Alquimista #169 - 2024

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Olá, caros leitores e leitoras!

Sejam muito bem-vindos e bem-vindas a mais uma edição do nosso Alquimista — a revista do IQUSP. Para estrear 2024 e celebrar os 90 anos da Universidade de São Paulo, decidimos dar um especial destaque para o pilar que, junto ao Ensino e à Pesquisa, compõe o tripé que sustenta a nossa instituição: a Cultura e Extensão Universitária. Nas próximas páginas, você lerá sobre o novo Prêmio de Cultura e Extensão do IQUSP, lançado no ano passado; as principais iniciativas de integração com a comunidade externa, como o Dia de Portas Abertas e a Feira USP e as Profissões; ações individuais de docentes e grupos que acreditam na força e importância da divulgação científica; além de uma entrevista inédita com o nosso querido ‘Jura’, funcionário da CCEx-IQUSP.

Pegue sua bebida, acomode-se e boa leitura!

Equipe de ComunicaÁ„o do IQUSP

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Instituto de QuÌmica

Reitor

Prof. Dr. Carlos Gilberto Carlotti Junior

Pró-Reitora de Cultura e Extensão

Prof™. Dr™. Marli Quadros Leite

Diretor

Prof. Dr. Pedro Vitoriano de Oliveira

Vice-Diretor

Prof. Dr. Shaker Chuck Farah

Chefe do DQF

Prof. Dr. Massuo Jorge Kato

Chefe do DBQ

Prof. Dr. Jo„o Carlos Setubal

Editores

Prof. Dr. Hermi F. Brito

Bruna Larotonda Telezynski Lopes

Redação

Bruna Larotonda Telezynski Lopes

Aldrey Olegario

Projeto gráfico

Leticia Facchini

Colaborador Cezar Guizzo

E se você quiser contribuir conosco, mande sua dica ou sugestão para comunicacao@iq.usp.br.

Prêmio José Atílio Vanin

Maria Eunice Marcondes È reconhecida por seus trabalhos com o GEPEQ

Dia de Portas Abertas

IQUSP recebe os alunos do ensino mÈdio em seus laboratÛrios

Feira USP e as Profissões

Saiba mais sobre o evento anual que atrai milhares de pessoas ao campus da capital

Você sabia?

GEPEQ: conheÁa o Grupo de Pesquisa em EducaÁ„o QuÌmica do IQUSP

Galeria de talentos especial

ColeÁ„o de fotos dos eventos de Cultura e Extens„o do IQUSP em 2023

Babaçu: do óleo ao biodisel

Projeto do IQUSP explora as v·rias possibilidades de uso desta planta

IQ na mídia

As principais publicaÁıes recentes sobre o Instituto de QuÌmica da USP

Para além da Química

Jurandir Aparecido Luiz

Despedida ao som de samba rock

Prêmio de Excelência em Cultura e Extensão Universitária José Atílio Vanin

Em sua primeira ediÁ„o, novo prÍmio do Instituto reconhece a trajetÛria da docente Maria Eunice Ribeiro Marcondes no Ensino de CiÍncia

Incentivar e promover a cultura e extensão enquanto um dos valores da Universidade. Esses são alguns dos objetivos que fazem parte da mais nova honraria do IQUSP, o Prêmio de Excelência em Cultura e Extensão Universitária José Atílio Vanin, que teve como primeira homenageada a docenteMariaEuniceRibeiroMarcondes.

Mas vamos começar do início. Uma das primeiras curiosidades que surgem quando nos damos conta de que um espaço (como o famoso Anfiteatro Paschoal Senise) ou uma premiação tem seu título dado a partir do nome de alguém é saber quem foi a pessoa homenageada. E, ao conhecer a história de José Atílio Vanin, ficará simples de entender o porquê de um prêmio de

ressonância magnética. Os cristais líquidos compreendem aqueles materiais que têm sua ordem estrutural intermediária ao estadosólidocristalinoelíquidoisotrópico.

Conhecendo JosÈ AtÌlio Vanin

Em outras palavras, são materiais que apresentamdeformaparecidaesimultânea características de materiais sólidos, como propriedades óticas e eletromagnéticas, e característicasdemateriaislíquidos,comoa fluidez. Essas propriedades possibilitam diferentes aplicações tecnológicas em estudos de Ressonância Magnética Nuclear(RMN),porexemplo.E,aofalarem RMN, cabe destacar a contribuição de Vanin para a instituição de um laboratório para as pesquisas em Ressonância Magnética Nuclear no Instituto de Química – tema que desenvolveu sob orientação de LeonardReeves.

JoséAtílioVaninfezpartedaprimeira turma de químicos formados pela USP na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Natural de Lins, a 429 quilômetros da capital paulista, Vanin entrou para o curso de química em 1964 e começou a atuar como professor no Colégio de Aplicação da USP em 1967, ano em que

A principal linha de pesquisa em que Vanin se dedicou desde o ingresso na pós-graduação, em 1969, até o pós-doutorado foi acerca dos Cristais Líquidos, estudados a partir da técnica de

Outro campo de atividade que deixa a marca do docente no IQUSP é o da Cultura e Extensão Universitária. Atílio foi responsávelpelacriaçãodogrupodeteatro , que desde a sua formação, nos anos 80, até hoje é protagonizado pelo corpo

IMAGEM: REP RODUÇ ÃO / QUÍMICA NOV A 04
José Atílio Vanin

do Instituto. Com o propósito de comunicar a químicademaneirasimples,oQuímicaemAção realizaespetáculosdescontraídosparaopúblico externo, principalmente com apresentações pensadasparaestudantesdociclobásico.

Vanin também atuou na divulgação da Química nos veículos de comunicação. O programa Eureka, daTV Cultura (antiga Rádio eTelevisãoCultura)—noqualeraconsultor—, foi criado em 1987 como um programa de auditório voltado ao público jovem. Na grade, experimentos, explicações de conceitos científicos e apresentações de invenções de pesquisadores do país eram demonstrados parainstigarointeressedaplateiaedopúblico de casa.“Eu decidi fazer Química olhando os livros do professor Vanin. Entrei na USP em 2002 e, no ensino médio, eu lia reportagens, li livros paradidáticos dele.Então, é uma pessoa que até hoje a influência dele é muito presente”, diz Fábio Rodrigues, docente do Departamento de Química Fundamental e presidentedaComissãodeCulturaeExtensão do IQUSP (CCEx). “Quando se pensou no prêmio, poderia criar [o título] do nome de alguém ou criar um novo nome para o prêmio. E foi muito natural que viesse essa homenagem a ele, porque apesar de 23 anos depois de ter falecido, você ainda vê que o trabalho dele tem repercussão. Foi um nome que a CCEx aprovou muito rápido e que todos acham que é um reconhecimento e também

Pensar

ëCultura

e Extens„oí no ambiente universit·rio

A ideia de que o tripé que dá forças à universidade é composto por Pesquisa, Ensino e Extensão é amplamente difundida no espaçouniversitário.Oúltimotratadainteraçãoda universidade com a sociedade, que pode ser realizada nos mais diferentes modelos — em cursos e serviços, por exemplo. Encontrar formas de valorizar e fomentar as atividades de extensão tambémfazpartedopapeldauniversidade.“Uma das coisas que acontece é que na carreira acadêmica, a Cultura e Extensão é menos reconhecida do que a Pesquisa. Então, produzir um artigo tem muito mais valor; na graduação, a pessoa acaba fazendo as aulas que são obrigatórias; na pós-graduação, você tem a interface de pesquisa – e a pesquisa tem muito valor. A Cultura e Extensão é aquela que acaba candosempremeiodelado”,dizFábioRodrigues.

