BioHeitor N.º10 Janeiro 2022

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N.º10 JANEIRO 2022

BIOHEITOR

REVISTA ESCOLAR DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA BIOLOGIA 12ºANO

MUTAÇÕES MUTAÇÕES CROMOSSÓMICAS

MUTAÇÕES GENÉTICAS

HETEROCROMIA


FICHA TÉCNICA:

Título: BioHeitor Edição: Número 10 Ideia original e Curadoria: Mónica Ramôa monica.ramoa@sapo.pt (+351) 965 103 989

Logótipo: Mélanie Matthey-Doret e Simão Gonçalves Capa: José Pedro Fernandes Fotografia capa: Anja Kiefer por Pixabay

Apoio técnico digital/informático: Sílvia Martins e José Pedro Fernandes

Responsável científico-pedagógico: Mónica Ramôa Entidade responsável: Escola Secundária Frei Heitor Pinto www.aefhp.pt (+351) 275 331 228 gabinete-diretor@aefhp.pt Autores: Amélia Daniel, Beatriz Santos, Carolina Duarte, Catarina Lopes, Cristiano Gaiola, Daniela Maia, Duarte Amorim, Joana Quelhas, Joana Martinho, João Galvão, Lara Cancelinha, Laura Rodrigues, Leonardo Viegas, Leonor Vicente, Lucas Valezim, Marcos Carvalho, Margarida Saraiva, Maria Antunes, Maria Mendes, Mariana Morais, Martim Raposo, Martim Silva, Miguel Silva, Oriana Ferraz, Raquel Amaral, Sofia Sá, Tomás Rolo, Yuri Assunção. Local: Covilhã e ESFHP Data: Ano letivo 2021/2022 – Janeiro 2022

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Índice Mutações cromossómicas

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Carolina Duarte, Margarida Saraiva e Maria Mendes Mutações cromossómicas

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Oriana Ferraz Autismo: uma mutação

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Catarina Lopes, Leonardo Viegas e Lucas Valezim Anemia Falciforme

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Cristiano Gaiola e Miguel Silva Fibrose Quística

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Joana Quelhas e Joana Martinho Mutações genéticas e o Daltonismo

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Tomás Rolo e Yuri Assunção Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF)

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Duarte Amorim, Marcos Carvalho e Martim Silva Heterocromia

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Laura Rodrigues, Maria Antunes e Raquel Amaral Mutações genéticas relacionadas com o cancro da mama

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Leonor Vicente e Mariana Morais Mutação genética – Cancro da mama

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Sofia Sá Síndrome de Edwards

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João Galvão e Martim Raposo Síndrome de Jacobs

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Beatriz Santos e Daniela Maia 3


MUTAÇÕES CROMOSSÓMICAS Carolina Duarte, Margarida Saraiva & Maria Mendes

MUTAÇÕES CROMOSSÓMICAS

Fig.1 DNA

MUTAÇÕES ESTRUTURAIS Neste tipo de mutações ocorrem alterações na estrutura e na morfologia do cromossoma devido a porções que trocam de local (inversão), se repetem (duplicação), que desaparecem (deleção) ou se ligam a outro cromossoma diferente não homólogo (translocação), como consequência podem surgir problemas com gravidade elevada uma vez que a expressão génica fica comprometida (Carrajola, et al, 2009). No caso particular da deleção e da translocação, a mutação pode estar ligada a um crossing-over anormal durante a divisão celular entre cromossomas não homólogos (Carrajola, et al, 2009). Estas mutações têm os seus prós e contras, por um lado, quando ocorrem na natureza, a seleção natural permite a evolução de espécies levando ao desaparecimento de combinações génicas com baixa capacidade de adaptação e a alteração das frequências alélicas das populações (Júnior, et al, 2009). Por outro lado, esta mutação traz graves consequências, um exemplo é a síndrome do grito do gato que se caracteriza pela perda de uma porção do cromossoma 5 (deleção), esta síndrome pode ocorrer de forma espontânea, após a fecundação já na divisão celular do óvulo mas também como herança genética (Zaragoza, 2021). Quando um bebé herda esta síndrome, um dos progenitores possui parte do cromossoma 5 noutro cromossoma (translocação), desta forma não se perde a informação genética e é saudável (Zaragoza, 2021). Os bébes com esta síndrome têm um choro semelhante ao miar de um gato, as crianças podem ter problemas cardíacos e de coluna, atraso mental, microcefalia e hipertelorismo, se elas tiverem acompanhamento desde pequenas podem atingir um desenvolvimento social e psicomotor normal (Carrajola, et al, 2009). "Em relação às mutações cromossómicas estruturais são responsáveis pelas alterações em 2,6 de cada 1000 recémnascidos, de 4% dos abortos espontâneos ocorridos no primeiro trimestre e 15% das alterações encontradas em fetos de mães com idade superior a 35 anos.”(Boas, 2006)

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As mutações cromossómicas, são as principais responsáveis pelas doenças genéticas, tais como, malformações congênitas, uma grande proporção de abortos e retardos do desenvolvimento, elas ocorrem ao nível dos cromossomas devido a mudanças do número de genes ou da posição dos mesmos (Boas, 2006). A maioria destes problemas tem origem na não separação de pares de cromossomas homólogos durante a meiose mas também com a idade da mãe , uma vez que com o avanço da idade, diminui a qualidade dos ovócitos I na meiose (de Souza, et al, 2010). Estas podem ser estruturais ou numéricas e são detetadas através de exames médicos ou análises clínicas (Carrajola, et al, 2009).

Fig.2 Cariótipo de uma pessoa com síndrome do grito do gato http://www.ghente.org/ciencia/genetica/cri-du-chat.htm

MUTAÇÕES NUMÉRICAS Neste tipo de mutação, quando ocorre durante a divisão celular, as células podem ser portadoras de um número anormal de cromossomas, caso aconteça durante a meiose formar-se-ão gâmetas diferentes do normal e participem na fecundação, o futuro ser irá herdar a anomalia. (Carrajola, et al, 2009).


MUTAÇÕES NUMÉRICAS (EUPLOIDIA E ANEUPLOIDIA) A euploidia (poliploidia e haploidia) surge como consequência e consiste na alteração numérica do conjunto cromossómico (n), gerando-se indivíduos ou células com um número múltiplo do conjunto cromossómico (Carrajola, et al, 2009). A poliploidia é letal para a espécie humana, mas para as plantas e outros seres vivos pode trazer vantagens. Na haploidia, só se encontra presente um cromossoma de cada par de homólogos no ser diplonte (Carrajola, et al, 2009). Para além destas situações ocorre a aneuploidia (nulissomia, monossomia, polissomia) onde o indivíduo tem cromossomas a mais ou a menos num determinado par de cromossomas (Júnior, et al, 2009) nunca alterando o conjunto cromossómico básico (Carrajola, et al, 2009).

A primeira situação é a polissomia onde surgem mais do que 2 cromossomas homólogos num par, exemplos são a trissomia (2n+1) e a tetrassomia na primeira situação há 3 cromossomas no mesmo par na segunda 4 cromossomas no mesmo par (Carrajola, et al, 2009) (Carrajola, et al, 2009). Na segunda situação surge a monossomia (2n-1) ou seja há uma diminuição do número de cromossomas homólogos, por fim pode ocorrer uma nulissomia (2n-2) onde não existe um certo par de cromossomas homólogos na célula (Carrajola, et al, 2009).

EXEMPLOS Síndrome de Patau (trissomia 13): Esta síndrome é caracterizada pela trissomia do par 13, prejudica o desenvolvimento do coração, dos rins, do cérebro dos membros e da face (malformações nos olhos e no nariz), entre outros orgãos (Carrajola, et al, 2009). Os indivíduos que possuem esta síndrome têm uma média de sobrevivência de 2 a 5 dias e esta síndrome menos frequente devido à alta taxa de mortalidade intra uterina (de Souza, et al, 2010).

