Financeiro 84 - Janeiro 2014

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edição

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Brasil na mira Deborah Vieitas, presidente da ABBI, fala sobre a importância do mercado financeiro brasileiro para a estratégia das instituições financeiras estrangeiras

janeiro 2014 financeiro 1 Mercado promissor para o crescimento dos empréstimos


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conteúdofinanceiro

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14 Páginas Azuis 8

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A presidente da ABBI (Associação Brasileira dos Bancos Internacionais), Deborah Vieitas, mostra a atração que o sistema financeiro brasileiro exerce sobre as instituições estrangeiras, mesmo com as oscilações da economia do País

Viagem & Turismo 38

O roteiro de Humberto Casagrande Jr. para quem quer conhecer o mundo e é apaixonado por vinhos

Cultura 42

Crédito

Museu da TAM revela uma parte importante da história da aviação comercial do País contada por 88 aeronaves

14 Economistas preveem que mercado vai continuar a crescer, embora em ritmo menos intenso que nos “anos dourados”

Fora do Expediente 46

Combate à Corrupção

A história do executivo do mercado financeiro que também faz sucesso com uma banda de rock progressivo

22 Especialista analisa a lei de combate à corrupção, que deve entrar em vigor ainda no primeiro trimestre deste ano

42

Negócios & Lazer 36 O Hilton Hotel revela a estratégia de privilegiar sempre o cliente para crescer em um setor cada vez mais competitivo

Artigos 19

Sergio Vale

29

Reinaldo Rabelo de Morais Filho

50

Alberto Borges Matias

61

Nicola Tingas

Mercado Exterior Inovação Análise e Perspectiva Palavra Final

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expediente

ISSN 1809-8843 Publicação da acrefi – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento Rua Libero Badaró, 425 – 28°andar – São Paulo – SP Tel: (11) 3107-7177 fax: (11) 3106-6082 – www.acrefi.org.br Presidente Érico Sodré Quirino Ferreira Vice-presidentes Aquiles Diniz, Carlos Alberto Samogin, Claudio Messias Ferro, Décio Carbonari de Almeida, Élcio Azevedo, Elias de Souza e Felicitas Renner Secretário Sérgio Cipovicci Tesoureiro Alexandre Teixeira Diretores regionais José Agnelo Seger, Leonardo Dadauto, Luiz Carlos do Nascimento, Paulo Dalla Nora, Paulo Henrique Pentagna Guimarães, Pedro da Costa Carvalho e Sebastião Cunha Diretores executivos João dos Santos Caritá Júnior e Rubens Bution Montadoras Edson Froes, Edson Ueda, Eduardo Varella, Felipe César Rodrigues Ferreira, Gunnar Murilo, Joelcyr Carmello e Nelson Aguiar Diretores conselheiros José Carlos Alves e Victor Loyola Conselho consultivo Alkindar de Toledo, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon (membros natos); Décio Carbonari de Almeida, Flávio Antonio Meneghetti, Ilídio Gonçalves dos Santos, Miguel José Ribeiro de Oliveira, Ricardo Loureiro e Rogério Pinto Coelho Amato (membros) Conselho fiscal Domingos Spina e Sérgio Darcy (efetivos), Geraldo Lima Wandalsen e Marcus André de Oliveira (suplentes) Diretor superintendente Antonio Augusto de Almeida Leite (Pancho) Controller Carlos Alberto Marcondes Machado Economista-chefe Nicola Tingas Auditoria Deloitte Touche Tohmatsu Assessoria contábil AG Silveira Contabilidade Assessoria de imprensa Tamer Comunicação Empresarial

Av. Brigadeiro Faria Lima, 1912, cj. 12b - Jardim Paulistano - São Paulo - SP Tel.: (55.11) 3031.2388 - CEP: 01451-000 – www.tamer.com.br

Publisher Sergio Tamer Redação Editores Theo Carnier e Gilberto de Almeida Editor assistente Gustavo Girotto Repórteres Geyse Alencar e Liliana Liberato Fotografia Regis Filho, Gabriel Kosman, João Gabriel Fava e Victor Jimenez Arte Eleonora Branco e Rafael Pascoal Revisor Vicente dos Anjos Impressão Eskenazi Gráfica

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editorial

Correção de rota 2014 começou com bons presságios para a economia

Dessa forma, ameaças que insistiam em nos incomo-

brasileira, depois das incertezas que predominaram no

dar parecem ter perdido a força. Uma delas, que tirava

ano passado. E as boas notícias vieram principalmente do

o sono de todos nós, era a possibilidade de redução do

lado fiscal, ou seja, justamente de onde o País mais neces-

rating do Brasil. Essa hipótese, ainda não totalmente afas-

sitava. Foi com alívio que assistimos, no final de 2013, a

tada, está bem mais distante diante das novas posturas

iniciativas do governo que indicam uma nova postura em

adotadas pelo governo. Assim, a incerteza ficou bem

relação a esse assunto, que tanta apreensão despertava

menor – e esse ponto é vital quando se trata de pensar o

nos agentes econômicos.

futuro de nossos negócios e da nossa economia.

Uma dessas iniciativas bem-vindas foi a flexibilidade

Claro que o cenário continua a inspirar cuidados.

adotada pelo governo em relação aos programas de con-

Vivemos sob a expectativa da mudança da política mone-

cessões, com a revisão de critérios para leiloar aeroportos,

tária dos Estados Unidos pelo Federal Reserve, que terá

rodovias e ferrovias. Felizmente, percebeu-se que as regras

impacto direto na economia brasileira, assim como no

anteriores inviabilizavam a participação das empresas

cenário global. Temos também as eleições em outubro,

nesses programas e adotou-se a postura de mudar para

com suas consequências para o andamento da economia

melhor, sem medo da oposição de grupos que consideram

durante este ano e também em 2015. No entanto, não há

“privatização” uma palavra maldita.

dúvida de que o ar está menos carregado e que o quadro

Outro passo positivo foi dado quando o governo se

é bem mais promissor.

opôs à mudança do indicador atrelado ao cálculo da

Há muito ainda a fazer, sem dúvida. Mas já temos

dívida de Estados e municípios com a União. O projeto

sinais de que alguns dos principais entraves ao cresci-

que alterava o indicador usado sobre o serviço da dívi-

mento estão sendo gerenciados da maneira apropriada.

da representaria uma redução no caixa do governo e

Continuando nessa direção, a confiança será retomada e

contrariava acordo entre o Palácio do Planalto e líderes

poderemos finalmente enxergar um futuro mais promis-

dos partidos aliados no Congresso, no sentido de que

sor para todos.

não seriam votados projetos que trouxessem novos prejuízos aos cofres públicos. São atitudes como essas que dão alento aos agentes Foto: Flávio Roberto Guarnieri

econômicos, ao dar demonstrações práticas de comprometimento do governo em relação à saúde de suas contas e ao diálogo com importantes setores da economia. O bom senso prevaleceu nesses casos e eles demonstram que podemos ter esperanças em relação aos rumos de nossa economia.

Érico Sodré Quirino Ferreira, Presidente da Acrefi

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nossasassociadas ACFI - Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S.A.

Banco Safra S.A.

Kredilig S/A Crédito, Financiamento e Investimento

Banco Santander Brasil S.A. Agiplan Financeira S.A. CFI Banco Semear S.A.

Lecca Crédito, Financiamento e Investimento S.A.

Banco A.J. Renner S.A. Banco Toyota do Brasil S.A. Banco Volkswagen S.A.

Mercantil do Brasil Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimentos

Banco Yamaha Motor do Brasil S.A.

Midway S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Banif Banco Internacional do Funchal (Brasil) S.A.

Múltipla CFI S/A

Banco Carrefour S.A. Banco Cifra S.A.

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Negresco S/A Crédito, Financiamento e Investimentos

Banco Citibank S.A.

BV Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

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Banco Bonsucesso S.A. Banco Bradesco Financiamentos S.A. Banco Cacique S.A.

Banco Citicard S.A. Banco Daycoval S.A. Banco De Lage Landen Financial Services Brasil S.A. Banco do Brasil S.A. Banco Ficsa S.A.

Caruana S.A. Sociedade de Crédito Financiamento e Investimento Cetelem Brasil S.A - Crédito, Financiamento e Investimento Cred Capixaba S/A Soc. Crédito, Financiamento e Investimento

Banco Fidis S.A. Credifibra S/A CFI

Pernambucanas Financiadora S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento Portocred S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento Portoseg S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Banco Gerador S.A. Banco GMAC S.A.

Dacasa Financeira S.A. - Socied. de Crédito, Financiamento e Investimento

Banco Honda S.A. Banco Intermedium S.A. Banco Itaú S.A.

Finamax S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento Financeira Alfa S.A. - Crédito, Financiamento e Investimentos

Banco Itaucard S.A. Financeira BRB

Santana S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento Sax S.A. Crédito, Financiamento e Investimento Socinal S.A. Crédito, Financiamento e Investimento Sorocred Crédito, Financiamento e Investimento S.A.

Banco Panamericano S.A. Herval Financeira S.A. CFI Banco PSA Finance Brasil S.A. Banco Rodobens S.A.

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HSBC Bank Brasil S.A. Banco Múltiplo

Sul Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento Todescredi S/A - Crédito, Financiamento e Investimento


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entrevistadomês

“A receptividade aos estrangeiros é muito boa” Deborah Vieitas, presidente da ABBI e do Banco Caixa Geral-Brasil, conta que o Brasil ainda é visto pelas instituições internacionais como um país que oferece excelente oportunidade de negócios para quem atua de olho no longo prazo Por Theo Carnier

O Brasil ainda está no radar das instituições financeiras estrangeiras, que enxergam no país uma excelente oportunidade de negócios para quem atua pensando no longo prazo. Mais do que uma opinião, essa é uma constatação de Deborah Vieitas, presidente da Associação Brasileira de Bancos Internacionais (ABBI), que, no comando da entidade, acompanha de perto a disputa de importantes players do mercado financeiro global por um lugar no promissor mercado brasileiro. Deborah cita números para consubstanciar sua visão: seis instituições estrangeiras, entre as quais o suíço UBS, foram autorizadas pelo Banco Central do Brasil de janeiro a julho de 2013 a atuar no Brasil, incluindo três bancos, uma empresa de leasing e escritórios de representação de uma corretora. São instituições de países, como Dinamarca, Noruega e Índia, que buscam ter negócios diretamente no Brasil em que pesem as incertezas onipresentes no nosso mercado. “No mesmo período de 2012 apenas duas instituições fizeram pedidos desse

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tipo”, compara a presidente da ABBI. “Passado o vendaval da crise de 2008, voltamos a ser cada vez mais atrativos para o investidor estrangeiro”. Em entrevista à Financeiro, Deborah Vieitas conta sobre o trabalho desenvolvido pela ABBI para ajudar a pavimentar o caminho desses interessados de outros países, em um setor que é crescentemente regulado e que exige um esforço de conhecimento e entendimento sobre as leis, normas e regulamentos que regem o mercado. Às voltas com todas essas variáveis à frente da entidade – cujo comando, como se não bastasse, ela acumula com a presidência do Banco Caixa Geral-Brasil, braço do grupo de origem portuguesa CGD no País – Deborah Vieitas fala, nesta entrevista, sobre custos de observância, exigências regulatórias e perspectivas cada vez mais positivas do mercado brasileiro como fonte de atração de investimento externo. A seguir, os principais trechos da entrevista de Deborah Vieitas à Financeiro:


Financeiro – Deborah, qual é o perfil dos associados da ABBI e como atua a associação?

Deborah Vieitas – A ABBI tem atualmente cerca de 100 associados, entre bancos, escritórios de representação, escritórios de advocacia e de auditoria, corretoras, empresas de leasing. São instituições financeiras e outras entidades que convivem com elas. Não são apenas bancos. O escopo foi se expandindo, de forma que a ABBI possa ser uma plataforma que conjuga os interesses dessas instituições que tenham o desafio de atuar no mercado brasileiro, sob a regulação das autoridades brasileiras, e ainda assim cumprir com as obrigações regulatórias nos seus países de origem.

Financeiro – E qual é o peso dessas instituições no sistema financeiro do Brasil? Deborah Vieitas – Os bancos estrangeiros representam aproximadamente 20% do total de ativos do sistema financeiro brasileiro. No passado, essa participação já foi até maior. Chegou a ser de mais de 35%, mas houve crescimento da participação dos bancos públicos e certa retração dos bancos estrangeiros, transitória, em função da força e do impacto da crise financeira mundial que se iniciou 2008, com a quebra do Lehman Brothers.

Financeiro – Qual é o perfil dessas instituições que fazem parte da associação? Deborah Vieitas – Temos duas grandes instituições de varejo: HSBC e Santander. A grande maioria, no entanto, está no segmento que o mercado chama de atacado. E a explicação para isso é simples: o mercado de varejo brasileiro requer uma escala, para ser competitivo, que, hoje, já é muito grande. Se lembrarmos do número de agências dos maiores bancos brasileiros – eles estão hoje entre 3 mil e 5 mil agências – fica claro o desafio de competir no Brasil no segmento de varejo pela escala que os maiores bancos têm. Não é de agora, mas há bastante tempo. Quando fui a uma conferência, no México, fiquei impressionada com o quanto a América Latina ainda está atrasada. Digo isso, em termos da importância que se atribui à representatividade e em sua crença que a mesma pode ser atingida. Isso será algo que

Deborah Vieitas: “Bancos estrangeiros representam cerca de 20% dos ativos financeiros do País” Fotos: Regis Filho

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entrevistadomês Financeiro – Em que estágio está

poderá deter a região em comparação ao restante do mundo.

esse programa?

Financeiro – Quais são os principais

Deborah Vieitas – O conjunto de medidas já foi anunciado. Para essas medidas, a ABBI foi solicitada a enviar um conjunto de contribuições, com sugestões para esse processo de racionalização, assim como outras entidades de classe. No primeiro semestre de 2013, o Banco Central lançou um conjunto de medidas.

desafios da ABBI com relação a seus associados?

Deborah Vieitas – Uma das maiores prioridades desta gestão da ABBI é a redução dos custos de observância, o que significa: como se pode cumprir todas as obrigações regulatórias, sejam as locais sejam das matrizes, e fazer isso dentro de uma estrutura de custos que permita a continuidade da atividade dessas instituições financeiras.

Financeiro – Esse é um grande desafio para o setor?