A ideia de que o que dá forças à universidade é composto por Pesquisa, Ensino e Extensão é amplamente dainteraçãodauniversidadecomasociedade, que pode ser realizada nos mais diferentes modelos—emcursoseserviços,porexemplo. Encontrar formas de valorizar e fomentar as atividades de extensão também faz parte do papel da universidade. “Uma das coisas que acontece é que na carreira acadêmica, a Cultura e Extensão é menos reconhecida do que a Pesquisa.Então, produzir um artigo tem muito mais valor; na graduação, a pessoa acaba fazendo as aulas que são obrigatórias; na pós-graduação, você tem a interface de pesquisa – e a pesquisa tem muito valor. A CulturaeExtensãoéaquelaqueacabaficando

É a partir desse desafio que surge a ideia de criar o Prêmio de Excelência em Cultura e Extensão Universitária José Atílio Vanin. “É dar maisvaloraessasatividadeseaessaspessoas, que muitas vezes trabalharam com a cultura e extensão a vida inteira mesmo contra a corrente, mesmo sem ter o devido valor a esse trabalho”, conclui Rodrigues. Ele pontua também a dinâmica de cobrança no âmbito acadêmico, no qual a demanda pela extensão acaba, por vezes, sendomaiordoque o reconhecimento das iniciativas e projetos.

IMAGEM: REPRODUÇ ÃO / T V CUL TURA
PROGRAMA EUREKA
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Maria Eunice Ribeiro Marcondes: trajetória no Ensino de Ciência

de Química Analítica Ambiental, também teve o ensino de química enquanto um dos seus campos de dedicação – que foram desde a aproximação do Instituto com as escolas do ensino médio até a própria estruturação de disciplinas de licenciatura no curso de Química. “Me aproximei do professor Pitombo e comecei a trabalhar com ele na instrumentação”, diz. Desse contato, nasceram frutos duradouros no

O caminho de Maria Eunice como professora começa em 1975, dando aulas de química para estudantes do curso de Física. Nesse momento, ela e outros professores organizaram uma proposta diferente para ensinar química aos alunos da Física: estruturaram um curso mais interativo, instigando o raciocínio em sala e comaulasnolaboratório.“Eusempregostei do ensino. No ensino médio, eu dava aulas para os meus colegas. Na graduação, dei algumas aulas aqui e gostava muito, gostava dessa interação e de ver as pessoas aprendendo”, relembra

Homenageada na categoria docente, Maria Eunice Ribeiro Marcondes tem como uma de suas principais contribuições a dedicação no campo do Ensino de Ciência. E o interesse em voltar-se para esse campo, além do gosto pelas aulas, aconteceu a partir da disciplina Instrumentação para o Ensino de Química, ministrada pelo professor Luiz Roberto de

Pitombo foi um nome importante dentro da trajetória de Maria Eunice. O professor, que teve destaque em pesquisas

É o caso do GEPEQ, Grupo de Pesquisa em Educação Química, que tem suas atividades voltadas aos alunos e professoresdociclobásico(aliás,naseção ‘Você Sabia’ desta edição você pode conferir a reportagem que preparamos sobre este projeto). “Nós tomamos a decisão de fazer um projeto de ensino para o que aquela época chamava segundo grau, hoje o ensino médio. Com isso tínhamos professores do ensino médio trabalhando conosco e também estávamos em contato com a Secretária de Educação. Aquilo que a gente produzia de material no projeto, havia um grupo de professores da

Ao comentar sobre o Prêmio, Maria Eunice também compartilhou sua vivência com o professor Atílio Vanin. “Acho que o nome do prêmio ‘José Atílio Vanin’ foi muito bem escolhido. Tive a oportunidade de conviver com o professor Vanin na minha graduaçãoedepois,napós-graduação,eele era uma pessoa fora de sério, com uma cultura espetacular e com ideias provocativas. Uma pessoa incrível mesmo”, relembra.“Esse prêmio foi inesperado.Acho que—voumeaposentaranoquevem—foi uma coroação do meu trabalho aqui. Foi muito importante mesmo e eu fiquei muito

IMAGEM: COMUNICAÇÃO IQU SP 06
Maria E. R. Marcondes

Sobre o papel da Cultura e Extensão, a docenteexplicaqueéessencialnãosóparaa divulgaçãodaciência,mastambémdaprópria universidade e da oportunidade de ingresso em umainstituiçãodeensinosuperiorpública. “É mostrar que a universidade não é um mundo à parte, que pode estar dentro dos projetos dele [aluno de ensino médio] e que não é impossível cursar uma universidade

A Extensão como frente de combate à desinformação em Ciência

Uma das modalidades de análise do Prêmio José Atílio Vanin — além das ações voltadas à educação básica e das ações de divulgaçãodeciênciaemespaçosnãoformais — compreende a divulgação de ciência na mídia e para o público geral. Em pesquisa realizada pelo InstItuto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), foi apontado que as redes sociais contribuem com a amplificação da circulação de informações em ciências imprecisas ou

É aí, na discussão sobre o alcance daquilo que é produzido na academia, que as ações com caráter de extensão se inserem. São pesquisadores, grupos e iniciativas que

difundir,atravésdeumalinguagemedeforma de comunicar mais próxima à das redes sociais, conteúdos de ciência de forma acessível ao público não especializado.“É uma responsabilidade da universidade produzir esseconhecimento.Seapessoanãotemuma fonte confiável que faz esse papel, outras pessoas vão ocupar esse lugar”, diz Fábio

Mas, como explica o docente, a outra face e desafio da divulgação em ciência nas mídias vai além da produção dos conteúdos em si. Está relacionada à percepção que a sociedade tem sobre a forma como a ciência é feita, principalmente no que diz respeito às expectativas por respostas rápidas e absolutas.“As pessoas querem respostas e a ciência nunca fala ‘com certeza’. Então, quando alguém dá uma resposta muito assertiva,mesmoquenãosejaamaiscorreta, às vezes essa opinião vende”, indica Rodrigues. “Isso também é uma questão de ensinar a população como a ciência funciona. A ciência muda. A ciência não tem compromisso com o erro. A gente tem uma determinada ideia baseada em fatos e pesquisas e, depois, outras visões podem mudar quando se tem novas evidências.

Por dentro dos laboratórios, o Dia de Portas Abertas do IQ

Acompanhe

como È um dia de Visita Monitorada com estudantes do ensino mÈdio no Instituto

Você se lembra da primeira vez em que ouviu falar da UniversidadedeSãoPaulo?Edaprimeiravezemque cousabendoo queeramasuniversidadespúblicas?Atéocaminhoparaaescolhade umcurso,umabasedeinformaçõesénecessária.Equalmelhorforma de resolver algumas das dúvidas sobre a decisão de carreira do que conversando com estudantes e pro ssionais da área, não é mesmo?

