deparamos com muitas informações diferentes, nos abrindo para novas experiências, formas de entender e agir diante das situações, além de


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ajudar a quebrar preconceitos que são fortes na nossa sociedade. Na aula a algumas atividades muito interessantes, porém a professora podia refletir um pouco sobre alguns pontos que fazem alguns alunos não se interessarem muito e não renderem tanto como poderiam. O interessante em um professor e em qualquer profissão é estar sempre se atualizando e procurando a evolução para o que está fazendo. De forma que sua aula não seja algo pronto e entediante e sim algo que esteja sempre inovando e buscando novas saídas para o que está acontecendo.


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1.4 Análise do questionário respondido pela professora

Essa professora é bem informada e disposta, mistura trabalhos que usam tanto a parte prática quanto a teórica, faz exercícios criativos. Parece vir com vontade para dar aula e não desacreditada do ensino da arte. Mas vi muita dificuldade dela na condução das aulas e parecia que ela não conseguia conduzir alunos dispersivos e agitados. Muitos não trabalhavam, ficavam fazendo outras coisas sem fazer as propostas solicitadas e outros ficavam brincando, atrapalhando o andamento da aula, distraindo os que estavam fazendo e a professora parecia não se importar, as vezes se irritar ou não saber o que fazer para botar limites nos alunos. A falta de controle do andamento fazia com que os alunos que pudessem render acabassem não rendendo. Acho que ela está no caminho certo na forma de passar o conteúdo, porém ela poderia procurar ver diferentes possibilidades, mudando o ângulo de visão. Começar a tentar entender melhor suas aulas para expandir suas habilidades, procurando formas de compreender a turma e os alunos. Talvez se investir mais em analisar e compreender os alunos do que a própria matéria que está sendo abordada. Ao conseguir entender a turma como um todo, se torna mais fácil descobrir os assuntos que irão ter melhor aproveitamento. Além de proporcionar uma experiência muito enriquecedora. Paulo Freire comenta na forma de perceber como agir de forma mais significativa: “O risco está exatamente no contrário. Em deslocar o centro da investigação, que é a temática significativa, a ser objeto da análise, para os homens mesmos, como se fossem coisas, fazendo-os assim objetos da investigação”. (FREIRE, 1987, p.100)


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1.5 Análise dos questionários respondidos pelos alunos

Percebi que tanto nas respostas do questionário há uma noção vaga de que arte tem alguma importância no nosso cotidiano, porém na prática parece ainda não ter a atenção necessária para um bom desenvolvimento das aulas. Penso que hoje em dia existe um processo de consciência que a arte tem uma função forte dentro da sociedade, mas ainda de forma muito precária. Vejo que nos questionários, por exemplo, muitos marcaram um artista podendo mudar a forma de pensar ou arte podendo ser considerada uma profissão, mas poucos alunos conheciam artistas ou tipos de arte que não sejam as mais comuns. Isso mostra como existe um entendimento pequeno da importância dessa disciplina, só que sem investimento de melhor aproveitamento tanto por parte dos alunos quanto de muitos professores. Quando os alunos se identificam com algo relacionado ao que você quer ensinar se torna mais fácil começar a se envolver com a disciplina e tentar faze-los aprender espontaneamente. Percebi também que graffiti foi bastante marcado, isso por que hoje está muito inserido no nosso cotidiano. Por ser uma arte urbana é também democrática, sendo disponibilizada para qualquer pessoa que ande pela rua, sem restrições de classes. Por isso, escolhi como tema essa arte que pode ser vista por todos e por ser uma porta de entrada para gerar um descobrimento e gosto por expressões artísticas variadas.


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CAPÍTULO 2 PESQUISA SOBRE TEMA NAS ARTES VISUAIS


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2.1. Graffiti: democratizando arte

O graffiti é uma manifestação artística que está muito inserida no nosso cotidiano atualmente. Segundo Portelinha (2013, p. 51), “A palavra graffiti deriva da palavra grega graphien que significa escrever. Mais tarde, com o latim evoluiu para grafito que em italiano no plural se diz graffiti e significa arranhar, escrever ou desenhar. Essa arte nominada de urbana, termo também usado para definir esse movimento que começa por volta da década de 70 e tem como característica principal a intervenção artística nas ruas da cidade. Para chegar no assunto, apresento de forma superficial um contexto histórico, abordando Arte Rupestre, Arte no Egito, Grécia, Roma. Depois, pela proximidade do assunto, abordo um pouco mais o Muralismo Mexicano. Todas são expressões que apresentam algumas relações com o graffiti e com essa passagem podemos ter um entendimento melhor das etapas anteriores. Compreendendo como tudo começou e foram ocorrendo transformações com o passar dos anos. O tema desenvolvido, o graffiti contextualizando dentro da história da arte, é o ponto de partida para proporcionar um conhecimento mais amplo sobre arte. Também para o desenvolvimento de um pensamento mais critico, criativo e libertador, que é extremamente importante para o ser humano. Como afirma Paulo Freire, em seu livro Educação com Prática da Liberdade, dizendo que a historia e a cultura não fariam sentido sem a marca da liberdade, que faz as pessoas não serem apenas ajustadas ou acomodadas. Completa falando: “E é por isso que, minimizado e cerceado, acomodado a ajustamentos que lhes sejam impostos, sem o direito de discuti-los, o homem sacrifica imediatamente a sua capacidade criadora“. (FREIRE, 1976, p. 42)


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2.2. Arte Rupestre

Começamos pela mais antiga manifestação conhecida pela humanidade, a arte rupestre, encontrada no período mesolítico, entre 15 a 10 mil a.C. A superfície usada pelos povos primitivos eram as paredes das cavernas, às vezes no seu interior e outras no exterior. Em suas imagens eram encontradas pinturas rupestres, trabalhando com pigmentos e gravuras rupestres, com incisão no local desejado. Eram representados animais, humanos, figuras simbólicas e situações em que viviam. Foi quando o homem começa a mostrar ter desenvolvido o raciocínio e sente a necessidade de transmitir aos outros o que está presenciando através dos seus sentidos e entendimento obtido sobre o mundo. Foram encontradas em diversos locais como: norte e sul da África, na França, Espanha e Austrália. Porém, é no sul da França que existem os principais desenhos préhistóricos. Mais especificamente, na gruta de Lascaux encontramos um importante registro, onde se pode ver diversas imagens de diferente tribos e tempos. A partir desse momento deixamos de ser apenas observadores, adquirindo a capacidade de transmitir o que estamos pensando, deixando algo para reflexão das próximas gerações e fazendo a vida ter um sentido além do nosso tempo de existência.

É desta forma que assistimos ao nascimento do muralismo, quando o homem adquire a capacidade de inscrever nas paredes das cavernas suas crenças, seu relacionamento com o meio onde vive, criando uma mensagem que permanecerá além da própria presença: a noção de perenidade da arte.(TUPYNAMBÁ, 2013, p. 20)

Pinturas na gruta de Lascaux, França (Fonte: TUPYNAMBÁ, 2013, p.16 e 18)


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2.3. Arte no Egito Grécia e Roma

Após esse primeiro momento artístico, passamos por diversos outras expressões ligadas ao muralismo, como pinturas no Egito, na Grécia, em Roma, entre outros lugares. Essas manifestações não tem grande relação com o graffiti, por estarem em locais não acessíveis à população em geral, normalmente feitos para um público mais fechado. Porém, são feitos diversos murais com grandes dimensões. Nesse momento passamos para um interesse mais realista, começando a dominar as formas, cores, luz e sombra, perspectiva, figuras humanas e de animais. Também é muito forte a arquitetura, que ganha uma proporção imensa nessa época e que mais adiante as construções das cidades atuais serão aproveitadas pela arte urbana. Segundo Pallamin (2000, p. 23 e 24), falando da forma de apropriação do graffiti na cidade, comenta:

A arte urbana é uma prática social. Suas obras permitem a apreensão de relações e modos diferenciais de apropriação do espaço urbano, envolvendo em seus propósitos estéticos o trato com significados sociais que as rodeiam, seus modos de tematização cultural e política.

Afresco na Tumba de Nebamon, séc. XV a.C, Museu Britânico (Fonte: TUPYNAMBÁ, 2013, p. 22)


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Grécia (Fonte: http//artegrega.com)

Grupo de Laocoonte, Museu do Vaticano (Fonte: http://brasilartesenciclopedias.com.br/tablet/temas/laocoonte.php)

Iniciação aos mistérios dionisíacos, Casa dos Mistérios, Pompéia, 60 a.C (Fonte: TUPYNAMBÁ, 2013, p.34)


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2.4. Muralismo Mexicano

É no século XX que encontramos o revolucionário Muralismo Mexicano. Com forte apelo à democratização da arte e com desenhos de caráter social e político, foram produzidas diversas esculturas e pinturas em paredes nas construções de templos das civilizações pré-colombianas do México. São manifestações encontradas por arqueólogos e que marcaram a moderna cultura mexicana com características pessoais. Entre 1910 e 1920, caracterizado pela aliança entre camponeses e setores urbanos e pela revolução contra a ditadura de Porfirio Díaz, começam aparecer grandes artistas mexicanos, que através dos murais transmitem seus pensamentos com obras criticando a forma como era tratada a população e levando a mensagem de arte na rua, sem restrições de classes e disponibilizadas para todos. Como muitas vezes a arte não atingia o público em geral, sendo muito elitista e restrita a museus e residências de pessoas com maior poder aquisitivo, esse foi o jeito encontrado pelos artistas de proporcionar uma reflexão para o povo. Conforme Tupynambá:

Expor em murais a opressão do colonizador espanhol, da ditadura de Porfirio Díaz, a exploração do México pelos Estados Unidos, foi a forma encontrada pelos muralistas para chamar a atenção do povo para os seus problemas e para importância política da revolução que se implantava. (TUPYNAMBÁ, 2013, p. 71)

A luta entre o opressor e o oprimido já estava instalada na humanidade há muito tempo, porém é no muralismo mexicano que ganha um destaque enorme dentro da área das artes plásticas. A partir desse momento se cria um movimento completamente novo, iniciando a ideia de arte democrática e forma de demonstrar as desigualdades instaladas na sociedade. Começam a se criar pensamentos libertadores através das obras dessa época, espalhando consciência para população que sofria na mão de pessoas que se achavam superiores e por isso podiam fazer o que quisessem com os inferiores. Essa era uma tentativa dos artistas de estar levando ao entendimento


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do que ocorria, para poder se criar uma consciência nos oprimidos contra seus opressores. Segundo Paulo Freire:

Como distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os fez menos. E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscarem recuperar sua humanidade, que é uma forma de criála, não se sentem idealistamente opressores, mas restauradores da humanidade em ambos.(FREIRE, 1987, p. 30)

Na primeira metade do século XX surgiram artistas que marcaram esse movimento, alguns que tiveram bastante destaque foram: Diego Rivera, David Siqueiros e José Clemente Orozco. Apesar de usarem influências das escolas expressionista e cubista que era a parte positiva europeia, não deixaram de apontar questões ruins, como por exemplo, a forma de colonização espanhola e mais adiante a exploração dos Estados Unidos. Uma das grandes pinturas realizadas por Diego Rivera está em Palácio Nacional, no México. Nela podemos ver a exploração por parte dos conquistadores espanhóis, desde as populações indígenas. Vemos que ao fundo da imagem a população mexicana já fazia trabalhos escravos. Como em uma linha do tempo, a perspectiva vai se aproximando e junto mudando os tempos da historia. Além disso, Rivera pintou diversas outras vezes, mas sempre mantendo sua posição a favor das classes menos favorecidas, mostrando as injustiças presentes no seu país.


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Diego Rivera, Palácio Nacional, México, 1929/1935 (Fonte: TUPYNAMBÁ, 2013, p.70)

Na obra “O Levante”, de Diego Rivera, podemos ver claramente a posição de crítica quanto à opressão imposta à população. Com guardas abusando da autoridade e batendo com armas em mulheres, crianças e trabalhadores indefesos.

O Levante, Diego Rivera (Fonte: http://artemazeh.blogspot.com.br/2012/03/diego-rivera-murais-para-o-museu-de.html)


32 Nessa geração os artistas mexicanos também ficaram conhecidos por fazerem obras públicas e por terem essa característica de abordar a luta que havia entre o opressor e oprimido. Outro artista foi David Siqueiros, que morou na Europa e por isso tinha fortes influências do surrealismo que mesclou com as características mexicanas. Um de seus murais foi “Da Ditadura de Porfirio Diaz à Revolução”, onde representa a Revolução Mexicana em posicionamento contra a Ditadura de Porfírio Diaz, presente no México.

David Siqueiros, Da Ditadura de Porfirio Diaz à Revolução, 1957/1965 (Fonte:TUPYNAMBÁ, 2013, P.68)

David Siqueiros (Fonte:http://entretenimento.uol.com.br/album/bbc/2014/01/29/david-alfaro-siqueiros-o-muralistamexicano-que-queria-matar-trotsky.htm)

Por último, Clemente Orozco que também realizou diversos afrescos, dentre ele “Deuses do mundo moderno”, com a intenção de mostrar o poder exercido pelos


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mais poderosos sobre o povo mexicano. E na próxima imagem retrata a violência, com diversas armas sendo evidenciadas.

José Orozco, Deuses do Mundo Moderno, 1932 (Fonte: http//unicamp.br/iel/memoria/crono/icono/91.html)

(Fonte: famosas)

José Orozco http://entretenimiento.terra.com/cultura/jose-clemente-orozco-murales-pinturas-y-obras-mas-

Pela necessidade de fazer as obras terem mais durabilidade, os artistas começam a usar piroxilina (tinta automotiva) e a celulose na concepção de relevos externos, fazendo as obras que ficavam na rua resistirem mais à passagem do tempo e


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aos efeitos do sol e da chuva. O Muralismo Mexicano, ganha destaque no mundo inteiro, conquistando características pessoais, tanto na parte visual, como nas formas de fazer e nos materiais utilizados. O papel de transmitir informação e visões críticas através da arte se torna cada vez mais forte depois dessa etapa. Isso mostra a importância do humano como ser pensante, que vive em sociedade e por isso tem a capacidade privilegiada de passar suas percepções adiante.

2.5. Graffiti

Após esse momento importantíssimo para a história da arte, passou-se algumas décadas até por volta de 1970, aparecer o graffiti. Junto ao movimento hip hop, nas periferias de Nova York, surge um novo estilo artístico com personalidades muito peculiares. O hip hop era um estilo musical de protesto e integrava quatro elementos que o caracterizavam, eram eles: DJ (que era responsável pela batidas e seleção de músicas), MC (eram o que criavam as letras e cantavam), Bboy (os dançarinos) e o Graffiti (que através de desenhos simbolizavam esse movimento). No início o graffiti foi criado para ser uma dessas quatro vertentes do hip hop e acabou virando uma forma de separar as gangues de Nova York ou de marcarem seus territórios e também forma de entretenimento. Feito nos subúrbios das cidades, acabou se tornando uma fuga da violência que ocorriam nesses lugares. Além de mera distração, as letras das músicas e os desenhos começaram a denunciar injustiças e virar arma de protesto contra a situação social dessa população menos privilegiada. Segundo Portelinha: O Movimento Hip-Hop, iniciado por volta dos anos 1960-70 por grupos africanos e jamaicanos nos bairro das grandes cidades, tais como Brooklyn e Bronx em Nova Iorque, e mais tarde na Europa dos bairros periféricos de Paris, deram inicio a todo este novo movimento, através do graffiti ,beat – box, dança e rap. Estes quatro grandes pilares do movimento hip-hop foram importantes na afirmação, entretenimento, e protecção dos seus bairros nas grandes metrópoles, a pintura era usada como marcação de território através de simbologia e palavras, o beat-box juntamente com rap era forma de entretenimento para as crianças e idosos desses bairros, e a dança era a arma de protecção, em vez de se agredirem fisicamente, faziam batalhas de dança. Gangues foram encontrando naquelas novas formas de arte uma maneira de


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canalizar a violência em que viviam submersas, e passaram a frequentar as festas e dançar, competir com passos de dança e não mais com armas. (PORTELINHA, 2013, p.49)

Como era feito para fazer a demarcação das gangues, a principal característica do início do graffiti são as letras. Feitos sempre de forma ilegal, começa ganhar empatia dos jovens da cidade, que começam a criar estilos de letras, como: Wild Style, Bubble Style, Throw Up, Bomb e Tag. Como foram criados nos Estados Unidos, mesmo depois de se espalhar por vários países os nomes se mantém em inglês. Wild Style é quase uma abstração das letras, sempre confusas e detalhadas, praticamente ilegíveis. Só quem conseguia identificar eram as gangues e as pessoas que tinham contato com o graffiti.

