Zigue Zague

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Instituto Casa de Criadores

Zigue Zague Amanda Nascimento · Amanda Raielly · Ana Coutinho Ananda Bernat · Anderson Paz · André Luiz Andréa Alves · Andrea Souza



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e e u u g i Zag


Instituto Casa de Criadores Qual MODA para qual MUNDO

CURADOR Tarcisio Almeida EQUIPE Amanda Nascimento Amanda Raielly Ana Coutinho Ananda Bernat Anderson Paz André Luiz Andréa Alves Andréa Souza

ARTE DA CAPA Anderson Paz DIAGRAMAÇÃO Ana Coutinho e Anderson Paz REVISÃO Ana Coutinho


dedicado às mais diversas infâncias



s umário 7 Algo se passa quando é no corpo que a experiência acontece Tarcísio Almeida 9 Biomas 13 O sorriso colorido Andréa Souza 17 O vôo das onze Ananda Bernat 23 Flor de Laranjeira meio torta Amanda Raielly 29 Nem todo conto de fadas Amanda Nascimento 35 Nó(s) Ana Coutinho 41 Mergulho ancestral André Luiz 45 A estrada até aqui Anderson Paz 51 Colcha de retalhos Andrea Alves 57 Agradecimentos 60 Créditos


algo se passa quando é no corpo que a experiência acontece Tarcísio Almeida


"No (re)começo… entre terra e céu, um casulo suspenso que um corpo, ainda confuso, rasga para desenrolar sua linha de vida: uma Criança (re)nasce das feridas e das cinzas de um mundo devastado. A sombra da Criança está viva: tão grande quão pequena ela é, tão colossal quando franzina. A Sombra e a Criança: dois corpos que se constroem em fricções, contrapontos e acordes sutis. A Sombra e a Criança: dois pólos magnéticos que, através de um jogo de cordas, (re)lançam um campo de forças criador. Nesse corpo a corpo com a Sombra, a Criança percebe os mortos, dialoga com eles, extrai sabedoria e potência de todas essas vidas que a antecederam, e que se inscrevem - linhas espectrais - em sua própria carne. Fios invisíveis de uma história rasurada que ela retoma: a das condenadas e condenados cujos sonhos abortados precisa realizar sob formas inauditas. Sobreviver num universo em ruínas é se deixar atravessar, deixar-se habitar pelo acréscimo de vida prodigado pelos ancestrais, pelos animados (animais, plantas e povos do infinito pequeno) e pelos elementos: abraçar a própria morte, a potência da sombra e do humos, para renascer. A criança é como junco, só pode cantar e amar pelo entalhe que a abre para o sopro do infinito"1.

Enquanto percorro os escritos de Touam Bona em suas cosmopoéticas retomo nossa breve percorrida dos últimos meses e parece que não há mais nada a dizer. O desejo é forte, a partilha é conviva e o vínculo foi criado. Por agora, nos resta apenas sustentarmos o direito ao prazer da celebração, do abraço em pixels e a espera pela promessa da costela assada em um domingo ensolarado que virá. Virá que eu vi, é assim que diz a música, não? Afinal, algo se passa quando é no corpo que a experiência perpassa. E parece ser no rastro dessas inscrições, muitas vezes ainda não nomeadas, presentes em nossos corpos que nos lançamos. O exercício árduo que por vezes nos fez entrar em contato com as lacunas, ausências e tremores apresentados por nossas histórias rasuradas é o mesmo que nos apresenta a possibilidade de um contato tátil e sensível com a potência de criação em sua mais sublime afirmação. Sendo esse o desafio (ainda em curso) o que apresentamos aqui é um pequeno inventário dessas múltiplas tentativas. Organizados em oito capítulos, as propostas de criação dizem ao mesmo tempo de uma imersão pelas jornadas da infância numa perspectiva das ancestralidades, como da tentativa de documentar e performar materialmente caminhos e possibilidades futuras de criação. Nesse exercício, diferentes metodologias foram criadas através de anotações, diários, contações, revisões fotográficas, processos colaborativos e manualidades. Todas elas com o intuito de fazer subir a superfície formas, estéticas e possíveis caminhos de trabalhos ainda por vir. A colcha de retalhos intitulada Zigue Zague não busca uma coerência pela consonância e unidade mas no desejo sutil da própria diferença.

