Financeiro

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EDIÇÃO

127 JULHO

arevistadocrédito

pior talvez já “O tenha passado,

mas a sangria ainda não foi estancada Em seu segundo mandato como presidente da Acrefi, Luis Eduardo da Costa Carvalho analisa os efeitos da pandemia e da inflação, a preocupação do mercado com a inadimplência e a postura ainda mais ativa da entidade diante das necessidades dos associados

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Bank as a Service

Correspondente digital

Segurança cibernética

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Potencial de crescimento de 100%.

Propostas de crédito em um só lugar.

Mais conhecimento para proteção de ativos.



Editorial

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Luis Eduardo da Costa Carvalho Presidente da Acref

A Acrefi se renova, com foco no Associado A Diretoria da Acrefi inicia seu segundo mandato, que vai até 2024, com o firme propósito de estar cada vez mais próxima dos associados, que são sua razão de ser. Foi esse o nosso principal foco na primeira gestão e será ainda mais neste biênio, com a adoção de iniciativas para tornar a entidade uma aliada cada vez mais presente e importante para o nosso “cliente”, ou seja, o associado. Foi com essa prioridade que iniciamos, nos dois primeiros anos de mandato, a revisão da estrutura da entidade para torná-la mais moderna e, com isso, atender às necessidades dos associados. Para isso, estamos fazendo um amplo e detalhado planejamento com o apoio da Arazul Consulting, uma conceituada casa de consultoria nacional. Podemos assegurar que mais da metade desse trabalho já foi feito e muito em breve chegaremos às conclusões finais, levando a discussão aos órgãos internos de administração. O objetivo principal desse trabalho é dar uma cara nova à Acrefi, a mais antiga entidade do mercado. Estamos implantando mudanças em linha com a modernização que está acontecendo no mercado financeiro. É preciso lembrar que a entidade não é mais uma associação exclusivamente de financeiras. Hoje, contamos em nosso quadro associativo também com bancos, fintechs e cooperativas–ou seja, representamos uma abrangência de atividades relacionadas ao crédito e não apenas o crédito para o consumidor tradicional. O planejamento estratégico está alinhado com a nova realidade, levando em conta as mudanças no desenho do mercado. Para cumprir sua missão dentro da nova realidade, a Acrefi adotou a postura de ser mais ativa e menos reativa. Precisamos estar sempre à frente, em busca de mudanças que tragam benefícios para as instituições financeiras que estão conosco, observando e defendendo os interesses do mercado. É certo que esse trabalho se desenvolve tendo como pano de fundo um período de incerteza econômica, com aumento da inflação e elevação dos juros. A disparada dos preços é muito negativa para a área de

Foto: André Giorgi

crédito porque corrói o poder aquisitivo e traz aumento da inadimplência. O quadro preocupa principalmente porque o nível de endividamento da população está elevado e a inflação não dá sinais de arrefecimento imediato. E não se pode esquecer que essa situação preocupante acontece logo depois de uma grave crise sanitária global, com a pandemia de covid-19, que abalou todo o planeta. Não há soluções fáceis para enfrentar esses desafios, mas o brasileiro tem se mostrado, ao longo das últimas décadas, extremamente competente para lidar com crises e sair delas com sucesso. Embora haja muitas dificuldades, temos um histórico favorável no enfrentamento dessas situações críticas, recorrendo à criatividade e ao trabalho exaustivo. A Acrefi tem consciência de que a administração exitosa dos negócios nesse cenário é prioritária, o que fortalece ainda mais a necessidade de estar sempre pronta para ouvir as dores dos participantes do mercado e ajudar na busca de soluções. Essa é a nossa missão e vamos trabalhar cada vez mais para cumpri-la. Por isso, tenham certeza de que vocês podem sempre contar com a Acrefi. Estamos prontos para ouvi-los e para trabalhar em conjunto em prol do sucesso de cada um e de todos vocês!

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Sumário

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Edição #127

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Entrevista:

Bank as a Service Ambiente em que instituições financeiras podem distribuir produtos bancários

Artigo:

Affonso Celso Pastore O Fed e o crescimento dos emergentes

Luis Eduardo da Costa Carvalho O mau pagador destrói o mercado; o bom pagador ajuda o Brasil a crescer

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Foto: André Giorgi

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Correspondente digital Proposta de crédito dentro do Open Banking

Estante Acrefi

Títulos interessantes para investir seu tempo livre

Palavra Final:

Nicola Tingas “Inflação global é crescente e resiliente”

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Cibersegurança

Perspectivas, desafios e a contribuição do mercado financeiro

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Associados

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• AFINZ – SOLUÇÕES FINANCEIRAS

• BMW FINANCEIRA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO

• ALESTA SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO

• BRB CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A.

• AGORACRED S.A. SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO

• C6 BANK

E INVESTIMENTO • CALCRED S.A. • AYMORÉ CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A. • BANCO DIGIMAIS S.A. • BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A. • BANCO BV • BANCO CETELEM S.A. • BANCO CNH INDUSTRIAL CAPITAL S.A. • BANCO COOPERATIVO DO BRASIL S.A. BANCOOB • BANCO CSF S.A. • BANCO DAYCOVAL S.A. • BANCO DO BRASIL S.A.

• CREDIARE S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO • CREDITAS SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO • CREFISA CRÉDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTOS • FINAMAX S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO • FINANCEIRA ALFA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTOS • FOCUS FINANCEIRA • GAZINCRED S.A. • KREDILIG S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO • LEBBES C.F.I • LECCA CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A. • LISTO TECNOLOGIA S.A.

• BANCO FIDIS S.A. • BANCO GMAC S.A.