Fig.3 Cariótipo de uma pessoa com síndrome de Patau https://escolaeducacao.com.br/sindrome-de-patau/

Síndrome do triplo X: Esta síndrome não é rara, as mulheres que a possuem muitas das vezes não sabem do seu diagnóstico. Esta síndrome tem origem num erro durante a separação dos cromossomas homólogos durante a meiose (anáfase) da célula sexual (Canto, et al, 2019). Características desta síndrome são: baixo peso, dificuldade de coordenação motora, menor perímetro cefálico e um atraso cognitivo (Canto, et al, 2019) podendo ser estéreis e ter uma menopausa precoce (Carrajola, et al, 2009).

Fig.4 Cariótipo de uma pessoa com síndrome do triplo X

https://blog.varsomics.com/trissomias-em-cromossomos-sexuais-sindrome-do-triplo-x-e-sindrome-47xyy/

Síndrome de Jacobs: A síndrome de Jacobs caracteriza-se por uma aneuploidia a nível dos cromossomos sexuais onde o homem nasce com um cromossomo Y a mais (Alves, et al, 2019). Os homens que possuem esta síndrome apresentam distúrbios na fala e no comportamento, sendo agressivos (Alves, et al, 2019), uma vez que, os níveis de testosterona são elevados, também possuem distúrbios motores e têm dificuldade em relacionar-se com outras pessoas (Carrajola, et al,2019).

Fig.5 Cariótipo de uma pessoa com síndrome de Jacobs https://os-misterios-da-vida8.webnode.pt/sindrome-de-jacobs/

BIBLIOGRAFIA Alves, G. M. N., Coelho, G. P. A. O., Lima, J. H., & Resgala, L. C. R. (2019). SÍNDROME DE JACOBS: CONSEQUÊNCIAS DA TRISSOMIA XYY. Revista Interdisciplinar Pensamento Científico, 5(4). Boas, D. S. V. (2006). Citogenética Clínica: princípios gerais e anormalidades cromossômicas humanas. Revista Ceciliana, (26), 103-121. Canto, L. P., Sousa, L. R. D. A., Martins, L. M., & Rangel, T. L. V. (2019). SÍNDROME DO TRIPLO X: AS COMPLICAÇÕES DECORRENTES DA DOENÇAS À LUZ DA REVISÃO DE LITERATURA, NO PERÍODO DE 2010-2019. Múltiplos Acessos, 4(2), 119-134. Carrajola, C.; Castro, M.J. e Hilário,T. (2009). Planeta com Vida. Carnaxide: Santillana/ Constância Editora. de Souza, J. C. M., Solarewicz, M. M., Mordaski, R. Y. M., Passoni, C. R. D. M. S., Pereira-Ferrari, L., & Mikami, L. R. (2010). Síndromes cromossômicas: uma revisão. Cadernos da Escola de Saúde, 1(3). Júnior, A. W., & Bruckner, C. H. (2009). MUTAÇÕES EM ESPÉCIES FRUTIFERAS. Sistemas de Produção Agropecuária–Ano 2009. Zaragoza, N. Q. (2021). Síndrome cri du chat: un maullido del gato. Revista Internacional de apoyo a la inclusión, logopedia, sociedad y multiculturalidad, 7(2), 118-137.

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CATARINA LOPES, LEONARDO VIEGAS, LUCAS VALEZIM

AUTISMO: uma mutação Alterações do Código Genético

Fig. 1 - Mutação genética

CONCEITO GENÉTICA A genética das populações estuda a hereditariedade (Mendel) num grupo de indivíduos, ou seja, estuda o fenómeno hereditário ao nível populacional. A descrição da composição genética de um grupo de indivíduos depende das proporções de genótipos e de genes (alelos) dentro da população, ou seja, a descrição genética de um grupo de indivíduos (Salman, 2007). No entanto, o património genético por vezes sofre alterações no seu material, ou seja, ocorre uma mutação.

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Mutação Genética Segundo Salman (2007) Mutação são alterações que ocorrem no material genético de um indivíduo e que são transmitidas à descendência podendo, em alguns casos, provocar alterações fenotípicas. Essas alterações podem criar um novo alelo ou provocar a alteração de um alelo para outro já existente.


Tipos de Mutações Segundo Corbellini cromossómicas.

et

al.

(2021)

as

mutações

podem

ser

genéticas

ou

Tipos de Mutações

MUTAÇÃO GENES

MUTAÇÕES CROMOSSÓMICAS

Silenciosa (são diferenças existentes entre o codão criado e o codão original, sendo o aminoácido bem colocado na sequência para a formação do péptido não surgindo assim alterações no fenótipo). Sem Sentido (quando no DNA existem trocas de nucleótidos, levando à inserção de um codão de terminação a meio da cadeia de mRNA formando um péptido mais pequeno e que provavelmente não funciona). Estruturais (são alterações na morfologia e estrutura do cromossoma devido a proporções que se repetem, que trocam de local ou que desaparecem, que podem ser: Duplicação, Translocação, Deleção e Inversão). Numéricas (excesso de formação de gametas diferentes do que seria normal e, caso os mesmos sejam usados na fecundação, a anomalia será herdada pelo novo individuo). - Aneuploidias (nulissomia, monossomia, polissomia – trissomia) - Poliploidias

Fatores e Causas das Mutações Como menciona Flória-Santos et al. (2011) as mutações encontram-se expostas a vários fatores. A exposição a agentes ambientais externos e a influência de outros genes específicos do genoma do indivíduo e do meio ambiente interno de cada um podem provocar alterações genéticas. Segundo Costa (2010) as mutações nos genes podem causar grandes mudanças. Estas podem ser espontâneas – alterações definitivas no genoma de uma célula cuja causa inerente ao incorreto funcionamento da mesma (citosina só emparelha com adenina) ou induzidas – alterações definitivas no genoma de uma célula provocadas por ações externas de agentes mutagénicos (Rx, ultravioletas, radiações e substâncias químicas).

Fig. 2 - Exemplo de alteração no DNA levando à produção de uma proteína diferente

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Estudo de Caso Segundo o estudo de caso de Vidal e Stroparo (2020), apresenta-se a seguir um exemplo de uma mutação cromossómica.

O Autismo Estudo: Análise dos genes SHANK2 e SHANK3 no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)

Descrição: é um dos distúrbios neurológicos que dispõe o seu fenótipo de forma variável. Estima-se que fatores ambientais 60-65% (infeção durante a gestação, prematuridade, sofrimento fetal) estejam ligados a esta anomalia e que fatores genéticos representam 35-40% da contribuição para o distúrbio (Hadjkacem et al., 2016). Método: são utilizados os métodos de Array, para examinar micromutações no material genético. O método de Sequenciamento do Exoma, pretende detetar anomalias em regiões de novo (Rosan, 2015).

Mutação: mutações nos éxons nos genes da família SHANK - SHANK2 e SHANK3, que são genes codificadores de proteínas chamadas de andaimes sinápticos da densidade póssináptica. O gene SHANK2 é localizado no cromossoma 11q13.2, é constituído por 25 éxons e codifica a proteína SHANK2 (atuante nas sinapses excitatórias, na região pós-sináptica, garantindo a formação e estabilidade). Observação: Constatam-se mutações nos éxons 11, 13 e 22, tendo correlação com a etiologia do autismo (Rosan, 2015). O gene SHANK3 encontra-se no cromossoma 22q13.3, é codificador da proteína SHANK3 e tem 23 éxons. A proteína SHANK3 (atua também na região pós-sináptica dos neurónios, regulador de proteínas dos canais iónicos do citoesqueleto, compostos por actina, regular enzimas das moléculas que fazem a sinalização; tem relação com a sinaptogénese, contribui na maturação e indução das espinhas dendríticas funcionais; estabilidade dos recetores de glutamato e sinapses) (Rosan, 2015). Observação: Utilizando o método de Array, a mutação mais constante no gene SHANK3 é a microdeleção no local 22q13.3 denominada como cromossoma em anel é descrita como Síndrome de Phelan-McDermid ou Monossomia 22q13;, seguido de microduplicações, translocações, deleções interagências pequenas e alterações pontuais. Entre as mutações do gene SHANK3 as deleções são consideradas mais críticas associadas aos fenótipos autistas, intensificando-se em relação ao tamanho da alteração (Rosan, 2015). Conclusão do estudo: os estudos evidenciam que as mutações no SHANK2 e SHANK3 estão ligadas ao Espectro do Transtorno do Autismo, sendo que SHANK3 evidência estudos mais aprofundados. Assim sendo, as manifestações clínicas de indivíduos afetados envolvem dificuldade na comunicação, carência intelectual, variando de grave a moderada, atraso da fala e complicação no desenvolvimento.

