Edição 299 Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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10 DE MARÇO DE 2020 ANO XXX Nº299 GRATUITO PERIÓDICO DIRETOR PEDRO EMAUZ SILVA EDITORES EXECUTIVOS LUÍS ALMEIDA, HUGO GUÍMARO E DANIELA PINTO

acabra JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Num março em que se comemora tanto o Dia Internacional da Mulher como o aniversário da Universidade de Coimbra, o Jornal A Cabra decidiu relembrar aquelas que, mesmo caladas, falaram mais alto. pág. 2-3

129 anos de mulheres em 730 anos de UC - PÁG. 4 -

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ENSINO

CULTURA

DESPORTO

CIÊNCIA

CIDADE

Medidas preventivas face ao surto do coronavírus afetam aulas de Medicina e serviços da UC

Coimbra, tainadas e humor. Uma conversa com o emigrante em Coimbra mais conhecido de Portugal

CD/AAC garante que obras no Pavilhão Jorge Anjinho estão a dias de começar

CMC não tem registo de reclamações da falta de ecopontos ou locais para descarte de indiferenciados­

Zucatuga é a nova web­rádio que abre espaço para discussão dentro da comunidade brasileira em Portugal


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Galantíssimas ‘demoiselles’, 129 anos de história

y - 1911 -

Primeira docente Foram as circunstâncias que, em 1911, trouxeram Carolina Michaëlis de Vasconcellos a Coimbra. Alemã de nascença e portuguesa pelo casamento, Carolina foi nomeada profes­ sora de Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. No entanto, por residir no Porto e ter de cuidar do marido, que nessa altura estava doente, nunca exer­ceu funções em Lisboa e acabou por pedir transferência para a UC. Com o pedido aprovado, em dezembro desse ano tornou-se a primeira do­ cente de uma universidade portuguesa. Como fru­ to do seu sucesso na academia, gerou as bases para a criação de um instituto alemão em Coimbra.

No ano letivo 1911/1912, a UC recebeu Maria Conceição Basto, a primeira mulher empregada pela instituição. Desempenhava o papel de regen­ te na maternidade situada no hospício distrital de Coimbra, mais tarde anexada à Faculdade de Me­ dicina da UC. As funcionárias eram escolhidas pelo diretor da maternidade, que tinha o poder de as suspender, contratar ou despedir quando achasse necessário. Mais tarde, a equipa passou a contar com a ajuda de uma auxiliar, uma ama, duas criadas, amas de leite, um criado para serviço externo e uma lavadeira.

Em pleno Estado Novo, Maria do Carmo Antunes Batista matriculou-se no curso de Ciências Biológicas na UC, no ano letivo de 1936/1937. Natural da cidade de Praia, foi a primeira aluna cabo-verdiana de que se tem registo na universidade. Concluiu o curso a 31 de julho de 1940. Todavia, apenas no final da década é que a presença de alunas naturais das ex-colónias passou a ser, de facto, expressiva.

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- 1936 -

Primeira estudante cabo-verdiana

Adoção do traje académico feminino

Primeira professora cate­drá­ tica

- 1964 -

Nos Palácios Confusos nº28 nasce a primeira residência universitária feminina de Coimbra. Quatro estudantes da UC – Dionísia Camões, Maria Teresa Cabral da Silva Basto, M a r i a Virgínia de Abreu Ferreira de Almeida e Elisa Augusta Vilares – fundaram, a 20 de janeiro de 1920, aquilo que denominaram de “República”. Dentro do espírito do Estado Novo, as jovens exerciam deveres sociais e domésticos subordi­ nados pelos princípios cristãos, como “trei­no” para futuras donas de casa. Além disso, exis­tiam algumas regras: não era permitida a entrada a homens se não estivessem acompanhados de uma delas e o seu quotidiano era registado num diário que mantinham dentro de casa.

Tanto para os rapazes como para as raparigas, o traje académico tornou-se um símbolo da identidade estudantil. Porém, só em 1951 é que as alunas da UC acolheram o uso de um traje tipo uniforme. Esta mudança adveio de uma decisão tomada pelas integrantes do Teatro dos Estudantes da UC. Com o intuito de reduzir o incómodo e os custos da viagem, optaram por um conjunto mais prático e fácil de transportar, enquanto se preparavam para uma digressão pelo Brasil.

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- 1951 -

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Devido ao aumento signi­ ficativo de estudantes femi­ ni­ nas, estas começaram a ter uma maior intervenção na esfera académica. Foi no decurso desta mudança que os estudantes de Medicina – “ó braves cadets de Gascogne!”, como eram chamados nas páginas da “Ilustração Portu­ guesa” – elegeram a quintanista e estudante de Medicina, Maria da Conceição do Sameiro Ferro da Silva, para os representar na Assem­ bleia Geral da UC. Em 1912, era chamada de “galante aluna” pela imprensa.

Primeira residência universitária feminina

- 1920 -

- 1891 -

Primeira estudante Trajada de preto, com um chapéu a cobrir os cabelos para não se distinguir entre os colegas. Era como Domi­ tila Hormizinda Miranda de Carvalho se apresentava na Universidade de Coimbra (UC). Natural de Vila da Feira, antigo nome do con­ celho, no distrito de Aveiro, foi no ano letivo de 1891/1892 que recebeu permissão para ingressar na UC. O reitor, que aceitava pela primeira vez uma mulher na comunidade estudantil, ditava o modo como se vestia. Durante cinco anos, foi a única aluna da universidade e concluiu com distinção os cursos de Matemática (1894), Filo­ sofia (1895) e Medicina (1904). Após finalizar os estu­dos, tornou-se poetisa e escritora, foi direto­ ra do primeiro liceu feminino português – Liceu Maria Pia, em Lisboa – e foi uma das três primei­ ras deput­adas portuguesas.­

Primeira funcionária da universidade

Primeira aluna a representar os estudantes na Assembleia Geral da UC

- 1912 -

- POR CÁTIA BEATO E LUÍSA TIBANA -

- 1911 -

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o âmbito da celebração dos 730 anos da Universidade de Coimbra e do Dia Internacional da Mulher, o Jornal A Cabra reuniu informações sobre as primeiras mulheres a fazer parte desta história. Nas primeiras décadas do século XX, as chamadas galantíssimas ‘demoiselles’ tinham participação limitada na academia. De 1891 até os dias de hoje, conquistaram o seu espaço de direito apresentando-se nas mais diversas posições, exercendo cargos até então dominados por homens.

