Revista Portuguesa de Terapia da Fala | Volume 13

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REVISTA TERAPIAFALAPortugueseJournalofSpeechandLanguageTherapyDA PORTUGUESA DE VOLUME 13 ANO X > 2022 YEAR X > 2022 REVISTA INDEXADA UMA PUBLICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TERAPEUTAS DA FALA A publication of the Portuguese Association of Speech and Language Therapists PUBLICAÇÃO BIANUAL - ISSN: 2183-1297 Biannual publication

DIREÇÃO

JoanaDIRETORESTeixeira

Terapeuta da Fala, Doutorada em Ciências da Cognição e da Linguagem

Nicole Agrela Terapeuta da Fala, Doutorada em Ciências da Cognição e da Linguagem

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Ana Tavares

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ISSN: TERAPIA DA FALA

Terapeuta da Fala

Vice-presidente da Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala, Núcleo Académico Clínico de Otorrinolaringologia e Patologia Cérvico_Facial do Hospital Cuf Tejo - Nova Medical School

CONSELHO EDITORIAL

Alexandre Castro Caldas, Prof Instituto Superior de Ciências da Saúde (ICS) da Universidade Católica Portuguesa (UCP)

Ana Castro, Profª Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal

Ana Furkim, Profª Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil - Departamento de Fonoaudiologia

Ana Isabel Rega, Profª Hospital D. Estefânia em Lisboa

André Araújo, Prof Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico do Porto | Instituto de Etnomusicologia, Música e Dança

Ana Catarina Batista, Profª Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve

Ana Mendes, Profª Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal e Instituto de Engenharia Eletrónica e Telemática de Aveiro da Universidade de Aveiro

Aníbal Ferreira, Prof Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Brígida Patrício , Profª Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto

Catarina Afonso, Profª Centro de Linguística da Universidade de Lisboa

Cristiane Lima Nunes, Profª Clínica Arte de Comunicar do Hospital CUF do Porto e da Clínica LISOCLIN

Débora Franco, Profª Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria

Dina Alves, Profª Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal

Elsa Soares, Profª Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto

Fátima Maia, Profª Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral de Braga

Inês Tello Rodrigues, Profª Escola Superior de Saúde do do Alcoitão | Center for Innovative Care and Heatlh (ciTechcare), IPL

Isabel Amaral, Profª Professora Aposenta da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal

Isabel Desmet, Profª ESSA-SCML | Laboratório de Estudos Românicos da Universidade de Paris 8

Ana Cláudia Lopes

Terapeuta da Fala, Doutoranda em Ciências da Reabilitação (U. Aveiro)

Joana Rocha, Profª Universidade Fernando Pessoa

José Fonseca, Prof Laboratório de Estudos de LinguagemFaculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

Lídia Rodriguez Garcia, Profª Universidade de Castilla - La Mancha - Espanhã

Lisa Teixeira, Profª Fundação AMA - Viana do Castelo

Mara Behlau, Profª Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - Centro de Estudos da Voz (CEV)

Maria Assunção Matos, Profª Universidade de Aveiro | Center for Health Technology and Services Research - CINTESIS

Maria Emília Santos, Profª Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa

Maria Jesus Gonçalves, Profª Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio Grande do NorteBrasil

Marisa Lousada, Profª Universidade de Aveiro | Center for Health Technology and Services Research - CINTESIS

Mireia Torralba Roselló, Profª UVic - Universitat Central de Cataluna - Espanhã

Patrícia Nogueira, Profª Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto

Rita Cardoso, Prof.ª Campus Neurológico Senior (CNS)

Ricardo Santos, Prof. Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto

Sofia Correia, Profª Fundação AMA Autismo

Susana Capitão, Profª Escola de Referência para o Ensino Bilingue de Alunos Surdos no Agrupamento de Escolas Eugénio de Andrade

Susana Mestre, Prof.ª Centro Hospitalar do Algarve - Hospital de Faro

Susana Vaz Freitas, Profª Centro Hospitalar do Porto - Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Santo António | Universidade Fernando Pessoa

Susana Rodrigues, Profª Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve

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REVISTApublicação2183-1297bianualPORTUGUESA DE
Uma publicação da: ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA 03

Portuguese Journal of Speech and Language Therapy

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RPTF BOARD

JoanaEDITORS-IN-CHIEFTeixeira

Speech & Language Therapist, PhD in Cognition and Language Sciences

Nicole Agrela Speech & Language Therapist, PhD in Cognition and Language Sciences

REDACTIONAL BOARD

Ana Tavares

Vice-President of Portuguese Association of Speech & Language Therapists Portuguesa de Terapeutas da Fala, Núcleo Académico Clínico de Otorrinolaringologia e Patologia Cérvico_Facial do Hospital Cuf Tejo - Nova Medical School

EDITORIAL BOARD

Alexandre Castro Caldas, PhD

Instituto Superior de Ciências da Saúde (ICS) da Universidade Católica Portuguesa (UCP)

Ana Castro, PhD

Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal

Ana Furkim, UniversidadePhDFederal de Santa Catarina (UFSC), Brasil - Departamento de Fonoaudiologia

Ana Isabel Rega, PhD Hospital D. Estefânia em Lisboa

André Araújo, PhD

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Ana Catarina Batista, PhD

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Ana Mendes, PhD Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal e Instituto de Engenharia Eletrónica e Telemática de Aveiro da Universidade de Aveiro

Aníbal Ferreira, PhD Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Brígida Patrício, PhD Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto

Catarina Afonso, PhD Centro de Linguística da Universidade de Lisboa

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Dina Alves, PhD

Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal

Elsa Soares, PhD

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Inês Tello Rodrigues, PhD

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Professora Aposenta da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal

Isabel Desmet, PhD

ESSA-SCML | Laboratório de Estudos Românicos da Universidade de Paris 8

Ana Cláudia Lopes

Universidade de Aveiro | Center for Health Technology and Services Research - CINTESIS

Joana Rocha, PhD Universidade Fernando Pessoa

José Fonseca, PhD

Laboratório de Estudos de Linguagem - Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

Lídia Rodriguez Garcia, PhD Universidade de Castilla - La Mancha - Espanhã

Lisa Teixeira, PhD Fundação AMA - Viana do Castelo

Mara Behlau, PhD

Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - Centro de Estudos da Voz (CEV)

Maria Assunção Matos, PhD Universidade de Aveiro | Center for Health Technology and Services Research - CINTESIS

Maria Emília Santos, PhD Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa

Maria Jesus Gonçalves, PhD Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Brasil

Marisa Lousada, PhD Universidade de Aveiro | Center for Health Technology and Services Research - CINTESIS

Mireia Torralba Roselló, PhD UVic - Universitat Central de Cataluna - Espanhã

Patrícia Nogueira, PhD Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto

Rita Cardoso, PhD Campus Neurológico Senior (CNS)

Ricardo Santos, PhD Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto

Sofia Correia, PhD Fundação AMA Autismo

Susana Capitão, PhD Escola de Referência para o Ensino Bilingue de Alunos Surdos no Agrupamento de Escolas Eugénio de Andrade

Susana Mestre, PhD Centro Hospitalar do Algarve - Hospital de Faro

Susana Vaz Freitas, PhD Centro Hospitalar do Porto - Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Santo António | Universidade Fernando Pessoa

Susana Rodrigues, PhD Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve

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A publishing: ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA
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Carta ao editor/Letter to the editor

Serão os neuromitos inofensivos ou provocam estragos na educação? 7 Joana Rato

Artigos originais/Original papers

Disfagia em adultos hospitalizados por Covid-19: Revisão sistemática Dysphagia in hospitalized adults with COVID-19: Systematic review 10 Gonçalo Silva, Inês Branco, Rita Cardoso e Isabel Guimarães

Instrumentos de avaliação das habilidades temporais auditivas: Revisão sistemática Auditory temporal abilities assessment instruments: Systematic review 19 Andrezza Gonzalez Escarce, Danielle Cristine Marques e Stela Maris Aguiar Lemos

Revisões críticas/Critical reviews

PAOF – Protocolo de Avaliação Orofacial (Versão 2)

PAOF - Orofacial Assessment Protocol (Version 2) 31 Ricardo Santos

SENTIDOS – Subcapítulo: Perturbações da Fluência

SENSES – Subchapter: Fluency Disorders 34 Cátia Catita

Resumos das Jornadas de Terapia da Fala ULSLA: Desafios ao longo da infância 37

Agradecimentos 45

6 REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022SUMÁRIO

SERÃO OS NEUROMITOS INOFENSIVOS OU PROVOCAM ESTRAGOS NA EDUCAÇÃO?

Os mitos sobre o cérebro, ou também conhecidos por neuromitos, têm suscitado um aumento de pu blicações científicas dedicados à procura de quais as ideias falsas que circulam entre os profissionais, es pecialmente, os que lidam diariamente com crianças e jovens (Grospietsch & Lins, 2021). A literatura dos neuromitos na educação tem vindo a dar expressão à proliferação destas crenças, algumas persistem nas escolas por décadas, sendo frequentemente usadas para justificar abordagens de ensino ineficazes (Ho ward-Jones, 2014). Olhando para a complexidade de que é ensinar grupos de alunos heterógéneos, é fácil perceber a necessidade de encontrar alguma teoria excêntrica capaz de revolucionar a educação e a so ciedade (Willingham et al., 2015). Ajudar os profes sores a responder à variabilidade individual, lidar com as adversidades e apoiar a resiliência, de modo que as escolas possam permitir que todas as crianças encontrem caminhos positivos para a vida adulta, é o que se pretende, mas esse caminho não passa por ig norar a ciência. A presença de mitos nas escolas não é só um caso português e em vários países se verifica a dificuldade dos professores em distinguir um mito de um facto (Dekker et al., 2012; Rato et al., 2013). Até mesmo os professores que consideravam estar mais bem informados, como os que frequentaram uma formação avançada em neurociências cognitivas (MacDonald et al., 2017), ou os que foram distingui dos com prémios de educação (Horvath et al., 2018) sucumbiam aos mitos apresentados nestes estudos. Há, desde logo, duas elações que podem ser feitas com base nestes últimos trabalhos, primeiro a forma ção deve ser mais dirigida aos destinatários e focada na descontrução de concepções falsas, e segundo, se mesmo os professores que recebem prémios de exce lência deixam-se levar por crenças, quer com isto di zer que os mitos podem não ter assim tanto impacto na prática educativa. Contudo, a assunção do risco poderá não ser assim tão simples de alcançar e é aqui que os exemplos nos podem auxiliar nesta discussão.

Os eternos estilos de aprendizagem preferenciais

Afirmar que as pessoas têm uma estratégia de aprendizagem preferida é uma observação trivial e

não assim tão inovadora como querem fazer acredi tar os modelos conhecidos pelo termo anglo-saxóni co “learning styles”. A teoria dos estilos de apren dizagem referem-se à modalidade preferencial de quem aprende e que pode ser uma das três vias dis poníveis, a visual, a auditiva e a cinestésica (Pashler et al., 2008). Baseados na convicção de que existem perfis que respondem melhor a determinados tipos de estímulos e que a forma como a informação é apresentada pode fazer a diferença na aprendizagem ou não do conteúdo, surgiram os programas VAK - Visual, Auditoty and Kinesthetic ou VARK - Visual, Aural, Read/write and Kinesthetic (Dunn et al., 1984; Honey & Mumford, 1992) com promessas de eficácia e mascarados de fundo científico. Há evidências mui to limitadas sobre os “estilos” de aprendizagem que mostram diferenças nas necessidades de aprendiza gem dos alunos. Pelo contrário, as evidências que se verificam mais robustas reforçam a visão de como pode ser prejudicial atribuir aos alunos categorias de estilo de aprendizagem. O estudo de Rogowsky e colaboradores (2020) revela que 68% dos alunos do 5.º ano de escolaridade nem sequer têm uma clara preferência por um estilo de aprendizagem. Assim, as preferências de aprendizagem podem mudar em diferentes situações e ao longo do tempo e há algu mas evidências que ligam a preferência cognitiva ao tipo de tarefa (Kirschner & van Merriënboer, 2013). Por exemplo, para a matemática o visualizar pode ser particularmente valioso, mas isso não significa que se trata de um único estilo e que está fixo no in divíduo. É particularmente importante não rotular os alunos em desenvolvimento fazendo acreditar que qualquer insucesso se pode dever ao mau uso do seu estilo de aprendizagem. Curiosamente, mes mo quando os alunos possam não ter disponível uma das vias, como é o caso dos surdos, isso não impede que os professores que ensinam estes alunos mante nham a crença da visualidade acrescida, ignorado a probabilidade de sobrecargas cognitivas (Rodrigues, et al., 2022). Num exercício de avaliação da exten são de impacto, destacam-se os alertas dos cientistas para o desperdício de tempo neste tipo de métodos instrucionais, pelo que não são totalmente inócuos e podem ser improdutivos (Kirschner, 2017).

Redigido por: Joana Rato, Email: joana.rato@ucp.pt Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde, Universidade Católica Portuguesa dx.doi.org/10.21281/rptf.2022.13.01

7 CARTA AO EDITOR
REVISTA

CARTA AO EDITOR

Mas assim sendo, quer com isto dizer que todos os alunos são iguais e devem ser apoiados da mesma forma? A resposta é não e o que as pesquisas afir mam é simplesmente que os estilos de aprendizagem não são uma teoria de instrução válida e devem ser ignorados para esse propósito. Geralmente as abor dagens que se apresentam baseadas no cérebro, fá ceis de aplicar em sala de aula e de baixo custo fazem gerar mais esperança entre os professores, e se, para além disso, as atividades são vistas como mais diver tidas são de imediato susceptíveis de ser muito bem recebidas por todos os alunos (Coffield et al., 2004). Mas como vemos nem todos os métodos de ensino rotulados como “amigos do cérebro” são apoiados por resultados de pesquisas e as concepções erra das sobre o cérebro podem prejudicar mais do que ajudar. O que tem também surpreendido é o facto de, para além dos professores, outros profissionais, como os Psicólogos e os Terapeutas da Fala, não re conhecerem o ensino por estilos de aprendizagem como um mito (Amorim & Rato, 2021). Levanta-se assim a hipótese destas teorias continuarem presen tes nas formações destes profissionais, especialmente quando estes programas chegam aos seus contextos de trabalho como oferta formativa promovida pela própria escola (Rousseau, 2021).

Também a linguagem não escapa aos mitos

Segundo o levantamento de Tokuhama-Espinosa (2017), circulam quase 70 mitos que foram distribuí dos neste trabalho em 10 categorias, desde a a inteli gência aos contextos de aprendizagem. Pelo menos sete mitos são dedicados ao tópico da linguagem. A linguagem está localizada no hemisfério esquerdo? Os adultos não aprendem uma segunda língua tão facilmente como crianças? As crianças devem ad quirir primeiro a língua materna antes de aprender outra língua? As crianças aprendem sem esforço, incluindo línguas estrangeiras? Todas as funções da linguagem usam as mesmas redes cerebrais? Difi culdades de leitura são causadas por problemas de percepção visual? Gatinhar é necessário para alfabe tizar? O atual consenso, baseado num forte corpo de pesquisa, destrói todas estas dúvidas (Tokuhama -Espinosa, 2018). Juntam-se mais estes exemplos em como a ausência de conhecimento científico pode ser perigosa, especialmente para a prática. Uma melhor compreensão das diferentes vias neurais envolvidas na linguagem ajudará os profissionais a identificar os problemas de alfabetização de forma mais precisa e implementar intervenções em sala de aula ajustadas (Hudson et al., 2011). Ter informações sobre a prová vel explicação e a causa potencial das dificuldades dos alunos muitas vezes alívia os medos e as incer

tezas dos pais e dos professores sobre como ensinar e como pensar em fornecer uma instrução que seja relevante e eficaz (Tokuhama-Espinosa, 2008). Par tilhar o conhecimento do estudo do cérebro pode assim desmistificar os problemas sentidos, nomea damente, o facto dos alunos poderem processar a linguagem de maneira diferente. Uma equipa inter disciplinar eficaz pode reduzir os níveis de risco de desenvolvimento em ambientes educativos, criando contextos que são mais coerentes e previsíveis para os alunos (Felner et al., 2007). A formação de equipas interdisciplinares também pode criar maior capaci dade nas escolas para uma instrução transformada, permitindo a coordenação e integração do trabalho dos professores entre si e como fontes contínuas de desenvolvimento profissional e apoio mútuo na pre sença de diferentes especialistas. Se apenas se discute com quem pensa como nós, sem se acrescentar uma outra lente sobre o fenómeno que observamos, pou co ou nada se consegue transformar.

Principais barreiras e caminhos para a ciência transdisciplinar

Para combater a propagação dos neuromi tos aponta-se para a necessidade de erguer uma ponte entre vários domínios científicos. Primeiro propunha-se a aproximação das Neurociências à Educação, mas vozes discordantes surgiram e a in terligação entre as Neurociências, a Psicologia e a Educação começou a ganhar maior terreno ainda que se discuta há mais de 10 anos (Dubinsky, 2013). Quando questionados, os professores manifesta ram interesse em saber mais sobre o cérebro (Rato et al., 2011), também o crescente aumento de livros sobre o cérebro não se verificou, nos últimos anos, por mero acaso (Rato et al., 2022), porém isso não tem sido suficiente para dissipar extrapolações, pelo que mais ações são necessárias, nomeadamente, de formação e de divulgação científica de qualidade (Castro-Caldas & Rato, 2020; Rato, 2014). Os avan ços teóricos são promissores, mas a tradução direta para as boas práticas com base na evidência ainda são escassas e requerem mais estudos. Talvez o elo mais importante entre as neurociências e a educa ção ocorra quando os neurocientistas pegam nas propostas com significado para a educação e, em vez do laboratório, as colocam à prova em contex tos reais (Tokuhama-Espinosa, 2011). Trata-se assim de aproximar os interesses de ambas as partes para deixarem de trabalhar de costas voltadas, em que mais pesquisas em neurociências comecem com premissas da educação e não com descobertas neu rocientíficas que depois são moldadas para se ade quarem aos ambientes educativos.