Letras Wild Style (Fonte: http://subsoloart.com/blog/2013/11/graffiti-freight-train-stero-wild-style)

Bubble Style é um estilo de letras com efeitos para darem impressão de serem arredondadas. Eram pintadas em lugares perigosos, portanto feitas de forma muito rápida e simples.

(Fonte: vlok-more)

Os Gêmeos, Letras Bubble Style https://blog.vandalog.com/2011/08/sao-paulos-stylish-bombs-throw-ups-os-gemeos-finok-


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Throw Up eram as letras mais simples possivel. Por fazerem ilegalmente, se usava apenas o contorno para ser feitos o mais rápido possível e ir embora sem ninguém ver.

Letras Throw Up (Fonte: http://newstylishgraffiti.blogspot.com.br/2014/03/graffiti-throw-up.html)

Bomb, letras feitas de forma ilegal e rápida, mas que não seguiam uma regra. Era meio que uma mistura dos outros estilos.

Letras Bomb (Fonte: https://www.flickr.com/endlesscanvas/3952188321)


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Tags são as letras mais simples e rápida possível. É apenas a assinatura dos grafiteiros.

Letras Tag (Fonte: http://puregraffiti.com/art/2009/12/graffiti-tags-x-handstyles-x-flares)

Passado alguns anos, o graffiti começou a ter mais espaço, com muitas pessoas aderindo a esse movimento. Primeiro na Europa e depois se espalhou por diversos outros países. Com tamanha dimensão, a mídia e marcas famosas começam a explorar isso como forma de ganhar publicidade. Também começam a serem produzidos materiais especiais para essa arte, como sprays das marcas MTN 94 e Montana, junto a caps, válvulas com alta ou baixa pressão utilizadas junto ao spray para a saída de tinta. Nesse momento o graffiti está com muita força e se inicia um processo para ir além de apenas letras. Recebendo a atenção de diversos artistas, começa a haver uma diversidade enorme de tipos de expressões artísticas usando as paredes das ruas como superfície. Aparecem jovens utilizando as técnicas do graffiti para fazer imagens surrealistas, realistas, abstratas. O termo surrealismo, cunhado por André Breton com base na idéia de "estado de fantasia supernaturalista" de Guillaume Apollinaire, traz um sentido de afastamento da realidade comum que o movimento surrealista celebra desde o primeiro manifesto, de 1924. Nos termos de Breton, autor do manifesto, trata-se de "resolver a contradição até agora vigente entre sonho e realidade pela criação de uma realidade absoluta,

uma

(Fonte:http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3650/surrealismo)

supra-realidade”. O

Realismo

embora utilizado em geral para designar formas de representação objetiva da realidade, o realismo como doutrina estética específica se impõe a partir de 1850 na França, triunfando com Gustave Flaubert (1821 - 1880) na literatura e Gustave Courbet (1819-


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1877) na pintura. O enfrentamento direto e imediato da realidade, com o auxílio das técnicas pictóricas, descarta qualquer tipo de ilusionismo. A pintura, arte concreta por excelência, se aplica aos objetos reais, às "coisas como elas são". (Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3639/realismo). A noção de expressionismo abstrato, utilizada pela primeira vez em 1952 pelo crítico H. Rosenberg, refere-se a um movimento artístico que tem lugar em Nova York no período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. A obra de arte, fruto de uma relação corporal do artista com a pintura, nasce da liberdade de improvisação, do gesto espontâneo, da expressão de uma personalidade individual. As influências do automatismo surrealista parecem evidentes. Aí estão a mesma ênfase na intuição e no inconsciente como fonte de criação artística, embora permeada por uma forte presença do corpo e dos gestos. (Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3785/expressionismo-abstrato)

Surrealismo, Davi De Melo Santos (Fonte: http://bonstutoriais.com.br/street-art-surrealista-do-brasileiro-dms)


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Realismo, Smug (Fonte: http://subsoloart.com/blog/2013/01/graffiti-realismo-smug)

Expressionismo Abstrato, Kaso (Fonte: http://www.kaso.it)

O graffiti acaba tomando uma proporção enorme, conquistando pessoas e a mídia das principais capitais do mundo. A partir disso, os materiais antes muito


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precários deixam de serem usados, para serem substituídos por latas de spray fabricadas para essa arte. Também começam a aparecer eventos, reunindo diversos artistas para executarem o mesmo mural. Assim, havendo uma diversidade muito grande de estilos e interação entre os desenhos. Essa acabou se tornando uma característica pessoal do graffiti, que até então não era muito desenvolvida em outras expressões artísticas.

Mural Coletivo (Fonte: http://parquedacidade.com.br/portfolio/sampa-graffiti-apresenta-artistas-de-rua-de-sp)

Com tamanha dimensão, surgem artistas ganhando respeito dentro do campo das artes plásticas. Entram para galerias famosas, são convidados para eventos importantes, tem espaço na mídia e recebem prêmios por suas obras. Fazendo com que essa arte, antes vista como marginalizada, hoje tenha uma divulgação e apreciação adequada. Artistas que atualmente tem grande destaque são: Os Gêmeos (Brasil), Arys (Espanha), Blu (Itália), Banksy (Londres) e Inti(Chile). Os Gêmeos são os brasileiros que começaram sua carreira através do movimento hip hop, em São Paulo. Tem como característica seus personagens amarelos em cenas oníricas. Trabalham com cenários e personagens lúdicos, trabalhando muito com a imaginação das pessoas. Fazem críticas de uma forma sutil, mas a característica mais evidente é trabalhar com a estética dos locais pintados.


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Os Gêmeos, Lisboa, Portugal (Fonte: http://www.osgemeos.com.br)

Arys é um espanhol que tem forte influência do surrealismo. Executa painéis em grandes dimensões em diversos lugares do mundo. Utiliza muito bem as cores e as formas, trabalhando mais com a estética dos lugares onde ele pinta.

Arys (Fonte: http://www.aryz.es)

Blu, nasceu e vive na Itália e tem a critica social e política sempre presente em seus trabalhos. Sempre críticas pesadas e bem objetivas, fazendo refletir sobre a nossa forma de vida em sociedade.


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Blu (Fonte: http://www.blublu.org)

Banksy começa suas primeiras intervenções em Londres, na Inglaterra e ganha destaque no mundo inteiro. Sua característica é o stencil e criticas poéticas e as vezes extremamente diretas.

Banksy (Fonte: http://banksy.co.uk)

Inti é um chileno que explora a cultura latina americana em suas obras e que fica mundialmente conhecido. Utiliza símbolos, roupas, religiões, animais e diversas outros elementos que remetem a cultura da América do Sul.


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Inti (Fonte: http://www.livegap.cl/inti-el-chileno-numero-uno-del-street-art-mundial)

Nos artistas da arte urbana existem também duas características mais comuns: Os que fazem desenhos estéticos, compondo com o lugar onde estão pintando. Essa característica possui mensagens, mas normalmente está mais preocupado em utilizar de forma criativa os espaços.

Os Gemêos, Nina e Nunca, Escócia (Fonte: http://melanoise.blogspot.com.br/2011/03/os-gemeos-x-escocia-medieval.html)


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Luis Seven Martins (Fonte: http://criativaplus.wordpress.com/2013/07/26/conheca-os-passaros-de-luis-seven-martins)

E os artistas que transmitem alguma mensagem crítica quanto a maneira de se comportar em sociedade. Estes podem trabalhar a estética, mas o foco maior é construir alguma reflexão em cima de nossos problemas da vida ocidental.

Blu (Fonte: http://www.blublu.org)

Crânio (Fonte: http://cranioartes.com)


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Paulo Ito (Fonte:http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2014/05/26/grafiteiro-que-critica-miseria-dizque-copa-escancara-problemas-do-brasil.htm)

Vemos que o graffiti percorreu uma trajetória muito peculiar, começando pela necessidade de se expressar e o prazer pela arte, sem muitas expectativas. Passa por descriminação, sendo visto os que executavam como marginais e muitos sendo até presos por expressarem o que pensavam. Mesmo assim resistiu as dificuldades e precisou bastante tempo para começar a ser tão apreciada e reconhecida como arte. Vemos também que visto historicamente teve etapas importantes, que apresentam características parecidas. Através de outras expressões artísticas, acabou mantendo algumas características fortes que outras populações já haviam desenvolvido e acrescentando novas leituras. Isso faz com que tenhamos a dimensão de como pequenas atitudes vistas em longo prazo tem grandes repercussões nas formas de agir e pensar de outras pessoas. O papel do muralismo dentro da construção de pensamentos da sociedade é importantíssimo. Fez com que muitas revoluções, discussões e reflexões fossem possibilitadas através de obras de arte. No livro Muralismo, Tupynambá (2013, p. 91) comenta que:

Informar, educar, transmitir conhecimentos e sensibilizar a quem vê, é o caminho que o muralismo percorreu ao longo da história, para que a arte continue sempre viva na construção de seu processo cultural, que significa a base das civilizações e a percepção do mundo.


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CAPÍTULO 3 PROJETO E PRÁTICA DE ENSINO EM ARTES VISUAIS


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3.1. Dados Gerais do Projeto de Ensino

Titulo: Graffiti: democratizando arte

Tema: Graffiti e contexto histórico

Justificativa: O graffiti ganhou um alcance enorme em todo o mundo, tanto nas classes mais pobres, quanto galerias de arte mais sofisticadas. Esse movimento ainda está em ascensão e irá ser um dos destaques do século XXI, onde seu espaço dentro do campo das artes plásticas tomou uma proporção nunca imaginada pelos artistas. Hoje ele tira muitos jovens da marginalidade que existe dentro das periferias e da uma função para eles dentro da nossa sociedade. Além de proporcionar informação e reflexão para a população em geral. Acredito ser um tema que precisa de todo o apoio e divulgação para melhoras no nosso modo de agir e pensar de forma mais humana e coletiva.

Objetivo geral: Despertar o interesse dos alunos para arte e o graffiti.


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3.2. Prática de Ensino

3.2.1. Primeiro Encontro Aula 1 e 2 Turma 92 – 9º série 13h 15min às 14h 55min 9 de abril de 2015

Tema- Contexto do graffiti.

Objetivo específico- Entender quais foram às etapas percorridas na história da arte que podem contribuir para um maior entendimento do desenvolvimento do graffiti.

Conteúdo- Arte Rupestre, Arte no Egito, Roma, Grécia, Muralismo Mexicano e Graffiti.

Metodologia- - Aula expositiva e dialogada - Reflexão sobre o tema - Produção escrita - Desenvolvimento de desenhos - Reflexão sobre os desenhos executados

Lista de atividades- - Minha apresentação como novo professor - Explicar o tema do projeto de ensino e como será abordado - Falar sobre a etapas percorridas na arte até chegar no graffiti - Explicar um pouco o que é graffiti - Abrir um tempo para eles dizerem o que pensam e solucionar dúvidas


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- Deverão responder questionário de sondagem e escrever o que pensam sobre graffiti. - Explicação de Arte Rupestre -Desenvolvimento de desenhos de algo de suas rotinas

Recursos e materiais- - Questionário impresso - Reproduções de imagens - Papel para o desenvolvimento dos textos.

Avaliação- Os alunos serão avaliados por sua postura durante o decorrer das explicações. Se estão atentos, dispostos a aprender e a fazer a tarefa.

Planejado- Vou iniciar a aula me apresentando como professor, dizer que o projeto de ensino faz parte do meu estágio da faculdade e explicar o meu tema e a forma como será abordado. De forma muito breve irei explicar quais foram às expressões artísticas que surgiram antes do graffiti: arte rupestre, arte no Egito, na Grécia, na Roma, o Muralismo Mexicano. Dizer que tudo começa através da Arte Rupestre, e em seguida falar sobre arte mural no Egito, Roma, Grécia. Após essas etapas irei comentar sobre Muralismo Mexicano, que com apelo político e social tem uma ligação próxima com a arte urbana contemporânea, pois também era executada na rua, para o público em geral, sem restrição de classes. Depois irei falar que nos anos 70, em Nova York, através do movimento hip hop, surge o graffiti. Tudo isso será feito usando algumas reproduções de imagens dessas etapas citadas, para melhor entendimento. Será perguntado para eles se eles conhecem o graffiti e o que pensam sobre isso. Através do que eles disserem será discutido sobre o assunto, podendo também solucionar dúvidas. Após conversar com os alunos, eles irão receber duas folhas: uma com algumas perguntas e outra em branco para escreverem um pequeno texto sobre o que pensam a respeito desse movimento. Na sequência serão apresentadas reproduções de Arte Rupestre, acompanhadas das explicações. Dizer como era feita, por quem era feito, suas mensagens e significados. Após tudo esclarecido receberão folhas e lápis de cor para representarem algo da sua rotina, de forma bem simples como era feito na arte rupestre. Depois de entregue os


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trabalhos poderão fazer perguntas sobre a matéria. Através das questões será feito uma discussão sobre essa expressão artística e a relação dos desenhos feitos pelos alunos.

Realizado- Cheguei à sala de aula e a professora me apresentou. Apresentei-me novamente falando meu nome, que estava realizando estágio e que meu assunto era graffiti, mas que iria falar com momentos da história da arte que apresentam uma afinidade com arte urbana, contextualizando o tema dentro da história da arte. Comentei que nessa primeira aula apenas falaria de forma geral das etapas, mas conforme o decorrer dos encontros me aprofundaria um pouco mais em cada uma. Comecei dizendo que a primeira manifestação conhecida pelo ser humano foi Arte Rupestre, com seus desenhos simples esculpidos ou feitos com pigmentos nas rochas. Mostrei algumas imagens durante a explicação e em seguida as entreguei para os alunos irem passando para as outras classes. Conforme ia passando as folhas, ia complementando com mais explicações.

Pinturas na gruta de Lascaux, França (Fonte: TUPYNAMBÁ, 2013, p.16 e 18)

Esperei todos verem e falei que houve um tempo até chegar na Arte da Grécia, Roma e Egito, que apresentavam um interesse por uma representação mais realista. Mostrei algumas imagens de arte e de construções antigas, dizendo que nessa época é muito forte a arquitetura e que, mais a frente, o graffiti irá se apropriar das construções atuais para aproveitamento criativo em suas obras. Comentei que muitas vezes os artistas urbanos precisam se adaptar aos locais onde irão fazer seus trabalhos, necessitando um desenho que se adapte em uma parece mais vertical ou horizontal. As


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superfícies também influenciam, podendo ser lisa ou com texturas que podem ser utilizadas a favor do artista. Falei que mais adiante conversaríamos melhor sobre isso. Depois foram passadas as folhas nas classes para todos visualizarem melhor e novamente fui acompanhando. Percebi que a turma interagia de uma forma geral, mas ficavam nítidos os grupos que sentavam próximos por afinidade de classe econômica.

Afresco na Tumba de Nebamon, séc. XV a.C, Museu Britânico (Fonte: TUPYNAMBÁ, 2013, p. 22)

Grécia (Fonte: http//artegrega.com)


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Iniciação aos mistérios dionisíacos, Casa dos Mistérios, Pompéia, 60 a.C (Fonte: TUPYNAMBÁ, 2013, p.34)

Em seguida, entramos no Muralismo Mexicano que tem uma proximidade muito grande com arte urbana. Com ajuda de impressões de obras dessa época, fui falando que o Muralismo Mexicano tinha uma proximidade com o graffiti por ser feito na rua, para o público em geral, sem restrição de classes. Além disso, contém muitas mensagens críticas sobre os problemas da sociedade. Novamente as folhas foram passadas nas mesas para todos verem.

