JornalESAS junho 2013

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A ESAS no Concurso Nacional de Leitura “As expetativas eram altas. A fase nacional, televisiva, do Concurso Nacional de Leitura, parecia-me ser um evento cultural de destaque e a distrital uma seleção rigorosa e restrita a grandes crânios. “

Joana Babo, Ana Sousa, André Matos, Catarina Lourenço, Tiago Dias e a profª Zaida Braga

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esde o 8º ano, quando vi um amigo demasiado capacitado falhar a seleção distrital e, mesmo em privado (não fosse o professor ouvir), dizer que tinha gostado, que pensava que esta competição seria a representação da vanguarda educativa e cultural Portuguesa. As obras a concurso para os alunos do ensino secundário eram difíceis. “Os Pescadores” de Raúl Brandão é uma obra de imagens “de colar à retina” sobre a poalha do mar, os recôncavos da costa, os matizes das poças e, em especial, sobre a gente do mar. Pitoresco, mas de digestão lenta. “Pesca à linha: algumas memórias” de António Alçada Batista é, por outro lado, um registo histórico-biográfico do movimento católico progressista encabeçado por AAB e pela Moraes editora. Interessante para os historiadores e aficionados da revolução, mas, provavelmente, não para jovens adolescentes… Chegados à Biblioteca Almeida Garrett, os 5 concorrentes aurelianos prestaram as provas escritas. Por essa altura, o facto de ter abdicado da oportunidade de ouvir o historiador Hélder Pacheco palestrar sobre a industrialização portuense no nosso auditório era ainda um sacrifício viável. A prova, algumas questões de escolha múltipla enciclopédicas e uma reflexão sobre

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uma das obras, correra bem. Aquele momento em que o auditório palpita só chegaria, no entanto, mais pela tarde, já depois de um almoço bucólico nos jardins românticos com panorâmica sobre o Douro e sobre a ponte D. Luís. Reunidos de novo no auditório da Almeida Garrett, tudo começava já a indicar o que seria o CNL: uma videochamada pelo skype com Hélia Correia, escritora e tradutora de “A tempestade de Schakespeare”, aberta a questões e sem um tema central... A projeção burburinhenta de 2 filmes-documentários sobre Raul Brandão e António Alçada Batista (interessante, sim)… A retórica cerimoniosa que conduzia o concurso... Para desgosto da comitiva, os escolhidos foram anunciados para prepararem a prova de aferição de leitura e descontraírem, enquanto era lido o rol do percurso académico dos jurados, com pompa heráldica: os professores Rui Nunes e Maria Cabral, e a diretora da biblioteca AG, Carla Teixeira. As provas orais decorreram, depois, sem organização temática ou temporal: cada um dos 5 alunos selecionados para cada escalão fez a sua leitura expressiva de um excerto de uma das obras (que aparentemente era sempre igual) e de uma carta que escreveram em tempo reduzido (num

esforço de imitação da fecúndia criativa de Camilo). No fim, responderam a algumas questões (por exemplo: “Qual o livro que mais gostaste de ler?”; “Gostas de ler?”; Gostarias de ser escritor?”, sem desenvolver em qualquer nível de pormenor qualquer tema do livro) que acabariam por ser reduzidas a uma única para os alunos do secundário. A prova oral só evidenciou a importância residual da leitura e a falta de preparação dos jurados, que, em determinados momentos, mostravam um conhecimento nulo dos livros. Antes da cerimónia de entrega de prémios e já com um auditório silenciosamente depauperado que assistia por respeito, 2 aurelianos ainda concorreram ao CNL+ forte (concurso secundário e informal de questões de aferição de leitura). Neste particular, demonstraram as suas capacidades de literacia e ganharam, sem respostas erradas. Concluindo, o CNL é uma competição sofística e com pretensões artísticas e teatrais que se encontra desviada do objetivo primordial de promover a leitura crítica nas escolas. Positivamente, li 3 livros e recebi “Ficções” de Jorge Luis Borges, para além de uma bom dia de convívio… Tiago Dias nº21 , 11º H


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