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CARTA AO TO THEDA FALA

Conclusões

Os neuromitos estão cada vez mais presentes e é evocado como um dos problemas promotores da sua proliferação a falência das universidades e centros de investigação quanto ao seu papel de divulgadores e tradutores do avanço científico. Do lado da educa ção, a fragilidade reside na formação desatualizada dos professores e de pouco, ou nada, se abordarem tópicos relacionados com o processo de maturação do cérebro. Junta-se também a distância mantida en tre os investigadores e os professores, dificultando assim o dialógo de diferentes saberes para a imple mentação de projetos de investigação colaborativos com real impacto na prática de sala de aula. Já é tem po de pegar sobre o que sabemos sobre a prevalência dos neuromitos, determinar o seu papel na sala de aula e descobrir como diferentes especialistas podem trabalhar para impedir os seus efeitos potencialmen te prejudiciais.

REFERÊNCIAS

Amorim, J., & Rato, J. R. (2021). O mito do ensino por estilos de aprendizagem: Qual a perceção de diferentes profissionais em contexto escolar?. RevistaMultidisciplinar, 3(2), 41–47. https://doi. Castro-Caldas,org/10.23882/NE2143A.&Rato, J. (2020). Neuromitos. Ou o que realmen te sabemos sobre como funciona o nosso cérebro. Lisboa: Contraponto Editores. ISBN: 9789896662356.

Coffield, F., Moseley, D., Hall, E., & Ecclestone, K. (2004). Learning Styles and Pedagogy in Post-16 Learning. A Systematic and Critical Re view. London: Learning and Skills Research Centre. Dekker, S., Lee, N. C., Howard-Jones, P. & Jolles, J. (2012). Neu romyths in education: prevalence and predictors of miscon ceptions among teachers. Frontiers in Psychology. http://dx.doi. Dubinsky,org/10.3389/fpsyg.2012.00429J.M.,Roehrig,G.H., & Varma, S. (2013). Infusing neu roscience into teacher professional development. Educational Re searcher. 42, 317–329. doi: 10.3102/0013189X13499403

Dunn, R., Dunn, K. & Price, G.E., (1984). Learning style inventory, Lawrence, KS: Price Systems.

Felner, R. D., Seitsinger, A. M., Brand, S., Burns, A., & Bolton, N. (2007). Creating small learning communities: Lessons from the project on high-performing learning communities about “what works” in creating productive, developmentally enhancing, lear ning contexts. Educational Psychologist, 42(4), 209–221. Grospietsch, F. & Lins, I. (2021). Review on the Prevalence and Persistence of Neuromyths in Education – Where We Stand and What Is Still Needed. Frontiers in Education, 6:665752. doi: 10.3389/ Honey,feduc.2021.665752P.,&Mumford, A., (1992). The manual of learning styles, Maidenhead: Peter Honey.

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EDITOR LETTER
EDITORREVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA

REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA

Submetido: 04-04-2022 Aceite: 04-07-2022 Online: 22-07-2022

DISFAGIA EM

Gonçalo Silva1, Inês Branco1, Rita Cardoso2 e Isabel Guimarães3

1Estudante finalista da licenciatura em terapia da fala (TF) na Escola Su perior de Saúde do Alcoitão (ESSAlcoitão)- Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML)

2Terapeuta da Fala, Departamento de TF, ESSAlcoitão-SCML; Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina, Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, Universidade de Lisboa

3Professor coordenador, Departamento de TF, ESSAlcoitão-SCML; Labo ratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina, Ins tituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, Universidade de Lisboa

RESUMO

Objetivo: Identificar as caraterísticas dos doentes adultos hospitalizados por COVID-19 com disfagia e analisar a atuação clínica do terapeuta da fala no âmbito da disfagia. Métodos: Trata-se de uma revisão sistemática da literatura. A pesquisa foi realizada, por dois investigadores nas bases de dados PubMed Central® (PMC) e SciELO, em outubro de 2021, com os termos (dysphagia OR swallowing disorders) AND (COVID-19 OR SARS-CoV-2) AND adults. Todos os estudos, exceto sínteses da literatura, com revisão por pares, foram considerados elegíveis. Da pesquisa resultaram 31 artigos, mas apenas seis cumpriam os critérios de inclusão do estudo. Resultados: Os três estudos de caso e os três coortes prospetivos reportam um total de 292 doentes com disfagia associada a doença grave por COVID-19, maioritariamente homens (68.2%) com idades acima dos 65 anos, em média com duas comorbilidades, internamento hospitalar superior a 10 dias, 96.9% em unidades de cuidados intensivos (UCI), 47.9% traqueotomizados, 44.2% intubados (intubação orotraqueal) e 76.3% com suporte nutricional. Na avaliação multidisciplinar da disfagia, a maioria dos estudos (66.6%) refere a participação do terapeuta da fala, o uso de avaliação instrumental invasiva (de forma restrita face às limitações impostas pela pandemia), escalas clínicas funcionais (sendo a Functional Scale of Oral Intake- FOIS a mais frequentemente citada), a utilização de diferentes consistências alimentares (a água foi a mais referida) e ainda a utilização de estratégias compensatórias e/ou terapêuticas na gestão da disfagia. Conclusões: Adultos hospitalizados por COVID-19 grave podem ter disfagia orofaríngea. A avaliação multidisciplinar da disfagia, com a participação do terapeuta da fala, deve ser o mais precoce possível, seguindo as orientações internacionais adaptadas às normas de segurança e condição clínica da pessoa. Estudos futuros que analisem as consequên cias pós-COVID-19 e disfagia seriam uma mais-valia para a investigação e clínica.

PALAVRAS-CHAVE: COVID-19; SARS-CoV-2; Disfagia; Avaliação; Terapia da Fala.

ABSTRACT

Purpose: To identify the characteristics of hospitalized patients by COVID-19 with dysphagia and to analyze the speech and language therapy for dyspha gia management. Methods: A systematic review was performed in PubMed Central® (PMC) and in SciELO, in October 2021, by two investigators, using the terms (dysphagia OR swallowing disorders) AND (COVID-19 OR SARS-CoV-2) AND adults. All studies but literature reviews with peer reviewed, were considered eligible. Thirty-one articles were retrieved but only six were eligible for full analysis. Results: A total of 292 patients with dysphagia associated with severe COVID-19 were identified in six studies (three case studies and three prospective cohorts). They were mostly men (68.2%) aged over 65 years, on average with two comorbidities, more than 10 days of hospitalization, 96.9% in intensive care, 47.9% were tracheotomized, 44.2% intubated (orotracheal intubation) and 76.3% needed nutritional support. The multidisciplinary assessment of dysphagia for the majority of the studies (66%) involved the participation of a speech and language therapist, the use of invasive instrumental assessment (with the limitations imposed by the pandemic), functional clinical scales (the most frequently cited was the Functional Scale of Oral Intake -FOIS), the use of different food consistencies (the most mentioned one was water) and also the use of compensatory and/or therapeutic strategies in dysphagia management. Conclusion: Hospitalized adults with severe COVID-19 may present oropharyngeal dysphagia. The multidisciplinary assessment of dysphagia, with the speech and language the rapists’ participation, should be as early as possible following the international guidelines adapted to the person’s safety and health status. Future studies analyzing the consequences of post-COVID-19 and dysphagia would be an added value to research and clinical.

Autor correspondente: Gonçalo Silva, Email: goncalocsilva99@hotmail.com dx.doi.org/10.21281/rptf.2022.13.02

KEYWORDS: COVID-19; SARS-CoV-2; Dysphagia; Assessment; Speech and Language Therapy
10 ARTIGO REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022
SYSTEMATICADULTSINDYSPHAGIAREVISÃOPORHOSPITALIZADOSADULTOSCOVID-19:SISTEMÁTICAHOSPITALIZEDWITHCOVID-19:REVIEW

Introdução

Em dezembro de 2019, um grupo de pacientes com pneumonia de causa desconhecida foi identifi cado na China. As investigações concluíram que este surto teve origem num mercado de frutos do mar em Wuhan, o Wuhan’s Huanan Seafood Wholesale Market, na China. Um betacoronavírus até então desconheci do foi identificado nestes doentes. Células epiteliais das vias aéreas humanas foram estudadas para isolar um novo coronavírus, denominado 2019-nCoV. Di ferente do MERS-CoV e do SARS-CoV, o 2019-nCoV é o sétimo membro da família dos coronavírus que infetam humanos (Zhu, et al., 2020). Na Europa os primeiros casos foram detetados a 24 de janeiro de 2020, em França, enquanto em Portugal os primeiros casos foram reportados a 2 de março e, a 17 de março de 2020, no município de Ovar que declarou trans missão comunitária ativa do vírus (SARS-CoV-2) (Sá et al., 2020). A 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a doença corona vírus 2019 (COVID-19) causada pela síndrome res piratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2) uma pandemia (So, et al., 2020).

A doença COVID-19 tem um vasto espectro de sintomas. A Direção Geral da Saúde (DGS) conside rou inicialmente como critério para suspeita de CO VID-19 os sintomas de tosse, febre (temperatura de ou acima de 38 graus centígrados), dispneia, e poste riormente acrescentou anosmia (alteração do olfato), disguesia (alteração do paladar), fadiga e cefaleias (Sá et al., 2020). Febre, tosse e dispneia foram as ma nifestações mais prevalentes referidas numa meta-a nálise entre janeiro e fevereiro de 2020 que identifi cou 656 doentes COVID-19 (Rodriguez-Morales et al., 2020). Num estudo caso-controlo em Ovar, nos 226 casos confirmados com a doença COVID-19 foi encontrada relevância significativa para sintomas de cefaleia, odinofagia e anosmia (Sá et al., 2020).

Em situações de doença moderada os sintomas mais referidos são febre, fadiga, tosse e dispneia, mas principalmente em pessoas com idade superior a 65 anos, a doença pode atingir proporções graves e serem identificados sintomas neurológicos (36.4%) e infeção respiratória grave (46%) que exigem hos pitalização. Alguns dos sintomas neurológicos mais referidos são tonturas, cefaleias, ataxia, disguesia, anosmia e alterações músculo-esqueléticas (Mao et al., 2020).

A progressão grave da doença está frequentemen te associada ao desenvolvimento da Síndrome da Di ficuldade Respiratória Aguda (SDRA) e pode exigir algumas formas de suporte respiratório, incluindo a intubação endotraqueal, ventilação mecânica, e nu trição por sonda nasogástrica. As condições anterior

mente referidas, neurológicas, respiratórias, e ainda as iatrogénicas (p.ex.: pós-extubação), aumentam o risco de disfagia e pneumonia de aspiração (Frajkova et al., 2020). Na China e em Nova Iorque foi identifi cado que 12% a 32% dos doentes COVID-19 hospita lizados foram admitidos em unidade de cuidados in tensivos (UCI) (Richardson et al., 2020; House, 2020). Em 656 doentes confirmados, clínica e laboratorial mente, com COVID-19, 20.3% foram admitidos em UCI’s e 32.8% apresentavam SDRA (Rodriguez-Mo rales et al., 2020). Os autores mencionaram ainda que 55.9% eram homens, como uma idade média de 52 anos (46-58 anos), 36.8% com comorbilidades sendo mais prevalentes a hipertensão arterial, as doenças cardiovasculares e a diabetes (Rodriguez-Morales et al., 2020). Mao et al. (2020) referem que nos 214 doentes com infeção mais grave (41.1%) comparados com os não graves (58.9%) os mais graves são mais velhos, apresentam mais comorbilidades, principal mente hipertensão arterial, e têm mais manifestações neurológicas como doenças agudas cerebrovascula res (5.7% versus 0.8%).

Numa revisão sistemática da literatura de 2020, 71% dos artigos incluídos mencionam o impacto da COVID-19 no sistema nervoso e funções relacionadas (40.7%) ou nas estruturas respiratórias e funções rela cionadas (20.6%) (Sire et al., 2021). Referem ainda que existe um elevado risco, no pós-COVID dos doentes desenvolverem complicações neurológicas (p.ex., aci dente vascular cerebral, Guillan-Barré, disfagia, afa sia), respiratórias (p.ex., dispneia persistente) e sinto mas não específicos (p.ex., fadiga, parestesia, náusea) (Sire et al., 2021). O vírus SARS-CoV-2 é um vírus neu rotrópico que demonstrou causar alterações também ao nível dos nervos periféricos. As neuropatias glos sofaríngeas e vagais, que estão entre as manifestações neurológicas da COVID-19, podem induzir a disfagia, pois com o aumento de citocinas em doença grave pode originar um agravamento da lesão neurológica causada pelo vírus (Can et al., 2021).

Os sintomas resultantes da doença COVID-19 constituem um fator de risco para a eficiência e se gurança da deglutição dos doentes (Brugliera et al., 2020). Qualquer alteração da capacidade de condu ção do bolo alimentar desde a cavidade oral até ao estômago, de forma segura, suficientemente nutriti va e confortável para o indivíduo resulta em disfagia (Branco & Portinha, 2017). A disfagia é uma pertur bação da deglutição que envolve qualquer uma das quatro fases da deglutição, a preparatória, oral, fa ríngea e/ou esofágica, com alterações motoras e/ou sensoriais (Groher, 2012, Branco & Portinha, 2017).

As principais consequências da disfagia são as pneu monias de aspiração, a desnutrição e desidratação (Groher, 2012).

11 Disfagia COVID-19 10-18COVID-19 Dysphagia

Os dados sobre disfagia associada à COVID-19 são escassos. Alguns estudos indicam a existência de disfagia em 90% dos doentes COVID-19 em fase de reabilitação e em 70% dos doentes pós-extubação (Brugliera et al., 2020; Lima et al., 2020). Em doentes intubados há mais de 48h, a prevalência de disfagia aumentou em 56%, dos quais 25% realizou aspira ções silenciosas.

O presente estudo pretendeu identificar e sinte tizar a informação disponível sobre a disfagia, em doentes hospitalizados por COVID-19, e especifica mente: (i) realizar a caraterização demográfica (ida de, género) e clínica (fatores de risco e comorbilida des/fatores de risco, gravidade da doença COVID-19 e intervenções realizadas) desta população; e (ii) ana lisar a atuação, da equipa multidisciplinar, preconi zada no âmbito da disfagia (rastreio, avaliação clíni ca inicial, instrumentos e alimentos usados, sinais de disfagia e estratégias terapêuticas).

Métodos

O presente trabalho é de natureza metodológica e consiste numa revisão sistemática da literatura.

Amostra

Na seleção dos artigos foram considerados os se guintes critérios: (i) artigos apenas em publicações periódicas; (ii) em língua portuguesa e inglesa; (iii) informação sem restrição de intervalo temporal, uma vez que se trata de um tema recente; e (iv) adultos com doença COVID-19 e disfagia. Foram excluídas as sínteses da literatura.

Procedimentos

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e seleção de artigos por dois estudantes finalistas de Terapia da Fala, primeiro e segundo autores, de forma inde pendente.

A pesquisa decorreu nos motores de busca Pub Med Central® e SciELO, no dia 26 de outubro de 2021, com a chave de pesquisa (dysphagia OR swallowing disorders) AND (COVID-19 OR SARS-COV-2) AND adults. Após este passo, foram adicionados os filtros, “Case Report”, “Clinical Case”, “Clinical Trial”, “Cli nical Trial Protocol”, “Clinical Trial Phase I”, “Clini cal Trial Phase II”, “Clinical Trial Phase III”, “Clinical Trial Phase IV”, “Comparative Study”, “Controlled Clinical Trial”, “Observational Study”, “Pragmatic Clinical Trial” e “Randomized Controlled Trial”.

A análise dos artigos identificados na pesquisa foi igualmente realizada de forma independente pelos dois investigadores. Posteriormente, em conjunto, os investigadores excluíram os resumos repetidos, os que não abordavam a temática e/ou não cumpriam

os critérios pré-definidos. O primeiro autor procedeu à leitura das referências bibliográficas dos artigos se lecionados para certificação de existência de alguma informação não identificada pelo processo de pesqui sa. Por fim, o primeiro autor procedeu à leitura, na íntegra, dos artigos identificados.

Análise de dados

Na caraterização demográfica dos doentes foi considerada a idade (em anos) e o género e na carac terização clínica, as comorbilidades, a gravidade da doença COVID-19 e as intervenções realizadas. As comorbilidades incluíram a doença cardíaca, obesi dade (índice de massa corporal – IMC>30), hiperten são arterial, doenças respiratórias, acidente vascular cerebral (AVC), diabetes e neoplasia. A gravidade da doença COVID-19 foi classificada de acordo com os sintomas descritos. Consideraram-se sintomas mo derados (tosse, febre, dispneia e fadiga) e graves: (i) neurológicos (p.ex. cefaleias, disguesia e anosmia); (ii) respiratórios (dispneia persistente e SDRA) que exigiram hospitalização. Na análise das intervenções, contemplou-se a duração da hospitalização, admis são em UCI e a presença de traqueostomia, supor te respiratório, extubação e/ou suporte nutricional. No que diz respeito ao âmbito da atuação na disfa gia foram contempladas informações sobre a equipa e a forma de avaliação (rastreio e avaliação clínica), instrumentos utilizados, consistências alimentares usadas, sinais de disfagia e estratégias terapêuticas implementadas.

Resultados

Na primeira etapa de pesquisa foram identifi cados 31 potenciais artigos na PubMed Central®, e nenhum na SciELO. Destes, 21 artigos foram elimi nados pelo título, por não cumprirem o objetivo prin cipal do estudo. A leitura do resumo dos 10 estudos resultou na eliminação de quatro por não cumprirem os critérios de inclusão. Este processo de seleção en contra-se descrito na Figura 1.

Os seis artigos identificados para análise, na ínte gra, foram publicados entre 2020 e 2021, e são estu dos observacionais, especificamente três estudos de caso e três coortes prospetivos.

