Agir e Calar | Dezembro 2019

Page 5

NOTÍCIAS

ENTREVISTA com Pe. Marcelino Modelski

Fraternidade e vida: dom e compromisso O Conselho Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) definiu o tema da Campanha da Fraternidade (CF) 2020 como: “Fraternidade e vida: dom e compromisso” e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele (Lc 10,33-34)”. O tema e lema reforçam a dimensão do cuidado e o cartaz é inspirado em Irmã Dulce, canonizada no dia 13 de outubro de 2019 e chamada Santa Dulce dos Pobres. A arte foi elaborada pelo designer Leonardo Cardoso, sob a supervisão do Bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, e do secretário executivo de campanhas, Padre Patriky Samuel Batista. O cartaz também apresenta, ao fundo, o Pelourinho, lugar icônico da capital baiana. Padre Patriky explica que a mensagem é de “vida doada é vida santificada. A vida é um intercâmbio de cuidado”.

Ano Murialdino na Serra Gaúcha Foto: Bernadete Chiesa

Irmã Dulce é canonizada No dia 13 de outubro, no Vaticano, Ir. Dulce, a nova Santa brasileira, foi proclamada santa, pelo Papa Francisco, diante de inúmeros bispos, religiosos e missionários que estavam participando no Sínodo para a defesa da Amazônia. Irmã Dulce devotou sua vida a servir os mais necessitados e desenvolveu um trabalho social em sua terra natal, Bahia, onde fundou vários hospitais de caridade e uma rede de apoio social que dirigiu até sua morte em 1992, aos 77 anos. A primeira Santa nascida no Brasil agora será chamada Santa Dulce dos Pobres.

Sínodo da Amazônia Em Caxias do Sul, a abertura oficial do Ano Murialdino ocorreu no dia 18 de maio (Dia da Festa de São Leonardo Murialdo), no Colégio Murialdo de Ana Rech, primeiro local da Serra Gaúcha da chegada dos religiosos Josefinos. O evento contou com a presença de membros da Família de Murialdo a saber: Núcleos dos Leigos Amigos de Murialdo; religiosos Josefinos; Irmãs Murialdinas e membros do Instituto Secular Murialdo. A recepção ocorreu com uma bênção em frente a imagem de São Leonardo Murialdo no pátio do Colégio de Ana Rech, que neste ano comemora 90 anos de fundação. Após, no miniauditório da Faculdade Murialdo (unidade Ana Rech), os presentes participaram de uma reflexão coordenada pelo Conselho Formativo da Associação Nacional dos Leigos Amigos de Murialdo. Às 18 horas aconteceu uma celebração eucarística festiva, presidida pelo Pe. Geraldo Boniatti e concelebrada pelos sacerdotes presentes. Após, serviu-se um jantar de confraternização.

32

De 06 a 27 de outubro de 2019 realizou-se em Roma, a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, com a participação de mais de 250 bispos de todo mundo e outras lideranças convocadas pelo Papa Francisco. O Documento final do Sínodo foi votado e aprovado no dia 26 de outubro. Dividido em cinco capítulos, o texto pede uma conversão que tem diferentes significados: integral, pastoral, cultural, ecológica e sinodal. Dentre tantos temas apresentados estão a Igreja com rosto indígena, migrante, jovem, um chamado à conversão integral, um diálogo ecumênico, a importância dos valores culturais dos povos amazônicos, a dimensão socioambiental da evangelização, uma Igreja ministerial e novos ministérios, além da presença e vez da mulher e muitas outras propostas. Mais informações em A12.com/sinododaamazonia

família e como conheceu a Congregação de São José (Josefinos de Murialdo). Pe. Marcelino: Minha vida carrega os traços e o estilo de uma experiência de Deus muito particular vivida com a família. Ela mesma exerceu a vocação de despertar a fé e de me inserir na vida eclesial. O pai, mesmo analfabeto, assinou com uma palavra irrevogável toda sua conduta. Sempre o vimos envolvido e comprometido com a comunidade - dedicou muito de suas forças e de seu tempo para edificar a Igreja Matriz de Vista Alegre do Prata e também da comunidade Santa Isabel. A mãe foi catequista e preparou todos os onze filhos para a vida da Igreja, a participação comunitária, a solidariedade, o trabalho e o respeito com todos. Hoje, os irmãos, cada um do seu jeito, têm vivência cristã comprometida e não deixo de me orgulhar disso e, quando tenho oportunidade, participo de suas experiências.