Deborah Vieitas – Essa preocupação é da ABBI, mas não é exclusivamente nossa. A própria autoridade regulatória, ou seja, o Banco Central, entende que há esforços que podem ser feitos no sentido de simplificar e reduzir as obrigações regulatórias atualmente em vigor. Tanto é assim que em fevereiro de 2013 o Banco Central, particularmente seu presidente, Alexandre Tombini, lançou um programa chamado “Otimiza Bacen”, que veio com o propósito de harmonizar as exigências regulatórias, fazendo um esforço em atender às solicitações das instituições, tanto de capital nacional quanto de capital estrangeiro, para racionalizar o cumprimento das obrigações.

Financeiro – Quais são os objetivos do “Otimiza Bacen”? Deborah Vieitas – Os objetivos são racionalização de processos e fluxo de informação e redução dos custos de observância e do custo operacional. Foram seis medidas iniciais: eliminação da obrigação de elaboração e remessa de IFTs trimestrais; redução de 40% dos códigos de classificação de operações de câmbio; redução de tarifas do Sistema de Transferência de Reservas (STR); modernização do sistema de transferências internacionais em reais; adoção de um novo regulamento para comunicação eletrônica de dados; e extinção do Manual de Normas e Instruções da CVM, que foi substituído por novos sistemas normativos.

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Financeiro – O Brasil mantém sua atratividade?

Deborah Vieitas – Sem dúvida. Mesmo em um ano em que o País vive um contexto atribulado, tivemos uma transação como a do China Construction Bank, que comprou participação de 72% do BicBanco por R$ 1,6 bilhão, um investimento significativo para uma instituição que tem um certo porte. E não podemos esquecer também o ABN Amro, que está de volta. No passado, bancos estrangeiros tinham restrições para entrar no Brasil e por isso entravam aqui principalmente adquirindo fatias em instituições brasileiras. Mas isso foi há 30 anos. Esse quadro mudou, a receptividade aos estrangeiros é muito boa, o Brasil beneficia-se de maior abertura aos investimentos estrangeiros. Financeiro – De que regiões vem o maior interesse pelo mercado financeiro brasileiro?

Deborah Vieitas – Principalmente da Europa e da Ásia. Financeiro – Não há desistência de instituições brasileiras em relação ao Brasil? Deborah Vieitas – Nosso mercado é muito dinâmico. Às vezes, algumas instituições optam por mudar presença. Às vezes algum banco muda para se tornar um escritório de representação, mas o movimento de chegada está consistente.


Financeiro – Mas, a nossa instabilidade não assusta? Deborah Vieitas – A ABBI coloca um conjunto de informações à disposição de qualquer investidor estrangeiro que queira estudar seu ingresso no mercado brasileiro. O que constatamos em 2013 é que o fluxo de estrangeiros interessados em se instalar no Brasil tem se mantido bastante consistente.

Financeiro – Mesmo em um período de incertezas em relação à economia brasileira?

Deborah Vieitas – Operar no mercado brasileiro não é uma decisão de curto prazo. O sucesso da implantação de instituições financeiras estrangeiras no Brasil reside numa perspectiva de longo prazo. Até porque todos passarão por um período de adaptação importante, o próprio mercado brasileiro tem evoluído muito em relação ao tipo de instituição que pode atuar no Brasil. Faço referência particularmente às circulares emitidas no início de outubro de 2013 pelo Banco Central em relação aos meios de pagamento e arranjos de pagamento, admitindo que há, hoje, agentes que atuam dentro do sistema financeiro que não são necessariamente instituições financeiras, mas devem ter um enquadramento regulatório mínimo para atuar no País. Financeiro – Em relação a certificações dos profissionais que atuam no setor, existem novidades? Deborah Vieitas – Um dos projetos da nossa gestão é estudar a possibilidade de implantar uma certificação a ser feita aqui no Brasil, para responsáveis da área de compliance. Ainda é um projeto em desenvolvimento, que procurará também trazer qualidade. Não é uma obrigação regulatória, mas entendemos que deva fazer parte de boas práticas bancárias, não só para instituições financeiras, mas também para qualquer empresa. A ABBI poderia, com a vasta experiência dos associados que atuam no exterior, montar um projeto nesse sentido. O projeto de certificação vai procurar incluir práticas não somente atendendo a legislação local, mas também atendendo às legislações de outros países. Nosso foco serão as instituições financeiras. O problema não está restrito a elas, mas as instituições financeiras serão o foco.

Financeiro – Quais são as outras frentes em que a ABBI planeja centrar sua atuação nos próximos anos?

Deborah Vieitas – Uma das metas é expandir nosso relacio-

namento por meio de associação com outros fóruns e associações com os quais compartilhamos alguns de nossos objetivos. Por exemplo, há sempre em discussão temas muito relevantes para o sistema financeiro, que afetam tanto instituições brasileiras quanto estrangeiras. É o caso da discussão sobre a regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, que trata do sistema financeiro. Existe um projeto de lei, do senador Francisco Dornelles, de 2007, que visa à autonomia do Banco Central, que teria poderes para controlar o que se chama de risco sistêmico. Esse projeto esteve intensamente em discussão, com o Poder Legislativo interessado que ele fosse a plenário. Havia discussão de que fosse a plenário em 2013, mas aparentemente não foi possível.

Financeiro – Há outros temas dessa importância em discussão? Deborah Vieitas – Existem, sim. Por exemplo, outro tema que está em discussão e tem implicações para bancos nacionais e particularmente os estrangeiros é a discussão sobre o marco civil da internet, a questão do processamento de dados, que pode ser feito dentro ou fora do Brasil. Trata-se da possibilidade de fazer isso dentro das questões de custo, e das práticas que temos que obedecer, práticas regulatórias de outros países. Nosso interesse é atender a todas as obrigações legais e também como reduzir custos operacionais. A ABBI tem interagido com outras entidades de classe para compartilhar esforços na discussão dessas e de outras questões, em assuntos que nos são específicos.

Financeiro – São temas bastante importantes, sem dúvida. Deborah Vieitas – E há ainda vários outros. É o caso de uma regulamentação europeia envolvendo derivativos, que as instituições de origem europeia têm que atender e que significa também atenção aqui no Brasil, no sentido de que as autoridades permitam também a adesão a essa nova regulamentação, que ainda está em discussão. O Banco Central tem que estar ciente, mas quem tem que aderir como contraparte central é a BM&FBovespa. Financeiro – Como é essa regulamentação da Europa? Deborah Vieitas – A European Securities and Market Authority implantou, no dia 15 de março de 2013, a “EMIR” (European Market Infrastructure Regulation, ou Regulação da Infraestrutura do Mercado Europeu). Ela padronizou e normalizou a liquidação de derivativos de balcão através de contrapartes

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centrais. A liquidação de operações fora do âmbito de contrapartes centrais requer uma alocação de capital muito maior e mais punitiva, daí a importância de a BM&FBovespa se registrar e se qualificar com autoridades europeias como contraparte central. A ABBI está se mobilizando sobre esse assunto.

Financeiro – Como é o preparo da ABBI para debater e informar sobre temas que requerem tanto conhecimento técnico? Deborah Vieitas – A ABBI tem um trabalho técnico de altíssima qualidade, desenvolvido por meio de mais de dez comitês que funcionam regularmente, e do qual participa qualquer associado que tenha interesse nos temas discutidos. Os comitês se reúnem mensalmente, têm sempre uma pauta interessante. Além disso, trazemos especialistas nesses assuntos técnicos para falar com os associados, numa forma também de permitir aos associados que se mantenham atualizados em relação a temas relevantes. E os próprios comitês técnicos fazem um trabalho de comentários e sugestões sobre diversas regulamentações que estão em discussão. É esse trabalho que permite à ABBI fundamentar seu posicionamento a cada vez que for solicitado.

Financeiro – De que maneira é feita a interação com as autoridades que trabalham com o setor?

Deborah Vieitas – Um dos principais pontos que valorizam a ABBI é a qualidade dos comitês técnicos. Esses comitês frequentemente interagem com autoridades de supervisão, entre elas o Banco Central do Brasil, Comissão de Valores Mobiliários. E promovemos regularmente almoços, reuniões que permitem aos associados ter interesse pelos temas, obter informações e até abrir um canal de diálogo participando dessas reuniões. Foi o caso de reunião que agendamos em novembro de 2013 com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, para falar sobre alternativas de financiamento para concessões.

Financeiro – Quantos comitês tem a ABBI? Deborah Vieitas – Os comitês são: Assuntos Tributários; Legal; Câmbio e Comércio Exterior; Contabilidade e Regulamentação; Recursos Humanos; Compliance; Tecnologia; Produtos e Serviços; e Escritórios de Representação. E há planos de termos também o comitê de Riscos e Controles Internos, que também terá bastante relevância.

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Financeiro – E os cursos? Deborah Vieitas – Essa é outra de nossas prioridades. Realizamos em 2013 cursos sobre câmbio e comércio exterior; derivativos; Basileia II e III; e operações bancárias. Em alguns casos foi até mais de um curso sobre o mesmo tema. Financeiro – Seu mandato à frente da ABBI vai até quando? Deborah Vieitas – Fomos eleitos para o período de junho de 2013 a junho de 2015. Estamos no começo, há muito ainda a amadurecer. Temos basicamente três eixos nesta gestão: redução dos custos de observância; relacionamento com stakeholders, ou seja, proximidade com associados, autoridades, outras entidades de classe; e divulgar a relevância das instituições financeiras estrangeiras para o sistema financeiro brasileiro, tanto no que tange à atração de recursos externos por investidores para o Brasil quanto no que se refere ao compartilhamento de práticas bancárias internacionais. f


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análisedemercado

A retomada do crédito Mesmo com os índices menos elevados dos últimos anos, todos preveem que o volume de dinheiro disponível no mercado vai crescer em 2014 e nos próximos anos, principalmente pela demanda das classes de renda mais baixa Por Theo Carnier

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Poucas vezes na história o volume de crédito deu tantos e tão sucessivos saltos quanto nos últimos dez anos no Brasil. De 2003 a 2013 o total cresceu nada menos que 500% no período, para mais de R$ 2,5 trilhões, e sua participação no PIB decolou de 24,7% para 55,2%. No crédito para pessoa física o salto chamou ainda mais a atenção: o crescimento superou 766% em dez anos, de R$ 82,5 bilhões para R$ 715,2 bilhões, levando em conta o final do primeiro semestre, de acordo com pesquisa da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Apesar desses números superlativos, no entanto, o mercado de crédito não está despertando entusiasmo em

seus participantes. Para a maioria deles, depois da euforia que prevaleceu principalmente no período 2009-2011, aconteceu uma redução no ritmo de crescimento que, segundo várias previsões, deve prosseguir, principalmente levando-se em conta as estimativas de aumento modesto do PIB nos próximos anos. Será que o cenário econômico justifica essa falta de entusiasmo? Ao que tudo indica, sim, mas nem tanto. É certo que os níveis de crescimento do crédito têm sido mais modestos do que em 2010 e 2011, mas existe ainda muito espaço para novas altas. Como lembra Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, o volume chegou a crescer acima de 30% e é natural que haja uma acomodação – que está longe, entretanto, de significar uma retração. Maciel alega que o crédito está crescendo acima do PIB nominal e continua sendo um elemento relevante da expansão da atividade econômica. De fato, mesmo com os índices menos elevados dos últimos anos, todos preveem que o volume de crédito vai crescer em 2014 e nos próximos anos, principalmente pela demanda das classes de renda mais baixa. E esse crescimento deve acontecer a taxas acima de dois dígitos. É o que mostra a estimativa da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), que projeta um crescimento de 15,4% no volume em 2014, nível bem próximo dos 16,2% de 2012 e acima dos 15% estimados para 2013 no final do ano passado. Com base nos dados e no panorama macroeconômico, pode-se ter a impressão de que estamos diante de mais uma “jabuticaba”, ou seja, de algo que “só acontece no Brasil”. Os que acreditam nessa imagem recordam que as previsões (todas) são de que teremos mais anos de crescimento tímido do País pela frente e que os juros não terão baixas expressivas, tendo em vista principalmente a inflação e o fim, ainda que gradual, do afrouxamento monetário dos Estados Unidos. Na outra ponta, entretanto, não se pode deixar de lado fatores que incentivam, sim, o aumento do volume de crédito. Pode-se lembrar, por exemplo, que o Brasil ainda tem enorme potencial de crescer no crédito. Mais de 50% do PIB é uma fatia inexpressiva até mesmo para os analistas mais céticos, que enxergam um potencial para a relação crédito/ PIB crescer até pelo menos 75% do PIB nos próximos cinco anos. O índice brasileiro é realmente modesto quando comparado a outros países. No vizinho Chile, para ficar na América do Sul, a fatia supera 86%, e nos países mais ricos a porcentagem é muito maior, como mostram China (130%), Suécia (140%) e Estados Unidos (200%).

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análisedemercado Inadimplência recua, prazo estica Espaço para crescer, portanto, não falta. A esse fator soma-se outro, bem animador: a queda da inadimplência, que vem prevalecendo nos últimos anos. Utilizando o período dos últimos dez anos como base, a inadimplência caiu bastante entre pessoas físicas, de 15,5% para 7,2%, e para empresas, de 4,7% para 3,5%. Os dados da ANEF (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras) reforçam essa tendência. Levantamento da entidade revelou que a queda na falta de pagamento de contratos de financiamentos acima de 90 dias no crédito direto ao consumidor (CDC) ficou clara no primeiro semestre de 2013 e continuou recuando nos meses seguintes, registrando 5,8% em agosto. Os atrasos até 90 dias também diminuíram, de 8,2% para 7,8% em agosto do ano passado. Na avaliação da ANEF, essa queda contínua do nível de inadimplência é o principal indicador para maior amplitude na liberação de crédito. Ou seja, como as curvas de inadimplência estão baixando, deve haver redução da rigidez nas avaliações de empréstimos. A queda geral da inadimplência no crédito ao consumidor, de acordo com os especialistas, devese também ao crescimento da carteira com menor risco, como crédito imobiliário e empréstimo consignado em folha de pagamento. Para melhorar essa realidade, os prazos médios de financiamentos têm crescido nos últimos dez anos: a elevação foi de 7,3 para 38,4 meses em média no período (9,8 para 47,9 meses para pessoas físicas e 5,7 para 30,1 meses para empresas). Para completar a série de dados que autorizam o otimismo aparece o movimento cadente das taxas de juros: o custo do dinheiro era de 56,7% ao ano em média em 2003 e passou para 26,5% em 2013. A taxa despencou 46,5% para os consumidores e 19,3% para empresas. Os otimistas recordam ainda que o crédito tem crescido com o aumento de renda e do emprego, o que lhe daria mais sustentabilidade. A alta dos últimos anos teve esses dois pilares, mas para os mais céticos é preciso lembrar que o emprego e a renda têm crescido em ritmo mais lento e assim deve se manter nos próximos anos.