Em 1925 nasceu a mulher que se viria a tornar na pri­ meira professora catedrática da UC. Maria Helena Mon­ teiro da Rocha Pereira, natural do Porto, começou o percurso académico em 1947, na Faculdade de Letras da UC (FLUC), onde se formou em Filologia Clássica. Em 1964, oito anos após a conclusão do douto­ ramento, alcançou o topo da carreira univer­ sitária enquanto lecionava Literatura Grega. Dirigiu também as revistas “Biblos” e “Huma­ nitas”, foi bolseira do Instituto de Alta Cultura na Universidade de Oxford, no Reino Unido, e ministrou cursos de pós-graduação em duas universidades brasileiras. Nos dias de hoje, é considerada uma das maiores especialistas em Estudos Clássicos.

Fontes: Livro “A Mulher na Universidade de Coimbra”, Joaquim Ferreira Gomes Artigo “Mulher na universidade de Coimbra: o caso das primeiras estudantes caboverdianas”, Irene Varquinhas Dissertação de Mestrado “As mulheres na Universidade de Coimbra ao tempo da Primeira República (1910-1926), Ana Marcella de Carvalho Revista “Ilustração Portuguesa”, n.º 310, Lisboa, 29 de Janeiro de 1912 Livro “ACC: os Rostos do Poder” Artigo “As primeiras mulheres assistentes e doutoradas na secção de ciências matemáticas da Universidade de Coimbra”, João Luís da Costa Nunes, em “História da Matemática” Artigo “A decana de Coimbra”, Expresso


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M de março, M de mulher: Coimbra rumo à igualdade de género Quartanista de Letras e filha de Miguel Torga, Clara Crabbé Rocha, assumiu, em 1976, o cargo de presidência da Associação Académica de Coimbra (AAC) que, até en­ tão, nenhuma mulher tinha conseguido atingir. Após 72 mandatos masculinos, a estudante natural de Coimbra e licenciada em Filologia Românica não foi muito bem aceite por alguns setores da academia. De­ pois de poucos meses e devido a uma moção aprovada em Assembleia Magna, demitiu-se e deu lugar a Henrique Fernandes. A anti­ ga presidente ensinou durante dez anos na FLUC, antes de se tornar professora cate­ drática na Universidade Nova de Lisboa, em 1995. No ano de 2004, esteve na Uni­ versidade Sorbonne, em França, como pro­ fessora­convidada. Além de Clara, somente duas outras mulheres presidiram a AAC, sendo elas Ana Paula Barros (1988) e Zita ­Henriques­ (1995/1996).

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- 1976 -

Primeira presidente da AAC

- 1989 -

Primeira tuna feminina da UC – As FANS Em fevereiro de 1989, um grupo de amigas da FLUC, que tinha como ponto de encontro a sede da Falange de Apoio Negro – também conhecidos como FANS – criou a primeira tuna feminina da cidade e a segunda de Por­ tugal. De início, Deolinda, Vanda Pinheiro, Ana Pinheiro e Maria Conceição Lopes de­ nominavam-se “as FANS dos FANS”. As in­ tegrantes de hoje, não se intitulam sequer de tuna, são “As FANS”. É a música “Sonho a Preto e Branco” que melhor as define e que deu nome ao primeiro CD de originais. To­ dos os anos, na altura das duas maiores fes­ tas académicas, a Festa das Latas e Imposição de Insígnias e a Queima das Fitas, juntam-se com as integrantes mais antigas para tocar. Cada geração traz consigo singularidade, sem esquecer a tradição e os valores da academia. Trajadas a rigor e sem a utilização de estand­ artes ou outros artifícios visuais como parte das atuações, as FANS orgulham-se da sua simplicidade.

Fontes: Revista “Ilustração Catholica”, n.º 162, Braga, 5 de Agosto de 1916 Nota sobre a autora (Maria Helena da Rocha Pereira), “Estudos de História da Cultura Clássica II Volume II Cultura Romana” Website http://notasemelodias.blogspot. com/2011/10/notas-sobre-origem-e-evolucao-da-ca­ pa-e.html

“Não podemos aceder a cargos de direção porque esses são lugares para homens”, condena integrante da SDDH/AAC. Contornar o feminismo branco é uma das principais metas da equipa. - POR GUSTAVO FREITAS E MAFALDA PEREIRA -

Março é o momento mais em­ blemático do ano para as lutas feministas. Em torno do Dia Inter­ nacional da Mulher, estão a decor­ rer concertos, exposições, tertúlias, oficinas e feiras. A abordagem vai desde o mercado de trabalho, seja na esfera privada como na própria Universidade de Coimbra (UC), até às temáticas transfeministas. Bares e outros espaços da cidade asso­ciamse à programação deste mês. Clara Sandra é uma das inte­ grantes da Rede 8 de Março, em Coim­bra, a organização que cum­ pre o papel agregador de asso­ ciações no movimento feminista, a nível nacional. A entidade dialoga com as diversas iniciativas a fim de construir um calendário comum e plural. A ativista, que está inserida no mercado de trabalho, acredi­ ta que as mulheres trabalhadoras constituem um dos “principais pú­ blicos a ser alcançados”. Este ano, o dia 8 de março acon­ teceu num domingo. Mesmo assim, é necessário entrar em contacto com os sindicatos para a convo­ cação de uma greve formal. “Espe­ cialmente em Coimbra, há muito trabalho precário, ao domingo já não existem tantos setores que es­ tejam fechados”, conclui ao explicar o quanto a pressão patronal é uma barreira à adesão. A Secção de Defesa dos Direitos Humanos da Associação Académi­ ca de Coimbra (SDDH/AAC) está integrada nesta mobilização. O gru­