¹ Dénetèm Touam, Cosmopoéticas do Refúgio. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2020, p. 85 - 86.

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B ioma s B ioma s B ioma s B ioma s B ioma s B io

Amanda Nascimento é uma pessoa apaixonada pelas artes. Graduanda em Design de Moda, formada em Confecção e Moda, e técnica em Auxiliar Administrativo, também é dançarina e contadora de histórias. Se apaixonou pela moda através da dança e dos estudos pessoais de como a roupa interfere e enaltece percepções e sentimentos. Procura desenvolver seus estudos de stylist e produção de moda através da Sevirologia. Acreditando que a moda tem o papel de traduzir suas emoções, projetar desejos e sensações desde os mais básicos até questões políticas e econômicas. Amanda Raielly, interiorana da Bahia, filha de Cida e Edmilson, mulher lésbica, é uma artesã, artista manual do crochê Bacharelanda em Humanidade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), pesquisadora (PROPCI) do Laboratório IMAGINAR MUITO MESMO no Instituto de humanidades, artes e ciências (IHAC) da UFBA, onde busca entender as materialidades e fenômenos particulares do crochê, assim como sua relação com os fenômenos da globalização, questões de gênero e raça. Explora as possibilidades de criação com o crochê na arte e na moda. Ana Coutinho é artesã-artista, fotógrafa e pesquisadora. Graduanda em história da arte pela UFRJ com mobilidade regular na UNCUYO (Argentina), também cursou desenho mecânico e técnico em administração. Atualmente é pesquisadora no projeto ‘Povo em Cena’ (PIBIC-CNPq) e assistente de produção no projeto ComoVer. Em sua produção estabelece cruzamentos com seu cotidiano, suas memórias e seus constantes devaneios, ressaltando sua ligação em torno dos conceitos de troca e de afeto. Ananda é Artesã, especializada em macramê. Em 2016, quando atuava como artista de rua aprendeu seu primeiro ponto de macramê com sua irmã gêmea, então decidiu seguir se desenvolvendo nessa técnica, pesquisando e testando novos pontos, para criar suas próprias peças. Em 2017 deu início à sua página no Instagram, com a qual divulga seus trabalhos artesanais através da marca Anandê (@anandearte). Desde então, participa de feiras, expondo seus trabalhos com macramê e segue criando seus próprios mundinhos, feitos de linhas e nós. 9


André Luiz Oliveira é amazônida, um profissional e entusiasta da cadeia de moda e atua há mais de 12 anos no mercado como gestor apaixonado por varejo em marcas de destaque nacional como Triton, Forum, Coca Cola Jeans e Iódice. Desde 2017, realiza a gestão e a expansão da rede de franquias da marca Colcci nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste como Supervisor Comercial no Grupo AMC Têxtil, onde desenvolve e alinha talentos e oportunidades dentro do setor. Andrea Alves de Araújo, iniciou sua carreira de trabalho em uma empresa de metalurgia. Atuou por muitos anos na área de vendas onde descobriu seu verdadeiro hobby. Com formação técnica em podologia, atualmente segue em formação superior na mesma área. Formada em moda pela Escola SENAI Francisco Matarazzo está há 13 anos à frente da marca Wàrá Okan Moda Afro-brasileira, onde produz moda exclusiva para religiões de matriz africana. Mãe de duas meninas, Victória e Lorena, é extremamente agradecida a Deus. Andrea de Souza, manauara, é bacharel em design de moda pela UEG de Goiás. Apaixonada pela vida e pela moda, atua há mais de 20 anos na área de modelagem e desenvolvimento de coleção, principalmente na área de produção. É dona da marca Rosa Menina moda praia desde 2018 atuando em todo processo de produção abrangendo desenvolvimento de coleção, prototipagem, pilotagem e produção das peças. Solteira, é mãe de dois filhos adultos e aberta às novas oportunidades no mundo da moda e adjacentes é entusiasta do mundo da sustentabilidade.