É com isso em vista que a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária instituiuoprogramadeVisitasMonitoradasnaUSP— para ajudar, principalmente, os estudantes do ensino médio e de cursos preparatórios nesta etapa pré-vestibular. Mas não só isso: através das visitas monitoradas, que são gratuitas, os participantes também entram em contato com outros setores que fazem parte da Universidade além das unidades de ensino, como os museus e os órgãos de integração e apoio universitário.

Ao participar de uma visita, o estudante conhece também as oportunidadesdisponíveisapartirdoingressonoensinosuperior— como os programas de permanência, atividades extracurriculares, esportes e os coletivos estudantis. Ser apresentado a essas possibilidades e o contato com o corpo estudantil e docente das unidades contribui para a familiarização com o espaço universitário e com a ideia de que ingressar em uma universidade pode ser uma escolha viável para aquele estudante.

Os dias em que acontecem as visitas no IQUSP são chamados de Dia de Portas Abertas. Na data, alunos da graduação, docentes, técnicos e demais membros da comunidade do IQ se engajam para recepcionar e apresentar o Instituto aos visitantes. Acompanhe a seguir como tudo isso acontece na prática.

O Dia de Portas Abertas

“ParaqueumDiadePortasAbertaspossaacontecer,temosque mobilizar, na verdade, muita gente da comunidade. Por exemplo, a gente marca, fala para a Reitoria as datas, essa é uma decisão feita lá na reunião da CCEx [Comissão de Cultura e Extensão do IQ]. O secretário ou secretária [da Cultura e Extensão] comunica tanto a Pró-Reitoria quanto a diretoria de que vai acontecer o evento”, descreve Carlos Takeshi Hotta, docente do Departamento de Bioquímica e coordenador da Comissão de Cultura e Extensão do IQ.

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Assim que chegam ao Instituto, os visitantes são recebidos ao som da bateria universitária do IQUSP, a Tubatuque. Além de contagiar o público em eventos como o Dia de PortasAbertaseaSemanadeRecepção dosingressantes,aTubatuqueparticipa de torneios de baterias universitárias e realiza apresentações fora do campus. Ela é a primeira entidade estudantil com a qual os jovens entram em contatonodiadoeventoe,apartirdaí, eles começam a ser apresentados às diferentes formas de se relacionar com o espaço acadêmico.

Feita a apresentação, os estudantes e seus familiares, que por vezes também vem acompanhá-los, dão continuidade à imersão. Neste momento, é tempo de conhecer melhor o curso — e, diga-se de passagem, sanar a famigerada dúvida dos vestibulandos sobre QuímicaouEngenhariaQuímica.Tudoéexplicado emdetalhes:dasformasdeingressoàsdisciplinas, grade curricular de cada ênfase e campos de atuação pro ssional. E, embora à primeira vista pareça um momento apenas de escuta, em poucos minutos os jovens começam a levantar as mãos e resolver as dúvidas e os inquietamentos sobre o vestibular que trouxeram de casa.

Nos corredores, a caminho dapróximaatividade,osvisitantes começam a discutir entre si sobre oqueouviramecompartilhamsuas opiniões. Alguns já saem dessa parte com a certeza de que “é isso mesmo”; outros expõem que talvez a Química não seja a melhor escolha. Neste último caso, a participação na Visita Monitoradatambémajudaoestudantenatomadade decisão. “Considero que é extremamente importante que o candidato esteja o mais informado possível de suas escolhas. Portanto, a gente dá essa oportunidade, dos candidatos virem everemseéocursoqueelesqueremousenãoéo queelesquerem.Éumaoportunidadequeagente tem que oferecer”, diz Carlos Hotta. “A gente não quer só recrutar pessoas para o Instituto de Química. A gente quer que os candidatos entendamqualéomelhorcursoparaeles”, naliza.

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Depois de conhecerem a Tubatuque, o Nox Podcast e serem apresentados às demais entidades, chegamos ao Química em Ação — projeto teatral de divulgação cientí ca do IQ. Entre um experimento e outro, são percebidos risos e descontração. Assim que se encerra a apresentaçãodeteatro,osvisitantesaproveitam paratiraraquelasdúvidasdealunoparaaluno,já que os membros das entidades e os monitores daVisitasãoosprópriosestudantesdoInstituto: a ições sobre o dia do vestibular, provas, expectativas individuais e como é o dia a dia de um aluno de química são temas recorrentes nas perguntas. “Isso é muito importante, esse projeto de Portas Abertas, porque você dá esperança para os jovens e mostra que isso não éumfuturotãodistante.Nãoéalgotãodistante, é algo que está perto da gente, que está fácil para a gente. E isso dá ânimo. Dá força para a gente seguir”, conta a estudante do ensino médio Daisa Rayssa.

Sobreessesuporteprestadoaosvisitantes, Hotta explica qual é o papel da universidade ao trazer o público externo para o campus. “Isso também faz parte da experiência universitária. Então,[oDiadePortasAbertas]éumserviçoque a gente faz para a comunidade externa junto a outros serviços de extensão, que são muito importantes.SãoumaformadoInstitutomostrar o que faz e retornar um pouquinho do que recebe da população para a sociedade, para a própriapopulação”. Ecomoaculturaeextensão não é uma via de mão única, do lado de cá, as visitas também surtem seus efeitos. “Os alunos degraduaçãotêmaoportunidadedevercomoa comunidade externa percebe eles e o curso deles.Eachoqueissoaumentamuitoasensação de pertencimento nesses alunos. Porque às vezes, a gente acaba é cando um pouco triste ousobrecarregadocomcríticasqueagentetem aocurso,àscondiçõesdeestrutura,àspolíticase ausência de auxílios; mas quando a gente começaaverauniversidade,ocursodequímica e a si próprios pelo olhar da comunidade externa, a gente começa a perceber o quão valioso é o que a gente tem, sem querer esconderosdefeitos”,comentaHotta.

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Os campos de pesquisa e laboratÛrio did·tico

Divididos em grupos menores, na última etapa da visita os participantes são direcionados aos laboratórios. É quando eles veem de pertinho os equipamentos e conversam com os pesquisadores sobre as respectivas áreas de pesquisa. Avoltapassaporlaboratórios dos Departamentos de Química Fundamental e Bioquímica e mostra como pode ser amplo o campo de atuaçãodeumquímico.

“Tá sendo muito legal, eu vim aqui ano passado também e foi uma mudança de mente para mim. E hoje também está sendo. Tô conseguindo saber o que eu queroseguir.Euameiaáreadabioquímica dasmitocôndrias,nãolembravaqueexistia, mas amei também”, comenta Daisa ao nal da visita aos laboratórios. Nesse momento, os pesquisadores conseguem compartilhar com os jovens suas trajetórias e mostram como pro ssionais formados em outros campostambémpodematuarnoIQUSP.