• MERCANTIL DO BRASIL FINANCEIRA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTOS

• BANCO HONDA S.A.

• MIDWAY S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO

• BANCO HYUNDAI BRASIL S.A.

• MOVA - INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

• BANCO ITAUCARD S.A.

• NEGRESCO S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTOS

• BANCO ITAÚ UNIBANCO S.A.

• OMNI S.A. CRÉDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO

• BANCO JOHN DEERE S.A.

• ÓTIMO SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO

• BANCO JP MORGAN BRASIL S.A.

• PORTOCRED S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO

• BANCO DE LAGE LANDEN BRASIL S.A. • BANCO LOSANGO S.A.

• PORTOSEG S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO • REALIZE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A.

• BANCO PAN S.A.

• SANTINVEST S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO

• BANCO PSA FINANCE BRASIL S.A.

• SAX S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO

• BANCO RCI S.A.

• SCANIA BANCO

• BANCO RODOBENS S.A. • BANCO SAFRA S.A.

• SENFF S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO • SF3 C.F.I. • SICREDI VALE DO PIQUIRI ABCD PR/SP

• BANCO SEMEAR S.A. • SOCINAL S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTOE INVESTIMENTO • BANCO TOYOTA DO BRASIL S.A. • BANCO VOLKSWAGEN S.A.

• UNICRED DO BRASIL - CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS COOPERATIVAS CENTRAIS UNICREDS

• BANCO YAMAHA MOTOR DO BRASIL S.A.

• VIA CERTA FINANCIADORA

• BIORC FINANCEIRA CRÉDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A.

• WILL BANK

• BMP MONEY PLUS SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO S.A.

• ZEMA FINANCEIRA

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Expediente

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ISSN 1809-8843

PUBLICAÇÃO DA ACREFI – ASSOCIAÇÃO

ADMINISTRAÇÃO/ASSESSORIAS

NACIONAL DAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO Rua Líbero Badaró, 425 - 28°andar São Paulo, SP - Tel. (11) 3107.7177

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José Tadeu da Silva Julio Cardoso Paixão Moacir Niehues Nelson Dias Aguiar Rodnei Bernardino de Souza

CONSULTOR DE REGULAÇÃO E COMPLIANCE Sergio Odilon dos Anjos AUDITORIA

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Independentes

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Conaupro Consultoria e Contabilidade Ltda.

ASSESSORIA DE IMPRENSA

PUBLISHER Sergio Tamer EDITORES Theo Carnier Gilberto de Almeida EDITOR ASSISTENTE Gustavo Girotto REDATORA Ana Carolina Saito ARTE

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REVISOR

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Entrevista: Luis Eduardo da Costa Carvalho

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“ O MAU PAGADOR DESTRÓI O MERCADO; O BOM PAGADOR AJUDA O BRASIL A CRESCER ”

Foto: André Giorgi

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Entrevista: Luis Eduardo da Costa Carvalho

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Reeleito presidente para mais dois anos à frente da Acrefi, Luis Eduardo da Costa Carvalho assume a responsabilidade que lhe foi confiada pelos associados com energia e disposição para enfrentar os desafios dos novos tempos, que se caracterizam pelas consequências naturais provocadas pela pandemia e pelas transformações necessárias que vive o mercado de crédito. Na entrevista, o presidente reeleito não deixou de se posicionar sobre a ação discreta do Banco Central diante dos primeiros sinais de recrudescimento da inflação. “O BC vem aumentando gradativamente a taxa de juros na expectativa de controlar a inflação, mas ele deveria ter sido mais agressivo desde o início para tentar reverter o processo. Como não fez isso, agora está correndo atrás do prejuízo.” Falou a respeito dos avanços esperados com a implantação do Open Banking, que deve levar ao aumento da concorrência no segmento e à atualização dos processos e das estruturas. “É uma conquista altamente saudável para todos, inclusive para os cinco grandes bancos. A maneira como o processo vem sendo conduzido, trazendo modernidade e competitividade, sem causar nenhum trauma ao sistema.” Abordou também a visão consumerista que a autoridade monetária está adotando para proteger o mau consumidor que, por enquanto, ainda é a minoria. “O dia em que o mau consumidor for a maioria, o mercado quebra. E não teremos mais mercado para ninguém regular. A regulação deve proteger o bom consumidor”, enfatizou Luis Eduardo. “A Acrefi é a casa do crédito e a nossa visão está em sintonia com um crescimento de maneira mais sustentada. O mau pagador destrói o mercado. Já o bom pagador ajuda o Brasil a crescer.” A respeito das ações internas, previstas em sua nova gestão à frente da Acrefi, ele destacou que a entidade será mais ativa e menos reativa. “Eu quero presidir uma entidade que está sempre à frente, em busca de mudanças que tragam benefícios aos associados, observando e defendendo os interesses do mercado”, destacou. “O nosso esforço é trabalhar com o regulador com o objetivo de mostrar a realidade do mercado: aquilo que consideramos exagero, aquilo que pode ser repensado, revisto ou tratado de outra forma.” A seguir, os principais momentos da entrevista com Luis Eduardo da Costa Carvalho, presidente da Acrefi.

Como o senhor avalia o atual cenário econômico, já sob efeitos mais brandos provocados pela pandemia? A situação do ponto de vista da pandemia, sem dúvida, está muito melhor do que poderíamos esperar. Uma parcela significativa da população já está vacinada, com a terceira e a quarta doses. Sob esse prisma, eu diria que a situação está mais tranquila e confortável. Entretanto, do ponto de vista da economia, passamos de uma pandemia na saúde pública para uma pandemia na economia. Estamos assistindo a um processo inflacionário bastante preocupante, com uma reação tímida do Banco Central no processo de elevação da taxa de juros. A impressão que se tem é que não estão aplicando no paciente uma dose suficiente do medicamento.