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Anderson Paz, é fonoaudiologo formado pela Faculdade São Camilo (2008), Líder de equipe em Tecnologia da Informação na empresa Capgemini (2009 - 2014), fotógrafo de moda formado pelo Etec Escola técnica de Carapicuíba (2014), com formação em corte e costura pela ACM (2017), designer de moda autoral, criador da marca SantaPaz Brand onde cuida de todas as etapa de elaboração do produto (criação, modelagem, execução fotografia e comercialização do produto) e atua enquanto Figurinista Assistente na equipe Modativismo.




o sor ri so colo ri do Andrea Souza de Souza

- E ele tem cor? - perguntou o velho Quinha, sentado num tronco de madeira à sombra da tamanqueira.. A inquieta menina respondeu - Sim… Ora pois! o meu sorriso tem todas as cores.. É azul como meu vestido e rosa como os meus laços, é como o arco íris ou o algodão doce… Diante do silêncio retrucou a inquieta menina: - Papai, estou aqui! - Papai eu estou aqui, me vê? - Papai ainda estou aqui, me vê? - e logo os dois gargalharam bem alto. - O sorriso doce e colorido é seu dê a ele a cor que você quiser!

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Tenho muitas lembranças do meu pai, mas nunca vou esquecer do vestido azul de lacinhos e corações cor de rosa que ele me deu. Ele era perfeito…! Com ele me senti a criatura mais linda e amada do mundo, rodava e não queria tirar ele de mim nunca mais, pois tinha medo de perder aquela magia transmitida por aquela peça de roupa. Não me lembro quando o perdi porém ele continua aqui dentro de mim nas minhas lembranças Traduzi essa lembrança em uma peça atual, inserida no processo de upcycling, reaproveitando sombrinhas que seriam descartadas no lixo. Idealizando essa produção me inspirei nesse meu vestido favorito de infância.

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Processo de produção: Imagens de sombrinhas desmontadas, separadas e aplicação do molde Croqui


Azul com cintinho de coração, sandália e laços na cor rosa pink. Trazendo pra mim uma lembrança muito boa da minha infância

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O Vôo das O nz e Ananda Bernat

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Ananda

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Flor de laranjeira meio torta Amanda Raielly

Trago registros de um processo de experimentação com crochê. Teci uma peça com base numa receita criada por minha mãe, para mim, quando tinha cerca de 4 anos. As cores escolhidas por mim se propõem a criar flores no centro da peça. Já toda parte em preto foi feita com ponto “Flor de laranjeira”, o qual não sou muito boa em fazer e por isso a minha peça é construída por flores de laranjeiras meio tortas. A moda, está presente como roupa, mas também como memória e potência criativa, para a eu de hoje, para minha mãe, crocheteira desde os 8 anos de idade, mas também para a “eu” criança que já queria criar, sendo incisiva na escolha das cores da blusa. Nessa trajetória decidi tentar materializar a minha versão da peça , criando também uma conexão da minha infância, ancestralidade, com a moda e com o crochê.

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“estou seguindo um caminho da tessitura estou trançando um caminho da textura que é texto e que é textura do feito”


Blusa feita-pensada por Maria Aparecida, mainha, em 2004 para mim. Em fio de polipropileno, nas cores rosa claro e verde piscina para os quadrados da vovó e preto para junção dos quadrados, colo, mangas e barra. Com botões rosas, que se perderam com o tempo. Na primeira imagem da esquerda você pode ver a trama do ponto “Flor de laranjeira”, muito simétrica.