Caraterização dos doentes

Foram analisadas no total 292 pessoas, maiorita riamente do género masculino (68.2%), com idades que variaram entre os 17 e os 96 anos, mas com pre domínio acima dos 65 anos (Tabela 1). A maioria dos estudos indica a existência, em média, de duas co morbilidades/fatores de risco por doente, sendo as mais frequentemente citadas: doença cardíaca, obesi

REVISTA
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PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 202210-18

Disfagia COVID-19 COVID-19

ElegibliddeSelçãoTrigemdetifcaão

Artigos identificados através da pesquisa na base de dados Pubmed (n=59)

Artigos identificados através da pesquisa na base de dados SciELO (n=0)

Artigos identificados através da pesquisa(n=59)

Artigos selecionados após a aplicação de filtros (n=31)

Artigos selecionados com base no (n=10)título

Artigos excluídos após a aplicação de(n=28)filtros

Artigos excluídos com base no (n=21)título

Artigos excluídos com base no resumo(n=4)

Artigos selecionados com base no resumo(n=6)

Artigos selecionados para análise qualitativa e (n=6)quantitativa

Figura 1. Fluxograma da seleção de artigos

Figura 1. Fluxograma da seleção de artigos

dade, hipertensão arterial e neoplasia (Tabela 1). Todos os doentes analisados tiveram doença CO VID-19 grave (quatro dos estudos referem sintomas neurológicos e dois desses quatro estudos indicam sintomas respiratórios graves), com período de hos pitalização superior a 10 dias e 43.8% superior a 20 dias. Os estudos reportam ainda 96.9 % dos doentes com permanência em UCI, 99.6% ventilados meca nicamente, 44.2% intubados orotraquealmente para suporte respiratório e 76.3% com suporte nutricional (Tabela 2).

Atuação no âmbito da disfagia

A participação do terapeuta da fala (TF) na equi pa de avaliação da disfagia, foi mencionada na maio ria dos estudos (66.6%) contudo, num dos estudos (16.7%) foi mencionado que o rastreio da disfagia foi realizado por enfermeiros com recurso ao teste de água ‘3-ounce water swallow test’, tendo os casos iden tificados como estando em situação de risco, sido en caminhados para avaliação pelo TF (Tabela 3).

Na avaliação instrumental da disfagia, quatro dos seis estudos (66.6%) utilizaram a avaliação in

13 18 FIGURA
10-18
Dysphagia

REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO

Tabela 1. Caraterização dos doentes

Tabela 1. Caraterização dos doentes

Can et al.,(2021) Aoyagi et al., (2020)

Cavalagli et al., (2020) Archer et al.,(2021) Regan et (2021)al., Sandblom et al., (2021)

N 1 1 1 164 100 25

Género (Masculino|Feminino) 1 1 1 104|60 69|31 23|2

Idade média (min máx) anos 85 70 69 20 96 62 (17 88) 43 78 Comorbilidades/Fatores de risco Média (min máx) por doente 0 2 2 2 (1 3) 2 (0 5) Doença cardíaca (% doentes) Não

Forâmen oval patente 10 34 Coronária 24 Obesidade IMC >30 (% doentes) Não Excesso de peso 13 Sim 32 Hipertensão arterial (% doentes) Não Sim 34 64

Tabela 1. Caraterização dos doentes

Doença respiratória (% doentes) Não Pneumonia 21 AOS 16 AVC (% doentes) Não Sim 8 Diabetes (% doentes) Não 22 44 Neoplasia (% doentes) Não Próstata 8 Sim

N Amostra; IMC Índice de Massa Corporal; AOS (Apneia Obstrutiva do Sono); AVC Acidente Vascular Cerebral; ( ) Não referido

Can et al.,(2021) Aoyagi et al., (2020) Cavalagli et al., (2020) Archer et al.,(2021) Regan et (2021)al., Sandblom(2021)et

N 1 1 1 164 100 25 Género (Masculino|Feminino) 1 1 1 104|60 69|31 23|2 Idade média (min máx) anos 85 70 69 20 96 62 (17 88) 43 78

Tabela 2. Caracterização da doença COVID 19 e intervenções realizadas

Comorbilidades/Fatores de risco Média (min máx) por doente 0 2 2 2 (1 3) 2 (0 5)

Sintomas COVID 19

vasiva laringofaríngea, o Flexible Endoscopic Evalua tion of Swallowing (FEES) ou a videofluroscopia da deglutição (Can et al., 2021; Aoyagi et al., 2020; Ar cher et al., 2021; Sandblom et al., 2021). Após uma avaliação clínica inicial, os autores recorreram de forma complementar ao uso de escalas e questioná rios de avaliação clínica: Functional Oral Intake Scale (FOIS); Therapy Outcome Measures (TOM) (sub-esca las deglutição e traqueotomia); Dysphagia Outcome and Severity Scale (DOSS); e Penetration-Aspiration

Can et (2021)al., Aoyagi et al., (2020) Cavalagli et al., (2020) Archer et al., (2021) Regan et al., (2021) Sandblom et al., (2021) N 1 1 1 164 100 25

Doença cardíaca (% doentes) Não Forâmen oval patente 10 34 Coronária 24

Obesidade IMC >30 (% doentes) Não Excesso de peso 13 Sim 32 Hipertensão arterial (% doentes) Não Sim 34 64

Moderados Tosse Sim Febre Sim Sim Dispneia Sim Sim Sim Fadiga Graves Neurológicos (Sim ou % de doentes) Não DisguesiaAnosmia Não 13 4 37

Doença respiratória (% doentes) Não Pneumonia 21 AOS 16

Scale (PAS) (Tabela 3). Dois estudos (33.3%) refe rem a avaliação da força da língua com o Iowa Oral Performance Instrument (IOPI) (Cavalagli et al., 2020; Sandblom et al., 2021) e outro a perceção do doente através da Eating Assessment Tool (EAT-10) (Can et al., 2021) (Tabela 3).

AVC (% doentes) Não Sim 8 Diabetes (% doentes) Não 22 44 Neoplasia (% doentes) Não Próstata 8 Sim

N Amostra; IMC Índice de Massa Corporal; AOS (Apneia Obstrutiva do Sono); AVC Acidente Vascular Cerebral; ( ) Não referido

Respiratórios que exigiu hospitalização agravadaDispneia Pneumonia SRDA Hospitalização

O instrumento de avaliação clínica mais citado foi a FOIS e a consistência alimentar mais utilizada, na avaliação, foi a água (Tabela 3). Alguns estudos referem o uso de escalas para a análise da obser

Duração (dias) 42 65 33 111 382 61 (20 104)3 UCI (Sim ou % doentes) Não Sim Sim Sim Sim 68

Tabela 2. Caracterização da doença COVID 19 e intervenções realizadas

Tabela 2. Caracterização da doença COVID-19 e intervenções realizadas

Ventilação mecânica Não Sim Sim Sim Sim Sim Intubação (% de doentes) 78 7 100

Traqueotomia (Sim ou % de doentes) Não Não Sim 52 4 36 80 respiratórioSuporte

Can et (2021)al., Aoyagi et al., (2020) Cavalagli et al., (2020)

Extubação % de doentes 70 9 Tempo (dias) 11 21 19 142 (3 21)3

Archer et al., (2021) Regan et al., (2021) Sandblom et al., (2021) N 1 1 1 164 100 25

Suporte nutricional Sonda nasogástrica (Sim ou % de doentes) Sim Nutriçãoparental Sim 36 88 N amostra;UCI Unidade de Cuidados Continuados; 1Média; 2Mediana (Mínimo Máximo); 3(Mínimo Máximo); ( ) Não referido

Sintomas COVID 19

Moderados Tosse Sim Febre Sim Sim Dispneia Sim Sim Sim Fadiga Graves

Hospitalização

Neurológicos (Sim ou % de doentes) Não DisguesiaAnosmia

Não 13 4 37

Respiratórios que exigiu hospitalização agravadaDispneia Pneumonia SRDA

Duração (dias) 42 65 33 111 382 61 (20 104)3

UCI (Sim ou % doentes)

Não Sim Sim Sim Sim 68

Traqueotomia (Sim ou % de doentes) Não Não Sim 52 4 36 80 respiratórioSuporte

Ventilação mecânica Não Sim Sim Sim Sim Sim Intubação (% de doentes) 78 7 100

Extubação % de doentes 70 9 Tempo (dias) 11 21 19 142 (3 21)3

Suporte nutricional Sonda nasogástrica (Sim ou % de doentes) Sim Nutriçãoparental Sim 36 88 N amostra;UCI Unidade de Cuidados Continuados; 1Média; 2Mediana (Mínimo Máximo); 3(Mínimo Máximo); ( ) Não referido

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X - 202210-18

Disfagia COVID-19 10-18COVID-19 Dysphagia

vação com a FEES como, a Murray Secretion Scale (MSS) [Escala de secreção de Murray], Penetration -Aspiration Scale (PAS) [Escala de penetração-aspi ração], Yale Pharyngeal Residue Severity Scale (YPRS) [Escala de gravidade de resíduos faríngeos], e o uso da International Dysphagia Diet Standardization Initia tive (IDSSI) na determinação das consistências ali mentares (Regan et al., 2021; Sandblom et al., 2021) (Tabela 3).

Três estudos (50%) identificaram na avaliação si nais neurológicos, por exemplo, ausência ou lentidão da ativação dos reflexos, alterações da sensibilidade, disfunção laringofaríngea, mas também sinais como, acumulação de resíduos e aspiração (Aoyagi et al., 2020; Cavalagli et al., 2020; Sandblom et al., 2021) (Tabela 3).

A utilização de estratégias compensatórias e/ou terapêuticas na gestão da disfagia foi mencionada em 83.3% dos estudos (Can et al., 2021; Cavalagli et al., 2020; Aoyagi et al., 2020; Archer et al., 2021; Re gan et al., 2021) (Tabela 3). As estratégias reportadas, ou seja, o conjunto de procedimentos operacionais para atingir os objetivos de forma eficaz, foram as manobras de compensação (p.e., alteração das con sistências alimentares), e exercícios de força e preci são (p.e., Chin tuck against resistance exercise (CTAR)).

Discussão

Caraterização dos doentes

A informação disponível indica que a maioria dos doentes hospitalizados por COVID-19 com disfagia

Tabela 3. Atuação no âmbito da disfagia

Tabela 3. Atuação no âmbito da disfagiaCan

Avaliação da disfagia Equipa envolvida

et (2021)al., Aoyagi et al., (2020) Cavalagli et al., (2020) Archer et al., (2021) Regan et al., (2021) Sandblom et al., (2021)

1 NeurologistaTF

FisioterapeutaEnfermeiroTF

Rastreio da disfagia Teste de água Avaliação

TF TF

Força da língua Não Não IOPI Não Não IOPI Observação laringofaríngea& Protocolosdeanálise FEES| PAS Videofluroscopia Não Videofluroscopia(43%)dosdoentes Não MSS|FEES&PAS|YPRS

Instrumentos clínicos funcionais EAT 10 FOIS| DOSS FOIS| TOM FOIS| FOIS Consistências alimentares usadas Líquido

Fino Água Água Água Água Espessado Água Água Pastoso Iogurte Sinais observados

Reflexos

Vómito Não Ausente Ausente Laríngeo Ausente Atraso Faríngeo Atraso Deglutição Ausente

Tosse Reduzida Reduzida Reduzida Alterações sensibilidadeda Laringofaríngea Sim Língua Sim Disfunção laringofaríngea Reduçãoelevaçãodalaríngea Mobilidadedaspregasvocais

Acumulação de resíduos Sim Sim Sim Sim Aspiração Pneumonia Pneumonia Sim Sim Sim Estratégias compensatórias e/ou terapêuticas

Manobras de compensação Sim Sim Sim Sim Sim Exercícios (força e função) Sim Sim Sim

TF – Terapeuta da Fala; IOPI - Iowa Oral Performance Instrument; FEES - Avaliação Endoscópica da Deglutição; PAS - Penetration Aspiration Scale; MSS - Murray Secretion Scale; YPRS - Yale Pharyngeal Residue Severity Scale; EAT 10 - Eating Assessment Tool; DOSS - Dysphagia Outcome and Severity Scale; FOIS Functional Scale of Oral Intake; TOM Therapy Outcome Measures; (-------) - Não referido

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são do género masculino. A prevalência mais eleva da de homens com doença COVID-19 foi confirmada na literatura (Rodriguez-Morales et al., 2020). Quanto às idades, apesar de heterogéneas existe uma maior prevalência acima dos 65 anos o que confirma o refe rido na literatura para doentes mais velhos, nos casos de perturbações mais graves (Mao et al., 2020). As comorbilidades mais citadas (hipertensão, diabetes e doença cardíaca) assim como a prevalência de doen ças cérebro-vasculares (AVC) em doentes COVID-19, também identificadas na presente revisão, corrobo ram o descrito na literatura (Rodiguez-Morales et al., 2020, Mao et al., 2020).

O número médio de comorbilidades referidas (n=2) pode estar relacionado com a idade (enve lhecimento) e, naturalmente, constitui maior vul nerabilidade para perturbação da deglutição. As perturbações da deglutição têm sido cada vez mais reconhecidas pelos profissionais de saúde e o início destas alterações em idosos saudáveis, entendidas como presbifagia, podem ser silenciosas e de pro gressão lenta, uma vez que ocorrem em paralelo com o processo de envelhecimento normal (Lima Alva renga et al., 2018).

A duração do tempo de internamento reportada é tendencialmente elevada com relato de admissão em UCI, necessidade de suporte respiratório e suporte nutricional podendo verificar-se que as pessoas com doença COVID-19 grave, com idades mais avança das, com comorbilidades/fatores de risco, sujeitas a hospitalização prolongada e intervenções invasivas têm maior risco de disfagia. Este facto está em conso nância com a literatura (Mao et al., 2020; Rodriguez -Morales et al., 2020).

Atuação no âmbito da disfagia

O TF é mencionado na equipa de avaliação da dis fagia o que está de acordo com o seu perfil funcional (Archer et al., 2021). No estudo de Archer et al. (2021) é referido o rastreio realizado por enfermeiros e a avaliação clínica da deglutição por TF, estando em consonância com a declaração de posição da Euro pean Society for Swallowing Disorders (ESSD) que indi ca a necessidade de uma equipa multidisciplinar na abordagem da disfagia no adulto (ESSD, 2013). Con templar o rastreio e avaliação clínica está de acordo com as recomendações da declaração de posição da ESSD para a atuação na disfagia no adulto, isto é: o rastreio deve ser realizado em caso de suspeita de risco de disfagia ou falhas na proteção da via aérea inferior e, em caso positivo, deverá ser encaminhado para avaliação pelo TF (ESSD, 2013).

Na avaliação funcional da disfagia, na maioria dos estudos (66.6%), foram utilizados métodos ins trumentais (videofluroscopia da deglutição e vi

deoendoscopia da deglutição), clínicos funcionais (p.e., FOIS; TOM), diferentes consistências de ali mentos (tendo em atenção a segurança do doente), o que está de acordo com as orientações da ESSD (2013). Nos estudos de Cavalagli et al. (2020) e Regan et al. (2021) em que não foram usados métodos de avaliação instrumental os autores justificaram pela dificuldade de acesso a este tipo de avaliação (FEES) ou por imposição das regras sanitárias durante a pandemia (Cavalagli et al., 2020; Regan et al., 2021) o que é compreensível, embora assim que possível a opção deva ser a utilização desta avaliação de re ferência pois é a única que permite a visualização da morfologia e funcionalidade faringolaríngea e al guns sinais de disfagia, tais como acumulação de re síduos faríngeos e aspiração (Sandblom et al., 2021; ESSD, 2013). A escala de classificação mais usada foi a FOIS, o que para as situações graves reportadas, permite identificar o grau de ingestão oral. Já os as petos relacionados com o impacto dos sintomas na qualidade de vida, na opinião do doente, foi apenas abordado num dos estudos através da utilização do EAT-10 (Can et al., 2021). Poderá especular-se que a utilização deste Patient Reported Outcome Measure (PROM) foi possível porque o doente em causa foi analisado numa fase de readmissão hospitalar não urgente, enquanto nos outros estudos (n=291), os doentes foram avaliados em situação urgente de ne cessidade de internamento face à doença COVID-19 ou Após-extubação.utilizaçãode estratégias compensatórias e/ou terapêuticas no momento da avaliação, referido na maioria dos estudos (83.3%), cumpre os princípios elementares da atuação do TF na disfagia: segurança (p.e., diminuição do grau de aspiração de alimentos) e saúde (p.e., diminuição do risco de pneumonia por aspiração) dos doentes.

Limitações do estudo

O estudo apresenta algumas limitações que de vem ser consideradas em estudos futuros. A presente revisão aborda apenas a disfagia e ignora as altera ções laríngeas e disfonia mencionadas em dois estu dos (Regan et al., 2021; Sandblom et al., 2021) o que não contribui para a evidência de todas comorbilida des no âmbito da atuação do TF. Em próximas revi sões sugere-se a inclusão da análise sobre a disfonia em doentes COVID-19. Por outro lado, apesar da pre sente revisão evidenciar a importância do estudo da disfagia associada à doença COVID-19, as limitações metodológicas dos estudos analisados (p.e., idades, dimensão das amostras, limitações nas informações disponibilizadas) podem não representar a verda deira «imagem» da situação. Por exemplo, embora a maioria dos doentes sejam de idades avançadas não

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Disfagia COVID-19 10-18COVID-19 Dysphagia

é possível identificar nos dois estudos que incluem jovens qual a percentagem dos mesmos em relação às idades mais avançadas. Neste caso desconhece-se se a idade contribuiu para o viés dos resultados nes ses estudos. Ainda, na utilização da avaliação instru mental com FEES e videofluroscopia da deglutição a maioria dos estudos não informa se todos os doentes foram avaliados ou se pelo contrário foi apenas uma parte, como informa um estudo em que a videoflu roscopia da deglutição só foi utilizada em 4.3% da população estudada. Deste modo a evidência sobre os sinais fisiológicos da disfagia é limitada. Por fim, embora tenha sido referido o tipo de estudos anali sados, não foi considerada a análise do nível de evi dência dos mesmos, o que limita a possibilidade de interpretação da qualidade da informação disponi bilizada. De facto, os estudos incluídos na presente revisão (estudos de caso e de coorte) são de nível de evidência 4 e 3 de acordo com o Oxford Centre for Evi dence-Based Medicine (Howick et al., 2011) pelo que a síntese da informação realizada permite identificar a eficiente de atuação na disfagia pós-COVID, mas não a sua eficácia face à inexistência de estudos clínicos aleatorizados, o que constitui uma limitação para a prática baseada na evidência em terapia da fala.

