Gazeta da História (#1 - junho 2022)

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Gazeta da História

ele dissesse que era uma nova moda? Se eu não queria passar por burra, pensei... mas e se não for uma nova moda? Se eu não avisar e ao fim do dia o rei reparar e pensar que eu não o avisei e me mandar decapitar? O rei voltou a falar comigo. -Pareces um bocado distraída, o que se passa, algum problema? -Não, meu Rei -respondo- Só estou demasiada fascinada consigo, e com a sua presença, para conseguir falar. -Hm, estou a ver. -responde ele. Solto um breve e quase silencioso suspiro por ter-me safado aparentemente. E, de repente, lembro-me que os guardas estão bem atrás de nós. Talvez algum deles tenha reparado no furo nos collants do rei, talvez possam avisá-lo. Olho para trás discretamente mas sem sucesso. Decido que contarei mais tarde. Quando me apercebo estamos a entrar no jardim na parte leste do palácio. Ao contrário dos outros dias, o tempo estava ensolarado. Os raios de sol refletiam na água fazendo-a parecer mais cristalina. Comecei a admirar as belas árvores de estaturas médias, perfeitamente alinhadas. A minha atenção é desviada, desta vez, para o céu, para as aves a voarem livremente, para as nuvens com várias formas e feitios. Começamos a andar devagar e a apreciar a vista para lá da fonte. O silêncio instalado é, subitamente, interrompido por Luís XIV:

5 HISTÓRIA LOCAL Dois irmãos em guerra e uma estrada que passa aqui perto.

Ao estudarmos a guerra civil que opôs os irmãos D. Pedro e D. Miguel, é obrigatório falarmos de uma das mais importantes vias do nosso concelho, falamos da estrada D. Miguel. É conhecido o facto de aquando do cerco do Porto, o rei absolutista ter percorrido a zona hoje identificada com a estrada. D. Miguel procurava juntar-se às suas tropas, estacionadas em Valongo, no dia 5 de novembro de

-Fui eu que escolhi cada planta aqui plantada, sabia? Queria ter um jardim, não só belo mas que tam- 1832. bém me representasse. Grandioso, magnífico, organizado e harmonioso. Instalou-se um breve silêncio . e Luís XIV continuou: -Queria ter uma verdadeira sociedade de prazeres, uma sociedade onde a minha corte pudesse descansar e divertir-se, viver sem preocupações, se é que me entende. -Sim meu rei - respondo. De repente o rei pára e dou-me conta que chegamos ao Grand Canal. Ele olha brevemente para trás e um dos guardas coloca uma toalha e um banco no chão para o rei se sentar, ele pede-me para eu também me sentar, o que faço prontamente. Ficamos o resto da manhã a apreciar aquela vista e trocando palavras de vez em quando.Seguidamente fomos admirar, segundo o rei, as belas fontes. Este falou-me dos deuses representados em algumas delas e das suas respetivas histórias.Ao fim do dia houve um pequeno baile na sala dos espelhos, onde se apresentaram jovens bailarinos e fizeram um Caricatura representando D. Pedro IV balé dramático. e D. Miguel disputando a coroa porApós a esplêndida apresentação, fizemos algumas danças como a gavotte, o minueto e a bourrée.Para terminar o grande dia, jantei com Luís XIV, uma das melhores refeições que comera na minha vida. Comemos quatro sopas, alguns ovos cozidos, salada de legumes, presunto cru, um frango capão ensopado, uma perdiz e algumas frutas e doces.Ao fim da noite Luís XIV e eu despedimo-nos e fomos para os nossos quartos. Nessa noite não consegui dormir só de lembrar cada momento do dia que passei com o rei. Estava incapaz de fechar os olhos. Mas não esqueci o furo nos seus collants! Leticia Santos 8ºA

tuguesa, por Honoré Daumier, 1833.