CONCLUSÃO: Referências bibliográficas Corbellini, M., Rondon, M. J. P., Martins, V., e Karsburg, I. V. (2021). Funções dos Cromossomos (Mecanismos de crossing over, ligação, Função dos cromossomos xey) hipótese de inativação do cromossomo x. Pesquisa e desenvolvimento de abordagens para o ensino de ciências biológicas, 40. Costa, E. O. A. (2010). Estudo Genético Retrospectivo de Mutações Germinativas em Loci STR de indivíduos potencialmente expostos à radiação ionizante (Doctoral dissertation, Pontifícia Universidade Católica de Goiás). Flória-Santos, M. I. L. E. N. A. Nascimento, L.C., Da Silva, G.P., Júnior, L.C.L.e Pinto, P.D.S. (2011). Desordens genéticas: o papel do enfermeiro. PROENF Saúde do Adulto SESCAD, 6 (3), 71-110. Hadjkacem, I., Ayadi, H., Turki, M., Yaich, S., Khemekhem, K., Walha, A., e Ghribi, F. (2016). Fatores pré-natais, perinatais e pós-natais associados ao transtorno do espectrodo autismo. Jornal de Pediatria, 92, 595-601. Rosan, D. B. A. (2015). Investigação de mutações nos genes sinápticos SHANK2 e SHANK3 em Transtornos do Espectro do Autismo. Salman, A. K. D. (2007). Conceitos básicos de genética de populações. Embrapa RondôniaDocumentos (Infoteca-e). Vidal, A. A., & Stroparo, E. (2020). Mutações Genéticas em pacientes Autistas. Revista Eletrónica Biociência, Biotecnologia e saúde, 13 (26), 57-67.

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As alterações do código genético podem ser genéticas ou cromossómicas. As mutações provocam doenças cuja maioria não têm cura. Saber viver com uma mutação é adaptar-se a um processo para uma consequente melhoria de vida psicológica e física.


ANEMIA FALCIFORME Cristiano Gaiola Miguel Silva

O QUE É ANEMIA FALCIFORME?

É uma das doenças hematológicas herdadas mais comuns em todo o mundo, atingindo expressiva parcela da população dos mais diferentes países. Esta doença surgiu nos países do centro-oeste africano, da Índia e do leste da Ásia, há cerca de 50 a 100 mil anos, entre os períodos paleolítico e mesolítico. O fato que motivou a mutação do gene da hemoglobina normal (HbA) para o gene da hemoglobina S (HbS) ainda permanece desconhecido. A primeira descrição na literatura médica de um caso clínico de anemia falciforme deveu-se à observação de hemácias alongadas e em forma de foice no esfregaço sangüíneo de Walter Clement Noel, jovem negro, originário de Granada (Índias Ocidentais), estudante do primeiro ano do Chicago College of Dental Surgery, admitido no Presbyteriam Hospital com anemia. Em 1917, Emmel observou a transformação da hemácia na sua forma original, bicôncava, para a forma de foice, in vitro, e em 1922, o termo anemia falciforme foi utilizado por Manson. (Galiza Neto & Pitombeira, 2003)

SINTOMAS 01

Crises de dor (abdômen ou nos ossos longos dos braços e das pernas)

02

Piora da anemia

CONCLUSÃO

03

Dor nas extremidades (mãos e pés)

04

Propensão a infecções (principalmente pneumonia e meningite)

O estudo dos haplótipos pode ser utilizado com diferentes objetivos: para a determinação da origem unicêntrica ou multicêntrica de uma mutação, para discriminar eventos epistáticos (quando outros genes interferem na expressão fenotípica do gene mutante) e para definir o caminho de fluxo de um gene específico mutante. Quando os dados e informações estão suficientemente consolidados como no caso do cluster do gene b mutante, então os haplótipos podem ser úteis no estudo da origem e na evolução da raça humana . (Galiza Neto & Pitombeira, 2003)

BIBLIOGRAFIA

Galiza Neto, G. C. D., & Pitombeira, M. D. S. (2003). Aspectos moleculares da anemia falciforme. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, 39, 5156.

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Fibrose Quistica Joana Quelhas & Joana Martinho Fibrose quística (FQ) é uma doença genética autossómica recessiva causada por mutações no gene, localizado no cromossoma 7, responsável por codificar uma proteína chamada cystic fibrosis transmembrane conductance regulator (CFTR). Este gene foi identificado em 1989 e mais de 1932 mutações já foram caracterizadas, sendo que a mutação F508del (deleção da fenilalanina na posição 508) é a mais frequente entre os pacientes de FQ (Geddes,1995). Portadores homozigóticos para a mutação F508del CFTR atingem idade média de sobrevivência de 36,8 anos, segundo dados de 2012 da Cystic Fibrosis Foundation, e mais de 48% das pessoas com FQ têm mais de 18 anos. A doença é mais frequente em pessoas Caucasianas incidindo mais sobre europeus e norte americanos, não havendo, no entanto, qualquer diferença de incidência mediante o sexo Fig. 1 Núcleos com cromossomas, cromossoma com FQ mutação. (Simmonds, 2010). https://www.cff.org/sites/default/files/2021-09/Intro-to-CF.pdf Indivíduos com apenas uma cópias do gene defeituoso da FQ são chamados de portadores, mas não têm a doença. Cada vez que dois portadores de FQ têm um filho, as chances são: 25% (1 em 4) a criança terá FQ; 50% (1 em 2) a criança será portadora, mas não terá FQ; 25% (1 em 4) a criança não será portadora e não terá FQ (Cystic Fibrosis Foundation, 2018). Fig.2 Quando duas pessoas portadoras originam descendencia, há 25% de probabilidades da criança ter FQ https://www.cff.org/sites/default/files/2021-09/Intro-to-CF.pdf

CFTR pertence a uma família de proteínas transmembranares denominadas por adenosine triphosphate (ATP) binding cassette transporters. Esta está situada na membrana das células epiteliais que revestem as vias aéreas, a árvore biliar, os intestinos, os canais deferentes, as glândulas sudoríparas e os ductos pancreáticos, sendo responsável pelo transporte de iões Na+ , K+ e Cl- através das membranas epiteliais (Fernandes,2016; Schwiebert, 1998). A proteína CFTR funciona como um canal aniónico na membrana plasmática das células epiteliais, regulando o volume e a composição das secreções exócrinas. CFTR possui outras funções além de ser um canal de cloreto, esta proteína foi descrita como um regulador de outros canais membranares, como o canal epitelial de sódio. CFTR também transporta ou regula o transporte de HCO 3+ através das células epiteliais e pode atuar como um canal para outras proteínas, como glutationa (Quinton, 2001). A falta ou o erro de atividade do CFTR causará menos secreção de cloreto e, como o transporte de iões também cria um gradiente osmótico, menos transporte de água para a camada superficial epitelial. O erro leva a defeitos nos transportes iónicos a nível celular e ao, consequente, espessamento das secreções produzidas pelas glândulas exócrinas (Boucher, 2007; Barreto, 2003). FQ têm diferentes manifestações clínicas. Geralmente afeta diferentes sistemas do organismo, caracterizado por doença pulmonar progressiva, disfunções gastrointestinais, doença hepática, infertilidade masculina (azoospermia obstrutiva) e desnutrição (Firmida, Marques, Costa, 2011). Doença Pulmonar Crónica As vias aéreas pulmonares obstruídas por muco espesso podem ser infetadas e inflamadas. Infeções e inflamações causam doenças pulmonares crónicas. (Cunningham, 2022). Glândulas sudoríparas Na FQ, as glândulas sudoríparas produzem suor que é mais salgado do que em indivíduos sem a doença FQ (Cunningham, 2022).