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Imagens do processo de feitura da minha versão da blusa. Feita com fio de algodão mercerizado, em rosa claro, azul claro e preto. Segui um passo a passo a partir de ligações e fotos enviadas por mainha. Somente mais próxima do final da peça pude pegar, abraçar e observar minuciosamente. Ao lado, uma foto da minha trama do ponto “Flor de laranjeira”.

Quando mainha estava fazendo alguma peça tentava nos distrair, colocava um pouco de fio e agulha nas minhas mãos e de minha irmã. Fazíamos cordões infinitos de correntinhas. Já mainha começou a tecer aos 8 anos, com agulha de arame e barbante de pão. Eu brincava de crochê

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Nas fotos acima podemos ver o resultado material desse processo. Na imagem mais à direita e acima, é possível ver como as “flores de laranjeiras” realmente ficaram tortas, olhando a trama no todo, que estica e ajusta ao corpo. Eu ainda não tenho um ponto de dar orgulho, mas seguirei tentando. Na imagem à esquerda, a blusa num look com calça jeans, por que a peça não foi pensada para ficar guardada, mas para ser incorporada ao meu dia a dia.

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BELEZA

A partir das memórias das maquiagens que minha mãe fazia quando eu era criança. Pele corrigida suavemente, blush rosado com bronzeador, olhos com lápis preto na linha d'água dos olhos e batom vermelho cremoso. Cabelo com bastante volume e definição natural dos fios.

Você encontra mais imagens do processo e o meu diário de criação e imaginação clicando aqui. Ou lendo esse QR code.

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Nem Todo Conto de Fadas

Amanda Nascimento

● Início da vida = Ancestralidade que há em nós

A tal infância me fez refletir sobre como nós trazemos sempre a suavidade ao lembrar e dialogar sobre acontecimentos do passado e resgatar uma leveza para tudo vivenciado, com um ar de nostalgia e agrado. Mas já pararam para pensar do porque modificamos certas lembranças do início da vida?! Se analisarmos de forma racional nem todo acontecido foi um “mar de rosas” e tá tudo bem visualizar certas situações de fora e não tentar minimizar certos fatos. E foi com essa constatação que comecei as minhas pesquisas em mim. A vida adulta me mostrou que é preciso curar sua criança para você finalmente se encontrar, e com toda certeza não ia me curar acessando as memórias cativas

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Todo ser fora do padrão já passou por algum momento de sua infância que a vida lhe deu aquele tapa na nuca e mostrou a realidade, mesmo que de forma minuciosa, aquele momento que você não entende muito bem o que está acontecendo, mas sabe que dói.

Como todo dia normal de brincadeiras e bullying, as meninas da minha sala estavam arranjando pares do grupo de colegas com os meninos de outras turmas. Casal vêm , casal vai chegou o meu momento, foi dito que eu namoraria o garoto X, que apesar de ser padrão não era considerado pelas meninas um ser lá provido de muita beleza, com toda certeza aquele foi um momento de divertimento para todas e eu só fiquei aquele meme com cara de palhaça.

No meu caso foi o momento que me descobri “neguinha” - Você pessoa não preta deve estar se perguntando “mas o que essa menina tá falando?”, bom “neguinha” é basicamente o período da vida de uma preta que é constantemente diminuída pela sociedade, não sendo considerada bonita e muito menos digna de afeto. - Todo acontecido foi no período que tinha meus nove pra dez anos de idade e o no local mais famoso de traumas do ser humano, a escola.

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Mas como tudo pode melhorar, o garoto X escutou toda a chacota que eu estava passando e soltou de forma bem alta e sonora no meio dos corredores “Deus me livre, quem gosta de dragão é São Jorge”… foi aí, nesse exato momento que me vi mínima.

