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Entrevista

Estamos a construir um Porto de Aveiro mais verde, mais conectado e mais eficiente

Olhando o Porto de Aveiro no contexto portuário nacional quais os fatores que o diferenciam? Fátima Alves - Fruto dos investimentos públicos e privados e da cooperação com os principais agentes económicos que aqui operam, entre 2015-2019, o Porto de Aveiro registou um acréscimo no movimento de mercadorias de cerca de um milhão de toneladas, a uma taxa de crescimento média anual de 5%. O reconhecimento do Porto de Aveiro como importante infraestrutura industrial e logística nacional assenta na capacidade instalada de promoção do desenvolvimento socioeconómico da região centro, mas também, no seu contributo e potencial de crescimento como infraestrutura âncora de coesão e competitividade territorial integrada no corredor ferroviário internacional norte que liga Aveiro a Vilar Formoso. As amplas áreas disponíveis para a instalação de unidades industriais com acesso à construção de cais marítimos privativos, a fluidez das operações portuárias, as excelentes acessibilidades ferroviárias e rodoviárias aos portos secos e às plataformas logísticas do seu hinterland são fatores diferenciadores e de competitividade, únicos no panorama portuário nacional. O futuro do Porto de Aveiro passa, seguramente, por uma aposta na diferenciação pela inovação nos serviços prestados, bem como pela sua capacidade de concretizar investimento público e de atrair investimento privado para se adaptar aos desafios que se colocam ao setor portuário.

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Que investimentos e que estratégia de desenvolvimento entende prioritários para o Porto de Aveiro em 2021? Fátima Alves - São duas as principais linhas de desenvolvimento estratégico em que se alicerçam os investimentos mais significativos para a próxima década no Porto de Aveiro. A primeira prende-se com a melhoria das condições de navegabilidade, o reforço da conectividade marítima-ferroviária e a capacitação da Zona de Atividades Logísticas e Industriais (ZALI). Esta assenta em três projetos estruturantes: o primeiro, a conclusão da infraestruturação da ZALI, que será iniciada em breve e estará concluída no final deste ano, e que permitirá terminar a infraestruturação de uma área de 45 hectares, e que é estratégica para a expansão do porto e aumento da sua capacidade, tendo um potencial de frente cais de mais 800 metros; o segundo, a conclusão do estudo de melhoria das condições de navegabilidade da Barra de Aveiro, que visa dar resposta ao aumento da procura pelo porto de navios de maior dimensão (maior boca); e terceiro, o lançamento do concurso para a construção do terminal intermodal ferroviário, para receção de composições ferroviárias com 750 metros de comprimento, com o objetivo de melhorar a conetividade marítimo-ferroviária. Estes investimentos são estratégicos para a expansão da capacidade física do porto, para o aumento da sua atratividade nas cadeias logísticas de transporte, no sentido de induzirem uma redução dos custos das indústrias da região centro e potenciarem a captação de investimento privado, com o consequente aumento da rentabilização dos espaços dominiais, em particular da ZALI, e da atividade portuária. Realço que a recente Unidade de Produção de Estruturas Metálicas Offshore da ASMI Offshore, instalada na ZALI, demonstra a importância deste porto para o desenvolvimento da região e da competitividade do seu tecido empresarial. Os serviços prestados à indústria onshore e offshore provam a capacidade do Porto de Aveiro para criar um cluster ligado a estas indústrias nos seus mais variados âmbitos, contribuindo, assim, para o crescimento da economia do mar. A segunda linha de desenvolvimento estratégico é absolutamente estruturante para o salto qualitativo e diferenciador do Porto de Aveiro: a Estratégia para a

Transição Energética e a Digitalização. O próximo triénio destaca-se pela aposta em investimentos destinados a promover a transição energética e a desenvolver e implementar o conceito de “Green and Smart Port”. Para cumprir este desígnio estão já envolvidos todos os parceiros da comunidade portuária de Aveiro através de ações que visam o aumento da eficiência de toda a atividade portuária, assente na utilização de mais e melhor tecnologia, como seja, o reforço da monitorização do seu desempenho ambiental com recurso a tecnologia 5G, IoT e machine learning, sendo o Porto de Aveiro o primeiro porto a instalar um “piloto” assente em tecnologia 5G, em parceria com a EFACEC, para o desenvolvimento de um “Sistema Piloto de Controlo de Passagem de Nível 5G”, fruto de um projeto liderado pela ALTICE. Destaco ainda a utilização de biocombustíveis verdes no trem naval do porto, a implementação de Eco-bunkers e a preparação do porto para a instalação de uma rede de energia onshore para abastecimento aos navios e a sensorização de todas as atividades do porto. Estamos certos que o automatismo das operações gerará mais rotatividade e rapidez na movimentação das cargas e que estes serão fatores chave para a atratividade do porto e a competitividade das indústrias exportadoras da região.

