Cascais: Território | História | Memória

Page 188

A presença de alguns membros das famílias reais aqui exiladas, quer como assistentes, quer como participantes em muitas destas provas, completa na perfeição esta estratégia de «boa propaganda desta Zona de Turismo»: uma fotografia de Don Juan de Bourbon a bordo do Saltillo em Cascais ou jogando ténis no Estoril; uma imagem de Humberto de Itália a assistir ao golf com a sua família ou um dos membros da numerosa família dos condes de Paris nas corridas de cavalos é um dos melhores cartões de visita da zona. Daí que quando, a 12 de Fevereiro de 1955, a princesa Maria Pia de Sabóia, filha do rei Humberto de Itália, casa em Cascais com o príncipe Alexandre da Jugoslávia, o enlace real seja vivido com um interesse e uma intensidade que ultrapassou, em muito, a curiosidade que os casamentos reais têm o condão de suscitar. É como se por breves dias tudo e todos neste espaço procurassem criar e criar-se a si mesmo a ilusão de que os noivos, as suas famílias e muitos dos seus convidados tinham reencontrado os seus reinos. A ilusão é quase perfeita quando nos belos salões do

Cenas de um casamento: Alexandre da Jugoslávia e Maria Pia de Sabóia, 1955 Cascais e seus lugares: boletim da Junta de Turismo de Cascais, maio de 1955

186

Museu Condes Castro Guimarães, a família real italiana oferece uma recepção a dois mil dos seus compatriotas. No íntimo todos sabiam que não era assim mas, por momentos, isso pouco importava. Eram verdadeiras as jóias, eram reais as vénias, eram sentidos os votos de felicidade que os portugueses lhes prodigalizaram. Eram verdadeiras as orquídeas que vieram às centenas da Madeira para ornamentar a igreja, eram verdadeiras as colchas que os portugueses colocaram nas janelas à espera que a noiva passasse e era certamente delicioso o bolo em que se misturaram quatrocentos ovos e cinquenta quilos de açúcar. O casamento de Maria Pia de Sabóia não foi a única boda real do Estoril e não trouxe directamente mais turistas a esta zona. Mas pelo aparato de que se revestiu, pela época em que teve lugar e pela atenção que suscitou no estrangeiro entre pessoas com disponibilidade para viajar é um marco na própria imagem da Costa do Sol. Não por acaso, nesse mesmo ano de 1955, é editado material de divulgação noutras línguas, acompanhado de cuidadosa ilustração. O cartaz cujas potencialidades já tinham sido exploradas nos anos 30 pela Comissão de Iniciativa na divulgação desta costa volta a merecer vinte anos depois o interesse dos promotores turísticos. A Junta de Turismo de Cascais abre mesmo um concurso para a sua concepção entre artistas portugueses. Comuns a todos eles são as linhas distendidas, as cores fortes, o humor que de alguma forma têm implícito e o sol, enquanto


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.