Jornal Unesp - Número 349 - novembro 2018

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Novembro 2018

O moderador desse diálogo, Milton Lahuerta, fez dois questionamentos para os debatedores. O docente apresentou sua dúvida sobre a proposta de Schwartzman de a Unesp investir mais na formação docente, dando menos ênfase à pesquisa. “Só a Unesp teria de encontrar o seu lugar no sistema público paulista?”, indagou. Schwartzman respondeu que não se trataria de uma divisão estrita de funções, mas advertiu que as universidades têm que investir nas áreas em que demonstrem mais potencial. “A Unicamp tem desenvolvido muita pesquisa aplicada e poderia maximizar isso”, apontou. Em relação às propostas de Nogueira, Lahuerta questionou como seria possível garantir a consolidação de lideranças intelectuais quando o sistema universitário obedece a uma lógica de especialização, que limita uma influência mais ampla dos possíveis líderes. Nogueira reconheceu que a resolução desse problema não seria fácil: “Uma solução seria talvez inserir professores de diferentes formações em diferentes áreas”, sugeriu.

SEGUNDO DIÁLOGO: SINTONIA COM A TRANSFORMAÇÃO No segundo diálogo, intitulado “A missão da Universidade em um mundo em transformação”, teve como participantes Conrado Schlochauer, embaixador da Singularity University, Carolina Fouad Kamhawy, gerente do Núcleo de Carreiras e do Programa Resolução Eficaz de Problemas do Insper, e Silvio Bitencourt da Silva, da Unisinos. A mediação foi feita pela professora Gladis Massini-Cagliari, pró-reitora de graduação da Unesp. A pró-reitora acentuou que a universidade não pode ficar alheia às transformações da sociedade na qual está inseida. “Ela tem como missão formar cidadãos globalmente engajados, com visão sobre os grandes problemas mundiais – profissionais bem preparados, com capacidade para solucionar problemas complexos de uma sociedade em constante transformação de maneira flexível e inovadora”, argumentou. “Obviamente essas transformações impactam o ensino e os recursos de formação possíveis para os nossos alunos e, por outro lado, também, os alunos que recebemos hoje na universidade não são iguais aos que recebíamos há vinte anos.” Segundo Schlochauer, a aprendizagem é a explicitação

Reportagem de capa

do conhecimento por meio de uma performance melhorada. “Eu demonstro aprendizado quando eu explicito fazendo algo melhor: pode ser pesquisa, pode ser crochê, pode ser um risoto”, definiu. Na sua opinião, a aprendizagem exige a figura do professor e não pode ser confundida com a simples aquisição de conteúdo, que pode ser feita na rede por qualquer usuário de internet, por exemplo. Para o pesquisador, a aprendizagem deve ser um processo realizado durante toda a vida. “Cometemos um erro quando consideramos que a aprendizagem apenas ocorre até os 25 anos de idade.” Ele citou um exemplo de ensino superior on-line oferecido nos Estados Unidos com foco no mercado de trabalho, em que o programa é montado em conjunto com executivos, que participam desde a definição dos temas até as discussões com os alunos. “É um processo totalmente on-line nas aulas e totalmente presencial nas discussões”, explicou. O pesquisador citou também o exemplo norte-americano do chamado tech higher, em que a sociedade, as empresas e as universidades se unem para analisar questões de emprego e elaborar programas nas universidades. Ele comentou ainda a respeito da questão da falta de recursos: “Dinheiro é uma parte dos recursos, mas tem outros recursos além do dinheiro que talvez sejam mais relevantes, que são o tempo dos senhores, que são o tempo dos alunos dos senhores, que são o interesse dos senhores e o desejo dos senhores e senhoras de fazer pesquisa, de estar com o aluno”, assinalou. Carolina explicou o funcionamento de sua área nessa instituição, que estimula uma interação intensa com as empresas. “O meu foco no Insper é fazer a gestão de todo o relacionamento com o mercado de trabalho, dando ênfase para a inserção de nossos alunos no mercado”, informou. Ela ressalta a preocupação de seu setor em buscar entender o que o mercado de trabalho está exigindo dos jovens para atender a suas necessidades. “Temos projetos como o ‘Resolução eficaz de problemas’, em que os alunos resolvem problemas complexos dentro das organizações”, assinalou, acrescentando que esse trabalho é realizado com material fornecido pelas empresas. “Eles passam por essa experiência no sexto semestre. Então eles ficam imersos no

mercado de trabalho, atuando em problemas reais das organizações.” Além de projetos como esse, Carolina revela que há iniciativas em que as empresas podem participar, como as chamadas atividades complementares, nas quais profissionais do mercado promovem, junto aos alunos, o aprendizado de conteúdos que os jovens não têm na sala de aula. Ela explica que há, ainda, iniciativas como feiras de ciências, mentorias – em que as organizações levam profissionais para monitorar projetos dos estudantes –, rodas de conversas e mesas redondas. Segundo a gestora, o Insper realiza uma constante pesquisa entre os próprios alunos para avaliar o curso e apresentar suas expectativas em relação a sua carreira e ao mercado. Professor da Unisinos e gestor de seus institutos tecnológicos, Silva argumentou que o ensino superior mundial vive hoje uma “tempestade perfeita”. Isso ocorre, segundo ele, por três motivos. O primeiro deles seria a crise da universidade como organização. “Nós carecemos, nas universidades, de reflexão sobre nossos propósitos: para que serve a universidade, quais os papéis, a que fim ela se destina?”, afirmou. O segundo estaria nas perspectivas futuras de emprego dos formados, diante da dinâmica do mercado. “Seguindo a legislação existente, eu elaboro um projeto de curso este ano para promoção do conselho no ano que vem, lanço o vestibular em setembro ou outubro, o aluno começa a cursar em 2020 e se forma em 2025. Se eu seguir todo o

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Empenho docente importa mais que recursos, segundo Schlochauer

Ensino superior vive ‘tempestade perfeita’, na opinião de Silva

Gladis: universidade não pode ficar alheia a problemas sociais

O aluno pede para conhecer as organizações. Ele fica sedento de saber como vai ser a sua empregabilidade, como o mercado vai aceitar a formação que ele está tendo no Insper. Ele se preocupa também com os gaps que vai ter para não enfrentar uma realidade tão chocante que ele se frustre e não consiga atingir os objetivos que o mercado tem determinado.

Carolina Fouad, gerente do Núcleo de Carreiras e do Programa Resolução Eficaz de Problemas do Insper


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