DICA DE FILME
Transcendendo Fronteiras: Migração e Saúde Mental
“O que ficou para trás” *Pedro Víctor Santos de revisitar suas lembranças, dão a nós, que os acompanhamos, a possibilidade de compreender que aquilo que fica para trás não vai embora. Ao longo do filme nos deparamos com questões sobre ser arrancado de sua casa, do horror que é não ter um lar, e de como não existe a possibilidade de esquecer. Nas paredes da casa se escondem os fantasmas. Estão lá, por trás das aparências, e são parte fundamental da estrutura, aquilo que sustenta tudo. Basta o buraco na parede para nos mostrar o fio que puxa as lembranças mais dolorosas e que não se desejaria ter. Para que o casal possa viver sua vida onde estão, é necessário se adaptar à nova realidade em uma terra desconhecida e que fecha os olhos às tradições daqueles que chegam. O ambiente se mostra hostil e até mesmo aqueles com quem se poderia identificar - os jovens negros da cidade - se mostram não acolhedores e reproduzem violências típicas do Ocidente diante de culturas desconhecidas. “Volta para a África” diz um dos jovens negros à personagem protagonista. Em 2020 a Netflix lançou o filme de produção inglesa “O que ficou para trás” (His House, dir. Remi Weekes). O longa-metragem tem como mote acompanhar um casal de refugiados do Sudão do Sul se adaptando à nova vida que lhes é dada na Inglaterra. Com uma premissa de assombração, que traz fantasmas e sustos ao espectador, seria esperado um filme para comer pipoca e não se preocupar muito com tramas. No entanto, o espectador se depara com reflexões que podem assustar ainda mais, causando sentimentos inquietantes. Ao trazer o tema da adaptação a uma nova realidade de vida, nos vemos ao lado dos protagonistas, descobrindo aos poucos aquilo que ocorre com eles e, conforme avançam e tomam coragem 14
O XV Congresso Gaúcho de Psiquiatria tem como tema central “Transcendendo Fronteiras: Novos Horizontes em Saúde Mental”, para nos convidar a expandir nossa mente em busca de soluções para a realidade na qual vivemos, onde as culturas são ao mesmo tempo globais e locais, e que a história, diferente da tipicamente ocidental, traz o desconforto àqueles que recebem os imigrantes. Apesar de sermos uma sociedade conectada, cujas fronteiras são cada vez mais fáceis de serem cruzadas e de pessoas transitarem entre elas de forma nunca antes vista - vide a disseminação do coronavírus globalmente -, é possível enxergar que há uma parcela da população que conhece bem o que é ter portas fechadas para si, enquanto assistem a outras pessoas tendo as portas escancaradas para elas.