Alquimista #167 - 2023

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Alquimista

PREMIADOS

Edição 167 - 2023
A revista do IQUSP

EDITORIAL

Olá, caro leitor!

Para iniciar o novo ano, nada melhor do que celebrar e homenagear nossos premiados do IQUSP no ano de 2022, certo? Vários pesquisadores da nossa instituição foram reconhecidos publicamente por suas contribuições científicas e acadêmicas. Por isso, trouxemos nesta edição matérias especiais sobre estas pessoas e sobre os temas para os quais elas se dedicam com tanto empenho e amor. Esperamos que aproveitem a leitura!

E se você quiser contribuir conosco, mande sua dica ou sugestão para comunicacao@iq.usp.br.

Equipe de Comunicação do IQUSP

EXPEDIENTE

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Instituto de Química

Reitor Prof. Dr. Carlos Gilberto Carlotti Junior

Diretor

Prof. Dr. Pedro Vitoriano de Oliveira

Vice-Diretor

Prof. Dr. Shaker Chuck Farah

Chefe do DQF

Prof. Dr. Massuo Jorge Kato

Chefe do DBQ

Prof. Dr. João Carlos Setubal

Pró-Reitora de Cultura e Extensão

Profª. Drª. Marli Quadros Leite

Editores

Prof. Dr. Hermi F. Brito

Bruna Larotonda Telezynski Lopes

Redação

Bruna Larotonda Telezynski Lopes

Aldrey Olegario

Projeto gráfico

Daniel Kniss

Lara Ribeiro Gianini

Colaborador

Cezar Guizzo

Helena Nader

NESTA EDIÇÃO

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Prêmio Excelência para Novas Lideranças em Pesquisa

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Flávia Carla Meotti

Prêmio USP Mães Pesquisadoras: produção de oxidantes na inflamação

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Aconteceu na pandemia

Relembramos alguns feitos da nossa comunidade entre 2020 e 2021

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Tese em biogênese ribossomal tem menção honrosa no prêmio CAPES

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Prêmio King Carl XVI Gustafs pelo trabalho em catálise sustentável

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IQ na mídia

As principais publicações recentes sobre o Instituto de Química da USP

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Você sabia?

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Para além da Química

Massoud Negahdary: Pós-doutorando entre os mais influentes do mundo

Pesquisadora é a 34ª homenageada no prêmio Rheinbldt-Hauptmann 26

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Conheça o Química em Ação, grupo teatral de divulgação científica

Galeria de talentos do IQ

Exposição de produções artísticas produzidas por nossa comunidade

Felipe Franco Bagatelli Liane Rossi Nicolas Carlos Hoch

Prêmio Rheinboldt-Hauptmann 2022: Helena Nader

Heinrich Rheinboldt e Heinrich Hauptmann foram os pesquisadores que deram nome à premiação oferecida pelo IQUSP anualmente desde 1987. Foram responsáveis por criar o Departamento de Química, na antiga Faculdade de Filoso a, Ciências e Letras. Rheinboldt, como descreve o historiador Shozo Motoyama em entrevista à Fapesp, foi o responsável por trazer aquele que acabaria se tornando um dos diferenciais do Instituto: o campo da bioquímica. Hauptmann, por sua vez, teve papel notório no desenvolvimento do setor de físico-química e também da bioquímica.

Cerimônia de premiação

Foi no An teatro Paschoal Senise que se deu a cerimônia de entrega da homenagem a Helena Nader. O evento foi mediado por Mônica Pacheco, analista administrativa do Instituto. O primeiro pronunciamento foi do diretor do IQ, o Prof. Dr. Pedro Vitoriano de Oliveira, que relembrou a história do prêmio e a importância da homenagem para os pesquisadores e para o Instituto.

Juntaram-se à mesa central para o momento de homenagem o vice-diretor do IQ, Prof. Dr. Shaker Chuck Farah, e os Profs. Drs. Paulo Nussenzveig, Pró-reitor de Pesquisa e Inovação da USP, e Walter Colli, Professor Emérito da USP. Durante os discursos que repassaram a história da pesquisadora, os presentes falaram sobre os feitos e conquistas de Helena no campo cientí co e também sobre a amizade que fora construída durante o tempo em que trabalharam juntos.

O Prêmio Rheinboldt-Hauptmann do IQUSP foi criado como uma forma de reconhecer as contribuições de importantes nomes da Química, Bioquímica e áreas correlatas. Helena Bonciani Nader — biomédica, docente titular do Departamento de Bioquímica da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC) — recebeu em 2022 a honraria por suas contribuições no âmbito cientí co. A pesquisadora foi a 34ª homenageada no prêmio.

A homenagem de 2022 marcou o retorno da entrega do Prêmio, que havia sido interrompida devido à pandemia. Helena Nader, assim como destacou em seu discurso, dá sua contribuição para a presença das mulheres nesse espaço. Ao todo, agora são cinco os nomes femininos homenageados: as Profªs. Drªs. Blanca Wladislaw, Shirley Schreier, Ohara Augusto, Yvonne Primerano Mascarenhas e Helena Nader.

Walter Colli e Paulo Nussenzveig memoraram as contribuições da pesquisadora para a ciência brasileira. O re exo de sua dedicação se deu na longa listagem dos prêmios conquistados por Helena, como a

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Imagem: CCS UFRJ Imagem: Acervo IQUSP
H. Hauptmann H. Rheinboldt

Ordem Nacional do Mérito Cientí co, a Medalha Mérito Tamandaré da Marinha do Brasil e o Prêmio Scopus, entre outros. Também recordou-se a importância da pesquisadora na política pela defesa da ciência.

Durante as falas repletas de sentimentos, a professora compartilha a emoção de vivenciar os momentos da cerimônia junto aos seus colegas “Vários desses ícones estavam ali para me ver. Aquilo foi marcante para mim, mostrou que: ‘puxa, eles acham realmente que eu mereço estar aqui’. O Colli, Hugo, Hernan… todo mundo estava ali. Isso demonstrou que não foi um formalismo. Eu me senti muito honrada e prestigiada. Eu só posso agradecer”, diz Helena.

(...) Se o Estado brasileiro não olhar isso como uma verdade absoluta — de que precisa da educação e da ciência, que são transversais a todas as outras áreas — a gente vai continuar patinando”, a rma a biomédica.

Em 2022, Helena Nader foi a primeira mulher a assumir a presidência da Academia Brasileira de Ciências, entidade com mais de 100 anos de história. A respeito da forma como a questão de gênero foi percebida em sua carreira, ela aponta para um caminho onde mudanças estão sendo construídas. “Quando eu entrei na Escola Paulista de Medicina, a maioria [dos docentes] eram homens. Hoje são mulheres, o que mostra que a questão de gênero também é uma questão temporal. Ela vem sendo mudada ao longo do tempo, em algumas áreas mais facilmente do que em outras”, comenta.

Apesar disso, ela indica que ainda há muito a ser feito para alcançar a equidade de gênero na graduação, pós-graduação e nas etapas seguintes da formação acadêmica. “Tenho idade su ciente para ter visto essa mudança, o que me deixa muito feliz. Ela é su ciente? Não, está aquém. A gente teve retrocesso? Tivemos, o que mostra que é uma pauta que a gente vai ter que insistir. Isso leva tempo. Educação leva tempo. É uma pauta de costumes que se mostra desde a infância” naliza.

Vida dedicada à ciência e à educação

O direito e a defesa da educação são pilares marcantes na trajetória de Helena. Dos inúmeros convites para seguir carreira no exterior, a escolha de car é exemplo das expectativas acerca dos possíveis caminhos para a educação e ciência no país.

Eu estou aqui e eu acredito que a educação e as ciências são as únicas formas de transformar o Brasil(...)

Para se entender as raízes desse cenário, Helena indica que é preciso olhar além do que é apresentado no espaço universitário. “A culpa é da universidade, é da academia? Eu acho que a culpa é da sociedade, eu vejo dessa forma. Enquanto mãe e pai referendarem o comportamento da sociedade brasileira, em especial nos últimos anos, a sociedade vai andar para trás. ‘Menina tem que cuidar do marido’, pelo amor de Deus, onde que está escrito isso?”, comenta.