fig.3 FQ ausente: as glândulas de muco as secreções são facilmente são facilmente movidas através do canais

FQ presente: faz com que o muco seja mais espesso e pegajoso

https://www.cff.org/sites/default/files/2021-09/Intro-to-CF.pdf

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Digestão prejudicada Problemas de digestão ocorrem em 90% das pessoas com FQ. O muco espesso impede que as enzimas digestivas do páncreas cheguem aos intestinos, onde são necessárias para ajudar a digerir os alimentos (Cunningham, 2022). A FQ também afeta outras partes do corpo, incluindo o fígado e o sistema reprodutivo. Para a maioria das pessoas com FQ, esses problemas não são tão nocivos quanto os efeitos no sistema respiratório e digestivo (Cunningham, 2022).

Fig. 4 Enzimas digestivas do pâncreas são bloqueadas e não conseguem chegar ao intestino pequeno. https://www.cff.org/sites/default/files/2021-09/Intro-to-CF.pdf

O teste do suor é considerado o mais confiável para o diagnóstico da fibrose quística. O diagnóstico da mesma é baseado no fenótipo clínico associado a duas ou mais provas do suor positivas e/ou pela presença de duas mutações no gene CFTR (Sweat Test, 2022).

Fig.5 O suor produzido por uma pessoa com FQ tem uma alta concentração de sal. https://www.cff.org/sites/default/files/202109/Intro-to-CF.pdf

No passado, já existiram falsos positivos e falsos negativos. Estes erros de diagnóstico têm sido maioritariamente atribuídos a irregularidades na execução dos testes de suor. No entanto, também já foi considerado o conceito de “fibrose quística com prova de suor negativa”, isto é, um teste de suor negativo perante evidências clínicas convincentes de FQ (Yolanda, 2008; Costa, 2014). A prova do suor é um método quantitativo que mede a concentração de ião cloreto (Cl-) no suor. Em indivíduos com FQ as concentrações de Na+ e Cl- são superiores a 60 mol/L (>70 mol/L em adolescentes e adultos) com uma média que se aproxima dos 100 mol/L. Para um indivíduo normal ou mesmo para um portador do gene da FQ, a média das concentrações de Na+ e Cl- é cerca de 30 mol/L (Yolanda, 2008). As dificuldades inerentes à aplicação da técnica bem como outras situações patológicas associadas podem falsear os Fig.6 O ciclo de infeção- inflamação causa prejudica os pulmões em indivíduos com FQ resultados obtidos. Do mesmo modo, os testes efetuados no https://www.cff.org/sites/default/files/202109/Intro-to-CF.pdf recém-nascido são de difícil valorização, por uma produção de suor insuficiente (Costa, 2014).

A vida de indivíduos com fibrose quística pode parecer cheia de rotinas, tratamentos e regras de dieta. Pessoas com FQ geralmente enfrentam quatro problemas principais: manter-se em forma e saudável; aderir aos tratamentos diários; gerenciar problemas respiratórios e gerenciar nutrição e digestão (Esteves, 2015). Ao longo da sua vida, quer em situação de exacerbação ou de estabilidade clínica, o doente com fibrose quística deve recorrer à implementação de várias atitudes terapêuticas. A atividade física e desportiva e a Reeducação Funcional Respiratória são utilizadas para prevenir manifestações respiratórias da FQ (Esteves, 2015). A fibrose quística é uma doença complexa. Os tipos de sintomas e a gravidade deles podem diferir muito de pessoa para pessoa. Muitos fatores diferentes podem afetar a saúde de um indivíduo e o curso da doença, incluindo a idade quando é diagnosticado. Os tipos de sintomas de FQ e, quão graves os mesmos são, podem diferir muito de pessoa para pessoa. Portanto, embora os planos de tratamento possam conter muitos dos mesmos elementos, eles são adaptados às necessidades únicas de cada pessoa (Firmida, Marques, Costa, 2011). Bibliografia About Cystic Fibrosis. (2018). Cystic Fibrosis Foundation. https://www.cff.org/intro-cf/about-cystic-fibrosis Barreto C. Fibrose Quística. [autor do livro] Sotto-Mayor R. Ed Gomes MJ. [ed.] (2003). Sociedade Portuguesa de Pneumologia. Tratado de Pneumologia. Lisboa. Boucher RC (2007). Evidence for airway surface dehydration as the initi-ating event in CF airway disease. Collins FS (1992). Cystic fibrosis: molecular biology and therapeutic im-plications. Cunningham, J., Lynn, M., & Taussig (January 25, 2022). An Introduction to Cystic Fibrosis For Patients and Their Families SIXTH EDITION. Retrieved from https://www.cff.org/sites/default/files/2021-09/Intro-to-CF.pdf Fernandes, D. A. S. P. (2016). Modulação da proteína cystic fibrosis transmembrane conductance regulator (CFTR) (Doctoral dissertation). Firmida MC, Marques BL, Costa CH (2011). Fisiopatologia e manifestações clínicas da fibrose cística. Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Fitzsimmons, S. C (1997). Cystic Fibrosis Foundation Patient Registry 1996 Annual Data Report. Bethesda, MD: Cystic Fibrosis Found. Geddes ME, Hodson DM (1995). Basic molecular genetics. [autor do livro] G Santis. Cystic Fibrosis. London: Chapman and Hal. Norma da Direção Geral de Saúde (2012). (Nº031/2012) – Diagnóstico da Fibrose Quística. Quinton PM (1983). Chloride impermeability in cystic fibrosis. Quinton PM (2001). The neglected ion: HCO3-. Reddy MM, Light MJ, Quinton PM (1999). Activation of the epithelial Nachannel (ENaC) requires CFTR Cl–channel function. Riordan JR, Rommens JM, Kerem BS, Alon N, Rozmahel R, Grzel-czak Z (1989) Identification of the cystic fibrosis gene: cloning and characterization of complementary DNA. Schwiebert EM, Morales MM, Devidas S, Egan ME, Guggino WB (1998).Chloride channel And chloride conductance regulator domains ofCFTR, the cystic fibrosis transmembrane conductance regulator. Simmonds NJ (2010). Review article: Cystic Fibrosis in the 21st Century. Respiratory Medicine. Sweat Test. (2022). Cystic Fibrosis Foundation. https://www.cff.org/intro-cf/sweat-test#the-most-reliable-test

Fig. 7 Manifestações da doença de acordo com a função residual da CFTR como um resultado da combinação de mutações graves ou brandas no genótipo. IP: insuficiência, pancreática, SP: suficiência pancreâtica; ACVD: agenesia congênita de vasos deferentes. (fonte: ockenga j et al. gut 2001; 49:312-326).

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BioHeitor Melhor Trabalho de Ciência no Concurso Nacional de Jornais Escolares 2020/2021.

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POLINEUROPATIA AMILOIDÓTICA FAMILIAR (PAF) DUARTE AMORIM, MARCOS CARVALHO E MARTIM SILVA

INTRODUÇÃO O que são as mutações? As mutações são uma alteração que ocorre no material genético dos indivíduos. Podem originar-se de forma natural, durante os processos de mitose, meiose ou síntese proteica, ou ser decorrente da ação de algum agente mutagénico (Mahley , 2000).

