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07 - REFERENCIAS PROJETUAIS PÁG
from DO REGIONAL AO LOCAL - A dimensão dos Problemas Metropolitanos na condução de hipóteses Projetuais
07 - REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Figura 83 - Região central de Ferraz de Vasconcelos, centro de convenções abandonado. Fonte - PFV, 2016c. Adaptado pelo autor.
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Estudos de Caso
Os projetos apresentados a seguir são analisados sob a perspectiva do que se propõe, dando destaque aos elementos que realmente serão aplicados ou referenciados de alguma forma durante o ato de projetar ou que estejam presentes no resultado final do projeto. Portanto há primeiro uma apresentação geral do projeto e depois o destaque para as soluções ou intenções que contribuíram para o resultado final deste trabalho.
Apresentação
O conjunto Residencial Jardim Edite é o resultado de uma urbanização de favela onde os moradores remanescentes do assentamento subnormal puderam permanecer neste novo edifício construído pela Prefeitura de São Paulo. A favela Jardim Edite foi um dos maiores assentamentos subnormais da cidade de São Paulo que iniciou-se na década de 1970, com o desenvolvimento da cidade e do bairro, a histórica Favela Jardim Edite foi sendo desmantelada e seus moradores enviados para outras regiões da cidade de São Paulo, neste processo alguns moradores insistiram na permanência do local, mesmo sob certa incerteza de seu destino final, essa insistência foi fundamental para que a área não acabasse sofrendo com a especulação imobiliária e mais tarde as habitações fossem direcionada às famílias remanescentes.
O projeto localiza-se no bairro do Novo Brooklin em São Paulo com uma área de 19 mil metros quadrados entre a Avenida Berrini, ocupada por prédios corporativos e as ruas Charles Coloumb, George Ohm e Araçaíba, o destaque para os prédios corporativos se faz valido, pois raras são as oportunidades onde habitações de interesse social são executadas em áreas consolidadas de alto valor e desenvolvimento, providas de infraestrutura adequada, acesso ao transporte e oportunidades de trabalho.
O programa do edifício contempla construídas 252 unidades habitacionais, divididas entre dois tipos com 50 e 52 metros quadrados de área útil. O destaque vem com a oferta de usos diferenciados como uma Assistência Médica Laboratorial (AMA), uma Unidade Básica de Saúde, uma creche e um restaurante escola que conectam o edifício à vida da cidade e garantem múltiplas experiências na quadra para além das habitações. O condomínio ainda é servido de áreas de lazer, jardins, playground, quadra de esporte e quiosque.

Figura 84- Fotografia, panorama do conjunto habitacional Jardim Edite. Fonte - MMBB ARQUITETOS 2013.
Figura 85 - Fotografia, panorama do conjunto habitacional Jardim Edite Fonte - MMBB ARQUITETOS 2013.

Detalhes relevantes para a proposta
-O projeto verticaliza as habitações em lâminas para desenvolver os espaços que permanecem no térreo com os programas comunitários, que servem não só aos moradores mas à toda região do entorno inserindo o conjunto no cotidiano local. O térreo desenvolve então as atividades de âmbito comunitário, no primeiro pavimento ficam os espaços comuns ao edifício e na dimensão vertical das torres e lâminas ficam as habitações. A implantação das habitações é perimetral, liberando o restante da quadra para os equipamentos comunitários.
-O contexto urbano em que a quadra se encontra, servido de grande infraestrutura e portanto de transporte de alta capacidade, é levado em conta para limitar a presença dos estacionamentos dentro do conjunto, são criadas então apenas 44 vagas junto às calçadas.
-Outro detalhe importante identificado foi a utilização de vigas invertidas para armários internos nas habitações e a criação de bancos nas áreas de circulação que além de seu caráter funcional conferem uma volumetria interessante para os edifícios.
-Destaca-se a iniciativa de implantar habitações sociais em uma região desenvolvida da cidade que garante a permanência dos antigos moradores do agrupamento subnormal Jardim Edite, agora em condições dignas de moradia. A obra demonstra a presença benéfica deste conjunto multifuncional destinado a população mais pobre em uma área rica da cidade de São Paulo.


Figura 88- Conjunto Habitacional Jardim Edite, maquete eletrônica. Fonte - MMBB ARQUITETOS 2013. Figura 86- Conjunto Habitacional Jardim Edite, maquete eletrônica setorizada. Fonte - MMBB ARQUITETOS 2013, modificado pelo autor.

Figura 87- Conjunto Habitacional Jardim Edite, destaque das vigas invertidas. Fonte - JÚNIOR 2016, modificado pelo autor.