Quais são as principais preocupações do mercado financeiro? Estamos diante de uma situação bastante preocupante, com inflação resistente, redução da atividade econômica e aumento da inadimplência.

Qual é a sua percepção sobre o aumento da taxa de juros em relação à captação de recursos no mercado? Esse é o único ponto que vinha vindo bem, em que a elevação da taxa de juros traz algum benefício. As operações de crédito foram prejudicadas quando o nível da taxa de juro estava muito baixo. Foi quando o investidor começou a optar por alternativas de investimento. Na medida em que as taxas de juro das aplicações em renda fixa ficaram muito baixas, ocorreu a fuga dos investidores do mercado financeiro para o mercado de capitais. Isso do ponto de vista do crédito é desfavorável. Porque a matéria-prima do crédito é a captação de recurso.

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Entrevista: Luis Eduardo da Costa Carvalho

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Temos o fenômeno da inflação, que para a área de crédito é muito ruim, porque ela corrói o poder aquisitivo e leva ao aumento da inadimplência. Porém, ainda há sinais de resistência, ou seja, não chegamos ao fim da linha dessa tendência? Se olharmos os números da inadimplência, os gráficos mostram que não houve ainda uma inflexão da curva, mas já se percebe um processo de acomodação. Eu diria que talvez o pior já tenha passado, mas a sangria ainda não está estancada. No entanto, já deixou de ser uma hemorragia.

Qual é a sua percepção para os próximos meses? Ainda não há luz no fim do túnel. Enquanto essa situação não estiver clara e o processo de inflação dominado. O Banco Central vem aumentando gradativamente a taxa de juros na expectativa de controlar a inflação, mas ele deveria ter sido mais agressivo desde o início para tentar reverter o processo. Como não fez isso, agora está correndo atrás do prejuízo.

Será preciso reavaliar as políticas de concessão e de cobrança do crédito? Estamos diante de um quadro preocupante, com o endividamento alto da população associado ao processo inflacionário. Inadimplência e inflação serão dois dos principais temas que a Acrefi debaterá nos seminários programados para o próximo semestre, que voltarão a ser presenciais.

A experiência faz a diferença? Sim, o mercado tradicional já viveu períodos de bonança e fases de grandes restrições, ele sabe muito bem como lidar com as duas situações. Os menos experientes pegaram uma maré favorável, um vento em popa, adquiriram uma velocidade, o que levou a um crescimento acentuado. Agora, estão percebendo que o buraco é mais embaixo. A coisa não é tão fácil e simples quanto pareceu à primeira vista. Todos esses negócios foram criados em um ambiente de juros reais negativos no mundo. O dinheiro era muito barato, o que importava era crescer. Só que esse cenário mudou agora. Vamos passar para uma taxa real positiva no mundo e também no Brasil. Agora tem de gerar valor, é um novo ciclo que se inicia.

Como o senhor avalia os benefícios trazidos pelo Open Banking, tema que sempre ocupou espaço relevante nos debates da Acrefi? Desde a época do Ilan Goldfajn à frente do Banco Central, depois na gestão do Roberto Campos Neto, com iniciativas da Agenda BC#, a postura da autoridade monetária nos últimos anos é de provocar um aumento da competitividade no mercado financeiro. Eu diria que isso é altamente saudável para todos, inclusive para os cinco grandes bancos. A maneira como o processo vem sendo conduzido, trazendo modernidade e competitividade, sem causar nenhum trauma. O Banco Central deu provas ao mundo, mais uma vez, da sua competência.

Qual é a sua percepção a respeito do perfil das grandes instituições frente às fintechs? A concentração que o setor financeiro vive hoje é decorrência de um processo de saneamento do mercado, consequência pela qual o País teria pago um preço altíssimo se o BC não tivesse tido competência para evitar o caos. No entanto, resultou em concentração e baixa competitividade entre as instituições. Então, o Banco Central se dá conta disso e aproveita o uso intensivo da tecnologia no mercado financeiro para incentivar as fintechs, criando novas instituições financeiras: as Sociedades de Crédito Direto e as Sociedades de Empréstimo entre Pessoas. Elas vieram exatamente para facilitar o ingresso de novas instituições financeiras no mercado.

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Entrevista: Luis Eduardo da Costa Carvalho

A tendência, portanto, é expansão? Sim, é um processo que vem crescendo e trazendo inovações ao mercado. Ao mesmo tempo, está tirando da zona de conforto as grandes instituições, que foram pressionadas a buscar por meio da tecnologia a modernização das suas estruturas. É um processo muito saudável porque também traz gente nova para o mercado. Portanto, todo mundo vai sair beneficiado.

Qual foi o papel da Acrefi nesse momento de transformação, com o Open Banking e a implantação do Pix, por exemplo? A Acrefi sempre esteve à frente das discussões desses temas, principalmente na questão do Open Banking, promovendo vários eventos relacionados a esse assunto tão relevante. Daqui para a frente, seria apenas o acompanhamento dessas atualizações, buscando contribuir com os nossos associados. Eu costumo dizer para a equipe da Acrefi que o associado está para a instituição como um cliente está para um banco, um supermercado... Quer dizer, a Acrefi existe para atender aos seus associados. Então, todo o esforço que vem sendo feito nesses dois últimos anos e que estão sendo projetados para os próximos dois anos é buscar, cada vez mais, estar próximo dos associados, entendendo as suas dores, buscando e meios para de apoiá-los. Essa é a tônica da nossa gestão até aqui e fazer isso daqui para a frente de maneira ainda mais intensa.