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Mesmo que a renda tenha altas mais limitadas, no entanto, o crescimento do volume é considerado inevitável. O segmento de financiamento de veículos é uma mostra dessa perspectiva otimista. Levantamento realizado pela Cetip, que opera o maior banco de dados de créditos de veículos do País, mostra que em outubro do ano passado foram financiados 599 mil veículos no BraDana, da FGV: sil, um aumento de 12% em “É preciso tornar relação a setembro. A partio devedor mais cipação dos financiamentos consciente” na venda de veículos novos saltou de 62,6% em setembro para 67,2% em outubro. O levantamento mostrou que as concessões de crédito entre janeiro e outubro de 2013 atingiram R$ 141 bilhões, um aumento de 1% em comparação com o mesmo período do ano passado. Estão contempladas as modalidades de crédito direto ao consumidor (CDC), leasing e consórcio. Outro segmento que continua a crescer é o crédito imobiliário, que representava 1,45% do PIB no início de 2004 e saltou para 5,9% em 2012. Também nesse caso o potencial de crescimento continua a ser elevado, tanto pelo déficit habitacional quanto pelo peso relativamente pequeno dessa modalidade em comparação a outros países: nas nações mais ricas esse tipo de financiamento é responsável pela maior fatia do endividamento das famílias, enquanto no Brasil essa participação representa menos de 25% do estoque de crédito para as pessoas físicas.

De olho na qualidade do crédito Existem, no entanto, obstáculos que o mercado de crédito tem que enfrentar. Samy Dana, professor da Fundação Getúlio Vargas, embora concorde que existe “um enorme potencial” para crescimento do crédito, lembra um desses problemas: a qualidade dos empréstimos. Ele chama a atenção principalmente para o peso acentuado do endividamento dos consumidores em cheque especial e cartão de crédito, que têm algumas das taxas de juros mais altas do mercado. “Essa realidade preocupa principalmente quando verificamos que as classes de renda mais baixa e estudantes, que na maioria ainda não têm renda, estão entre os mais endividados


cado de crédito. No entanto, ele lembra que o Cadastro Positivo precisa ainda de muito tempo e de mais divulgação para dar os resultados esperados: “Esse instrumento ainda não chegou à grande maioria das pessoas. É preciso comunicar suas vantagens e o que é necessário fazer para aderir”. Outro ponto que preocupa o mercado é a crescente tendência de os consumidores tomarem empréstimos para pagar dívidas anteriores. Recente pesquisa realizada pelo Instituto Fractal de Análises de Mercado revelou que uma fatia de 55,8% dos consumidores com renda de até R$ 1.500 utilizaram empréstimo pessoal para quitar dívidas. “A renda das famílias se compromete na mesma velocidade das ofertas de crédito, por que esses empréstimos são dirigidos, em grande parte, às mesmas pessoas que já haviam tomado crédito, ampliando o grau de endividamento desse público”, lembra Celso Grisi, presidente do Instituto Fractal. O endividamento geral das famílias, segundo o Instituto Fractal, cresceu 47% entre janeiro de 2005 e janeiro de 2013. Os menos otimistas recordam também que os bancos públicos, maiores responsáveis pela expansão do crédito nos últimos anos, devem ser mais rigorosos nas concessões, por orientação dada pelo governo federal. E lembram também que os juros deverão subir este ano para que o governo busque, via Banco Central, uma contenção da inflação, o que pode levar a uma inibição dos potenciais tomadores de empréstimos.

Mais infraestrutura, sem risco de “bolha” Pesando os prós e contras, a maioria dos analistas prevê uma alta, ainda que modesta, do crédito este ano. Daniel Passos Miraglia, professor da Business School São Paulo, é um dos que defendem essa tese, mas ressalta: “O cenário de maior probabilidade é de um crescimento moderado, porém continuado, do crédito, que deverá no entanto ter uma mudança: estará mais voltado para os setores de infraestrutura e intensivos em capital, em detrimento do consumo”. Na visão do professor Daniel Miraglia, os bancos devem voltar-se cada vez mais para as suas carteiras de crédito como atividade principal, com a acirrada concorrência nos mercados de intermediação financeira e de corretagem: “As instituições financeiras devem inten-

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Foto: Divulgação

nessas modalidades”, alerta Dana. “A qualidade do crédito traz apreensão, como ficou comprovado também com a provisão para devedores duvidosos que vários bancos estão fazendo, em níveis elevados”. Samy Dana ressalta também a importância da educação financeira para tornar o mercado de crédito ainda mais saudável: “O Brasil é carente nessa área. Pode-se dizer que não existe educação financeira nas escolas, uma séria carência que não pode se manter. Existem iniciativas de entidades, bancos e financeiras, mas é preciso ampliar esse trabalho para tornar o devedor mais consciente – o que seria positivo para todos, inclusive para os credores”. Rodrigo Zeidan, professor da Fundação Dom Cabral, também acredita no crescimento do volume de crédito, embora esteja preocupado com a qualidade desses empréstimos. “O cenário é benéfico para que tenhamos mais crédito no País, embora a tendência seja de um crescimento menor em termos percentuais”, afirma. “A base de comparação já é atualmente bem mais elevada, o que deve levar a um percentual menor de crescimento neste e nos próximos anos. Mesmo assim, é muito provável que o volume continue em alta. O problema é a qualidade desses financiamentos”. Para o professor, existe “enorme demanda reprimida” por crédito, mas as linhas para o consumidor são, em média, caras e nem sempre com prazo mais longo: “Os empréstimos de prazo um pouco maior para as pessoas físicas só são encontrados em veículos. Para empresas, os prazos já são maiores, mas essa realidade ainda não chegou ao consumidor”. Além disso, Rodrigo Zeidan considera que é preciso dar vários passos para que essa situação mude: “É preciso, por exemplo, acabar com a insegurança jurídica que tanto preocupa o credor. Também é saudável que haja sempre concorrência entre os que oferecem empréstimos, entre outras várias mudanças, para que o crédito fique mais acessível”. Mesmo medidas que podem ajudar na melhora desse quadro ainda estão em estágio inicial, como o Cadastro Positivo. Zeidan considera que o cadastro de informações negativas é pouco prático e produtivo, e a Zeidan, da FDC: reversão para as infor“É importante acabar mações positivas trará com a insegurança benefícios para o merdo credor”


análisedemercado sificar os serviços que ajudem seus clientes a crescer de forma sustentável, melhorando assim os riscos destes na tomada de crédito, além de investir massivamente na expansão controlada por risco de suas carteiras”. Tendo em vista a visão de crescimento do crédito nesse ambiente, o mercado afasta o risco de uma “bolha” – hipótese levantada principalmente por publicações estrangeiras. Os especialistas brasileiros alegam, por exemplo, que não há como comparar a situação brasileira com a que precedeu a explosão da crise financeira nos Estados Unidos em 2008, entre outras razões

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por que por aqui as instituições financeiras são mais restritivas que as americanas na concessão de empréstimos. Além disso, as operações de crédito no Brasil não são alavancadas com endividamento, como aconteceu nos Estados Unidos. Também a regulação e a fiscalização do Banco Central são apontadas pelos especialistas como uma espécie de “escudo” contra um possível “bolha” de crédito. Nos Estados Unidos e em outros países ricos, o setor financeiro trabalhou por um bom período quase sem restrições, enquanto no Brasil o BC dá constantes mostras de que está atento aos movimentos do mercado, evitando que situações como alavancagem excessiva afetem de maneira negativa o mercado de crédito. f


artigoexterior

Artigo enviado em nov. de 2013

Cenário internacional em recuperação Depois da tempestade de 2008, não se pode dizer que veio a calmaria. O mar internacional segue revolto, ainda com riscos explícitos, especialmente na Europa. Mas não deixa de ser auspicioso perceber que 2013 foi um ano de resultados mais robustos e generalizados ao redor do mundo. Começando pelos Estados Unidos, apesar dos diversos gatilhos de crise que tivemos ao longo do ano, especialmenSergio Vale, te na percepção de mudança de polítieconomista-chefe ca monetária em junho e da crise fiscal da MB Associados em outubro, o país conseguiu entregar uma recuperação significativa. O PIB foi se acelerando a cada momento e encerrou o terceiro trimestre com alta de 2,8%. O déficit público voltou para patamares de 2008, pré-crise, dando sinais de que está sob controle. Ao mesmo tempo, e para ganhar competitividade, os Estados Unidos empreenderam a maior revolução energética das últimas décadas com as explorações do gás de xisto, trazendo o custo de energia para níveis historicamente baixos. O renascimento industrial americano surge no mesmo momento em que a China começa a apresentar aumento de custos. Por falar em China, aqui não devemos ver esse aumento de custos como algo preocupante. Faz parte do processo de desenvolvimento de um país que era eminentemente rural e que se torna cada vez mais urbano ter um crescimento da renda mais forte do que a média mundial. Foi assim em todos os países que apresentaram crescimento econômico acelerado, sem exceção. O resultado disso é que o custo unitário do trabalho na China hoje é maior que no México, o que aumenta o poder de comércio na América do Norte e não deixa de ser favorável para os Estados Unidos. É mais fácil negociar com o México do que com a China, afinal. Mais ainda, os chineses têm novos governantes que nos lembra Deng Xiaoping, o grande reformador dos anos 70. A boa notícia disso é que deveremos ver reformas liberalizantes no país asiático, o que pode significar um período adicional de crescimento que se estenderá provavelmente por toda a década.

É bom lembrar aqui que o saudável não será crescer mais 12% ao ano como no passado, mas sim crescer 7% ou 6% em bases menos arriscadas, ou seja, com menor participação de empresas estatais. Ainda na Ásia, 2013 foi o ano do renascimento japonês. O abenomics, termo criado para simbolizar a liderança da recuperação econômica nas mãos do primeiro ministro Shinzo Abe, dá sinais de que está funcionando. O yen voltou a se depreciar, dando esperança para recuperação das exportações. A criação de moeda via quantitative easing também tem estimulado a economia, especialmente sinalizando uma saída da deflação de duas décadas. A Europa é o pedaço do mundo desenvolvido que ainda inspira cuidados. A melhora que se viu nos indicadores de atividade este ano, com recuperação mais importante em países como Espanha, foi fruto, de certa forma, de uma percepção de que o risco de quebra do euro diminuiu. E isso é essencial para os investidores. Mas, infelizmente, a diminuição do risco não é total. Em vários países, especialmente do sul europeu, ainda permanece um cenário de crescimento do endividamento público e elevado desemprego. A Grécia segue tendo taxa de desemprego de 27% há muito tempo. Os riscos políticos de permanência nessa situação são grandes e a divergência de desenvolvimento, que continua aumentando entre Alemanha e o resto da Europa, só vai piorando a visão desses países em relação a seus irmãos germânicos. Dado que a Alemanha deverá continuar sendo altamente produtiva, essa divergência dificilmente diminuirá e as diferenças políticas só devem aumentar. No final, isso dificulta em muito a chance de uma união fiscal e política que é a única solução concreta e final para a Europa. O paradoxo desse momento de tranquilidade é que isso atrasa ainda mais a discussão dessa união política e vai aumentando as rixas internas. Ainda cremos que o pior para a Europa não passou, mas não parece estar na esquina o momento da verdade. Por fim, a América Latina segue bem nos países que têm feito reformas, como Chile, Peru, Colômbia e México. O resto, que segue no caminho contrário, tem esbarrado em crises contínuas, como Argentina e Venezuela. O Brasil, por tradição, não está em nenhum barco, mas isso é tema para outro artigo. f

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notas Indicadores

Empréstimos

Crédito cresce mais rápido que o PIB há dez anos O Brasil vai completar em 2014 um período de dez anos de crescimento de crédito mais rápido que a elevação do PIB, de acordo com previsão do presidente da Febraban, Murilo Portugal. Ele afirmou à imprensa no final do ano passado também que, com base nas estimativas feitas em outubro de 2013, o crédito deverá crescer 14,6%, levando em conta todas as linhas de crédito. O crescimento em recursos livres este ano deverá ser de 12,1% e no direcionado haver elevação de 18,2%. Para pessoas físicas, é aguardado um avanço de 11,5% e para jurídicas, uma alta de 13,4% em 2014.

35,8%

dos veículos vendidos no País foram financiados, de acordo com levantamento de outubro da Cetip

Mercado

Inadimplência continua a recuar A inadimplência caiu 5% em outubro, no mercado de crédito no segmento de recursos livres, de acordo com o Banco Central. Levando em conta os recursos totais também foi registrado recuo, de 3,2%. O levantamento do BC mostrou também que o sistema financeiro concedeu em outubro 4,7% a mais em novos empréstimos, na variação. A elevação foi puxada por empréstimos a famílias, com volume de R$ 156 bilhões, ou 5,7% a mais que o total de setembro. Para empresas, o volume cresceu 3,8%, também para R$ 156 bilhões. Sob o ponto de vista do tipo de recurso usado pelas instituições para dar o crédito, a expansão das concessões foi puxada por recursos de aplicação obrigatória, o crédito direcionado. O fluxo dessas linhas subiu 5,3%, enquanto as concessões com recursos livres aumentaram 4,6%.

5,5%

deve ser a elevação dos preços de veículos este ano com o fim da redução do IPI, estima a Anfavea

3%

é o crescimento real das vendas previsto para o varejo em 2014, segundo a Fecomércio de São Paulo

1%

foi o crescimento registrado pela Confederação Nacional da Indústria no índice de expectativa do consumidor em novembro

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Endividamento

Mais dívidas, com menos atrasos A parcela de famílias endividadas cresceu em novembro, mas em contrapartida a inadimplência recuou, segundo pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). De acordo com o levantamento, 63,2% dos entrevistados se disseram endividados em novembro, em comparação aos 62,1% registrados em outubro e aos 59% de novembro de 2012. Apesar desse crescimento, a pesquisa da CNC mostrou que 6,6% declararam que não têm condições de pagar seus débitos, abai-

xo do índice registrado em outubro (7,3%). O percentual dos que admitiram estar com dívidas em atraso manteve-se praticamente no mesmo nível, com 21,2% em novembro em comparação a 21,6% em outubro e a 21% há 12 meses. O cartão de crédito foi mais uma vez, em novembro, a modalidade mais citada pelos endividados, sendo lembrado por 74,8% dos que se declararam com débitos, seguido por carnês (18,3% dos entrevistados) e financiamento de carro (12,6%).