Fui diminuída ao pó, e fora que era uma criança crente, foi o caos mental, comparada a um monstro e ainda colocaram um nome de um santo que nem entendia e acreditava. A partir disso tentei me encaixar em um lugar no qual não me fazia parte e muito menos bem. Mas como o melhor aliado da vida é o tempo, me encontrei e me descobri nas artes, que me fez “trocar de pele”. - Sim meu dragão troca de pele Me permiti nascer de novo, conhecer a textura do meu cabelo, a cultura dos meus antepassados, conhecer minha árvore genealógica e no que acreditavam.

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A vida aconteceu, foram

altos e baixos em uma sociedade claramente racista e machista, e eu cresci, me descobri bonita, bonita não, única. E hoje depois de uma imensa metamorfose, afilhada de Ogum, gostariam que me chamassem de Senhora Dragão.


A ideia inicial do projeto era trazer características que a marca “Senhora Dragão” fosse bem estabelecida, trabalhando com elementos atuais que fossem inspirados na era medieval, era que em em diversas ficções aparecem dragões. A criação se inicia com um croqui para nortear o que poderia ser feito. O processo desde a modelagem até a finalização foi bem desafiador e aberto a mudanças no período de laboratório e aprendizado.

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Veja mais acessando o QR CODE 33


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Nó( s ) Ana Coutinho


Parar Pensar Re-fle-tir Lembrar

O que me lembra a infância? Por que (agora) eu quis fazer um curso de moda? Quais foram minhas primeiras relações com a costura? Preciso saber desenhar? Não sei fazer modelagem, isso importa?

Pequenos flashes começaram a surgir…

Brincadeiras com bonecas; sacos repletos de retalhos da minha tia, que eu junto a outras crianças, amávamos derrubar no chão e brincar de tantos modos quanto nossa imaginação permitisse; os primeiros alinhavos que dei, seguidos dos primeiros botões que preguei…

Uma saudade imensa de tantas coisas que eu já não me lembro, e uma nostalgia tremenda de tantas coisas que ganhei assistindo minha tia costurar naquela máquina verde.

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Como eu fazia as roupa de boneca: Escolhia um pedaço de retalho bem BONITO e fazia o modelo no próprio corpo, prendendo com nós ou com um grampo!

Tantos anos depois dessas brincadeiras, segui os mesmos conceitos Porque isso me permitia ignorar o não saber e EX-PE-RI-MEN-TAR Ao mesmo tempo, não se trata de reproduzir as mesmas vestes, mas de entendê-las como uma produção do HOJE, e portanto, alinhadas a um conjunto de crenças e gostos por: Tecidos leves e confortáveis Cores sólidas Tendência assimétrica Peças sem marcação de gênero e Sem tamanho fixo

Assim, para produzir uma veste, utilizei um retalho grande, recortando-o aleatoriamente e experimentei de quantas formas possíveis poderia utilizá-lo - inicialmente a forma apenas me servia como um tipo de saia envelope.

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Molde feito a partir do tecido previamente recortado com pequenos ajustes no tamanho

O molde foi então ampliado em um papel kraft, recortado e utilizado para recortar o tecido escolhido, que recebeu uma única costura (linha pontilhada) 38


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ME RgulhO ANC E STR A L André Luiz Oliveira

A imensidão que me abraça é a Amazônia. 41


Aqui, na profundidade dos meus pensamentos,

percebi que o gosto das lembranças que me transbordavam

era doce...

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Me vi à beira de um

mergulho profundo e necessário;

Fiquei com medo, mergulhei mesmo assim...