Figura 1- Polineuropatia amiloidótica familiar

COMO OCORREM AS MUTAÇÕES? As mutações surgem de forma natural ou podem ser induzidas por agentes mutagénicos, isto é, substâncias químicas ou de natureza física que podem induzir as mutações, como os raios ultravioleta e raios X, bebidas alcoólicas, substâncias derivadas do tabaco, bem como alguns medicamentos. As mutações ocorrem em virtude de alterações que surgem nos nucleotídeos do DNA. Muitas vezes, algumas dessas alterações que surgem são corrigidas antes da replicação do DNA. Quando isso não ocorre, surge uma nova molécula com a alteração, e ela pode reproduzir-se, perpetuando a mutação. As mutações podem ocorrer em células somáticas ou germinativas. Quando surgem nas células somáticas (células do corpo, exceto as reprodutivas), elas geralmente não são herdáveis, podendo causar problemas como o desenvolvimento de tumores, envelhecimento precoce, malformações (quando ocorre no período embrionário), entre outros (Strachan, 2018).

Importância das Mutações Normalmente as mutações estão associadas a algo mau, pois podem contribuir para o aparecimento de tumores, mas por outro lado podem contribuir para uma grande variabilidade genética através da criação de novos alelos e genes. Esta variabilidade genética amplia as capacidades das populações lidarem com as mudanças ambientais e está sujeita à seleção natural. Normalmente quando isto acontece, a mutação é preservada (Platt, 1994).

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TIPOS DE MUTAÇÕES 1- Mutação silenciosa: é um tipo de mutação molecular cuja mudança no nucleotídeo do DNA não altera o aminoácido sintetizado. 2- Mutação com alteração ou perda de sentido: também um tipo de mutação molecular, no entanto, a mudança no nucleotídeo causa uma alteração que leva à síntese de um aminoácido diferente do esperado. 3- Duplicação: mutação cromossómica na qual surgem cópias de determinado trecho do cromossomo, podendo alterar a sequência de códons. Geralmente está relacionada com a perda desse trecho no cromossomo homólogo. 4- Eliminação: perda de um segmento de cromossomos, seja na extremidade, seja no seu interior. Esse tipo de mutação cromossómica também pode ocasionar mudança na sequência de códons. (Rall Jr, 1982)


Polineuropatia amiloidótica familiar (PAF)

A polineuropatia amiloidótica familiar (PAF) é uma doença autossómica dominante neurodegenerativa relacionada com a deposição sistémica de fibras de amiloide essencialmente a nível do sistema nervoso periférico. Clinicamente, caracteriza-se por uma neuropatia sensitivo-motora iniciando-se quase sempre nos membros inferiores e comprometendo subsequentemente as mãos. Até agora, o único tratamento conhecido com efeitos positivos no atrasar da progressão da doença é o transplante hepático com medicação com efeitos negativos para o metabolismo muscular e consequentemente para a capacidade de produção de força (Sousa, 1995). A evolução natural da doença caracteriza-se por alterações sensitivas motoras e autonómicas, das quais a mais precoce no homem é a disfunção sexual eréctil que precede por vezes a polineuropatia. O compromisso motor é mais tardio causando alterações da massa muscular e diminuição da força. As alterações sensitivas começam quase invariavelmente nos pés, com progressão ascendente e comprometendo posteriormente as mãos evoluindo para um padrão em luva, numa fase mais tardia da doença. A atrofia dos músculos das mãos pode conferir uma configuração em forma de garra (Vieira, 2008).

Foi possível concluir que a substância amiloide que se deposita nos nervos periféricos e em quase todos os órgãos, é composta por fibrilhas formadas a partir de uma proteína circulante, a transtirretina (TTR). Atualmente alguns estudos lançam a dúvida sobre a relação causal entre a deposição de substância amiloide e a degenerescência das fibras nervosas, sugerindo que a TTR mutante não fibrilar é, ela própria, patogénica para a fibra nervosa. À luz destes novos conhecimentos foi possível introduzir três novos procedimentos diagnósticos, o diagnóstico pré-sintomático, o diagnóstico pré-natal e o diagnóstico pré-implantatório (Gonçalves, 2009).

Como mais de 90% da TTR Val30Met é produzida no fígado, o único tratamento considerado específico e capaz de suspender a evolução da doença é o transplante hepático, porque leva ao desaparecimento da proteína mutante. Atualmente ocorrem em Portugal, cerca de metade dos transplantes hepáticos por PAF realizados em todo o Mundo. O transplante hepático veio retirar à PAF, o seu carácter progressivo e necessariamente fatal, todavia veio também acrescentar outros riscos e problemas. Por esse motivo, novas estratégias de combate à PAF, são necessárias (Santos, 2010).

Bibliografia Mahley, R. W., & Rall Jr, S. C. (2000). Apolipoprotein E: far more than a lipid transport protein. Annual review of genomics and human genetics, 1(1), 507-537. Strachan, T., & Read, A. (2018). Human molecular genetics. Garland Science. Rall Jr, S. C., Weisgraber, K. H., & Mahley, R. W. (1982). Human apolipoprotein E. The complete amino acid sequence. Journal of Biological Chemistry, 257(8), 4171-4178. Platt, O. S., Brambilla, D. J., Rosse, W. F., Milner, P. F., Castro, O., Steinberg, M. H., & Klug, P. P. (1994). Mortality in sickle cell disease--life expectancy and risk factors for early death. New England Journal of Medicine, 330(23), 1639-1644. Sousa, A. A variabilidade fenotípica da polineuropatia amiloidótica familiar: um estudo de genética quantitativa em Portugal e na Suécia. Vieira, (2008). Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF) tipo I: uma visão actual, de um problema de saúde antigo (Doctoral dissertation, Universidade da Beira Interior. Gonçalves, (2009). Investimento corporal do portador de polineuropatia amiloidótica familiar. Revista de Enfermagem Referência, 2(11), 47-59. Santos E. (2010). Ansiedade perante a morte: Estudo numa amostra de doentes com polineuropatia amiloidótica familiar.

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Heterocromia

Laura Rodrigues, Maria Antunes & Raquel Amaral

A heterocromia é caracterizada por diferenças na coloração da íris de um indivíduo, sendo, na maioria das vezes, benigna (Silva, et. al., 2021). Pode ser resultado de mutações em certos genes, os dois olhos não serão da mesma cor, caso um deles seja formado a partir das células descendentes mutantes e o outro a partir de células que não carregam a mutação (Boranga, et. al., 2021). A íris é responsável pela cor dos olhos, realiza o controlo da quantidade de luz que entra no olho pela pupila. Variações nos genes de cada indivíduo, além da quantidade e da qualidade de melanina na íris, determinam a cor dos olhos (Silva, et. al., 2021). Figura 1- Gato com Heterocromia

Ao nível dos olhos, verifica-se por vezes heterocromia da íris que pode ser total parcial ou central. Numa heterocromia total, cada íris tem uma cor diferente (Silva, et. al., 2011), enquanto que na heterocromia parcial existe uma área da íris, habitualmente de forma radial, com uma cor diferente da restante (Pina, 2020), pode ainda ser unilateral ou bilateral e, sendo bilateral pode ser simétrica ou assimétrica (Silva, et. al., 2011). A heterocromia central ocorre em íris com níveis de melanina baixo e é caracterizada por ter duas cores diferentes na mesma íris, onde irradiam a pupila (Manrique-Gonzalez, 2019).

Figura 2- Heterocromia Parcial

Figura 3- Heterocromia Total

Fonte: https://incrivel.club/admiracao-fotografia/20-pessoas-p resenteadas-com-tracosfisicos-unicos-pela-natureza-1238841/

Fonte: https://www.tuasaude.com/heterocromia

Figura 4- Heterocromia Central Fonte:https://www.reddit.com/r/pics/comments/1gc6ag/my_friends_eyes_ have_central_heterochromia_and/

Causas da Heterocromia

Um bebé pode nascer com a condição ou desenvolvê-la após o nascimento, num dos genes responsáveis pela coloração dos olhos (Guzmán, 2021). As células que se originaram de uma primeira célula mutante receberá a mutação e, portanto, irá expressar o perfil mutante (Boranga, et. al., 2021), sendo assim conhecida como "heterocromia congénita". Na maioria dos casos, as crianças não apresentam mais nenhum problema ocular ou geral de saúde. Pode também ser um sintoma de outra condição, como síndrome de Horner, síndrome de Sturge-Weber, síndrome de Waardenburg ou outras condições ainda menos frequentes. Essa alteração de pigmentação também pode aparecer durante a vida adulta, e é conhecida como "heterocromia adquirida", na qual, diferentemente da anterior, é geralmente acompanhada de algum distúrbio visual (Guzmán, 2021).