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fraudeemdebate

Um passo à frente da fraude... Por Gustavo Girotto “Um passo à frente e você não estará no mesmo lugar.” Essa frase, proferida pelo músico Chico Science, parece óbvia, mas em termos de prevenção é atual. O problema da fraude no Brasil é um transtorno que traz prejuízos aos mais diversos setores da economia. Antecipar-se representa uma resposta proativa, mais do que isso, impacta em economia direta no sistema. Para materializar de forma lúdica esses preceitos, a Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) convidou para o evento Fraude em Debate, dia 22 de novembro, na sede da entidade, em São Paulo, além de especialistas no assunto, também a ilusionista Claudia Guedes, que provocou o público com a pergunta: “É possível prevenir uma fraude?” Para ela, a resposta é rasteira. “Uma base forte que ajuda antever algo, como na minha área de trabalho, inibe uma possível ação indesejada. A atenção é parte indissociável nesse processo”, frisou a ilusionista que, entre truques e palavras, entreteve o público. Marcelo Zechin, diretor da Deloitte Touche Tohmatsu, frisa que em primeiro plano a fraude parece algo simples, mas dispõe de inúmeras facetas ou variáveis. “Ela precisa ser interceptada de maneira preventiva, até por que, quando já ocorreu, o que resta é somente contar os mortos”, afirmou. Uma pesquisa exposta pelo especialista aponta que a perda com fraudes representa 5% das receitas de todas as empresas do mundo e que a maioria das grandes organizações ainda não está preparada para administrar os fatores de risco. “Um dos pilares da fraude é a oportunidade e, quando aliada à necessidade, provoca

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danos estruturais nas organizações. Grande parte delas ou dos desvios de conduta são identificados por meio de denúncias”, ressaltou Zechin, exemplificando que “a eficácia do canal de denúncias pode ser mensurado pelo número dos casos de investigação”. O estudo “The 2012 Corporate and Compliance Hotline Benchmarking Report”, usado como balizador por Zechin, aponta que, das 130.000 denúncias recebidas pelas 1.128 empresas pesquisadas: 67% resultaram em investigação, que culminou com a adoção de medidas disciplinares de melhoria de controles pela empresa em função da comprovação dos fatos denunciados; 16% não geraram investigação alguma, embora a experiência desse universo pesquisado mostrou que a investigação não ocorreu devido ao fornecimento insuficiente de informação. O mesmo estudo apurou que empresas que possuem um canal de denúncias adequadamente estruturado tem perdas médias decorrentes de fraude 59% inferiores àquelas que não disponibilizam canal de denúncias implantado, além de duração média de fraude sete vezes inferior em relação a empresas que não possuíam o canal instalado. “O melhor enfoque para identificar uma fraude é entender quais fatores de risco possibilitam sua ocorrência”, sugeriu Zechin.

Ilusionista Claudia Guedes: Instantes lúdicos em evento da Acrefi


Foto: Gabriel Kosman

Para o especialista, a recém-sancionada Lei n.º 12.846, já alcunhada como Lei da Empresa Limpa ou Lei Anticorrupção – que pune empresas por suborno – e que é similar à Lei Americana Anticorrupção – Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), promulgada pelo Congresso dos Estados Unidos em 1977, destinada a criar sanções cíveis, administrativas e penais no combate à corrupção comercial internacional, ajudará nesse combate no Brasil. Outro ponto de atenção, usado como case por Zechin, é o boleto de pagamento falso trocado por empresas de malote. “Essa prática gera grandes prejuízos, uma vez que o cliente efetuou o pagamento enviado pela empresa, mas foi fraudado no processo de envio. Essa é uma das modalidades que detectamos”, enfatizou. Márcio Luzardo Webber, diretor de Novos Negócios da Sascar, projetou que a frota atual está estimada em 45 milhões de automóveis e caminhões, segundo dados da Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no País. “Estimativas apontam que o mercado deve crescer em média 14% ao ano no período de 2013 a 2017, o que reforça o amplo potencial de crescimento dos nossos negócios”, analisa. Com 14 anos de atuação e pioneirismo no mercado nacional, a Sascar é especialista em oferecer soluções inovadoras para gestão de operações de transportes, permitindo que as empresas preparem-se para enfrentar desafios associados à gestão e ao aumento da produtividade, acompanhando o consumo de combustível, velocidade, rotas e trajetos com ferramentas para reduzir custos, aumentar produtividade e lucro. “Essa tecnologia pode ser empregada no controle adequado do uso das frotas corporativas e, de forma direta, inibe a má utilização em horário fora do previsto pela empresa”, alertou Webber. Atualmente a empresa conta com mais de 230 mil veículos ativos e rastreados, 300 milhões de receita em 2013, 850 funcionários mais 400 técnicos, além de solução por satélite, GSM e Rádio. “A empresa registra 400 ocorrências mensais de roubo e furto e, através de sua inteligência, auxilia empresa na recuperação de cargas. Uma nova solução intitulada Cargo TRACCK ajuda diretamente na identificação de cargas roubadas e, dessa forma, previne prejuízos para empresas”, demonstrou Webber. Uma forma de mitigar problemas em veículos financiados, segundo ele, é a instalação de um equipamento prático desenvolvido por sua empresa. “O benefício para bancos e financeiras é a localização e recuperação do ativo, além de ajudar na elevação de aprovações de crédito e no aumento do valor percebido pelos clientes, uma vez que essa tecnologia impacta em segurança”, alertou Webber. Tiago Zequi de Oliveira, diretor da CETIP, destacou que a quebra de paradigmas e o aumento da eficiência

Zechin, diretor da Deloitte Touche Tohmatsu

Webber, diretor de Novos Negócios da Sascar

elevam a produtividade dos mais diversos setores que compõem a economia interna. “Se pensarmos 15 anos atrás, os bancos e financeiras tinham dificuldade de identificar uma perda ou fraude. Com o aprimoramento dos processos, esse cenário mudou. Temos uma importante ferramenta destinada para prevenção de fraudes com ganho em eficiência no processo de validação de um financiamento”, declarou. Com 15 anos de experiência no mercado de financiamento de veículos, a CETIP dispõe de produtos e serviços que aceleram com segurança a liberação de um financiamento. “O consumidor ganha por que o acesso ao carro novo fica mais fácil e seguro”, ressaltou Oliveira, indagando: “Como evitar que um carro seja financiado ao mesmo tempo para mais de um cliente?”. A resposta está na utilização da consulta a um sistema de negativação de veículos financiados, o SNG - Sistema Nacional de Gravames – que propicia às entidades credoras, empresas de leasing, financeiras, bancos e demais companhias que operam nesse mercado — mais segurança, agilidade e praticidade na hora de efetuar um financiamento. Por fim, Oliveira frisa que o pioneirismo de ideias e o desenvolvimento tecnológico são aliados do mercado financeiro nessa busca por eficiência das operações. “Isso faz com que estejamos um passo à frente dos possíveis fraudadores, que causam diariamente prejuízo ao sistema”, finalizou. f

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semináriobasileiaIII

Mais estabilidade e crescimento sustentável Acrefi reúne especialistas para discutir as novas regras que normatizarão o mercado financeiro Por Gustavo Girotto

Muitas pessoas, ao ouvir falar em Basileia, em um primeiro momento, lembram-se da terceira maior cidade da Suíça. Estão corretas, mas para o mercado financeiro é muito mais do que isso: além de ser a sede do Banco de Compensações Internacionais, entidade conhecida como o “Banco Central dos Bancos Centrais”, Basileia tornou-se, para o setor, sinônimo das novas regras estabelecidas para aperfeiçoar a capacidade das instituições financeiras de absorver choques, fortalecendo a estabilidade e a promoção do crescimento econômico sustentável. Mesmo para o mercado, no entanto, Basileia ainda é algo de difícil compreensão. Para facilitar o entendimento em relação a esse assunto e também devido ao sucesso dos dois eventos realizados sobre o mesmo tema, em janeiro e outubro do ano passado, a Associação Nacional das

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Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) voltou a reunir, no último dia 21 de novembro, em sua sede, em São Paulo, as duas pontas diretamente relacionadas à questão: mitigação de risco de crédito e Basileia III. De acordo com Fábio Zenaro, diretor da Cetip, que falou durante o encontro, duas estruturas oferecidas por sua empresa visam mitigar o risco de crédito, uma vez que os prazos estão cada vez maiores. Uma delas, exposta por ele, é o DRRC (Derivativo Redutor de Risco de Crédito) – operação única, de caráter individual, com contrato bilateral ou unilateral, estabelecido pelas partes da operação ou terceirizado para um agente de cálculo. Segundo o executivo, o DRRC elimina eventuais riscos de liquidez, até porque, ao contrário de uma operação tradicional de garantia, o dinheiro é transferido de forma definitiva e imediata ao credor no momento em que a exposição ultrapassa um determinado limite. A outra estrutura da Cetip, que visa mitigar o risco de crédito, foi batizada como Gestão de Colateral – que pode ser útil quando o objetivo é gerir um portfólio de derivativos. “A Gestão de Colateral, para portfó-

Fagundes, da Integral Trust: “Basileia corrobora com o aumento da segurança das instituições”


Fotos: Gabriel Kosman

lio, engloba um nível de exposição a riscos e rol de proteção a serem garantidos pelas partes”, enfatizou. Outro tema do seminário da Acrefi foi o aperfeiçoamento da capacidade das instituições financeiras de absorver choques e ainda fortalecer a estabilidade, tendo como olhar a implantação da Basileia III no Brasil. Ao tratar do assunto no encontro, a Integral Trust − empresa que dispõe de US$ 7 bilhões sob sua gestão, mais de 46 operações estruturadas, além de 15 planos de negócios e 50 clientes – entrou em cena com dados e know-how. “Um ponto importante, que devemos compreender, é que Basileia (I, II e III) é uma evolução complementar de normas. Nenhuma substitui a outra. Na verdade, cada uma traz consigo um aspecto de aprimoramento contínuo”, ressaltou Lucas Mahl, especialista convidado e risk management da Integral ao falar durante o seminário. As regras de Basileia III, em linguagem simples, refletem lições tiradas da crise econômica internacional que eclodiu em 2008. Ela objetiva garantir, segundo Mahl, que as instituições financeiras tenham recursos reservados para absorver choques em momento de crise. As economias integrantes do G20 assumiram o compromisso de implementar essas recomendações. Entre as informações que os bancos terão que divulgar, de acordo com essas regras, estão as reservas de lucro, os instrumentos de dívidas subordinadas (usadas para reforçar o capital dos bancos) e deduções, como de ágios e créditos tributários. “São características resultantes da crise 2008/2009, tendo como agente fundamental a maior absorção de choques de estresse dos diversos níveis e tipos de risco. A crise expôs a necessidade de as instituições criarem um colchão de absorção desse tipo de impacto”, declarou Mahl. Outros dois pontos de observação com relação a Basileia III, expostos pelo especialista, são os índices de curto e longo prazos. “O primeiro visa manter instituições financeiras com recursos disponíveis em cenários de crise durante 30 dias. Já no longo prazo, incentiva as instituições a buscarem por fontes estáveis de captação”, ilustrou.

Por fim, o sócio da Integral Trust, Carlos Fagundes, destacou que a implementação da norma ocorrerá de forma progressiva pelas instituições dentro dos critérios estabelecidos por Basileia III. “A atual situação econômica do Brasil demanda aumento de investimento (infraestrutura e produção), maior oferta de crédito, elevação de prazos e queda nos spreads. A Basileia III, dentro desse cenário, corrobora com aumento de segurança e o fortalecimento das instituições, em períodos de crise financeira”. f

Lucas Mahl, especialista em risco: “Instituições criaram colchões para absorção de impactos financeiros”

Cronologia dos acordos de Basileia 1988 – Acordo de Basileia publicado 1994 – Basileia – Resolução 2.099 1998 – Controles internos (Resolução 2.554) 1999 − Regulação de risco de juros (Circ. 2.972) 2000 − Risco de liquidez – Resolução 2.804 2005/10 − Implantação gradual de Basileia II 2011/13 – Complementação implementação de Basileia II 2012/18 – Implementação gradual de Basileia III

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roadshowacrefi

DPGE2 e serviços da CIP atraem a atenção do setor de crédito

Belfort Mattos, do FGC: “DPGE2 protege os depositantes e os investidores”

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O DPGE (Depósito a Prazo com Garantia Especial) vem conquistando cada vez mais espaço no mercado financeiro. Essa foi uma das constatações que se pode tirar da apresentação feita pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), durante a última edição do Road Show Acrefi 2013, dia 8 de dezembro, em São Paulo. Criados em abril de 2009 para socorrer as instituições financeiras menores, diante de eventual crise de liquidez do mercado, os DPGEs (títulos de renda fixa representativos de depósitos a prazo) voltaram a ganhar evidência desde julho de 2012, quando o Conselho Monetário Nacional instituiu uma nova versão do título, chamado genericamente pelo mercado de DPGE 2, que exige que os bancos emissores entreguem ao FGC seus ativos de crédito como garantia, estimulando a substituição dos antigos papéis, só que com a vantagem de oferecer menor custo e mais segurança. “A finalidade do DPGE 2 é proteger os depositantes e os investidores, além de contribuir para a manutenção das instituições financeiras”, disse Waldemar Belfort Mattos, gerente de análise de crédito do FGC. Segundo levantamento do FGC, até maio de 2013, a substituição dos antigos DPGEs pelos DPGE2 foi da ordem 40%. Em 2014, a soma das operações (DPGE e DPGE2) deve ser de aproximadamente R$ 60 bilhões. No entanto, para emissão do novo título, o FGC tem exigido que os empréstimos sejam parcelados em até 36 meses. Além disso, os contratos precisam prever amortização do principal antes do vencimento. O fundo também avalia o risco das empresas tomadoras de emprésti-

Foto: Gabriel Kosman

Novos instrumentos trazem mais segurança e tranquilidade às instituições financeiras


mo por meio de critérios estabelecidos pelo Banco Central, atribuindo notas às operações. Já para o comprador, não existe diferença entre o papel garantido por crédito consignado ou por operações para empresas. “Essa mudança é um aprendizado, tanto para nós como para as instituições financeiras”, lembra Belfort Mattos. “Esse aprendizado, porém, não nos impede o aperfeiçoamento diário do processo, observando o fluxo, monitorando a carteira das instituições e acompanhando a performance do mercado”, concluiu o executivo. O último Road Show Acrefi de 2013 também abriu espaço para a divulgação dos produtos oferecidos pela CIP (Câmara Interbancária de Pagamentos), empresa mantida por 41 bancos associados, que fornece serviços voltados para compensação, liquidação de pagamentos e controle de concessões de crédito. Dentro desse universo de benefícios, Guilherme Américo Menezes, analista de produtos da CIP, concentrou atenção nos diferenciais da C3 (Câmara de Cessões de Crédito) que permite às instituições financeiras e aos fundos de investimento, desde 2011, registrar as operações de cessões de crédito, afiançando que um contrato de crédito, que já tenha sido cedido ou oferecido como garantia, não seja negociado ou oferecido novamente como lastro em outra operação. Hoje, a C3 grava dados sobre direitos creditórios originados de financiamentos de veículos e de créditos consignados em folha de pagamento. No caso das transações de automóveis, a CIP mantém ainda parceria com a Cetip – central de registro de custódia e negociação de ativos – para assegurar que as informações relacionadas às cessões de crédito para financiamentos de veículos conferem com os dados armazenados no C3. Além disso, segundo Guilherme Menezes, a CIP está desenvolvendo novos controles voltados para crédito pessoal e financiamento de outros bens.