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Acesse o vídeo: MergulhoAncestral

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A Es tr ad a a té aq ui Anderson Paz


Uma das minhas melhores lembranças é a vivência com meus avós maternos. É tradição da família sempre fazer as festas na casa da minha vó Maria, descendente de Indígenas e Portugueses, é rica em histórias antigas sobre uma cultura centenária. Meu vô Chico (hoje falecido), descendente de negros escravizados, vindo do sertão da Bahia aos 13 anos, trabalhando junto a via férrea, chegou no interior de São Paulo para uma vida melhor. Durante os anos em vida, meu avô me trazia sempre cana-de-açúcar que ele plantava no quintal de casa e melancia que ele comprava no mercado. Essa lembrança remete aos melhores momentos da minha vida. A partir disso surgiu uma peça construída de memórias afetivas da minha infância, a pintura à mão da minha mãe e da minha madrinha, as referências dos meus avós aplicadas no tecido. O modelo remete à ancestralidade religiosa de ter crescido em um terreiro de umbanda, onde a principal linha que me acompanha desde sempre é a linha dos Baianos, entidades que misturam as tradições africanas e do sertão nordestino. E com grande respeito eu peço a benção de Exu e Oxalá, da Linha dos Baianos, eu peço licença com todo respeito para vibrar este trabalho com todo carinho.

Entendemos assim que o ato de resgatar lembranças boas é um ato revolucionário. 46


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Vídeo de Produção


Naquela época não tinha avião. E ele fugiu de casa e veio junto com a linha de trem, que estava sendo construída... (Vó Maria) 48


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Era um tempo muito difícil fio... O pai dele era muito violento e ele teve que vir procurar algo melhor... (Vó Maria)


Editorial Completo


Co l cha de re ta lh o Andréa Araújo

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Tintura feita com açafrão da terra

Retalhos de algodão tingidos com açafrão da terra, em um abençoado contraste do azul do céu do criador 52


Tecer Compositora: Carolina Lourenço Quero tecer essa linha A que me leva ao seu coração Dar forma ao que nos une Em um traço de tanta emoção Bordar as imagens de amor Desenhadas em nosso sonho Ficar mais próximo a você Nesse laço que te proponho Visto o meu melhor sorriso Sempre que estou contigo Fios cortados de incertezas Meu estilo é ter você comigo (Refrão) O destino compõe nossa trajetória Momentos preenchendo a memória Somente com meu ponto de paz Posso eternizar essa história (Gancho) Esse alinhamento tão certo O melhor desenhista quem criou Em cada mínimo detalhe Vamos moldar nosso amor 53


Algumas passagens da minha infância

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Algumas passagens da minha infância

EU E A COSTURA EU E O AMOR EU E A ARTE EU E A CRIAÇÃO EU E O CRIADOR. EU ANDRÉA. 55


LÁ NA MINHA INFÂNCIA, TINHA TUDO, E ERA MUITO BOM. ERA POBRE, MAS O QUE ERA SER RICO? ENTÃO EU ERA RICA , PORQUE TUDO TINHA ALEGRIA, APESAR DAS COISAS DOS ADULTOS. TUDO ERA BOM. TINHA CORDA, FOGUEIRA, COMIDINHA FEITA A LENHA, BATATA DOCE ASSADA NA BRASA, AH, TUDO ERA BOM. TINHA CROCHETEIRAS, E POR ISSO TRAGO UM BICO FEITO PELAS MÃOS DE MINHA MÃE, QUE MESMO TENDO UM "AVC", CONSEGUIU ME ATENDER. JUSTAMENTE HOJE, ESTÁ TUDO MEIO DO AVESSO, MAS É COM O CORAÇÃO CHEIO DE ESPERANÇA QUE CONCLUO ESSE TRABALHO EXTREMAMENTE AGRADECIDA A TODOS OS MEU AMIGOS DO GRUPO PORQUE TUDO CONTINUA SENDO MUITO BOM,VOLTEI NA INFÂNCIA GRAÇAS A VOCÊS , É ESTA SENDO MAIS DO QUE BOM, UMA VIAGEM MARAVILHOSA MEU MUITO OBRIGADO UM ABRAÇO