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Sengundo o Centro de Educação Básica Francisco De Assis (2017) e Boranga (2021), a heterocromia pode ser o resultado de mutações em certos genes, no gene EYCL3 onde indicam a quantidade de melanina que o olho vai apresentar, neste caso castanho (dominante) e azul (recessivo). Existem também alterações no gene EYCL1 que é responsável pela produção de melanina na íris, e responsável pelo reflexo da cor verde (dominante) e azul (recessivo).

Tratamento da Heterocromia

A heterocromia é uma alteração de cor nos olhos do paciente que pode ser sinal de outras doenças. No entanto, não é uma doença ou sintoma que precise de um tratamento específico, pois na maioria dos casos a mutação é leve. O tratamento para a heterocromia está relacionado no tratamento de outras causas subjacentes para essa condição (Guzmán, 2021).

Alguns exemplos de Heterocromia

A heterocromia da íris é um fenómeno raro em humanos, mas comum em animais. Podemos observar alguns exemplos desta mutação nas imagens a seguir ilustradas:

Figura 5- Pessoa e cão com Heterocromia Total

Figura 6- Gato com Heterocromia Total

Fonte: http://pibidbiougb.blogspot.com/2017/05/heterocromia.html

Fonte:https://br.pinterest.com/vanessastarlen/heterocromia/

Figura 7- Coruja com Heterocromia Total

Figura 8- Husky com Heterocromia Total

Fonte: https://aminoapps.com/c/world-animal-mundo-animal/page/blog/top-5casos-de-animais-com-heterocromia/rEnD_zKSeuLNwkYbkQJ1ZVzYQ8DZbaZoP6

Fonte: https://www.pinterest.pt/pin/377176537552047375/

Bibliografia

Boranga, B. E. C., Aguiar, H. C., Balganon, I. F., & Silva, M. M. D. C. (2021). Bases moleculares da pigmentação humana: uma revisão de literatura. Guzmán, J. (2021). Ojos de fantasma. Manrique-Gonzalez, L.M. (2019). Heterocromia Congênita Iridium: Da clínica ao diagnóstico. Jornal do Corpo Médico do Hospital Nacional Almanzor Aguinaga Asenjo , 12 (2), 177-177. Pina, RLTD (2020). Síndrome de Waardenburg (dissertação de doutoramento). Universidade de Lisboa. Silva, L. D. F. D., Lima, A. S. B., Dall’Oglio, C. F., & Hallal Júnior, R. J. (2021). Heterocromia de íris: uma revisão das condições que podem afetar a pigmentação iridiana. Revista Brasileira de Oftalmologia, 80. Silva, PCVD, Rangel, P., & Couto Jr, A. (2011). Síndrome de Waardenburg tipo I: relato de caso. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia , 74 , 209-210.

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MUTAÇÕES GENÉTICAS RELACIONADAS COM O CANCRO DA MAMA Leonor vicente & Mariana Morais

O QUE É O CANCRO? O

cancro

é

considerado

APARECIMENTO E FORMAÇÃO uma

das

Segundo Ciorci (2019), o aparecimento e

maiores causas de morte no mundo e é definido

como

surgindo

como

alterações genético quais

uma

doença

consequência

cumulativas

(DNA)

sofrem

de

no

células

a formação do cancro (oncogênese) são

genômica,

processos

de

genética,

material

normais,

transformações

até

que

possuem

resultante

da

uma

base

acumulação

de

mutações que causam uma desregulação

as

nos

se

processos

de

diferenciação,

proliferação e morte celular.

tornarem malignas. ( Danta, et al, 2009) No

cancro,

existe

uma

proliferação

anormal de células disfuncionais (material genético danificado) que inicialmente vai

Do total de casos de cancro da mama, 10 a

15%

são

causados

hereditários,

por

mutações

isto em

é,

são

genes

de

suscetibilidade que aumentam o risco de surgimento

da

doença.

Essas

mutações

podem ocorrer em vários genes, cada um deles

associado

a

riscos

diferentes

de

desenvolvimento da patologia. No cancro hereditário

da

mama,

os

genes

dar

origem

(iniciação). que

à

formação

Estas

células

ultrapassaram

os

do

tumor

imortalizadas

mecanismos

de

morte celular, continuam a proliferar de uma

maneira

(progressão),

até

não que

controlada

passam

a

invadir

outros tecidos, sendo característico nos últimos estadios da doença (Ciorci, 2019).

mais

frequentemente alterados são o BRCA1 e o BRCA2, estando as mutações destes genes associadas a um risco de desenvolvimento de cancro da mama durante a vida entre 70 e 85% ( Grijó, 2014).

De

acordo

com

Miguel

(2019),

os

genes

BRCA 1 e 2 são genes supressores tumorais. Mutações

inativadoras

destes

dois

genes

não permitem a normal reparação do DNA nos sucessivos ciclos celulares, permitindo o escape da morte celular e a proliferação de células

com

alterações

instabilidade implicam

um

genética.

Estas

aumento

da

probabilidade de aparecimento de cancro em portadores destas mutações.

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Fonte: https://www.cancro-online.pt/cancro/informacao-basica/o-que-e-o-cancro/

figura 1 - Formação do cancro


IDENTIFICAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DOS GENES O

gene

BRCA1

encontra-se

localizado

no

cromossoma

17,

mais

concretamente em 17q21.3, codificando uma proteína de 1.863 aminoácidos com importantes funções na transcrição e na reparação de erros do ADN, no controlo do ciclo celular e na regulação da apoptose. O BRCA1 é, desta forma, considerado um gene supressor tumoral; portadores de mutações deste gene estão associados a um risco cumulativo de cancro da mama de cerca de 80-85% (Dias, 2010).

Segundo

Amorim

(2002),

genes

de

supressão

tumoral ou genes supressores de tumor são genes recessivos no nível celular e têm a função de reprimir a

divisão,

como

uma

maneira

de

controlar

esta

divisão.

O gene BRCA2 encontra-se

localizado no cromossoma 13, em 13q12-13, e

codificando uma proteína de 3.418 aminoácidos com importante papel na reparação de erros da replicação do ADN (Dias, 2010).

MUTAÇÕES HEREDITÁRIAS NOS GENES BRCA De acordo com Batista (2012), nos casos de cancro hereditário de causa genética, verificam-se alterações genéticas herdadas dos pais, que aumentam o risco do desenvolvimento de cancro. Ou seja, cada ser humano apresenta duas copias de cada gene (uma herdada da mãe e outra herdada do pai), quando um individuo herda uma copia modificada/alterada do gene BRCA de um dos progenitores, a mutação presente neste passa a estar em todas as células tornando-o mais vulnerável a ter cancro mais cedo.

BIBLIOGRAFIA Dantas, É. L. R., de Lima Sá, F. H., de Carvalho, S. M. D. F., Arruda, A. P., Ribeiro, E. M., & Ribeiro, E. M. (2009). Genética do câncer hereditário. Revista Brasileira de Cancerologia, 55(3), 263-269.

Ciorici, V. (2019). Suscetibilidade genética no cancro: cancro da mama hereditário (Doctoral dissertation).

Grijó, L. S. P. D. M. Reconhecimento e Abordagem do Cancro da Mama Hereditário (Doctoral dissertation).

Miguel, I. (2019). Cancro Da Mama Hereditário. Instituto Português de Oncologia.

Dias, M. F. (2010). Tumores hereditários da mama. Revista Unoversidade de Coimbra. (13).