Conflito de interesses

Os autores declaram não terem atividades, com pensações financeiras e/ou interesses que possam ter interferido nos resultados do estudo.

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Submetido: 13-04-2022 Aceite: 07-07-2022 Online: 26-07-2022

SYSTEMATICINSTRUMENTS:ABILITIESAUDITORYREVISÃOTEMPORAISDASDEINSTRUMENTOSAVALIAÇÃOHABILIDADESAUDITIVAS:SISTEMÁTICATEMPORALASSESSMENTREVIEW

RESUMO

Andrezza Gonzalez Escarce1, Danielle Cristine Marques2, Stela Maris Aguiar Lemos3

1Programa de Pós Graduação em Neurociências, Instituto de Ciências Bioló gicas, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte (MG), 2Brasil.

Fonoaudióloga, Programa de Pós Graduação em Ciências Fonoaudiológi cas, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte (MG),

3Brasil.Programa

de Pós Graduação em Neurociências, Instituto de Ciências Bioló gicas, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte (MG), Brasil.

Objetivo: Realizar revisão sistemática de artigos publicados que utilizaram instrumentos para avaliação dos aspectos temporais auditivos em crianças e adolescentes. Métodos: A pergunta norteadora foi “Quais os instrumentos mais utilizados na avaliação dos aspectos auditivos temporais em crianças e adolescentes?”. As bases de dados incluídas na pesquisa foram Biblioteca Nacional de Medicina (PubMed), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Cochrane, Scopus e CINAHL. Como critérios de inclusão adotou-se: estudos artigos originais de pesquisa que respondessem a pergunta norteadora e excluídos os duplicados, com faixa etária diferente da do estudo, relatos de casos, cartas ao editor, resumos em anais de congresso, cartas ao editor, dissertações ou teses e capítulos de livros. Para análise dos dados, inicialmente, duas pesquisadoras realizaram, de forma independente, a leitura dos títulos e resumos. Posteriormente essa seleção foi comparada, em reunião de consenso, e os casos divergentes resolvidos por uma terceira pesquisadora. Após essa definição, os artigos selecionados foram lidos na íntegra para análise. Resultados: 2.124 artigos entraram para a leitura de títulos e resumos, sendo 121 selecionados para reunião de consenso. Após reunião, 101 foram lidos na íntegra, dos quais 28 foram incluídos na revisão. Conclusão: A revisão siste mática revelou que os instrumentos mais utilizados foram os de ordenação temporal, seguidos dos de resolução temporal. A maior parte dos estudos abordaram alterações de habilidades temporais auditivas e linguagem. Os instrumentos mais utilizados foram os que avaliam a habilidade de ordenação temporal simples (memória de sons verbais e não verbais). A maioria dos estudos pesquisou apenas uma das habilidades.

PALAVRAS-CHAVE: Percepção Auditiva; Testes Auditivos; Inquéritos e Questionários; Criança; Adolescente.

ABSTRACT Purpose: To perform a systematic review of published articles using instruments to assess auditory temporal aspects in children and adolescents. Me thods: The guiding question was “What instruments are used to assess temporal auditory aspects in children and adolescents?” and consisted of the first stage of the review. The databases included in the research were the National Library of Medicine and the Virtual Health, Cochrane, Scopus e CINAHL. The following inclusion criteria were adopted: studies original research articles that answered the guiding question and the duplicates were excluded, with a different age range than the study, case reports, letters to the editor, abstracts in conference proceedings, letters to the editor, dissertations or theses and book chapters. For data analysis, initially, two researchers independently performed the reading of the titles and abstracts. This selection was later compared at a consensus meeting and the divergent cases were resolved by a third researcher. After this definition, the selected articles were thoroughly read for the analysis. Results: 2.124 articles were referred for reading for titles and abstracts, of which 121 were selected for the consensus meeting. After the meeting, 101 have a careful reading, of which 28 were included in the review. Conclusion: the systematic review revealed that the most used tests were those of temporal ordering, followed by those of temporal resolution. Most studies have addressed changes in temporal auditory and language skills. The most used instruments were those that evaluate the ability of simple temporal ordering (memory of verbal and non-verbal sounds). Most studies researched only one of the skills.

KEYWORDS: Auditory Perception; Hearing Tests; Surveys and Questionnaires; Child; Adolescent.

Autor correspondente: Andrezza Gonzalez Escarce, Email: andrezza.ge@gmail.com dx.doi.org/10.21281/rptf.2022.13.03

19 ARTIGO REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022

Introdução

O processamento auditivo central refere-se aos mecanismos e processos do sistema auditivo respon sáveis pelas habilidades de localização e lateraliza ção sonora, discriminação auditiva, reconhecimento de padrões auditivos, aspectos temporais e desempe nho auditivo (American Speech-Language-Hearing Association ASHA, 1996). Dessa forma, o desenvol vimento dessas habilidades permite ao indivíduo in terpretar o que ouvir (Terto & Lemos, 2011).

Dentre essas habilidades do processamento audi tivo, ressaltam-se as habilidades temporais, respon sáveis pela capacidade de o indivíduo perceber um som, assim como uma alteração no seu padrão, em um espaço limitado de tempo (Pereira & Schochat, 2011; Shinn, 2003). Além disso, estudos (Bazílio, 2010; Jiang et al., 2015; Pereira & Schochat, 2011; Ronen et al., 2018; Vollmer & Beitel, 2011) apontam as habili dades auditivas temporais como a base do processa mento auditivo, visto sua importância e ligação com o desenvolvimento/percepção da linguagem e fala (identificação de fonemas, sílabas, palavras e frases).

As habilidades auditivas temporais são divididas em quatro categorias - ordenação ou sequencializa ção temporal (capacidade de processar múltiplos es tímulos auditivos apresentados em uma determinada ordem de apresentação) (Pereira & Schochat, 2011; Shinn, 2003; Terto & Lemos, 2011); resolução ou acui dade temporal (o menor tempo no qual é possível pro cessar e discriminar dois estímulos auditivos) (Pereira & Schochat, 2011; Shinn, 2003; Terto & Lemos, 2011); integração ou somação temporal (somação da ativida de neuronal decorrente da adição da duração de outra energia sonora) (Samelli & Schochat, 2008); e mascara mento temporal (permite a percepção de um estímulo mesmo na presença de um som mascarador ou mais intenso) (Samelli & Schochat, 2008).

Vale considerar que os testes clínicos para avalia ção das categorias das habilidades do processamento temporal são restritos e avaliam apenas as habilida des de ordenação e resolução temporais (Pereira & Schochat, 2011; Terto & Lemos, 2011). Assim, para avaliação dessas habilidades poderão ser utilizados tanto testes comportamentais, realizados em cabina tratada acusticamente, quanto exames eletrofisio lógicos (Carvalho et al., 2015). Tais testes permitem identificar as habilidades alteradas e, consequen temente, ajudam na proposição de intervenção. No entanto, como não há uma padronização ou um teste padrão ouro, não existe um consenso sobre quais tes tes devem ser utilizados. Dessa forma, a presente re visão justifica-se como forma de identificar quais são os instrumentos mais utilizados, na literatura, para avaliação das habilidades auditivas temporais.

O objetivo deste estudo foi realizar revisão siste mática de artigos publicados que utilizaram instru mentos para avaliação dos aspectos temporais audi tivos em crianças e adolescentes.

Métodos

Trata-se de revisão sistemática de literatura, cujo delineamento seguiu recomendação nacional (Berwanger et al., 2007) e internacional (Page et al., 2021). O relato apresentado está em consonância com o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews (PRISMA) (Page et al., 2021) e registrado na base In ternational Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO) (University of York, 2015), sob número CRD42020153278

Procedimentos

A primeira fase da pesquisa constou da elabora ção da pergunta norteadora - “Quais os instrumentos mais utilizados na avaliação dos aspectos auditivos tempo rais em crianças e adolescentes?”

Definida a pergunta, foram selecionados os des critores a serem utilizados com base nos temas au dição, aspectos auditivos temporais e instrumentos, crianças e adolescentes. Para tal, foi realizada a busca pelos por meio de descritores e temas livres (concei tos amplos que não precisam ser necessariamente descritores). A pesquisa pelos descritores foi reali zada no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)/ Medical Subject Headings (MESH). Após a seleção, os descritores em inglês, espanhol e português, foram combinados em equação de busca por meio do uso dos operadores booleanos “AND” e “OR”.

Seguido da definição da equação foi realizada a pesquisa bibliográfica com nas bases de dados ele trônicas Biblioteca Nacional de Medicina (PubMed), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Cochrane, Scopus e CINAHL, no período compreendido entre junho de 2019 e outubro de 2020. A busca contemplou artigos nas línguas inglesa, espanhola e portuguesa e não teve restrição de período.

Com o objetivo de evitar vieses foram utilizadas as orientações contidas no manual da Cochrane.

Critérios de seleção

Foram incluídos na seleção dos estudos artigos originais de pesquisa que respondessem à pergunta norteadora. Foram excluídos artigos duplicados nas bases de dados e com população fora da faixa etária proposta (crianças e adolescentes, ou seja, até 18 anos de idade), levando em consideração os níveis de evi dência científica, os relatos de casos, cartas ao editor, resumos em anais de congresso, cartas ao editor, dis sertações ou teses e capítulos de livros.

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Quanto ao processo operacional da pesquisa, as fases de leitura e avaliação dos títulos e resumos foram realizadas por duas pesquisadoras indepen dentes. As fases de leitura de textos na íntegra, de extração de dados e de elaboração da síntese foram conduzidas por uma pesquisadora.

Análise dos dados

A análise dos dados constou de três etapas. Na primeira etapa, duas avaliadoras realizaram, de for ma independente, a leitura dos títulos e resumos dos artigos, tendo como referência os critérios de seleção estabelecidos. A análise foi realizada em planilha padronizada no Microsoft Excel e cada avaliadora deveria responder “sim”, “não” ou “tal vez” para inclusão do artigo na pesquisa. Após essa análise inicial, foi realizada uma reunião de con senso, no qual as duas avaliadoras iniciais e outra pesquisadora verificaram os artigos selecionados. Dessa forma, os artigos que receberam classificação “sim” pelas duas avaliadoras foram incluídos para leitura na íntegra, assim como os que receberam a resposta “sim” e “talvez”. Já para os casos em que as duas avaliadoras classificaram como “não”, o ar tigo foi excluído, o mesmo ocorrendo para a classi ficação “não” e “talvez”. Por fim, quando uma ava liadora respondeu “sim” e a outra “não”, a terceira pesquisadora realizou a leitura do título e resumo para definição e consenso final, ou seja, se o artigo entraria ou não para leitura na íntegra (1ª matriz de evidência).

A segunda etapa foi composta pela a leitura na ín tegra, agora por uma avaliadora, dos artigos que fo ram selecionados após a reunião de consenso. Após leitura, foi definido se o artigo seria ou não incluído na revisão (2ª matriz de evidência).

Na terceira etapa foi realizada análise detalhada dos artigos selecionados, por meio do método Prisma (Page et al., 2021). A extração dos dados foi realiza da em planilha eletrônica que constou das seguintes informações: a) dados descritivos do estudo (local de realização, ano da coleta); b) aspectos de amostragem tamanho da amostra, faixa etária, sexo; e c) dados metodológicos (objetivo do estudo, aspecto temporal avaliado, instrumentos utilizados).

Resultados

A análise inicial realizada nas bases PubMed, BVS, Cochrane, Scopus e CINAHL revelou 2.301 ar tigos, dos quais 1.878 estavam na primeira base, 203 na segunda, 60 na terceira, 160 na quarta e 0 na últi ma, respetivamente. Após leitura inicial do título e resumo, 177 foram excluídos por estarem replicados nas bases e 2.003, após leitura de título e resumo, por

não estarem de acordo com os critérios, totalizando 121 artigos para a reunião de consenso.

Após a reunião de consenso (1ª matriz de evidên cia), 101 artigos foram selecionados para leitura na íntegra. Após a leitura, 73 foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão (não responde ram à pergunta norteadora, nível de evidência cien tífica e faixa etária dos participantes). Dessa forma, 28 artigos foram incluídos na análise final (Figura 1).

Figura 1. Fluxograma da seleção de artigos para re visão

Discussão

Dos 28 artigos incluídos na revisão (Tabela 1), observa-se que 21, ou seja, a maioria, foram publica dos no Brasil (Amaral et al., 2019; Balen et al., 2009; Barreira et al., 2011; Durante et al., 2017; Dutra et al., 2016; Escalda et al., 2011; Fortes et al., 2007; Garcia et al., 2019; I. M. P. Souza et al., 2018; Souza et al., 2015; Leite Filho et al., 2017; Melo et al., 2016; Mourão et al., 2012; Nardez et al., 2019; Oliveira et al., 2018; Re zende et al., 2016, 2019; Shinn et al., 2009; Souza et al.,

Figura 1 Fluxograma da seleção de artigos para revisão Figura 1 Fluxograma da seleção de artigos para revisão Avaliação habilidades temporais: Revisão sistemática 19-30Auditory temporal abilities: Systematic review
21
25

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2019), além de um ter sido realizado em parceria do Brasil com o Estados Unidos (Zaidan & Baran, 2013). Outros países com publicações foram Grécia (Iliadou & Bamiou, 2012; Iliadou et al., 2014), com duas publi

Tabela 1. Estudos selecionados para revisão

cações; Índia (Yathiraj & Maggu, 2013), Nova Zelân dia (Hautus et al., 2003), Portugal (Nunes et al., 2013) e Reino Unido (Dawes et al., 2009), todos com uma publicação.

AUTOR(ES)

Fortes et al.

Balen et al.

Dutra et al.

Barreira et al. Escalda ETÁRIA AMOSTRA

5 a 6 anos 90 (44 Grupo 1 e 25 Grupo 2)

OBJETIVO

UTILIZADOESTUDADATEMPORALHABILIDADEAUDITIVAETESTE

Verificar o comportamento auditivo de resolução temporal de crianças na faixa etária de cinco a seis anos, nascidas pré-termo, sem evidência de alterações neurológicas e compará-lo com o mesmo comportamento de crianças na mesma faixa etária, nascidas a termo, com baixo risco para alteração do desenvolvimento, considerando as variáveis: limiar de detecção de intervalo de tempo por frequência sonora apresentadanapré-estabelecidaformabinaural e monoaural por ordem de orelha que iniciou o teste e o gênero

7 a 10 anos 31 escola).aulasescola;aulas(Grupodivididas565377exposiçãoeforma–gruposdivididos5212-17criançasauditivaG2-comgruposdivididosparticipantesemtrês(G1-criançasaudiçãonormal;criançascomperdacondutiva;eG3-comTPAC)anosparticipantesemdois(GrupoExpostoexpostosdealgumaaomercúrioGrupoCaso–semaomercúrio)a12anosparticipantesanosparticipantesemdoisgruposEstudo-comdemúsicanaGrupoCaso-semdemúsicana

Comparar a resolução temporal de crianças com audição normal, perda auditiva condutiva e distúrbios do processamento Compararauditivo o desempenho nos testes comportamentais de processamento auditivo central entre adolescentes expostos e não expostos ao mercúrio Investigarmetálico.

o desempenho de escolares de 7 a 12 anos de idade, sem queixas auditivas, no teste Gaps-in-Noise (GIN).

Investigar as relações entre experiência musical, habilidades de processamento auditivo e de consciência fonológica de crianças de 5 anos de idade com e sem experiência musical

- Resolução temporal temporal -(RGDT)Ordenação temporal (MSV e MSNV, TPD e TPF)

- Resolução temporal -(GIN)Ordenação temporal (MSV e MSNV)

22
et al. ANO 20112011201020092007 LOCAL BrasilBrasilBrasilBrasilBrasil DELINEAMENTO comparativoDescritivoanalíticoObservacionalComparativoComparativoComparativotransversal FAIXA
E
-(RGDT)Resolução

OBJETIVO

UTILIZADOESTUDADATEMPORALHABILIDADEAUDITIVAETESTE

Verificar a correlação entre os resultados da avaliação do processamento auditivo envolvendo a habilidade de ordenação temporal simples de sons verbais e não verbais, com as variáveis: idade, sexo, queixas e hipóteses fonoaudiológicas.

Investigar ordenação temporal simples e localização sonora de crianças, associação com recursos do ambiente familiar e desenvolvimento da linguagem

Investigar os aspectos temporais auditivos de crianças de 7 a 12 anos de idade com mau desempenho escolar e a associação com comportamentais,aspectospercepção de saúde, perfil escolar e saúde e fatores sociodemográficos

Avaliar processamento auditivo central de crianças expostas ao mercúrio no período pré-natal.

Investigar os efeitos do treinamento computadorizadoauditivo(TAC) por meio da análise do desempenho em testes comportamentais e da Escala de Funcionamento Auditivo (SAB), em crianças com distúrbio do processamento auditivo (DPA) e sistema fonológico típico e atípico.

Determinar o efeito do tabagismo passivo no desempenho na resolução temporal auditiva em crianças do ensino fundamental, com base na hipótese que a exposição ao tabagismo compromete o desempenho nessa

Compararhabilidade.crianças com SAOS ou ronco primário (PS) para crianças sem distúrbios respiratórios do sono no que diz respeito ao desempenho no teste Gaps-in-Noise (GIN) e no questionário Scale of Auditory Behaviors (SAB).