GUSTAVO FREITAS

po está a organizar várias iniciati­ vas: uma oficina de cartazes para a greve; a tertúlia “Empodera-te”, que acontece a 12 de março; e a tra­ balhar para integrar professoras da UC nos movimentos. A coordena­ dora do Doutoramento em Estudos Feministas do Centro de Estudos Sociais da UC, Adriana Bebiano, é uma das profissionais associadas às atividades promovidas pela secção. Sara Marinho é uma das articu­ ladoras das atividades da SDDH/ AAC. Ainda na faculdade, está já a combater disparidades de género que consegue prever no seu futuro meio profissional. “Estudo Direito e tenho a certeza de que os lugares de topo na minha área estão ent­ regues a homens. Vejo os tribunais portugueses com sentenças que ex­ primem machismo puro”, condena. Foi na cidade dos estudantes que Clara Sandra deu conta que “uma mulher quando sai à rua nunca está segura”. Este momento foi catalisa­ dor para a sua integração nos movi­ mentos em prol de minorias. Além da questão da segurança feminina, a ativista destaca que ser LGBTQIA+ torna alguém ainda mais vulnerável. Conta ainda: “o que me fez entrar neste tipo de lutas foi a falta de credi­ bilidade que nos é dada por sermos mulheres e não podermos aceder a cargos de direção porque esses são lugares para homens”. A transversalidade é uma das marcas da mobilização feminista atual em Portugal e reflete-se na

programação deste mês. De acordo com Clara Sandra, além da aborda­ gem da questão LGBTQIA+, há tentativas de aproximação a mov­ imentos étnicos. “Ainda é compli­ cado tornar diverso um feminismo que é considerado branco, mas es­ tamos a tentar desenvolver projetos com mulheres ciganas, por exem­ plo”, acrescenta. Dentro da agen­ da deste ano, repúblicas estudantis em Coim­bra realizaram o Festival Transfeminista para promover o debate sobre direitos e inserção de mulheres transexuais na sociedade. Em 132 anos de história da AAC, apenas três mulheres chegaram à presidência da Direção-Geral da AAC. Sobre essa participação políti­ ca, Sara Marinho diz não ser capaz de fazer uma avaliação precisa, mas arrisca que isso talvez se deva a uma convicção de que esta é “um sítio para homens”. Acrescenta que “há, entre os portugueses, um certo co­ modismo, diferente de estrangeiros vindos do Brasil, por exemplo”. “Como achamos que estamos bem dentro dos padrões considerados corretos, há o sentimento de que não vale a pena lutar mais”, apon­ ta­Sara Marinho como agravante à ausência da participação política feminina. As atividades seguem durante o mês de março de forma mais in­ tensa, mas acontecem mobilizações durante todo o ano. A Greve Femi­ nista saiu às ruas no dia 8, em várias cidades do país.


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Coronavírus: planos de contingência da UC Estudantes defendem que principais problemas residem na falta de comunicação com coordenadores de área. Experiência de mobilidade pode resultar em mais um ano de licenciatura - POR JOANA CARVALHO E CARINA COSTA -

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OVID-19 é o nome dado à doença cau­ sada pelo novo coronavírus, que, nos úl­ timos dois meses, se tem espalhado por vários países do mundo. Com um caso confirmado na cidade, a Universidade de Coimbra (UC) publi­ cou um despacho a enunciar algumas medidas de prevenção, na tentativa de minimizar o contacto presencial entre estudantes e funcionários. De acordo com a Direção-Geral da Saúde, a in­ feção tanto pode assemelhar-se a uma gripe co­ mum, como pode apresentar-se na forma de uma doença mais grave, como a pneumonia. Os sinto­ mas mais frequentes incluem febre, tosse e dores musculares. Existem mais de 20 casos confirma­ dos em Portugal. Segundo o Relatório de Situação da DGS publicado no dia 6 de março, refere tam­ bém um total de 181 casos suspeitos desde janeiro deste ano. Também a Faculdade de Medicina da UC (FMUC) tomou medidas face à propagação con­ tínua da doença. Antes de haver casos confirma­ dos no país, o Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra (NEM/ AAC) já tinha avançado um comunicado com providências a ter no que concerne ao funciona­ mento das aulas do curso. Segundo este, as lições práticas deixam de implicar contacto com pacien­ tes “em qualquer enfermaria hospitalar” e passam a ser restritas às salas de aula. A presidente do NEM/AAC, Catarina Doura­ do, aponta que, “até agora, a FMUC foi a única escola médica a tomar estas atitudes preventivas”. A dirigente associativa deu a conhecer a preocu­ pação por parte de alunos que estiveram de férias no estrangeiro, no início do segundo semestre. Acrescenta que estes estudantes entraram em contacto com o NEM/AAC sobre as precauções que haviam de tomar devido ao estado atual nos restantes países afetados, como Itália.

“Todos os que regressaram de mobilidade fizeram um período de quarentena de 14 dias”, adianta a presidente. Quanto a quem voltou de férias, Catarina Dourado explica que, “consoante a loca­lização e há quanto tempo estiveram fora do país, o núcleo recebe o contacto e transmite à faculdade”. Ressalva ainda que “os alunos que se submeteram à quarentena voluntária não vão ter faltas marcadas, quer nas aulas práticas, quer nas teóricas”. O contacto direto dos estudantes com doentes de risco, com, por exemplo, problemas respiratóri­ os ou cardiovasculares, só acontece na FMUC, aponta o reitor da UC, Amílcar Falcão. Neste sentido, a direção da faculdade e o hospital che­ garam à decisão unânime de alterar o regime das aulas práticas, de forma a não colocar ninguém em ­risco.­ Catarina Dourado reconhece que, na reali­ dade da medicina, o cuidado com pacientes de­ bilitados é importante. A dirigente explica que, “a partir do quarto ano, os estudantes passam todos os dias com estes pacientes e as conse­ quências de uma pequena infeção são potencia­ das”. Enquanto núcleo de estudantes, a presi­ dente assegura que apoiam a decisão da direção da faculdade e garante que estão disponíveis para “discutir eventuais medidas necessárias, consoante a evolução da infeção”. A DGS recomenda a toda a população que re­ gressou de uma área afetada que evite contacto próximo com outras pessoas. Reforça também as medidas preventivas base como tapar o nariz e a boca, ao espirrar ou tossir, com o braço ou com um lenço de papel, que deve ser colocado imedi­ atamente no lixo, e lavar, sempre que possível, as mãos com água e sabão. O reitor declara que “o assunto está a ser acom­ panhado e que foi criado um gabinete para o

Os estudantes responderam a um inquérito relacionado com a propagação do novo coronavírus e com a respetiva resposta da universidade.