Diego Rivera, Palácio Nacional, México, 1929/1935 (Fonte:TUPYNAMBÁ, 2013, P.70)


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José Orozco, Deuses do Mundo Moderno, 1932 (Fonte: http//unicamp.br/iel/memoria/crono/icono/91.html)

Quando todos haviam olhado, comecei a falar do graffiti, que era o nosso tema principal, dizendo que tudo que tínhamos visto são etapas que antecederam e possuem afinidades. Falei que tudo isso, assim como a escrita foram extremamente importantes para a troca de informações de alguns povos, sendo importante não só na questão artística, mas também na nossa capacidade de entendimento do mundo. Tudo foi explicado apresentando impressões que foram passadas nas classes. Minha professora orientadora sugeriu colocar uma imagem do meu trabalho. Então, entre essas imagens havia uma feita por mim e um amigo em Belém Novo, que era o bairro onde se encontra escola. Levei para aproximar o assunto da realidade dos alunos. A imagem chamou muita à atenção por que quase todos já tinham visto, mas não sabia quem havia feito.

Amaro Abreu e Jefferson Cunha, 2012 (Fonte: ABREU, 2012)


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Realismo, Smug (Fonte:http://subsoloart.com/blog/2013/01/graffiti-realismo-smug)

Expressionismo Abstrato, Kaso (Fonte: http://www.kaso.it)

Os GĂŞmeos, Letras Bubble Style (Fonte:https://blog.vandalog.com/2011/08/sao-paulos-stylish-bombs-throw-ups-os-gemeos-finokvlok-more)


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Muitos não estavam interessados e conversavam ou faziam outras coisas durante as explicações. Tentei chamar a atenção, mas sem muito resultado. Discuti sobre o assunto um tempo com um grupo de alunos que estavam mais interessados, sentados mais a frente e em seguida entreguei os questionários em que tinham as seguintes perguntas: Você já viu algum graffiti pela cidade, o que você pensa a respeito e dizer se gosta, fazendo um pequeno texto de qual a importância dessa arte. Aguardei uns quinze minutos para responderem e recolhi um pouco antes de tocar o sinal para mudar o período. Após recolher os questionários, comecei retomando que a Arte Rupestre era a primeira manifestação artística conhecida e realizada pelo homem. Que existia pintura rupestre, feita com pigmentos e gravura rupestre, escavada na própria pedra. Normalmente, eram representadas nessas obras a rotina dos homens desse período. Com ajuda de imagens, fui mostrando que, quase sempre, havia animais e homens caçando. Tentei que os alunos falassem sobre o que achavam, mas a maioria só faziam piadas e acabei não obtendo muito sucesso. Apenas dois mais da frente tentaram identificar alguns objetos que havia na mão dos bonecos e tentaram descobrir que animais apareciam. Depois, entreguei as imagens mostradas inicialmente e algumas novas para passar nas classes e poderem visualizar melhor.

Pinturas na gruta de Lascaux, França (Fonte: TUPYNAMBÁ, 2013, p.16 e 18)

Arte Rupestre (Fonte: artesrupestrejuaygach.blogspot.com)


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Conforme foram passando as folhas fiquei conversando mais um pouco, falando que esse era o momento que os humanos começam a desenvolver a capacidade de reprodução de suas percepções e o começo das imagens que eles enxergam hoje em dia. Como desenhos animados, vídeo games, desenho gráfico feito nos seus cadernos e utilizados em propagandas. Após isso, recolhi todas as reproduções e distribui algumas folhas e uns poucos lápis que tinha para se revezarem ou sentar em grupos para dividirem. Disse que deveriam fazer algum desenho relacionado a algo de suas rotinas, como era feito na Arte Rupestre. Muita brincadeira e distração, mas quase todos acabaram fazendo. Deixei um tempo para realizarem a tarefa. Faltando pouco para o final achei que não iria render fazer uma reflexão sobre os desenhos (como havia pensado inicialmente) e acabei desistindo. Apenas recolhi os trabalhos e dispensei os alunos. Com relação às respostas do questionário e aos textos, achei que acabou não tendo muitas respostas interessantes. Dá pra perceber que a maioria dos alunos acha importante o graffiti, mas não sabem bem por que. Apenas colocam comentários vagos como é legal por que é criativo, por ser colorido, ou por que deixa a cidade bonita. O colégio onde foi realizado os encontros é público e havia uma certa diversidade de realidades e classes econômicas. Isso fez com que em algum momento eu percebesse que meus métodos não estavam obtendo bons resultados por eu estar longe de um padrão escolar, onde normalmente existe maior disciplina. Quando existe uma turma com maior proximidade de realidades, se torna mais fácil a metodologia feita de uma forma geral. Ficou claro que haviam pequenos grupos que se separavam por afinidades. Tenho a impressão que na turma existe uma grande falta de estimulo sobre ter informações sobre arte. Isso faz com que de maneira inconsciente tenham noção da importância, mas com poucas referências para entenderem melhor. Não conseguem ver a dimensão histórica, que faz a arte ter a grande função de levar informação de outras civilizações, fazendo com que seja extremamente necessário para evolução dos povos. Paulo Freire fala como a distância social dificulta nas formas de relacionar: “A distância social existente e característica das relações humanas no grande domínio não permite a dialogação.” (FREIRE, 1976, p. 70). Abaixo, algumas das respostas, todas sem nada destacável. Com exceção do primeiro, que a menina com o nome de Ester Vitória


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(abaixo) destaca que não gosta e que existe a arte do DCD (duvidar, criticar e determinar) e após isso diz que se o graffiti for usado para fazer coisas diferentes e não sempre a mesma é importante. É confusa a forma como ela coloca a questão, mas me parece que ela tem uma noção um pouco mais avançada que outros alunos. Ter conhecimento para entender que é importante duvidar, criticar e determinar é um bom começo para se desenvolver um pensamento mais profundo sobre as coisas que nos cercam. Com apenas outras respostas inexpressiva, pode ver que maioria ainda não tem essa consciência reflexiva. Mesmo um pouco complicada a sua explicação, se destaca de forma peculiar, deixando claro que está em um estágio mais avançado que o resto da turma.

Trabalho da aluna Ester Vitória (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho da aluna Raquel (Fonte: ABREU, 2015)


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Trabalho do aluno Kauan (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho da aluna Michelle (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho do aluno Nicolas (Fonte: ABREU, 2015)

Percebo que nesse primeiro encontro, houve muitas experimentações quanto ao relacionamento que será estabelecido entre o professor e os alunos. Tanto de minha parte como dos alunos. Vejo a falta de atenção, piadas e brincadeira como forma de testar minhas reações e ver quais os limites que serão impostos em aula. Levei isso de forma tranquila, sem impor regras logo de inicio, mas sem dar muita entrada para excessos. Também observei bastante a peculiaridade de cada aluno para saber como lidar melhor com cada um e com a turma de forma geral. Analisando ao final, percebo


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que algumas vezes houve palavras como evolução e desenvolvimento do graffiti que pode ter sido um pouco confuso para os alunos, dando uma noção de linearidade dos momentos históricos que foram comentados. Na verdade Arte Rupestre, Arte na Grécia, Roma, Egito e Muralismo Mexicano, acontecem distantes, ocorrendo diversas outras etapas no meio, não possuindo uma relação direta, apenas afinidades. Porém, falei isso em poucas ocasiões e não fiquei reforçando essa ideia. Creio que é uma critica construtiva na forma de procurar tomar cuidado com pequenos detalhes que às vezes passam despercebidos e podem ser comprometedores. Foi uma falha minha, mas creio que não teve grandes problemas ao final e acabaram entendendo. A linha de trabalho em sala está indo para um lado bem critico quanto à relação que temos em sociedade. Isso faz com que tanto o professor quanto os alunos, agucem os sentidos. Tornando extremamente importante para fazer uma reflexão não só externamente como internamente. Transformando muitas visões que inicialmente parecem muito claras e com amadurecimento necessitam uma revisão mais profunda.


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3.2.2. Segundo Encontro Aula 3 e 4 Turma 92 – 9º série 13h 15min às 14h 55min 16 de abril de 2015

Tema- Algumas artes murais que aparecem após a Arte Rupestre.

Objetivo específico- Compreender outras expressões artísticas murais que apareceram após Arte Rupestre.

Conteúdo- Arte no Egito, na Grécia, Roma e Muralismo Mexicano.

Metodologia- - Aula expositiva e dialogada - Desenvolvimento de desenhos - Discussão sobre o tema

Lista de atividades- - Explicação de Arte no Egito, Grécia e Roma - Apresentação de imagens - Produção de desenhos da Arte no Egito, Grécia e Roma - Reflexão sobre o assunto - Apresentação imagens do Muralismo Mexicano - Apresentação de artistas - Leitura das obras do Muralismo Mexicano - Discussão da relação de Muralismo Mexicano e graffiti

Recursos e materiais- - Reproduções de imagens - Folhas de oficio - Lápis de cor


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Avaliação- Todos que estiverem atentos ao que o professor falar, apresentando interesse em fazer os desenhos terão uma boa avaliação. Além dos alunos que mostrarem vontade de entender o assunto e fazer perguntas.

Planejado- Vou começar explicando que surgiram alguns momentos artísticos após a Arte Rupestre. Que apareceram diversas expressões, algumas delas são: Arte no Egito, na Grécia e em Roma. Falarei que nessa época estava bem estabelecido os domínios técnicos do desenho do corpo humano, de animais, elementos da natureza e formas arquitetônicas. Também direi que é muito forte a arquitetura e que atualmente o graffiti se apropria das formas de construções para execução de obras. Tudo será explicado com ajuda de impressões de imagens. Após a explicação será entregue os lápis de cor e as folhas de oficio. Escolherão uma das expressões faladas e deverão fazer um desenho relacionado. Depois, será explicado que o Muralismo Mexicano começa por volta do início do séc. XX. Falarei sobre os artistas importantes e que tinham características de passar mensagens criticas em suas obras. Também que existia uma preocupação de fazer arte na rua, de forma pública e para todos, sem restrição de classes. Novamente com a apresentação de impressões, será escolhida algumas para ser feita um reflexão sobre as mensagens que os artistas queriam transmitir. Cada aluno deverá dizer o que pensa sobre a imagem apresentada. Após isso, escolherão uma das outras imagens e através delas terão um tempo para pensar. Depois individualmente irão falar para a turma o que entenderam. Por fim, relacionar as imagens com algumas de graffiti, lembrando que tem uma forte ligação.

Realizado- Tinha alguns alunos que não estavam na aula anterior. Então, retomei rapidamente o que tinha falado no primeiro encontro. Apresentei-me, falei que era o estágio da faculdade e que iria trabalhar graffiti, mas que explicaria ele dentro da história da arte. Expliquei as etapas novamente, dizendo que depois me aprofundaria mais em cada uma. Dessa vez, bem mais rápido, sem passar as imagens na mesa. Apenas para situar os alunos que haviam chegado. Terminado isso, fui direto ao tema principal dessa aula. Novamente tive dificuldades da atenção de alguns, mas havia alunos interessados e segui a aula. Depois de um tempo, me dei conta que quando falava


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direto com o aluno ao invés de falar para toda turma, obtinha mais a concentração deles no que eu dizia. Comecei então a passar nas mesas e falar individualmente ou em pequenos grupos. Dizia que falaríamos de Arte no Egito, Grécia e Roma e que agora havia uma preocupação com formas mais realistas, também que foram construídas muitas obras murais dentro dos templos e obras tridimensionais impressionantes. Mostrei as imagens para olharem de novo com mais calmas e para melhor compreensão do que eu estava falando.

Afresco na Tumba de Nebamon, séc. XV a.C, Museu Britânico (Fonte: TUPYNAMBÁ, 2013, p. 22)

Grécia (Fonte: http//artegrega.com)


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Iniciação aos mistérios dionisíacos, Casa dos Mistérios, Pompéia, 60 a.C (Fonte: TUPYNAMBÁ, 2013, p.34)

Disse também que começaram a explorar muito os detalhes e desenvolveram a capacidade de construir esculturas extremamente perfeccionistas. Para melhor entendimento, foi apresentada uma imagem que está no Museu do Vaticano e é uma estátua que representa Laocoonte, um personagem ligado à mitologia grega. Neste Produzem arte mural em bastante quantidade, dentro e fora de suas construções. Ressaltei que a arquitetura também é muito forte e que o Muralismo Mexicano e o graffiti vão se apropriar futuramente da estética arquitetônica da cidade para suas intervenções. Também falei que nessa época a arte era extremamente elitizada, sendo acessível apenas as classes mais poderosas, mas que mais tarde falaríamos como isso é quebrado.

Grupo de Laocoonte, Museu do Vaticano (Fonte: http://brasilartesenciclopedias.com.br/tablet/temas/laocoonte.php)


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Conforme ia passando nas classes e conversando, falava com explicações parecidas, porém, indo diretamente aos alunos podia analisar melhor suas reações, obtendo contato mais próximo e uma visão mais peculiar da realidade de cada um. Depois de passar em todas as classes, pedi para fazerem uma tarefa de escolherem uma das expressões para desenvolverem um desenho. Dei um tempo para execução dos desenhos e fiquei acompanhando, passando nas classes e conversando com os alunos enquanto faziam a atividade. Quando estava próximo de acabar o período, comecei a recolher os trabalhos. Quando a maioria já havia entregado, chamei a atenção de todos. Disse que agora trabalharíamos com Muralismo Mexicano, que após todas essas expressões que havíamos comentado anteriormente, aparece à arte mais próxima do graffiti. Havia um dos alunos que falava coisas engraçadas - desde o primeiro encontro - para tudo que eu dizia. Quando apresentei imagens em Grécia, que aparecem com poucas roupas, dizia que nessa época só queriam saber de safadezas. Depois que no México só queriam saber de beber e outros comentários que dispersavam a atenção da turma. Avisei a ele de forma calma e sem expor para o resto da turma que isso incomodava o andamento da aula e que poderia fazer brincadeiras, mas que se prolongasse demais ao ponto de atrapalhar iria ter lhe chamar a atenção, não adiantando teria que dizer a diretora. Continuou fazendo comentários engraçados, porém diminui a frequência com que fazia anteriormente. Dei sequência na aula, usando o mesmo método de passar em cada classe. Falei que surge por volta do início do séc.XX, com apelo muito forte de arte em ambientes abertos, para todos poderem visualizar. Também se torna intensa a critica social e política nas obras dos artistas. Apresentei os artistas mais importantes, como: Diego Rivera, José Orozco e David Siqueiros, apresentando impressões de obras mostradas inicialmente e algumas diferentes.


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Diego Rivera, Palacio Nacional, México, 1929/1935 (Fonte:TUPYNAMBÁ, 2013, P.70)

José Orozco, Deuses do Mundo Moderno, 1932 (Fonte: http//unicamp.br/iel/memoria/crono/icono/91.html)


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O Levante, Diego Rivera (Fonte: http://artemazeh.blogspot.com.br/2012/03/diego-rivera-murais-para-o-museu-de.html)

JosĂŠ Orozco (Fonte:http://entretenimiento.terra.com/cultura/jose-clemente-orozco-murales-pinturas-y-obras-masfamosas)

David Siqueiros (Fonte:http://entretenimento.uol.com.br/album/bbc/2014/01/29/david-alfaro-siqueiros-o-muralistamexicano-que- queria-matar-trotsky.htm)


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David Siqueiros, Da Ditadura de Porfirio Diaz à Revolução, 1957/1965 (Fonte:TUPYNAMBÁ, 2013, P.68)

Apresentei algumas reproduções de pinturas do artista italiano Blu (abaixo). É um dos principais grafiteiros atualmente e tem como característica principal a critica social. Apresentei para poder fazer a ligação do Muralismo Mexicano com o graffiti.

Blu (Fonte: http://www.blublu.org)

Conforme ia passando nas mesas e explicando, fazia algumas leituras de imagens, instigando a dizerem o que podiam encontrar de mensagens criticas. Perguntei a uma menina o que via em uma imagem do Diego Rivera (abaixo). Ela descreveu o que acontecia na obra, mas disse que não sabia o significado. Então, estimulei dizendo que eram trabalhadores e que havia um cara com espada, que provavelmente era alguma autoridade utilizando violência contra população. Mostrei mais algumas, mas não foi muito produtivo as reflexões. Mostrei novamente foto de um trabalho do Blu (abaixo).


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Como as criticas são mais claras, conseguiram entender melhor. Em uma imagem que mostrei alguns disseram que era as a cidade está destruindo as árvores. Que os humanos não estão preservando a natureza.