Quais serão os próximos passos? Na minha primeira gestão já começamos a fazer uma revisão na estrutura da entidade para modernizá-la e para que esteja em condições de atender ao nosso principal objetivo: satisfazer as necessidades dos nossos associados. Neste momento, estamos em pleno andamento do planejamento. Eu diria que, com mais de metade do trabalho já feito e possivelmente em um mês, chegaremos às conclusões finais, levando a discussão aos órgãos internos de administração. A nossa intenção é dar uma cara nova à mais antiga entidade de mercado. Estamos implantando na Acrefi a mesma modernização que estamos vendo no mercado financeiro.

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Poderia dar uma sinalização de como será esse novo momento da Acrefi? Eu não quero presidir uma entidade reativa. Eu quero presidir uma entidade ativa, que está sempre à frente, em busca de mudanças que tragam benefícios aos associados, observando e defendendo os interesses do mercado.

Como o senhor avalia as discussões sobre a regulamentação das instituições de crédito? Há um embate permanente entre mercado e seus reguladores. O regulador quer ter tudo de maneira mais restrita e rigorosa possível. A nossa tendência é querer o oposto, liberdade plena, regulação zero, etc., expectativas que, sabemos, jamais atingiremos. O nosso esforço é trabalhar com o regulador com o objetivo de mostrar a ele a realidade do mercado, aquilo que consideramos exagero, aquilo que pode ser repensado, revisto ou tratado de outra forma. É uma ação constante.

Qual é o tamanho do custo com o mau consumidor? O custo do mau consumidor está embutido na mercadoria, que é a taxa de juros. Todos querem a redução do spread bancário, mas, com a regulação, novos controles e novos custos são criados, depois acham que esses valores devem ser repassados. Quem vai pagar essa conta? O setor público e o Banco Central precisam ter uma visão mais próxima do mercado. Eu sei que o crédito é fundamental para o crescimento econômico. A Acrefi é a casa do crédito e nossa visão está em sintonia com um crescimento de maneira mais sustentada. O mau pagador destrói o mercado. Já o bom pagador ajuda o Brasil a crescer.

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Entrevista: Luis Eduardo da Costa Carvalho

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Como deve ser o posicionamento em relação ao consumidor? Eu tive um uma conversa recente com um dos representantes do Banco Central e num determinado momento ele disse: é preciso olhar o mercado do ponto de vista do consumidor. Eu respondi que concordava em gênero, número e grau. Só que essa visão consumerista que estão adotando é para proteger o mau consumidor. Que graças a Deus é a minoria. O dia em que o mau consumidor for a maioria, o mercado quebra. E não teremos mais mercado para ninguém regular. A regulação deve proteger o bom consumidor.

Hoje a Acrefi é uma associação plural, atenta à nova realidade do mercado. A Acrefi é apenas mais uma associação das financeiras. Atualmente reunimos fintechs, bancos, financeiras e cooperativas. O nosso quadro associativo representa uma abrangência de atividades direcionadas ao crédito, não apenas o crédito ao consumidor tradicional. O nosso planejamento estratégico segue claramente nessa linha, de ter uma abrangência maior em relação ao crédito.

O senhor disse em seu discurso que as fintechs têm encarado uma realidade menos favorável. Ao mesmo tempo, o Banco Central fala na diversificação do mercado, evitando a concentração excessiva, No entanto, essa política do BC não pode ser prejudicada com o desaparecimento de muitas fintechs? Eu torço que não. E vou trabalhar incansavelmente para que isso não ocorra. Porque é como eu já tinha dito. Acho que houve uma concentração do mercado em decorrência de uma doença crônica: a inflação. O saneamento do mercado é saudável, porém provocou uma concentração, e hoje a realidade é outra. Temos condições de promover um processo de aumento de competitividade. Acredito que as fintechs devem dar um passo atrás e rever a sua política de crédito. Um processo saudável deve estar de acordo com a economia de mercado.

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Bank as a Service

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Oportunidades diante de desafios Evento da ACREFI reúne especialistas e analisa tendências motivadas com crescimento do Bank as a Service

Identificar tendências e apontar soluções fazem parte do dia a dia da Acrefi. Com o objetivo de manter seus associados e o mercado em permanente sintonia com a inovação, a entidade promoveu dia 31 de maio, no Renaissance São Paulo Hotel, um seminário para tratar do tema Bank as a Service (BaaS). Trata-se de um conjunto de ações e de benefícios que permitem às instituições financeiras e às empresas oferecer uma série de novos serviços aos clientes, estimulando uma maior competitividade no setor.

No Brasil, esse tipo serviço tem crescido muito nos últimos anos. De acordo com um estudo da consultoria Americas Market Intelligence (AMI), o mercado BaaS no Brasil tem um potencial de crescimento de mais de 100%, em quatro anos. A expectativa é de que ultrapasse U$ 14 bilhões, em 2025. Para debater esse tema tão relevante, a Acrefi convidou: Bruno Balduccini, sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados; Carlos Eduardo Benitez, CEO da BMP Money Plus; Francisco Eduardo Carvalho, CEO da ZIPDIN; Luiz Fonseca, VP de Tecnologia da Zoop. Na mediação do encontro: Cintia Falcão, consultora jurídica da Acrefi.