efeito”. Segundo o mesmo, “tem-se seguido à ris­ ca todas as instruções da DGS, como a colocação pela universidade de dispositivos de higienização e informação sobre o que as pessoas devem ou não fazer”. Reforça também que as entradas e saídas do país de toda a comunidade académica estão a ser monitorizadas. Amílcar Falcão garante que já há um plano pre­ visto para um cuidado próximo dos estudantes que não podem regressar a casa, em que a uni­ versidade “vai cuidar da situação”. Por enquanto, a reitoria ressalva que está “a tratar do assunto da melhor forma possível, sem alarmismos”, e que se mantém à espera de uma comunicação mais dire­ cionada para as universidades, por parte da DGS. No passado dia 6, já após a entrevista dada pelo reitor ao Jornal A Cabra, a universidade lançou um despacho, no qual apela a que “seja privilegia­ da a utilização de meios eletrónicos de comuni­ cação e de assinatura digital” em quaisquer atos de validação de documentos ou celebração de con­ tratos, em contexto académico. O atendimento e prestação de serviços presenciais são desencoraja­ dos e informa-se também que trabalhadores mais vulneráveis, como grávidas e idosos, vão poder “iniciar funções em regime de teletrabalho, total ou parcial, logo que possível”. De acordo com a Direção-Geral da Saúde, a in­ feção tanto pode assemelhar-se a uma gripe co­ mum, como pode apresentar-se na forma de uma doença mais grave, como a pneumonia. Os sinto­ mas mais frequentes incluem febre, tosse e dores musculares. Existem mais de 20 casos confirma­ dos em Portugal. Segundo o Relatório de Situação da DGS publicado no dia 6 de março, refere tam­ bém um total de 181 casos suspeitos desde janeiro deste ano. O Jornal A Cabra tentou entrar em contacto com José Pedro Figueiredo, pró-reitor e responsável pe­ los comunicados referentes ao novo coronavírus, mas este recusou-se a prestar declarações. Alguns alunos deixaram as suas sugestões para a ação futura da UC e as suas opiniões acerca das estratégias da comunicação social na cobertura do tema. “Sensibilizar para o facto de esta pandemia não ser justificação para a xenofobia, uma vez que os estudantes internacionais não são o vírus”. “Os professores têm de ser mais bem informados sobre o tema”. “Formem pessoas civilizadas e cultas e não robôs que decorem conceitos”. “Deviam ser canceladas atividades internacionais, como conferências e colóquios”. “Não há muita higiene nas cantinas. Por exemplo, já vi alunos a encostar o copo usado no botão para tirar a água. Devíamos ter por norma carregar com a mão em vez de com o copo”. “É claramente uma questão de tempo até a situação estar controlada a nível global”. “Os meios de comunicação, enquanto serviço público, devem noticiar de forma mais consciente, sem tornar a gravidade do vírus três vezes pior. O mais importante é não criar pânico”.


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O emigrante em Coimbra que foi dos quadradinhos­­ ao grande ecrã

O filme do Bruno Aleixo estreou em janeiro.­Um mês e meio depois, João Moreira chega à redação do Jornal A Cabra cansado de entrevistas. Aliás, cansado das perguntas­que parecem ser sempres as mesmas. ­C onseguiu, ainda antes da entrevista, adivinhar três ou quatro perguntas preparadas para ele. Não recusou responder, então conversá­ mos­sobre o João, o que significa con­ versar sobre Coimbra, tainadas e humor.

CÁTIA BEATO


6 cultura 10 de março de 2020 Bruno Aleixo e João Moreira não são a mesma pessoa, mas a chico-­ espertice de um teima em aparecer no outro. Contra as expectativas, humorista vive em Coimbra, a casa que é sua desde que nasceu - POR BRUNO OLIVEIRA E XAVIER SOARES -

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contece muitas vezes o amigo e colega de trabalho há mais de uma década, Pedro San­ to, tentar contactar o João e ele estar, por exemplo, em “Poiares a comer chanfana”. Podemos encon­ trá-lo muitas vezes a percorrer esse circuito à volta de Coimbra. Concordam que isso não interfere no trabalho, ambos dizem que é pesquisa, e quem vê o Bruno Aleixo percebe porquê. A relação da dupla que escreve e dá voz ao uni­ verso Bruno Aleixo começou nos bastidores de um programa de Fernando Alvim, e com ambição de fazer algo diferente daquilo que estava a ser feito no âmbito do humor em Portugal. Pedro diz que, já na altura, João andava a saltar entre Coimbra e Lisboa, entre a cidade que ama e aquela que lhe dá trabalho. O “saltimbanco”, como Pedro lhe chamou, anos mais tarde e finalmente fixado em Coimbra, confessa que é chato ter de justificar viver na cidade dos estu­ dantes. Continua por aqui, contra as expectativas e sem justificações transcendentes. É a sua cidade, onde vivem a família e os amigos. Ao contrário do Bruno Aleixo, não foge para o Brasil (neste caso para Lisboa), e às terças-feiras costuma almoçar arroz de feijão com panados no Académico. Aleixo na escola A família de João é de Anadia, a mãe de São Paulo, mas ele é de Coimbra. Foi onde cresceu e onde estudou. Desde mui­ to novo que fazia banda desen­ hada, já cómica. Assim,