Andréa Araújo. 56


a gr ad ec i m en to s Ao Instituto Casa de Criadores, a Carol Barreto, Karla Girotto, Alzira Incendiária e Adriele Regine, por nos proporcionarem tantos encontros e aprendizagens. A Tarcísio Almeida, pelas afetações, escuta e sensibilidade com nossos trabalhos. Ao grupo 02 e às demais pessoas que participaram do curso “Qual moda para qual mundo?” Por todas as trocas durante esse período. A Ana e Anderson por organizar e diagramar os conteúdos desse zine. Andrea Souza Ao meu pai Joaquim Alves de Souza Ananda Bernat Agradeço por ter nascido e crescido em Rondon, cidade pequena no Paraná, e à minha irmã gêmea que cresceu comigo! Tem uma pitada dela em tudo que eu faço! À minha vó, agradeço pela sua existência, ela é tudo de mais bonito que alguém pode ser! Agradeço também ao meu namorado, que virou namorido e decidiu juntar os trapos comigo durante esta jornada, que se deliciou ouvindo algumas aulas, que perdeu sua vózinha nesse tempo e seguiu, ainda assim, me incentivando e sendo a alegria dos meus dias! E a todes vocês que compartilharam, sentiram e ensinaram tantas coisas durante esses meses, pessoas que me atravessaram graças a esse curso. Meu mundo já não é o mesmo desde Janeiro, quando recebi aquele e-mail da Casa de Criadores, me senti em casa com vocês! 57

Amanda Raielly Preciso agradecer a mainha, Maria Aparecida, pelos ensinamentos, durante a escrita e tessitura desse projeto, mas também por toda a vida. Por me ensinar o crochê, essa técnica que me dá o poder nas mãos de materializar o imaginável e o inimaginável. A minha amora, Ingrid, parceira da vida e de todos os projetos que surgem,que sempre me ouve, me apoia, me incentiva e crítica com todo o amor e parceria. Ao meu pai, Edmilson, que sempre está onde eu estiver para comemorar minhas vitórias e dizer que ainda há como seguir quando algo não sai como desejado. A minha irmã caçula, Cacilda, que me abraça e me grita “Irmã!” sempre que eu estiver quieta fazendo qualquer coisa e me lembra que eu nunca estarei sozinha nesse mundo, porque ela esteve e está lá comigo. Agradecer por fim, a todas as mulheres que seguem sendo artesãs e artistas do crochê, ensinando sempre as mais novas e fazendo perpetuar essa técnica tão incrível.


Amanda Nascimento Primeiramente agradeço a mim mesma por não me permitir desistir de mim em tantos momentos da vida e que meu livre arbítrio me trouxe até aqui. Agradeço a espiritualidade, meu Ori, Orixás que estão em meu caminho e meus guias. Obrigada Vanda Ferreira, minha mãezinha que fez e faz tudo por mim desde que me vi em seu ventre. Maya Marihá e Cliverton Walace por serem meus irmãos e me ajudarem tanto nos meus processos de vida. As minhas tias que estão sempre ao meu lado. Aos meus primos que me ensinam a cada dia. Minhas segundas mães, madrinhas, irmãs… Fernanda Galindo e Andréia Rodrigues é indescritível tudo que sinto por vocês. Meus paizinhos, meu Babá e meu Babazinho, João Alves e Élio Pinto sou mais feliz a cada dia em ter escolhido junto a Oxóssi a caminhar nessa vida ao lado de vocês. As minhas xodós Vitória Ribas e Gabriella Medeiros, por acreditarem e por serem vocês em minha vida. Aos amigos Daniel Lima, Lucas Aurélio, Jonathan Marcelino, Juan Alexandre, Maicom Lucas e Yago Freitas pessoas que me deram grande suporte em inúmeros momentos. Obrigada a todos da minha Família carnal, espiritual e aos que ganhei ao longo da vida, cada processo concluído tem um pouco de vocês. Por fim, agradeço ao meu grupo de trabalho que me engrandeceu tanto nesse período, me acolheram e fizeram parte deste capítulo incrível da minha existência.