O Levante, Diego Rivera (Fonte: http://artemazeh.blogspot.com.br/2012/03/diego-rivera-murais-para-o-museu-de.html)

Blu (Fonte: http://www.blublu.org)

Continuei e, em um grupo de três meninas que sentavam juntas, surgiram comentários melhores, relacionado as imagens com critica às guerras, à exploração do trabalho. Umas das meninas até relacionou com o machismo em uma imagem com uma mulher pelada do David Siqueiros(abaixo). Assim seguiu até o fim do período, quando me despedi de todos e fui embora.


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David Siqueiros (Fonte:http://entretenimento.uol.com.br/album/bbc/2014/01/29/david-alfaro-siqueiros-o-muralistamexicano-que-queria-matar-trotsky.htm)

Como mudei a dinâmica da aula, acabei perdendo muito tempo passando em cada mesa e não sobrou tempo para atividade prática que tinha pensando no planejado. A impressão que tive desse encontro é que rendeu muito mais em questões de intimidade com os alunos. Parece que consegui quebrar um pouco mais a resistência inicial. Ainda estão se adaptando a minha presença e provavelmente preciso outros contatos para se sentirem mais a vontade, mas houve um grande evolução. Após isso, me senti muito satisfeito em conseguir perceber isso e consequentemente ter obtido bons resultados. Creio que essa metodologia será utilizada e desenvolvida para todos os encontros. Os trabalhos sobre Arte no Egito, Grécia e Roma saíram bem simples, mas achei interessante observar que é bem comum eles sentirem necessidade de pegar a ideia dos desenhos antigos e acrescentarem coisas atuais, fazendo uma mescla de tempos nos desenhos. Percebi que quase toda turma utilizou esse método para realizar atividade. Na primeira imagem podemos ver um homem de Roma com um spray na mão e na segunda uma esfinge egípcia com cara de palhaço e uns efeitos em volta (abaixo).


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Trabalho do aluno Yuri (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho do aluno Douglas (Fonte: ABREU, 2015)


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A exceção foi um aluno chamado Bruno, que apenas representou uma construção. Chamou-me muito a atenção a forma madura como ele trabalha os traços e manchas. Transformou uma imagem de uma foto em um desenho muito expressivo, usando apenas preto e branco e dando formas marcantes. Tem também noção de perspectiva, feito ao lado.

Trabalho do aluno Bruno (Fonte: ABREU, 2015)

Quase todos os alunos faziam essa conexão de coisas do passado com as do presente. Então, se percebe que há uma necessidade de se apropriar do estimulo inicial para criar novos elementos mais próximos de sua realidade. É interessante ver o processo de captação do antigo e a mistura com atualidade. Isso faz com que eles não dissociem as imagens atuais com a história da arte. Proporcionando um entendimento de que esses momentos não estão tão distantes de suas vidas. Porém, acho que tanto nos desenhos como nas reflexões do Muralismo Mexicano estão ainda sem muita expressão. Isso devido à falta de informação e diálogo, que me parece que eram precários nas outras experiências que tiveram com aulas de arte. Esse é o começo de um processo, que conforme gostem e sejam estimulados com diálogos, irá abranger sua capacidade de elementos para melhor formação de pensamentos de leitura de imagens. Paulo Freire fala da importância de conseguir compreender o seu entorno e como isso amplia a capacidade de percepção. Segundo Freire:


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“Na medida, porém, em que amplia o seu poder de captação e de respostas às sugestões e às questões que partem de seu contôrno e aumenta seu poder de dialogação, não só com o outro homem, mas com seu mundo, se “transitiva”. Seus interêsses e preocupações, agora, se alongam a esferas mais amplas do que à simples esfera vital.” (FREIRE, 1976, p.60)

A mudança na metodologia teve um impacto muito interessante, que acabou levando o estágio para um rumo extremamente peculiar. Tinha a ideia de construir um método não tradicional de ensino, mas ainda estava um pouco sem noção de como iria fazer isso. No momento que busquei uma saída para o problema de atenção dos alunos, encontrei uma forma de agir dentro da sala que me possibilita interagir de forma pessoal. Isso é muito importante para que eu entre na realidade dos alunos, fazendo com que meus aprendizados sejam muito mais eficazes. Além de me proporcionar um contato de amizade, que tem como consequência o melhor aprendizado e ambiente mais prazeroso. Também uma experiência mais enriquecedora.


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3.2.3. Terceiro Encontro Aula 5 e 6 Turma 92 – 9º série 13h 15min às 14h 55min 23 de abril de 2015

Tema- Começo do graffiti.

Objetivo específico- Compreender como iniciou o graffiti.

Conteúdo- Explicação do inicio do graffiti nos anos 70, em Nova York com o movimento hip hop. Estilos de letras como: wild style, booble style, bomb, throw up e tag.

Metodologia- - Aula expositiva e dialogada - Desenvolvimento de desenhos - Acompanhamento dos trabalhos - Solução de dúvidas - Dicas para melhor desenvolvimento dos desenhos

Lista de atividades- - Explicação do inicio do graffiti - Explicação de como criar letras - Escolha de um estilo de letra apresentado - Desenvolvimento de letras com seus nomes - Desenvolvimento de letras complexas do wild style - Acompanhamento nas mesas - Explicação de outros estilos que surgiram depois

Recursos e materiais- - Reprodução de imagens - Folhas de oficio - Lápis de cor


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Avaliação- Serão analisados pela sua capacidade de prestarem atenção nas explicações e pela disposição em fazer os desenhos.

Planejado- Passando nas classes, vou falar que o graffiti começou nos anos 70, em Nova York com o movimento hip hop. Que nessa época a principal característica eram as letras nos estilos mais simples como booble style, bomb, throw up, e wild style, que são letras mais complexas. Vou explicar as características de cada uma com reproduções de imagens. Depois, vou mostrar como fazer letras com luz e sombra, contorno e subcontorno. Terminado isso, começarei a atividade fazendo os alunos escolherem um estilo de letra e em seguida começarão fazendo seu nome com o tipo escolhido. Apenas não poderá ser escolhido o wild style, que são as letras mais complexas. Não poderão escolher por que depois todos os alunos iriam trabalhar nesse estilo juntos. Então, primeiro vão escolher um estilo simples para fazer seu nome. Irão ter um tempo para realizar e fazer perguntas durante a atividade. Depois, todos terão que fazer uma letra wild style com seu nome. Vou distribuir as folhas e fazer um acompanhamento nas mesas. Completando as explicações e dando dicas para melhor desempenho. Por fim, vou dizer que depois dessa etapa surgiram outros estilos de desenhos que não são letras. Estilos como: abstrato, realismo e surrealismo, mas que explicarei melhor na próxima aula.

Realizado- Comecei a aula dizendo que hoje deveriam fazer letras de graffiti com seu nome, apelido ou qualquer outra coisa que quisessem escrever. Porém, eu iria passar nas mesas para explicar melhor os estilos de letras e mostrar como são executadas. Conforme ia distribuindo as folhas de oficio, ia dizendo que o que o graffiti começa nos anos 70, em Nova York e com o movimento hip hop. Apresentava imagens e complementava que nessa época a principal característica são as letras nos estilos: wild style, booble style, bomb, throw up. Dizia a características de cada uma e fazia um pequeno esboço para entender como se fazia a construção das letras.


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Letras Wild Style (Fonte: http://subsoloart.com/blog/2013/11/graffiti-freight-train-stero-wild-style)

(Fonte: more)

Os GĂŞmeos, Letras Bubble Style https://blog.vandalog.com/2011/08/sao-paulos-stylish-bombs-throw-ups-os-gemeos-finok-vlok-

Letras Throw Up (Fonte: http://newstylishgraffiti.blogspot.com.br/2014/03/graffiti-throw-up.html)


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Letras Bomb (Fonte: https://www.flickr.com/endlesscanvas/3952188321)

Letras Tag (Fonte: http://puregraffiti.com/art/2009/12/graffiti-tags-x-handstyles-x-flares)

Falava também para prestarem atenção nos estilos de letras mais simples. Que primeiro faríamos uma atividade com letras simples. Em seguida, no próximo período, tentaríamos avançar, desenvolvendo letras wild style, que são as letras com bastante detalhe e efeitos de cor. Depois de cada explicação, entregava uma folha em branco e alguns lápis de cor para iniciarem a atividade. Havia um grupo de dois meninos e uma menina no fundo que estava fazendo bagunça. Então, pedi para eles pararem umas duas vezes e não estava adiantando e resolvi separá-los. Muito contrariados foram uma para cada lado, mas depois não prestaram a atenção nas explicações e não quiseram fazer a tarefa. A menina até foi meio desaforada e ficou falando coisas que não entendi direito. Não insisti e dei atenção para os outros que estavam fazendo. Após passar em todas as mesas para explicar a matéria, fiquei auxiliando quando me chamavam. Assim seguiu até o final do período, quando pouco antes de bater o sinal, recolhi os desenhos. Alguns não haviam terminado e outros ficaram conversando e não fizeram nada. O tempo do primeiro período passou um pouco do esperado. Comecei uns minutos depois de iniciar a segunda parte da aula. Falei que agora tentaríamos fazer as


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letras wild style. Passei novamente nas classes, distribuindo novas folhas, apresentando imagens desse estilo e explicando. Estimulava os alunos, fazendo perceberem os efeitos, as combinações de cores, a luz, a sombra e detalhes pequenos. Conforme ia explicando e apresentando imagens individualmente, fui começando a reparar que estava mais tranquila a minha presença em aula. Os alunos já estavam se soltando mais e alguns já falavam sobre assuntos fora do nosso conteúdo. Algumas vezes consegui falar pequenos assuntos sobre suas relações pessoais: amigos, namorados, família ou coisas que ocorrem na escola. Apesar de haver os mais fechados, isso foi me dando uma noção melhor do perfil de cada um. Ao fim das conversas entregava a folha em branco e pedia para tentarem fazer uma letra wild style, com seu nome, ou da mãe, namorado e etc. Depois de explicar a todos, fiquei auxiliando quando necessário. Havia um pouco de agitação, mas nada que comprometesse a aula. Assim seguiu até próximo ao fim da aula, quando falei que em seguida começaria a recolher e que na próxima aula começaríamos a falar de novos estilos que surgem após as letras. Nem todos estavam finalizados, mas disse que não poderíamos continuar por que comprometeria as próximas aulas. Alguns alunos queriam levar para terminar em casa e como já tinha trabalho suficiente, deixei que levassem. Depois organizei minhas coisas e me despedi de todos. Percebi que tinha mais atenção dos alunos. Que não estavam mais me tratando como estranho e que nova dinâmica era muito mais eficiente. Não só ficaram mais dispostos a ouvir como a fazer. Na primeira atividade os trabalhos saíram letras comuns, mas essa era a ideia, por que os estilos eram simples e era apenas para terem uma noção inicial. Quanto as letras wild style, não tive muito sucesso. Mesmo com as explicações, parece que houve um bloqueio e quase todos acabaram fazendo novamente letras bem legíveis, porém com mais alguns poucos detalhes. Acho que é um processo muito longo até chegar nesse nível de abstração das letras. Não achei que conseguiram fazer com técnica tão avançada, mas pelo menos consegui que os alunos misturassem mais as formas de fazer. No final, apesar não ter tido o resultado esperado, creio que teve algo bom que foi de eles quebrarem um pouco a forma básica de ver e executar letras. Isso pode ser estimulante para outras questões que exijam uma forma de ver algo de outro ângulo. Também para quebrar preconceitos, vendo de jeitos diferentes uma mesma situação. Alguém que conseguir deformar algo comum adquire mais chances de


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conseguir ampliar seus pensamentos e consequentemente não deformar a realidade com conceitos prontos. No livro Educação como prática da Liberdade, de Paulo Freire, ele comenta que o segredo está na educação dialogal e ativa voltada para responsabilidade social e política. Completa falando: “Por procurar testar os “achados” e se dispor sempre a revisões. Por despir-se ao máximo de preconceitos e análise dos problemas e, na sua apreensão, esforçar-se por evitar deformações.” (FREIRE, 1976, p. 61) Destaque novamente para a menina da primeira aula, que se chama Ester Vitória e dessa vez colocou uma frase escrita, “penso, logo existo”, colocando corretamente o autor, René Descartes. Por conhecer um autor tão distante da sua realidade social, tenho impressão que ela tem algum estimulo em casa. Percebo que ela é muito quieta e observadora e tem algo diferente dos outros alunos. Ela parece ser de uma classe econômica bem e é muito introvertia. Tenho muita dificuldade de me comunicar com ela. Tentei me aproximar para compreender melhor, mas cada vez que lhe fazia uma pergunta, respondia apenas com uma, duas palavras ou às vezes nem dizia nada, bloqueando a possibilidade de um melhor diálogo. Resolvi não forçar. Tenho a impressão de que ela está mais adiantada que os outros alunos e gostaria de saber por qual influência ou se é uma característica dela. Porém, é um caso mais particular e ainda não encontrei uma forma mais eficiente de obter uma conversa mais fluente. Abaixo trabalhos da primeira atividade com letras simples.

Trabalho da aluna Ester Vitória (Fonte: ABREU, 2015)


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Trabalho da aluna Julia (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho do aluno Glauber (Fonte: ABREU, 2015)

Na segunda atividade não tive resultados muito positivos. Podemos ver que o aluno Bruno fez letras simples e apenas acrescentou objetos em volta. Houve claramente algo que impediu que se desenvolvessem letras mais elaboradas. Nos dois seguintes, pode se observar que ocorreu um pouco mais de descaracterização das formas, porém ainda é muito tímido e continua ocorrendo uma forte barreira que impede de irem adiante. No último trabalho houve um pouco mais de evolução. O aluno Yuri botou alguns elementos na própria letra e não em volta. Usou formas onduladas, dando ideia de movimento e puxou extensões das letras, dando novas formas. Isso foi um grande avanço, porém ele foi o único que conseguiu realizar o objetivo da aula. Os outros foram todos como o primeiro, contendo apenas letras simples e coisas em volta ou com pequenas mudanças. Abaixo trabalhos da segunda atividade com letras mais complexas.


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Trabalho do aluno Bruno (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho da aluna Juliana (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho do aluno Ricardo (Fonte: ABREU, 2015)


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Trabalho do aluno Yuri (Fonte: ABREU, 2015)

Havia previsto que ocorreria um pouco desse bloqueio, mas não imaginei que seria tanto. Tinha consciência de que os artistas que faziam letras complexas tem um longo processo até chegar esse nível. No final acabei não obtendo bons resultados e minha expectativa sobre a atividade não deu muito certo. Minha ideia não era que fizessem letras wild style, mas que começassem a se acostumar com a desconstrução. Acho que precisaria de mais aulas para trabalhar isso. Porém, como isso atrapalharia o andamento das outras aulas e não tinha muito tempo, decidi não ir adiante com essa atividade. Talvez fosse uma tarefa para se pensar nas próximas experiências em sala de aula. Na questão das relações entre professor e alunos, começam a se tornar cada vez mais próximas e as aulas começam a se tornar mais prazerosas, tanto para mim quanto para os alunos. Quanto a atividade relacionada as letras mais complexas não tive grande sucesso mas acho que o principal que era me aproximar mais deles, foi concluído com sucesso. Tenho a impressão de que realmente gostaram da aula e se envolveram com o conteúdo. Isso por ser um assunto que está inserido em suas rotinas. Isso faz eles refletirem sobre algo que já haviam visto na rua, mas que me parece que nunca tiveram acesso a informações mais direcionadas. Por enquanto, penso estar na direção certa e estou com a sensação de que ficará melhor daqui para frente. Esse contato próximo é uma troca de experiências muito rica para ambos os lados, por que me vejo inserindo conhecimento naquele ambiente e também recebendo. Uma forma de lidar com estágio de forma aberta, onde flui com mais naturalidade a maneira de se relacionar e aprender.


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3.2.4. Quarto Encontro Aula 7 e 8 Turma 92 – 9º série 13h 15min às 14h 55min 30 de abril de 2015

Tema- Grafiteiros com novos estilos, trabalhos coletivos e materiais. Objetivo específico – Conhecer os grafiteiros, seus estilos, formas de murais coletivos e os materiais que utilizam.

Conteúdo - Artistas como: Os Gêmeos (Brasil), Aryz (Espanha), Blu (Itália), Banksy (Londres), Inti (Chile) e suas obras. Técnicas como: Surrealismo, Realismo e Abstrato. Materiais utilizados.