No m da tarde, o Dia de Portas Abertas se encerra no laboratório didático, onde os monitores discutem conceitos químicos com os visitantes a partir de uma série de experimentos.“Aextensãoéfundamentalpara a universidade. Ela faz parte também do porquê ela existe. Ela ajuda a justi car a sua existência, então é essencial esse trabalho da melhormaneirapossível”,encerraHotta.

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Do óleo vegetal ao biodiesel, conexões entre preservação ambiental e sala de aula

Projeto do IQUSP explora potencial do babaÁu com estudantes do ensino mÈdio em atividade sobre QuÌmica Verde

Apartirdavariedadedesuasformasde utilização, como farinha, artesanato e fármacos, o babaçu (Attalea speciosa) se apresenta como um importante recurso vegetal nativo do Brasil no âmbito da cultura e da sustentabilidade. Atrás do pequi, ele é o segundo produto que mais recebe subsídio da Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio), criada para estabelecer um preço mínimo a ser pago em produtos extrativistas que contribuem com a conservação de biomas brasileiros de forma a garantir, assim, uma receita mínima aos produtores.

Amaiorocorrência dobabaçusedá nas regiões norte e nordeste do país. É a partir do óleo deste vegetal, um dos principais subprodutos obtidos, que começamos a nos direcionar aos laboratórios do IQUSP. Isto porque deste óleo, também usado para a confecção de sabão, se produz biodiesel. A síntese de combustível sustentávelàbasedoóleodebabaçu foi o tema das atividades desenvolvidas por escolas do ensino médio no Instituto de Química duranteosanosde2023e2024.

A aula È no laboratÛrio!

O projeto Escolas no IQ, criado em 2021, recebe escolas públicas e privadas para passaremodiadesenvolvendoexperimentosno Laboratório Didático, além de conhecerem outroslaboratóriosdosdepartamentosedemais setores do Instituto, como a Central Analítica. “Começou quando eu convidei uma escola para vir para cá conhecer e fazer o que chamam de hands-on [uma metodologia de ensino dinâmica e interativa — a famigerada expressão ‘mão na massa’], visitando os laboratórios”, diz OmarAbouElSeoud,docentedoDepartamento de Química Fundamental e organizador do

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IMAGEM: COMUNICAÇÃO IQU SP

organizador do projeto.“Como deu muito certo, ampliamosparatrêsescolas.”

Para a produção do biodiesel a partir do óleo de babaçu, buscou-se mostrar aos estudantes conceitos da Química Verde — que, entre as principais preocupações, visa minimizar os danos causados ao meio ambiente —, relacionando-os a processos como a preparação de misturas, determinação das propriedades e variáveis envolvidas e análise do rendimento do experimento.

Divididos em pequenos grupos, os alunos começam a se familiarizar com o tema e a proposta do exercício. De acordo com a International Energy Agency (IEA), cerca de 80% damatrizenergéticaglobaltemcomobaseouso de combustíveis fósseis. As discussões sobre o reflexo dos combustíveis derivados de fontes não renováveis, em destaque o petróleo, vêm se acentuando cada vez mais, em razão de impactos ambientais negativos, como o efeito estufaeasmudançasclimáticas.

Nesta questão, o campo da química desempenha um papel central no desenvolvimento de alternativas e na otimização dos procedimentos já existentes.Umadasformasdepensarem métodos de obtenção de energia sustentáveléatravésdosbiocombustíveis — objeto da atividade. A abordagem de uma pauta de alcance global a partir de umelementonacional,obabaçu,favorecea conexão e a aproximação do estudante ao temaduranteoexperimento.

“As Nações Unidas introduziram, em 2014,umprogramachamadoEducaçãoparao Desenvolvimento Sustentável. Eles disseram que a educação é parte disso, para a gente conseguir fazer um desenvolvimento sustentável”,dizodocente.“Euenxergoessa atividade dentro disso. É uma contribuição nossadentrodesseprograma.O objetivo é o desenvolvimento sustentável. E a educação é uma ferramenta muito importante para conseguir o desenvolvimentosustentável.”

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Uma das formas de obter o biodiesel é por meio da transesterificação — nome da técnica empregada na atividade e que também é amplamente utilizada pelo setor energético, para a produção do biodiesel em escala industrial. A transesterificação pede três ingredientes principais: o óleo vegetal ou gordura animal — como o óleo de babaçu —, o álcool — como etanol ou metanol — e o catalisador — responsável por otimizar a reação,porexemplo,diminuindootempooua temperatura usada no processo.

Mas vamos aos poucos. Antes de tudo, vale explicar que a transesterificação é uma reação química que parte de um éster (os óleos vegetais têm como característica de sua composição os ésteres) e de um álcool e, ao final, resulta em outro éster e em glicerol. Ou seja, o biodiesel gerado pela transesterificação nada mais é do que uma outra composição de ésteres — alquil ésteres, especificamente. A diferença em usar o primeiro ou o segundo éster, caso você esteja se perguntando, é que quando falamos em biocombustíveis, algumas necessidades precisam ser asseguradas para garantir rendimento e eficiência — as quais somente são atendidas após este processo e também algumas outras etapas de tratamento, comoadiminuiçãodaviscosidade,porexemplo.

Ao pensarmos em termos de rendimento e e ciência para o biodiesel, se tem como base o estabelecimento de parâmetros e de comparativos. No Brasil, quem regulamenta as especi cações e padrões de qualidade do biodieseléaAgênciaNacionaldoPetróleo,Gáse Bicombustíveis(ANP).

No laboratório, antes de sintetizar o biodiesel, os estudantes determinaram o índice de acidi cação e de saponi cação do óleo de babaçu. Manter este controle é importante, porque um óleo muito ácido pode di cultar a transesteri cação, além de que, quando gerado, um biodiesel ácido também pode implicar na

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corrosão do motor. Por outro lado, você lembra que um dos produtos da reação de transesteri cação é o glicerol? Dessa forma, um dos re exos de um alto índice de saponi cação, que indica a capacidade do produto se transformar em sabão, é justamente di cultar a separação e puri cação entre o biodiesel e o glicerol formado na reação, levando à necessidade de mais lavagens. Ainda, um óleo com alto teor de saponi cação também pede uma maior quantidade de catalisador durante a reação de transesteri cação. Isso tudo é determinante para o rendimento da reação química e a qualidade do próprio biodiesel enquantoproduto nal.

Após as etapas de determinação, transesteri cação e puri cação, os estudantes determinaramorendimentodobiodieselgerado através da aferição de viscosidade. Para exempli car como é realizada a etapa analítica, foiapresentadaaosalunosumatécnicachamada cromatogra a—queconsisteemummétodode separaçãoquepossibilitaidenti carequanti car os componentes presentes no biodiesel. O projetoEscolas noIQ foipublicado em artigo no Journal of Laboratory Chemical Education.“Essa é a primeira vez que eu entrei em um dos institutos da USP. Eu achei a proposta fantástica. Achei coerente, inclusive, com o estudo que a gente está fazendo na escola agora. Como a gente está no terceiro ano do ensino médio, é muito coerente a química orgânica para a gente nessemomento,porqueéamatériaatual”,conta oalunoLuísFelipeAraújo.