Principais funcionalidades da C3 Registro de contratos pelo originador; Exclusão e aditamento de contratos pelo originador; Reserva de contratos / parcelas; Confirmação de cessões; Liquidação financeira de cessão via conta de liquidação da C3; Recompra parcial e total; Liquidação antecipada parcial e total; Bloqueio e desbloqueio de contratos.

Menezes, da CIP: Atento ao lastro das operações de crédito

Mas a CIP investe ainda no STD (Serviço de Transporte de Dados), um sistema que permite compartilhar dados entre gestores de banco de dados (GBDs) e as instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central de forma a simplificar o processo de troca de informações para a formação de históricos de crédito, garantindo maior segurança aos usuários. Além disso, o serviço, desde 1º de agosto de 2013, passou a gerar histórico de crédito dos consumidores inscritos no Cadastro Positivo. “A nossa função é organizar esse espaguete de links (dados) para que o mercado possa visualizar as informações de maneira clara e segura”, explica Eliane Tanabe, analista de produtos da CIP. “Sem deixar de lembrar que os dados são monitorados e atualizados diariamente – durante 15 horas, de segunda a domingo”, reforça a executiva. Para 2014, a Câmara Interbancária de Pagamentos prepara novidades. Uma delas é que o STD será implantado para o setor de consórcios até o mês de junho. Ainda no campo dos projetos em andamento, a CIP foi procurada pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo para que o controle de consignado seja ampliado também para atualização de dados relacionados ao plano de saúde e serviço de farmácia oferecidos aos funcionários públicos estaduais. O último Road Show Acrefi de 2013 contou também com as presenças de Carlos Fagundes, da Integral-Trust; Paulo César Andrade, da Cetip, Pierpaolo Cruz Bottini, professor de Direito Penal da USP e sócio do escritório Bottini&Tamasauskas, e Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, que abordaram temas que estão sendo explorados nesta edição da Financeiro. f

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leianticorrupção

A nova legislação veio em boa hora Bottini, ex-secretário de Reforma do Judiciário, fala sobre punições às empresas envolvidas em negócios ilícitos O Brasil conta com uma nova lei de combate à corrupção, que prevê punições também às empresas. A novidade, já aprovada e sancionada, deve entrar em vigor no início de 2014 e foi detalhada por Pierpaolo Bottini, especialista no assunto, que foi secretário de Reforma do Judiciário, em palestra realizada no dia 4 de novembro, na sede da Acrefi. “A nova legislação veio em boa hora”, garante Bottini. “Anteriormente a lei punia apenas pessoas físicas envolvidas em corrupção e era preciso mudá-la, já que pelo texto anterior o principal beneficiado pela transgressão ficava impune. O Brasil necessitava desse aperfeiçoamento para aprimorar o combate a essas práticas, como o País se comprometeu com a ONU (Organização das Nações Unidas) e com a OEA (Organização dos Estados Americanos)”. As punições às empresas, estabelecidas pela nova legislação, são rigorosas, segundo Pierpaolo Bottini. Uma delas é multa entre 0,2% e 20% do faturamento bruto da empresa, mas há outras como dissolução da companhia e perda de bens. A nova lei pune a corrupção em si, ou seja, as companhias que fazem oferta de vantagens indevidas a servidores públicos como parte de sua estratégia de crescimento, mas vai além ao combater pontos importantes, como: financiamento de atos de corrupção; uso de empresa para dissimular os verdadeiros beneficiados pelo ilícito; fraude em licitação; e também as empresas que dificultam a investigação do ato contrário à lei. Além disso, recordou Pierpaolo Bottini, a nova legislação é mais abrangente, ampliando as punições pela autoria dos ilícitos. Como exemplo, ele disse que uma empresa que contrata terceiro para conseguir licença ambiental está sujeita a ser punida: “Se esse terceiro paga propina, a pessoa jurídica que o contratou passa também a ser responsabilizada, pois se beneficia do ato ilícito. Não importa se houve dolo ou culpa.”.

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O especialista informou também que a empresa pode ser processada pela autoridade administrativa, que aplica a multa, por exemplo, e pela Justiça. Pelo texto da legislação, a autoridade administrativa deve ser a autoridade máxima da unidade da federação, ou seja, pode ser União, Estado ou município – ponto que preocupa Pierpaolo Bottini: “O texto dá poder discricionário sem estabelecer claramente os critérios, o que pode trazer problemas. Nada contra as autoridades que terão essa responsabilidade, mas é fato que poder demais pode causar problemas demais”. Apesar dessa preocupação, o especialista considera que o novo texto dá abertura para investigações, possibilitando, por exemplo, que se utilize a delação premiada (quando um dos suspeitos dá informações sobre a organização criminosa, recebendo em troca abrandamento da pena). Ele ressalta, no entanto, que esses acordos de leniência não beneficiam pessoas físicas, ao contrário do que acontece na legislação concorrencial. Como uma das vantagens da nova lei, Pierpaolo Bottini aponta a previsão de atenuação Bottini: da sanção para empresa que demonstrar a “Lei levará o Brasil a um existência de controles internos, códigos de patamar superior” ética e outros mecanismos para evitar atos de improbidade, auditorias regulares e mecanismos de incentivos a denúncias. Nesse caso, na avaliação dele, o ponto positivo é o estímulo a políticas de compliance, ou seja, de atividades internas que incentivem ou favoreçam o cumprimento de normas e regulamentos. “As empresas serão incentivadas, também com essa lei, a estruturar departamentos de compliance autônomos, que terão a responsabilidade de identificar o marco legal e indicar condutas para que o risco de infringir a lei seja reduzido”, afirmou. Tendo em vista essas vantagens, Pierpaolo Bottini considera positiva a nova legislação: “Pelo novo texto, a pessoa jurídica deve não só comunicar atos suspeitos, mas também investigá-los. Com isso, o Brasil deve entrar em um novo patamar nessa área, o que é benéfico para o País sob todos os pontos de vista”. f


artigoinovação

Transparência e tecnologia

Artigo enviado em 02/12/2013

Reinaldo Rabelo de Morais Filho, Diretor Executivo Jurídico e de Normas da Unidade de Financiamentos da Cetip

Em maio de 2012, o Conselho Monetário Nacional fez publicar a Resolução nº 4.088, que dispõe sobre o lançamento, pelas instituições financeiras, em sistema autorizado pelo Banco Central, de informações sobre operações de crédito com garantias constituídas sobre veículos automotores ou imóveis em alienação fiduciária ou arrendamento mercantil. Foram também publicadas, pelo BC, a Circular nº 3.616 e a Carta Circular nº 3.596, que definem prazos, formas e dados que devem ser encaminhados à instituição sobre operações que envolvam veículos automotores. Esses dados permitem que os órgãos reguladores possam acompanhar a evolução das carteiras de financiamento, a existência de garantias para suportá-las e, até, o valor atual das garantias face ao volume de crédito concedido, entre outras informações fundamentais para manter higidez do Sistema Financeiro Nacional. Atualmente, o valor da carteira de financiamento de veículos para pessoas físicas é de R$ 230 bilhões, segundo o Banco Central. Com isso, além de trazer mais transparência para as etapas de originação do crédito, essas informações poderão servir à negociação das carteiras de financiamento no mercado secundário, no cumprimento da Resolução nº 3.998 do Banco Central, e a operações com emissão de debêntures que possuam veículos automotores como garantias de suas operações. A atualização normativa e a tecnologia aplicada às etapas de análise, formalização, custódia e cobrança de transações financeiras têm sido fundamentais para o crescimento da oferta de crédito com segurança e redução de taxas de juros. Há mais de uma década, as instituições credoras mantêm plataforma com registro de restrições geradas por contratos com cláusulas de alienação fiduciária, reserva de domínio, arrendamento mercantil ou penhor, e que são disponibilizadas para consulta de diversos reguladores, em especial, aqueles que compõem o Sistema Nacional de Trânsito. De acordo com a Resolução nº 320, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), cabe aos órgãos estaduais de trânsito o registro dos dados dos con-

tratos mencionados acima e a anotação nos respectivos certificados de veículos dos gravames, sendo que essas informações podem ser enviadas pelas instituições credoras de forma eletrônica, sob responsabilidade e por sistema de escolha destas. Com o acesso a tais informações, desde o instante em que uma instituição libera o crédito para aquisição de um veículo, os órgãos de trânsito podem proteger os consumidores de boa-fé – que, em outro caso, poderiam adquirir um veículo onerado –, excluem a responsabilidade do Estado por fraudes nas operações e contribuem para um processo ágil, barato e seguro para a sociedade. Desde a implantação desse processo, as taxas de juros médias ao mês caíram de 5,0% para 1,5% em dez anos, enquanto o volume de operações oferecidas aos consumidores subiu de cerca de 100 mil para aproximadamente 600 mil operações por mês, permitindo acesso a crédito por cidadãos de menor patrimônio, aquecimento da economia, maior arrecadação para Estados (ICMS/IPVA) e fortalecimento do setor automotivo – que é, reconhecidamente, grande fonte de empregos. Na mesma linha, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), que é composto por diversos órgãos reguladores, entre os quais o Ministério da Justiça, a Receita Federal, a Comissão de Valores Mobiliários e o Banco Central, tem buscado aperfeiçoar o sistema de informações para capturar dados que possam representar operações consideradas suspeitas, podendo, para tanto, vir a se aproveitar daquelas bases já instaladas. O aperfeiçoamento normativo tecnológico, assim, não vem apenas consolidar a riqueza do mercado e de seus participantes privados, mas também, e mais importante, pode permitir que os agentes fiscalizadores direcionem melhor seus esforços, punam com mais facilidade os transgressores e busquem, com maior assertividade, a construção de um ambiente justo para se fazer negócio no Brasil, independentemente da força política ou financeira das partes que contratam. f

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panoramacetip

Raio-X dos financiamentos de veículos Soluções da Cetip revelam os números que movimentaram o setor até o 3º trimestre de 2013 Sempre atenta às informações que movimentam o mercado de veículos, a Unidade de Financiamento da Cetip apresentou durante o Panorama Cetip, dia 12 de dezembro, na sede da Acrefi (Associação Nacional de Crédito, Financiamento e Investimento), os dados do setor acumulados até o 3º trimestre de 2013. Os números foram apresentados no evento por Cristiano Dantas, gerente comercial da Cetip, a partir das soluções exclusivas oferecidas pela empresa, que realiza o monitoramento contínuo das transações relacionadas ao financiamento de veículos. Conheça algumas das planilhas exibidas no encontro, que reuniu representantes de diversas instituições financeiras.

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Cristiano Dantas, gerente comercial da Cetip

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consumidor

Empresário,

olho vivo no call center Pesquisa revela que o telefone ainda é o meio preferido dos clientes para se relacionar com as empresas. Especialistas, no entanto, mostram que saída, em breve, será a convergência dos canais de atendimento Por Geyse Alencar

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O departamento de call center é considerado um dos braços estratégicos – e também um dos mais sensíveis – na área de comunicação das empresas. Afinal de contas, é lá que batem as queixas, entre alguns elogios, em relação ao serviço prestado. Apesar de ser usado para intermediar uma situação normalmente adversa, o telefone ainda é o canal preferido dos brasileiros para falar com as empresas. Essa é a uma das conclusões de recente pesquisa G4 Solutions/Ipsos, que ouviu 1.000 consumidores de todas as classes sociais, em 70 cidades brasileiras, sendo nove delas inseridas em regiões metropolitanas. O levantamento revela que o telefone foi utilizado por 20% dos entrevistados para fazer contato com o call center das empresas. Em segundo lugar, ainda muito distante, vem o e-mail, com 6%, sites e redes sociais, com 3% cada um, e torpedos, 1%. Entre aqueles que optaram pelo telefone, 42% disseram que a frequência aumentou nos últimos três anos. Os números da Associação Brasileira das Relações Empresa Cliente e da E-Consulting contribuem para mostrar aos empresários que o serviço de atendimento ao cliente merece atenção redobrada. Considerando as operações terceirizadas e internalizadas, o setor cresceu acima de 14% em 2013, com receita superior a R$ 40 bilhões. Só o segmento de recuperação de crédito e cobrança fechou com valores próximos a R$ 9 bilhões. “O mercado financeiro é um dos setores que mais utiliza centrais telefônicas para se comunicar com os clientes. Para otimizar o serviço é

preciso ganhar tempo, sem deixar de lado a qualidade e a produtividade do processo”, explica Erik Mazzei, diretor de Marketing da G4 Solutions, empresa desenvolvedora de tecnologia para contact centers. O levantamento da Ipsos também aponta as falhas no sistema de atendimento por telefone: entre aqueles que utilizam o canal, 63% precisaram fazer várias ligações até resolver o problema. Cerca de 45% das pessoas ouvidas, em qualquer um dos canais utilizados, necessitaram repetir várias vezes a mesma informação. “Há quem acredite que o problema está no atendente, portanto, focam seus esforços em contratação de mão de obra e em treinamento. No entanto, é preciso ir além. A solução pode estar na tecnologia e na otimização dos sistemas”, afirma Mazzei. “Atendentes bem treinados são importantes, mas é essencial que as equipes trabalhem sem sobrecarga de atribuições, o que é muito comum nas atuais operações de atendimento.” As mais recentes ferramentas para contact center aliam maior produtividade e redução custos, com base na automação de processos.