Metodologia- - Apresentação expositiva e dialogada - Explicação individual - Trabalho coletivo

Lista de atividades - Apresentação dos artistas através de imagens - Apresentação dos murais pintados por vários artistas - Explicação sobre as formas de fazer os desenhos interagirem - Desenvolvimento de desenhos em coletivo - Demonstração de alguns materiais utilizados para as pinturas - Explicação de como utilizar os materiais e como fazer um painel

Recursos e materiais- - Reproduções de imagens - Folhas compridas - Lápis de cor - Latas de spray - Caps


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- Rolos - Tinta látex Avaliação- Serão avaliados pela atenção nas explicações e disposição em realizar os desenhos em grupo.

Planejado- Distribuirei algumas imagens, os papéis, lápis e pedirei que se juntem em duplas ou mais para começarem a fazer um desenho coletivo com a técnica do graffiti. Depois, irei passar nas mesas e apresentarei obras de alguns artistas e suas trajetórias. Explicarei sobre a capacidade dos artistas de fazerem murais com desenhos se misturando e os estilos que surgem depois das letras. Será explicado um pouco a ideia de misturarem os desenhos e um pouco da história de alguns artistas. Após isso, será solicitado que façam um desenho em dupla ou trio com os estilos apresentados. Quando terminarem a tarefa, vou recolher os trabalhos e os alunos irão ter contato com as latas de spray, tinta para a pintura de fundo, rolos e caps, levados para entenderem melhor. Falarei também sobre as latas de spray MTN 94 e Montana que são marcas boas, da tinta látex, caps (tampa utilizada para saída de tinta do spray) de alta ou baixa pressão e rolos adequados. Também explicarei as maneiras de executar um painel. Em seguida, será dito quais são as melhores marcas de tinta, seguido da apresentação dos tipos de caps e rolos e em que momento cada um é adequado. Depois de dito tudo isso poderão apenas pegar os materiais para terem um melhor entendimento. Então, será falado de como se faz um mural. Pintando primeiro a cor de fundo, depois fazendo um rascunho e em seguida usando as cores e o contorno final. Os materiais serão só para olharem, e não será realizado nenhuma atividade utilizando-os.

Realizado- Cheguei na sala e esperei mais alguns minutos até todos entrarem. Dei uma pequena retomada na aula anterior, para dizer que agora continuaremos a aula fazendo uma atividade das etapas que surgiram após esse início do graffiti. Pedi para se sentarem em duplas ou trios para fazerem a tarefa e que seguida passaria nas mesas para explicar melhor. Primeiro distribui as folhas compridas e disse que era para começarem a fazer um desenho juntos, onde não fossem apenas um do lado do outro, mas tivessem uma interação. Depois, fui passando nas mesas com reproduções de imagens de murais pintados por várias pessoas, explicando as formas como de interagem um no desenho do


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outro e como esse contato possibilita o intercâmbio. Também falava das características dos artistas e dos estilos como: surrealismo, realismo e abstrato que são aderidos pelo grafiteiros. Os artistas comentados com os alunos foram: Os Gêmeos (Brasil), Aryz (Espanha), Blu (Itália), Banksy (Londres), Inti (Chile).

Os Gêmeos, Lisboa, Portugal (Fonte: http://www.osgemeos.com.br)

Arys (Fonte: http://www.aryz.es)


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Blu (Fonte: http://www.blublu.org)

Banksy (Fonte: http://banksy.co.uk)

Inti (Fonte: http://www.livegap.cl/inti-el-chileno-numero-uno-del-street-art-mundial)


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Fui passando individualmente em cada dupla ou trio e apresentado esses artistas, mas apenas comentei que cada um possuía um estilo diferente. Depois de passar em todas as classes, voltei a passar novamente e agora apresentando surrealismo, realismo, abstrato e explicando suas características. Essas explicações e os desenhos coletivos estavam sendo executados ao mesmo tempo. Também apresentei a impressão de dois murais coletivos, mostrando como os artistas trabalhavam juntos e interagiam os desenhos.

Surrealismo, Davi De Melo Santos (Fonte: http://bonstutoriais.com.br/street-art-surrealista-do-brasileiro-dms)


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Realismo, Smug (Fonte: http://subsoloart.com/blog/2013/01/graffiti-realismo-smug)

Expressionismo Abstrato, Kaso (Fonte: http://www.kaso.it)


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Mural Coletivo (Fonte: http://parquedacidade.com.br/portfolio/sampa-graffiti-apresenta-artistas-de-rua-de-sp)

Amaro Abreu e Jefferson Cunha, 2012 (Fonte: ABREU, 2012)


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Junto com apresentação das imagens, foi falado um pouco sobre os artistas, seus estilos e depois os desenhos feitos por várias pessoas, que é uma grande característica do graffiti. A primeira imagem dos murais coletivos é de um painel feito por mim e mais um amigo, feito no bairro onde se encontra o colégio. Mostrei de novo para olharem com mais atenção e para despertar o interesse deles. Fui mostrando separadamente onde estavam os diferentes artistas nos murais coletivos, ressaltando onde havia as interações. As vezes a interação se dava pelo mesmo fundo para todos, as vezes pelas mesmas combinações de cores e também junção da mesma ideia, onde um desenho complementa o outro. Tudo isso foi explicado e depois continuaram a fazer a tarefa. Fiquei passando nas mesas para acompanhar como estava o andamento dos trabalhos. Percebi uma grande disposição dos alunos para conversarem entre si para realizarem a tarefa bem feita. Passado algum tempo, fui em cada grupo com os materiais utilizados para fazerem os murais. Materiais como: latas de spray das marcas adequadas, caps de alta e baixa pressão, rolos de tamanhos diferentes e um pouco de tinta látex em uma garrafa. Expliquei um pouco sobre cada material, falando em que momento cada um era adequado. Não mostraram grande interesse e falei rapidamente, sem me aprofundar muito no assunto. Deixei continuarem os desenhos. Fiquei um pouco sentado, sem interferir, atendendo apenas quando me chamavam. Depois dei mais uma passada nas mesas. Estava próximo do final e poucos alunos haviam acabado. Quando faltavam cinco minutos recolhi mesmo os que estavam inacabados e disse que talvez não desse pra fazer na próxima aula por que tinha que fazer outra tarefa. Alguns quiseram levar para terminar em casa e deixei. Quando bateu o sinal, me despedi de todos, peguei minhas coisas e fui embora. Achei muito interessante os diferentes processos criativos que surgiram. Na primeira imagem os dois combinaram que cada um faria uma linha e elas se cruzariam em alguns pontos, formando formas. Então, o primeiro aluno começou fazendo uma linha que cruzava a folha. Depois, o outro fez uma que cruzava a linha inicial e assim foram fazendo. Fiquei andando na sala e acompanhando outros trabalhos e quando voltei, várias formas geométrica iam se formando nos diferentes cruzamentos das linhas e eles iam preenchendo com cores variadas. Esse processo fez eles começarem a se surpreender com a quantidade de possibilidades diferentes que surgiam sem que


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tivessem programado, desenvolvendo a criatividade que surge através do improvável. Depois, dei a sugestão que pensassem bem nas cores para ficarem harmônicas e novamente foram estimulando as possibilidades de tonalidades, sem deixar apenas colorido.

Trabalhos dos alunos Yuri e Ricardo (Fonte: ABREU, 2015)

O segundo, os dois alunos não conversaram sobre o desenho. Apenas um deles começou a desenhar e o outro foi complementando com elementos em volta. O primeiro objeto que apareceu foi um ônibus ou caminhão, em seguida o outro aluno já colocou um cobra abaixo e assim seguiu cada um colocando um elemento e depois pintado de forma invertida. O que desenhou primeiro recebia pintura do segundo e o segundo aluno recebia pintura do primeiro. Os dois conseguiram chegar ao um entendimento onde um não influenciava diretamente no desenho, mas sim no resultado final. Antes de iniciarem, tinham conversavam sobre fazer de outro jeito que não entendi direto e estavam se desentendendo. Depois acharam essa forma que acabou agradando ambos.


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Trabalho do aluno Jefferson e Glauber (Fonte: ABREU, 2015)

O terceiro eram três pessoas e eles combinaram algo e fizeram um pequeno esboço do que cada um iria fazer, mas acabaram modificando e no final saiu diferente do que pensaram. Cada um acrescentava um elemento que haviam previsto, mas cada vez que passava nessa classe, botavam novas ideias que apareciam conforme o decorrer do desenho. Houve algo parecido com o primeiro processo, com alunos fazendo e descobrindo novas coisas através das formas que iam surgindo. Através da comunicação iam obtendo cada vez mais criatividade.

Trabalho dos alunos Bruno, Estefania e Juan (Fonte: ABREU, 2015)


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Cada grupo criou uma maneira diferente de fazer a mesma tarefa, diversificando as formas de processos criativos. Alguns processos se repetiram, mas foi muito interessante, como eles tiveram que se comunicar para se entender e chegar a uma conclusão do que iriam fazer. Isso é bastante importante para que acostumar a lidarem de forma natural quando são contrariados. Percebi que algumas vezes houve divergência de ideias, mas que quase todos acabaram descobrindo maneiras de encontrar uma solução que predominasse o trabalho coletivo, que era o objetivo principal desse encontro. Alguns grupos não fizeram e se desentenderam e não consegui fazer com que chegassem a um consenso. Percebi que houve um grande estimulo em tentarem realizar a tarefa de uma forma em que realmente houvesse uma interação. Mesmo sem pedir que antes conversassem sobre o que iriam fazer, quase todos gastaram um bom tempo conversando no que desenhariam. Tenho a impressão que isso se deu pelo fato de eu pedir que fizessem uma tarefa que não estavam acostumados. No momento que foi proposto algo diferente, despertou uma curiosidade do que poderia sair. Vejo que eles estão em uma fase de muita distração, mais falando do que realizando as tarefas. Quando tiveram a oportunidade de fazer uma atividade onde pudessem ficar conversando e trabalhando ao mesmo tempo, renderam mais do que nas outras aulas. Esse prazer gerado na atividade, fez com que eles fizessem bem feito. Gostaram do resultado e isso faz com que se conscientizem da capacidade que tem de realizarem um trabalho satisfatório. Temos capacidades que são pouco estimuladas. No momento que eles tem essa conscientização podem utilizar não só para artes, como para outras atividades que venham a realizar no futuro. Paulo Freire fala de como se conscientizar traz uma visão mais clara das situações: “A medida em que um método ativo ajude o homem a se conscientizar em torno de sua problemática, em torno da sua condição de pessoa, por isso de sujeito, se instrumentalizará para as suas opções” (FREIRE, 1976, p.120)


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3.2.5. Quinto Encontro Aula 9 e 10 Turma 92 – 9º série 13h 15min às 14h 55min 7 de maio de 2015

Tema- Graffiti como crítica social.

Objetivo específico- Entender como o graffiti pode transformar lugares ou conter mensagens críticas. Conteúdo- A capacidade do graffiti de resocializar lugares esquecidos e passar mensagens que usam a crítica como abordagem. Metodologia- - Aula expositiva e dialogada - Desenvolvimento de desenhos - Acompanhamento da atividade Lista de atividades- - Explicação da diferença de desenhos apenas estéticos ou com mensagens críticas - Apresentação de reproduções de imagens - Escolha de desenhos estéticos ou críticos - Desenvolvimento de um desenho de acordo com a escolha - Acompanhamento dos trabalhos Recursos e materiais- - Folhas de ofício - Lápis de cor - Reproduções de imagens Avaliação- Serão avaliados por escutarem as explicações e fazerem a tarefa da maneira que foi solicitada. Planejado- Começarei passando em cada mesa, entregando o material, explicando o papel social do graffiti e como será realizada a tarefa. Existem dois tipos de grafiteiros: os que fazem algo apenas esteticamente bonito e os que transmitem mensagens críticas através de suas obras. Com auxílio de reproduções de fotos desses tipos de trabalhos irei


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passar nas mesas para explicar como o graffiti é muito importante dentro da sociedade. Que também existem muitos eventos em favelas e lugares abandonados para tornar esses lugares melhor habitáveis. Após isso, os alunos receberão folhas e lápis de cor e deverão escolher entre fazer um desenho estético ou com uma crítica. Será feito um acompanhamento nas mesas, auxiliando nas formas de transmitirem o que estão pensando para o papel e solucionado as dúvidas que surgirem no decorrer da aula. Depois, serão recolhidos os trabalhos e eles deverão dizer de que forma fizeram para estar de acordo com a escolha.

Realizado- Cheguei à sala, esperei todos entrarem e se acalmarem um pouco. Em seguida que fechei a porta, a diretora veio buscar dois alunos. Havia sido solicitado que os pais desses alunos se apresentassem no colégio e não apareceram. Um deles era muito agitado e nunca fazia as tarefas e outro estava sempre junto. A aula ficou mais tranquila sem os dois e em seguida comecei a passar nas mesas para entregar o material e explicar a aula de hoje. Primeiro apenas falei que existiam artistas que tinham trabalhos estéticos ou críticos e entreguei as folhas. Depois, fui passando nas mesas mostrando imagens e falando sobre cada uma característica. Os alunos mostraram um grande interesse na parte crítica e me surpreenderam ao prestarem bastante a atenção e mostrar interesse em entender as mensagens das obras. Durante a apresentação dos desenhos abaixo fiz alguns estímulos, para começarem e compreender melhor a forma de fazer leitura de imagens. Falei da primeira imagem, que através da gravata ele quer simbolizar a rotina, o trabalho, que muitas vezes é desgastante e faz ficarmos presos nos compromissos, sem tempo para lazer.


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Blu (Fonte: http://www.blublu.org)

Na segunda disse que com as grandes construções muitas aldeias indígenas estavam ficando sem lugares para morar.

Crânio (Fonte: http://cranioartes.com)

Na terceira, que havia uma crítica a violência, contrastando um jovem em um movimento de agressão, que é algo negativo, com flores que simbolizam algo belo e positivo da vida.


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Banksy (Fonte: http://banksy.co.uk)

Na quarta, onde tem um homem com dentes de prédios, comendo uma arvore, fiz um comentário de destruição da natureza através das cidades.

Blu (Fonte: http://www.blublu.org)

Na quinta, falei da quantidade de dinheiro que tem para o futebol, enquanto pessoas passam fome.

Paulo Ito (Fonte:http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2014/05/26/grafiteiro-que-critica-miseria-dizque-copa-escancara-problemas-do-brasil.htm)


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E na última, falei sobre a guerra, em que em muitos países desde criança é feito uma lavagem cerebral, para que jovens sintam prazer e orgulho em morrer por interesses do governo. Durante essas explicações, surgiram comentários dos alunos que foram complementando o que eu dizia e acrescentando informações.

Blu (Fonte: http://www.blublu.org)

Depois mostrei duas imagens de desenhos estéticos para entenderem a diferença. Falei um pouco de como utilizam o teto, as formas e as chaminés para melhor aproveitamento e depois falei de uma imagem de um pássaro e como a parede é comprida e o trabalho se ajusta a isso.

Os Gemêos, Nina e Nunca, Escócia (Fonte: http://melanoise.blogspot.com.br/2011/03/os-gemeos-x-escocia-medieval.html)


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Luis Seven Martins (Fonte: https://criativaplus.wordpress.com/2013/07/26/conheca-os-passaros-de-luis-seven-martins)

Diferente das imagens que apresentei no Muralismo Mexicano, nessas eram bem mais explícito os questionamentos. Além disso, eram temas mais próximos de suas realidades. Como vi que houve um bom envolvimento nos trabalhos críticos, decidi mudar. Em vez de escolherem entre critico e estético, todos fazerem desenhos críticos, abordando algo que achavam errado na nossa sociedade. Achei também que seria interessante não colocar cor, para não distrair a atenção com mais coisas. Então, depois que passei em todas as classes e expliquei que fariam dessa forma, diferente da pensada inicialmente. No começo alguns conseguiram fazer e outros bloquearam. Passei novamente na mesa dos que estavam com mais dificuldade para ajudar. Mostrei as imagens novamente e expliquei melhor, dando ideias. Em seguida, auxiliei os outros que estavam indo bem. Alguns quiseram botar cor para dar mais significado e permiti que usassem mas pouco. Passado algum tempo, começaram a ir na minha mesa para entregar. Cada um que me entregava, eu pedia para falar um pouco sobre o que ele fez. No começo pensei que, pela falta de amadurecimento na formação de imagens, a maioria dos trabalhos ia ter pouco desenho e muita frase. Mas saíram alguns desenhos muito bons na questão de transmitir uma crítica apenas através de elementos gráficos. Quase todos haviam acabado a tarefa. Apenas um ou dois ainda estavam fazendo. Faltavam alguns minutos para acabar e comentei que tinha gostado do resultado e que tinha sido surpreendido pelos resultados. Recolhi os desenhos que ficaram inacabados e me despedi.