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Imagem: Aldrey Olegario Da esquerda para a direita, Shaker Chuck Farah, Pedro Vitoriano de Oliveira, Paulo Nussenzveig, Helena Nader e Walter Colli

Além da equidade de gênero na educação, outro ponto que Helena destaca é a necessidade de se olhar também para a equidade racial. “A equidade racial é uma que o Brasil tem que abraçar fortemente. Eu tenho muito orgulho que fui Pró-reitora de Graduação de uma universidade [que criou] — o que eles chamam de cota, eu não gosto — ações a rmativas muito antes de se ter um programa [para isto]”, diz ela. Em 2004, a Unifesp e UnB (Universidade de Brasília) foram as primeiras federais a introduzirem, no processo seletivo, ações a rmativas voltadas para estudantes negros, indígenas e oriundos de escolas públicas.

Pioneirismo: complexidades da heparina e do heparam sulfato

A linha de pesquisa na qual a biomédica atua em seu laboratório na Unifesp tem foco na função dos proteoglicanos heparina e heparam sulfato na hemostasia, controle da divisão celular e transformação celular — temas tratados por Helena na conferência da premiação. Tanto a heparina quanto o heparam sulfato são conhecidos por sua ação anticoagulante.

Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a doença Covid-19 como uma ESPII (Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional) — sexto anúncio do tipo desde a pandemia de H1N1, em 2009. Deste período em diante, a Ciência se desdobraria em esforços para compreender seu vírus causador: o SARS-CoV-2. Um dos caminhos encontrados para o tratamento da Covid-19 foi através do uso da heparina e do heparam-sulfato — descritos de forma pioneira no mundo pelo laboratório coordenado por Helena Nader. A pesquisa foi realizada pelo Instituto de Farmacologia e Biologia Molecular da Unifesp, com colaboração de cientistas internacionais, e teve sua publicação no repositório BioRxiv, do Laboratório Cold Spring Harbor (EUA).

Usando dados já obtidos do SARS-CoV e frente ao novo desa o do SARS-CoV-2, Helena explica que “já se mostrava que esse vírus gostava de interagir com a heparina. Na superfície da célula, você tem o heparam sulfato, que é um 'primo' da heparina — ele lembra a estrutura, mas é diferente. O que nós vimos é que o heparam sulfato é um co-receptor para o vírus. Ou seja, o vírus liga nesse co-receptor, que induz uma mudança na estrutura da RBD [Receptor Binding Domain ou Domínio de Ligação ao Receptor] e daí caminha para a internalização".

A utilização da heparina pelo grupo em testes laboratoriais, realizados em células de rim do Macaco-Verde africano, mostrou uma redução de 70% da taxa de invasão celular pelo SARS-CoV-2. Também é foco de contribuição dos pesquisadores a compreensão da estrutura molecular da heparina. “Mostramos que é na região da Spike chamada RBD que o heparan e a heparina ligam — e onde se induz a mudança de conformação que favorece toda a internalização. E nós vimos o que é importante da molécula da heparina para essa interação”, indica a biomédica. A Profª Nader explica que a tecnologia utilizada nessa análise é a STD de ressonância para heparina sozinha e com o ligante RBD.

A região do Domínio de Ligação ao Receptor é onde anticorpos responsáveis por neutralizar vírus, bloqueando seus mecanismos de entrada nas células, estão localizados. “Quando se dá heparina [a um potencial paciente infectado], eu estou criando uma competição. Vamos pensar em uma célula em cultura, por exemplo: eu coloco heparina e tem heparam na superfície. Se tem heparina, eu desloco e compito; funciona como um antiviral e o vírus não entra, porque prefere se ligar à heparina”, completa a docente.

Mais informações: hbnader@unifesp.br

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USP Mães Pesquisadoras: Trajetória na pesquisa sobre Produção de Oxidantes na Inflamação

O Prêmio USP Mães Pesquisadoras é uma iniciativa feita em parceria com a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) que busca reconhecer a dedicação à produção acadêmica das mães que fazem parte da comunidade uspiana.

Neste ano, as pesquisadoras homenageadas são da área de Ciências Biológicas e da Saúde. Participam docentes, pós-doutorandas, pós-graduandas e graduandas, que são premiadas com valores que variam de 10 mil a 20 mil, a depender da categoria.

Flávia Carla Meotti, professora associada do Departamento de Bioquímica do IQUSP, foi a pesquisadora premiada na categoria Docente na edição de 2022 do Prêmio. Ela atua no Laboratório de Pesquisa em Processos Redox na In amação (LPPRI), formado em 2011.

A pesquisa

O LPPRI é voltado para a pesquisa sobre os processos de produção de oxidantes por células inflamatórias. A professora descreve que esses oxidantes são produtos da redução completa do oxigênio e, também, da reação do oxigênio com outras moléculas, sendo essa formação determinante em um processo inflamatório ou infeccioso.

Oxidacao Celular

“Esses oxidantes gerados têm o objetivo de matar os microrganismos, mas eles também podem causar danos nos tecidos e nas células que estão em volta. A habilidade que o organismo tem de controlar todo esse processo in amatório é que vai determinar o quão bem ele reage a uma in amação e o quão bem ele reage a uma infecção”, explica Flávia.

A partir disso, o foco do laboratório é avaliar quais são esses oxidantes e de que forma eles impactam no funcionamento da célula. “O que a gente busca entender, de fato, é como esses oxidantes interferem nas respostas celulares. Para isso, existe toda uma necessidade de se saber, por exemplo, em uma determinada condição, infecção por bactéria ou num processo que não tem bactéria: quais oxidantes são formados naquelas especí cas condições? Em que quantidade? Porque esses oxidantes têm reatividades diferentes e as respostas são diferentes”, fala a docente.

“A gente busca conhecer, porque aí você amplia o conhecimtento dentro dessa área de pesquisa básica para depois poder propor uma intervenção terapêutica, se for o caso”.

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garante Prêmio a Flávia Meotti, docente do IQUSP

No campo de estudos sobre a ação dos oxidantes, Flávia diz que a abordagem de se buscar entender esses produtos de modo mais especí co é recente. Anteriormente, considerava-se que toda formação de oxidante poderia ser prejudicial — daí a necessidade de serem desenvolvidas novas pesquisas na área. “Começaram a propor terapias antioxidantes para doenças in amatórias e doenças crônicas. Quando isso foi para as clínicas, percebeu-se que as pessoas que ingeriam os antioxidantes não cavam melhores — pelo contrário, cavam até piores. Então, a gente começou a entender que não dava para classi car todos os oxidantes como iguais, que qualquer oxidante teria um efeito danoso. Nós precisávamos entender exatamente o que era formado e qual a resposta do organismo em relação àquilo o que era formado", explica ela.

Entre os projetos mais recentes do laboratório está a linha de pesquisa voltada à relação da oxidação do ácido úrico com processos in amatórios e doenças cardiovasculares. O grupo comprovou a formação de um novo agente oxidante no processo in amatório — o hidroperóxido de urato, cujas interações podem estar envolvidas na progressão da própria in amação.

Maternidade e trajetória acadêmica

Pensar caminhos para promover a equidade de gênero torna-se uma das tarefas fundamentais da Universidade para a construção de um espaço inclusivo e

Docentes da USP

(2019)

diversi cado. Conforme o Anuário Estatístico da USP do EGIDA, analisado pelo coletivo USP Mulheres, em 2019 as mulheres representavam 37,1% da docência e os homens, 62,9%. A diferença se mantém na análise feita por área, com destaque para as Exatas — onde os docentes homens representaram mais do que o triplo de docentes mulheres naquele ano.

Entre as ferramentas que possibilitam e fomentam a permanência estão bolsas, licenças e iniciativas como o Prêmio USP Mães Pesquisadoras, que reconhece a dupla jornada daquelas que conciliam a vida acadêmica à familiar.

A docente Flávia Carla Meotti é mãe da Gabriela, de um ano de idade, e descreve como pensou a maternidade ao longo de sua trajetória até a docência.

Quando você está na carreira acadêmica, sua formação é muito longa; então, a maternidade vai sendo adiada. Primeiro você resolve fazer um mestrado, depois doutorado, pós-doc; mas você não tem uma posição fixa, um trabalho fixo”.