- Ordenação temporal (MSV e MSNV)

- Ordenação temporal (MSV e MSNV)

- Ordenação temporal (MSV e MSNV)

- Resolução temporal

-(RGDT)Ordenação temporal (MSV e MSNV)

- Resolução temporal

-(RGDT)Resolução temporal

-(GIN)Resolução temporal (GIN)

23 Avaliação habilidades temporais: Revisão sistemática 19-30Auditory temporal abilities: Systematic review AUTOR(ES) Mourão et al. Souza et al. Rezende et al. Dutra et al. Melo et al. Durante et al. Filho et al. ANO 2017201720162016201620152012 LOCAL BrasilBrasilBrasilBrasilBrasilBrasilBrasil DELINEAMENTO TransversalCaso-controleexperimentallongitudinaltransversal,Comparativo,TransversalanalíticoObservacionalanalíticoObservacional,descritvoRetrospectivotransversaltransversaltransversale FAIXA ETÁRIA E AMOSTRA 4-7 eRonco(Grupoem376-1290MédiaTPAC)transtornoTPACtranstorno(G1-Criançasem147-8908-10897924-5400anosparticipantesanoscriançasa12anosparticipantesanosparticipantesanosparticipantes,divididosdoisgruposcomfonológicoeeG2-Criançassemfonológicoe10anos(45emcadagrupo)anosparticipantes,divididostrêsgruposSAOS;GrupoprimárioGrupocontrole)

OBJETIVO

UTILIZADOESTUDADATEMPORALHABILIDADEAUDITIVAETESTE

Analisar a associação entre habilidades de ordenação temporal simples e complexa e tarefas de competência leitora em escolares.

Analisar as habilidades auditivas, de linguagem, motoras e sociais e propor uma triagem do desenvolvimento infantil para Associarpré-escolares.acompetência leitora

em palavras e pseudopalavras de escolares de 7 a 10 anos de idade, segundo as variáveis sexo, idade, desempenho escolar e habilidades Analisarauditivas.o

desempenho de escolares em uma bateria de triagem do processamento auditivo e comparar com um questionário de autopercepção. Além disso, comparar as respostas das crianças com questionário respondido pelos

Estudarpais.

a versão inicial e propor ajustes e melhorias para a versão final de um novo programa online, elaborado para triagem das habilidades auditivas em escolares, denominado “audBility”.

Verificar se alunos rastreados com processamento auditivo temporal alterado possuem maior probabilidade de apresentar processamento visual alterado.

Caracterizar o desempenho de adolescentes brasileiros no Teste de Padrão de Frequência e, comparar os resultados com os valores normativos da Auditec®.

Investigar a qualidade de vida de crianças de 7 a 12 anos de idade com mau desempenho escolar e a associação com as características comportamentais e habilidades auditivas.

- Ordenação temporal (MSV e MSNV; TPD e TPF com três e quatro

-sons)Ordenação temporal (MSV e MSNV)

- Ordenação temporal (MSV e MSNV)

- Ordenação temporal (MSV e MSNV)

- Ordenação temporal (TPF e TPD)

- Resolução temporal (adaptação do RGDT)

- Ordenação temporal

-(TPD)Ordenação temporal temporal (MSV e MSNV)

24 REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 202219-30 AUTOR(ES) Souza et al. Oliveira et al. Souza et al. Souza et al. Amaral et al. Garcia et al. Nardez et al. Rezende et al. ANO 20192019201920192019201820182018 LOCAL BrasilBrasilBrasilBrasilBrasilBrasilBrasilBrasil DELINEAMENTO transversalObservacionalprospectivotransversalObservacional,transversalObservacionaltransversalprospectivoDescritivo,transversalanalíticodoProspectivo,transversalanalíticoObservacionalanalíticoobservacionalTransversal,transversalObservacionaltipodescritivoedecorteee FAIXA ETÁRIA E AMOSTRA 8 a 10 anos 22 997-123012-18689-12438desempenhoescolar;(G1:divididos1348-121097-101293-6participantesanosparticipantesanosparticipantesanosparticipantes,emdoisgruposbomdesempenhoG2:mauescolar).a11anosparticipantesanosparticipantesanosparticipantesanosparticipantes
-(TPF)Ordenação

Avaliação habilidades temporais: Revisão sistemática 19-30

AUTOR(ES)

DELINEAMENTO

Shinn et al. Zaidan e Baran

Iliadou et al.

Iliadou et al. Yathiraj et al.

Hautus et al. Nunes et al.

analíticotransversalObservacional,TransversaltransversalObservacionalComparativoprospectivoCaso-controleexperimentallongitudinaltransversal,Comparativo,-randomizada.pseudo-prospectivaInvestigaçãoee

FAIXA ETÁRIA E AMOSTRA

Auditory temporal abilities: Systematic review

OBJETIVO

UTILIZADOESTUDADATEMPORALHABILIDADEAUDITIVAETESTE

7-18 anos 572 divididosparticipantes,em7grupos (de acorco com a faixa etária)

8 a 9 anos 61 participantes 12 anos 97 divididosparticipantes,emtrês grupos (Grupo controle, Grupo com TPAC e Grupo sem 7TPAC)a15 anos 22 crianças adolescentes,e divididas em dois grupos (Grupo co TPAC e Grupo de pacientes com psicose)

8 a 13 anos 400 participantes 6 a 9 anos 18 5110-13participantesanosparticipantes

Determinar a viabilidade do teste GIN no população Determinarpediátrica.seoteste

GIN

poderia diferenciar crianças com dislexia e déficits significativos de consciência fonológica de um grupo de crianças com habilidades normais de leitura.

Investigar a utilidade clínica da escala de desempenho do processamento auditivo infantil para avaliar a habilidade auditiva em crianças de 12 anos encaminhadas para avaliação do processamento auditivo.

Avaliar os resultados de resolução temporal em três populações diferentes (crianças com transtorno do processamento auditivo, e pacientes com psicose).

- Resolução temporal -(GIN)Resolução temporal -(GIN)Ordenação temporal (TPF e TPD)

- Resolução temporal (adaptação do RGDT)

- Resolução temporal (GIN e RGDT)

Avaliar a independência de quatro subseções do Teste de Triagem para Processamento Auditivo (STAP) desenvolvido por Yathiraj e Maggu (2012). O teste foi projetado para abordar a separação / fechamento auditivo, integração binaural, resolução temporal e memória auditiva em crianças em idade escolar. O estudo também teve como objetivo examinar o número de crianças que correm risco de apresentar alterações em diferentes habilidades auditivas.

Investigar o desenvolvimento relacionado à acuidade temporal auditiva em leitores disléxicos e não comprometidos na mesma Investigaridade.

as habilidades auditivas de crianças portuguesas e verificar se há correlação entre aquelas e o escore do Scale of Auditory Behaviors (SAB).

- Resolução temporal (Screening Test for Auditory Processing – STAP)

- Resolução temporal (teste de acuidade temporal auditiva

– gaps em uma sucessão de ruídos)

- Ordenação temporal (MSV e MSNV)

- Resolução temporal (GIN)

25
ANO 2013200320132014201220132009 LOCAL PortugalZelândiaNovaÍndiaGréciaGréciaBrasil/EUABrasil

REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 202219-30

AUTOR(ES)

Caso-controle

FAIXA ETÁRIA E AMOSTRA

6 a 13 anos 139 e(Grupodivididosparticipantes,emtrêsgruposCaso,GrupoTPACGrupodedisléxicos)

OBJETIVO

UTILIZADOESTUDADATEMPORALHABILIDADEAUDITIVAETESTE

Examinou a hipótese de que a causa o distúrbio do processamento auditivo é um déficit específico do processamento temporal auditivo e também considerou em o déficit do processamento auditivo é diferente em crianças com dislexia

- Ordenação temporal (TPF e TPD)

MSV - Memória sons verbais; MSNV - Memória sons não verbais; RGDT - Random Gap Detection Test; TPD - Teste de Padrão de Duração; TPF - Teste de Padrão de Frequência; GIN - Gaps-in-Noise; TPAC - Transtorno do Processamento Auditivo Central

Quanto ao tempo de publicação, embora não te nha sido aplicado filtro para determinar um perío do específico, foram encontrados e incluídos artigos com, no máximo, 18 anos de publicação. O mais an tigo foi o realizado em 2003 (Hautus et al., 2003) e os mais recentes publicados em 2019 (Amaral et al., 2019; Garcia et al., 2019; Nardez et al., 2019; Rezen de et al., 2019). Cabe ressaltar o crescimento de estu dos nessa área nos últimos anos, principalmente os com foco nas habilidades auditivas temporais.

Catorze artigos selecionados apresentaram ob jetivos similares, ou seja, verificar a associação dos aspectos temporais auditivos com questões de aprendizagem e/ou desenvolvimento fonológi co, consciência fonológica e leitura (Barreira et al., 2011; Dawes et al., 2009; Durante et al., 2017; Escal da et al., 2011; Hautus et al., 2003; Melo et al., 2016; Mourão et al., 2012; Oliveira et al., 2018; Rezende et al., 2016; Souza et al., 2015; Souza et al., 2018; Sou za et al., 2019; Yathiraj & Maggu, 2013; Zaidan & Baran, 2013). Destes, observa-se interesse no estudo com crianças/adolescentes disléxicos (Dawes et al., 2009; Hautus et al., 2003; Zaidan & Baran, 2013). Tal achado é justificado pela relação existente entre as habilidades auditivas temporais, principalmente as de ordenação e resolução, e o desenvolvimento da linguagem, visto que são um pré-requisito para a aquisição da leitura e escrita. Além disso, alterações nessas habilidades podem ocasionar alterações de consciência fonológica, discriminação auditiva, di ficuldade em leitura e escrita, dentre outros (Abdo et al., 2010; Fortunato-Tavares et al., 2009; Muniz et al., 2007; Murphy & Schochat, 2009). Também foi observado a preocupação na realização de es tudos com foco em triagem em escolares (Barreira et al., 2011; Oliveira et al., 2018), bem como no uso de questionários para facilitar esse processo (Nunes

et al., 2013). Ressalta-se que a ASHA e outros auto res vêm incentivando o uso de questionários para identificação precoce de crianças/adolescente que apresentam risco para apresentar Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC) (American Speech-Language-Hearing Association, 1996; Nu nes et al., 2013; Volpatto et al., 2019). Outros estu dos incluíam associação com tabagismo (Durante et al., 2017); exposição a mercúrio (Dutra et al., 2016), ocorrência em portadores da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) (Leite Filho et al., 2017), pacientes com perda auditiva condutiva (Balen et al., 2009) e com alteração no processamento visual (Garcia et al., 2019), independência de testes para triagem auditiva no Screening Test for Auditory Pro cessing (STAP) de diferentes habilidades auditivas, incluindo as temporais (Yathiraj & Maggu, 2013), comparações entre o desempenho em testes de ha bilidades auditivas temporais em diferentes grupos (Durante et al., 2017; Fortes et al., 2007), comparar o desempenho em teste já existente com os valores normativos da Auditec (Nardez et al., 2019), as sociação com queixas fonoaudiológicas (Melo et al., 2016; Mourão et al., 2012; C. A. Souza et al., 2018; Souza et al., 2019), qualidade de vida e recursos am bientais (Rezende et al., 2019) e exposição musical (Escalda et al., 2011). Houve também um estudo que teve como objetivo comparar o desempenho de adolescentes no teste de Padrão de Frequência com valores normativos de outro teste (Nardez et al., 2019), do uso do teste o Gaps-in-Noise (GIN) na população pediátrica (Shinn et al., 2009), verificar o treinamento auditivo computadorizado em crianças com e sem alterações fonológicas (Melo et al., 2016).

Quanto ao delineamento do estudo, a maior par te, 18 estudos, era transversal (Amaral et al., 2019; Barreira et al., 2011; C. A. Souza et al., 2018; Dutra et

Dawes et al. ANO 2009 LOCAL UnidoReino DELINEAMENTO
26

al., 2016; Garcia et al., 2019; Hautus et al., 2003; Leite Filho et al., 2017; Melo et al., 2016; Mourão et al., 2012; Nardez et al., 2019; Nunes et al., 2013; Oliveira et al., 2018; Rezende et al., 2016, 2019; Souza et al., 2015; I. M. P. Souza et al., 2018; Souza et al., 2019; Yathiraj & Maggu, 2013), três caso-controle (Dawes et al., 2009; Durante et al., 2017; Iliadou & Bamiou, 2012); cinco comparativo (Balen et al., 2009; Dutra et al., 2016; Fortes et al., 2007; Iliadou et al., 2014; Melo et al., 2016), um prospectivo (Zaidan & Baran, 2013) e um prospectivo pseudo-randomizado (Shinn et al., 2009). Deste modo, observa-se que houve pre dominância de estudos com menor nível evidência, ou seja, estudos transversais. Ressalta-se esse tipo de estudo é mais propenso a ocorrência de vieses (Tomaz-Morais et al., 2016).

A faixa etária variou entre três anos (Oliveira et al., 2018) a 18 anos de idade (Nardez et al., 2019; Shinn et al., 2009). Além disso, foi observado que a menor amostra estudada foi composta por 14 par ticipantes (Melo et al., 2016) e as maiores por 400 (Mourão et al., 2012; Yathiraj & Maggu, 2013). Res salta-se que tanto no estudo de menor (Melo et al., 2016) quanto nos de maior amostra (Mourão et al., 2012; Yathiraj & Maggu, 2013), adotou-se o mesmo delineamento - transversal. Assim, infere-se que tal fato possa estar relacionado a especificidade do gru po de estudo, ou seja, se disléxico, com comprome timento escolar, com TPAC, com alteração fonoau diológica, com exposição passiva a nicotina, entre outros.

Quanto à resposta à pergunta norteadora, a ha bilidade mais estudada foi a de ordenação tempo ral. Dessa, 12 estudos utilizaram o teste de memória para sons verbais e não verbais (Dutra et al., 2016; Escalda et al., 2011; Nunes et al., 2013; Mourão et al., 2012; Oliveira et al., 2018; Rezende et al., 2016, 2019; Souza et al., 2015; Souza et al., 2018, I. M. P. Souza et al., 2018; Souza et al., 2019) e sete os de padrão de frequência e de duração (Amaral et al., 2019; Dawes et al., 2009; Dutra et al., 2016; Garcia et al., 2019; Ilia dou & Bamiou, 2012; Nardez et al., 2019; Souza et al., 2018).

A habilidade de resolução temporal foi estuda da por meio dos testes de Random Gap Detection Test (RGDT) (Amaral et al., 2019; Balen et al., 2009; Fortes et al., 2007; Iliadou et al., 2014; Melo et al., 2016; Rezende et al., 2016, 2019), o GIN (Barreira et al., 2011; Durante et al., 2017; Iliadou et al., 2014; Leite Filho et al., 2017; Nunes et al., 2013; Shinn et al., 2009; Zaidan & Baran, 2013), e outros estudos (Hautus et al., 2003; Iliadou & Bamiou, 2012; Yathi raj & Maggu, 2013) por meio de testes propostos es pecificamente para pesquisa, mas também com foco na resolução temporal. Um deles, chamado Scree

ning Test for Auditory Processing (STAP) (Yathiraj & Maggu, 2013), e os outros com o objetivo de de tectar gaps em ruído (Hautus et al., 2003; Iliadou & Bamiou, 2012). Ressalta-se que dentre os estudos, os testes RGDT e GIN apareceram com a mesma fre quência, em sete estudos. Apesar do GIN apresen tar maior tempo para sua realização, isso parece não ter sido fator determinante para a escolha dos testes nasApenaspesquisas.cinco estudos (Amaral et al., 2019; Ilia dou & Bamiou, 2012; Nunes et al., 2013; Rezende et al., 2016, 2019) analisaram as habilidades de re solução e ordenação temporal na mesma pesquisa, sendo duas associadas ao mau desempenho escolar (Rezende et al., 2016, 2019), uma avaliação de um novo programa para triagem das habilidades au ditivas (Amaral et al., 2019) e outro para verificar a correlação entre o escore de um questionário de triagem com os resultados dos testes de processa mento auditivo (Nunes et al., 2013). Os demais ti veram como foco exclusivo a ordenação temporal (Durante et al., 2017; Fortes et al., 2007; Hautus et al., 2003; Iliadou et al., 2014; Yathiraj & Maggu, 2013; Zaidan & Baran, 2013) ou a resolução (Balen et al., 2009; Barreira et al., 2011; Dawes et al., 2009; Durante et al., 2017; Fortes et al., 2007; Hautus et al., 2003; Iliadou et al., 2014; Leite Filho et al., 2017; Melo et al., 2016; Shinn et al., 2009; Yathiraj & Mag gu, 2013; Zaidan & Baran, 2013).

Dos que estudaram a ordenação temporal foi ve rificada a associação com tarefas de leitura de pala vras e pseudopalavras (Souza et al., 2015; Souza et al., 2018) e comparação no desempenho em disléxi cos (Dawes et al., 2009; Hautus et al., 2003; Zaidan & Baran, 2013), crianças e adolescentes com alteração de processamento auditivo e crianças e adolescen tes sem alteração (Balen et al., 2009; Iliadou & Ba miou, 2012; Hautus et al., 2003) e de crianças com alteração de linguagem (Melo et al., 2016; Oliveira et al., 2018; Souza et al., 2015). Além disso, verifi cou-se a comparação entre adolescentes expostos e não expostos ao mercúrio (Dutra et al., 2016) entre crianças com experiência musical (Escalda et al., 2011), com hipóteses fonoaudiológicas e fatores de mográficos (Mourão et al., 2012). Outro verificou a associação entre alteração da habilidade de orde nação temporal e com alteração de processamento visual (Garcia et al., 2019).