desenvolveu aptidões na criação de narrativa e enre­ do, mas sobretudo gráficas. Anos depois, esse passado levou-o a seguir Artes Plásticas num instituto que já não existe. Lá foi estudante nos anos 1990. O curso de cinco anos parece não ter fugido muito à típica experiência coimbrã: entre copos e festas surgem algumas histórias, entre elas a célebre brincadeira do caloiro de Psicologia que, afinal, era um finalista de Artes Plásticas. Em retrospetiva aos anos de secundário, confes­ sa que não era o “palhaço” da turma, mas que con­ seguia ser diferente dos “betos de Coimbra”. “Mas não era nenhum gótico que não tinha amigos, era um gajo normal”, tranquiliza João Moreira. Depois da faculdade, seguiu até Lisboa para estudar guion­ ismo em 2005, como forma de desenvolver as ap­ tidões narrativas que tinham ficado em ‘stand by’ até então. Esse curso e a experiência da Rádio Univer­ sidade de Coimbra (RUC) abriram, mais tarde, as portas da televisão. De Coimbra a Lisboa com desvio na Bairrada No “vaivém” constante entre a capital do seu coração e a capital do seu trabalho, João é um verda­ deiro “emigrante em Coimbra”. Embora reconheça que viver longe de Lisboa tenha algumas desvanta­ gens em termos profissionais, as tainadas, o sarra­ bulho ou as longas tardes de convívio na Bairrada, compensam toda esta relação à distância. A sede da RTP, situada em Coimbra, faz encurtar a distân­ cia da viagem que o Bruno Aleixo e o Homem do Bussaco fazem até aos estúdios em Lisboa. Lá, es­ peram-nos Pedro Santo, ou Busto, como também é conhecido por quem acompanha o trabalho dos dois humoristas. “Coimbra não é a melhor cidade do mundo”, e o próprio reconhece que o rumo dos acontecimentos podia ter sido diferente se tivesse nascido em Aveiro ou Bragança. Contudo, há paixões que não se expli­ cam, e o amor pela cidade é uma delas. Como em qualquer outra paixão, por vezes é preciso dis­ tanciamento para voltar a perceber os motivos que o levam a sentir-se em casa na cidade dos estudantes. É nestas alturas que o “saltim­ banco” toma a decisão de se embrenhar no trânsito lisboeta e onde se revela, aos olhos de quem o acompanha, um total lunático no “pára-arranca”. Uma curta temporada em Lisboa é suficiente para não ter dúvidas que é longe da confusão que quer estar. “Às vezes é importante lembrar porque não se gosta de alguma coisa”, comenta com o sorriso sábio de quem sabe que o seu habitat natural é no sossego das margens do Mondego. Embora tenha passado pela RUC e tenha vivido todo o fervoroso espírito da Associação Académica de Coimbra, é pelo Clube União 1919 (o velhinho União de Coimbra) que torce reli­ giosamente. Para os mais aten­ tos não é um choque, já que o cachecol vermelho e azul do histórico emblema de Coim­ bra aparece inúmeras vezes referenciado pelo york­ shire terrier a quem dá vida através do seu in­ confundível sotaque.

Da caixa de comentários às bilheteiras Pode ser difícil falar de João Moreira sem falar das personagens que criou. A sua voz não engana nem os mais distraídos. Pedro Santo conta que as pessoas têm tendência a pensar que os guionistas são as personagens. Por essa razão, quando implica com o João acham estranho: estão habituados a ver Bruno Aleixo a atormentar Busto. Para os fãs que não sabem onde começa o Bruno e acaba o João, o guionista esclarece que há dias em que é mais Re­ nato ou Homem do Bussaco que Bruno Aleixo. As personalidades que ambos inventaram têm identi­ dades bem definidas, desde o princípio que tentam passar a ideia de que elas realmente existem. Por isso mesmo, criaram perfis nas redes sociais, numa altu­ ra em que isso não era de todo comum. Depois do curso em Lisboa e antes de conhecer Pedro Santo, João trabalhou na capital, numa agência de publicidade. Com a sua experiência na RUC e talento vocal, tinha alguma facilidade em tra­ balhos tipicamente difíceis, como fazer “lagartixas” para os ‘spots’ da rádio. Acabou por desistir do mar­ keting, descontente com o pagamento. No entanto, quando precisou de ganhar dinheiro, trabalhou em bares e fez programação para o Aqui Base Tango, por exemplo. Conheceu em 2007, nos bastidores dos Incor­ rigíveis, o colega que ficou até hoje. Por ali desen­ volveram a ideia do Bruno Aleixo, que foi rejeitada na altura. Os famosos conselhos do Aleixo foram o ponto de partida (na altura, vídeos de 30 segun­ dos feitos na demo de um software de edição): um ‘ewok’ que finge a sua morte e foge para o Brasil. Mais tarde, no Programa do Aleixo, revelou a sua nova cara, que todos conhecem, e que em janeiro apareceu no grande ecrã. Desde o humilde início no Youtube, Bruno Aleixo já conheceu muitos forma­ tos. Vídeos para a Sapo, Programa do Aleixo na Sic Radical e rubricas na rádio. A websérie é já de culto, principalmente no Brasil. O sucesso no outro lado do Atlântico ninguém consegue explicar com exatidão, mas parece ser incontornável. João confes­ sa que é daquelas coisas que mais vezes lhe pedem para explicar. A intenção foi fugir ao formato ‘sketch’, já muito explorado na altura. Atualmente, depois de anos de prática, os dois colegas trabalham à noite, cada um em sua casa. Ambos concordam que, ao longo dos anos, a escrita ficou mais fácil. Hoje em dia, o mais difícil é saber do que falar nas três rubricas sema­ nais na rádio. Para João, basta saber qual é a situação, qual é o problema ou o conflito. Daí, as reações de cada uma das personagens vêm como instinto. Tese de doutoramento em humor Não faltam histórias em que o autor de Bruno Aleixo surge como personagem principal, tal qual uma comédia. Isto para deleite de Pedro Santo, que ri cada vez que se lembra de algumas das situações mais caricatas do amigo. Uma das mais emblemáticas histórias remonta ao momento em que João Moreira conheceu Fernan­ do Alvim, para quem iria escrever anos depois. O momento do seu primeiro encontro, no entanto, foi tudo menos obra do destino. Autor de uma pequena revista de humor, João e um amigo queriam en­ trevistar personalidades famosas do panorama hu­ morístico. Com o pretexto de estarem a escrever em conjunto uma suposta “tese de doutoramento sobre humor”, marcaram uma entrevista com o “alu­ ado” Fernando Alvim. A falsa tese tornou-se uma pequena rampa de lançamento que impulsionou João Moreira no mundo do guionismo. Nos dias que correm, o apresentador da “Prova Oral” já sabe que o seu encontro foi baseado numa boa mentira, mas, como na vida, há histórias de­ masiado icónicas para serem estragadas com a ver­ dade. O mesmo se pode dizer da banda falsa em ‘tournée’, criada por João com o intuito de enganar, inclusive, celebridades. Talvez não esteja à altura de ser considerado o mestre do disfarce, mas já nesta altura o humorista revelava uma criatividade fora do normal para situações insólitas.