Mazzei pondera que o aumento da demanda pelo telefone pode ser explicado pela aceleração do consumo, associada ao desejo das pessoas em resolver o problema. “Ouvir a voz do atendente dá ao consumidor uma sensação de maior segurança de que sua queixa será efetivamente solucionada”, diz o executivo da G4. A opinião é compartilhada por Gil Giardelli, CEO da Gaia Creative, empresa que aplica inteligência de mídias sociais, economia colaborativa, gestão do conhecimento e inovação para diferentes companhias. O especialista atribui o baixo uso das plataformas digitais no relacionamento dos clientes com as empresas ao “analfabetismo digital”. “Ainda estamos na infância do mundo digital. Boa parte da população desconhece o uso correto das ferramentas tecnológicas e só as utilizam para compartilhar fotos ou em questões pessoais”, analisa. Giardelli lembra o falso mito de que o problema do consumidor será resolvido caso a queixa seja exposta nas redes sociais, acompanhada de alguns impropérios. No entanto, as empresas hoje estão bem mais preparadas e treinadas para atender aos clientes neste novo ambiente. “Estudos comprovam que o consumidor só recorre às redes sociais para criticar depois de três tentativas frustradas de contato com a empresa, seja por telefone, presencial ou e-mail”, explica.

Giardelli, da Gaia: Empresas mais bem preparadas para atender os clientes

Aumento no número de contatos por telefone

Afirmaram aumento na frequência de uso quando comparado ao mesmo período três anos atrás

Faixa etária entre 24 e 35 anos

Fotos: Divulgação

Feminino

Masculino

Mazzei, da G4: Equipes devem trabalhar sem sobrecarga de atribuições

Classe C

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consumidor Uma dica do especialista é que as empresas tentem mostrar aos seus clientes que existem outros canais de comunicação, assim como foi feito com o telefone nos anos 90. “Antes, as empresas ofereciam como opção o 0800 apenas para sugestões e comentários. Hoje, além da discagem gratuita, é possível interagir pelo e-mail, o fale conosco via Twitter e Facebook”. Túnel do tempo – Sempre que surge um novo veículo de comunicação, existe uma tensão de que o antigo sairá de cena para dar espaço ao novo. Foi assim, quando Assis Chateubriand trouxe a TV para o Brasil, no início dos anos 50. Até então, o rádio era o principal veículo de comunicação do País. No entanto, o rádio permaneceu com seu lugar cativo. Essa analogia também vale em relação ao call center e ao ambiente digital. Segundo a Cisco, empresa de soluções para redes de comunicação, até 2014, 90% do tráfego da internet será de vídeos. Esse número reforça, segundo Gil, uma mudança nos atuais padrões. Ele sinaliza alguns canais, entre os quais YouTube e comunicadores instantâneos, como Skype e Hangouts por possuírem videochamada. “No futuro, as pessoas poderão ligar para o call center, já que a necessidade de ter alguém do outro lado da linha para transmitir segurança é real, mas também terão a opção de utilizar os comunicadores. Lá terá um profissional que interagirá em tempo real. Stan Bras, diretor executivo da Abrarec, lembra que a ascensão das camadas populares nos últimos anos contribuiu para aumentar as demandas nos call centers por que passaram a usar produtos que não estavam no seu dia a dia. O telefone é muito utilizado e assim vai permanecer pelos próximos anos, no entanto, o executivo visualiza tendência de crescimento na convergência dos canais de atendimento via mobile, chat e blog. Se a tendência é a utilização de novas plataformas de comunicação no relaciona-

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mento empresa/cliente, a forma sobre como utilizar as informações dos consumidores também pode ser decisiva na estratégia da marca e do negócio, indica Giardelli. “O programa de relacionamento antigamente era feito pelo papel. Por que não fazer isso no ambiente digital? Meu banco sabe quantas vezes eu vou ao restaurante, onde eu estou, e com o que gasto. Por que não utilizar essa informação para promover ofertas, descontos ou serviços para seus clientes?”, questiona o especialista em mídia digital. f

“A ascensão das camadas populares nos últimos anos contribuiu para aumentar as demandas nos call centers por que passaram a usar produtos que não estavam no seu dia a dia.”

Os canais de contato dos consumidores com as empresas

Utilizaram o TELEFONE para entrar em contato com alguma empresa

Utilizaram o e-mail para entrar em contato com alguma empresa

Utilizaram o SMS para entrar em contato com alguma empresa


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negócios&lazer

Sua majestade,

o hóspede Inaugurado há 11 anos, Hilton São Paulo Morumbi cativa os clientes pelo mix que combina sofisticação, conforto e privacidade Por Liliana Liberato

Na imponência dos seus 28 andares, o Hilton São Paulo Morumbi ostenta no topo a marca de uma das principais redes hoteleiras mundiais. Localizado no interior do Centro Empresarial das Nações Unidas (CENU), no Brooklin Novo, oferece aos seus hóspedes corporativos – público que representa a grande fatia dos seus clientes –, a praticidade de estar em uma região considerada o novo coração financeiro de São Paulo. Mas nele não se hospedam apenas os homens e as mulheres de negócio. Nesse ambiente sofisticado, hóspedes do mundo todo confiam à bandeira Hilton o descanso das férias, enquanto curtem como turistas o que a maior metrópole da América Latina tem de melhor. Inaugurado em setembro de 2002, em uma das mais valorizadas áreas da capital paulista, o Hilton fica de frente a um dos mais recentes cartões-postais da cidade: Ponte Octávio Frias de

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Oliveira, a única ponte estaiada do mundo com duas pistas, em curva, conectadas a um mesmo mastro. Digna de cenário de filme – sim, emoldurou uma das cenas do longa-metragem Ensaio sobre a Cegueira, do cineasta Fernando Meirelles. Além disso, o hotel está próximo de quatro shopping centers e distante alguns quilômetros do Autódromo de Interlagos. Patrício Alvarez, gerente geral do Hilton São Paulo Morumbi, explica que o público predominante é o corporativo e que a maior parte dos clientes vem dos Estados Unidos e da Europa. “A origem do negócio, entretanto, não é mais importante do que a nacionalidade do hóspede”, diz Alvarez. “Por isso, tudo é feito com critério, para atendê-lo do modo mais adequado.” O hotel tem ainda grande fluxo de hóspedes brasileiros, residentes em outros países. De hóspedes corporativos a grandes personalidades. O Hilton São Paulo Morumbi está entre os preferidos. Nele, por exemplo, já se hospedaram o ex-presidente norte-americano George W. Bush, a cantora Cindy Lauper, o astro pop Lenny Kravitz e os integrantes da banda norte-americana Evanescence. Foi também nas dependências do hotel que o empresário Roberto Justos gravou, entre 2004 e 2008, a versão brasileira do reality-show O Aprendiz. A direção prefere desviar do assunto quanto o tema são as celebridades, pois sabe que a privacidade é uma das qualidades cultuadas pela rede internacional.


Restaurante Canvas: Culinária contemporânea

Foto: Gabriel Kosman

Hilton SP: O preferido de George W. Bush, Cindy Lauper e Lenny Kravitz

O hotel imprimiu uma marca diferenciada no projeto de suas acomodações, que são distribuídas longe dos elevadores para evitar incômodo aos hóspedes. São 402 apartamentos, com variações de 34,80 m² a 36,10 m² cada. Planejados especialmente para os hóspedes que viajam muito a trabalho, oferece soluções e facilidades tecnológicas independentes do local de descanso. Os apartamentos da categoria DeLuxe têm acesso à área exclusiva para café da manhã, happy hour, check-in e check-out, além de duas salas de reunião. Já os chamado Executivos, possuem sala de estar, escritório e quarto separados. Sua minicozinha é equipada com micro-ondas e minigeladeira. Também possuem TV em frente à banheira, duas cubas e home theater na sala. A Suíte Presidencial, por sua vez, ocupa o 27º andar do hotel e garante vista panorâmica da zona Sul de São Paulo. Com 360 m², o quarto tem uma sala ampla, com diversos ambientes, lounge, home theater e escritório bem equipado. Há também opções para quem deseja cuidar do corpo e descansar a mente. No 28º andar está o Living Well Spa, onde hóspedes podem desfrutar de academia e salões de estética. De acordo com Alvarez, muitos dos seus frequentadores são executivos que trabalham no CENU ou em escritórios da região. Junto ao Living Well, funciona o Amazonian Spa, considerado um refúgio para quem quer relaxar ou restabelecer as energias, com elementos da biodiversidade brasileira, sob um conceito à base de produtos, aromas e cores da Amazônia.

Bom apetite – Para as refeições, o Hilton tem duas opções: o restaurante Canvas é direcionado aos apreciadores da cozinha contemporânea. Sua adega oferece mais de 170 rótulos. Se preferir algo mais ligeiro, a Sol & Sombra é a melhor alternativa, pois funciona em sistema de buffet, com ênfase em pratos da gastronomia internacional. Para o happy hour, a escolha é o Canvas Bar, com programação de música ao vivo de terça a quinta-feira. Como é possível perceber, Hilton São Paulo procura ser o prolongamento da casa do executivo internacional. f

Sol & Sombra: Gastronomia internacional

Serviço Av. das Nações Unidas, 12.901 – Torre Leste – Centro Empresarial Nações Unidas (CENU) – Brooklin – São Paulo (SP), tel.: 55 11 2845-0000.

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viagem&turismo

Entre no universo do enoturismo O especialista Humberto Casagrande revela o prazer inesquecĂ­vel que mistura viagens e vinhos Por Gustavo Girotto

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Um grupo de pessoas, com objetivos comuns, que no dia a dia militam no mercado financeiro, se reservam ao direito de uma pausa estratégica para degustar um dos produtos mais complexos e sofisticados da literatura gastronômica: o bom e velho vinho. Com um saca-rolha nas mãos, o engenheiro de produção Humberto Casagrande, da DGF Investimentos – FIP Terra Viva, desvenda em linguagem simples um pouco desse mundo encantador. “Ler, viajar e beber são hábitos que precisam entrar rapidamente na prática, quando falamos da compreensão do universo dos vinhos”, explica Casagrande. “Atualmente, esse prazer atinge um número maior de pessoas a cada ano”, pontua. Casagrande é um colecionador de viagens e de prosas sobre o mundo do vinho, além de profundo conhecedor das particularidades de sua produção. Segundo ele, viajar possibilita conhecer novos horizontes e degustar vinhos inesquecíveis, que geram informações e curiosidade que passam a integrar o roteiro de bolso dos aficionados pelo enoturismo. “É uma opção atraente para quem deseja fugir dos pontos turísticos mais visitados do mundo. O enoturismo conduz você a lugares com natureza exuberante, regiões pouco exploradas, fugindo dos aglomerados comuns”, diz o enófilo. A Associação Brasileira dos Sommeliers de São Paulo (ABS), entidade de credibilidade que dispõe

de membros ligados ao mercado financeiro, como Rui Alves e Milton Milioni, e a Accademia Gastronomica, em Moema, são locais ideais para quem deseja esmiuçar as atrações proporcionadas pelo enoturismo. “A ABS organiza visitas à caves na França, Portugal, Itália, Espanha, entre outros destinos que cultivam a cultura do vinho. Temos essas opções, mas também monto roteiros especiais quando viajo com a minha esposa”, confessa Casagrande, que estuda o tema há mais de 10 anos. O vinho é imbuído de história, sociologia e geografia. Para entender a diferença entre Borgonha e Bordeaux, importantes regiões produtoras da França, é preciso revisitar os fatos que cercaram a Revolução Francesa (1789-1799), período de intensa agitação política e social no país. “Em Borgonha, basicamente, não se transferiu terras por hereditariedade – o que gerou pequenas propriedades. Já em Bordeaux, diferentemente, as propriedades foram passadas de geração em geração, ou seja, não sofreu esse efeito da revolução. Isso traz algumas diferenças no processo de elaboração do vinho”, explicou Casagrande.

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rafas o tipo de uva e harmonização gastronômica. Já sobre os vinhos do Velho Mundo (França, Itália, Espanha, Portugal e Alemanha) o apreciador se obriga à memorização de muitos nomes como safra e terroir – termo francês para definir o conjunto de condições climáticas, solo e relevo da produção. “Entender é importante e funciona como uma fórmula matemática: o vinho ‘x’ combina com o prato ‘y’. Quando estudamos e entendemos, o que se ganha é prazer. Ele compõe uma boa refeição, ou mesmo, podemos tomá-lo como algo que denominamos de ‘vinho de reflexão’, em nossos momentos individuais de prazer”, ressaltou. Casagrande assevera que o enochato, sujeito que pega uma taça, certifica-se de que tem bastante gente olhando, faz cara de entendido, gira o copo no sentido horário e faz uma descrição minuciosa do líquido, não é agradável dentro do universo dos estudiosos. “O que precisa ficar claro é que o cidadão europeu conhece o vinho do Velho Mundo por essência e familiaridade. O francês sabe que vinhos da margem direita de Bordeaux são predominantemente produzidos de determinada uva – isso explica a questão do rótulo – não é exibicionismo. Um vinho de Pinot Noir francês (Borgonha), tida como a mais complexa das uvas tintas, é diferente de outros produzidos em países diferentes. A figura do enochato atrapalha, embora, quando deixada de lado, o que sobra é cultura e enriquecimento pessoal dos que realmente gostam de estudar esse universo”, afirmou. Casagrande: “O Pinot Noir, da Borgonha, é mais complexo e intrigante”

Foto: arquivo pessoal

Quando o assunto é qualidade, o especialista cita como referência a classificação feita em 1855, a pedido de Napoleão III, dos Premières Grand Cru de Bordeaux. “Precisamos criar no Brasil uma DOC (denominação de origem controlada), mostrando a região produtora e sujeitos à legislação própria (características dos solos, castas, vinificação, engarrafamento). Um marco regulatório pode nos colocar em um bom patamar e fortalecer o mercado interno brasileiro”, ponderou. A política de conteúdo nacional e de reserva de mercado no Brasil, colocando o vinho importado como vilão, é interpretada por Casagrande como equívoca. “Os vinhos nacionais ganharam upgrade, mas o País ainda está preocupado com volume. Não adianta fazer reserva de mercado, na verdade, é necessário investir permanentemente em pessoas e em equipamentos para melhorar as safras – uma após a outra. Dez mulheres grávidas, no ciclo normal, demoram os mesmos nove meses para ter um filho. O vinho segue essa mesma linha de raciocínio, uma vez que precisa de seu tempo de produção e maturação”, destacou. Como referência de qualidade e produção no País, Casagrande citou a vinícola Pizzato e a Casa Valduga, além dos espumantes da linha Salton. “Eles fazem um grande trabalho de produção, em menor escala”, disse o especialista, que acredita no reconhecimento brasileiro em produção no longo prazo e exemplificou: “o vinho de uva Tannat, adotada pelo Uruguai, já desponta nesse universo com grande reconhecimento”. Enófilo curioso e mente aberta, Casagrande soltou uma expressão para explicar a divisão do mundo dos vinhos: velho mundo e novo mundo. Para descomplicar, os vinhos do Novo Mundo (Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Chile e Argentina) indicam no rótulo das gar-