Ana À tia Maria, que me ensinou tantas coisas, entre elas, a utilizar uma agulha pela primeira vez. À Elenice, por me proporcionar realizar meu primeiro projeto de moda. Ao Jeff, por me ajudar a traduzir minhas poses estranhas em fotos. às minhas sobrinhas, por me permitirem observar a infância sobre outras perspectivas. Andrea Araujo A Deus, e aos Orixás, por essa oportunidade da vida. A Netto Silva, meu amigo estilista modelista totalmente mergulhado na moda que me incentivou a me inscrever para o curso, qual moda para qual mundo da Casa de Criadores. Ao meu marido Luciano Monteleone que sempre esteve junto me ajudando em tudo que precisei. A todos os professores, palestrantes convidados, a todas pessoas envolvidas em um só pensamento para a realização deste curso. A toda equipe do suporte técnico para que pudéssemos assistir as aulas de forma perfeita. A todos os amigos do grupo A Ana Carolina AAL.Garcia pela canção A Maria Aparecida (mãe) que me fez um bico de crochê. A Casa de Criadores A todos os meu ancestrais E ao nosso curador Tarcísio Almeida um ser humano incrível que tive o prazer de aprender como, se ter Paz e ser leve.

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Anderson Paz Primeiro agradeço ao primeiro Exu que me mostra o caminho. A Oxala que guia minha cabeça e a linha dos Baianos que guia meu caminho espiritual. Agradeço a minha mãe, pai e irmã que me apoiam desde que eu era uma criança e fizeram da minha infancia a melhor infancia. Durante toda essa produção agradeço a minha esposa Amanda que me auxiliou em todo o processo e as fotografias. Agradeço a Gaby que sempre me apoiou com todo carinho desde o dinha que nos conhecemos. Agradeço ao Raphael que me apoia sempre dando as ideias mais incriveis.

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André Luiz Oliveira Agradeço primeiramente aos meus pais, que me proporcionaram um lar cheio de sensibilidade, amor e liberdade, onde me criaram imerso nesse rio valioso que é a cultura da Amazônia. Agradeço aos amigos queridos, que como irmãos dessa e de outras vidas me incentivaram desde o início dessa jornada! Agradeço aos colaboradores desse curso por todas os ensinamentos que me atravessaram e contribuíram para o meu crescimento moral e profissional. E por fim agradeço aos colegas do grupo 2 que com muita empatia, paciência e talento tornaram possível essa construção coletiva.


c ré ditos O Sorriso colorido Idealização: Andrea Souza Modelo: Ana Luiza Martins da Silva Faustino Fotografia: Andrea Araujo O Vôo das onze Idealização: Ananda Bernat Fotografia, edição de imagens e criação de textos: Ananda Bernat Manipulação de imagens no Canva, assistente de edição e revisão: Rodrigo Mascarini Galindo Artesã da arte em resina com cigarra: Amanda (Acerolarte) Flor de laranjeira meio torta Idealização: Amanda Raielly Fotografia: Ingrid Motas Edição de vídeo e fotos: Amanda Raielly e Ingrid Mottas Nem todo conto de fadas Idealização: Amanda Nascimento Costura: Amanda Nascimento Assistente de Produção: Maya Marihá, Juan Alexandre e Samantha Gravina

Nó(s) Idealização: Ana Coutinho Costura: Elenice Monteiro Fotografia: Jefferson Estevão e Ana Coutinho Assistente de edição e revisão: Jefferson Estevão Mergulho Ancestral Idealização: André Luiz Oliveira Roteiro e Direção de fotografia - Fagner Damasceno [@damasceno.art] Captação e edição de som e imagem - Ana Maciel [@anapmaciel] A estrada até aqui Idealização: Anderson Paz Modelo: Gabriela Fabiola Gouvea Fotografia: Anderson Paz Edição de Imagem: Raphael Queiroz Produção: Amanda Paz Colcha de retalhos Idealização: Andrea Araujo Produção: Andrea Araujo Fotografia: Andrea Araujo

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