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A meio de uma crise ambiental, repensar valores reintegra o ser humano na natureza Um dono de um supermercado, uma programadora cultural, um agricultor e uma bióloga dão exemplos de comportamentos sustentáveis. O apelo é pensar de forma mais amiga do ambiente

- POR ISABELLA CAVALCANTI E FRANCISCA SOEIRO-

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o seu 730.º aniversário, a Universidade de Coimbra trouxe “Ousadia(s)” para o palco principal da 22.ª Semana Cultural. Acompanhan­ do a ideia, o Jornal A Cabra conversou com quatro pessoas que adotaram novos hábitos para levar um estilo de vida mais ousado. Numa época em que é frequente falar-se sobre questões ambientais e sus­ tentabilidade, há iniciativas que demonstram de que modo os cidadãos já mudaram os seus hábitos. São pessoas e projetos que apelam a que se repense o consumo e a produção: desde comprar produtos biológicos a dedicar sua vida profissional à conser­ vação do meio ambiente. Uma das mudanças a ter em conta passa pela alimentação. A ausência de espaços em Coimbra que comercializassem produtos biológicos levou Vítor Marques a fundar, em 2011, a BioEscolha. Os hábitos sustentáveis do proprietário refletem-se no supermercado e restaurante que são cem por cento biológicos. Vítor Marques dá o exemplo da utilização diária de detergentes que não poluem as águas: “Pequenos gestos diários podem contribuir para um ambiente melhor. Não percebo porque é que não há um incentivo do governo para se usar esse tipo de detergentes”. Além disso, o proprietário realça a im­ portância de estar alerta para os benefícios de pro­ dutos biológicos. Outra mudança possível é no consumo de vestuário. Filipa Alves, programadora e produtora da Casa da Esquina, iniciou em 2018 o projeto “Troca da Roupa”. Conta que a ideia é “em vez de se comprar, conseguir-se roupa nova através de uma troca”. Preocupa-se com o consumo inconsciente e explica que se deita imensa rou­ pa fora. “Estamos aqui para proteger o ambiente, porque a indústria da roupa é das mais poluentes do planeta”, alerta. A programadora defende ainda que “até as crianças devem aprender desde cedo a importância da troca e reutilização de brinquedos, jogos e outros semelhantes”. Ao mesmo tempo que organiza os eventos, par­ ticipa nos mercados de troca de roupa e de livros que a organização promove. Filipa Alves relata que tais iniciativas “permitem ter uma vida um bocadin­ ho mais barata”. Quando se trata de alimentação, a produtora apela ao consumo local e à produção biológica. “Não temos de comprar kiwis da Nova Zelândia quando temos kiwis em Tondela”. Segun­ do a mesma, é possível reduzir os circuitos de distribuição, o que “acaba por contribuir para a diminuição da pegada ambiental”. A mudança de alimentação não se foca ape­ nas em repensar o consumo. João Madeira é agricultor biológico e propõe, desde 2010, re­ pensar a produção dos alimentos com o projeto “Verdejar”. A iniciativa consiste em organizar e entregar cabazes de produtos biológicos produzidos na sua quinta em Espinhal, na vila de Penela. João

Madeira conta que “começou pela necessidade de escoar produtos de uma exploração que era varia­ da”. A forma encontrada para escoar esses produtos foram os cabazes. Segundo o agricultor, este tipo de produção tem “critérios e meios de encarar a pro­ dução agrícola de forma mais sustentável”. No início, os cabazes eram entregues em sacos de plástico separados, e as pessoas tinham a opção de os utilizar ou não. Mais tarde, João Madeira começou a reparar que podia reverter esse comportamento. “Verifiquei que contribuía para o gasto de grandes quantidades de sacos plásticos e não fazia sentido”. Agora, os produtos vão todos numa caixa. A nível pessoal, o responsável do projeto “Verde­ jar” também adota comportamen­ tos mais amigos do ambiente. “Troquei uma máquina de café de cápsulas por causa do des­ perdício. Faço compostagem dos restos de produção e das coisas do dia a dia e é uma forma não só de não entu­ pir os sistemas de recolha de resíduos, como é um recurso que depois serve de fertili­ zante”. Além disso, reforça que é importante “tomar conheci­ mento da forma como as coisas são produzidas e o impacto que os produtos têm”.

Algumas mudanças começam por ser sorrateiras e tornam-se radicais. Exemplo disso é a bióloga Rita Cassilda, que transformou o seu conhecimento ao mudar-se para Penacova. Assumiu um trabalho de preservação ambiental no rio que ali passa, de modo que passou a viver e sentir-se parte da natureza. “Quando se muda para as montanhas e se começa a estar com ela permanentemente, coisas mágicas acontecem”, conta. Hoje, a bióloga faz um pouco de tudo: ‘eco-tours’, consultoria e responsabilidade ambiental, oferece ‘workshops’, trabalha num atelier criativo e ainda é padeira. Reconhece que a rotina stressante a levou a muitas transformações. “Tinha ataques de ansie­ dade e, quando disse ‘Basta!’, mudei-me para o cam­ po, restaurei a casa da minha avó e fiz obras com as minhas próprias mãos”. Além dos benefícios para a saúde mental, os resul­ tados também se verificam em questões económicas. “Ganho muito menos, mas acabo por poupar mais e tenho um estilo de vida completamente diferente”, reconhece. Na rotina diária, Rita Cassilda conta que tenta ao máximo evitar o desperdício. “A minha casa é ‘zero waste’ e tenho muita noção do lixo que produzo porque faço compostagem”. Inclusive, não tem frigorífico, por isso vai com muito mais fre­ quência ao mercado e à floresta. “Como tenho um ‘background’ de cogumelos, plantas medicinais e comestíveis, como muito da floresta”, relata. Além disso, tem uma pequena horta com al­ faces e outros cultivos de acordo com a época do ano. Rita Cassilda confessa que encontrou difi­ culdades ao assumir este estilo de vida. Cus­ tou-lhe ouvir as críticas das pessoas. “Tu até te sentes alinhada e muito mais tranquila, mas de­ pois há alguma pressão. Acho que as pessoas não estão preparadas e, às vezes, não entendem. É mais complicado”. Para lidar com isso, a bióloga optou por fazer alguns cortes sociais. O apelo de Rita Cassilda vai para repensar a crise climática como uma crise de valores. Refere que para serem coerentes, “as pessoas têm de ler, falar com as outras pessoas e in­ tegrar-se”. Assegura que a mudança nem sempre é fácil e que, por isso, deve ser feita aos poucos. “Parem um pouco para respirar, para fazer um balanço da vossa vida, do vosso cor­ po, para ficar mais conscientes. Há esta voz que não se cala dentro de nós, e esta­ mos sempre a meter-lhe uma rolha na boca. E nós sabemos o que devemos fazer de corre­ to”, conclui. FRANCISCA SOEIRO