Quando a USP abre as portas de seus institutos para as escolas, existe também algo contemplado além da realização do exercício. Trata-se da própria experiência de estar no ambiente da universidade. “Os alunos, eles nunca tinham vindo para a universidade, para a USP. É a primeiravez.Então,eles carammuitoempolgados. E acho que isso vai incentivar bastante eles, principalmentenoensinodeciências”,contaRaquel NegriniGuimarães,professoradequímicadaEscola EstadualLuizGonzagaRighini.

A professora descreve também que trazer os alunos para as atividades na universidade é uma forma de motivá-los abuscaroensinosuperior. “Àsvezes,os alunosdasescolasestaduaisnãooptam por um curso de engenharia, de química ou farmácia, por conta de acharem muito distante da realidade deles. E é possível. Eu acredito que é possível sim. Eu acredito muito neles e estou muito feliz de trazê-los”, diz Raquel Guimarães.“Muitasvezes, oqueelesvêemnateoria édifícildedemonstrarna prática, principalmente numa escola estadual. A gente tem um laboratório de ciências, mas ele não é tão equipado; a gente também não tem, por exemplo, o apoio técnico, fora o tempo. Então, aqui é uma ótima oportunidade.”

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Um pouco mais sobre a histÛria do biodiesel: Charles Chavanne

Em 1900, durante a Exposição Mundial de Paris,RudolfChristianKarlDiesel—essemesmo que dá nome ao combustível — apresentou o protótipodeummotorqueeramovidoàbasede óleovegetal.Oóleoutilizadonaocasiãofoiode amendoim. Como já vimos, o uso do óleo, por si só, não é tão e ciente para ser aplicado nos motoresdeformadireta.ÉaíqueCharlesGeorge Chavanneentranahistória.

Para resolver os problemas da aplicação direta dos óleos vegetais nos motores, o pesquisador da Universidade de Bruxelas (Bélgica), Charles Chavanne, usou a transesteri cação e, desde então, teria mudado de modo de nitivo a forma como pensamos a produção dos biocombustíveis. A patente de número 422.877, de autoria de Chavanne, foi registrada em agosto de 1937. Ela diz respeito à concessão da primeira patente a combustíveis obtidos a partir de óleos vegetais, conforme a World Intellectual Property Organization. A transesteri cação de Chavanne foi realizada a partir do óleo de palma africana, extraído do fruto dos dendezeiros, metanol ou etanol e, comocatalisador,oácidosulfúrico.

AoolharparaoBrasil,deformasemelhante aoquefoipropostoporChavanne,apatenteque registra a utilização de frutos e sementes oleaginosas para a produção de combustíveis via transesteri cação foi registrada em 1980, conformeapontadoemartigodarevistaQuímica Nova. O autor da patente foi o engenheiro químico Expedito Parente, que foi docente na Universidade Federal do Ceará. E, de acordo com artigo publicado no periódico Trends in Bioscience&Biotechnology,foijustamenteoóleo de babaçu o escolhido para ser utilizado no trabalhosubmetidoàpatente.

Por que falar sobre biodiesel?

NoBrasil,aprincipalutilizaçãodobiodiesel é na forma de aditivo ao diesel comum. Essa medida, proposta em 2005 pelo Programa NacionaldeProduçãoeUsodoBiodiesel(PNPB), favorece o uso em menor quantidade do diesel, aopassoquetambémincentivaaprópria

produção nacional de biodiesel. De 2005 para cá, o percentual de adição do biodiesel ao diesel aumentou. O que começou em 5%, hoje estabelece que o percentual mínimo de adição seja de 12%, conforme resolução do Conselho Nacional de Pesquisa Energética (CNPE). Esta

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resolução prevê ainda um aumento progressivo destepercentualaté2026.

Outra característica do biodiesel enquanto combustível renovável é que ele representa uma importante fonte alternativa aos combustíveis fósseis, principalmente pela ideia de buscar ter um ciclo equilibrado de emissão e consumo de dióxido de carbono (CO2). “O biodiesel não somenteéumcombustíveldequalidadesuperior ao diesel e ao petróleo. Ele também emite muito menos [poluentes], porque durante o crescimentodaplanta,elaabsorveoCO2”,explica Omar El Seoud.“No balanço total de emissão, na parte do biodiesel você tem no mínimo 50% a menosdeCO2emitidonaatmosfera”,completa.

Embora o dióxido de carbono seja o gás mais abordado quando se trata dos impactos ambientais dos combustíveis fósseis, o docente do IQUSP explica que também é preciso estar atento a outros poluentes prejudiciais, como os óxidos de enxofre (SOx). “Não é somente a questãodocaloredosgasesestufa,mastambém a qualidade do ar. E ele [o biodiesel] emite 50% menos gás estufa e está livre desses [outros] gases. Por conta desse problema, o diesel que é vendidonasregiõesmetropolitanasédiferente do diesel que é vendido nas estradas; o diesel que é vendido nas regiões metropolitanas tem menos enxofre do queodieselqueévendidonasestradas”.

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Attalea speciosa Babaçu

Como é um dia na Feira USP e as Profissões?

Um pouco mais sobre

o evento que atrai anualmente milhares de pessoas para o campus da Universidade de S„o Paulo

Desenvolvida para despertar o interesse de estudantes do último ano do ensino médio e de cursos preparatórios para os vestibulares, a Feira USP e as Profissões é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária que acontece anualmente e reúne no Campus da Capital os cerca de 300 cursos oferecidos nas unidades do estado de São Paulo. Excursões de escolas, jovens acompanhados pelos pais e demais visitantes interessados movimentam a Praça do Relógio, onde tradicionalmente ocorre o evento.

A Feira é separada por estandes, que organizam os cursos por áreas do conhecimento (ciências exatas e tecnologia, ciências biológicas e saúde e humanidades), e os demais serviços oferecidos. Uma das atividades que faz sucesso entre os visitantes —eque estádisponívelparaavisitaçãonodia a dia — é o setor dedicado à exposição dos Museus. Um deles é o histórico Museu de

Em sua última realização, por exemplo, o campus Butantã recebeu cerca de 70 mil visitantes. Trata-se de um evento gratuito aberto ao público e que, embora tenha seu público específico, não restringe a grade de sua programação. Isso porque durante os dias da Feira USP e as Profissões são desenvolvidas atividades que apresentam de perto ao públicogeralcomoéaorganizaçãoeaatuação dos setores que compõem a USP.

Criado na década de 1890, hoje o Museu de Zoologia tem seu acervo composto por mais de 11 milhões de exemplares. Ao todo, são 9 categorias para classificar o material — e só a coleção carcinológica, que é voltada aos crustáceos como camarões, caranguejos e lagostas, possui cerca de 500 mil exemplares. Trata-se de um material formado a partir de doações de outros acervos e das pesquisas da Universidade, fruto dos estudos desenvolvidos na unidade para contribuir e compreender a biodiversidadebrasileira.