O rei D. Miguel, de seu nome Miguel Maria do Patrocínio João Carlos Francisco de Assis Xavier de Paula Pedro de Alcântara António Rafael Gabriel Joaquim José Gonzaga Evaristo, foi Regente do Reino de 1826 a 1828, em nome de sua sobrinha e noiva D. Maria II, e depois Rei de Portugal e dos QUERIDO DIÁRIO Algarves entre 1828 e 1834. Foi o 3/6/1691 terceiro filho varão do Rei D. João VI e da Rainha D. Carlota JoaquiQuerido diário, hoje enquanto passeava pelo jardim do Palácio de Versalhes, um dos mensageiros na de Espanha e irmão mais novo do Rei Luís XIV, ou como ele gosta de ser chamado “O Rei Sol”, veio entregar-me uma bela carta de D. Pedro IV de Portugal e I do onde me convidava para amanhã, dia 4 de Junho de 1691, passar o dia no palácio na sua companhia. Brasil. Fiquei felicíssima e muito entusiasmada, pois não é qualquer dama que recebe um convite tão especial como este. Suponho que fui escolhida pelo rei por ser uma jovem bonita e deslumbrante. Sim sou Recorde-se que o rei jurou a carta constitucional, no entanto não a vaidosa! Outras senhoras da corte já tinham recebido um destes convites e contaram que tinha sido cumpriu, dissolveu o parlamentou e um grande privilégio poder passar um dia ao lado do tão amado Rei Luís XIV. Já estava à espera convocou as cortes, que o apresendeste dia desde 1682 quando o rei se mudou para o palácio. Não é em vão que o palácio tem mais tam como rei absoluto, desencadede 700 quartos, 2153 janelas e 1250 lareiras, para lá residirem entre 3 a 10 mil pessoas, as mais andoi a guerra civiol entre liberais respeitáveis e significativas da sociedade. Estou num aposento bastante agradável, mas talvez, se eu e absolutistas. agradar ao rei, talvez possa ficar num quarto ainda mais luxuoso. Por um lado fico um pouco receosa Após o fim da Guerra Civil (1832– e inquieta, pois não sei o que o rei irá achar de mim... Bem, esperemos para ver o que acontece, mas 1834), com a Convenção de Évora uma coisa é certa, vou usar aquele meu lindo vestido azul-turquesa que só visto em ocasiões especiais. Monte, seguiu para o exílio. 5/6/1691 Meu apreciado diário, ontem foi o MELHOR DIA DA MINHA VIDA! Levantei-me tão cedo que o sol ainda nem tinha nascido. O Monarca acorda às 8 horas e 30 minutos, de seguida vai ao seu quarto um cirurgião e um médico verificar a sua saúde.De seguida, entram os cortesãos que são quem assiste à cerimónia de acordar do rei, lhe dão banho, o penteiam, o barbeiam e o preparam para o restante dia. O soberano veste roupas bastante graciosas, usa meia calça e saltos altos. O seu símbolo nas roupas é a flor-de-lis. Tem mais de mil perucas, por isso raramente usa a mesma, troca-as mais de uma vez ao dia. Infelizmente não pude assistir ao seu pequeno-almoço, já que só homens assistem ao pequeno-almoço do rei, normalmente 100. Porém, sei que a Majestade, por norma, bebe chá de ervas e caldo de legumes ao pequeno-almoço. Depois de estar completamente aprontada, fui ter com o rei à Galeria de Espelhos. É lindíssima mas um pouco confusa por ter demasiados espelhos. Seguidamente, fomos assistir à missa da manhã. Às 13 horas é hora do almoço. O rei costuma almoçar sozinho no quarto, mas como sou sua convidada almoçamos os dois juntos debaixo do telheiro do jardim. Após o almoço, o Monarca convidou-me para dar um passeio na sua carruagem real. Não é para me valorizar deveras, mas acho que o rei me apreciou muito mais do que as outras senhoras da corte... até elogiou o meu vestido e tudo! Paramos num jardim que nunca tinha visto, tinha roseiras magníficas! O rei

A 19 de Dezembro de 1834, a rainha D. Maria II promulgou uma carta de lei, conhecida por lei do banimento, D. Miguel (destituído da realeza) e todos os seus descendentes, ficaram para sempre obrigados a viver fora do território português e sem direitos de sucessão ao trono de Portugal. Faleceu na Alemanha, a 14 de novembro de 1866. Já durante a República, em 5 de abril de 1967, para ser solenemente trasladado juntamente com a sua consorte para o Panteão da Dinastia de Bragança, no Mosteiro de São Vicente de Fora, da mesma cidade. Érica Brito 11º8


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