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Surpreendeu-me muito como alguns conseguiram desenvolver críticas apenas com elementos visuais e sem serem acompanhadas de frases para explicar. Assim como deformar letras, como feitos em uma atividade anterior, achava que era um processo mais longo até chegar nessa qualidade gráfica que alguns alunos chegaram. Percebi na aula que foi solicitada as letras, houve um bloqueio forte e nem com estímulo consegui quebrar. Pensei que poderia acontecer algo parecido com essa tarefa, mas não ocorreu. Pelo contrário, fui surpreendido pelo interesse e disposição que apresentaram ao falar sobre temas mais críticos. Tinha impressão que seria mais difícil despertar seus interesses por esse assunto. Ao analisar isso, cheguei a conclusão de como existe muita informação visual atualmente. Essa geração tem muita coisa na cabeça, porém normalmente não é externado. No momento que os alunos são estimulados a fazer algo com essas informações isso vem a tona, como aconteceu nessa aula. No trabalho apresentado abaixo o aluno disse que gostaria de fazer algo relacionado a alegria e tristeza e me pediu para usar cores. Como percebi que isso daria mais significado ao desenho, disse que poderia e falei para o resto da turma que poderiam acrescentar pequenos detalhes de cores. Foi representada uma espécie de mascara, onde havia uma parte mais triste e com menos cores e outra alegre mais colorida. Achei muito maduro a plasticidade do desenho. Muito simples e contendo a informação necessária para uma boa leitura da imagem.


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Trabalho da aluna Estefania (Fonte: ABREU, 2015)

Continuei me surpreendendo com o prรณximo desenho. Novamente muito maduro e dessa vez trabalhado o bom e mal, mas dessa vez na forma de um Yin Yang, onde ele coloca a parte branca (bom) em baixo e a negra (mal) em cima e vazando para lado bom. Achei a maneira como ele sintetizou e transformou a ideia de uma maneira muito criativa. Jamais imaginei esses alunos dessa idade e realidade fazer algo assim.

Trabalho do aluno Bruno (Fonte: ABREU, 2015)


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Esse foi a representação da exploração do futebol, com uma cruz que representaria a morte. Acho que esse aluno foi bastante influenciado pela imagem que mostrei durante as explicações. Quando passei nas classes já havia comentado sobre a questão do futebol. Porém, ficou algo bem simples e esteticamente bonito. Gostei também de como esse e os mostrados anteriormente conseguiram resolver sem precisar usar palavras.

Trabalho do aluno Luan (Fonte: ABREU, 2015)

As duas últimas imagens abaixo acabaram não surpreendendo muito, mas foram interessantes por estimular a capacidade de se apropriarem das formas e objetos para conseguirem dar sentido ao que querem expressar. O primeiro utiliza a balança para mostrar uma critica ao governo, mostrando como o peso das coisas influencia nas decisões e atitudes e o segundo usando o balão que simboliza alegria e esperança para dizer que o nosso futuro está comprometido pelas formas como agimos.


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Trabalho do aluno Glauber (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho da aluna Fernanda (Fonte: ABREU, 2015)


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Acho que no tempo que vivemos, com quantidade de estímulos visuais da internet, publicidade e televisão, captamos muita bobagem desnecessária, mas também absorvemos temas importantes. É comum em alguns colégios os alunos serem solicitados para fazerem tarefas que utilizem memorização de coisas desconectadas de suas vidas cotidianas. Diferente de tarefas criativas, que sejam provocados a usar um pouco do seu inconsciente, fazendo os alunos entenderem melhor suas capacidades e consequentemente abranger sua capacidade de percepção sobre os elementos que nos cercam. Paulo Freire falando sobre os métodos tradicionais de ensino, resalta a falta que existe de criação dentro das formas de ensinar: “Implica, não uma memorização, de palavras, de sílabas, desgarradas de um universo existencial – coisas mortas ou semimortas – mas numa atitude de criação e recriação.” (FREIRE, 1976, P.111) O grande aprendizado dessa aula foi a descoberta do conhecimento dos alunos que estavam guardados. Também a minha tendência em fazer analises erradas sobre algo que ainda possuo pouco conhecimento. Tinha uma ideia pronta de que todos teriam muita dificuldade em refletir sobre questões criticas. Acabei encontrando outra realidade que desconhecia e minhas verdades sobre aquele ambiente acabaram se desfazendo. Isso serve de lição – tanto em sala quanto na vida – para evitar fazer um julgamento sem antes procurar vivenciar e ver se tudo é como realmente se imaginávamos. A prática é melhor forma de ganhar experiência, por que é comum criarmos uma imagem sobre determinados assuntos que desconhecemos e quando temos um contato real é que descobrimos realmente como funciona. Poderia dizer que houve um certo preconceito de minha parte. Fiz um julgamento de que por ser um colégio público, havendo muitas vezes má qualidade no ensino em artes, todos em sala não teriam nem ideia sobre os assuntos abordados. Quando faço a proposta da atividade, me dou conta de que os alunos tem muito mais informação que eu pensava. Que entendem sobre criticas. Esse pré-julgamento poderia também ter feito eu não propor esse tipo de atividade, com medo que ela tivesse pouco retorno, mas como achava que era essencial passar por essas questões acabei encarando o desafio. Então, fica como ensinamento que devo sempre tomar mais cuidado, procurando sempre refletir bastante antes de fazer análises e tomar decisões precipitadas.


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3.2.6. Sexto Encontro Aula 11 e 12 Turma 92 – 9º série 13h 15min às 14h 55min 14 de maio de 2015

Tema- Grande painel com diversos artistas.

Objetivo específico- - Experiênciar a ação de realizar um grande painel - Visualizar a realização de um painel coletivo de arte - Realizar um painel coletivo com interação dos desenhos

Conteúdo- Painel coletivo de graffiti.

Metodologia- - Aula expositiva e dialogada - Apresentação em vídeo - Realização de desenhos em grupo

- Acompanhamento da atividade

Lista de atividades- - Explicação dos eventos e dos grandes murais coletivos - Apresentação do vídeo Canoas Multicultural - Organização para separar toda turma em dois grupos - Distribuição dos materiais - Realização dos desenhos coletivos

Recursos e materiais- - Reprodução de imagens - TV - DVD - Folhas compridas de papel pardo - Lápis de cor


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Avaliação- Será feita pela vontade em acompanhar o que foi dito em aula e na disposição em realizar a tarefa.

Planejado- Vou começar explicando que nessa aula faremos a tarefa de dividir a turma em dois grupos para realizar um desenho coletivo. Vou falar um pouco sobre o vídeo que será passado. Depois, vou ligar a TV e o DVD para apresentação do vídeo Canoas Multicultural, projeto onde eu e mais vários artistas pintamos um grande muro na cidade de Canoas. Quando terminar, vou pedir para organizarem a turma em grupo. Juntaremos as mesas uma do lado da outra como suporte para folha. Distribuirei os lápis de cor, colocarei a folha e poderão começar a fazer a tarefa. Resaltarei que é importante que conversem e façam uma interação entre os desenhos. Vou ficar acompanhando os dois grupos, resolvendo dúvidas e dando ideias.

Realizado- Antes de entrar na aula conversei com a professora que eu estava substituindo, falando que iria passar um vídeo. Ela disse que em seguida iriam levar a TV e DVD na sala. Que outra professora estava usando e seguida estaria disponível. Falei com um funcionário que ficou responsável em levar os aparelhos. Depois fui para aula. Entrei na sala, esperei todos entrarem e mostrei um rolo de papel pardo e disse que hoje faríamos um desenho em que os alunos desenhariam na mesma folha. Para não perder tempo, enquanto esperava chegar os aparelhos, pedi que juntassem uma mesa ao lado da outra para poder estender a folha. Houve muita agitação, ficaram brincando e ninguém organizava as mesas. Comecei colocando a primeira, um aluno me ajudou em seguida outros também contribuíram. Nem todos ajudaram, mas organizamos entre alguns alunos. Colocamos as mesas e cadeiras para ficar um ao lado do outro e comecei a estender a folha e distribuir os lápis de cor. Pensei em começar a atividade e interromper quando chegasse a TV e o DVD. Quando pedi para começarem a fazer, novamente houve euforia e todos falando. Incentivei os alunos a conversar sobre o desenho e alguns falavam e outros continuavam a se distrair com outras coisas. Avisei que em seguida passaria um vídeo de um evento em Canoas, onde vários grafiteiros pintaram um muro. Comecei a explicar que aconteciam vários eventos, onde os grafiteiros trabalham murais com vários artistas. Falei que deveriam interagir um no desenho do outro, como no outro encontro onde fizeram trabalhos em dupla. Falei que a


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interação podia ser através do fundo comum para todos, podia ser nas combinações de cores ou de um se apropriando da ideia do outro para acrescentar coisas novas. Todos pareciam interessados em fazer. Na metade do primeiro período, chegaram os aparelhos para apresentação do vídeo. Instalei rapidamente a TV e o DVD enquanto alguns alunos faziam a tarefa. Depois expliquei que o vídeo fazia parte do evento Canoas Multicultural. Que nesse encontro aconteciam diversas atividades culturais e uma delas era o graffiti. Falei que eu participei e houve mais seis artistas e os dois fotógrafos que fizeram o vídeo e mais o pessoal que fez a parte da organização e divulgação. Depois dei início a apresentação. De novo muita agitação, demorando um pouco para eu conseguir fazer todos ficarem quietos. Não consegui silêncio total, mas sim que falassem baixo e prestassem um pouco atenção. Fiz mais algumas explicações do decorrer do vídeo. Apresentando os artistas, explicando como foi o processo, as etapas percorridas até começar a pintura, os locais onde havia interação nas pinturas e etc. O vídeo era de 10 minutos e depois de finalizado, continuamos com a atividade. Dei mais algumas dicas,fiquei acompanhando os trabalhos e solucionando dúvidas. Assim seguiu até quase o final da aula. A maioria não havia acabado, mas pedi que todos colocassem seus nomes atrás da folha para continuarem na próxima aula. Todos assinaram e enrolei a folha, guardei os lápis e me despedi. Como perdi algum tempo preparando os aparelhos, explicando e apresentando o vídeo, sobrou pouco tempo para fazerem o painel. Os desenhos estão em fase muito inicial. Apenas rascunhos e estudos do que irão fazer na próxima aula. Por isso, grande parte dos desenhos ainda está difícil de identificar. Porém, percebi que nessa aula e no quarto encontro existe um grande prazer em fazer esses trabalhos coletivos. Isso faz com que os alunos comecem a se comunicar mais. No começo achava que podiam não se interessar muito e querer preservar os seus desenhos da alteração do outros alunos, como já vi diversas vezes acontecer. Esse é um grande estímulo para que comecem a pensar mais profundamente em algum assunto interessante. Faz com que conversem entre si, para transmitirem algo que gostam de diferentes formas e depois juntem as ideias. Além de trabalhar a coletividade e a criatividade. Tendo que primeiro captar imagens, formas e cores em sua cabeça e depois transformá-las em algo que dialogue com outros desenhos que eles nem imaginavam. Isso estimula com que se questionem mais o que estão fazendo e de que forma está sendo feito, desenvolvendo


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mais a capacidade de reflexão de como se expressar de forma que exista uma adaptação ao que o colega está expressando. Paulo Freire, falando sobre o ser que muitas vezes não questiona, que não utiliza de seus estímulos para exercitar sua capacidade de raciocínio instigador, diz:

“Pouco ou quase nada, que nos leve a posições mais

indagadoras, mais inquietas, mais criadoras.” (FREIRE, 1967, p.96) Percebo que os alunos apesar de terem bastante informação visual, estavam carentes nessa conexão entre conhecimento e desenvolvimento da criatividade. Tenho a impressão que recebiam muitas informações, coisas para decorar e poucas formas de utilizá-las na prática. Como continuação da citação acima, Paulo Freire finaliza dizendo: “Tudo ou quase tudo nos levando, desgraçadamente, pelo contrário, à passividade, ao “conhecimento” memorizado apenas que, não exigindo de nós elaboração ou reelaboração, nos deixa em posição de inautêntica sabedoria.”


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3.2.7. Sétimo Encontro Aula 13 e 14 Turma 92 – 9º série 13h 15min às 14h 55min 21 de maio de 2015 Tema- Continuação do desenho coletivo e sondagem.

Objetivo específico- - Concluir o painel coletivo - Refletir sobre as percepções e conhecimentos adquiridos no decorrer do projeto

Conteúdo- - Painel coletivo - Entendimento sobre graffiti

Metodologia- - Aula dialogada - Acompanhamentos das atividades - Trabalho em grupo - Questionário de sondagem

Lista de atividades- - Finalização do desenho coletivo - Auxílio na execução dos desenhos - Realização do questionário de sondagem

Recursos e materiais- - Papel pardo - Lápis de cor - Questionário

Avaliação- Serão avaliados pela vontade de executar a tarefa e disposição em responder o questionário.

Planejado- Vou entrar em sala, pedir para organizarem novamente as mesas lado a lado para colocar novamente a folha. Depois, distribuir os lápis de cor, colocar a folha e dizer que podem continuar. Conforme forem fazendo vou passar nas mesas para auxilia-los e


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dar dicas. Como na outra aula não houve uma interação muito grande entre os desenhos, vou dar a sugestão de usarmos o fundo para unir os desenhos, como foi feito no vídeo da aula anterior. Também vou ir avisando que no segundo período irão responder um questionário, relacionado com a visão que eles tinham do graffiti antes das aulas e que eles tem agora. Irei fazer isso para já irem pensando no que poderão responder. Após o final do primeiro período, vou entregar o questionário. Vou fazer alguns estímulos para não responderem coisas muito vagas, como fizeram na sondagem da primeira aula. Depois, vou recolher as folhas do questionário e dos desenhos, dizer que essa foi à última aula, falar que foi uma boa experiência para mim realizar esse trabalho e me despedir.