Instituto Moreira Salles / Andrade Morettin Arquitetos Associados
Apresentação
Inaugurado em 2017 o edifício serve à nova sede do Instituto Moreira Salles e abriga todo seu acervo cultural. O projeto foi resultado de um concurso interno de projetos realizado pela instituição no ano de 2011. Os ganhadores do concurso foram os arquitetos do escritório paulista Andrade Morettin Arquitetos Associados. A nova sede é muitos mais que um museu e é responsável por transmitir o espírito da instituição, nas palavras dos arquitetos.
O projeto localiza-se em um lote na Avenida Paulista onde anteriormente funcionava um estacionamento medindo 25 x 50 metros, é plano e cercado por edifícios de 13 a 18 andares, neste miolo opressor o edifício se esforça para abrir-se ao passeio e tornar-se convidativo para as pessoas que por ali circulam.
O programa consiste em espaços para exposições, cinema/auditório, uma biblioteca de fotografia, salas de aula para cursos, cafeteria, loja e a administração do Instituto Moreira Salles.
O edifício propõe uma setorização diferenciada, o nível da rua funciona como uma praça de recepção que destaca o acesso ás escadas rolantes que irão levar o visitante ao quinto piso, num chamado térreo elevado. A partir daí os programas desenvolvem-se para baixo e para cima, estando acima os espaços de exposição e abaixo os espaços da midiateca.


Figura 89- Fotografia IMS Paulista. Fonte - Andrade Morettin Arquitetos 2017. Figura 90- Fotografia IMS Paulista. Fonte - Andrade Morettin Arquitetos 2017.
Figura 91- Fotografia IMS Paulista, pavimento térreo. Fonte - Andrade Morettin Arquitetos 2017.
Instituto Moreira Salles / Andrade Morettin Arquitetos Associados
Detalhes relevantes para a proposta
-O projeto surge a partir da organização vertical dos programas e portanto de um entendimento inicial a respeito do caráter de cada espacialidade, a medida em que os programas são distribuídos no volume, os espaços são confeccionados dando forma à arquitetura, o entendimento das sobreposições e a análise do prédio em corte são primordiais para alcançar o resultado final do projeto.
-A fachada envidraçada é possível devido a sua orientação solar, voltada ao sul, que por sorte é a vista da Avenida Paulista, dessa forma o edifício não nega a relação de seus espaços internos com a cidade do lado de fora.
-O pavimento térreo é aberto de forma a conectar-se com o nível da rua propondo uma continuação do passeio público para baixo da projeção do prédio e assim abraça a intenção de tornar-se parte integrante do meio urbano.
-Na disposição dos espaços internos há uma estratégia muito clara de se criar um bloco vertical contendo as circulações verticais junto das instalações sanitárias e assim liberar o restante da dimensão horizontal dos pavimentos para os programas propostos.
-Em seu aspecto formal, destaca-se a envelopagem de um polígono retangular, que a partir das escolhas de partido realizadas no interior do volume cria efeitos interessantes através da fachada envidraçada, como por exemplo, os volumes em vermelho dos pavimentos de exposição.

Figura 92- IMS Paulista,corte esquemático, setorização vertical. Fonte - Archdaily 2017, modificado pelo autor.

PAV. TÉRREO
PAV. TÍPICO
BLOCO DE CIRC. E HIDRÁULICA
INTEGRAÇÃO COM A VIA PÚBLICA
BLOCO DE CIRC. E HIDRÁULICA
DESENVOLVIMENTO GERAL DAS ATIVIDADES
FACHADA ENVIDRAÇADA SUL
Figura 93- IMS Paulista, plantas do térreo e quinto pavimento, setorizadas. Fonte - Archdaily 2017, modificado pelo autor.

Centro Paula Souza / Spadoni AA + Pedro Taddei Arquitetos Associados
Apresentação
O Centro Paula Souza é uma grande instituição de ensino do estado de São Paulo, responsável pelas escolas técnicas ETECs e Faculdades de Tecnologia FATECs. A relevância da instituição fez com que o estado de São Paulo a usasse para imprimir um equipamento de relevância no bairro da Luz, próximo ao centro histórico de São Paulo, uma região que como se sabe, sofre com o abandono e insegurança em anos de decadência e estigmatização. Nesta oportunidade o governo do estado adquiri uma quadra inteira possuindo algumas pré existências degradas onde apenas um edifício de 7 andares continuou a existir para ser incorporado ao projeto.
Contexto Urbano e Programa de Necessidades
O projeto no bairro da Luz em São Paulo foi tratado como uma grande oportunidade pois se tratava de uma quadra inteira da área central em transformação fugindo da lógica dos pequenos lotes. O edifício abriga a sede administrativa do Centro Paula Souza, uma escola técnica, uma quadra poliesportiva,auditório e um museu, no pavimento térreo uma grande praça é criada e permite que os programas estejam soltos do chão.
Setorização
O projeto divide-se majoritariamente em dois blocos que ocupam os limites da quadra aludindo às ocupações características do centro de São Paulo, o bloco da escola ainda possui uma divisão interna para que se crie certa privacidade e isolamento das salas de aula que se abrem para dentro da quadra.

Figura 94- Fotografia Centro Paula Souza. Fonte - Archdaily 2015. Figura 95- Fotografia Centro Paula Souza. Fonte - Archdaily 2015.