A Alemanha, que antigamente era conhecida pela maldição do vinhozinho leve, do tipo ‘’garrafa azul’’, já mudou sua percepção com a uva Riesling, produzida no Vale do Rio Mosel. Para entender o rótulo de um vinho alemão é preciso levar em conta as regiões vinícolas. Os vales dos rios Reno e Mosel abrigam os principais produtores de brancos. “Uma curiosidade desse vinho é que o flower (cheiro) que, embora lembre petróleo em suas notas, carregam um sabor único, que harmoniza muito bem com carne de porco”, sugere o especialista. No “Novo Mundo” (emergentes na produção), a África do Sul com a uva Pinotage, ganha popularidade de consumo no Brasil. “Há vinhos saborosos, elegantes e ricos dessa linhagem. O Malbec que é emblemático da Argentina, por suas características e peculiaridades, acabou caindo no gosto do brasileiro. O conteúdo explicativo de harmonização no rótulo, nesse caso em específico, contribui de forma lúdica com a compreensão do consumo. Esse costume dos emergentes, de maneira indissociável, tem influenciado o detalhamento de informações agora nas garrafas do velho mundo – que perderam um pouco de mercado em determinado momento”, declarou. O vinho, como qualquer outro elemento do mundo moderno, sofreu mudanças com a globalização. A incrível abertura de informações entre o vinho do velho e o do novo mundos uniu pessoas e fomentou conhecimento através de cursos, programas de tevê e bons livros. “Quem segue esse movimento, do enoturismo, é ligado por uma identidade tácita. Vira uma grande confraria mundial, ou seja, nos encontramos e conversamos sobre novidades e curiosidades desse universo com frequência”, enfatizou Casagrande. A história do vinho também ganha notoriedade na literatura religiosa, pois o seu surgimento em tempos remotos o tornou um produto que acompanhou grande parte da evolução econômica e sociocultural de várias civilizações. Quando o assunto é vinho preferido, Casagrande dá uma resposta pontual: “Gosto dos Pinot Noir franceses de Borgonha, pois os julgo mais complexos e intrigantes”, e por fim descontraiu dizendo que realmente é um tomador diário de vinho por crer, incondicionalmente, na medicina e seus conselhos: uma taça de vinho por dia faz bem ao coração (risos).

Negócio promissor O mercado global de vinhos tem liquidez, segundo Humberto Casagrande, e já é trabalhado como fundo de investimento. Alexandre Zákia, ex-diretor da Itaú Unibanco Asset Management, é um investidor desse mercado. Ele criou um fundo de investimento em vinhos que funciona, na prática, com a compra de safras da bebida. “Esse tipo de transação dá retorno aos investidores, uma vez que se é possível lucrar com a valorização do vinho no período entre a produção e a chegada ao mercado, é uma operação de mercado futuro”, explicou Casagrande. f

Aplicativos para celular fazem sucesso entre amantes do vinho:

Selecting a Wine O “Selecting a Wine - For Dummies” é indicado tanto para quem não conhece bem sobre o assunto, mas já atrai conhecedores do universo de vinhos. O app é gratuito, mas está disponível apenas para iPhone.

Vintage Chart+ Lançado pela revista Wine Spectator, esse aplicativo reúne informações sobre vinhos das mais de 50 principais regiões produtoras da bebida no mundo. Ele disponibiliza mapas para localizar as melhores vinícolas e outras curiosidades. O VintageChart+ está disponível gratuitamente para iPhone e Android.

Vivino Wine Scanner Caiu no gosto dos usuários. O aplicativo, que é grátis para iPhone e Android, é intitulado como “mão na roda”. Ele dá informações sobre a composição, produção, harmonização e avaliações de outros usuários. Basta fazer uma foto do rótulo, que ele busca informações detalhadas.

Hello Vino É conhecido por ajudar o usuário a escolher o vinho certo, de acordo com a ocasião. Para quem tem dúvidas de harmonização, o software faz o trabalho de maneira prática. Há quem brinque que ele torna curiosos em grandes especialistas. O aplicativo está disponível gratuitamente para iPhone e Android.

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cultura

O hangar dos sonhos Em São Carlos, interior paulista, os irmãos Rolim e João Francisco Amaro criaram o Museu da TAM, preservando 88 aeronaves que fazem parte da história da aviação internacional, das quais 48 delas estão prontas para voar Por Gilberto de Almeida

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Fotos: João Gabriel Fava de Almeida

Desde que foi inaugurado, há três anos, o Museu da TAM já recebeu mais 200 mil visitantes, sendo que boa parte deles nunca pisou em um aeroporto, muito menos viajou de avião.

O comandante Rolim Amaro, fundador da TAM, sempre gostou de surpreender seus clientes. Surgia na escada das aeronaves para recepcionar os passageiros diante do tapete vermelho, contratava pianista para tocar na sala de embarque, promovia sorteios durante os voos, etc. Quem vai ao Museu da TAM, em São Carlos, a 245 quilômetros da capital paulista, certamente ficará encantado com mais esse legado deixado pelo comandante Rolim, que faleceu em 2001. Depois de passar por um túnel que reproduz a vista área de São Paulo a 4 mil metros de altura, antes da aterrissagem em Congonhas, e de passar por uma rápida retrospectiva dos principais feitos do homem na aviação, a luz apaga e um portal se abre. Uau! Por um minuto, o visitante fica atônito diante da profusão de asas, turbinas e hélices que se entrelaçam em um espaço de mais 20 mil metros quadrados. João Amaro: São 88 aeronaves que bri“O museu é uma retribuição lham como se fossem noda TAM à sociedade” vas, sendo que 48 delas estão prontas para voar, bastando, para isso, apenas alguns ajustes. Entre as joias da aeronáutica expostas está o Supermarine Spitfire Mk9, caça britânico mais importante produzido durante a Segunda Guerra Mundial; separado por poucos metros,

está também o Messerschmitt BF 109 G-4 Trop, principal avião da Força Aérea Alemã, de Adolf Hitler; mais adiante, o Cessna 140A, monomotor com o qual, em 1950, o ministro da Aeronáutica, Armando Trompowsky, presenteou Ada Rogato por ter sido a primeira piloto brasileira a atravessar a Cordilheira dos Andes, em voo solo; tem também o Curtiss-Robin C2, de 1928, primeiro avião de três lugares com cabine fechada fabricado em série; Lockheed Constellation, que fez história na Panair do Brasil, e até uma réplica do 14-Bis, biplano criado por Santos Dumont, em 1906. É difícil saber para onde olhar. “Antes de entrar no museu, imaginei que os aviões estivessem sobre cavaletes. Nada disso, eles estão com seus trens de pouso, pneus cheios, tudo perfeito”, declarou Allan Furlan, piloto de aviação executiva, durante visita ao acervo da TAM. “Ele está em pé de igualdade com os melhores museus aeronáuticos do mundo”, afiançou. Desde que foi inaugurado, há três anos, o Museu da TAM já recebeu mais 200 mil visitantes, sendo que boa parte deles nunca pisou em um aeroporto, muito menos viajou de avião. Por isso, Rolim e João Francisco Amaro, irmão do comandante e também fundador da TAM, ao conceberem a ideia, em 2000, faziam questão de que o projeto imprimisse um cunho social. Atualmente, às quartas-feiras, os ingressos para visitação são franqueados ao público. Nesse dia, o espaço é tomado por alunos de escolas públicas, idosos, pessoas com deficiência intelectual, física e visual. “É o mínimo que podemos fazer em retribuição à sociedade”, diz João Francisco, atual presidente do museu. “Outro dia fui procurado por um deficiente visual que queria saber qual era formato de uma hélice. Algo aparentemente simples, mas para ele era um desejo guardado desde a infância”, conta o irmão de Rolim.

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cultura

Antes mesmo que os visitantes se encantem com as aeronaves, o primeiro contato com o universo dos voos já começa na recepção do museu, transformada em área de check in de aeroporto, com atendentes uniformizadas, balcões que vendem passagens (ingressos), malas girando nas esteiras, etc. No alto, paira uma réplica do imponente Messerschmitt BF 109, que depois será observado em detalhes no interior do museu. “Para quem nunca viajou de avião, esse ambiente é um aperitivo para o que verá lá dentro”, conta Angelo Polato Netto, monitor do espaço, que traz estampada na camiseta a frase: “Um homem sem sonho é um homem sem futuro”. Esse sonho dos irmãos Amaro também atrai olhares de personalidades internacionais como Bruce Dickinson, piloto e vocalista do Iron Maiden, que, durante turnê no Brasil, em 2011, fez questão de conhecer o acervo da TAM. Mesmo que o visitante não tenha brevê, ele também tem a chance no museu de “pilotar” por 15

minutos um Boeing F/A – 18 Hornet, caça norte-americano, em quatro opções de performance: combates aéreos, voo livre, dogfight (supermanobras) e pouso terrestre e em porta-aviões. Além do museu, a fazenda de 800 hectares em São Carlos, onde funcionou até 1995 a Companhia Brasileira de Tratores, também acolhe o centro de manutenção das aeronaves da TAM e a oficina de restauração das joias que passarão a fazer parte do acervo. Formada por mecânicos artesões – combinação de funileiro, eletricista, mecânico e marceneiro −, essa equipe (quatro funcionários e seis estagiários) pode levar dois, três, até quatro anos para recuperar totalmente uma aeronave. “Às vezes, elas ficam melhor do que quando eram novas”, brinca João Francisco. Entre as raridades a que esses artistas da restauração se dedicam atualmente, destaca-se o Douglas DC-3 “Rose”, doado pela Boeing e que ainda preserva algumas marcas de bala, pois participou dos conflitos do Dia D durante a Segunda Guerra Mundial. Outra relíquia que está ganhando vida nova e que, em breve, conquistará seu espaço no hangar dos sonhos, é um Junkers 523m, que pertenceu à Força Aérea de Portugal. É apenas esperar para ver. f

Serviço Horário: de quarta a domingo, das 10h às 16h. Endereço: Rodovia SP 318, km 249,5 – Água Vermelha São Carlos, SP, tel. (016) 3306.2020 Preços: Até 6 anos e acima de 65 anos: grátis; professores, estudantes, de 7 a 12 anos, e adultos, de 60 a 65 anos: R$12,50; adultos: R$ 25,00 Site: http://www.museutam.com.br

Bilheteria: Simula serviço de aeroportos

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Máquinas maravilhosas Lockheed L-049 Constellation

Curtiss-Robin C2

Criado em 1940 pela Lockheed Aircraft Corp., era utilizado em rotas comerciais e intercontinentais. No Brasil, fez parte da frota da Panair, que o utilizou entre 1946 e 1965. Serviu de inspiração para música de Milton Nascimento.

Avião de passeio norte-americano produzido por Glenn Curtiss, parceiro do inventor Alexander Graham Bell e lenda da aviação norte-americana. Seu voo inaugural foi em 1928, sendo o primeiro avião de três lugares com cabine fechada fabricado em série. O exemplar em exposição tornou-se o avião mais antigo do Brasil em condições de voo.

Cessna 140A

Chamado de Brasil, esse monomotor fabricado pela Cessna Aircraft foi dado de presente, em 1950, pelo então presidente Getúlio Vargas a Ada Rogato, primeira piloto brasileira a atravessar a Cordilheira dos Andes, em voo solo.

Grumman P-16E Tracker

Produzido pela Grumman entre 1954 e 1977 com o objetivo de equipar a U.S. Navy, com um antissubmarino embarcado em porta-aviões. Por duas décadas, durante a Guerra Fria, foi a arma norte-americana contra os silenciosos submarinos soviéticos. Foi utilizado pela FAB de 1961 a 1996, no porta-aviões Minas Gerais.

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foradoexpediente

Paixão pelo rock’n’roll Integrante da banda de rock Black Zornitak, Marcelo Giufrida, sócio da Garde Asset Management, investe em sonho da adolescência e lança o CD “The Other Side” Por Gilberto de Almeida

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Foto: Gabriel Kosman e Victor Jimenez

O executivo Marcelo Giufrida não perde o ritmo, seja nas operações da sua recém-criada asset, a Garde, ou empunhando as baquetas que dão vida à banda de rock Black Zornitak. Nos dois momentos, dedica-se de corpo e alma, mas nem por isso, aparentemente, permite que essas duas realidades se misturem. Na sede da Grade, em São Paulo, o profissional de ternos bem cortados em nada lembra o roqueiro com tatuagem no braço e bandana na cabeça. No entanto, internamente, um não vive mais sem o outro. “Quando estou tocando descarrego tensões naturais do trabalho. Um bom termômetro disso é a descontração com que passei a enfrentar o trânsito paulistano”, conta Giufrida. Em contrapartida, o lado profissional foi essencial para que ele e os demais integrantes da Black Zornitak – Alexandre Zakia (Cultinvest), Rogerio Buldo (GXS Corporation) e Walter Mendes (Cultinvest)−, que também trabalham no mercado financeiro, colocassem de pé um velho sonho: produzir um CD com músicas de autoria da banda. E isso acaba de se tornar realidade com o recente lançamento do álbum “The Other Side”, com 13 composições inéditas, criadas entre 2011 e 2012, durante os ensaios dos shows, quando ainda se limitavam a interpretar os velhos sucessos do rock. Sempre atentos a estratégias bem planejadas, a primeira iniciativa dos executivos roqueiros foi adicionar à banda o talento e a experiência do guitarrista e multi-instrumentista Edu Letti, que passou a ser o quinto integrante da Black Zornitak. “Como aqui quem entende tudo de música é o Edu, ele virou o CEO da banda”, brinca Giufrida. “Foi a partir do apoio dele que nos sentimos confiantes para começar a compor”. No repertório do CD “The Other Side”, as letras das músicas retratam o cotidiano dos executivos, com o emprego de termos usados no mercado financeiro, que revela, de

maneira irreverente e criativa, as duas facetas dos músicos executivos, sem deixar de lado a emoção, a ironia e, claro, a crítica social, ingrediente essencial para quem se identifica com o rock. Segundo Giufrida, a música “The Other Side” expõe outro lado de cada integrante da banda, as influências e as transformações que são compartilhadas durante os ensaios às quartasfeiras, na gravação do CD e até mesmo quando estão em cima do palco. Já em “Money Talks”, parceria de Giufrida com Walter Mendes, eles usam slogans famosos para ironizar os devaneios da linguagem publicitária em contraste com a vida real. Na balada progressiva “Too Big to Fail”, Mendes questiona a precariedade das verdades preestabelecidas.