Nesta busca por um cenário mais estável, Flávia destaca o quanto a maternidade exige da mulher, assim como a dedicação à vida acadêmica — e como esses fatores acabaram levando-a a postergar a maternidade.

Proporcao de docentes nas areas exatas da USP

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“Uma vez que você entra, você quer estabelecer seu grupo de pesquisa, fazer as coisas girarem antes de ser mãe, porque você já tem uma noção de que aquilo vai impactar na sua presença, no laboratório, no trabalho etc. Nesse contexto, a maternidade foi adiada porque eu estava num ponto que queria ter conquistado tudo isso. Mas para algumas pessoas, isso é um pouco diferente e elas escolhem ser mães ainda na formação. Isso também é bastante intenso”, pontua ela.

O prêmio

Em relação ao Prêmio, Flávia destaca a importância da existência de iniciativas como esta na vivência acadêmica. “Eu acho bem interessante, realmente é uma coisa inovadora na USP. Acho até que serve como modelo para outras instituições, que é olhar para essa questão do gênero e ter essa percepção de que, para as mulheres que decidem ser mães além da sua carreira pro ssional, isso traz algumas di culdades em termos pro ssionais. Há um determinado período da sua carreira em que a prioridade já deixa de ser a carreira — se torna a família”, diz ela.

A professora destaca também que a dedicação à academia é uma realização pessoal, bem como a dedicação familiar. ”Não deveria ser necessário abdicar de um para fazer o outro. Saber que a gente está em uma instituição que olha para isso e percebe isso é bastante grati cante, porque você se sente parte daquele todo. Você não ca: ‘Ah, mas eu z isso e isso, e a maternidade fez com que eu atrasasse as coisas’. Quando a gente escolhe ser mãe, a gente sabe de tudo isso. Mas saber que você está em uma instituição que também reconhece e entende isso, é você se sentir mais tranquilo, mais confortável para trabalhar”, conclui.

Sobre a professora:

Imagem: Acervo Pessoal

Flávia Carla Meotti é graduada em Farmácia Bioquímica, mestre e doutora em Bioquímica Toxicológica e pós-doutora em Bioquímica e Farmacologia. Atua como Professora Associada do Departamento de Bioquímica do IQUSP desde 2011, em temas que abordam os mecanismos bioquímicos da in amação com ênfase em processos redox, doenças cardiovasculares e respostas a infecções bacterianas.

Mais informações: aviam@iq.usp.br

Prêmio USP Mães Pesquisadoras

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Excelência para Novas Lideranças em Pesquisa Estudo sobre Mecanismos de Reparo de DNA confere prêmio a Nicolas Carlos Hoch

O Prêmio Excelência para Novas Lideranças em Pesquisa é uma realização da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) que busca reconhecer e estimular a dedicação acadêmica dos pesquisadores da Universidade de São Paulo. São 8 áreas premiadas: Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias e Linguística, Letras e Artes.

O Prof. Dr. Nicolas Carlos Hoch, do Departamento de Bioquímica do IQUSP, foi laureado na categoria Ciências Biológicas por suas contribuições acerca dos mecanismos de homeostase do DNA. A celebração desta conquista ocorreu no dia 1º de novembro de 2022, na Sala do Conselho Universitário.

Criado em 2019, esta é a segunda edição do prêmio que, este ano, recebeu 71 trabalhos em conformidade com os critérios de avaliação. A banca julgadora é composta por 24 integrantes, entre docentes da USP e pesquisadores externos. No informe do pró-reitor da PRPI Paulo Nussenzveig, que divulgou os resultados da premiação, é destacado o “altíssimo nível das carreiras dos candidatos revelado pelo processo de análise”.

A pesquisa

É no Laboratório de Estabilidade Genômica que o docente Nicolas Hoch realiza suas pesquisas sobre os mecanismos de reparação do DNA. Ele conta que trabalha com o tema desde a graduação, nos projetos de iniciação cientí ca, estudando como a célula responde, sinaliza e repara lesões no DNA.

Como explica o docente do departamento de Bioquímica, é necessário que o DNA tenha seus mecanismos de resposta para que a célula seja funcional.

Em seu grupo de pesquisa, existem três linhas de abordagens para esses meios de reparo. A primeira trata do impacto que o acúmulo dessas lesões tem em doenças degenerativas — focando em um recorte fundamental para entender as implicações clínicas de determinados mecanismos. A segunda linha trabalha com doenças genéticas raras. Hoch descreve que essa abordagem apareceu em seu pós-doutorado na Inglaterra, quando se deu o início da pesquisa sobre pacientes portadores de mutações nos genes de reparo do DNA. “Em partes, queremos entender esse mecanismo que causa a doença; o porquê que um defeito naquele gene x causa aquela doença em particular. E também podemos usar as células dos pacientes para entender qual a função de um determinado gene, ver o que está acontecendo de errado”, conta o docente.

A terceira e mais recente abordagem teve início na pandemia e está relacionada à forma como a célula sinaliza o dano no DNA.

Imagem: Galeria do Laboratório
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Ressonância magnética do cérebro de uma pessoa saudável e de um paciente com degeneração cerebelar causada por mutações no gene de reparação do DNA

“Com a pandemia de coronavírus, começamos a ver na literatura alguns indícios de que essa sinalização de dano é um pouco semelhante com a resposta da célula ao coronavírus. O interessante é que a célula busca sinalizar a presença do vírus e o vírus busca impedir a célula de avisar que ele está lá; então, uma das formas que a célula tem de sinalizar essa presença é parecida com o que a gente estudava em reparo de DNA. O vírus tem uma enzima que remove essa ‘noti cação’. E a gente sabe que, quando essa enzima do vírus que tira a noti cação não está funcionando, o vírus não causa mais a doença. A partir daí, nós começamos a procurar compostos que miram nessa enzima do vírus, porque aí poderíamos ter um tratamento potencial para o coronavírus”, diz Hoch.

O docente explica que o que faz o DNA ser passível a essas mudanças é sua exposição a alguns tipos de agentes, como a radiação ultravioleta. Por se tratar de uma molécula química, ela pode reagir com outros componentes dentro da célula, o que acarreta nesses danos. Por isso a importância de se estudar os mecanismos de reparo do DNA. “Uma célula que não repara seu DNA não é viável. Todos os seres vivos têm mecanismos de reparar seu DNA, porque isso é essencial para manter a informação de qualidade. O DNA é o nosso manual que informa o funcionamento das células”, destaca Nicolas.

O Prêmio

Acerca do Prêmio conquistado, que é conferido aos pesquisadores da Universidade de São Paulo de até 40 anos, Nicolas Carlos Hoch destaca o papel que este tipo de iniciativa tem para os docentes e pesquisadores mais jovens. “Isso é bem importante, a gente ca batalhando contra muita coisa e esse tipo de reconhecimento é essencial para manter a gente empolgado em dar continuidade. Principalmente para quem é mais jovem, isso faz muita diferença, porque você está em um momento em que você quer demonstrar para as pessoas que você sabe fazer ciência; é isso que você precisa para dar continuidade na carreira. Então, esse tipo de prêmio dá um gás muito grande, quei muito contente”, conta ele.

Além da trajetória acadêmica que desenvolveu, ele destaca o papel do trabalho em equipe e do apoio de todos os envolvidos nesta conquista. “A gente recebe esse tipo de Prêmio, mas não é só para a gente. São coisas que não se fala, mas muito tem que acontecer nos bastidores: com meus alunos do laboratório; a família, que é muito importante. A gente tem que agradecer todo mundo que participou disso. É um reconhecimento do nosso trabalho. Dentro da USP é recente, mas muito importante que deem continuidade”, diz Nicolas.

Para conferir os demais vencedores do Prêmio, acesse este link.

Mais informações: nicolas@iq.usp.br

Imagem: Bruna Larotonda
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Liane Rossi, docente do IQUSP, recebe Prêmio

King Carl XVI Gustafs em Ciências Ambientais pelo trabalho em Catálise Sustentável

O Prêmio King Carl XVI Gustafs é oferecido pela corte real sueca e busca reconhecer pesquisadores estrangeiros nas áreas de ciência, tecnologia e meio ambiente. A iniciativa faz parte de um fundo criado no aniversário de 50 anos do rei Carl XVI Gustafs. Em 2022, Liane Marcia Rossi, docente do IQUSP e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na área de Ciências Químicas, foi a pesquisadora indicada ao Prêmio pela professora Belén Martín-Matute, que atua no departamento de Química Orgânica da Universidade de Estocolmo.