Amorim, A. R. (2002). Genética do câncer. Repositório uniceub. (2)

Batista, R. P. M. (2012). Caracterização das mutações dos genes BRCA1 e BRCA2. Revista Universidade de Aveiro. Fonte: https://www.cancronafamilia.org/pt/cancer-biology/heredity/transmission-hereditary-mutations/

Figura 2- Hereditariedade

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Mutação genética Cancro da Mama Sofia Sá Segundo Grijó (2014), no cancro hereditário da mama, os genes mais frequentemente alterados são o BRCA1 e o BRCA2, estando as mutações destes genes associadas a um risco de desenvolvimento de cancro da mama durante a vida entre 70 e 85%. Dias (2010), refere que a grande maioria dos cancros da mama (95%) têm uma natureza esporádica e apenas uma pequena percentagem, particularmente cancros da mama diagnosticados em idades jovens ou no sexo masculino, têm na sua origem uma predisposição genética.

Descoberta: Esta propensão genética foi pela primeira vez redigida em 1866 pelo neurocirurgião Broca P, apesar das alterações genéticas responsáveis pelo cancro da mama familiar só terem começado a ser verdadeiramente conhecidas aquando do Human Genome project, 1980-2003, é de transmissão autossómica dominante com elevada penetração. Na década de 1990 verificou-se um considerável progresso no conhecimento e compreensão destes mecanismos genéticos responsáveis pois este tipo específico de cancro da mama, nomeadamente no que se refere à identificação e localização dos genes responsáveis pelo cancro da mama “hereditário”, dos quais o BRCA1 e o BRCA2 têm atraído particular atenção. (Dias 2010 referindo Miki et al,1994 & Woster et al,1995).

Estimulação da mutação: O gene BRCA1 (Fig.1) encontra-se localizado no cromossoma 17, mais concretamente em 17 p21.3. (Dias, 2010 referindo Hall et al, 1990), codificando uma proteína de 1.863 aminoácidos (Fig.2) com importantes funções na transição e na reparação de erros do ADN, no controlo do ciclo celular e na regulamentação da apoptose (Dias, 2010 referindo Hsu, White,1998 & Abott et al,1999).

Figura 1. Gene BRCA1 localizado em 17q21

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Figura 2 Proteína codificada pelo gene BRCA1


O gene BRCA2 (Fig.3) encontra-se localizado no cromossoma 13, em 13q12-13, (Dias, 2010 referindo Wooster et al,1994 & Tavtigian et al,1994), e codifica para uma proteína de 3.418 aminoácidos (Fig. 4), com importante papel na reparação de erros da replicação do ADN (Dias, 2010 mencionando Bertwistle et al,1996 & Chen et al, 1997).

Figura 3. Gene BRCA2 localizado em 13q12

Figura 4. Proteína codificada pelo gene BRCA2

Atualmente, já foram descritas cerca de 1790 mutações, polimorfismos e variantes diferentes no gene BRCA1 e cerca de 2000 no BRCA2. Os tipos mais comuns de mutações são pequenas deleções ou inserções ou mutações nonsense, levando ao truncamento de proteínas e, consequentemente, a proteínas não funcionais (Feliz,2019 referindo Larsen et al,2014).

Concluindo: Os portadores de mutações em genes que amplificam a predisposição para o cancro devem buscar orientações individuais de modo a obter medidas de rastreio e de redução de risco apropriadas, tendo em conta a sua história familiar. Além disso, quando possível, os membros da família que poderão também apresentar determinada mutação devem realizar o teste genético. Numa perspetiva futura, a crescente disponibilidade de estudos sobre o genoma poderá trazer novos conhecimentos acerca da suscetibilidade ao cancro da mama hereditário (Feliz,2019 referindo Cardoso et al,2016), incluindo a descoberta de novos genes associados a uma maior predisposição para a doença (Feliz,2019 referindo Apostolou et al,2013).

Bibliografia:

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SÍNDROME DE EDWARDS João Galvão & Martim Raposo Figura 1-Cariotipo da síndrome de edwards https://www.news-medical.net/image.axd?picture=2021

O QUE É A SÍNDROME DE EDWARDS? A Síndrome de Edwards ou trissomia 18 consiste numa cópia extra do cromossoma 18 e foi descrita em 1960 por John H. Edwards. Depois da síndrome de down esta é a trissomia mais comum afetando estimadamente cerca de 1/8000 nativivos. Durante a gravidez a incidência é muito mais elevada mas cerca de 95% das gravidezes com trissomia 18 evoluem para abortos espontâneos (Meneses et all, 2003). As manifestações mais comuns relatadas na gestação são movimentos fetais fracos e hidrâmnios; muitas vezes a gestação é prolongada, podendo ser de 42 semanas ou mais; a placenta apresenta-se pequena e a artéria umbilical é única (Schinzel, 1984).

HISTÓRIA A trissomia 18 foi originalmente descrita em 1960 por John Edward. Edward e seus colegas em um relato de um caso de uma menina de 9 semanas de vida que apresentava atraso de desenvolvimento e crescimento occipício proeminente, orelhas displásticas e de baixa implantação, micrognatia, pescoço alado, esterno curto, cardiopatia congênita, mãos fletidas com sobreposição dos dedos, calcanhar proeminente . Pouco depois, no mesmo ano, Smith e colaboradores na Universidade de Wiscousin descreveram o primeiro caso na América do Norte, estabelecendo assim o padrão da síndrome. Na verdade, esses grupos ajudaram a descrever tanto a trissomia 18 quanto a trissomia do cromossoma 13. Desde então, a síndrome de Edwards desperta o interesse da comunidade científica, sendo o foco de inúmeros trabalhos e publicações em todo mundo (Wink et all, 2001).

CARACTRÍSTICAS FENOTIPICAS DA TRISSOMIA 18: 1. Crânio e Face O crânio é dimórfico com o diâmetro bifrontal diminuído e o occipital saliente a face é triangular com testa alta e ampla. As fendas palpebrais são estreitas, o nariz é pequeno, boca pequena com palato ogival. As orelhas são mal formadas e de implantação baixa, isto é desenroladas e com a parte superior em ponta (Koiffman & Gonzalez, 1992).

2.Tórax e abdomen Pescoço curto com excesso de pelo, esterno curto mamilos pequenos presença de hérnia umbilical, diástase dos músculos retos, pelvis estreita e limitação da abdução dos quadris (Koiffman & Gonzalez, 1992).

3. Extremidades Uma característica muito comum nesta síndrome é a criança manter os punhos muito fechados, o dedo anelar a cobrir o dedo médio e o polegar a cobrir o indicador e as unhas são hipoplásticas. É comum o pé torto e o calcanhar apresenta-se proeminente, tendo assim o pé formato de uma cadeira de balanço ( Koiffman & Gonzalez, 1992).

4. Órgãos genitais É comum criptoquidia nos meninos e hipertrofia do clitóris com hipoplasia dos lábios grandes nas meninas ( Koiffman & Gonzalez, 1992).

5. Malformações

26 Figura 2-Rosto de um bebe com síndrome de Edwards https://knoow.net/wp-content/uploads/2016/07/trissomia-18.

Um amplo espetro de malformações congênitas que afetam o cérebro, coração, rins e aparelho digestivo pode estar presente. Entre todas estas malformações, a cardíaca é quase sempre a responsável pelos óbitos dos recém nascidos, principalmente devido á falha entre a comunicação interventricular e há persistência do canal arterial (Koiffman & Gonzalez, 1992).


PROGNOSTICO DA DOENÇA

CONCLUSÃO

A maioria dos fetos portadores da mutação acaba por morrer durante a vida embrionária e fetal. As crianças que nascem apresentam um prognóstico bastante reservado. A média entre os nativivos usualmente varia entre os 2,5 e os 14,5 dias. De uma forma geral dos recém nascidos afetados, 55% a 65% vão a óbito na primeira semana de vida, 90% ao redor de 6 meses e apenas 5% a 10% estarão vivos ao final do primeiro ano (Rosa et all, 2013). Alguns achados dizem que os indivíduos do sexo feminino têm mais chance de nascerem vivos e sobreviverem por um período mais longo do que os do sexo masculino (Lin et all, 2006).