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Ao abrir o evento, Luis Eduardo da Costa Carvalho, presidente da Acrefi, lembrou que o Bank as a Service já foi conhecido como “barriga de aluguel”. Com a evolução do mercado, a atividade ganhou um nome mais sofisticado e que melhor a caracteriza. “No nosso contexto, tudo acontece devido a um Brasil ainda complicado. Emprestar dinheiro é algo que só uma instituição financeira está legalmente autorizada a fazer, como também praticar uma taxa de juros acima da prevista na Constituição. Em função disso, surge um mercado que hoje chamamos de Bank as a Service”, enfatizou Luis Eduardo.

Já Bruno Balduccini, sócio da área empresarial do escritório Pinheiro Neto Advogados, destacou que o BaaS é resultado de iniciativas do Banco Central para atacar a concentração bancária na área de pagamentos, dando origem à legislação que permitiu regular atividades como, por exemplo, emissão de e-wallets (pré-pago), emissão do pós-pago em cartão de crédito e o credenciamento da maquininha. Para Balduccini, o Bank as a Service é uma grande solução que permite empresas entrarem imediatamente no mercado e sem o risco regulatório.

O BaaS é uma atividade legal: o Banco Central já permitia que uma instituição financeira terceirizasse serviços. Óbvio que se tiver uma falha, quem paga a conta é a atividade regulada. É uma forma de competição que permite a uma pequena empresa que não queira gastar agora ou tenha o custo regulatório fazer uma associação com um parceiro e sair operando nas áreas de empréstimo, contas, cartão. Trata-se de uma solução altamente recomendável, em especial para quem não conhece o mercado, quer testar seus modelos e não entende o custo regulatório. E é um modelo que o BC vê com bons olhos, pois gera uma competição maior”, afirmou o advogado

O Bank as a Service é uma grande solução que permite a empresas entrarem imediatamente no mercado e sem o risco regulatório

Bruno Balduccini, sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados

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Bank as a Service

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Para Carlos Eduardo Benitez, CEO da BMP Money Plus, o BaaS significa transformar uma plataforma que tem algum tipo de tráfego em um ambiente em que as instituições financeiras possam distribuir produtos bancários. Segundo o executivo, esse modelo representa uma grande mudança no mercado. “Quando você perguntava a um dirigente de banco sobre o seu papel, a resposta quase sempre era identificar o limite do cliente e lhe oferecer serviços compatíveis. O BaaS inverte a pergunta. Agora, é como aquele cliente pode ajudar a colocar os meus produtos bancários na rua, como posso ajudá-lo a fidelizar o negócio e torná-lo ainda mais lucrativo. Aqui no Brasil, os bancos estão acostumados a observar o cliente de cima para baixo. O cliente nunca é visto como parceiro. Então, está na hora de mudar isso”, completou.

Aqui no Brasil, os bancos estão acostumados a observar o cliente de cima para baixo. O cliente nunca é visto como parceiro. Então, está na hora de mudar isso

Carlos Eduardo Benitez, CEO da BMP Money Plus

Segundo Francisco Eduardo Carvalho, CEO da ZIPDIN, um dos desafios para o crescimento do BaaS é a quantidade infinita de oportunidades e serviços em todo o seu ecossistema. “É brincar de enxugar gelo. Quando acha que está chegando perto do fim, surgem inúmeros outros serviços. A tecnologia que você emprega rapidamente torna-se obsoleta. É uma guerra sem fim. O maior desafio é conseguir explorar da melhor maneira possível o que o seu ecossistema permite. A saída é cercar-se de parceiros qualificados para cada oportunidade, oferecendo um leque maior de serviços compatíveis”, afirmou.

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De acordo com Luiz Fonseca, VP de tecnologia da Zoop, é preciso ter cuidado e dedicação para conhecer efetivamente o seu cliente, aumentando a segurança e a transparência nos processos. “Temos sempre a preocupação de que o cliente, lá na ponta do processo, dê anuências ao compartilhamento dos seus dados, oferecendo sempre o suporte adequado de comunicação. Então, hoje conseguimos ter uma clareza maior, ele vê que o Pix está saindo da Zoop até atingir o seu destino”, contou o executivo.

Temos sempre a preocupação de que o cliente, lá na ponta do processo, dê anuências ao compartilhamento dos seus dados

Luiz Fonseca, VP de Tecnologia da Zoop

O presidente da ACREFI falou ainda dos cuidados que as instituições financeiras precisam ter ao escolher a prestadora de serviços. “A maior preocupação é manter a confiabilidade do seu parceiro na escolha de uma instituição que prestará serviços do BaaS. No mercado financeiro, a credibilidade é um ponto fundamental para gerar bons relacionamentos e garantir parcerias duradouras”, concluiu Luis Eduardo.

Patrocínio

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Artigo Affonso Celso Pastore

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O Fed e o crescimento dos emergentes

Políticas restritivas dos Estados Unidos afetam todos os países, incluindo os economicamente mais frágeis, que são os emergentes Na China, a dependência da Europa com relação ao gás importado da Rússia aumenta os riscos, os custos de produção e a inflação. Essas são duas razões para que, no último World Economic Outlook, o FMI tenha cortado 0,8 ponto porcentual na taxa de crescimento mundial em 2022. A isso se soma a desaceleração na maioria dos países emergentes, que se acentua com a política monetária restritiva nos Estados Unidos. Na reação à pandemia, em 2020 o Fed colocou a taxa dos fed funds entre zero e 0,25% e passou a aumentar seu balanço com a compra de US$ 125 bilhões por mês de treasuries e agency debt. A consequência foi o enfraquecimento do dólar, cuja contrapartida é a valorização das moedas da grande maioria dos demais países, reduzindo suas inflações. Ou seja, além de evitar uma recessão mais profunda nos Estados Unidos, o

