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Ao Mestre, com nossa melhor memória / Flávio Milman Shansis
from JA - Julho/2021
by APRS
HOMENAGEM A IVÁN IZQUIERDO
Ao Mestre, com nossa melhor memória
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Flávio Milman Shansis*
Foi no meado dos anos 90 que tive o privilégio de me aproximar do Mestre, o Professor Iván Izquierdo. Na realidade, fui aproximado pelas mãos do querido Carlos Alexandre Neto, o Alex, nosso ex-Reitor da UFRGS. À época, em 1995, havíamos formado um grupo de estudos em Neuroquímica junto à Residência de Psiquiatria do HCPA. Faziam parte do grupo, além do Alex, outro Professor do Departamento de Bioquímica da UFRGS, o igualmente querido Renato Dutra Dias. Os dois professores nos coordenavam nessa tarefa. Éramos alguns psiquiatras abertos a aprender com eles: Aristides Cordioli, Marcelo Fleck, Gisele Gus, Eugenio Grevet, Luciana Nerung e eu. Pois foi a partir deste grupo que fui encaminhado para conversar com o Mestre sobre um possível mestrado.
Recebido na Bioquímica, pelo Mestre, já famoso e importante pesquisador, recebi dele o mesmo tratamento que dava a todos os que o procuravam. Foi extremamente receptivo, curioso e empático. Aceitou me orientar em um ensaio clínico com humanos, mesmo trabalhando basicamente com modelo animal. O tempo ao seu lado, e de tantos queridos colegas que faziam parte do seu Laboratório de Memória - primeiro no antigo prédio de Biociências e depois no novo prédio da Bioquímica - foi um tempo de riquíssimo aprendizado. Não apenas sobre os mecanismos de memória, mas de como formar um verdadeiro time de pesquisadores, de como ser líder e, ao mesmo tempo, ter a humildade para ouvir um aluno de primeiro semestre de graduação com o mesmo respeito com que ele discutia com um pesquisador internacional. Depois do mestrado, segui com o Mestre em um doutorado não acabado, quando ele se mudou para a PUCRS.
Seguimos nos encontrando em muitos Congressos e Simpósios. Tive a honra de convidá-lo algumas vezes para participar de eventos da APRS, para os quais nunca recusou. Nos encontramos, nos últimos anos, em várias ocasiões em um restaurante japonês perto de nossas ca-
* Flávio Milman Shansis
sas e, em cada encontro, o mesmo sorriso abertamente generoso e o mesmo abraço afeticvamente carinhoso.
Hoje, como professor e coordenador de um Programa de Pós-Graduação, tendo uma equipe com mestrandos e alunos de iniciação cientifica a liderar, o modelo que me vem à mente é o modelo do Mestre. O modelo de um verdadeiro pesquisador, sensível, ávido por conhecimento, preocupado com sua equipe e um grande contador de histórias. Histórias em que ele ria muito ao contá-las e fazia a todos nós rirmos juntos. Conversas que iam dos intrincados mecanismos da memória, a questões futebolísticas, à indignação com os desmandos do país e que terminavam, muitas vezes no seu “amigo” Jorge Luís Borges. Foi dessas conversas que conheci “Funes, el memorioso”, assim como foi dessas conversas que, encantado, conheci aquele brasileiro/argentino que, tivesse vivido em um país mais ao norte, teria, com certeza, recebido um Prêmio Nobel de Ciência. De uma forma ou de outra, o Mestre Iván Izquierdo, contribuiu para a Ciência como um todo e também para a Psiquiatria Gaúcha em particular, formando muitos de nós que seguimos esse pacto transgeracional de transmissão de conhecimento. Querido Mestre, estarás para sempre na nossa Memória e daqueles que nos sucederem.