Já os que avaliaram a resolução temporal, uma pesquisa, realizada no Brasil, teve como critério ve rificar a hipótese de que o tabagismo passivo altera o desempenho em habilidades temporais auditivas, visto que a exposição a nicotina pode ocasionar comprometimentos auditivos (Durante et al., 2017). Outra pesquisa (Iliadou et al., 2014), realizada na

Avaliação habilidades temporais: Revisão sistemática 19-30Auditory temporal abilities: Systematic review
27

REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022

Grécia, buscou a comparação entre grupos que se diferenciavam quanto à faixa etária, profissão e presença de patologia. Também com foco na com paração entre grupos, estudos comparavam o de sempenho entre disléxicos e não disléxicos (Balen et al., 2009; Rezende et al., 2016), a diferença entre crianças nascidas a termo e pré termo (Fortes et al., 2007), a diferença em crianças com perda auditiva condutiva (Balen et al., 2009), entre crianças com e sem TPAC (Barreira et al., 2011), entre crianças com transtorno fonológico e TPAC (Melo et al., 2016) e com distúrbios do sono (Leite Filho et al., 2017). Vale destacar, ainda, que dentre os estudos que ava liaram a resolução temporal houve a proposição de uma nova bateria de testes de processamento audi tivo, cujos testes, além da resolução temporal, ava liam o fechamento auditivo, integração binaural e memória auditiva (Yathiraj & Maggu, 2013), outro com o objetivo de propor ajustes em novo progra ma para triagem de habilidades auditivas (Amaral et al., 2019). Também foi realizado estudo para ve rificar a viabilidade do teste GIN para a população pediátrica (Shinn et al., 2009).

Os principais resultados dessa revisão sistemá tica fundamentaram-se nos dados da análise de 28 artigos, incluídos após o cumprimento de todas as etapas de elegibilidade, cujos estudos foram com crianças e adolescentes. Dos artigos selecionados, 22 foram nacionais e seis internacionais, com o nú mero de participantes bastante diversificado.

Vale, ainda, destacar as diferenças metodológi cas adotadas, ainda que a maior parte dos estudos tenha delineamento transversal. Além disso, ressal ta-se que, dentre os artigos incluídos na revisão, vá rios, tanto nacionais quanto internacionais, tiveram como objetivo verificar a associação das habilida des temporais auditivas e alterações de linguagem. Quanto aos instrumentos, os mais utilizados foram os de ordenação temporal e em apenas cinco estu dos as duas habilidades (resolução e ordenação) fo ram pesquisadas.

Conclusão

A presente revisão sistemática revelou que dos artigos em análise os instrumentos mais utilizados foram os testes de padrão de frequência e de dura ção, RGDT e GIN. Dentre esses testes, observa-se preferência pelos de avaliação da ordenação tem poral. Além disso, a maioria dos estudos pesquisou apenas uma das habilidades temporais auditivas. Os estudos envolvendo habilidades auditivas temporais buscaram relacionar o desempenho nessas habilida des com o desempenho em atividades acadêmicas. A faixa etária das crianças/adolescentes incluídos

variou de três anos à 18 anos de idade, assim como também foi observada variabilidade no tamanho da amostra e delineamento do estudo.

Conflito de interesses

Os autores declaram não terem atividades, com pensações financeiras e/ou interesses que possam ter interferido nos resultados do estudo.

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19-30

Avaliação habilidades temporais: Revisão sistemática 19-30

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Auditory temporal abilities: Systematic review

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REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 202219-30

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Aspectos temporais audi tivos: produção de conhecimento em quatro periódicos nacionais. Revista CEFAC, 13(5),926-936. https://doi.org/10.1590/S1516Tomaz-Morais,18462011005000050J.,Lima, J. A. S., Luckwü-Lucena, B., Batista, A. U. D., Limeira R. R. T., Silva, S. M., & de Castro, R, D. (2016). Análi se da produção científica brasileira em Motricidade orofacial: es tado da arte perspectivas futuras. Revista CEFAC, 18(2), 520-532. Universityhttps://doi.org/10.1590/1982-0216201618218115ofYork(2015). Centre for Reviews and Dissemination. In ternational Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO)

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REVISÃO CRÍTICA CRITICAL REVIEW

e inter examinador, potenciando a sua fidedignidade. Esta informação, assim como a descrição dos procedimento e materiais, é importante do ponto de vista pedagógico, no entanto, de forma a habilitar os examinadores para a sua aplicação, seria de ponderar um treino específico para a sua aplicação, ou, complementarmente, um suporte audio visual que demonstrasse a aplicação das diferentes provas de avaliação propostas.

No entanto, o facto de não contemplar provas de avalia ção, mesmo que de rastreio, das funções estomatognáticas, limita as possibilidades da sua utilização no âmbito clínico, onde esta avaliação deverá ser indissociável da compo nente morfológica. Será complexo ter uma visão integrada do sistema estomatognático sem uma avaliação das suas funções. As autoras referem que se tratou de uma opção fundamentada “na evidência de que a complexidade impõe limitações adicionais no processo de desenvolvimento de um teste e na sua validação”. Como sugestão, seria útil o desenvolvimento de Apêndices ao PAOF-2 para as di ferentes funções do sistema estomatognático de forma a ser possível uma avaliação do sistema estomatognático e não apenas da sua constituição estrutural/morfológica e movimentos específicos, pois pode condicionar o racio cínio clínico em termos de possibilidades diagnósticas e de relações entre as alterações estruturais e as alterações funcionais existentes. Esta relação faz parte do modelo de diagnóstico diferencial, uma vez que o funcionamento das estruturas em determinadas funções não é linear, como o conhecimento e evidência científica cada vez mais têm demonstrado e chamado à atenção, sobretudo ao nível das abordagens e metodologias de intervenção.

O PAOF-2 contém uma folha de registo onde constam os 47 itens que compõe o protocolo, que estão divididos em três áreas principais: (1) instruções, (2) registo quali tativo e (3) registo quantitativo (escala de tipo Likert de 5 pontos). A redução dos itens de avaliação no PAOF-2 torna mais rápida a sua aplicação, não descurando os aspetos essenciais numa prova de rastreio. Realça-se também o facto do PAOF-2 deixar de apresentar escalas dicotómicas presentes no protocolo original e adotar escalas de Likert de 5 pontos, o que reduz a eventual tendência para pola rização das respostas, seguindo a tendência que outros protocolos de avaliação em motricidade orofacial adotam.

O capítulo “Guia Geral do PAOF-2” é um aspeto bastan te positivo deste livro, uma vez que, de uma forma bastante pedagógica, organizada e com bom suporte visual, possi bilita ao leitor uma boa aprendizagem das metodologias e instrumentos a utilizar, assim como apresenta uma forma de registo com diversos exemplos, fomentando a fidedigni dade dos resultados com base neste protocolo.

O capítulo seguinte “Interpretação do PAOF-2”, consis te igualmente num recurso pedagógico útil para o exami nador, com recurso a imagens demonstrativas dos aspetos a avaliar. Do ponto de vista terminológico, está adequado com a literatura mais recente, à exceção da avaliação do

a pedagogical point of view, however, in order to enable the examiners to apply them, it would be necessary to consider specific training for their application, or, in addition, an audio visual support demonstrating the application of the different assessment tests proposed.

However, the fact that it does not include assessment tests, even screening tests, of stomatognathic functions limits the possibilities of its use in the clinical scope, where this assessment must be inseparable from the morpho logical component. It will be complex to have an integrated view of the stomatognathic system without an assessment of its functions. The authors state that this was an option based “on the evidence that complexity imposes addition al limitations on the process of developing a test and its validation”. As a suggestion, it would be useful to develop Appendices to the PAOF-2 for the different functions of the stomatognathic system in order to be able to assess the stomatognathic system and not just its structural/morpho logical constitution and specific movements, as it can con dition clinical reasoning in terms of diagnostic possibilities and relationships between existing structural changes and functional changes. This relationship is part of the differen tial diagnosis model, since the functioning of structures in certain functions is not linear, as knowledge and scientific evidence have increasingly demonstrated and drawn at tention, especially in terms of intervention approaches and methodologies.ThePAOF-2

contains a record sheet containing the 47 items, which are divided into three main areas: (1) in structions, (2) qualitative record and (3) quantitative record (Likert-type scale of 5 items). The reduction of assess ment items in the PAOF-2 makes its application faster, not neglecting the essential aspects of a screening test. It is also worth noting the fact that the PAOF-2 no longer pres ents dichotomous scales present in the original protocol and adopts 5-point Likert scales, which reduces the pos sible tendency for polarization of responses, following the trend that other assessment protocols in orofacial motricity adopt. The chapter “General Guide to PAOF-2” is a very positive aspect of this book, since, in a very pedagogical, organized way and with good visual support, it allows the reader to learn the methodologies and instruments to be used, as well as presents a form of registration with sev eral examples, promoting the reliability of the results based on thisTheprotocol.following chapter “Interpretation of the PAOF-2”, is also a useful pedagogical resource for the examiner, using images demonstrating the aspects to be evaluated. From a terminological point of view, it is in line with the most re cent literature, with the exception of the assessment of the lingual frenulum, where other assessment and diagnostic variables could have been considered as a fixed choice op tion for the examiner, as well as the respective contextual ization and theoretical support.

In the following chapter (“Normative” reference of the

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REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA

REVISÃO CRÍTICA CRITICAL REVIEW

freio lingual, onde outras variáveis de avaliação e diagnós tico poderiam ter sido consideradas como opção de esco lha fixa para o examinador, assim como a respetiva contex tualização e sustentação teórica das mesmas.

No capítulo seguinte (Referência “normativa” do PAOF2), são descritos os aspetos metodológicos como recolha de dados, seleção da amostra, variáveis estudadas, valores de referência, entre outros, possibilitando ao examinador um melhor conhecimento dos pressupostos metodológicos de validação deste protocolo.

Considerando que a área da motricidade orofacial é uma das áreas de atuação da terapia da fala onde temos observado uma grande procura ao nível de estudos pós -graduados, urge que, ao nível dos protocolos de avaliação nesta área, se continuem a desenvolver trabalhos de in vestigação, de forma a que se possam disponibilizar mais protocolos de avaliação nesta área validados para o por tuguês europeu. Como se referiu inicialmente, este é um dos aspetos mais críticos e emergentes no sentido de se mostrarem as evidências clínicas e científicas neste do mínio, potenciando o desenvolvimento de abordagens de intervenção sustentadas numa prática informada em evi dências científicas e clínicas.

As autoras do PAOF-2 estão de parabéns pelo exce lente contributo que deram ao desenvolver e disponibilizar este protocolo de rastreio da motricidade orofacial com as melhorias descritas relativamente à versão original.

PAOF-2), the methodological aspects such as data collec tion, sample selection, studied variables, reference values, among others, are described, allowing the examiner to have a better understanding of the methodological assumptions for the validation of this protocol.

Considering that the area of orofacial motricity is one of the areas of activity of speech and language therapy where we have observed a great demand at the level of post graduate studies, it is urgent that, in terms of assessment protocols in this area, research work is continued, so that more assessment protocols can be made available in this area validated for European Portuguese. As mentioned ini tially, this is one of the most critical and emerging aspects in the sense of showing clinical and scientific evidence in this field, enhancing the development of intervention ap proaches based on a informed practice and scientific ev idence.The authors of the PAOF-2 are to be congratulated for the excellent contribution they made in developing and making this orofacial motricity screening protocol available with the improvements described in relation to the original version.

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Revisão realizada por: Ricardo Jorge Santos, Email: ricardosantos_tf@hotmail.com Terapeuta da Fala, Mestre em Ciências da Fala e da Audição, Especialista em Terapia e Reabilitação / Speech and Language Therapist, Master in Speech and hearing Sciences, Specialist in Therapy and Rehabilitation Hospital Privado da Trofa, Hospital CUF . Porto, Myosolutions / Trofa Private Hospital, CUF Hospital – Porto, Myosolutions dx.doi.org/10.21281/rptf.2022.13.04
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SENTIDOS - SUBCHAPTER: FLUENCY DISORDERS CRITICAL REVIEWPORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA

SENTIDOS –DAPERTURBAÇÕESSUBCAPÍTULO:FLUÊNCIA

Autores: Nuno Lobo Antunes, Jaqueline Carmona e Rita Santos

Edição: 2018 (1ª ed.), Lua de Papel

ISBN: Língua:979-989-23-43740-7PortuguêsEuropeu

O livro Sentidos, de Nuno Lobo Antunes e equipa téc nica do PIN, inicia-se pelo prefácio escrito pelo autor que apresenta a sua visão em relação a temas tão presentes no dia a dia dos profissionais que trabalham na área do neurodesenvolvimento e saúde mental, tais como: o papel do clínico e o impacto da experiência no processo de ava liação e compreensão de um comportamento; a importân cia do diagnóstico e o medo do mesmo; e o percurso das perturbações, o seu impacto e a interação entre diferentes categorias diagnósticas. Esta obra divide-se em 27 capí tulos abordando as principais perturbações do neurode senvolvimento e saúde mental em idade pediátrica, assim como a intervenção familiar, intervenção clínica em con texto escolar e a intervenção farmacológica.

Considerando a extensão da obra, a presente revisão crítica irá centrar-se no capítulo 4, mais especificamente nas Perturbações da Fluência. Este capítulo intitulado Per turbações da Comunicação, Linguagem e Fala, da autoria de Jaqueline Carmona e Rita Santos, debruça-se sobre a Perturbação da Linguagem, as Perturbações dos Sons da Fala e as Perturbações da Fluência.

Na caracterização da Gaguez, destaca-se a forma sim ples como as autoras descrevem os comportamentos de gaguez. São inicialmente caracterizados os comportamen tos primários, com exemplos para cada uma das disfluên cias típicas de gaguez (repetição de fonemas, sílabas e mo nossílabos; palavras partidas; bloqueios e prolongamentos (Bloodstein et al. 2021; Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala, 2020), salientando-se a sensação de perda de controlo experienciada pela pessoa que gagueja e a natureza invo luntária destes comportamentos. Neste continuum, são da dos exemplos de comportamentos secundários de fuga e de evitamento. Estes comportamentos têm o objetivo de termi nar, evitar ou adiar um momento de gaguez podendo assim assumir características muito variadas e individualizadas dado que são fruto de condicionamento e da experiência da pessoa que gagueja (Bloodstein et al. 2021; Guitar, 2019; Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala, 2020).

São apresentados dados sobre a incidência e prevalên cia da perturbação e destaca-se a coocorrência frequente com outras perturbações da comunicação, assim como a

Authors: Nuno Lobo Antunes, Jaqueline Carmona e Rita Santos

Edition: 2018 (1st Ed.), Lua de Papel

ISBN: Language:979-989-23-43740-7EuropeanPortuguese

The book “Sentidos”, by Nuno Lobo Antunes and the PIN technical team,begins with a preface written by the author, who presents his vision regarding themes that are so present in the daily life of professionals working in the neurodevelopmental and mental health fields, such as: the role of the clinician and the impact of experience in the pro cess of evaluation and comprehension of a behavior; the importance of diagnosis and the fear of it; and the course of the disorders, their impact, and the interaction between different diagnostic categories. This book is divided into 27 chapters addressing the main neurodevelopmental and mental health disorders in pediatric age, as well as fami ly intervention, clinical intervention in school settings, and pharmacological intervention.

Considering the length of the book, this critical review will focus on chapter 4, more specifically on Fluency Dis orders. This chapter entitled Communication, Language and Speech Disorders, written by Jaqueline Carmona and Rita Santos, focuses on Language Disorder, Speech Sound Disorders and Fluency Disorders.

In the characterization of stuttering, it is highlighted the simple way the authors describe the stuttering behaviors. The core behaviors of stuttering are initially characterized, with examples of stuttering-like disfluencies (repetition of phonemes, syllables, and monosyllables; broken words; blocks and prolongations (Bloodstein et al. 2021; Socie dade Portuguesa de Terapia da Fala, 2020)), highlighting the feeling of loss of control experienced by the person who stutters and the fact that these behaviors are involuntary in nature. Within this continuum, examples of escape behav ior and avoidance behavior are given. These behaviors aim at ending, avoiding or postponing a moment of stuttering and can thus assume very varied and individualized char acteristics, since they are the result of conditioning and of the experience the person who stutter has had (Bloodstein et al. 2021; Guitar, 2019; Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala, 2020).

Data on the incidence and prevalence of the disorder is presented, and the frequent co-occurrence with other communication disorders is highlighted, as well as the importance of not prioritizing one disorder over another.

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REVISÃO CRÍTICA CRITICAL REVIEWREVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA

importância de não priorizar uma perturbação em relação à outra. Apresentam-se também informações relativas à comorbilidade com outras perturbações. Este é um tó pico atualmente muito presente na literatura científica e estudos recentes apontam para uma alta prevalência de comorbilidades no grupo de crianças que gaguejam. Des taca-se, por exemplo, um estudo do ano de 2021 no qual 60.32% das crianças que gaguejam tinham pelo menos uma comorbilidade (e.g., Perturbação de Hiperatividade/ Défice de Atenção; Perturbação do Espetro do Autismo) (Briley et al. 2018; Choo et al. 2021).

Ainda que estas informações não se encontrem se quenciadas, salienta-se o tópico da cronicidade da gaguez e dos fatores de risco associados à mesma. Destaca-se a importância de realizar uma avaliação que permita não só compreender se a criança se encontra a gaguejar, mas também se esta apresenta fatores de risco significativos para a persistência da gaguez.

Para além do destaque para a etiologia multifatorial da gaguez, são designados alguns mitos em relação à causa da perturbação, assim como de que forma as reações dos interlocutores podem aumentar a pressão comunicativa para a pessoa que gagueja. Nesta sequência, mas também com enfoque na caracterização da gaguez, salienta-se a variabilidade da gaguez e de que forma esta pode ter não só impacto na vida da pessoa que gagueja, mas também na sua família e outros interlocutores que muitas vezes não compreendem a razão pela qual a pessoa gagueja em algumas situações e noutras não.

Quando abordada a intervenção, destaca-se o papel da família e da escola. Descreve-se a importância de aumen tar o conhecimento e compreensão por parte dos pais e professores e são referidas algumas estratégias para criar um ambiente comunicativo facilitador da fluência e fomen tador de atitudes comunicativas saudáveis.