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Um futuro verde para nós, com o trabalho de todos É pela educação que nascem os interesses pelo desenvolvimento sustentável. Em Coimbra, uma escola superior e o Grupo Ecológico da AAC são exemplos de instituições que têm ideias viáveis para a sustentabilidade ambiental - POR PAULO CARDOSO -

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ambiente tem estado no cen­ tro das preocupações dos líderes políticos e dos jovens. Os adolescentes, cada vez mais ligados às alterações climáticas, organizam manifestações pelo clima e juntam-se a projetos para defender o país. O de­ safio é este: cuidar do ambiente e ter atitudes cívicas para que as cidades sejam sustentáveis. O gesto de cada um faz a diferença e as escolas são um ponto de partida, para os valores de preservação e poupança serem in­ cutidos nos jovens. Uma escola certificada pelo sucesso Com muitas escolas pelo país cer­ tificadas com “selos” de reconheci­ mento ambiental, a cidade de Coim­ bra possui uma instituição de ensino superior que, desde 2008, começou a ter em atenção os desafios do am­ biente e a implementar o programa internacional Eco-Escolas nas suas instalações. “Começámos o trabalho muitos anos antes de 2008”, garante Hélder Simões, professor coorde­ nador na Escola Superior de Tecnolo­ gia da Saúde de Coimbra (ESTESC). A Associação Bandeira Azul da Eu­ ropa (ABAE), responsável por coor­

FOTOGRAFIA CEDIDA PELO GE/AAC

denar os programas de educação am­ biental internacionais em Portugal, gere o cumprimento deste projeto. Há quase 11 anos que este programa existe no ensino superior e “fomos a primeira escola do país a ostentar a bandeira verde, mas só em 2008”, sublinha Hélder Simões. Mudar atitudes, praticar ações sustentáveis e ter um papel proati­ vo junto da comunidade escolar são comportamentos que várias esco­ las do país têm em prática. Através de equipas de trabalhos e planos de ação, o Eco-Escolas conta com 1734 instituições de ensino inscritas pelo país inteiro, segundo o site oficial do programa. Hélder Simões refere que fora da ESTESC, os cidadãos devem desenvolver uma cultura de educação para a sustentabilidade como a que é executada na sua instituição. “A comunidade é convidada a partici­ par e não tem sido difícil motivar os alunos” para que se consiga dissemi­ nar a mensagem de preservação, diz o professor. Nas instalações onde trabalha e promove as ações, foi melhorada, ao longo dos anos, a sensibilização para a poupança de energia junto

dos alunos. Como exemplo, existem sistemas inteligentes que minimizam a dependência energética e que dão indicações à comunidade escolar, para que cumpram comportamentos de gestão da energia de forma racio­ nal. “Quem nos visita, percebe que a preocupação da ESTESC com o ambiente é grande”, refere ao camin­ har pelos corredores da instituição. Faltava responder a uma questão: o que significa uma escola ser galar­ doada com a bandeira verde? Nesta instituição, significa que os alunos trabalharam para a sustentabilidade em conjunto com a comunidade e a cidade, diz Hélder Simões. Ser um programa “muito ativo de ambiente, ajuda-nos a ter um grande histórico de sustentabilidade”, conclui. Os espaços da escola estão muni­ dos com equipamento para fazer a deposição dos vários tipos de resídu­ os. “É facilmente visível que a nos­ sa cantina envia todos os resíduos para os destinos corretos”, assinala Hélder Simões. Além disto, a equipa promove palestras e debates, limpa o espaço exterior e a escola “olha de uma forma responsável” para a consciência ambiental.

Sensibilizar para rentabilizar Se o objetivo é envolver a comuni­ dade, a existência de parcerias reve­ la-se uma das estratégias para a im­ plementação correta do Eco-Escolas. A nível interno, a associação de es­ tudantes da ESTESC e a presidência da escola são “parceiros fundamen­ tais”, e estruturantes. A nível nacio­ nal, o apoio da Comissão Nacional é fundamental durante todo o ano. Margarida Gomes, coordenadora nacional do programa Eco-Escolas, considera “essencial as escolas en­ volverem bastantes alunos e a comu­ nidade local nas atividades”, de forma a aumentar a participação e a sensibi­ lização de todos. Muitas atividades surgem em tor­ no do ambiente. Durante o ano, a equipa coordenadora faz uma via­ gem por vários temas com o auxílio dos parceiros. Pela saúde, o seu dia mundial é celebrado em conjun­ to com o curso de Saúde Ambiental da instituição. Para evitar resíduos elétricos mal recolhidos na locali­ dade, a recolha dos mesmos é feita na ESTESC e conta com o contributo de toda a comunidade. Houve, em 2019, uma atividade ligada à mobili­ dade sustentável, como também a celebração do Dia Eco-Escolas, para fazer “as pessoas pensar no mar e na floresta”, sustenta o professor. Pensa­ tivo e confiante, Hélder Simões sabe o que mais motiva o programa na ESTESC: mobilizar as pessoas em torno das iniciativas. “É um objetivo que perseguimos”, assegura. Uma secção cultural pelo ambiente Na outra margem do rio, a Asso­ ciação Académica de Coimbra (AAC) conta com uma secção ligada ao am­ biente e à sustentabilidade. Um grupo de estudantes, que em 2019 celebrou 45 anos de existência, tem sempre as “portas abertas” para as pessoas interessadas, alude Raquel Barbosa, presidente do Grupo Ecológico da AAC (GE/AAC). Nas mãos tem o seu segundo mandato e assume que há muitos jovens desinteressados pelo ambiente, dentro e fora da academia. “Acho que os alunos só percebem quando cá chegam que não há mui­