Com a cátedra King Carl XVI Gustafs, a pesquisadora do departamento de Química Fundamental do IQUSP — que é a 28º pessoa a receber o título — terá a oportunidade de desenvolver atividades voltadas à área das ciências ambientais na Universidade de Estocolmo, entre os anos de 2023 e 2024. “Nesse prêmio, eles nanciam um pesquisador internacional para desenvolver um projeto e para visitar a Universidade na Suécia, na área de química ambiental. É um nanciamento para uma missão de pesquisa, basicamente, que envolve também oferecer cursos, visitar a universidade e participar da vida acadêmica de lá”, descreve Liane.

Ela relembra que, durante o processo de seleção feito por Belén, foram necessárias várias etapas e envios de documentos, como um plano de trabalho sobre sua pesquisa — e conta como é receber esse título.

Eu fiquei empolgada, a gente tem tão poucas oportunidades de receber esses prêmios, né? Ainda mais prêmios em que você compete com pessoas de fora do Brasil(...)

(...) É muito difícil a gente se classi car quando a gente é comparado com pessoas que estão fazendo pesquisa e desenvolvendo sua carreira em lugares muito mais desenvolvidos. Então, eu imagino que isso é vencer uma barreira. Uma barreira muito importante, então co muito honrada com esse reconhecimento”, diz ela.

Em um comunicado o cial da Universidade de Estocolmo sobre a nomeação de Liane, Belén Martín-Matute disse que “além de sua projeção em pesquisa e participação ativa na formação de recursos humanos, destaca-se também seu engajamento acadêmico e institucional, bem como seu esforço contínuo para fortalecer a pesquisa em catálise sustentável no Brasil”.

Em seu laboratório, a atuação de Liane é voltada para a Química Verde, com abordagens em catálise sustentável, nanomateriais para catálise, recuperação de biomassa e conversão de CO2 em produtos de valor agregado. Um dos pontos que Liane destaca acerca da premiação é a questão do gênero entre os participantes nomeados: “Poucas mulheres ganharam esse prêmio até hoje. Se você olhar a lista de nomes, acho que só teve uma ou duas mulheres que ganharam. Então, também é uma coisa importante. A pessoa que me nomeou disse: ‘Ah, Liane, nós precisamos ganhar, porque eu caria muito feliz que uma mulher ganhasse nesse ano’”, relata.

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Inovação em pesquisa sobre gases de efeito estufa

A Universidade de São Paulo sedia um centro de pesquisa voltado a estudos acerca da utilização do gás natural, biogás, hidrogênio e CO2 de forma sustentável no setor energético, o Research Center for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), criado em 2016. Neste centro, Liane Rossi é diretora do programa de Captura e Utilização de Carbono, onde ela e seu grupo de pesquisa desenvolvem estudos sobre a conversão desse gás. “Originalmente, eu trabalho na área de materiais e catálise. Dentro da área de catálise, você tem várias opções de estudos, de frentes de trabalho. Desde 2017, mais ou menos, eu tenho trabalhado em reações de conversão de CO2”, explica.

A relevância da pesquisa nessa área se dá diante de dados de relatórios como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2022 — que apontou neste ano um índice histórico recorde de emissões globais médias de gases de efeito estufa. “Como transformar o CO2, um gás ligado a mudanças climáticas e que a concentração na atmosfera está muito acima do que seria o ideal?” — questiona Liane. James Hansen, climatólogo-chefe da Nasa, apontou que o nível seguro de concentração de dióxido de carbono na atmosfera — a m de que se evitem tragédias climáticas de grande escala — é de 350 partes por milhão (ppm). Em 2021, a concentração média do dióxido de carbono na atmosfera atingiu 414, 7 ppm.

Liane comenta a problemática da emissão dos gases estufa e alguns dos caminhos que podem ser considerados no caso do dióxido de carbono. “Essa questão da mitigação das emissões de CO2 envolve várias tecnologias para capturar e converter. Remover aquele CO2 que já está na atmosfera é mais difícil, porque ele está muito diluído.

Mas existem várias fontes emissoras de CO2 — industriais, por exemplo — que poderiam ser interrompidas. Ou, ao invés de emitir mais CO2 para a atmosfera, você concentraria esse CO2 e o utilizaria como matéria-prima para a produção de algum produto químico a partir desse CO2 — que podem ser polímeros, combustíveis ou produtos para a indústria química, por exemplo”, explica a professora. Ela também cita a possibilidade de concentração e estocagem do gás em cavernas e rochas, tal qual ocorre em processos naturais de captura do gás carbônico. Em seu grupo de pesquisa no RCGI, um dos focos é a conversão do dióxido de carbono em metanol. “O CO2 é a nossa molécula-chave. A gente estuda, então, os catalisadores, desenvolve novos catalisadores de processos — rotas catalíticas, a gente fala — para conversão do CO2 em produtos como o metanol. O metanol pode ser usado na área de combustíveis, solventes e também para ser transformado em outras moléculas mais complexas”, explica ela. Entre os projetos que desenvolve voltados para a produção do metanol, ela cita as parcerias nanciadas pelo Grupo Shell e pela Fapesp, com os docentes Pedro Vidinha e Reinaldo Bazito, do Instituto de Química da USP.

Mais informações: lrossi@iq.usp.br

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Imagem: Arquivo pessoal

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Estudo sobre biogênese ribossomal ganha

reconhecimento de menção honrosa do Prêmio CAPES de Tese 2022

Felipe Franco de Melo Bagatelli, doutor formado pelo Programa de Bioquímica do IQUSP, foi prestigiado em 2022 com a menção honrosa do prêmio CAPES de Tese na área de Ciências Biológicas II. A professora orientadora do trabalho, Carla Columbano de Oliveira, também recebeu uma menção honrosa na premiação.

O Prêmio CAPES de Tese é uma iniciativa que está em sua 17ª edição e reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado que foram defendidos no ano anterior. Entre os critérios para a escolha do vencedor estão o caráter de inovação, originalidade e relevância para o desenvolvimento tecnológico, cientí co, cultural e social do país.

A pesquisa intitulada “Caracterização do papel de Nop53 na montagem da subunidade ribossomal maior em Saccharomyces cerevisiae” foi dividida em partes, cada uma delas levando de 3 a 5 anos de estudo. A Saccharomyces cerevisiae adotada na pesquisa é uma levedura frequentemente utilizada em procedimentos de fermentação alcoólica. “Os objetivos gerais do meu projeto envolviam dois grandes eixos relacionados à função da proteína Nop53. De um lado, buscávamos caracterizar sua relação com um complexo ribonucleolítico denominado exossomo; de outro, com a subunidade ribossomal maior em formação”, explica Bagatelli.

Ele conta que a motivação para aprofundar os estudos sobre as atividades da proteína Nop53 no exossomo se deu durante o seu projeto de Iniciação Cientí ca. Ainda na graduação, Felipe foi apresentado a esse campo de pesquisa e desenvolveu o tema em parceria com a doutoranda Leidy Paola Páez Cepeda, no laboratório da professora Carla Columbano. “De início, fui movido por uma grande curiosidade sobre os mecanismos que regulam a atividade do exossomo — um complexo evolutivamente conservado, envolvido na degradação e processamento de vários tipos de RNA, incluindo o ribossomal. Como ele é recrutado para alvos tão diversos e por que degrada totalmente em certos casos, enquanto em outros apenas cliva um fragmento, eram algumas das perguntas gerais que me intrigavam”, lembra o pesquisador.