Realizado- Entrei na sala, falei que era a última aula comigo, que estava acabando meu estágio e que hoje teríamos que finalizaríamos o desenho em grupo e no segundo período receberiam uma folha com uma pergunta onde deveria ser respondido como eles viam o graffiti antes das minhas aulas e como passaram a ver depois. Em seguida pedi que organizassem as mesas como na aula anterior para continuar a tarefa. Alguns alunos chegaram atrasados e expliquei novamente para eles o que tinha falado para a turma. Dei um tempo até todos colocarem as mesas lado a lado, depois entreguei os lápis de cor para dar sequência aos trabalhos. Alguns não tinham vindo na aula anterior e outros que já haviam feito o desenho e não queriam fazer mais. Então, não insisti e dei privilégio aqueles que ainda não haviam feito e os que queriam fazer. Os que não haviam terminado, seguiram fazendo ou colorindo os desenhos feitos anteriormente. Os que não tinham vindo na aula anterior, começaram a acrescentar coisas novas no painel. Fiquei passando nas mesas para auxiliar e dar sugestões. Fui falando que os desenhos estavam com pouca interação e sugeri que fizéssemos nuvens e um gramado que pegasse toda a extensão da folha. Então alguns alunos começaram a desenvolver isso. Lembrei que no vídeo que vimos na última aula, o fundo azul e com nuvens uniu os desenhos, mas houve interação entre os desenhos. Assim seguiu até o final do primeiro período. Na segunda parte da aula, alguns tinham acabado, outros não. Dei mais uns minutos para continuarem, mas avisei pra se apressarem que em seguida eu entregaria o questionário. Passado uns vinte minutos, enrolei a folha, recolhi os lápis e comecei a passar nas mesas para entregar a folha com a seguinte pergunta: Qual o entendimento


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que você tinha sobre graffiti? E como você vê ele depois das aulas? Conforme ia entregando a folha com a pergunta, fui estimulando a responderem algo interessante. Falei que não precisava ser algo extenso, mas que pensassem um pouco antes de responder e falassem algo que realmente havia mudado nas suas percepções sobre a arte urbana. Algo que foi significativo aprender durante os encontros. Depois de ter passado em todas as mesas e entregado todas as folhas, sentei na minha mesa e esperei que respondessem. Alguns me chamavam para perguntar algumas coisas e fui auxiliando. Seguiu assim até poucos minutos antes do final da aula. Comecei a recolher dos que haviam terminado e deixei os que ainda faziam. Lembrei que hoje era o último dia e disse que tinha sido muito interessante trabalhar com a turma. Comentei que eu achava que assim como eu havia percebido coisas novas, achava que eles também haviam descoberto. Que esse nossos encontros foram trocas de experiências, sendo que eles aprenderam comigo e eu com eles. Peguei os últimos trabalhos que faltavam ser finalizados e me despedi de todos. Percebi que os alunos se envolveram bastante com a atividade, fazendo com bastante vontade e prazer. Acho que isso acontece pelo fato de poderem estar realizando uma tarefa e ao mesmo tempo interagindo com os colegas. Isso é muito estimulante, por que além de tornar mais divertido, acrescenta ideias para melhor desenvolvimento do trabalho. Com a conversa sempre se descobre coisas novas e isso faz ir abrindo a consciência para novas possibilidades, utilizando a informação para a criação. Paulo Freire falando sobre a passividade existencial das pessoas, comenta que existir é um conceito dinâmico e através do dialogo começamos a nos abrir para a complexidade da vida, completa falando: “Implica numa dialogação eterna do homem com o homem. Do homem com o mundo.” (FREIRE, 1976, p.60) Acho também que o vídeo e essa atividade fez com que alunos tivessem uma visão mais ampla do graffiti, conseguindo trabalhar o imaginário deles sobre os eventos que envolvem diversos artistas. Isso faz com que eles entendam melhor como funciona o ambiente desse tipo de evento. Outra coisa que foi desenvolvida foi a coletividade entre os colegas. Utilizando os estímulos visuais de outras pessoas, que podem ser reaproveitadas para realização do seu trabalho. Isso faz com que aprendam a lidar com as diferenças e utilizem a criatividade para se apropriar de ideias. Em relação a atividade, acho que apesar de terem conversado antes, não conseguiram alcançar o


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objetivo de haver uma grande interação entre os desenhos. Achei meio desconectados os trabalhos. Não consegui chegar a uma conclusão muito clara do por que ocorreu isso. No quarto encontro, feito a atividade em dupla, surgiu uma grande variedade de processos criativos, enquanto nesse ficou muito fraca essa questão. Levantei a suposição que poderia ser por serem muitos e acabarem se dispersando muito e ficando confusos. Ou que talvez entre apenas dois exista uma maior facilidade de comunicação. Pensei nessas questões mas não consegui chegar a algo mais conclusivo, Penso, que talvez assim como ocorreu no terceiro encontro, de letras complexas, precisaria ser trabalhada mais tempo. Acho que pode ter novamente acontecido um bloqueio, provocado pela euforia de todos juntos. É um processo mais complicado, onde precisariam de uma noção mais aprofundada de desenho pra começarem a desenvolver esse tipo de interação entre várias pessoas. Porém, gostaram muito de fazer e gosto muito da possibilidade de poderem trabalhar conversando e divertindo com os outros colegas.

Trabalho coletivo (Fonte: ABREU, 2015)


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Trabalho coletivo (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho coletivo (Fonte: ABREU, 2015)


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Trabalho coletivo (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho coletivo (Fonte: ABREU, 2015)


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Trabalho coletivo (Fonte: ABREU, 2015)

Com relação aos questionários, percebi que muitos dos alunos realmente pensaram em algo mais expressivo antes de desenvolverem as respostas. Diferente das perguntas do primeiro encontro, onde apenas colocaram coisas vagas, sem muita preocupação em dizer algo interessante. Creio que foi por que tinham carência de informação sobre o assunto e um pouco por que ao longo das aulas começaram a se envolver com as atividades. Algo que serviu de estimulo também, foi as pequenas provocação que fiz, dizendo para os alunos não responderem em seguida e pensarem um pouco. Que não precisava ser extensa a resposta, mas que falassem algo que realmente tivesse mudado nas suas percepções sobre o graffiti. No final teve diversas descrições muito boas, falando sobre sentimentos, formas de expressão, beleza e forma de apontar defeitos da sociedade. Tenho impressão que muito do que descreveram são coisas que eles captam com a diversidade de informações que eles têm hoje em dia, mas que ficam em sua parte mais inconsciente. Normalmente não é colocado em prática algo que os faça refletirem sobre suas percepções. Por isso acabam não se mostrando tão visível. Através das atividades e estímulos acabaram liberando algumas coisas interessantes, demonstrando a suas capacidades de entendimento sobre o assunto. Acho que as reflexões e o envolvimento surgiram também pela proximidade do tema com a realidade dos alunos.


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Aqui podemos ver que houve algumas mudanças na questão de como era visto o graffiti. No primeiro vemos que é dito que permite o artista jogar seus pensamentos, criticas e dar beleza. Me parece que essa ideia surgiu ao decorrer das aula e essa visão de jogar pensamentos e criticas era algo que não tinha anteriormente. Isso faz com que o aluno possua um ângulo diferente na forma de olhar as pinturas a partir de agora, possibilitando que consiga fazer novas leituras de imagens que antes não eram acessíveis.

Trabalho do aluno Jefferson (Fonte: ABREU, 2015)

Novamente podemos ver que nos dois seguintes, diz que agora vê como forma de expressar. Isso faz uma mudança forte em como eles verão isso daqui para frente. Antes podiam até saber disso, mas de forma meio camuflada e sem muita expressividade. Reforçando isso faz com que passem a olhar não apenas de forma estética, mas também mais reflexiva.

Trabalho do aluno Miguel (Fonte: ABREU, 2015)


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Trabalho da aluna Luana (Fonte: ABREU, 2015)

Nessas respostas aparecem questões do significado da criação e criatividade. Isso novamente reforça de como estão obtendo essa noção mais clara do significado pessoal que contém em uma obra e como é preciso criatividade para conseguir chegar nos resultados finais. Provavelmente eles já soubessem, porém quando é pouco abordado e não é falado isso em seu cotidiano, não se cria uma necessidade de esses alunos procurarem saber mais. Quando se fala em significado da criação, entramos em campo que não fica na superficialidade do bonito e entramos em questões mais filosóficas de vida.

Trabalho da aluna Juliana (Fonte: ABREU, 2015)


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Trabalho da aluna Mariele (Fonte: ABREU, 2015)

O entendimento que aluno teve nessa resposta também é interessante. Ele fala em como ele via o graffiti como atividade marginal e agora passa a ver como forma de transmitir sentimentos. A realidade de muitos alunos desse colégio é complicada. Muitas vezes é difícil de lidar com questões emocionais, financeiras e etc. Um dos grandes objetivos nesses ambientes é fazer os alunos encontrarem atividades que sirvam de forma positiva para seu futuro. No momento que conseguimos desmistificar a arte urbana como coisa de maloqueiro, acrescentamos uma nova possibilidade, bastante acessível para a realidade dos integrantes desse colégio.

Trabalho da aluna Michelle (Fonte: ABREU, 2015)

Compreendi que houve algumas dificuldades de atenção para as explicações das aulas e realização das atividades. Conforme eles foram me conhecendo melhor,


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gostando do tema e com a mudança de dinâmica das aulas, houve melhoras. Porém, senti essa dificuldade até o fim, onde alguns cooperavam, outros não e eu não conseguia fazer todos se interessarem. No final, estavam realizando os trabalhos, mas percebi que tenho que exercitar bastante essa parte do dialogo com os alunos. Procurando formas de despertar mais os seus interesses pessoais dentro do assunto, me aproximando da realidade de cada um e procurando formas diferentes de lidar com cada situação. Houve diversos desafios por parte dos alunos quanto do professor e alguns foram superados e outros não. Porém, a busca por aperfeiçoamento é algo que não deve cessar nunca. Quanto mais buscamos aprendizado, mais percebemos que precisamos aprender. Jamais as coisas serão perfeitas, mas é preciso não se abalar com as partes negativas e se apoiar nas positivas para buscar melhorar constantemente. O inicio dessa busca começou e agora preciso absorver as experiências obtidas para não cometer os mesmos erros. Melhorando sempre os acertos e me mantendo disposto para errar novamente sem medo.


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CAPITULO 4 CONCLUSÃO


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4.1. Conclusão

Durante cinco anos, no mesmo colégio onde foi realizado o estágio, tive uma experiência dando oficina no Projeto Mais Educação. Esse projeto era para manter os alunos em turno integral em aula, sendo feito no turno inverso ao que eles estudavam normalmente. Havia atividades como capoeira, teatro, música, dança, arte e etc. Entrei para fazer oficina de graffiti e comecei a observar como era prazeroso para eles desenvolverem as propostas e como a arte urbana era próxima da realidade daquele ambiente escolar. Quando iniciei os planejamentos para o estágio, a ideia de utilizar o graffiti veio de forma natural. Decidi fazer uma proposta que abordasse esse tema e conseguisse fazer uma ligação com os momentos artísticos do passado. Isso foi muito bom, por que consegui fazer com que se interessassem pela historia da arte, sem que isso parecesse algo tão distante de suas vidas. Iniciei falando de forma geral, dizendo que o nosso assunto principal era o graffiti, mas que para entender melhor, falaríamos de outras etapas anteriores que apresentam algumas relações parecidas. No primeiro momento houve dificuldades de atenção, mas em seguida os alunos começaram a se envolver com o assunto e com as atividades. Isso possibilitou que começassem a pensar mais reflexivamente sobre arte em geral, principalmente sobre graffiti. Creio que grande parte desse interesse, partiu da proximidade do assunto com suas realidades. Isso fez que colaborassem e desfrutassem mais das aulas. Como foram poucos encontros não consegui aprofundar muito os assuntos relacionados a historia da arte, que foram utilizados para contextualização do tema principal, que era o graffiti. Porém, acho que houve algum esclarecimento que possibilitou uma visão ampla de como era antigamente e o que é feito hoje em dia. No segundo encontro expliquei algumas etapas mais antigas. Ao final, pedi apenas que executassem um desenho relacionado a Egito, Grécia ou Roma. Quando fizeram, colocaram elementos atuais, mesclados com antigos. Na primeira imagem podemos ver que o aluno se inspirou em uma imagem típica Grega ou Romana, mas com uma lata de spray na mão e uma calça com um cinto. Na outra uma esfinge egípcia com cara de


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palhaço e uns efeitos em volta. Isso mostra como existe uma necessidade e uma curiosidade de se apropriar de elementos antigos e utilizar com objetos atuais.

Trabalho do aluno Yuri (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho do aluno Douglas (Fonte: ABREU, 2015)

Quando chegamos ao assunto de maior pesquisa do projeto que era o graffiti, os alunos estavam bastante interessados e quase todos acabaram se envolvendo e participando ativamente do aprendizado. A escolha do tema foi feita por causa do Projeto Mais Educação e também por eu ter uma prática com o graffiti. A minha professora orientadora me propôs que eu mostrasse alguns dos trabalhos que havia feito


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no bairro. Então, quando apresentei murais feitos no local onde viviam os alunos, despertou ainda mais suas curiosidades sobre o assunto. Muitos conheciam os painéis, mas não sabia quem havia feito, tornando isso uma surpresa inesperada para eles e esse interesse possibilitou descobrirem mais sobre arte urbana. Não consegui fazer todos colaborarem com atenção às explicações e desenvolvimento das atividades. Creio que foi uma minoria que não participou e eu gostaria de desenvolver melhores formas de conseguir criar um interesse dos que não participaram da aula. Porém, os que mostraram disposição conseguiram possuir conhecimentos melhores do conteúdo proposto, podendo ser vistos no questionário que apresentarei ao final. Algumas questões escritas no questionário foram sobre passarem a ver o graffiti não apenas como atividade marginal, como forma de criticar e mostrar sentimentos, como algo importante para refletir sobre a sociedade e etc. Sendo assim, o estágio foi – dentro das possibilidades – feito de forma satisfatória, abrangendo uma boa aprendizagem na parte teórica, bom rendimento na prática e demonstrando ser pertinente a escolha do tema dentro do ambiente escolar. O colégio onde foram realizados os encontros é público e havia bastante diversidade de realidades e classes econômicas. Isso fez com que em algum momento eu percebesse que meus métodos não estavam obtendo a atenção dos alunos por eu estar longe da disciplina de um padrão escolar, onde tem mais rigidez por parte do professor, normalmente obtendo maior colaboração. Quando existe uma turma com maior afinidade de realidades, se torna mais fácil a metodologia feita de uma forma geral. Percebi que como havia bastante distancia social e a minha proposta era de ser um ensino menos tradicional, precisaria usar outras maneiras para estimular os alunos a se envolverem com o tema e consequentemente fazer as atividades onde poderiam usar a criatividade. Paulo Freire falando sobre os métodos tradicionais de ensino, resalta a falta que existe de criação dentro das formas de ensinar. “Implica, não uma memorização, de palavras, de sílabas, desgarradas de um universo existencial – coisas mortas ou semimortas – mas numa atitude de criação e recriação.” (FREIRE, 1976, P.111). Quando iniciei os encontros havia muita dispersão e precisei me adaptar, criando novos métodos para conseguir a atenção em sala de aula. Passei a atender de forma individual, orientando e aos poucos me aproximando da vida de cada um.

Isso me possibilitou

uma intimidade maior com vários alunos, podendo consequentemente ter melhor


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desenvolvimento nas aulas. Percebo que na turma existia uma grande falta de informação sobre arte. Porém, através dos questionários pude ver que de maneira inconsciente, os alunos tem noção da importância da arte, mas com poucas referências para entenderem melhor.

Trabalho da aluna Raquel (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho do aluno Kauan (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho da aluna Michelle (Fonte: ABREU, 2015)

Os alunos não conseguiam ver a dimensão histórica, que faz a arte ter a grande função de levar informação e reflexão para as civilizações, fazendo com que seja


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extremamente necessário para evolução dos povos. A arte sempre foi uma forma de transmitir algo, servindo como dialogo entre os habitantes que vivem em uma mesma região. Com o desenvolvimento do ser humano, começa a haver uma distância entre as pessoas de classes econômicas diferentes. Na sala de aula ficou visível as diferenças sociais. Paulo Freire, falando da dificuldade de entendimento e conversa entre ambos os lados, fala: “A distância social existente e característica das relações humanas no grande domínio não permite a dialogação.” (FREIRE, 1976, p. 70). Então, utilizei uma maneira de me movimentar em sala que tornou a dinâmica muito mais eficaz e interessante. Consegui ir além da superficialidade das pessoas que estavam em contato comigo, obtendo uma experiência mais enriquecedora em questões existenciais. Levo comigo, a partir de agora, uma bagagem que tenho a possibilidade de usar a criatividade, mesclada com o aprendizado que obtive, em outras escolas no futuro. Claro que posso enfrentar situações completamente diferentes, porém ficou uma forma de conhecer, se adaptar dentro de uma realidade que me parece ser muito expressiva. Uma das grandes descobertas do estágio foi a metodologia feita com explicação de forma individual. Acho que foram adequadas por ser uma forma mais livre de prática, não ficando tão presa aos métodos tradicionais. A arte normalmente permite a reflexão, quebra de regras, valorizar a individualidade. Essas questões são destacadas no momento que começo atender cada aluno de forma única, valorizando a troca de experiências. Também usei uma atividade na qual deveriam deformar as letras. Não obtive o resultado esperado, mas creio que teve algo positivo. Foi eles quebrarem um pouco a forma básica de ver e desenhar letras.