A trissomia 18 apresenta se com alta taxa de mortalidade e elevadíssimo índice de abortamento e de mortalidade pós-natal. Portanto, a realização do diagnóstico pré-natal é de grande valia tanto para os pais como para a comunidade científica em geral. O uso de métodos invasivos para o diagnóstico torna-se inquestionável quando há chances elevadas de ocorrência de um síndrome tão mórbida como a de Edwards. A deteção prévia desta doença ajuda há determinação da conduta a ser estabelecida. A decisão a respeito do manejo deve ser tomada basicamente pelos pais, devidamente orientados pela equipa médica, visto que não há terapias eficazes para a melhoria clínica do paciente. Na maioria dos países de primeiro mundo a opção do aborto deve ser sempre considerada, para evitar maior sofrimento dos pais devido ao contato prolongado com uma criança que apresenta um prognóstico sombrio. Além da decisão sobre a gestação, deve-se tembém procurar a etiologia do distúrbio. Este conhecimento torna-se importante para se poder prever qual a possibilidade do casal gerar um novo descendente trissómico (Wink et all, 2001).

Figura 3- Punho de um recém-nascido com trissomia 18 www.msdmanuals.com/-/media/manual/home/images/p/h/i/phil_trisomy_18_

Figura 4- Pés de recém nascido com a sindrome https://www.saudedica.com.br/wp-content/uploads/2018/08/s%C3%ADndrome-de-Edwards-2.jpg

Bibliografia

Koiffmann, C., & Gonzalez, H. C. (1992). Trissomia do 18 ou síndrome de Edwards. Instituto da criança “Professor Pedro de Alcantara” do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo, 104-106. Lin HY, Lin SP, Chen YJ, Hung HY, Kao HA, Hsu CH. (2006). Clinical characteristics and survival of trisomy 18 in a medical center. Meneses Costa, C., Resende, F., & Ferraresi, S. K. F. (2003). SÍNDROME DE EDWARDS. Shinzel,A.(1984) -catalogue of unbalanced chromosome aberrations in man. Berlin, Walter de Gruyter. Wink, D. V., Paz, F. S., Machado, R. B., & Wittmann, R. (2001). Síndrome de Edwards. Trabalho de Conclusão de Curso. Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas. Porto Alegre–RS.

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SÍNDROME DE JACOBS Beatriz Santos & Daniela Maia

O QUE É A SÍNDROME DE JACOBS?

• •

A síndrome de Jacobs, também conhecida por síndrome 47, XYY, foi descoberta em 1961 por Sandberg [1] e é uma aneuploidia dos cromossomas sexuais que afeta indivíduos do sexo masculino que apresentam uma cópia extra do cromossoma Y [2]. Os indivíduos com síndrome de Jacobs têm uma esperança média de vida de 67,5 (10,4 anos inferior à esperança média de vida “normal”), sendo apontadas como possíveis consequências a maior tendência ao desenvolvimento de neoplasias, risco por doenças pulmonares e alterações/danos neurológicos. A frequência estimada de indivíduos portadores do duplo Y está entre 1:1000 nascidos vivos [3].

COMO OCORRE/CAUSAS:[3]

Na maioria dos casos a síndrome de Jacobs não é herdada de nenhum dos progenitores, ocorrendo espontaneamente [2], no entanto existem casos em que esta pode ser provocada por defeitos no momentos da divisão celular do pai (uma vez que apenas ele tem o cromossoma Y). Assim, a sua origem pode estar relacionada a dois momentos da divisão celular. Um deles ocorre na porção pré-zigótica da reprodução humana, na qual é formado o cariótipo XYY devido a uma não-disjunção na meiose II, resultando em espermatozoides com dois cromossomas Y [3]. Caso alguma destas células espermáticas atípicas seja responsável pela fecundação, a criança em causa nascerá com um cromossoma Y extra em todas as suas células [2].

O outro ocorre quando da divisão pós-zigótica possa nasce um indivíduo com mosaicismo, ou seja, ou terá células normais (46, XY) ou com a síndrome (47, XYY).

[8] – Mosaicismo num indivíduo com síndrome de Jacobs [7] - Cariótipo masculino, com 47 cromossomos e com complemento de cromossomos sexuais XYY

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CARACTERÍSTICAS [3]

Os traços dos indivíduos portadores da Síndrome de Jacobs apresentam um padrão próximo da normalidade, o que pode tardar o diagnóstico dos acometidos por essa anomalia [2], então apesar dos portadores do síndrome serem fenotipicamente normais, algumas alterações foram descritas para poderem servir de alerta para a cromossomopatia: clinodactilia, hérnia inguinal, pectus carinatum, hipospádia, criptorquidia e associação com agenesia renal e displasia renal cística [4][5]. É após a primeira década de vida que costumam ocorrer os diagnósticos clínicos devido, não só ao crescimento exacerbado, mas às divergências comportamentais e certas dificuldades características ao duplo Y. A nível somático pode ocorrer uma elevada estatura [2] (cerca de 1,83m de altura); segundo Mustacchi & Peres [6], estes homens costumam ter orelhas pouco displásticas, ponte nasal larga, pele acneica, tremores musculares, dedos longos, modificações dermatoglíficas evidentes e hipogonadismo. No que tange às dificuldades neurológicas, são mais vulneráveis a uma maior prevalência de casos de défice de atenção, hiperatividade, atraso na fala e tendências a um transtorno do espectro autista.

Altura média de 1,80m Acne nódulo cística severa durante a adolescência Anomalias nas genitálias: criptorquidia, hipospádia Distúrbios motores: tremor fi no e déficit de coordenação motora fina Atraso na fala Taxa de testosterona aumentada, o que pode ser um fator contribuinte para a inclinação antissocial e aumento de agressividade Imaturidade no desenvolvimento emocional e menor inteligência verbal, fatos que podem dificultar seu relacionamento interpessoal Crescimento acelerado na infância QI 10 a 15 pontos abaixo da média Problemas no aprendizado: dificuldade de leitura e concentração Volume cerebral reduzido Dentes grandes Glabela saliente Orelhas mais longas que o normal Mãos e pés maiores.

[10] - Principais características da síndrome XYY

[9] - Dois irmãos gêmeos. O mais alto tem cromossoma XYY.

BIBLIOGRAFIA [1] de Souza, F. C., Dummer, C. D., Piana, M. D., Borba, B. L. I., & Peixoto, J. L. (2014). Síndrome 47, XYY. Revista da AMRIGS, 58(2), 147149. [2] Costa, I. M. C. S. (2017). Síndrome 47, XYY-Espectro fenotípico e implicações diagnósticas. [3] Alves, G. M. N., Coelho, G. P. A. O., Lima, J. H., & Resgala, L. C. R. (2019). Síndrome de Jacobs: Consequências da Trissomia XYY. Revista Interdisciplinar Pensamento Científico, 5(4). [4] El-Dahtory F, Elsheikha H. (2009) Male infertility related to an aberrant karyotype, 47, XYY: four case reports. Cases Journal, 2:28. [5] Alves M, Schaefer P, Tonietto T, Schroeder S (2001) . 47,XYY. FFFCMPA, disciplina de genética médica [site na internet]. Porto Alegre. Disponível em www.genetica.ufcspa.edu.br/seminarios%20 textos/47xyy.pdf. Acesso: 27/05/2011 [6] Mustacchi, Z.; Peres, S. (Org.). Genética baseada em evidências - síndromes e heranças. [7] https://static.preparaenem.com/conteudo_legenda/718f77249c11efed076d074220909bfb.jpg [8] https://sonoworld.com/images/FetusItemImages/article-images/aneuploidy/45_x_47_xyy_files/image8.jpg [9] http://www.ghente.org/imagens/ciencia/xyy.gif [10] Fonte [1]

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