Uma das formas utilizadas por Felipe para entender a relação de Nop53 com o exossomo foi através da análise da depleção dessa proteína. Assim, foram observados os efeitos dessa depleção na expressão, localização subcelular, per l de sedimentação e interactoma do Rrp6, subunidade catalítica do exossomo.

valor de uma descoberta:
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Imagem: RCSB PDB

“Dentre os experimentos chave, destaco a construção e análise dos mutantes truncados de Nop53, inspirados pelos artigos do professor John Woolford Jr. , da Carnegie Mellon University. Usando esta mesma abordagem, ele conseguiu revelar novas funções de fatores de montagem e de proteínas ribossomais. Isto porque estes fatores estabelecem múltiplas interações no intermediário pré-ribossomal. A depleção de um fator de montagem tende a afetar ou bloquear a maturação em uma etapa, ocultando funções que este mesmo fator teria em etapas subsequentes a esta (tornadas inviáveis pela depleção). Os resultados que obtivemos com estes mutantes foram essenciais para evidenciar a dupla função de Nop53: recrutar o exossomo e estabilizar a estrutura do pré-60S durante o remodelamento do rRNA”, explica ele.

Biogênese Ribossomal

Tal como Bagatelli descreve em sua pesquisa, aspectos gerais como a função do Nop53 no processamento do pré-rRNA são descritas pela bibliogra a; contudo, especi cidades sobre sua caracterização molecular ainda não foram abarcadas de forma mais aprofundada. Nesse sentido, uma das qualidades da pesquisa premiada é a sua contribuição com o progresso dos estudos em biogênese ribossomal. “Os avanços obtidos por criomicroscopia eletrônica levaram esta área de estudo a um outro patamar. Vários intermediários pré-ribossomais tiveram suas estruturas obtidas com alta resolução, permitindo a elucidação do sítio de ligação e da própria estrutura de inúmeros fatores de montagem”, comenta.

Desa os

Ao relembrar o processo de sua pesquisa, Felipe cita alguns dos principais desa os que encontrou e ressalta a importância que os estudos e dados anteriores tiveram nesse momento.

“Uma das partes mais difíceis com que me deparei foi justamente a análise dos dados de proteômica: como classi car os fatores de montagem, uma vez que se associam em fases de maturação tão diferentes? Para tanto, me baseei não apenas em revisões bibliográ cas, mas nos dados de todas as estruturas de subunidades pré-60S disponíveis até então. Isto foi essencial tanto durante a pesquisa, para a seleção de novas iscas para os ensaios de coimunoprecipitação, como ao nal, na etapa de proposição de um modelo”, a rma ele.

Próximos passos

O pesquisador conta que há resultados de seu estudo que ainda não foram divulgados, pois ao mesmo tempo em que ele o desenvolveu com objetivos especí cos, também levou em consideração hipóteses paralelas. Assim, ao pensar em futuros trabalhos, Felipe destaca a importância da tese nessa fase em que novas perguntas surgem e, consequentemente, novos temas de estudo. Por m, sobre a conquista do prêmio CAPES de Tese, ele diz considerar “este prêmio como o reconhecimento de um trabalho longo e desa ador, que foi fruto do esforço não apenas de um aluno de pós-graduação, mas de toda a estrutura que o acolheu e o proveu das ferramentas teóricas e práticas necessárias. Todos que trabalham em pesquisa sabem dos percalços e di culdades que fazem parte do caminho. Neste processo, minha orientadora, meus colegas de laboratório e todos os colaboradores foram essenciais. Eu sinceramente só tenho a agradecer e os ‘Agradecimentos’ de minha tese expressam melhor do que qualquer frase o que este prêmio signi ca para mim e a quem ele realmente se destina”.

A tese premiada é de acesso livre e está disponível no site de teses e dissertações da USP.

Mais informações: felipe.bagatelli@usp.br

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IQ na mídia

As principais publicações recentes sobre o Instituto de Química

Professor do IQUSP, Cassius Stevani é entrevistado por Atila Iamarino em programa da TV Cultura

TV Cultura

Na entrevista, o Prof. Cassius Vinícius Stevani explica sobre a diferença entre a quimioluminescência e a bioluminescência — fenômeno em que organismos vivos produzem sua própria luz. Além disso, ele conta quais são as condições necessárias para encontrar esses seres na natureza (expedições no período noturno, durante a época de lua nova) e dá exemplos de experimentos realizados em campo por seu grupo de pesquisa.

CAU/BR

Membros do IQUSP participam de restauração do quadro ‘Independência ou Morte’ (1888), de Pedro Américo

A peça mais importante do acervo do Museu do Ipiranga passou desde o início de 2019 por um processo de restauração — que tem a Ciência como aliada na busca por manter o aspecto original da obra. A tarefa contou com assessoria especial de dois pesquisadores do Instituto de Física da USP (IFUSP) e duas pesquisadoras do Instituto de Química da USP (IQUSP), a professora Dalva de Faria e a pós-doutoranda Isabela dos Santos.

Os grandes desa os do Projeto Genoma da Xylella fastidiosa

Agência FAPESP

Os pesquisadores Andrew Simpson (ILPC) e João Carlos Setúbal (IQUSP) relembram os esforços empreendidos para sequenciar, pela primeira vez, o genoma completo da bactéria Xylella fastidiosa. As entrevistas fazem parte do Genome Workshop 20+2, evento realizado nos dias 21 e 22 de novembro de 2022 em comemoração aos 22 anos da conclusão do sequenciamento desse microrganismo — agente etiológico da Clorose Variegada dos Citros (CVC), que nos anos 2000 causava grandes prejuízos aos citricultores paulistas.

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Estadão

Cursos de graduação do IQUSP

recebem nota máxima no Guia da Faculdade Quero Educação & Estadão

Em seu quarto ano de vigência, a avaliação atribuiu uma nota a todos os cursos cadastrados em sua plataforma, a partir de criterioso julgamento por pares. Em 2022, os cursos de bacharelado e licenciatura em Química da Universidade de São Paulo obtiveram nota máxima, baseada em três critérios: qualidade do corpo docente, qualidade do projeto pedagógico e qualidade da infraestrutura.

Pesquisadores do CEPID Redoxoma descobriram que alterações no transporte de cálcio mitocondrial em astrócitos modi cam o metabolismo cerebral e melhoram o desempenho cognitivo de camundongos. O estudo, publicado no Journal of Neurochemistry, foi realizado por João Victor Cabral-Costa durante seu doutorado, sob orientação da professora Alicia Kowaltowski, do Instituto de Química da USP.

Artigo escrito no IQUSP é selecionado para coleção especial das revistas

Trends in Parasitology e iScience

O trabalho dos alunos André Teixeira e Luis Carnero, intitulado “A re ned genome phage display methodology delineates the human antibody response in patients with Chagas disease”, foi um dos 30 artigos selecionados para compor a coleção feita em comemoração ao 3rd Annual World Neglected Tropical Diseases (NTDs) Day. A pesquisa foi liderada pelo prof. Ricardo Giordano, do departamento de Bioquímica, e contou com a colaboração de outros docentes do IQ e externos, como os professores João Setubal, Maria Julia e Walter Colli.

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TiP e iScience
CEPID Redoxoma
Cientistas revelam novo modulador do metabolismo de glicose em astrócitos

Aconteceu na Pandemia

Para acompanhar o tema da edição, o Alquimista apresenta alguns dos prêmios concedidos a pesquisadores, docentes, alunos e ex-membros do IQUSP durante os anos de 2020 a 2022. Em nome do Instituto, gostaríamos de parabenizar cada um dos homenageados pelos excelentes trabalhos e trajetórias!

Thais Guaratini: doutora pelo Instituto de Química da USP é vencedora do prêmio Mulheres Brasileiras na Química em 2022

Uma iniciativa nascida nos laboratórios da USP rendeu o prêmio Mulheres Brasileiras na Química 2022 para a farmacêutica Thais Guaratini. Organizada pela American Chemical Society (ACS) e Sociedade Brasileira de Química (SBQ), a premiação promove a igualdade de gênero na ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

Jovens Pesquisadores do Redoxoma recebem o Travel Award 2022 da Society for Redox Biology and Medicine (SfRBM)

Quatro pesquisadores do CEPID Redoxoma foram premiados com o Travel Award da SfRBM em 2022. Os pós-doutorandos Litiele Cruz (IQ) e Felipe Fuzita (IQ) e os doutorandos Alex Inague (IQ) e Rogério Aleixo Silva (IB) apresentaram seus trabalhos na 29ª Conferência Anual da SfRBM, nos Estados Unidos.