Trabalho do aluno Bruno (Fonte: ABREU, 2015)


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Trabalho da aluna Juliana (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho do aluno Ricardo (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho do aluno Yuri (Fonte: ABREU, 2015)

Isso tudo pode ser valido também para outras questões que exijam uma forma de ver algo de outro ângulo. Também para quebrar preconceitos, analisando e resolvendo, de jeitos diferentes uma mesma situação. Alguém que conseguir deformar


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algo comum, adquire mais chances de conseguir ampliar seus pensamentos e consequentemente não deformar a realidade com conceitos prontos. É uma maneira de tentar abranger as diferentes possibilidades, se distanciando da formula mais comum de entender e resolver os pensamentos. Buscando sempre disposição para rever o que está sendo feito, as novas maneiras que podem ser vistas e a diversidade de soluções. No livro Educação como prática da Liberdade, de Paulo Freire, é comentado que o segredo está na educação dialogal e ativa voltada para responsabilidade social e política. Completa falando: “Por procurar testar os “achados” e se dispor sempre a revisões. Por despir-se ao máximo de preconceitos e análise dos problemas e, na sua apreensão, esforçar-se por evitar deformações.” (FREIRE, 1976, p. 61). Isso é um aprendizado extremamente importante de ser utilizado por mim nas próximas aulas e também pelos alunos nas suas vidas cotidianas. Quanto aos materiais, o colégio não oferecia muitos recursos, tendo que usar apenas algumas folhas de oficio, lápis, giz, televisão e DVD para apresentação final. Trouxe de casa algumas latas de spray vazias, caps, rolos, tintas. Não eram para serem usados na prática, apenas para terem um contato mais próximo e conhecerem melhor cada material. Pensava em fazer um mural coletivo na rua com todos. Como a situação do colégio era precária em termos de materiais para aula de artes, acabei decidindo fazer em uma folha de papel pardo comprida, com apenas lápis de cor. Acho que não obtive o que precisava em algumas situações, porém consegui criar dinâmicas com o material que tinha disponível. Isso, de certa forma é algo bom, por que te incentiva a não ficar esperando por algo ideal, saindo da zona de conforto e buscando novas soluções para os problemas. Isso ocorrera diversas vezes, sendo papel fundamental do professor não ficar só reclamando. Correndo atrás do que deseja ser apropriado para melhor andamento de sua metodologia. Um fato que me chamou atenção foi relacionado a uma menina chamada Ester Vitória, que era muito introvertida, não me permitindo desenvolver maiores conhecimentos sobre ela. Porém, em diversas vezes colocou frases bem filosóficas, me dando a impressão de ter acesso a informações que outros alunos não possuíam. Na primeira aula, ela fala que é importante duvidar, criticar e determinar. Outro dia colocou a frase: Penso, logo existo e colocou corretamente René Descartes como autor.


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Trabalho da aluna Ester Vitória (Fonte: ABREU, 2015)

Gostaria de entender melhor qual era a sua situação e como eram seus relacionamentos familiares e de amizade fora do colégio. Porém, cada vez que tentava me aproximar e conversar, ela apenas respondia com frases curtas e não abria espaço para um melhor dialogo. Decidi não forçar e apenas ir apenas observando. Não imaginei que iria encontrar alguém nesse ambiente com as informações que essa menina tinha. Depois fiz uma atividade onde deveriam fazer desenhos com criticas sociais. Apresentaram coisas completamente surpreendentes, que nunca imaginei que seriam capazes. Isso me mostrou como entrei com preconceito quanto ao potencial dos alunos. Subestimei os alunos e acabei me dando conta que na verdade havia criado uma imagem falsa. Creio que o motivo desse julgamento foi pelo fato de achar que por ser um colégio público, tinham pouco estimulo criativo. Não percebi a quantidade de imagens que estavam guardadas nesses alunos. Ao analisar isso, cheguei a conclusão de como existe muita informação visual atualmente, essa geração tem muita coisa na cabeça,


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porém, normalmente não é externado. No momento que os alunos são estimulados a fazer algo com essas informações isso vem a tona, como aconteceu nessa aula. Foram apresentados desenhos de uma qualidade estética muito boa. Pensava que iriam usar muito a escrita para explicar as criticas, porém muitos conseguiram resolver apenas com o desenho e de formas muito peculiares.

Trabalho da aluna Estefania (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho do aluno Bruno (Fonte: ABREU, 2015)


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Trabalho do aluno Luan (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho do aluno Glauber (Fonte: ABREU, 2015)


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Trabalho da aluna Fernanda (Fonte: ABREU, 2015)

Tudo isso foi um grande aprendizado para não entrar em sala com pensamentos prontos e procurar sempre refletir bastante antes de fazer análises e tomar decisões precipitadas. Ao final dos encontros, fiz um questionário no qual os alunos deveriam dizer como viam o graffiti no começo das aulas e como passaram ver ao final. Disseram que passaram a ver a arte urbana como forma de se expressar, como algo além de apenas beleza, como forma de denunciar problemas da sociedade, como não apenas atividade marginal e etc. Isso me fez refletir como realmente tiveram novas percepções a partir das aulas, possibilitando-me uma autoestima melhor para as próximas experiências. Também me ajudou a compreender o quanto é importante trazer um assunto e metodologia interessantes que despertem o prazer dos alunos em aprender. Algo que com certeza vou levar para os meus futuros métodos de ensino. Acho que um fator extremamente importante para uma boa aprendizagem é o assunto e a forma como ele é proposto. No momento que comecei a pensar em um tema para o projeto, logo em seguida surgiu o graffiti. Os motivos foram: eu ter conhecimento e uma prática como grafiteiro e por já ter visto um retorno no Projeto


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Mais Educação. Decidi propor uma relação com o contexto histórico da arte, para entenderem melhor etapas que aconteceram antes de chegar ao assunto principal. Nas aulas os alunos tiveram um conhecimento superficial sobre a história da arte, devido ao pouco tempo que tinha. Quanto ao graffiti acho que tiveram bastante entendimento sobre o seu inicio através do movimento hip hop, da forma como eram feitas as letras inicialmente, do seu desenvolvimento até como funciona atualmente. Isso tudo foi possível, por causa da proximidade do tema com seus cotidianos, o que despertou um interesse nas atividades propostas. Junto veio a forma como o professor se relaciona com os alunos, que penso ter sido bastante importante para aprenderem coisas uteis que servirão para além do colégio. Quando passei para a metodologia de observar e dar atenção a cada aluno, se iniciou uma maneira de se comunicar muito mais intima, fazendo com que a as relações se tornassem mais agradáveis, junto com aprendizado eficaz. Também quando são propostos trabalhos coletivos, fica visível novamente que gostam muito de executar apesar das divergências. Essas atividades estimulam a aprender algo que seja proveitoso para utilizarem em suas vidas práticas. Conscientizando que é importante fazer algo que desperte prazer e que isso pode tornálos melhores, independente do que estão fazendo. As atividades coletivas, também influenciam a percepção de como podem se aperfeiçoar quando ocorrem contribuições das ideias de outras pessoas. Além disso, podem começar a lidar melhor com as diferenças existentes entre os colegas. Apesar de ter ressaltado essas questões algumas vezes em aula, provavelmente não foram todos os alunos que passaram a perceber. Os que captaram provavelmente irão passar a refletir melhor suas formas de comportamento em sociedade. Também teve retorno positivo na questão de como viam e como passaram a ver essa arte. Em um questionário final, perguntei como viam o graffiti e como passaram a ver depois das aulas. Grande parte colocou que veem agora como forma se passar sentimentos, de criticar, de se expressar.


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Trabalho do aluno Jefferson (Fonte: ABREU, 2015)

Trabalho do aluno Miguel (Fonte: ABREU, 2015)

Isso fez eles construírem análises criticas sobre o graffiti, algo que antes não tinham. Portanto, a partir de agora, podem olhar e falar sobre esse assunto abordando questões anteriormente passavam despercebidas. Assim, ampliando a diversidade de leituras em relação à arte urbana. Além de despertar um novo interesse que faz com que passem a refletir mais sobre arte em geral. Um aluno também disse que não via mais o graffiti apenas como arte marginal.

Trabalho da aluna Michelle (Fonte: ABREU, 2015)


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Na vida dos alunos desse colégio existem diversas dificuldades financeiras e familiares, sendo importante encontrar atividades positivas para seus futuros. Muitas vezes essas dificuldades tendem a baixar a alto estima, levando para o lado das drogas e violência. No momento que existe uma desmistificação da imagem de marginalidade que se criou em cima dessa manifestação artística, faz-se com que esse movimento se torne uma nova possibilidade de trabalho profissional na realidade escolar. Não apenas como artistas, mas com a possibilidade de atuarem em muitas atividades culturais que utilizam o graffiti. É comum ocorrer eventos que utilizam vídeo, foto, divulgação, venda de materiais, design de sites e roupas, organização de eventos e etc. Como tudo isso está muito inserido na atualidade, se torna mais fácil para os alunos entenderem e se incorporarem a tudo isso. Logo nos primeiros encontros senti uma grande frustração em não conseguir envolver os alunos nas explicações e atividades. Isso foi muito significativo para procurar outras soluções, proporcionando uma mudança que se tornou muito significativa para o progresso dos encontros. Com a diversidade de realidades, acabei adotando um método onde atendia individualmente cada aluno, conseguindo ter uma melhor intimidade com a turma como um todo. No começo, fazia apenas para conseguir atenção, sem grandes expectativas ou maior aprofundamento metodológico. Com o passar do tempo, comecei a me dar conta que ao adotar esse método, fui tendo um contato muito mais de amizade do que somente professor. A partir disso, além de obter melhores resultados, obtive um postura que possibilitou adentrar nas características e relações pessoais de alguns alunos. Quando me dei conta o estágio estava tomando um rumo muito interessante. Não houve alteração no tema escolhido e sim no meu comportamento em sala de aula. No começo havia muita dispersão, misturada com desafio ao professor e no momento que houve essa mudança na prática de ensino, se iniciou na sala um clima diferente do anterior. Os alunos se sentiram mais a vontade e consequentemente eu também. Transformando o ambiente escolar em um espaço amistoso, tudo fluiu de forma mais tranquila. Com exceção de alguns, grande parte da turma colaborava nas atividades e mostrava interesse na hora das explicações. Essa descoberta foi fundamental para refletir de forma muito mais profunda tanto na minha postura como professor, como na maneira de me relacionar com pessoas.


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Acho que o que fica de mais importante para o futuro profissional, são justamente as reflexões. Não criei grandes metodologias, mas formas criativas de pensar sobre uma realidade. Que me permitiu ir além de apenas do conteúdo que foi abordado. No momento que me dei conta disso, consegui fazer relações entre o que está sendo trabalhado na aula e a vida fora do colégio. Isso fez com que tivessem percepções que antes não imaginavam, transformando a aula em espaço que além de conhecimentos sobre determinada matéria, continha conexão entre esse aprendizado e a realidade. Isso também faz com que se sintam muito mais estimulados em aprender, fazendo do professor alguém que se encontra no momento para ampliar os campos de possibilidades e percepções. Algo interessante é manter futuramente a postura de amizade do professor com o aluno. Isto faz com que a turma não veja o professor como autoridade máxima. Isso possibilita uma troca de experiências, um lugar menos autoritário e mais tranquilo, propiciando um aprendizado mais eficiente. Sinto que apesar de ter adquirido algumas conclusões, preciso me distanciar de produzir estereótipos das formas de conduzir a aula. Vejo que ao fugir dos métodos tradicionais criei um caminho que se torna muito mais amplo e aberto a reflexões. Vejo que algumas maneiras de me comportar funcionaram e outras não. Daqui para frente vou encontrar novos obstáculos e o que fica de melhor aprendizado para a postura em sala, é observar cada aluno de forma única e aprender com eles como aprendem comigo. Também manter sempre um espaço onde é possível fazer mudanças, se moldando de acordo com a realidade do momento. Outra coisa que refleti ser importante é de nunca se acomodar nos conhecimentos já obtidos e se manter na busca por novos caminhos que permitam expandir e por em prática as vivências. Não posso dizer quais os métodos que utilizarei em aula daqui para frente e sim a forma como passei a pensar quando exercer um trabalho pedagógico.


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Referências

- FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. - _______. Educação Como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. - GITAHY, Celso. O que é graffiti. São Paulo: Editora Brasiliense, 1999. - TUPYNAMBÁ, Yara. Muralismo. Belo Horizonte: Adi Edições, 2013. - PALLAMIN, Vera. Arte Urbana; São Paulo: Região Central (1945 - 1998): obras de caráter temporário e permanente. São Paulo: Fapesp, 2000. - PORTELINHA, Miguel. Arte Urbana: estratégias, contextos e técnicas. Lisboa, Portugal: IADE-U, 2013. - Canoas Multicultural. Direção: Felipe Farias e Matheus Piccini. Vibe Connection. 1DVD (10 min). - Disponivel em: www.artegrega.com. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.brasilartesenciclopedias.com.br. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.artemazeh.blogspot.com.br. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.entretenimento.uol.com.br. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www. unicamp.br. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www. entretenimiento.terra.com. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.subsoloart.com. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www. blog.vandalog.com. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.newstylishgraffiti.blogspot.com.br. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.flickr.com/endlesscanvas. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www. puregraffiti.com. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www. enciclopedia.itaucultural.org. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.bonstutoriais.com.br. Acesso em: março de 2015.


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- Disponivel em: www.kaso.it. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www. parquedacidade.com.br. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.osgemeos.com.br. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www. aryz.es. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.blublu.org. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.banksy.co.uk. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.livegap.cl. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.melanoise.blogspot.com.br. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.criativaplus.wordpress.com. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.cranioartes.com. Acesso em: março de 2015. - Disponivel em: www.artesrupestrejuaygach.blogspot.com. Acesso em: março de 2015.


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Apêndice 1 - Análise das aulas do Ensino Fundamental Estatísticas do questionário do aluno - Turma 72 1- Você acha que arte tem algum sentido na sua vida ? Não- 0%

Sim- 50%

Mais ou menos- 50%

2- Você gosta das aulas de arte ? Não- 0%

Sim- 93,75%

Mais ou menos- 6,25%

3- Quais tipos de arte você gosta ? Desenho- 62,5%

Fotografia- 12,5%

Escultura- 12,5%

Mosaico- 12,5%

Pintura- 25,5%

Artesanato- 6,25%

Graffiti- 50%

Cerâmica- 0%

Recorte e colagem- 0%

Gravura- 0%

Outros- 12,5% - dança 4- Você tem contato com arte fora do colégio ? Não- 56,25%

Sim- 43,75%

5- Você conhece ou sabe o nome de algum artista plástico famoso ? Não- 68,75%

Sim- 31,25%

6- Você acha importante estudar arte e conhecer obras de artistas ? Não- 6,25%

Sim- 75%

Mais ou menos- 18,75%

7- Você acha que arte no colégio é importante ? Não- 0%

Sim- 87,5%

Mais ou menos- 12,5%

8- Você acha importante que um artista pode ajudar as pessoas a pensarem de forma diferente ? Não- 0%

Sim- 100%

9- Você acha que arte pode ser considerada uma profissão ? Não- 0%

Sim- 100%


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Apêndice 2 - Questionário da professora titular Nome: Astúria Vasconcelos 1. Você tem formação acadêmica? Sim, licenciatura em Artes Visuais na UFRGS. 2. Quanto tempo atua na área de Arte? 22 anos. 3. Como surgiu seu envolvimento e seu interesse nessa área? Grande influência familiar (pai artesão e mãe cantora lírica) e uma professora de artes na quinta série que me mostrou que “um outro mundo é possível” pela arte. 4. Como você faz para despertar o interesse dos alunos? Procurando ser respeitosa com sua expressão particular e mostrando a liberdade que a arte traz. 5. Você tem costume de ir em exposições ou atividades relacionada a Artes? Se sim cite algumas. Infelizmente ultimamente não. 6. Você acha que tem um bom retorno em relação ao interesse dos alunos pela disciplina? Tenho certamente o interesse e empatia da maioria dos alunos.

7. Como você vê a valorização da Arte nos colégios nos dias atuais? Vejo de maneira vergonhosa! A arte é vista como a disciplina de “diversão” e “decoração” da escola, o que mostra uma ignorância profunda das direções administrativas e pedagógicas. A arte é a “mãe” de todas as ciências mas poucos sabem disso e valorizam a disciplina. 8. Quais métodos você acha que seriam interessantes para valorizar cada vez mais a Arte como disciplina nas escolas? Em primeiro lugar oferecer sala própria e mais períodos da disciplina. É uma luta inglória, são 20 turmas, cerca de 600 alunos semanalmente, a gente fica exausta e só.



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