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Ou seja, a Feira tem como uma de suas características ser também uma prática cultural. Ela agrega tanto na vivência dos visitantes, que descobrem um pouco mais sobre a Universidade, quanto dos expositores, que tiram aprendizados e experiências novas a partir da interação com a comunidade externa. E por falar nos expositores, eles são parte importantíssima desse processo, já que são membros dos próprios institutos e unidades.

Dessa forma, quando um aluno em dúvida sobre sua decisão de carreira se direciona aos estandesdecadacurso,eleconversadiretamente com alunos e servidores daquela unidade. As dúvidas são das mais amplas, desde conselhos para o momento das provas até curiosidades sobre a rotina universitária na USP. “A gente está sentindo que a Feira é um espaço bem aberto, onde a gente consegue conhecer não só os cursos, mas as pro ssões possíveis na carreira e queagentepodeseguir”,contaManuelleSantos. Ela também comenta que as conversas que teve nos estandes que visitou a ajudaram a re etir sobreaescolhadecursoedeuniversidade.“Acho que é bem norteador. Eu estava com uma visão diferente.Euquerogeogra ae[quando]cheguei ali no estande de geogra a pensei ‘meu, vou [me] mudar e vir para USP’. Isso senti quando estava conversando com o moço que estava me orientando.”

Para animar ainda mais o dia, os cursos de Física e Química realizam espetáculos interativos que engajam a multidão da Feira entre risos e aprendizados. São as apresentações do Show de Física e do Química em Ação — ambos protagonizadospelosestudantesdegraduaçãoe comointuitodecomunicarciênciadeformaleve edivertida.Entreumacenaeoutra,conteúdosdo ensino médio são relembrados e colocados em práticanasexperiências.

Mas não são só os expositores os responsáveisporajudarosjovensnestemomento de escolhas. Uma das alas-chave da Feira é dedicada à orientação de carreira, realizada pelo Instituto de Psicologia da USP, e que busca oferecer aos candidatos informações e re exões sobre os cursos. Ainda, há espaços para tirar dúvidas sobre as formas de ingresso — Fuvest, Provão Paulista, ENEM-USP e Olimpíadas do Conhecimento — e sobre as formas de se manter na universidade, como o Programa de Apoio à PermanênciaeFormaçãoEstudantil(PAPFE).

“A gente sente que abrange um pouco mais do que a gente quer conhecer. Eles falam para gente como é a área, como é o campus que eles estão. Porque além do [campus] daqui de São Paulo, tem outros lugares que a gente pode tentar entrar”, conta a pré-vestibulanda Sthefany Silva.“Então, é bem legal para gente conhecer como é aqui e como é o ambiente. Para, se a gente passar, não chegar aqui e não ter ideia de como é.”

Em suma, além de ser um momento marcante na vida dos jovens — que por vezes descobrem ali as inúmeras possibilidades dentro da universidade, trata-se de uma atividade essencialquetambémdeterminao compromisso daUSPcomacomunidadeexterna.

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IQ na mídia

As principais publicaÁıes recentes sobre o Instituto

Descoberta sobre replicação e reparo de DNA pode ajudar pesquisas sobre câncer

Em artigo intitulado “Unrepaired base excision repair intermediates in template DNA strands trigger replication fork collapse and PARP inhibitorsensitivity”, pesquisadores do IQUSP e de duas universidades da Inglaterra descobriram um mecanismo envolvido na replicação e reparo de DNA que pode auxiliar médicos a tratar e combater diferentes tipos de tumores. Os experimentos, realizados em laboratório, foram capazes de comprovar, pela primeira vez, uma teoria há tempos estabelecida entre os estudiosos da bioquímica molecular.

de QuÌmica

Record News

IQUSP desenvolve sensor portátil para população monitorar qualidade da água

Em um estudo coordenado pelo professor Thiago Paixão e publicado na revista Sensors & Diagnostics, pesquisadores do IQ produziram um sensor descartáveldebaixocusto, fabricado a partir de papelenanopartículas de ouro sintetizadas por laser, que permite identificar compostos químicos presentes em líquidos. A tecnologia está em processo de patenteamento e poderá ser aplicada em larga escala no futuro.

Glioblastoma: descoberto mecanismo capaz de reverter resistência do tumor cerebral à radioterapia

Jornal da USP

Em novo artigo publicado na revista Cell Death & Disease, pesquisadores do IQUSP mostraram, pela primeira vez, uma interdependência entre as vias das proteínas Rho GTPases e p53 na regulação do reparo de DNA lesionado pela radioterapia. Segundo os autores Yuli Magalhães e Fabio Forti, as descobertas representam um importante avanço cientí co, pois podem levar a uma sobrevida maior e com mais qualidade aos pacientes acometidos pela doença no futuro.

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Jornal da USP

Pesquisadores desenvolvem semicondutores que potencializam a produção de energia limpa

O projeto“Engenharia de banda de semicondutores em dupla con guração e sua utilização para produção de hidrogênio verde e conversão de CO2 em produtos químicos de elevado valor” é realizado no âmbito do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), que tem como vice-coordenadora a professora Liane Rossi, do IQUSP. Uma de suas frentes de atuação está focada na produção de hidrogênio verde por meio da fotólise da água,enquantoaoutravisadesenvolver semicondutores para converter CO2 em outros produtos deinteressedaindústria.

Tecnologias verdes já permitem o aproveitamento total de macroalgas pela indústria cosmética

Em novo estudo publicado na revista Phycology, pesquisadores do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular (LBBM) do IQUSP e colaboradores demonstraram o atual potencial da ciência para transformar 100% da matéria-prima de macroalgas em ingredientes para indústrias cosméticas, empregando tecnologias verdes já disponíveis industrialmente. A revisão avalia como os extratos das macroalgas já são utilizados e quais outras atividades biológicas são possíveiseinteressantesparaomercado.

Estudo descreve mecanismo que regula a atividade do gene da memória

Em novo artigo publicado pela professora Deborah Schechtman em parceria com colaboradores norte-americanos, foi descoberto um fenômeno atrelado à queda de concentração da proteína PKMzeta no cérebro — condição associada a doenças como o Alzheimer, a depressão e o próprio envelhecimento. Os resultados do estudo indicam que a chave para o entendimento destas patologias pode estar na epigenética.

Agência FAPESP Agência FAPESP
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Conheça o GEPEQ: o Grupo de Pesquisa em Educação Química do IQUSP

Se você alguma vez já tentou explicar algo que não é facilmente representado por imagens ou de simples descrição para alguém, deve ter percebido que essa tarefa pode se tornar bem complexa. Entre os exemplos e analogias, tão necessários, o cuidado para não fazer conexões erradasouconfundirapessoaqueestáouvindo, por vezes, pede uma espécie de “troca de papéis”:secolocarnolugardoaprendizebuscar formar um signi cado a partir daquilo que ele já sabe ou do contexto que ele está inserido. No EnsinoBásico,emqueconceitosdaQuímicavão ganhando novas representações, o laboratório passa a ser um grande aliado para trabalhar as explicações de forma contextualizada. Isso, porque muitas vezes é na bancada, observando umfenômenoeinteragindocomoscolegas,que o aprendizado teórico passa a se estabelecer de formamaisconsolidadaparaoestudante.