A Taquifemia é também caracterizada de forma simples e com recurso a exemplos práticos destacando-se que a perturbação se caracteriza não só por uma velocidade de fala aumentada, mas também por características como o excesso de disfluências típicas, deleção de sílabas e/ou pausas ou acentuação silábica alteradas (Scott et al. 2013). São apresentados dados de estudos recentes sobre a sua etiologia, ainda que esta menos estudada que a da gaguez.

Apresentam-se dados sobre a incidência e destaca-se a comorbilidade frequente da perturbação não só com a Ga guez, mas também com outras perturbações do neurodesen volvimento. Destacam-se dificuldades no diagnóstico na pri meira infância e quando em comorbilidade com o diagnóstico de Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção.

Da intervenção, as autoras destacam pontos semelhan tes aos apresentados na intervenção em Gaguez, referindo também alguns objetivos da intervenção direta. Realça-se a integração dos pontos cruciais à compreensão destas duas perturbações da fluência.

A pertinência dos tópicos abrangidos permite não só

Information regarding comorbidity with other disorders is also presented. This is a topic currently very present in scientific literature and recent studies point to a high prevalence of comorbidities in the group of children who stut ter. Noting, for instance, a 2021 study in which 60.32% of children who stutter had at least one comorbidity (e.g., Attention Deficit/Hyperactivity Disorder; Autism Spectrum Disorder) (Briley et al. 2018; Choo et al. 2021).

Although this information is not sequenced, the topic of the chronicity of stuttering and associated risk factors is underlined. The importance of performing an evalua tion that allows the professional to understanding not only whether the child is stuttering or not, but also whether the child has significant risk factors for persistent stuttering is emphasized.Beyondthe emphasis given to the multifactorial etiology of stuttering, some myths regarding the cause of the disor der are designated, as well as how the reactions of inter locutors can increase the communicative pressure for the person who stutters. Following the perspective, but also focusing on the characterization of stuttering, the variability of stuttering and how it can impact not only the life of the stutterer, but also their family and other interlocutors who often do not understand why the person stutters in some situations and not in others.

When addressing intervention, the role of the family and school is highlighted. The importance of increasing knowledge and understanding on the part of parents and teach ers is described and some strategies to create a commu nicative environment that facilitates fluency and fosters healthy communicative attitudes are also mentioned.

Cluttering is also characterized in straightforward way, highlighting that the disorder is characterized not only by an increased speech rate, but also by features such as ex cessive typical disfluencies, syllable deletion and/or paus es, or altered syllabic accentuation (Scott et al. 2013). Data from recent studies on its etiology is also presented, even though it is less studied than the etiology of stuttering.

Incidence data is presented and the comorbidity of the disorder is underlined, not only with Stuttering, but also with other neurodevelopmental disorders. Difficulties in providing diagnosis in early childhood and when there is a comorbidity with Attention Deficit/ Hyperactivity Disorder are also

Fromemphasized.theintervention, the authors highlight similar points to those presented in the Stuttering intervention, also referring to some objectives of the direct intervention.

The integration of crucial points for understanding these two fluency disorders stands out. The relevance of the topics allows not only the characterization of the disorders, but also the dispelling of several myths in relation to them. Here it can be highlighted the topic of the impact caused by these disorders and of the role of the speech therapist, not only regarding the attitudes of the family, teachers and other interlocutors, but also regarding their needs.

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REVISÃO CRÍTICA CRITICAL REVIEWREVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA

a caracterização das perturbações, mas também a dissi pação de vários mitos em relação às mesmas. Destaca -se o tópico do impacto destas perturbações e do papel do terapeuta da fala face, não só às atitudes da família, professores e outros interlocutores, mas também face às necessidades dos mesmos.

É evidente ao longo do capítulo que a informação ex posta é sustentada por evidência científica atual, não obs tante, importa comentar o uso do termo “gaguez transitó ria” à luz do que é defendido pela literatura mais recente. Esta terminologia é utilizada pelas autoras de forma a des tacar a alta probabilidade de recuperação da gaguez entre os 2 e os 6 anos de idade, porém importa ressaltar que este não é um diagnóstico. Mesmo perante o caso de uma criança com fatores de bom prognóstico nesta faixa etária, se são observados comportamentos de gaguez, o diagnós tico de gaguez do desenvolvimento é adequado.

Este subcapítulo oferece ainda uma visão das Pertur bações da Fluência no âmbito das neurociências, dando-se destaque às comorbilidades tão frequentes entre as per turbações do neurodesenvolvimento e de saúde mental. Esta obra surge assim como referência para todos os tera peutas da fala, estudantes de Terapia da Fala e outros pro fissionais nas áreas da saúde e educação, considerando a sua importância ao longo do desenvolvimento da criança ou adolescente e a escassez de recursos que permitam aos mesmos aumentar o seu conhecimento acerca des tas perturbações. O excelente equilíbrio entre a linguagem técnica e uma escrita clara e diretiva e entre a ciência e a experiência na prática clínica, torna esta obra um excelente recurso também para pais, familiares ou cuidadores.

REFERÊNCIAS

1. Bloodstein, O, Ratner, N., & Brundage, S. (2021). A Handbook on Stuttering. (7th ed.). San Diego, CA: Plural Publishing, Inc.

2. Briley, P., & Ellis Jr., C. (2018). The Coexistence of Disabling Conditions in Children Who Stutter: Evidence From the National Health Interview Survey. Journal of Speech, Language, and Hearing Research, 61, 2895–2905

3. Choo, A., Smith, S., & Li, H. (2021). Associations between stut tering, comorbid conditions and executive function in children: a population-based study. BMC Psychology, 113(8). https://doi. 4.org/10.1186/s40359-020-00481-7Guitar,B.(2019).Stuttering-An Integrated Approach to Its Nature and Treatment (5th ed.). Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins.

5. Scott, K., & Ward, D. (2013). Managing Cluttering. A com prehensive guidebook of activities. Austin-Texas: Pro-Ed Inc.

6. Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala. (2020). Dicionário Terminológico de Terapia da Fala. PAPA-LETRAS.

Revisão realizada por: Cátia Catita, Email: catiacatita.tf@gmail.com

It is evident throughout the chapter that the informa tion presented is supported by current scientific evidence. Nevertheless, it is important to comment on the use of the term “transient stuttering” in the light of what is advocated by the most recent literature. This terminology is used by the authors in order to highlight the high probability of recovery from stuttering between 2 and 6 years of age, but it should be noted that this is not a diagnosis. Even in the case of a child with good prognostic factors in this age group, if stuttering behaviors are observed, the diagnosis of developmental stuttering is appropriate.

This subchapter also offers a view on Fluency Disor ders within the neuroscientific framework, highlighting the comorbidities that are so frequently among neurodevelop mental and mental health disorders. This book is a reference for all speech therapists, speech therapy students and other professionals in the areas of health and education, considering its importance throughout the development of the child or adolescent and the scarcity of resources that allow them to increase their knowledge about these disorders. The excellent balance between technical language and clear and directive writing, and between science and experience in clinical practice, makes this book an excellent resource for parents, relatives or careers.

REFERENCES

1. Bloodstein, O, Ratner, N. & Brundage, S. (2021). A Handbook on Stuttering. (7th ed.). San Diego, CA: Plural Publishing, Inc.

2. Briley, P., & Ellis Jr., C. (2018). The Coexistence of Disabling Conditions in Children Who Stutter: Evidence From the National Health Interview Survey. Journal of Speech, Language, and Hea ring Research, 61, 2895–2905

3.Choo, A., Smith, S., & Li, H. (2021). Associations between stut tering, comorbid conditions and executive function in children: a population-based study. BMC Psychology, 113(8). https://doi. 4.org/10.1186/s40359-020-00481-7Guitar,B.(2019).Stuttering- An Integrated Approach to Its Nature and Treatment (5th ed.). Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins.

5. Scott, K., & Ward, D. (2013). Managing Cluttering. A com prehensive guidebook of activities. Austin-Texas: Pro-Ed Inc.

6. Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala. (2020). Dicionário Terminológico de Terapia da Fala. PAPA-LETRAS.

Terapeuta da Fala/ Speech and Language Therapist Centro de Tratamento de Gaguez by SpeechCare, Centro de Neurodesenvolvimento e Comportamento da Criança e do Adolescente do Hospital da Luz Lisboa/ Stuttering Treatment Center by SpeechCare, Neurodevelopment and Behavior Center of Children and Adolescents at Luz Hospital Lisbon dx.doi.org/10.21281/rptf.2022.13.05

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Os problemas de ouvido e audição causadas por otite média são altamente prevalentes em bebés e crianças jovens, sendo que, quase 80-90% de todas as crianças, experimentam pelo menos um episódio desta natureza durante o 1º ano de vida.

A otite média com derrame (OMD) é definida como a presença de fluido no ouvido médio, sem sinais e sintomas de infeção aguda, o que compromete a identificação precoce destes quadros. É frequentemente acompanhada por perdas auditivas condutivas, episódicas e variáveis, que podem variar de grau leve a moderado, não ultrapassando 50 dB. É conhecida a elevada prevalência de crianças com historial de otites médias em atendimentos em Terapia da Fala, verificando-se tam bém que estas crianças continuam a chegar tardiamente para avaliação e intervenção.

Contudo e apesar de se reconhecer que a perda auditiva pode comprometer o desenvolvimento fonológico em determi nados períodos críticos do desenvolvimento infantil , este tema continua a não reunir ainda o consenso necessário sobre o potencial impacto das otites médias no desenvolvimento linguístico das crianças. A presente comunicação tem como objetivos principais: (i) contribuir com dados empíricos para a caracterização do desenvolvimento linguístico de crianças com otite média com derrame, especificando o domínio fonológico sob a perspetiva da fonologia não-linear, (ii) descrever o impacto da miringotomia com colocação de TVTT no desenvolvimento linguístico, OMD), e por fim (iii) refletir sobre o impacto destas alterações no desenvolvimento da criança e no seu percurso académico da criança.

INTERVENÇÃO DO TF NA VOZ PEDIÁTRICA:

LINHAS ORIENTADORAS

A intervenção do terapeuta da fala na voz – e, particularmente, na disfonia - pediátrica deve considerar uma série de conhecimentos anatomofisiológicos fundamentais e prévios, os quais se ancoram a uma avaliação compreensiva e multi dimensional da voz da criança. O planeamento desta intervenção tem de considerar, igualmente, os contextos e dinâmicas funcionais do quotidiano da criança (co)associadas ao uso/sobrecarga vocal. Desde abordagens mais tradicionais a abordagens mais modernas e/ou combinadas, a aplicação de técnicas e exercícios (e.g. modulação de tónus, de frequência/altura tonal, de intensidade, de ressonância ou de função respiratória para otimi zar a produção vocal) pode ainda considerar um conjunto estratégias e recursos complementares, com implicações dire tas na eficácia e eficiência da terapia vocal. Por fim, o cruzamento de novas possibilidades como, por exemplo, a junção e adaptação de recursos/ferramentas de coaching, podem também otimizar e, até, acelerar o processo de terapia vocal pediátrica. Acima de tudo, as linhas de base que orientam a intervenção nesta área devem encontrar-se fundamentadas em evidência científica, mas também em pensamento crítico e raciocínio clínico com sólidas premissas funcionais.

REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022
O IMPACTO DAS OTITES MÉDIAS NO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL: O QUE PRECISAMOS AINDA SABER?
Ana Catarina Baptista (Terapeuta da David Guerreiro (Terapeuta da
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RESUMOS DAS JORNADAS DE TERAPIA DA FALA ULSLA: DESAFIOS AO LONGO DA INFÂNCIA SANTIAGO DO CACÉM, 13 DE MAIO DE 2022
Fala, acjesus@ualg.pt)
Fala, davidmnguerreiro@gmail.com)

A NOSSA VIAGEM - FENDA LABIOPALATINA

As Fendas Labiopalatinas (FLP) representam as malformações congénitas mais frequentes da face e pescoço no ser hu mano (CEN, 2015; Correia, 2015). Podem manifestar-se de forma isolada ou associada a síndromes genéticas e caracte rizam-se por aberturas em regiões anatómicas que deveriam estar íntegras (Peterson-Falzone et al., 2017; Correia, 2015; Mossey et al., 2009). As FLP comprometem as estruturas e as várias funções do sistema estomatognático e o processo de reabilitação do indivíduo com FLP é longo, tendo início, e quando possível, desde o desenvolvimento intrauterino até à idade adulta.

A intervenção nas FLP exige a aplicação de um protocolo de atuação bem estabelecido e por uma equipa multidisciplinar experiente e coesa. Os Terapeutas da Fala têm um papel imprescindível na equipa e na reabilitação total do indivíduo, ao longo do seu crescimento. A comunicação “A nossa viagem – Fenda Labiopalatina” pretende de uma forma simples e breve, dar a conhecer as várias fases pelas quais uma criança com FLP vive e experiencia o seu desenvolvimento com o apoio terapêutico. Contado na primeira pessoa, o menino Manuel Costa de sete anos, conta-nos a sua “viagem” com a Terapia da Fala e com todos os desafios e conquistas que ultrapassou e alcançou, respetivamente.

RECUSA ALIMENTAR OU FALTA DE AUTONOMIA?

O momento da refeição é das alturas mais importantes no dia-a-dia de uma criança, não só pela questão nutricional, mas por ser um momento rico de experiências.

As crianças aprendem a alimentar-se de maneira segura e eficiente dentro de um contexto total que inclui comunicação, socialização, exploração, relaxamento, crescimento físico, saúde e bem-estar. O conceito de refeição envolve uma relação com os alimentos e com as pessoas envolvidas durante o ato de comer (Junqueira, 2019).

A alimentação é uma viagem sensorial incrível que inicia mesmo antes da primeira garfada. Muitas são as crianças que apresentam recusa alimentar. Sendo esta multifatorial, o ambiente e os comportamentos do mesmo, devem ser algo a Aconsiderar.criançadá

sinais de quando está preparada para iniciar a alimentação complementar, e sabe qual o ritmo confortável, o quê e a quantidade desejada e satisfatória para suprir as suas necessidades (Morris, 2019). Cabe-nos a nós adultos observar os sinais e perceber que a alimentação não é estanque e se modifica ao longo do tempo, contribuindo para que este possa ser um momento prazeroso para toda a família. O desenvolvimento adequado e suficiente das habilidades para que uma criança se alimente envolve o inter-relaciona mento e a interconexão de diversas funções do corpo, sendo essencial ampliar o foco para além das questões orais, valorizando a importância da refeição para a criança e a família.

Mariana
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Alface (Terapeuta da Fala, marianalface@gmail.com) RESUMOS DAS JORNADAS DE TERAPIA DA FALA ULSLA: DESAFIOS AO LONGO DA INFÂNCIA SANTIAGO DO CACÉM, 13 DE MAIO DE 2022 REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022

MaPA - MANUAL PARA O PLANEAMENTO DA ATUAÇÃO TERAPÊUTICA EM CASOS COMPLEXOS DE APRAXIA DA FALA NA INFÂNCIA

No âmbito das Perturbações dos Sons da Fala (PSF), a Apraxia da Fala na Infância (AFI), também designada como Dis praxia Verbal de Desenvolvimento (DVD), continua a ser uma condição que muitas dúvidas suscita no que às melhores práticas para a avaliação e intervenção em Terapia da Fala diz respeito.

Se a nível internacional são já reconhecidos procedimentos de avaliação e metodologias para intervenção sustentadas por evidência científica, em Portugal ainda escasseiam recursos e linhas de orientação neste domínio. Para complementar ferramentas já existentes, como a checklist para despiste de dificuldades e o algoritmo orientador da avaliação terapêutica, o autor da comunicação apresenta o MaPA – Manual para o Planeamento da Atuação Terapêutica em Casos Complexos de Apraxia da Fala na Infância

Enquanto guião orientador para a intervenção, o MaPA resulta de uma vasta revisão narrativa sobre o tema das PSF e da AFI, a fim de definir sete etapas fundamentais na intervenção terapêutica. Tal como um mapa, procura orientar clínicos na identificação de competências a estimular e na definição de objetivos terapêuticos, para estabelecer planos de intervenção reflexivos, abrangentes e dinâmicos. Seguiu-se a validação de conteúdo através da metodologia de painel de peritos, com especialistas de renome a nível internacional. Planeia-se, ao disseminar este recurso, envolver profissionais num teste de usabilidade do MaPA, incorporando sugestões de melhoria que adequem a proposta apresentada à prática de terapeutas a nível nacional. Aceitaria este desafio?

Atualmente assiste-se com naturalidade à sobrevivência de bebés abaixo das 30 semanas de gestação, o que há mais de uma década era considerado inimaginável. Contudo esta realidade ocasionalmente traz implicações ao nível do desen volvimento infantil nomeadamente alimentar. Sabemos que o cérebro dos bebés é munido de uma arma poderosíssima, a neuroplasticidade, e que a sua força está diretamente relacionada com a precocidade da intervenção e se pensarmos que as questões alimentares podem estar (e normalmente estão) associadas a alterações respiratórias, gastrointestinais, neurológicas e/ou metabólicas, é em ambiente hospitalar que conseguimos alargar a nossa rede de cuidados e a nossa equipa interdisciplinar para com aquele bebé/família. Dependendo da idade gestacional do recém-nascido, estado clínico, patologias associadas ou alterações na morfologia craniofacial, irão ocorrer alterações na competência oral resultando em desmame precoce, dificuldade no ganho ponderal e, consequentemente, na introdução desnecessária de suplemen tos alimentares. A necessidade de um atendimento especializado nesta área leva a à existência de um profissional de saúde (inserido em equipa interdisciplinar) com formação na prevenção, diagnóstico e intervenção no desenvolvimento das funções orais e que, após uma avaliação especializada e cuidada, intervém directa ou indirectamente por forma a adequar as competências oromotoras. No que concerne à alimentação por via oral, o Terapeuta da Fala é o profissional habilitado para a prevenção e reabilitação das disfunções orais acompanhando o seu desenvolvimento alimentar desde a amamentação e/ou aleitamento, proporcionando assim momentos positivos e prazerosos em redor da refeição e de tudo o que ela representa.