Figura 96- Fotografia Centro Paula Souza. Fonte - Archdaily 2015. Figura 97- Fotografia Centro Paula Souza. Fonte - Archdaily 2015.
Centro Paula Souza / Spadoni AA + Pedro Taddei Arquitetos Associados
Detalhes relevantes para a proposta
-O edifício tira partido da grande área disponível para o projeto, assim articula as ocupações com um vazio central e usa o pavimento térreo dos blocos que são grandes áreas livres de pilotis para soltar os volumes do solo.
-Concreto e o aço são elementos marcantes na obra que busca nas soluções estruturais mais elaboradas, como a suspensão da quadra de esportes sobre pilotis de 30 metros de altura, criar surpresas agradáveis de arquitetura.
-O conjunto é coroado com uma estrutura metálica com telhas de aço perfuradas que arrematam os volumes de forma perimetral e criam verdadeiros portais, funcionando ainda como atenuantes do clima e pulverizantes das águas pluviais.
-A envelopagem dos volumes por brises de materiais semelhantes confere unidade ao conjunto.
-A ideia da implantação do projeto surge como uma aposta de equipamento transformador social e urbano para uma região degradada o que se relaciona com a proposta deste trabalho, buscar trabalhar um equipamento de grande expressão arquitetônica para influir mudanças positivas em seus arredores e nas palavras dos arquitetos responsáveis pelo projeto:
A par da fragilidade da arquitetura em se ocupar de temas tão dramáticos, acreditamos, no entanto, que a cidade vai se constituindo por seus fatos significativos, entre os quais a arquitetura, para não repetirmos a velha ideia que ela própria é a cidade à sua escala. (SPADONI, 2014)

Figura 98 -Centro Paula Souza, planta Setorizada Fonte - Archdaily 2015, modificado pelo autor.
Figura 99- Centro Paula Souza, corte perspectivado setorizado. Fonte - Archdaily 2015, modificado pelo autor.

Promenada Velenje / ENOTA
Apresentação
ENOTA é um escritório de arquitetura Esloveno fundado em 1998 com a ambição de criar arquitetura contemporânea e crítica arquitetônica, baseado na abordagem coletiva para o desenvolvimento das soluções, é dirigido pelos sócios fundadores Dean Lah e Milan Tomac, ambos eslovenos e formados na Faculdade de Arquitetura de Liubliana, Eslovênia.
Adaptado de : https://www.enota.si/info/about/
A Promenada é um importante espaço da cidade de Velenje além de ser uma importante via. Neste eixo os arquitetos do escritório ENOTA propõe uma série de ações para a revitalização urbana de um espaço que é estritamente conectado ao centro da cidade e a vida urbana local, dentre as propostas destaca-se a criação de um parque que corta um rio de forma transversal e o aproveita como oportunidade de gerar um espaço de eventos e conscientização da população.
Contexto Urbano e Programa Arquitetônico
O projeto consiste na revitalização e transformação de uma zona de pedestres existente que atravessa o centro da cidade de Velenje e um rio local chamado de Paka. O programa pode ser resumido como o enfrentamento de uma demanda por espaços públicos mais atraentes para concentrar eventos no centro da cidade, atraindo visitantes, comércios e novos moradores.


Figura 100 - Implantação Setorizada Fonte - Archdaily 2015b. Figura 101- Implantação Setorizada Fonte - Archdaily 2015b.

Figura 102- Implantação Setorizada Fonte - Fonte - Archdaily 2015b.

Promenada Velenje / ENOTA
Detalhes relevantes para a proposta
-Para reivindicar os espaços de forma positiva em uma área que anteriormente era encarada apenas como local de passagem e concentração de estacionamentos dos edifícios locais, os arquitetos executam diversas estratégias de desenho objetivando trazer vida peatonal.
-São desenhados diversos caminhos que se intercalam entre curvas e desvios e que geram micro ambiências, ora como pequenas praças em concreto, ora como espaços públicos que esperam por intervenções futuras. Desta forma também são delimitados os canteiros que irão abrigar a natureza.
-Quando o desenho chega ao curso do rio e o corta transversalmente, os arquitetos optam por transformar as margens, alargando-as, para que da ponte se tenha a visão do fluxo natural no sentido leste e oeste. O alargamento das margens oferece a oportunidade de se criar uma especie de arquibancada com níveis escalonados que chegam até a fina camada de água que corre, o rio Paka permanece na maior parte do ano com pouco volume de água. E este espaço é destinado a desenvolver os eventos urbanos da cidade.
-O projeto demonstra como a arquitetura pode considerar a dimensão da natureza e incorporá-la ao desenho, em uma lógica que difere das realidades brasileiras, onde os cursos hídricos são ignorados e canalizados, com uma abordagem formal interessante do ponto de vista de sua capacidade de aproximar as pessoas ao leito do rio, conscientizando através da percepção e contato direto com a natureza.

canteiros
caminhos
estacionamento
margens alargadas
curso do rio Paka
Figura 103- Promenada Velenje, implantação Setorizada. Fonte - Archdaily 2015b, modificado pelo autor.
Figura 104- Promenada Velenje, perspectiva isométrica das margens alargadas. Fonte - Archdaily 2015b.