Fed teve a “gentileza” de contribuir para reduzir as recessões nos demais países, que devido à queda da inflação puderam reduzir ainda mais as suas taxas de juros. Porém, a enorme soma de estímulos monetários e fiscais nos Estados Unidos elevou sua inflação, que está longe de ser causada, apenas, por choques transitórios de oferta. Ela tem uma clara componente de demanda, e uma forma de deixar evidente esse ponto é a observação das estatísticas do mercado de trabalho. Em 2014, já na recuperação da recessão de 2008, havia 0,4 vaga aberta por trabalhador desempregado, mas essa relação foi se elevando com o crescimento econômico e, antes da pandemia, já havia chegado a 1,8 vaga por trabalhador desempregado. A recessão de 2020 derrubou essa relação para 0,2, mas com a recuperação voltou a crescer e está, atualmente, em 2 vagas abertas por trabalhador desempregado. Com isso, disparam os salários, como mostram os dados do Atlanta Fed. A decisão do Fomc (Federal Open Market Committee) confirmou o que disse James Bullard, um de seus membros votantes: “Pensar que o Fed pode trazer a inflação para baixo sem elevar a taxa de juros a um nível que restrinja a atividade econômica é fantasia”. Os juros nos Estados Unidos vão subir bem mais, e o dólar deve continuar se fortalecendo, o que acentua a depreciação das demais moedas, atuando na direção contrária ao ocorrido quando da reação à covid. A política monetária restritiva nos Estados Unidos leva a políticas restritivas nos demais países, e os mais afetados são os economicamente mais frágeis, que são os emergentes.

(*) Affonso Celso Pastore é ex-presidente do Banco Central e sócio da A. C. Pastore e Associados. 1ª publicação Estadão, em 8/5/2022.

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Open Banking

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seja bem-vindo! Novo benefício do Open Banking permite que o consumidor receba propostas de crédito em um só lugar. Compare e escolha a melhor opção

Você já ouviu falar em correspondente digital? Trata-se de uma nova figura do sistema financeiro, que faz parte de mais uma fase de implementação do Open Banking. Ele trará outra opção para busca de crédito em diversas instituições, com a concentração das propostas no mesmo lugar. Para especialistas, que participaram da live “Open Banking e os desafios para encaminhamento de propostas de crédito'', realizada pela Acrefi, essa nova alternativa trará mais agilidade, segurança e transparência no processo de tomada de crédito.

Cintia Falcão Consultora Jurídica da Acrefi

Mediadora do debate, Cintia Falcão, consultora Jurídica da Acrefi, explicou que na etapa 3C, como foi identificada no meio financeiro, o consumidor não precisará ir a diversas instituições para avaliar a melhor oferta de crédito. “Haverá um mediador que vai enviar as propostas a todas as instituições, as quais você consentir o envio de dados por meio de uma API, de maneira padronizada. Isso vai tornar o processo muito mais seguro, simples e, acima de tudo, mais rápido, buscando uma melhor experiência para os clientes”, ressaltou. Cintia lembrou ainda que o Banco Central aprovou a resolução 206 que especifica regras para o encaminhamento de proposta de crédito dentro do Open Banking. A norma, segundo a autoridade monetária, permite o surgimento de correspondentes digitais no País com atuação no modelo “market place”. financeiro# 127 | Julho 2022


Open Banking

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Para Patrícia Cardoso, Executive Product Manager Open Banking e Dados da Portocred, a resolução tornou o processo mais simplificado, com o objetivo de estimular a oferta de crédito diante das perspectivas macroeconômicas do Brasil, com superendividamento dos consumidores e maior busca por crédito. Para a executiva, a fase 3C é diferente das anteriores porque já entrega uma proposta de valor ao cliente. “Então, a partir do momento em que o consumidor solicitar uma proposta de crédito e entrar no ecossistema do Open Banking, automaticamente receberá o valor. Diferentemente da implementação das fases anteriores, o cliente terá um retorno imediato. As pessoas recebem um benefício direto, que é comparar as propostas de crédito para escolher aquela que faz mais sentido”, afirma Patrícia.

Patrícia Cardoso Executive Product Manager Open Banking e Dados da Portocred

Na opinião de Alexandre Barbosa, consultor de tecnologia na Omni Banco e Financeira, a criação da figura do correspondente digital significa uma ampliação da atividade, que já supera 40 mil empresas no País. “É uma oportunidade revolucionária, transformadora, mas que não deixa de ser também desafiadora. Temos trabalhado ainda na interoperabilidade das fases anteriores. Então, vemos com bons olhos que comecemos a atuar primeiro com os produtos mais simples para que possamos amadurecer as soluções”, sugere. Alexandre Barbosa Consultor de tecnologia na Omni Banco e Financeira

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Open Banking

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Na mesma linha, Natália Cruz, Head de Open Finance da Sensedia, disse que o cumprimento do cronograma tem sido uma corrida contra o tempo, ressaltando a complexidade do processo de implementação. Segundo ela, isso inclui a instituição entender como está o seu ecossistema e perceber se está preparada para receber essa nova forma de se comunicar. “Para as instituições que ainda não têm no seu sistema uma comunicação por meio das APIs, o caminho para se adequar ao que a regulação tem pedido será mais longo.” Natália ressaltou ainda que a padronização na troca de informações financeiras é importante por permitir a maior interoperabilidade entre essas instituições e pode facilitar o momento de encaminhamento de proposta do cliente. Em relação à fase 3C, prosseguiu a head, o processo ganha maior agilidade. E a experiência do cliente será melhor, a partir do momento em que as propostas de crédito tiverem os mesmos campos de informações. “Isso porque ele vai receber muitas propostas de crédito com o mesmo formato, e a análise vai se tornar mais fácil. Vejo muitos benefícios para o

Natália Cruz Open Finance da Sensedia

cliente final e muitas oportunidades para o surgimento de novos negócios a partir dessa padronização. É a fase que vai trazer uma grande revolução e oportunidades além da regularização”, concluiu.