Mona das Neves Oliveira: Prêmio Alumni USP 2022 é concedido a ex-aluna do IQ por suas contribuições para a sociedade

A doutora pelo IQUSP Mona das Neves Oliveira foi premiada na categoria “Contribuições em Inovações e Empreendedorismo” pela fundação da Biolinker –empresa pioneira em biotecnologia com foco em proteínas recombinantes. Outros 11 egressos de diferentes áreas também foram agraciados na ocasião.

Ohara Augusto: Pesquisadora ganha o 5º Prêmio Mulheres Brasileira na Química e o prêmio Lifetime Achievement Award

Docente do IQUSP e coordenadora do CEPID Redoxoma venceu na categoria “Líder Acadêmica” na edição de 2022 do Prêmio Mulheres Brasileiras na Química. Já o prêmio Lifetime Achievement Award foi concedido também em 2022, pela Society for Redox Biology and Medicine (SfRBM).

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Vanessa N. Ataide: pós-graduanda do IQUSP é premiada no RSC Advances Outstanding Student Paper Awards 2021

A doutoranda do Programa de Pós-graduação em Química do IQUSP, Vanessa N. Ataide, recebeu em 2022 o prêmio RSC Advances Outstanding Student Paper Awards 2021, na categoria de Química Analítica. A pesquisa premiada, intitulada “Enhanced performance of pencil-drawn paper-based electrodes by laser-scribing treatment”, foi orientada pelo docente Thiago R. L. C. Paixão.

Guilherme Andrade Marson: docente do IQUSP vence a 11ª edição do Prêmio Prof. Rubens Murillo Marques em 2021

Promovida pela Fundação Carlos Chagas, a iniciativa tem como objetivo valorizar e divulgar experiências formativas propostas e realizadas por docentes dos cursos de Licenciatura na formação de professores para a Educação Básica. Entre os projetos vencedores está o do prof. Guilherme Marson, intitulado “Percursos entrelaçados: a travessia de alunos-professores a professores-alunos”.

Docentes do IQUSP recebem Prêmio Vanderlan da Silva Bolzani em 2021

Criado em 2019 pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ), o prêmio é o primeiro dedicado a reconhecer o trabalho de mulheres que se destacam na química e/ou no fortalecimento da sociedade. Na edição de 2021, as homenageadas foram as professoras do IQUSP Susana Inés Córdoba de Torresi e Vera Lúcia Pardini, além da docente Solange Cadore, da UNICAMP.

Glaucia Souza: docente do IQ recebe Prêmio Inventores UNICAMP 2020

Pelo segundo ano consecutivo, a Prof.ª Glaucia Mendes Souza recebeu a honraria. Em 2020, ela ganhou na categoria “Patente Concedida”, pela concessão da patente sobre “Vetor de DNA recombinante, método para produção de plantas tolerantes a estresses ambientais e seus usos".

Ivano Gebhardt Rolf Gutz: em sua primeira edição, Medalha Eduardo Neves é concedida a professor do IQUSP

Instituída com o objetivo de homenagear e perenizar a memória do Prof. Dr. Eduardo Fausto de Almeida Neves, o pesquisador escolhido para receber a medalha foi o Prof. Dr. Ivano G. R. Gutz – docente do IQUSP desde 1978 e Professor Títular a partir de 1992 – por suas contribuições acadêmicas e cientí cas na área de Química Analítica.

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Conheça o ‘Química em Ação’:

projeto de cultura e extensão universitária que mistura Teatro e Divulgação Científica

Aprender e ensinar nem sempre precisam seguir os métodos tradicionais, com cadernos e livros. Na maioria das vezes, alguns conteúdos estão mais presentes no cotidiano do que se possa imaginar. É o caso da Química. E a forma escolhida para comunicar e ensinar fundamentos e reações, por exemplo, podem fazer com que o público se aproxime e se interesse ainda mais por esta ciência. A partir desta ideia, foi criado o ‘Química em Ação’ (Q&A) — grupo de teatro feito pelos estudantes do Instituto de Química da USP que busca ensinar química de uma maneira descontraída.

O projeto foi elaborado em 1985 pelo docente José Atílio Vanin, sob organização da professora Maria Regina de Alcântara, com o objetivo de comunicar a ciência de forma leve e despertar o interesse do público pela química. José dedicou grande parte de sua carreira ao ensino de Química de forma contextualizada às situações do dia a dia — não só pelo trabalho com o Química em Ação, mas também com publicações, como o livro ‘Alquimistas e Químicos: o Passado, o Presente e o Futuro’, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti em 1995, na categoria Estudos Literários.

“Ele era um grande expoente de Divulgação Cientí ca, estava sempre na mídia e escrevendo livros paradidáticos”, lembra Fábio Rodrigues, professor do Departamento de Química Fundamental e coordenador docente do Q&A,

junto ao professor Lucas Rodrigues. Na televisão, Vanin atuou como consultor dos programas didáticos Eureka, da TV Cultura, e Globo Ciência, da TV Globo. “Ele foi o mentor e criador da ideia do grupo Química em Ação, que era exatamente trazer um pouco mais do teatro para dentro da química e trabalhar a química de forma mais lúdica”, completa.

As apresentações do Q&A acontecem na USP, em visitas monitoradas, em feiras e também em escolas públicas e particulares, para estudantes do ensino fundamental e médio. Atualmente, estão na coordenação discente do grupo os estudantes Ana Echeguren, Lívia Andrade, Sophia Lima e Henrique Watanabe; ao todo, são 11 integrantes ativos no projeto. Juntos, eles encenam os espetáculos ‘Química das Sensações’, que explica reações e fundamentos da química através dos sentidos; ‘Química na Quimitaverna’, que discute o fazer cientí co para o público do ensino superior; e o ‘IQ-TV’, telejornal descontraído que traz notícias sob a perspectiva da química.

Livro ‘Alquimistas e Químicos - o Passado, o Presente e o Futuro’, de José Atílio Vanin 20
Imagem: Reprodução

Em entrevista ao Alquimista, os coordenadores discentes Ana Echeguren e Henrique Watanabe contaram sobre as motivações que os levaram a entrar no projeto. No caso de Ana, as experiências anteriores com teatro foram determinantes para a adesão ao grupo. “Minha história com o teatro é antiga, eu z 5 anos de teatro na época do ensino médio e do ensino fundamental. E vir para a USP, apesar de ser maravilhoso, ser o sonho de todo mundo, tirou isso [de mim], porque a agenda não batia mais com os horários. Então, quando eu descobri que a Química tinha um teatro, eu vim correndo e vim pelo teatro”, conta ela.

Já para Henrique, a decisão se deu pela vontade de atuar em projetos relacionados ao ensino de ciência. “Eu vim mais pela divulgação cientí ca. Antes de entrar no curso de Química, eu estava já procurando algo, porque alguns amigos meus da Poli [Escola Politécnica da USP] tinham falado de grupos de extensão de lá. Aí eu falei: 'Hum, isso parece ser interessante’, então comecei a procurar se tinha alguma coisa parecida na Química e vi que tinha a Semana da Química e tinha o Química em Ação”, lembra ele.

Com a elaboração das peças, que se atentam à linguagem e exploram visualmente reações e fundamentos químicos, o grupo contribui para a desmisti cação da Química tanto como disciplina escolar quanto como área do conhecimento, explica Fabio Rodrigues. "A visão que as pessoas têm da química é sempre de coisas ruins: 'ah, não contém produtos químicos', 'armas químicas'. Geralmente, se tem uma visão negativa na sociedade do que é a química. Acho que é um pouco daí que vem a ideia de você mostrar que a química está no nosso cotidiano, ter uma série de iniciativas para mostrar que a química é tudo. A química não é boa ou ruim. A química está aí. Agora, existem produtos, moléculas que podem fazer mal ou que podem fazer bem, existem formas de usar", comenta.

Além dos espetáculos teatrais, o grupo tem realizado o cinas práticas para explicar e demonstrar as reações. “São apresentadas reações químicas para aproximar, tentar fazer de forma mais lúdica e tirar o medo que as pessoas têm sobre o que é química, sobre o quão difícil e acessível ela é. Acho que a principal ideia que surge lá no começo e que se mantém é exatamente isso: trazer e ensinar química de uma forma mais divertida, menos séria e trazer as pessoas para se interessarem um pouco mais pela química com público de várias idades” , diz Fabio.

