JornalEsas dezembro 2012

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Yes, We Can!

filmes

Mafalda Rothes, 11ºH

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efletir sobre Linhas de Wellington é um prazer e uma honra. Prazer, porque, sob o ponto de vista estético, o filme é uma beleza; honra, porque, pela primeira vez, um episódio da História de Portugal mereceu ser posto no grande ecrã por uma equipa luso-estrangeira de renome, quer no que diz respeito à realização e à produção quer ao argumento e interpretação. Contextualizando o episódio histórico das invasões francesas a Portugal, este insere-se na obsessão de Napoleão em dominar a Europa, concretizando a política expansionista que o tinha levado a conquistar praticamente todos os países europeus com exceção de Portugal e Inglaterra. As tropas comandadas por Soult, Junot e Massena, invadiram o nosso país por três vezes, tentando conquistá-lo. Porém, como a Inglaterra estava interessada em pôr fim ao domínio napoleónico, enviou para Portugal um exército armado para apoiar a resistência portuguesa. E é precisamente da resistência portuguesa, das táticas lusoinglesas e do ardiloso plano de proteção a Lisboa que este filme trata. A ação decorre num espaço de três semanas, no princípio do outono de 1810, entre a Batalha do Buçaco e a derrota decisiva do exército gaulês nas Linhas de Torres. O filme retrata de uma forma magistral o desespero das populações em fuga, o drama das povoações saqueadas e os pormenores do ardil montado por Sir Arthur Wellesley, mais tarde duque de Wellington, general comandante das forças do exército inglês, que motivou a vitória das tropas J O R N A L E S A S  DEZEMBRO 2 0 1 2

luso inglesas afastando de uma forma decisiva Napoleão de Portugal. Estando a esquadra inglesa atracada no Tejo e na costa ao largo de Lisboa, a ideia era construir fortificações em redor da capital, numa linha que ia de Torres Vedras até Sintra. Em Torres Vedras foi travada a batalha final, que humilhou Napoleão e obrigou à retirada dos franceses. Durante este êxodo, cruza-se uma teia de histórias diversificadas, umas reais, outras fictícias, umas mais marcantes, outras mais decorativas, que levam o espectador a envolver-se profundamente na narrativa e a compreender o sofrimento da população civil portuguesa, a conhecer a heroicidade dos seus militares e a ficar esclarecido sobre os meandros do estratagema do general Wellington. O tema do filme é apaixonante e desconhecido da maioria das pessoas - pois nunca foi feita esta abordagem na vasta gama de filmes sobre Napoleão - e explica como o general Wellington e as tropas luso-inglesas impediram a conquista de Lisboa. As cenas de ação são combinadas com histórias íntimas – a grande história política e a pequena história dos sentimentos –, através de uma série de narrações paralelas de soldados, de civis, de portugueses, de ingleses e de franceses. Neste filme, há quem ame e quem atraiçoe, quem se enforque e quem enlouqueça, quem se entregue e quem se venda, quem se resigne e quem queira mudar de vida. Há quem deserte e quem seja herói. Diria um dos personagens principais, o sargento interpretado por Nuno Lopes: “Eu sei que os franceses têm um exército poderoso, mas vamos vencê-los. Os franceses são como o gigante Golias e os portugueses como o pequeno David. (…) Os ingleses representam a funda utilizada por David para o aniquilar… São o nosso instrumento para alcançar a vitória.” A produção e a realização são magníficas, a pesquisa de época primorosa e a vasta galeria de atores excelente. Dos atores portugueses destaca-se Nuno Lopes, no papel do Sargento Patriota. Sobressai também a participação de célebres atores estrangeiros como o americano John Malkovich (no papel do general Wellington), a espanhola Marisa Paredes, os franceses Michel Piccoli, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert e a italiana Chiara Mastroianni. A iniciativa de fazer este filme pertenceu a Paulo Branco, que utilizou um argumento de Carlos Saboga. A realização foi de Valéria Sarmiento, viúva do célebre realizador Raoul Ruiz, o qual, pouco antes de morrer, tinha iniciado este projeto. Estamos perante uma mistura do prazer pela narração e pelo romanesco, que leva o espectador, durante 180 minutos, a prender-se, da primeira à última cena, à beleza das imagens e à profundidade da reflexão. “Linhas de Wellington” mostra também o mérito do cinema nacional, pois recebeu as melhores críticas da imprensa estrangeira como o New York Times, The Guardian, Corriere della Sera e ainda do reputado Cahiers du Cinema, tendose também distinguido nos festivais de cinema de Veneza e de S. Sebastian. A nós, portugueses, para além do puro prazer estético, este filme desperta o orgulho nacional e a certeza de que conseguiremos ultrapassar os obstáculos difíceis com que atualmente nos deparamos. “Yes, we can!”


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