ASSISTA AO EVENTO NA ÍNTEGRA

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Livros

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ESTANTE ACREFI

Sugestões de títulos que podem se tornar interessantes em seus momentos livres

Economia Feminista Organizadoras: Cristina Carrasco Bengoa, Carme Díaz Corral Editora Polen – 176 págs. O livro reúne artigos de pesquisadoras espanholas e latino-americanas que discutem a economia pelo viés do gênero, por meio de uma crítica ao pensamento econômico hegemônico e a proposição de novas alternativas para romper com as violências e opressões perpetuadas contra as pessoas mais vulneráveis, principalmente as mulheres. Os textos trazem à tona reflexões sobre capitalismo exploratório e a problemática do trabalho pela perspectiva social, ambiental, urbana, micro e macroeconômica. A Ascensão do Dinheiro Autor: Niall Ferguson Editora Crítica – 512 págs. Considerado pela revista Time uma das cem pessoas mais influentes do mundo, o historiador Niall Ferguson traz um estudo brilhante da história financeira em A Ascensão do Dinheiro. Ele explica por que os aspectos financeiros só fazem sentido se soubermos sua origem. E ainda documenta como uma nova revolução financeira está impulsionando alguns dos maiores países do mundo, da pobreza à riqueza, no espaço de uma única geração. Economia Pós-Pandemia Organizadoras: Ana Luíza de Oliveira, Ana Paula Guidolin e Andressa Pellanda O livro é a antítese da agenda econômica dominante no Brasil. Professores e pesquisadores revelam como a agenda da austeridade é anacrônica ao negar o papel da política fiscal como indutora do crescimento e do emprego e é cruel ao propor sacrificar as garantias constitucionais do financiamento dos direitos sociais. Seus capítulos denunciam as consequências sociais dos cortes de gastos e mostram como o discurso da austeridade fiscal é ideológico, falacioso e dogmático. Keynes x Hayek Autor: Nicholas Wapshott Editora Record – 448 págs. A obra desvenda as origens, o legado e as divergências intelectuais de dois dos maiores economistas da história, John Maynard Keynes e Friedrich von Hayek. Eles estiveram em lados opostos da maior batalha econômica de todos os tempos: se os governos deveriam ou não intervir nos mercados. Nas ruínas da Primeira Guerra Mundial, ambos estudaram o crescimento e a queda do ciclo de negócios, chegando a conclusões muito diferentes. Hayek achava que alterar o “equilíbrio natural” da economia resultaria em inflação galopante, enquanto Keynes acreditava que o desemprego em massa e a miséria que marcavam o fim de um ciclo poderiam ser encurtados com gasto governamental.

Economia do Desejo Autor: Eduardo Moreira Editora Civilização Brasileira – 80 págs. "Por que o neoliberalismo não nos levará a uma sociedade mais justa? O autor Eduardo Moreira revela por que é insustentável economicamente a ideia de que o Estado deve se preocupar mais com a economia do que com o atendimento das necessidades básicas dos cidadãos. Para isso, ele conceitua o que é a economia do desejo: aquela que trabalha com a falta incessante, que inclusive é responsável pelo alto consumo de supérfluos por determinada parcela da sociedade, enquanto outra parcela ainda está em situação de pobreza ou na linha abaixo da pobreza.

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Segurança Digital

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COMBATE ÀS AMEAÇAS

CIBERNÉTICAS Live promovida para Acrefi busca a disseminação do conhecimento para que a segurança digital proteja também pequenas e médias instituições financeiras Os ataques cibernéticos andam cada vez mais sofisticados. Diante do expressivo aumento das ameaças digitais, a cooperação e a atualização constantes se tornaram fundamentais no combate a fraudes e a outras investidas contra o sistema financeiro. Para contribuir na discussão desse tema essencial, a Acrefi promoveu a live

Segurança Cibernética: perspectivas, desafios e a contribuição do mercado financeiro

Foto: André Giorgi

Ao saudar os convidados, Luis Eduardo da Costa Carvalho, presidente da Acrefi, reforçou que a segurança cibernética vem causando inúmeras preocupações, lembrando ataques de hackers sofridos recentemente por grandes companhias. “Isso prova claramente a importância do tema segurança cibernética”, afirmou. Ele destacou ainda que a segurança cibernética é um grande desafio enfrentado especialmente pelas pequenas e médias instituições, que ao mesmo tempo em que veem crescer as oportunidades de negócios com o avanço da tecnologia também precisam lidar com a necessidade de investir em segurança da informação. Nesse sentido, a associação pode atuar como integradora dos negócios de menor porte, contribuindo para a disseminação de conhecimento no combate aos crimes cibernéticos.

“É preciso encontrar o equilíbrio entre esses dois mundos. O que insere as pequenas instituições no mercado, gerando oportunidades de negócios. E aquele das dificuldades que elas vão ter, pelo seu tamanho, de investir em segurança cibernética. Aí, eu vejo uma oportunidade para a Acrefi, dentro de um espírito colaborativo, de poder assumir um papel de integradora das pequenas e médias instituições, trazendo a elas a oportunidade de tomar conhecimento de medidas e práticas eficientes de combate às ameaças cibernéticas”, ressaltou.