O profissional de ternos bem cortados em nada lembra o roqueiro com tatuagem no braço e bandana na cabeça

Giufrida, da Garde: “Tocando alivio a tensão natural do trabalho”

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No caso de Giufrida, até começar a compor e lançar o CD, ele trilhou por diversas estradas da música, enquanto construía sua carreira no mercado financeiro. Hoje, aos 51 anos, o executivo conta que descobriu o magnetismo da percussão ainda em 1977, quando morava em Santos, litoral paulista, e teve uma experiência como ritmista na torcida do time do coração. Aos poucos foi abandonando a atmosfera musical das arquibancadas até assumir a paixão platônica pelos sucessos de Led Zeppelin, Pink Floyd, Jimi Hendrix, Queen, Emerson, Lake and Palmer, Rush, entre outros. Passada a fase da adolescência e da juventude, em 1995, morando em São Paulo e trabalhando como diretor da asset CCF, começou a brincar de fazer shows com a banda Zornitak. A experiência durou um ano. “Como já estava tarimbado em realizar operações de fusões de empresas, resolvi fazer a fusão da Zornitak com a banda Black Stone, assim nasceu a primeira versão da Black Zornitak, ainda sem o talento do Edu Letti. A grande virada, porém, aconteceu mesmo em 2000, quando comprou uma casa nova, adaptou, com a ajuda de uma arquiteta, o porão em um espaço de 500 m² exclusivo para ensaios e festas, tudo protegido com isolamento acústico para não incomodar os vizinhos. Além disso, passou a fazer aulas com Vera Figueiredo, baterista da banda do programa Altas Horas, da TV Globo. Como se vê, essa estrutura – amparada em planejamento e recursos −, fez toda a diferença para que Giufrida e seus amigos transformassem um simples hobby em divertimento profissional. f

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Foto: Divulgação

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Black Zornitak, da esq. para a dir.: Edu Letti, Buldo, Zakia, Mendes e Giufrida

Money Talks Marcelo Giufrida e Walter Mendes Impossible is nothing Share moments, share life Something especial in the air The happiest place on earth Be the first to know It’s the real thing We move the world The power of dreams Think different Have it your way Hello moto Where do you want to go today Keep walking Just do it Life’s good I’m loving it


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Consumo e investimento para um

crescimento sustentável

Por Prof. Dr. Alberto Borges Matias, com colaboração de João Gabriel Sehn

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O crescimento da economia brasileira é bastante focado no aumento da demanda. Os governantes brasileiros costumam aquecer a economia utilizando-se de medidas de estímulo a esse componente das contas nacionais. Recentemente, observou-se queda nas taxas de juros e isenções e incentivos fiscais, com o propósito de sustentar a economia nacional frente ao cenário de crise global. Porém, esse crescimento da demanda interna não foi acompanhado diretamente pelo crescimento dos investimentos. Esse comportamento fica claro no gráfico 1, em que se pode perceber que os níveis de investimento apresentaram crescimento inferior

aos níveis de importações. Nota-se que a participação da conta Formação Bruta de Capital Fixo, que representa o investimento privado, passou de 17% no segundo trimestre de 2000 para 19% no 2º trimestre de 2013. Já os níveis de importações passaram de 11% para 15% no mesmo período. Ao analisar o nível de consumo total, estável em 82%, é possível identificar que a sustentação deste dependeu de maneira significativa da produção importada. Também nota-se que o consumo das famílias é a conta com maior relevância da série apresentada. Dessa forma, vale uma análise mais aprofundada sobre as variáveis relacionadas a essa importante conta do Produto Interno Bruto (PIB).


O rendimento médio do brasileiro vem crescendo nos últimos anos, seja por estímulos governamentais ou por pressões do mercado de trabalho. Esse comportamento fica perceptível no gráfico 2, nele nota-se que o rendimento médio real do brasileiro cresceu cerca de 16%, o que representa uma média mensal de 0,4%. Tal crescimento de renda também acaba gerando um aumento do consu-

mo das famílias. É notável o grande crescimento da conta de consumo final das famílias. Entre o 4° trim. de 2002 e o 2° trimestre de 2013 o consumo das famílias apresentou crescimento de 208%. Com um crescimento médio mensal de 2,7%. Já o crescimento no último ano, do 2º trimestre de 2012 para o 2º trim de 2013 foi de 10%, um pouco superior se comparado ao mesmo período de 2011/2012 em que o crescimento foi de 9%.

Para melhor entender o aumento no consumo das famílias é interessante analisar os níveis de endividamento das famílias. Conforme dados do gráfico 3, o endividamento é, em geral, crescente e com maior ênfase nas dívidas de longo prazo,

no caso ligadas ao crédito habitacional. Notase que os níveis de endividamento passaram de 21% para o endividamento geral e de 18% na modalidade que exclui o crédito habitacional em setembro de 2005 para 45,3% e 30,2%, respectivamente, em setembro de 2013.

Elaborado pelo Centro de Pesquisas do INEPAD - Núcleo CEPEFIN Elaboração:

Alberto Borges Matias – Diretor Presidente do INEPAD. Professor titular do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no campus de Ribeirão Preto. Livre docente em Finanças, atuando nos programas de graduação, pós-graduação e MBAs da Universidade

Apoio:

João Gabriel Sehn – Pesquisador do Centro de Pesquisas do INEPAD – Núcleo CEPEFIN. Graduando em Economia Empresarial e Controladoria pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no Campus de Ribeirão Preto

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bancodedadosinepad

Da mesma forma que é interessante acompanhar o comportamento do endividamento das famílias para melhor entender o consumo, também é importante a análise do índice de vendas no varejo. O indicador de vendas no varejo é um importante sinalizador do consumo das famílias, pois reflete o gasto efetivo com bens e serviços e transmite ao

setor produtivo a dinamicidade da atividade econômica no período. Fica perceptível, no gráfico 4, o aumento geral do nível de vendas. O índice que em set/03 era de 52,11 passou a ser 109,19 em set/13. Também nota-se o aumento sazonal nos fins de ano, devido ao aumento de vendas ocorrido pelo recebimento do 13º salário e festas de fim de ano.

De forma a finalizar a análise, é interessante utilizar algum indicador que dê expectativas sobre o perfil de consumo nos próximos meses. Para isso, um dos indicadores mais adequados é o Índice de Confiança do Consumidor, que traz as expectativas do consumidor para com a economia de forma geral, engloba expectativas de emprego, juros, inflação, etc. O comportamento do índice está exposto

no gráfico 5, nota-se que, diferentemente, das outras séries apresentadas até aqui, este indicador é muito mais instável, porém, ainda assim, ele apresenta uma tendência de crescimento. O índice passou de 104,7 em set/03 para 136,7 em set/13 demonstrando um cenário atual mais otimista. Porém ao analisar o comportamento do índice no ano de 2013 percebe-se que houve uma brusca queda: passando de 160,6 em jan/13 para 136,7 em set/13. f

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Taxas Médias: geral

Taxas Médias: pessoa física

Taxas Médias: pessoa jurídica

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bancodedadosinepad

Consignado: saldo de operações de crédito crédito consignado (R$ milhões)

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Saldo da carteira de crédito - pessoa física recursos livres (R$ milhões)

Saldo da carteira de crédito - pessoa física recursos livres (R$ milhões)

Saldo da carteira de crédito - pessoa física recursos direcionados (R$ milhões)

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bancodedadosinepad Gráfico Crédito Pessoal

Gráficos Inadimplência Saldo (R$ milhões) e percentual de crédito com recursos livres PF - Total e com atraso entre 15 e 30 dias

Inadimplência Crédito Pessoal INEPAD & BC 320.000 12.000

310.000

10.000

300.000

8.000

290.000 280.000

6.000

270.000 4.000

260.000

2.000

250.000

0

240.000 out/12

jan/13

abr/13

jul/13

Com atraso de 15 a 90 dias

out/13 Saldo

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Juros

Atividade

Rendimento

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Anfavea

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Macro

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bancodedadosinepad

PrevisĂľes

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artigopalavrafinal

Ciclos de Crédito Artigo enviado em 05/12/2013

Por Nicola Tingas, Economista-chefe da Acrefi

Em 2014, haverá melhora no ritmo de expansão do crédito, mas ainda será um ano de transição. Há uma mudança no comportamento dos consumidores e na oferta de crédito pelos bancos e financeiras, que, conjuntamente, estão modificando o mercado de crédito. A transformação efetiva do perfil de oferta e demanda de crédito será determinada pela política econômica a ser praticada pelo presidente eleito para o período 2015–2018. Durante toda uma década tivemos importante expansão das operações de crédito do sistema financeiro, favorecendo amplamente o crescimento econômico. Em anos recentes, principalmente em 2013, houve queda no ritmo de expansão. O longo ciclo de expansão verificado na última década, da forma como ocorria, está esgotado. A relação crédito/PIB dobrou entre 2002 e 2010; começando com 22% em dezembro de 2002 para alcançar 45,3% em dezembro de 2010. Foi um crescimento inédito na história econômica brasileira. Esse período foi bastante dinâmico (Fase 1). Houve um ciclo de expansão amplo e consistente, baseado na

ampliação e nas melhorias significativas de aspectos, como: distribuição de renda, emprego, bancarização, aperfeiçoamento da legislação e de garantias do crédito ao consumidor; resultando em oferta e demanda amplas de crédito. Em 2011 e 2012, a relação crédito/PIB cresceu respectivamente para 49,0% e 53,7% do PIB. Ainda foi uma forte expansão; mas, houve incerteza e volatilidade nessa trajetória (Fase 2). Foi um período que contou com estímulos para o consumo e o crédito: incentivos fiscais, salário mínimo com forte reajuste, bancos públicos ampliando significativamente sua oferta no mercado, crescimento substancial do crédito direcionado. A partir de 2013, dados mensais indicam um arrefecimento no ritmo de expansão de crédito (Fase 3). Isso ocorreu devido à somatória de diversos obstáculos que já estavam presentes desde anos anteriores: aumento da inadimplência, restrições orçamentárias de muitas famílias, modelos de crédito ajustados para evitar riscos de inadimplência, alta persistente da inflação, redução no ritmo de crescimento econômico, incerteza e redução na

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artigopalavrafinal socio ambiental

“Ao longo de 2014 também haverá esforço governamental para elevação do consumo e de investimentos, impulsionados por estímulos e incentivos da política econômica pró-cíclica.”

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propensão a consumir e na propensão a investir. Ficou evidente que a condição financeira dos agentes econômicos deteriorou-se significativamente, formando um círculo vicioso de baixo crescimento e inflação elevada. Esse ambiente econômico e mais outros fatores levaram à deterioração das condições de consumo e investimento na economia. Empresas fragilizadas pela queda de vendas e pelo aumento de custos tiveram dificuldade de sustentar seu equilíbrio financeiro básico (“ponto de equilíbrio” entre receitas e custos diretos e indiretos). As famílias tiveram de enfrentar condições adversas, como inflação alta, redução no ritmo de reposição salarial, menor ritmo de crescimento do emprego e, em muitos casos, alto e insus-

tentável endividamento financeiro. Como consequência das enormes dificuldades enfrentadas, desde 2012 e ao longo de 2013, houve um intenso esforço de resgate das finanças empresariais e pessoais (famílias). Em 2014, já há sinais de algum resultado favorável desse esforço em contexto de “consumo consciente” e de utilização mais planejada do crédito. Dessa forma, cresce a possibilidade de haver melhora qualitativa na demanda por crédito, resultante do ajuste orçamentário e mudança de perfil de endividamento realizado pelas famílias. Como também, espera-se que o crédito corporativo tenha seu risco mitigado em resposta à reestruturação financeira e operacional de muitas empresas. Ao longo do ano também haverá esforço governamental para elevação do consumo e de investimentos, impulsionados por estímulos e incentivos da política econômica pró-cíclica. Nesse sentido, embora com limitações orçamentárias, conjunturais e estruturais, o governo tem apontado para uma agenda de estímulos fiscais, gastos públicos e medidas de manutenção e ou ampliação de renda e emprego. Em síntese, teremos uma melhora no desempenho do crédito no ano eleitoral de 2014. Para o futuro, os agentes econômicos estarão esperando pela sinalização efetiva da política econômica, que conduzirá a economia no quatriênio 2015–2018. f


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Declaração de exoneração de responsabilidade: o presente material foi emitido pela Cetip S.A. – Mercados Organizados (“Cetip”). A Cetip é um mercado de balcão organizado autorizada a funcionar pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e regulado tanto por esta quanto pelo Banco Central do Brasil. A contratação dos serviços contidos no presente material é de responsabilidade exclusiva dos participantes, não sendo a Cetip responsável, sob qualquer pretexto, por perdas decorrentes do uso direto, indireto ou consequencial do presente material. A Cetip se isenta a qualquer responsabilidade de fornecer qualquer recomendação específica de natureza legal, tributária, regulatória ou outras que não estejam no seu escopo de trabalho. A responsabilidade pela eventual contratação dos serviços contidos no presente material é exclusiva dos clientes, cabendo a este tão somente a função comunicativa de lançamento dos produtos e/ou serviços. Os exemplos aqui porventura presentes simbolizam situações simuladas e hipotéticas, meramente ilustrativas. Seu comportamento pode não representar as situações reais de mercado, não cabendo à Cetip qualquer responsabilidade por tais casos e/ou pelo desfecho de casos reais. Nada constante aqui restringe ou exclui qualquer responsabilidade legal cabida ao cliente, de acordo com a legislação e normas regulatórias. Este material é de propriedade da Cetip, sendo expressamente proibida a reprodução de parte ou da totalidade de seu conteúdo, mediante qualquer forma ou meio, sem prévia e formal autorização, nos termos das Leis sobre Propriedade Intelectual. Conforme previsto na Instrução CVM nº 461, de 23 de outubro de 2007, no Regulamento da Cetip, e demais normas aplicáveis em vigor, em função das características dos mercados que atende, a Cetip não possui fundo garantidor ou outros mecanismos de ressarcimento de perdas, razão pela qual não é cobrada qualquer taxa ou contribuição com esse objetivo.

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