do, na hora do almoço, ela me chamou e comemos do mesmo prato. Conheci os Josefinos de Murialdo através dos tios Pe. Lúcio e Pe. Miguel (in memoriam) que nos visitavam. Em seguida, quatro das minhas irmãs mais velhas foram ao convento das Irmãs Medeias de São João Batista e o irmão Alcides esteve com os Josefinos até concluir o Noviciado - foram presenças decisivas no meu desejo de ser sacerdote e Josefino. A mãe era zeladora das Mães Apostólicas, muitas vezes eu a ajudei distribuindo os folhetos nas casas das Associadas. Minha primeira grande experiência de Murialdo aconteceu, quando tinha dez anos, num acidente de carro que, desgovernado, colidiu com um barranco. Eu estava dentro do mesmo, mas me vi de pé, em cima do barranco, vendo-o tombar como se nele nem estivesse. Senti que alguém me puxou para fora. Atribui a Murialdo de quem já era devoto.

pai, até Fazenda Souza. A alegria era de uma grande conquista. Nos quatro anos que lá fiquei lembro o sentimento de que já me considerava Josefino. Companheiros desse percurso foram o promotor vocacional Pe. Valdir Suzin, o diretor Pe. Genuíno Roman, o ecônomo Pe. Antônio Mattiuz e os frateres, hoje, Pe. Augustinho Vidor e Emio Furlan. Corajosos, valentes e hábeis educadores.

A&C: Quais sacerdotes Josefinos que mais influenciaram sua vida? Pe. Marcelino: Tive durante todo percurso formativo e até hoje confrades a quem reverencio e agradeço pela vida verdadeiramente de santidade. Humildes, trabalhadores, zelosos, presentes, de oração. Contudo, ficou marcada, na pupila dos meus olhos, a figura carismática do Pe. Bruno Barbieri quando, aos sete anos, fiquei internado por um mês no hospital Fátima, em Caxias do Sul. Ele todos os dias, visitava-me e trazia balas, ora aqueles “peixinhos” ora aquelas “sete belo”, sem esquecer o terço, os santinhos de Murialdo. Lembro também com carinho a comunidade religiosa do Abrigo (hoje CTS) que nos acolheu durante este período, principalmente a mãe que ficava comigo.

A infância foi muito simples nem por isso indigna. Raras eram as oportunidades de termos um brinquedo comprado. Mas, não faltava criatividade para pensarmos e inventarmos nosso próprio material de lazer (a bola era um chinelo havaianas velho, enrolado e amarrado; os carrinhos de madeira, aprendemos com os irmãos mais velhos e, nós mesmos, os fabricávamos. Depois, não guardávamos as ferramentas e apanhávamos; isso era certo, mas, não tinha problema).

A&C: Como foi sua ida ao Seminário Josefino?

A&C: No seu entender, quem é e qual a importância da Família de Murialdo?

Inesquecível foi o primeiro dia de aula com a professora Lúcia Capellari, época da ditadura militar, fila obrigatória e o canto do Hino Nacional. O primeiro dia de aula coincidia com o primeiro gole de vinho e o primeiro dia de ir à roça. Um pouco duro, porém era um ritual de iniciação à vida. Recordo do meu primeiro encontro vocacional com a senhora Cesariana Roman, no seminário de Vila Flores quan-

Pe. Marcelino: A família preparou o terreno para que Deus me chamasse. Aos 13 anos, em 1979, o Pe. Valdir Susin passou na escola e pediu quem queria ser padre. Claro! Eu! Os pais consentiram. Lembro-me da mala que parecia de papelão, emprestada do irmão Alcides (nem devolvi), amarrada com um cinto e de um saco daqueles de açúcar. Coube tudo... lembro a longa viagem, acompanhado pelo

Pe. Marcelino: Não é a batina que faz o padre. Quando falamos da Família de Murialdo (FdM) referimo-nos a todos os que, tendo conhecido Murialdo e seu carisma, tiveram de alguma forma suas vidas interpeladas por ele. Penso, por exemplo, nas Mães Apostólicas que, no silêncio e no anonimato, intercedem diariamente pelas vocações e colaboram na formação dos futuros Josefinos e como

Somos desafiados a buscar novos caminhos para a releitura e a vivência do carisma

5


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.