Revista Kéramica n.º 371 Julho / Agosto 2021

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Competências e Qualificação

Desenvolver este ecossistema requer políticas públicas fortes, e um exercício de gestão com algum talento. Primeiro, é preciso compreender a tipologia de competências que contribui de modo direto, ou indireto para estes objetivos. Exemplo de empregos diretos estão os serviços essenciais de ambiente, as energias renováveis, a reparação ou a gestão de materiais. Os empregos indiretos dão o suporte à aceleração dos primeiros: engenheiros, gestores de informação e compras, logística ou educação. Também é preciso medir, não só em número, mas também o impacte destas atividades nos indicadores económicos, de bem-estar social e salvaguarda ambiental. E também é preciso aceitar que há empregos e atividades que irão acabar por se extinguir ou terão de ser transformados, com novo conhecimento. E para evitar convulsões sociais é importante planear essa transformação. O programa do Governo inclui medidas para avaliar as competências existentes para uma economia neutra em carbono e circular, com vista a desenvolver uma agenda de novas competências, diferenciadas consoante o nível de formação, desde a alta especialização (remanufatura, tecnologias renováveis), média especialização (reparação) até à baixa especialização (recolha). São desafios que a indústria da cerâmica e do vidro enfrentam, e que determinará um perfil de qualificações necessárias: • Desafio 1 – Pensar de forma circular e sistémica na indústria do vidro e da cerâmica; • Desafio 2 – Inovar o processo de fabrico e valorizar resíduos/subprodutos;

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• Desafio 3 – Promover estratégias circulares de negócio e simbioses industriais. O Ministério do Ambiente e da Ação Climática desafiou a Secretaria Geral do Ambiente a promover o estudo “O Futuro do Trabalho: Análise do emprego e evolução das competências para responder à transição para uma Economia Circular em Portugal”, que irá ao encontro da Agenda de Competências e do Pacto para as Competências lançado em 2020, que assenta na transição digital e ecológica. A Secretaria Geral prepara-se para lançar workshops em setembro para melhor aprofundar a disseminação da consulta e o entendimento sobre a tipologia de funções associadas. A procura por este tipo de qualificações e conhecimento está aí, espelhada nos critérios exigidos no âmbito dos apoios PRR aos objetivos da Declaração do Porto. E já se verifica no terreno a dificuldade da resposta nacional: nos concursos que ficam vazios, na falta de conhecimento sobre a aplicação destes princípios à organização e processo, na carência de formação técnica referida por várias associações de setores especializados. Como se vê, o desafio da descarbonização é muito, muito mais do que um desafio tecnológico. É também um desafio social, comportamental, de valores pessoais, que exige políticas, a substituição e/ou novos conteúdos curriculares, (re)formação adulta regular, entre outras soluções. O Ministério do Ambiente e da Ação Climática, através dos programas de formação financiados pelo Fundo Ambiental (p.ex. ProResíduos, ProÁguas) tem contribuído para esta transformação. O que esperamos é que as empresas, universidades e politécnicos acompanhem esta necessária evolução, que também se lhes exige.

Julho . Agosto . 2021


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