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Segurança Digital

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Mediador do debate, Cleber Martins, que na época da realização do evento atuava como consultor de operações da Acrefi, disse que é preciso que não só o profissional de segurança de informação seja o grande responsável pelo tema nas empresas.

“Ele ainda tem que ser o guardião nas companhias, mas a difusão do conhecimento também tem que ser horizontal, envolvendo todas as áreas dentro do negócio, porque só assim conseguiremos somar esforços para enfrentar as ameaças”

Para Gustavo Monteiro, Managing Director do AllowMe, o perfil dos hackers mudou com a evolução das transações financeiras digitais. Se no início do internet banking, eles eram estritamente técnicos, dominando linguagem de programação e protocolos de segurança para praticar fraudes; agora, o “golpista do off-line” passou a atuar também de forma on-line, e de modo organizado.

“Eles são divididos por especialidades do ponto de vista de cibersegurança, têm as pessoas responsáveis por invadir, outras por tomar controle da rede e outras especializadas em extrair dados. Do ponto de vista da fraude, também existe uma especialização por atividades, como na área bancária, de fidelidade, de roubo de identidade”.

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Segurança Digital

26 Na visão de Jacques Coelho, Diretor Regional LATAM do FS-ISAC (Financial Services Information Sharing and Analysis Center), consórcio global dedicado a proteger o sistema financeiro de riscos cibernéticos, as metodologias usadas nos ataques são bem semelhantes no Brasil e no exterior. A prática mais comum é explorar uma brecha ou vulnerabilidade, falta de atualização, invadir os sistemas operacionais e roubar os dados para comercializar dentro da deep web ou de outra forma. O ransomware é o ataque que agora está na moda: em linhas gerais, mandar uma ameaça para os sistemas operacionais, bloquear todos os seus acessos e cobrar valores em criptomoedas para a liberação”, contou. Segundo Coelho, no último trimestre de 2021, só na América Latina, o FS-ISAC reportou 5.065 alertas de segurança relevantes para os chefes de segurança de instituições membros do consórcio. “As ameaças mais comuns já são vistas pelos profissionais de cibersegurança como rotina, já existe um roteiro de como agir, mas as variações dessas ameaças é o que preocupa porque eles (os hackers) têm mais recursos e tempo para aprimorar as táticas de invasão”, alertou.

Por não ser uma tarefa fácil antecipar-se a um ataque, avalia o especialista, a cooperação se torna importante no combate a ameaças cibernéticas. Coelho relatou que os membros do FS-ISAC se organizaram e agiram de forma colaborativa no enfrentamento ao ataque ransomware de 2017, que paralisou computadores em 150 países. Foram três dias de intensos trabalhos para desenvolver um material com informações para que as instituições pudessem se proteger da ameaça. Esse conteúdo foi compartilhado em conferência internacional emergencial com mais 2.300 chefes de segurança cibernética. “Quem não tinha esse suporte acabou sofrendo muito mais. Já a instituição com acesso a esse material colaborativo teve uma grande vantagem e saiu na frente. Protegeu seus ativos”, concluiu.

Assista ao evento na íntegra

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Palavra Final

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INFLAÇÃO GLOBAL É CRESCENTE E RESILIENTE

Até que limite elevar as taxas de juros?

Por Nicola Tingas Inflação elevada e resiliente reduz o poder de compra da moeda, muda os preços relativos, corrói a renda real, afeta o consumo, a produção e o investimento, restringindo o ritmo da atividade econômica. A inflação atual é um fenômeno global, cuja aceleração pode ser atribuída a mudanças bruscas de conjuntura que provocaram “choques de oferta” e “choques de demanda”. Em 2020, para evitar queda brusca e enorme de seus PIBs, países centrais e alguns emergentes, com possibilidade e/ou capacidade de elevar seus gastos públicos, injetaram enorme liquidez, crédito público e incentivos econômicos para atenuar a forte trajetória de queda econômica. Em 2021, essas políticas tiveram continuidade em muitos países, gerando crescimento circunstancial. A contrapartida de contínuos e enormes estímulos econômicos – em quadro de ainda lenta e complexa retomada da oferta econômica – em particular nos Estados Unidos – foi a criação de “bolha de consumo” episódica que ampliou a pressão inflacionária. Em 2022, a invasão da Ucrânia pela Rússia provocou novo e enorme choque de oferta e um conflito global que começa a instabilizar o modelo político e econômico da globalização. Isso gerou novos gargalos de oferta de commodities e componentes para produção; crescente movimento de “fechamento de economias” com políticas de estoques estratégicos; e incentivo da substituição de importações escassas por produção local. O efeito agregado desse contexto histórico é de pressão contínua na taxa de inflação global. A aceleração persistente da inflação global é um fenômeno amplo que cria enorme desafio aos

bancos centrais na defesa das moedas nacionais. A necessidade de coibir o surto inflacionário – inclusive de características estruturais – tem demandado crescente aperto monetário. O dilema dos bancos centrais, principalmente do FED (Estados Unidos) e de outros países centrais é fazer política monetária restritiva sem provocar recessão, o que é cada vez mais difícil na conjuntura global atual. Nos países latinos, e em particular no Brasil, o ajuste crescente das taxas de juros foi realizado com maior velocidade (vide gráfico). Aqui, apesar da hipotética proximidade do fim da pressão inflacionária, é intenso o debate entre mercado financeiro, economistas renomados, e Banco Central do Brasil sobre qual é o limite de alta da taxa de juros (SELIC) e da duração do ciclo de aperto monetário. (*) Nicola Tingas é consultor econômico da Acrefi. Artigo concluído em 30.5.2022

Taxa de juros, %

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