Entre os desa os das diferentes realidades de infraestrutura e suporte das escolas para as práticas em laboratório, os professores do ciclo básico acabam buscando maneiras de adaptar e representar as atividades experimentais. O Grupo de Pesquisa em Educação Química da USP, GEPEQ, é um projeto do IQUSP que começou em 1984 e busca proporcionar esse espaço tanto para os alunos, nos Laboratórios Abertos, quanto para os professores, nas atividades de Formação Continuada. No ano passado, no contexto do 23º Encontro USPEscola, o GEPEQ recebeu professores de educação básica para re etirem sobre o Ensino de Química e formularem propostas de exercícios laboratoriais que pudessem ser realizadosemsuasrespectivasescolas.

DÈcadas de histÛria

Em 2024, o GEPEQ completa 40 anos de história e dedicação sobre o tema da educação cientí ca. Maria Eunice Marcondes, docente do Departamento de Química Fundamental e coordenadora do Grupo, é uma das fundadoras do projeto e conta como se deu a iniciativa. “Começou com o professor Luiz Roberto Moraes Pitombo, da Química Analítica, que faleceu em 2005 e dava as disciplinas de Instrumentação para o Ensino. Alguns professores já formados que passaram por essa disciplina voltaram para o Instituto, porque estavam descontentes com o ensino e resolveram, então, formar um grupo de

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estudos. Eu já era docente aqui e comecei a participar desse grupo. Na época, teve um financiamento do Governo Federal, da CAPES, para projetos na área do Ensino de Ciências. Pitombo e eu resolvemos fazer um projeto — Interações e Transformações: Química para o Ensino Médio — a gente submeteu o projeto e foi aprovado. Então, eles pediram para ter uma sigla do grupo e aí surgiu o nome GEPEQ”, relembra a docente. “Depois, entramos num programa de pós-graduação em Ensino de Ciências que existia no Instituto de Física e na Faculdade de Educação, o Instituto de Química aprovou a gente fazer parte, e aí só foi crescendo”.

Alguns dos frutos do projeto ‘Interações e Transformações: Química para o Ensino Médio‘ se deram na realização de livros didáticos. São conteúdos formulados para acompanhar e auxiliar o aluno a desenvolver um olhar acerca dos processos químicos e das interações humanas no ambiente. Processos químicos industriais, agricultura, situações do dia-a-dia e fenômenos da natureza são alguns dos temas tratados nos materiais, que podem ser encontrados no site da Editora Edusp.

Outra frente de atuação do grupo é a divulgação científica.“A gente faz um material de divulgação, que está lá no Instagram, que são assuntos que os alunos mesmos, os estagiários que escolhem. Adoçantes, perfumes, química da água do mar… e a gente vai trabalhando com eles [esses assuntos]”, conta Maria Eunice. É através dos vídeos dos experimentos publicados no canal do GEPEQ no YouTube e de materiais produzidos para as redes sociais, principalmente o Instagram, que os membros do Grupo conseguem ampliar o alcance dos conteúdos para além das salas de aula.

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O

Encontro USP-Escola e reflexıes crÌticas sobre o Ensino

O Encontro USP-Escola é um programa da Associação dos Professores de Escolas Públicas (APEP), com apoio da USP e da SecretariadeEducação, que busca promover a formação continuada de professores da educação básica desde 2007. São oferecidas aos participantesmaisde80atividades,entrecursos, rodas de conversa e palestras. Em 2023, o IQUSP participou da programação do evento com o oferecimento de uma palestra, ministrada pelo docente Flavio Antonio Maximiano — do Departamento de Química Fundamental — e através do GEPEQ, que organizou o curso “Avaliação e Elaboração de Atividades Experimentais de Natureza Investigativa paraoEnsinodeQuímica”.

Este curso foi voltado para os professores do ensino das disciplinas de Ciências da Natureza, com foco na discussão crítica sobre o ensino e na elaboração de experimentos de Químicaaseremtrabalhadosemsaladeaula.As re exões promovidas durante a formação trouxeram questionamentos sobre o potencial deaprendizagemdasatividadesemdesenvolver o raciocínio de natureza cientí ca. Terezinha Iolanda Pereira, doutoranda em Ensino de Química e membro do GEPEQ, conta que o contato com a proposta do grupo durante a sua especialização e a oportunidade que encontrou pelo EncontrodoProgramadePós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências (EPIEC) foram fatores que a direcionaram para a entrada no Grupo.“Minha história para chegar ao GEPEQ é que eu queria fazer um mestrado, tive lhos e, no percurso para me manter estudando, z três especializações. A terceira, na UFMG, era uma especializaÁ„o sobre atividades experimentais investigativas.Aofazeromeutrabalho de TCC, eu encontrei uma dissertaÁ„o de uma

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orientada da professora Eunice, chamada Rita Soarte, sobre atividades experimentais investigativas. Quando eu li a dedicatória desta orientadaparaaprofessora[Maria]Eunice,eu quei encantada com a professora e foi aí que eu a conheci”, diz ela. Terezinha Pereira conta que o primeiro contato como aluna da docente Maria Eunicefoiem2009.Através do edital para aluno especial nas disciplinas de pós-graduação, ela foi aceita e, em 2010, ingressou no mestrado em Ensino de Ciências, concluído também sob a orientação dadocente.

ParaTerezinha, uma das tarefas importantes desenvolvidas pelo grupo com os professores da educação básica é estimular que o professor se coloque no lugar do estudante durante a aprendizagem. ”O nosso propósito é que os professores construam as ideias e os conceitos sobre atividade experimental e investigativa. Então, é interessante ele construir esses conceitos sobreosdoispontosdevista:opontodevistadele, enquanto o professor que elabora as questões paraoseualuno,eopontodevistadoalunoque vai responder a essas questões investigativas. E enquantoeleestátendoessaposiçãodealuno,ele pode pensar no nível dessa questão para ele e no níveldessaquestãoparaoaluno”,explica.

No curso, os professores re zeram atividades pré-elaboradas com temas sobre etanol,corrosãodemetais,salinidadedaáguado mar, queima de plásticos e produção de biodiesel,entreoutros,aomesmotempoemque propunham formas de elaborar a situação-problemaapartirdeumcontextosocial relevante. O objetivo era tanto promover a questão da investigação entre os alunos, quanto estimular a possibilidade de tratar os experimentosdeformainterdisciplinar.

“É a aprendizagem coletiva, a troca de experiências, essa parte de desmisti car que sempre vai dar certo os experimentos que você vê naTV, nas vídeo-aulas. Parece que sempre vai funcionar, e os alunos às vezes têm essa impressão, de que sempre vai dar o mesmo resultado que ele viu lá noYouTube. Será que vai ser o mesmo resultado que o seu, que o meu?

