CAPA Pe. Mário Aldegani
do empenho educativo sério. No fundo, temos medo de nos tornar conscientes de que nos falta energia educativa, que só a possuiremos se primeiros nos deixarmos educar verdadeiramente. Passemos para um segundo problema. Para realizar esta capacidade de libertação humana são necessários adultos, adultos verdadeiros, adultos apaixonados. Quem é realmente adulto? Por um lado, de fato, precisamos nos tornar adultos, porém, precisamos permanecer fundamentalmente "como crianças" para não cristalizar a mente e o coração. Onde estão hoje os adultos? Há uma preocupante carência de pessoas capazes de manter a palavra, capazes de disciplina (para si e para os outros), dotadas de sabedoria e coragem. Um terceiro problema decorre do fato de que, sendo adultos, nos deixamos vencer facilmente pela tendência ao ativismo, privilegiando o que é exterior, imediato e fácil. O Padre Pino Puglisi, um pároco de um bairro de Palermo (Itália), morto pela Máfia, denunciou: "A maioria dos jovens rompeu com as velhas certezas e, fazendo saltos mortais, estendem os braços em busca de quem os acolha. Se as duas mãos suplicantes não encontrarem duas mãos prontas a agarrá-lo, o trapezista precipita no solo. É por isso que o nosso tempo requer grande empenho: Sendo que a comunidade eclesial tem seus ritmos e seus problemas a serem resolvidos, há o grande risco de que os jovens não encontrem as mãos prontas a agarrá-los e a acolhê-los. Não há mais tempo a perder, existe o perigo de que os jovens
se esfacelem". Educa verdadeiramente uma comunidade de educadores quem sabe enfrentar as dificuldades, ir a fundo dos problemas e desafios e converter-se, sintonizando-se com Deus que educa com energia e que continua a enviar-nos, sobretudo aos pobres.
3. A EMPATIA Para explicar a empatia do educador murialdino, inspiro-me no ícone evangélico do "Bom Samaritano". Conhecemos o desenrolar da parábola e não a repito aqui. Detenho-me só na atitude do Samaritano em relação ao homem atacado por ladrões e abandonado meio morto à beira do caminho, porque é esta a imagem da parábola sobre o qual quero refletir. Nele eu vejo o que cada um de nós é para os jovens pobres e abandonados: aquele que vai ao encontro, aquele que se acerca. Não com a atitude de quem, do alto de sua segurança ou da solidez de sua posição, se aproxima de quem jaz na necessidade, mas com o espírito do indigente e do necessitado. Por que o samaritano parou? Porque, tal como o homem jogado à beira do caminho, se sentia um pobrezinho, um infeliz: é a consciência de suas próprias limitações que o aproxima daquele homem. É a consciência de sua própria fraqueza e pobreza que desencadeia o amor no sentido evangélico, que nos aproxima do outro, como possível complemento de nossa pobre humanidade. Quem se sente completo em si mesmo, forte e rico, e não precisa de nin-
guém, se acercará do outro de forma errada: com a atitude daqueles que deixa cair a esmola do alto. A proximidade evangélica, que para nós se torna manifesta na relação educativa, nasce do sentimento vivo que o nosso ser se completa nos outros. Quando amamos, nós não damos, mas recebemos. Quando ajudamos, somos ajudados a ser nós mesmos, a realizar-nos como pessoas. Mas a revolução é feita primeiro no coração: eu preciso do outro e aquele ao qual eu restituo a vida é quem me dá vida.
4. A CAPACIDADE DE ACOMPANHAR Murialdo costumava dizer que o verdadeiro mal e o maior problema de muitos jovens não era aquele manifestado pelo seu comportamento, mas aquele, talvez não muito evidente, de não ser aceito, de não ter nunca podido viver uma verdadeira experiência de "sentir-se amado". Murialdo tinha certeza de que os jovens muitas vezes se tornam "infratores" por "não ter encontrado alguém capaz de devolver ou compensar a falta de ternura da mãe e a perda da orientação do pai". A característica da nossa presença de educadores no meio dos jovens é a de ser para eles amigos, irmãos e pais . As atitudes que melhor manifestam este estilo pedagógico de acolhida e de acompanhamento são: A familiaridade: significa que na relação educativa deve haver comprometimento afetivo. Compartilhar sere-
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