João Canossa Dias (Terapeuta da Fala, joao.dias@arcil.org) Matilde Domingues (Estudante de Terapia da Fala, matildedomingues@ua.pt)
DISFUNÇÃO ORAL NO BEBÉ PREMATURO: O PAPEL DO TERAPEUTA DA FALA NA AMAMENTAÇÃO E ALEITAMENTO
Joana Caçoeiro (Terapeuta da Fala, joana.cacoeiro@chlc.min-saude.pt)
REVISTA
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RESUMOS DAS JORNADAS DE TERAPIA DA FALA ULSLA: DESAFIOS AO LONGO DA INFÂNCIA SANTIAGO DO CACÉM, 13 DE MAIO DE 2022
PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022

PERTURBAÇÕES DE LINGUAGEM: AQUISIÇÃO SINTÁTICA ATÍPICA

O aumento da complexidade sintática tem sido invariavelmente apontado como prejudicado em crianças com história de perturbação de linguagem, nomeadamente em casos de crianças diagnosticadas com Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem (PDL) e Perturbação do Espetro do Autismo (PEA), com diferenças marcadas entre estas e crianças com Desenvolvimento Típico (DT), quer na compreensão como na produção de estruturas sintáticas descritas como envolven do maior nível de complexidade. No estudo de Martins (em prep.), são descritas baixas taxas de produção de subordinadas nas crianças destes dois grupos clínicos, com uma clara tendência de evitação de produção de enunciados complexos, observando a produção alternativa de estruturas mais simples (e.g. estruturas de infinitivo preposicionado, específicas do PE). Adicionalmente, nos dois grupos clínicos, PDL e PEA, são observados elevados níveis de agramaticalidade associa dos à tentativa de produção de enunciados complexos. A análise detalhada das produções das crianças dos grupos PDL e PEA revela ainda diferenças qualitativas na performance dos dois grupos quanto ao tipo e complexidade das orações produzidas, exibindo diferentes tipos de erros na produção de relativas. Também ao nível da compreensão são reveladas dificuldades em estruturas descritas como sintaticamente mais complexas. Estes resultados fornecem indicadores impor tantes sobre o desempenho das crianças, o que poderá contribuir para uma planificação mais sustentada da intervenção linguística, que deve integrar as estruturas linguísticas descritas como sistematicamente prejudicadas em crianças com perturbações de linguagem.

OS MITOS E AS BOAS PRÁTICAS NA COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA

A comunicação faz parte da condição humana. É a principal área de intervenção do terapeuta da fala e este deve aplicar todos os seus conhecimentos teóricos e práticos para a persecução de uma intervenção pautada pela equidade. O re curso à Comunicação Aumentativa e/ou Alternativa (CAA) é uma área de investigação, prática clínica e prática educativa que é utilizada para compensar défices temporários ou permanentes de crianças, jovens e adultos com Necessidades Complexas de Comunicação (NCC). No caso da Perturbação do Espetro do Autismo (PEA), o recurso a sistemas de CAA está, também, assente em prática baseada na evidência (PBE) e o seu principal objetivo é o aumento da intencionalidade e da funcionalidade comunicativa. Apesar de todo o conhecimento adquirido existem frequentemente alguns mitos re lacionados com a CAA: i) a criança ser demasiado jovem para usar o sistema; ii) o sistema afetar o desenvolvimento da fala; iii) ser essencial existirem outras competências previamente adquiridas; iv) a gravidade da perturbação influenciar a implementação do sistema; e v) a obrigatoriedade de uso de um sistema de baixa tecnologia antes de usar alta tecnologia. Estes mitos influenciam negativamente e comprometem muitas vezes o envolvimento e coesão das estratégias aplicadas por todos os elementos da equipa transdisciplinar envolvida. Existem diretrizes internacionais que ajudam a definir e ava liar standards de qualidade na comunicação e um conjunto de boas práticas, amplamente reportadas por vários estudos científicos, que são fundamentais para que o terapeuta da fala seja um verdadeiro agente de mudança.

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da Fala, fam.martins@gmail.com) RESUMOS DAS JORNADAS DE TERAPIA DA FALA ULSLA: DESAFIOS AO LONGO DA INFÂNCIA SANTIAGO DO CACÉM, 13 DE MAIO DE 2022 REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022

A gaguez é uma Perturbação da Fluência na qual o fluxo da fala é interrompido, mas está longe de ser apenas um proble ma de fala, uma vez que poderá afetar diferentes aspetos da vida das crianças que gaguejam. Estudos anteriores têm demonstrado a forma como as crianças percecionam a sua gaguez, no entanto, existe uma es cassez de investigação relativamente à forma como os pais percecionam a perturbação. O presente estudo teve como objetivo explorar a perceção dos pais relativamente ao impacto da gaguez e comparar os resultados com os resultados das crianças. Metodologia: Participaram 50 crianças que gaguejam com idades compreendidas entre os 7-12 anos (média = 9.10; DP = 1.7) e os seus pais, que foram recrutados de várias zonas do país. Realizou-se uma subdivisão do grupo, tendo em consideração a presença/ausência de história familiar de gaguez. Foi utilizado o questionário “Avaliação Global da Experiência Subjetiva da Gaguez” (OASES-S-PT) e uma versão adaptada do mesmo para os pais (OASES-S-P). Re sultados: De uma forma geral os resultados dos pais foram semelhantes aos resultados das crianças. No entanto, no caso dos pais com história familiar de gaguez, verificou-se maior impacto nos parâmetros relacionados com as reações das crianças à gaguez e a sua qualidade de vida. Conclusão: Este estudo reforça a necessidade de desenvolver programas terapêuticos mais personalizados às particularidades de cada grupo específico, assim como destacar a importância do trabalho de parceria com os pais das crianças que gaguejam.

Durante a avaliação de indivíduos com alterações na produção dos sons da fala, o terapeuta da fala depara-se com alguns desafios que podem passar pela identificação adequada das produções de fala, com consequências para a apropriada definição do diagnóstico terapêutico e para o planeamento da intervenção terapêutica (Child Speech Disorder Research Ne twork, 2017). Assim, despender de algum tempo na fase inicial de recolha e de análise dos dados, poderá ter um impacto importante na redução do tempo total de intervenção (Howard & Heselwood, 2002).

No contexto clínico, a avaliação da produção dos sons da fala depende essencialmente da avaliação pecetiva/auditiva do terapeuta. Contudo, a perceção auditiva pode ser, por si só, insuficiente para detetar determinadas especificidades foné ticas das produções do falante (e.g.: características próprias das consoantes oclusivas, a duração dos segmentos, o ruído de fricção, a presença/ ausência de vozeamento, etc.). Assim, e ainda que não substituam o importante papel da perceção auditiva, existem técnicas complementares à avaliação do terapeuta da fala que podem ser bastante informativas, das quais se destaca a análise acústica. Este recurso permite não só a identificação de propriedades acústicas que podem não ser detetadas pelo ouvido humano, mas também possibilita o estabelecimento de relações acústico- articulatórias (Kent et al., 2010; Wertzner et al.2017; Stemberger & Bernhardt, 2019).

Pretende-se que no final desta comunicação se possa dar resposta à seguinte questão: De que forma poderá a análise acústica contribuir para a avaliação e intervenção em terapia da fala, ao nível das alterações de produção dos sons da fala?

O IMPACTO DA GAGUEZ NA PERSPETIVA DOS PAIS DAS CRIANÇAS QUE GAGUEJAM
[‘SAPU], [‘ʃAPU] OU [‘SAPU]?: CONTRIBUTOS DA ANÁLISE ACÚSTICA PARA A AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO DO TERAPEUTA DA FALA
Mónica
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Rocha (Terapeuta da Fala, tfmonica.rocha@gmail.com) Susana Rodrigues (Terapeuta da Fala, sfrodrigues@ualg.pt) RESUMOS DAS JORNADAS DE TERAPIA DA FALA ULSLA: DESAFIOS AO LONGO DA INFÂNCIA SANTIAGO DO CACÉM, 13 DE MAIO DE 2022 REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022

DISFAGIA PEDIÁTRICA - O PAPEL DO TERAPEUTA DA FALA EM CONTEXTO HOSPITALAR

Ana Marques (Terapeuta da Fala, anamarquestf@gmail.com)

Os avanços tecnológicos na área da medicina nos últimos 30 anos contribuíram para a diminuição da mortalidade neo natal e pediátrica, principalmente nos casos de recém-nascidos de pré-termo e de risco. Esta população, entre outros problemas associados, poderá apresentar dificuldades para se alimentar eficientemente por via oral. Esta nova atualidade, também trouxe para o terapeuta da fala (TF), novos desafios no âmbito da intervenção ao nivel da disfagia, em contexto de cuidados intensivos neonatais e pediátricos.

O TF, enquanto elemento integrante na equipa multidisciplinar da neonatologia e pediatria, é o profissional mais habilitado para avaliar e tratar as alterações de deglutição (Piccioni et al., 2018). No tratamento da disfagia, atua com o objetivo de prevenir e reduzir complicações, através da intervenção para a obtenção de um mecanismo da deglutição seguro e eficaz (ASHA, 2004). A contribuição desta intervenção, visa a diminuição das taxas de complicações clínicas relacionadas à disfunção, reduzindo o tempo de internamento e a taxa de reinternamentos por pneumonia de aspiração. (Hinchey et al., Em2005).contexto hospitalar (seja numa unidade de cuidados intensivos seja no serviço de pediatria), a intervenção do TF tem como principal objetivo a promoção de uma alimentação segura e eficiente, no que se refere a questões nutricionais, gan ho de peso e também na minimização de riscos de aspiração ou stress excessivo (Hawdon et al., 2000). Neste contexto, observa-se a necessidade de avaliações planeadas e controladas, de modo a se estabelecer um plano de intervenção com métodos e objetivos, que permitirá guiar a intervenção, possibilitando a orientação e colaboração na gestão da disfagia com os restantes membros da equipa (Gosa et al., 2020).

TERAPIA DA FALA NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA LEITURA/ESCRITA: DE QUE ESTAMOS A FALAR?

Em cada sala de aula pode existir pelo menos um aluno que, apesar de ter um QI não verbal adequado à sua faixa etária, não consegue aprender a ler e a escrever por dificuldades de linguagem. Estes dados demonstram que as dificuldades de linguagem vão ter um impacto crucial nas aprendizagens escolares e, consequentemente, repercussões a nível social, emocional e, futuramente, profissional. O terapeuta da fala tem um papel fundamental na prevenção, avaliação e interven ção das dificuldades existentes ao nível da linguagem oral e escrita.

A Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem é uma alteração de linguagem de carater neurobiológico e permanente que atinge 3% a 7% das crianças. A intervenção precoce do terapeuta da fala poderá minimizar o impacto destas dificul dades na linguagem oral e, consequentemente, na linguagem escrita.

Torna-se determinante capacitar e orientar os cuidadores e agentes educativos na aplicação e generalização das estraté gias, facultadas em sessão de terapia da fala, em todos os contextos do dia-dia da criança.

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RESUMOS DAS JORNADAS DE TERAPIA DA FALA ULSLA: DESAFIOS AO LONGO DA INFÂNCIA SANTIAGO DO CACÉM, 13 DE MAIO DE 2022 REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022

CRIANÇAS COM ALTERAÇÕES FONOLÓGICAS: DESAFIOS NA AVALIAÇÃO E NO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL, DA ORALIDADE À ESCRITA

Margarida Ramalho (Terapeuta da Fala, margaridamcramalho@gmail.com)

A fonologia é uma disciplina da Linguística e simultaneamente um módulo linguístico inerente ao funcionamento da lin guagem humana. Através do seu estudo, é possível entender fenómenos de evolução da língua, compreender melhor os processos de aquisição da mesma e os processos envolvidos na aprendizagem da modalidade escrita da língua.

O desenvolvimento da fonologia depende, entre outros, de aspetos relacionados com a perceção auditiva e vários estudos têm salientado o seu impacto como fator promotor da estabilização das representações fonológicas na criança. Por outro lado, a criança, aprimora as suas capacidades de produção durante os primeiros anos de vida, sendo a fonologia o pri meiro módulo a estabilizar. Contudo, o facto de existir um aparente domínio da fonologia, observável nas produções das crianças, à entrada para o 1º ciclo, estas continuarão a necessitar de manipular unidades fonológicas, de forma mais ou menos explícita, no contacto com a ortografia.

Assim, a existência de alterações fonológicas pode manifestar-se de diferentes formas ao longo do desenvolvimento da criança, podendo tornar-se um desafio o estabelecimento do diagnóstico diferencial.

Com este trabalho, pretende-se refletir sobre a presença dimensão fonológica em vários quadros clínicos que são do âmbito de atuação do terapeuta da fala, como sejam as perturbações dos sons da fala de base fonológica, a perturbação do desenvolvimento da linguagem e a perturbação da aprendizagem específica. Pretende-se ainda, à luz da fonologia não linear, descrever as variáveis fonológicas relevantes, nas suas diferentes dimensões, a incluir na avaliação destas crianças e contribuir para o debate sobre o tema.

FREIO DE LÍNGUA CURTO E OS POSSÍVEIS IMPACTOS FUNCIONAIS

Susana Lamas (Terapeuta da Fala, susana.lamas7@gmail.com)

Nos últimos anos o freio lingual (anquiloglossia) tem vindo a ser cada vez mais discutido internacionalmente, contribuindo para o aumento de pesquisas recentes relacionadas com os impactos da mesma, não só na amamentação, funções do sistema estomatognático, bem como em alterações no desenvolvimento craniofacial, oclusão entre outros. Pretende-se, com esta breve abordagem, que os participantes fiquem com uma clara compreensão dos impactos funcio nais relacionados com a anquiloglossia.

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RESUMOS DAS JORNADAS DE TERAPIA DA FALA ULSLA: DESAFIOS AO LONGO DA INFÂNCIA SANTIAGO DO CACÉM, 13 DE MAIO DE 2022 REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022

Telma Pereira (Terapeuta da Fala, telma.pereira@ess.ips.pt)

Tradicionalmente, o processo de avaliação da linguagem oral e escrita, complexo mas indispensável ao diagnóstico e ao planeamento da intervenção, é apoiado na utilização de instrumentos padronizados, com referência à norma ou ao critério. A utilização de instrumentos de avaliação, sensíveis e apropriados, para além de exigir um conhecimento das competên cias a avaliar, exige ainda um conhecimento preciso do que está afetado no contexto de cada perturbação (Costa et al., 2016). A identificação de possíveis marcadores clínicos para a patologia é fundamental não apenas para a análise dos dados obtidos através da aplicação dos instrumentos, como também para a identificação de competências lacunares nas avaliações validadas e padronizadas para a língua e sistema ortográfico em análise. Neste sentido, surgem como compe tências nucleares de avaliação fundamentais para o desenvolvimento da linguagem oral e para a aprendizagem da lingua gem escrita: i) memória de trabalho fonológica (Barboza et al., 2015) através de tarefas de repetição de frases (Gavarró, 2017) e repetição de pseudopalavras (Kalnak et al., 2014); ii) estratégias de procura e recuperação do léxico, através de provas de fluência verbal sublexical, lexical e ortográfica (Ladányi & Lukács, 2019) e nomeação automática rápida (Silva Junior et al., 2019); iii) leitura e escrita de pseudopalavras (Herrmann et al., 2006).

AVALIAR PARA ALÉM DO ÓBVIO – DESAFIOS NA AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA
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RESUMOS DAS JORNADAS DE TERAPIA DA FALA ULSLA: DESAFIOS AO LONGO DA INFÂNCIA SANTIAGO DO CACÉM, 13 DE MAIO DE 2022 REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022

REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA | VOLUME 13 - ANO X - 2022AGRADECIMENTOS

Pelo seu valioso contributo e empenho no desenvolvimento da ciência em Terapia da Fala, a Direção da RPTF deixa o seu agradecimento a todos os membros do conselho editorial e outros elementos externos envolvidos.

CARTA AO EDITOR

Joana Rato

REVISÃO CRÍTICA DE OBRAS

Cátia RicardoCatitaSantos

COMISSÃO ORGANIZADORA

DAS “JORNADAS DE TERAPIA DA FALA ULSLA: DESAFIOS AO LONGO DA INFÂNCIA”

Ana Jorge Ana Rita Pontes

Cristiana de Jesus Daniela Duarte Íris MariaBonançaAlexandra Afonso

Soraia Pereira

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Neste volume da Revista Portuguesa de Terapia da Fala a Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala tem a honra e o privilégio de anunciar a Indexação ao Índex das Revistas Médicas Portuguesas (índexRMP).

O índexRMP reúne, há 30 anos, os resumos dos artigos de todas as publicações médicas portuguesas e de áreas relacionadas com a Todossaúde.os volumes desta publicação passam assim a estar disponíveis. Em Portugal, a RPTF é a única revista científica na área da Terapia da Fala, tendo o seu primeiro número sido publicado no mês de dezembro do ano de 2013. Um agradecimento especial a todos aqueles que, ao longo destes 9 anos de existência contribuíram, com empenho e dedicação, para a concretização deste ojetivo.

In this volume of the Portuguese Journal of Speech and Language Therapy, the Portuguese Association of Speech and Language Therapists has the honour and privilege to announce the Indexation to the Index of Portuguese Medical Journals (indexRMP). The indexRMP has gathered, for 30 years, the abstracts of articles from all Portuguese medical publications and health-related areas. All volumes of this publication are now available. In Portugal, RPTF is the only scientific journal in the field of Speech and Language Therapy, and its first issue was published in December 2013.

A special thanks to all those who, throughout these nine years of existence, have contributed, with commitment and dedication, to the achievement of this objective.

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