Esse controle de variáveis e trabalhar a expectativa versus a realidade, a gente aprende muito com eles [equipe do GEPEQ]”, diz Roberta Nogueira, participante do curso e professora da escola Miss Browne. Veterana de outras realizações de cursos do GEPEQ, Nogueira conta queesseétambémumespaçodediálogocomos colegas de pro ssão e de compartilhar os desa os do ensino no dia a dia na escola. “Eles [equipe do GEPEQ] me ensinam muito a linguagem também, a parte da alfabetização cientí ca. No próximo semestre, é uma coisa que eu quero trabalhar, os contextos e textos de divulgação cientí ca. Participo aqui há muitos anos, então para mim é uma experiência riquíssimaestaraquicomosmeuspares”.

Entre as atividades de formação, pesquisa, divulgação da ciência e materiais didáticos, o GEPEQ,desdeasuafundação,propõeoexercício do pensamento crítico sobre o Ensino de Ciências. “Nossa missão é trabalhar para a melhoria do ensino de química. Tudo o que a gente faz aqui, a gente tem essa visão. E o que é melhoriadoensinodequímica?Formarumaluno que entenda química, os princípios da química e que possa, assim, fazer uma leitura do mundo físico social também com o olhar da química. A gente sabe que não é só, mas também usar química para poder interpretar o mundo físico socialondeelevive”,explicaMariaEunice.

Para além da Química: Jurandir Aparecido Luiz

A realização de um evento para o público externo envolve várias mãos. Até a chegada dos visitantes e a interação a partir de uma programação, existe todo um processo de logística e coordenação por parte dos organizadores. Quem participa das realizações voltadas à Cultura e Extensão da USP no IQ, como a Feira USP e as Profissões e o Dia de Portas Abertas, já deve ter se acostumado a ver uma pessoa que está sempre engajadanasatividades:JurandirAparecidoLuiz— o Jura, como é mais conhecido no Instituto. Jurandir é funcionário do IQ desde 2015, atuando junto à equipe da Assistência Acadêmica e como secretário da Comissão de Cultura e Extensão do Instituto.Porcontadesuaaposentadoria,2023foio último ano dele no IQ. Para conhecer um pouco mais sobre ele, o Alquimista preparou uma entrevistaespecialparaosnossosleitores.

Confira os principais momentos da entrevista a seguir:

AQ: Quando você começou a trabalhar no Instituto de Química?

JL: Comecei a trabalhar no IQ em 2015, em uma transferência.EstavanaReitoriaeaífuitransferidojunto com a secretária da Cultura e Extensão, que era a Mariana. Estouindopara8anos[aquinoIQ].

AQ: Você participa e está sempre engajado nas atividades de Cultura e Extensão do IQ. Como é fazer parte desses eventos e como é o dia a dia de organização para essas atividades?

JL: Fazer parte da Cultura e Extensão foi um prazer enorme, porque eu já mexia com eventos fora da USP. QuandoeuvimparaoIQ,alémdaexperiênciaqueeujá tinhacomeventos,[comeceiameenvolvercom]esses eventosdePortasAbertas,

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Essa coisa elétrica, de corre para cá, corre para lá, busca aqui, chama e compra, eu acho muito bacana. O dia passa e a gente nem percebe, né? Então, eu acho muito bacana trabalhar com essa parte. É prazeroso. Nossa, para a gente que faz o que gosta, não percebe nem a dificuldade. Pelo contrário, é o prazer de estar fazendo aquilo, de estar junto com os alunos, professores e funcionários recebendo o pessoal de fora. Isso é muito bacana. É gratificante.

AQ: Uma coisa que a gente percebe é que os alunos sempre chamam você para trocar conversas nos eventos. Como é para você formar esse laço com os estudantes?

JL: Éumacoisamaisdescontraída.Assimcomoeu também mexo com a dança, que é uma coisa mais descontraída. E a Comissão de Cultura aqui do IQ me deixou com essa liberdade, que eu já tinha lá fora, essa liberdade com as pessoas. Então, eles [me] tratam no codinome, Jura. Às vezes,meunomemesmo,Jurandir,ninguémnem sabe[risos].Entãoé'Jura'daqui,'Jura'dali.Aívocê fazumaamizade,naverdade.Então,essapartede interagir com os alunos, professores, a gente acaba formando uma amizade bacana e também de respeito. A gente se trata com respeito. Eles pedem coisas, às vezes, que não estão ao alcance, mas a gente tenta: o não já tem, então a gente vai tentando.Eelessãogratosporissoefalamqueeu ajudodemaisnoqueeufaço.Énissotambémque elesacabamtendoessecontatomaisdeamizade. Então, isso é muito bacana sim.

AQ: Fora os dias de eventos, outra atividade que você faz aqui no Instituto são as aulas de dança de salão. Como começou na dança e como é dar aulas aqui?

JL: Eu sempre dancei. Desde os 9 anos já dançava, com 12 eu já fugia de casa para ir para os bailes [risos]. Mas eu não conseguia aprender o samba rock, então eu falei 'eu preciso aprender esse samba rock, que eu não sei'. Aí começaram as danças de salão — dança dos famosos, na verdade, e as academias que tinham começaram a ter também aulas de dança desalão.Eaíeuentreiparafazerumsamba

rock; quando me vi, estava fazendo outros ritmos — ritmos que achava que dançava mas,naverdade,euenganavabastante[risos]. Eucomeceiaaprenderastécnicase,derepente, eujáestavadandoaula.Nãoeraumapretensão e as pessoas [falavam] 'nossa, você dança bem, você tem didática, vamos'. E aí comecei na escola, pareiemonteiumprojetoparticular—ecomeceia ter as pessoas no IQ também. Cheguei aqui e tive essa oportunidade de inserir a dança na Comissão de Cultura. E nós estamos até hoje aí, e provavelmente já tivemos mais de mil alunos na dança, tanto brasileiros quanto de outros países, o queégratificantetambém.

AQ: Quais são as músicas que você mais gosta de dançar e de usar nas suas aulas?

JL: Decaraassim,queeujágosto,éosambarock ‘No Pé da Namorada’, que é uma música muito bacana e fácil de dançar. Temos também a música do samba rock ‘Vem cá, Nega’, que é mais lá de trás e vem da tradição, da cultura. No samba, eu não tenho uma escolha [única de música] mas tenho os nomes, que são Alcione e Jorge Aragão. Gosto muito de trabalhar com as músicas da Alcione.

AQ: Por fim, nesses anos no IQ, tem alguma memória sua aqui que você gostaria de compartilhar?

JL: A vivência que eu achei interessante foi na Comissão de Cultura. Não houve uma diferença entre os professores, eu como funcionário e os alunos. Eu não sou membro da Comissão de Cultura, sou secretário. Muitas vezes, o secretário não tem voz dentro da comissão, ele está ali pra fazer as anotações. Mas [no meu caso], tanto os professores quanto os alunos, que são os principais que debatem os assuntos, pedem para que eu ofertealgumasideias,medãopalavranasreuniões. Epeloconhecimento,elesacabamdeixandoqueeu até tome algumas atitudes que seriam da presidência. Então, essa confiabilidade é muito bacana, eu sou muito grato aos professores e aos alunosporteremmeabraçadodessaforma.

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Galeria: Edição Especial Confira alguns cliques da Cultura

e Extensão do IQUSP

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