Nessa tarefa de buscar uma nova roupagem para os conteúdos, surgem alguns desa os interessantes. “O problema não está em explicar química, o problema está em entender o público. Acho que o maior desa o que a gente teve com isso foi quando a gente se apresentou na Paulista. É um público muito diverso. E aí, você também não sabe o nível de escolaridade daquela pessoa, de onde ela veio, você não sabe se ela é gringa. Então, esses eu acho que são os maiores percalços para a gente explicar química. O problema está em: ‘ah, eu tenho uma criança de 5 anos e preciso explicar uma reação de oxirredução: como é que eu faço isso? Como é que eu explico o que é um elétron? O que é um agente oxidante? O que eu explico?’. Tem que usar metáforas", conta Henrique.

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“Uma coisa que eu gosto muito e que o grupo em geral tenta é trazer para a realidade, principalmente. Então, se você sabe para que você usa aquilo, você tem mais interesse em saber como funciona. Eu também acho que é um desa o, até mesmo nas próprias escolas — a gente lida com diferentes escolas, de diferentes faixas etárias também, e cada escola a gente sempre pergunta se o pessoal já teve aquele conteúdo. A gente acaba descobrindo na hora se aqueles alunos já tiveram a matéria. Acho que o desa o é, principalmente, lidar com o público, porque cada pessoa aprende de forma diferente. Tanto que a gente ama quando vão perguntar para a gente no nal das apresentações, porque é uma forma que a gente nalmente consegue comunicar com aquela pessoa e fazer ela entender do jeitinho que ela quer”, acrescenta Ana.

Impacto na formação acadêmica

Durante o processo de ensino, ambas as partes saem ganhando. Não se trata de um momento passivo, em que ocorre apenas a absorção de um conteúdo. Do lado daquele que está realizando a exposição,

participar de atividades de divulgação cientí ca pode ser uma forma de exercitar conceitos aprendidos em sala de aula e de adquirir novas habilidades. Fabio explica que, além das iniciativas de cultura e extensão servirem como uma válvula de escape para a tensão da vida universitária, também são ambientes que favorecem a formação tanto do pro ssional que atuará como professor, quanto para aquele que seguirá no mercado. "Aqui, nós estamos formando pessoas que muitas vezes vão ser professores ou mesmo [que vão atuar] no mercado de trabalho e vão ter que ensinar, vão ter que mostrar o que elas fazem. Então, nesse grupo a pessoa que é mais inibida perde a inibição e aqueles que já são mais desinibidos aprendem como explicar de forma clara e para diversos públicos. Acho que isso é uma qualidade muito grande do grupo”.

No início de 2023, a m de atender à resolução 07/2018 do Conselho Nacional de Educação (CNE), a Universidade de São Paulo informou que os cursos de graduação terão de contemplar atividades de extensão em 10% de sua carga horária curricular. A medida segue a avaliação do Ministério da Educação (MEC) e abrange instituições públicas e privadas. A respeito desta resolução, Fabio comenta que a entrada da extensão universitária de forma obrigatória e objetiva na grade curricular é um dos importantes caminhos de retorno da universidade para a sociedade.

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(..) que é quem está pagando esses alunos, os docentes, os funcionários, nós todos. Essas iniciativas que hoje existem vão ser cada vez mais frequentes, para o aprendizado não ocorrer só dentro da sala de aula. Ter um aprendizado ativo na questão de você fazer, de ir e de devolver à sociedade. Então, acho que isso é algo muito interessante que a gente observa. E o Química em Ação já é uma das iniciativas daqui da Química que tem feito isso”, a rma o docente.

Ana e Henrique comentaram também sobre o papel que o Química em Ação desempenha em sua formação. “Eu gosto muito da felicidade da gente em mostrar para o público lá fora o que a gente faz aqui dentro. Apesar de eu querer ir para a área de pesquisa, foi meu primeiro contato com a licenciatura, porque a gente vai nas escolas e tal. E para mim está sendo muito interessante. Mesmo se eu continuar na questão de pesquisa, eu quero continuar na divulgação cientí ca também, porque é importante para a gente devolver o dinheiro que gastam com a gente para a sociedade de alguma forma”, conta Ana.

“É aquela famosa frase de que quando você explica para alguém, você entende muito melhor do que se você car só lendo um capítulo, um livro ou só fazendo exercícios. Então, acho que colocar os alunos de maneira a entrar em contato, explicar experimentos e entender ciência um pouco mais a fundo, para explicar para outras pessoas e faixa etárias em níveis de educação muito diferentes, isso acaba sendo super importante”, diz Henrique.

O Q&A atualmente é composto apenas por estudantes do IQUSP, mas está aberto a novos integrantes vindos também de outros cursos. Para participar, basta entrar em contato com o grupo no e-mail quimicaemacao@gmail.com ou pelo @quimica_em_acao no Instagram.

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[O Química em Ação] é uma forma da gente mostrar para a sociedade o conhecimento que é produzido aqui e devolver para ela (...)

Para além da Química: Masoud Negahdary

Pós-doutorando no Laboratório de Química Analítica Instrumental do IQUSP, Masoud Negahdary foi o único pesquisador não-docente do instituto incluído na lista de cientistas mais in uentes do mundo em 2022, publicada na Updated Science-wide Author Databases of Standardized Citation Indicators no início de outubro. O estudo é elaborado anualmente pela Universidade de Stanford (EUA) e analisa a in uência dos cientistas com base na Scopus — o maior banco de dados mundial de resumos cientí cos e citações revisados por pares. Além dele, 14 docentes do IQ também integram a lista.

Acompanhe a seguir os principais trechos da entrevista com Masoud:

*em tradução livre para o português

Como foi para você saber que foi selecionado para integrar uma lista de pesquisadores mais in uentes do mundo?

“Não foi nada demais”, diz ele. “Eu só z meu trabalho. Um trabalho bem feito. É bom, principalmente para nos motivar, mas não é algo tão importante para mim, não é meu objetivo (...)

Sob orientação do professor Lúcio Angnes, do Departamento de Química Fundamental, e nanciamento FAPESP, o iraniano Masoud dedica sua carreira — desde o mestrado — a pesquisar e desenvolver biossensores eletroquímicos para, através da detecção de biomarcadores, realizar o diagnóstico de doenças como a COVID-19, Alzheimer e câncer. Ao longo de sua trajetória, ele já publicou mais de 100 artigos em diferentes revistas de alto impacto, entre elas a Coordination Chemistry Reviews e a revista Science.

Masoud acredita que a chave para o sucesso está na disciplina e na dedicação. Ele conta, por exemplo, que muitos dos resultados foram conquistados pelo trabalho além do expediente — um sacrifício que vale o esforço, se for para ajudar as pessoas. Além disso, defende a especialização na carreira cientí ca. “Você pode mudar de área ao longo do tempo, mas se não focar em alguma coisa, não conseguirá fazer a diferença e ser o melhor naquilo. Durante toda a minha carreira, desde o mestrado, eu foquei no design de biossensores eletroquímicos. Então, foram mais de dez anos trabalhando sempre na mesma linha, no mesmo tópico”.

(...) Tudo que fiz foi em prol da ciência.
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247 pesquisadores da USP estão entre os mais influentes do mundo

Por que você escolheu o Brasil e o IQUSP para realizar o seu pós-doutorado?

“Eu conheci o professor Lúcio através de suas publicações, ele tem alguns artigos muito bons em revistas de grande impacto. Então, um dia mandei um e-mail e ele me disse que eu seria bem-vindo aqui, mas que precisaria aplicar para a FAPESP para obter nanciamento para a minha pesquisa”.

O projeto de Masoud foi aprovado em abril de 2019 e, após um maior controle da pandemia de COVID-19 e a retomada das viagens internacionais em 2021, ele nalmente chegou em São Paulo. “Além disso, aqui vocês têm um grande privilégio, que é não precisar trabalhar enquanto se faz a pós-graduação. Durante meu mestrado e doutorado no Irã, eu trabalhei dentro e fora da universidade, não tive outra opção. Mas aqui, o cientista recebe para fazer sua pesquisa. Os alunos deveriam aproveitar mais essa oportunidade”.