O Porto de Aveiro (e Figueira da Foz) foi pioneiro na implementação da Janela Única Logística. Como está a correr? Vê ganhos de eficiência? Fátima Alves - Estamos ainda em processo de adaptação à mudança. De uma forma geral, diria que a JUL está claramente a assumir um papel de acelerador de novas metodologias de trabalho, e é, por isso, um grande desafio em matéria de articulação com todas as autoridades, agentes e operadores. Acreditamos que a implementação da JUL em pleno contexto pandémico veio acelerar a necessidade de desmaterialização e digitalização de todos os métodos de trabalho da autoridade portuária e dos seus parceiros de negócio, o que traz vantagens evidentes na melhoria a médio prazo na prestação de serviços pelo porto.

Uma das ambições estratégicas do Porto de Aveiro é a conquista dos segmentos de contentores e Ro-Ro. Como visiona a sua concretização? Fátima Alves - A concretização da ampliação do terminal de contentores e ro-ro, bem como a conclusão da infraestruturação da ZALI, o investimento recente na iluminação noturna e a aposta no reforço da equipa de pilotagem em 2021, possibilitam, já hoje, ao Porto de Aveiro captar serviços de linhas regulares de contentores e/ou ro-ro. Realço que todos os industriais da Região de Aveiro há muito têm transmitido a sua vontade e aspiração para que o Porto de Aveiro tenha esta oferta de serviços. Estamos a estudar e a trabalhar novas oportunidades, estamos preparados para esta aposta comercial e para a diversificação das cargas e entrada de novos serviços.

Como são as expetativas de movimento portuário para o ano 2021? Fátima Alves - O ano de 2021 iniciou-se com marcas históricas: em janeiro foram movimentadas 545 mil toneladas, o valor mais elevado registado em janeiro e o quarto melhor mês de sempre, com um crescimento de 14% face a 2020. Este resultado esteve associado ao crescimento dos produtos florestais, produtos agroalimentares e produtos químicos. Os próximos meses geram ainda incerteza, face ao contexto da pandemia global, mas esperamos um ano mais positivo que 2020.

O foreland do Porto de Aveiro ainda é essencialmente o mercado europeu? Fátima Alves - Hoje o Porto de Aveiro tem um foreland mais diversificado, pois já se assume como porto Transatlântico, tendo conquistado competitividade nos mercados do Brasil e América do Norte, face ao seu crescimento na importação de matéria-prima agroalimentar e na exportação de componentes onshore e offshore. Face ao espaço dos seus terraplenos, tem vindo a reforçar o seu papel na movimentação de cargas de projeto, com especial destaque para a movimentação de componentes ligados às energias renováveis, como pás e torres eólicas.

Os portos podem ter um papel fundamental no combate às alterações climáticas nas regiões em que se inserem. Que projetos tem vindo o Porto de Aveiro a desenvolver nesta matéria? Fátima Alves - Inserido numa área de elevada sensibilidade ecológica (Rede Natura 2000), o Porto de Aveiro tem feito um longo caminho em matéria de sustentabilidade ambiental, envolvendo-se em vários projetos de I&D&I, em parceria com outras entidades, dos quais se destacam o projeto JUMP – Joint Action, que visa o desenvolvimento de ferramentas web para mapeamento do ruído subaquático, o projeto EMERGE, que visa avaliar, controlar e mitigar os impactos da emissão de gases pelo tráfego marítimo no ambiente, e o projeto Ecclipse, que visa estudar o impacto das alterações climáticas nas instalações e operações portuárias. A remoção de inertes da ZALI para reforço do cordão litoral entre a Costa Nova e a Vagueira foi o maior “shot” alguma vez ocorrido em Portugal, executado em parceria com a Agência Portuguesa do Ambiente e que constituiu em 2020 o projeto com maior impacto na zona do porto. Este foi um projeto nacional exemplar em matéria de economia circular e ambiental, pois os dragados foram reutilizados para o reforço do cordão dunar a sul do porto. De igual modo, foi uma ação de responsabilidade social, respondendo aos anseios da comunidade local, reduzindo o impacto visual, pela eliminação da barreira de inertes, e de elevado benefício económico, por permitir o desenvolvimento do porto.

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