E como você se sente aqui hoje?

“O professor Lúcio é uma ótima pessoa e me dá muita liberdade no meu trabalho, ele me deixa tomar minhas próprias decisões e eu não me sinto limitado aqui. Além disso, todos me tratam muito bem e isso faz toda a diferença. As pessoas se ajudam e se respeitam, é muito importante ajudar uns aos outros, investir no ambiente em que se vive”, diz Masoud. “E eu também gosto de passear, de conhecer bons restaurantes, músicas novas, assistir aos jogos da Copa do Mundo aqui em São Paulo. A única di culdade é a língua, porque muita gente não fala inglês e eu não sei português. Acho que já aprendi mais de 200 palavras até agora, o su ciente para mercado e coisas assim, mas a comunicação é difícil”.

Para encerrar, quais são seus planos para o futuro?

“No momento, tenho algumas opções. Estamos tentando uma Bolsa de Pesquisa no Exterior (BPE) pela FAPESP, para passar um ano nos Estados Unidos. Já consegui estender meu pós-doutorado em um ano, então esse é o plano”. Com o objetivo de ajudar as pessoas e contribuir para o avanço da ciência e saúde mundial, Masoud não pretende abandonar a pesquisa tão cedo, seja onde for. Porém, ele não descarta continuar sua vida no Brasil pelos próximos anos. “Costumo dizer que minha mãe é o Irã, mas meu coração é o Brasil. Eu adoro este país”, conclui.

Sobre o pesquisador:

Masoud Negahdary é nascido e graduado no Irã. Ph.D em Bioquímica Clínica pela Universidade Shahid Sadoughi de Ciências Médicas, desde 2021 atua no Grupo de Pesquisa em Química Analítica Instrumental do IQUSP, coordenado pelo Prof. Dr. Lúcio Angnes, do Departamento de Química Fundamental. Financiada pela FAPESP, sua pesquisa de pós-doutorado é centrada no 'Projeto e fabricação de biossensores eletroquímicos para diagnóstico precoce de infarto do miocárdio e de Carcinoma Hepatocelular usando primers de microRNAs como elemento de bioreconhecimento e arranjos de matrizes de nanoestruturas de ouro'.

Mais informações: masoudnegahdary@ssu.ac.ir

Imagem: Bruna Larotonda
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Galeria de artes do IQ

Onde a comunidade do IQ expõe sua veia artística

O Fim em si mesmo

No ponteiro indas e vindas, No trabalho não produzo, o que faço?

Passa o tempo, expediente não finda, Passa o tempo...

Vendo meu tempo, vendo meu suor, Vendo minha vida e não me dão valor, Vendo saudade, minha sanidade, humanidade,

E me trocam como uma máquina se não entrego produtividade.

LIBERTAÇÃO

Não haverá, da minha parte, nenhum dia de paz

Até que todas as jaulas estejam vazias,

Não haverá sequer um segundo de alegria,

Até que todas as fábricas estejam desertas.

O morto trabalho é meu produto, Pútrido, vencido, perdido. Preciso que comprem para me alimentar, Preciso que comprem para meus remédios tomar, Preciso que comprem, para, de novo, me vender.

Preciso deles, Eles, não de mim.

Autor Anonimo

Nada se salva perante a exploração, Gritos de dor ecoam e ensurdecem.

Nada resta da destruição, Cadáveres de todos os tipos apodrecendo o mundo.

Pelo fim do Deus trabalho,

Para que os pássaros voltem a voar, Pela liberdade incondicional de todos os seres,

Para que todos voltem a sonhar.

Autor Anonimo

Cena

O meu silêncio não pode estar alienado a sentimentos, mas seria melhor, como seria, se tudo parecesse perfeito...

Mas as horas mastigadas, repletas de incêndios, se confundem com perfumes, flores e incensos. No mapa seguido, caminhadas se vão... - Olha! Alguém chega sorrateiro.

A fumaça da chaminé me tranquiliza, há bolo de chocolate no fogão, café requentado em cima da mesa, papo rasgado, barcos passados... Mas não tenha tanta certeza...

A música que toca faz alarde, no seu sermão, tudo parece alarme.

Cascatas no meu coração... Na face cachoeiras, retornas à beira, margeia loucuras em estradas que são devaneios. Em cima do fogão, o bolo acabou, o café derramou em cima da mesa, Estamos em cena.

Galeria de artes do IQ

Onde a comunidade do IQ expõe sua veia artística

L. F. Trainotti Sem título

Joker Anelise Sandei

Galeria de artes do IQ

Onde a comunidade do IQ expõe sua veia artística

O absurdo de um dia em Sao Paulo

Um dia simplesmente acontece, você jovem perdido pelo mundo sobre a janela de um ônibus ou no banco de um carro, a rua escura, com luzes fracas de poste. Você entendeu. Essa vida que julgava cheia de belezas e sinas desabou e o que resta é o singelo absurdo e sua companhia para a eternidade.

Não se conhece, no espelho um estranho, na sua cabeça uma voz distante sem direção ou expressão, tudo é morto dentro por dentro e cinza por fora, a cidade tem um tom cinza escuro, as luzes amarelaram-se e o ar esfriou. Perdido dentro de si ou dentro dela já não mais imporá, encontrar-se talvez seria uma boa opção se soubesse por onde começar.

Uma boca come à mesa, seu sanduiche favorito tem o mesmo gosto das sensações mais comuns que experienciou, um cachorro caramelo de um bonito sorriso passa ao seu pé, meio sanduiche e metade do sabor sentido, molhos carnes pão formando algo sem forma sem identidade, que com sofrimento é engolido.

A noite traz tantos sonhos, acordados ou dormindo agem mediocremente de forma que nunca se completarão, uma casa diferente, uma oresta talvez, heróis e vilões. Prefere-se a disposição, a solidão e a solitude. Quando só, um livro é escrito, sem pretensão ou ambição, uma sombra em seu quarto atrás de uma tela clara deitando sobre o teclado seus pensamentos mais tristes... não. Não são pensamentos tristes, é a vida em sua mais pura verdade. Um quadro pintado sobre a mais pura realidade demonstra complexidade e confusão, Guernica de Picasso mostra como a ressigni cação é expressada na tela, nada de tristeza ou pretensão, a vida nua e crua é cruel.

A beleza vem pela manhã, um novo dia em sua janela, que busca a felicidade de Cecília. O banho e o café são sagrados quando vê-se de fora, um ritual meticuloso e monótono com sua importância particular, o ônibus não espera, a casa trancada e o cansaço no bolso. Essas pessoas são conhecidas, no fundo duas são vistas amanhã, o motorista de ontem e a linda garota de todo dia. Esse momento tão inútil e repetitivo se estende por horas, passa-se o ponto terminal e todos descem.

Fones de ouvido para escutar o mundo irreal, o real já não basta, na música busca-se o que não se tem no momento, na arte em geral busca-se formas de se completar. Um homem na estrada deitado, morto ou vivo, o trem avança pela selva de concreto. Garoa azul, fumaça branca, céu cinza, rostos cinzas.

Cabelos coloridos são a maior atração, guardam um belo rosto pequeno e apático sob suas mechas. Um olhar, um aceno, um sorriso, um gesto e se foi. A beleza única do dia, no mesmo lugar à mesma hora, sempre seu all star azul que borra a visão e o cheiro de laranja que perfuma sua imagem.

Mais um dia passa-se dentro de um mesmo lugar com um mesmo cheiro, as mesmas aulas e as mesmas cadeiras, o chão imóvel como as arvores que se seguram da chuva. Essas vozes cansam os ouvidos, essas palavras se perdem no quadro. A lousa com números e formulas dá o peso do futuro, E você sente o peso do passado.

Antes de tudo, porém, é preciso devolver ao raciocínio absurdo rostos mais calorosos. Rostos vivos com sensações únicas e visões distintas, a lembrança dos seus erros é o que o faz deixar de lado a alegria expressa na face para cobri-la com o passado, e é esse passado que nos nutre com a íntima história vivida.

Autor Anonimo
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