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MARTA EMAUZ SILVA

SARA CARRULO

ta mobilidade para trabalhar certos temas”, refere a presidente. Pode a ausência de interesse, de recursos e de tempo justificar a ausência de novas pessoas na secção? Raquel Barbosa diz que sim. Apoiantes da Greve Climática Es­ tudantil, a equipa do GE/AAC já estabeleceu contactos para realizar ações em conjunto com a organização das manifestações. Além da pre­ sença em atividades promovidas por outras instituições, Raquel Barbosa afirma que as que são organizadas pela secção “têm tido grande im­ pacto na comunidade”. Prova disso é, segundo a presidente, a Semana Verde, que na sua quarta edição teve muito sucesso. “Acho que as pes­ soas ouvem o GE/AAC e procuram saber o que estamos a preparar”, ad­ mite. A representar um grupo de 13 jovens, revela ainda que os órgãos de comunicação da AAC são vistos com uma mais valia na divulgação do pla­ no de atividades. De acordo com a presidente, o grande desafio anual para a secção cultural é a Semana Verde. O grande objetivo é unir as secções e os alunos da Universidade de Coimbra (UC). “O convite é enviado para todos que queiram participar”, refere Raquel Barbosa, enquanto resume a edição

de 2019 da atividade. O GE/AAC não consegue estimar um número de alunos presentes nas ações realizadas, mas garante que a receptividade do público “foi grande, maior do que a edição do ano 2018”. E se a falta de divulgação dos media for um entrave ao conhecimento so­ bre o GE/AAC? A presidente Raquel Barbosa reflete sobre a falta de divul­ gação, principalmente, dos órgãos de comunicação da casa. “Penso que no próximo ano letivo, podemos mel­ horar a aposta na divulgação e fazer melhor”, acrescenta. Os problemas apontados pelo GE/AAC à academia não ficam só por aqui. Ao sentir que a secção tem responsabilidades acres­ cidas no tratamento do ambiente e da sustentabilidade da AAC, a presi­ dente considera que “falha a comuni­ cação entre as secções da AAC, a UC erra na reciclagem UC e a AAC não se mexe nesse aspeto. “Não são medi­ das difíceis de implementar”, reitera. O grupo vai celebrar 46 anos, mas a presidente faz saber que, mediante as atividades que realizam, o din­

heiro nunca foi um problema. “Não sofremos de falta de dinheiro”, afir­ ma. Contudo, lembra que devia haver mais dinheiro para todas as secções, se fosse possível e executável. Para a sensibilização dos jovens, contam com a parceria do projeto “Beata Aqui”, que promove os cinzeiros reutilizáveis, em conjunto com a secção. “De resto, contamos com os fundos da AAC e queremos ser autónomos no nosso trabalho”, adi­ ciona Raquel Barbosa. Ligar a Academia ao ambiente e à sustentabilidade sempre foi o obje­ tivo. “Devia haver mais destas asso­ ciações”, chega a dizer a presidente. Afirma que “todos nós fazemos a diferença” para conseguir sensibilizar os alunos que evitam lutar por cau­ sas ambientais. Em relação a relações institucionais com o GE/AAC, Raquel Barbosa faz saber que a Câmara Mu­ nicipal não comunica com a secção e afirma que “bastava o contacto para colaborarmos”. Noutra perspetiva, o recente contacto da UC com o grupo deu mais vontade de trabalhar.

A continuação da mudança Sensibilizar, marcar a diferença e influenciar o poder político a mudar a cidade são pontos estruturantes para esta secção cultural. “Começase a notar a diferença, mas é preciso mais”, alega a presidente, ao lembrar a importância do grupo na cidade. A dirigente associativa do GE defende que é necessária uma estratégia de separação de resíduos na AAC, implementar mais caixotes do lixo e também colocá-los no exterior. “Está também na altura de os bares serem mais sustentáveis”, acrescenta Raquel Barbosa. A forma de a AAC conseguir ser mais amiga do ambiente continua a ser objeto de debate para o GE. E, para muitos alunos, a cidade tem de tomar mais opções sustentáveis. A presença dos jovens nas greves climáticas tem revelado que bastantes estudantes querem a cidade de Coim­ bra e a AAC a funcionar como uma janela para o futuro da transição en­ ergética e da neutralidade carbónica.

“Se mais pessoas se juntarem ao grupo, acho que vai haver diferença, na Academia, na UC e na cidade”


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Hóquei em patins da AAC nos oitavos de final da Taça de Portugal JUC procuram integração com base na prática desportiva. Daniel Azenha acredita que edição passada deixa boas perspetivas para a que começa agora - POR SIMÃO MOURA -

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somar cinco vitórias consecutivas e situa­ da no oitavo lugar da Segunda Divisão, a equipa de hóquei da Secção de Patinagem da Associação Académica de Coimbra (SP/AAC) prepara-se para os oitavos de final da Taça de Portugal. A equipa masculina do escalão sénior vai defrontar o Futebol Clube do Porto (FCP), um dos clubes mais titulados da modalidade. Os membros da secção fazem um balanço posi­ tivo da época desportiva, mas admitem um início atribulado. O capitão da equipa, Gonçalo Oliveira, conta que o clube sofreu “derrotas consecutivas e resultados menos positivos”. Segundo descreve, isto deve-se, em parte, à contratação de um novo treinador, Diamantino Fernandes, e a outras al­ terações no plantel. O técnico explica que “aos poucos fomos acertando agulhas”. Em relação ao jogo contra o Porto, Gonçalo Oliveira reitera que a equipa está ciente das difi­ culdades que vai encontrar. “Queremos acima de tudo disputar o jogo”, declara o capitão. A presi­ dente da secção, Cristina Oliveira, conta que “foi uma grande satisfação” e que a Académica mere­

cia defrontar um adversário da magnitude do FCP. Considera que o campeonato masculino é “muito mais competitivo” do que outros da mes­ ma modalidade. Diamantino Fernandes acredita que o encontro vai trazer mais atenção ao clube. O horário dos treinos e o espaço são os problemas mais apontados. Todos os jogadores da AAC estudam na Universidade de Coimbra ou trabalham, pelo que têm uma agenda pouco flexível. O guarda-redes, Francisco Moreira, diz que esta questão “faz parte”, mas sente que há es­ calões que têm treinado menos. Quanto ao espaço, Gonçalo Oliveira expli­ ca que, apesar das boas condições, o aluguer do pavilhão no valor de cerca de dois mil euros acaba por se tornar num problema financeiro. O treinador confessa que “para uma secção, com todos os escalões, é difícil gerir um espaço tão limitado”. Segundo Cristina Oliveira, a Académi­ ca conta com cerca de 120 atletas, distribuídos por várias equipas. A presidente realça que “o hóquei em patins é a modalidade que mais títulos trouxe ao país”.

Como tal, ambiciona ter um espaço exclusivo para o clube e “poder fazer desta modalidade um dos grandes incentivos à vinda de mais alunos para a academia”. Relembra ainda que a secção participa em várias competições e destaca o desempenho da equipa feminina, que está em terceiro lugar no campeonato nacional.

CÁTIA BEATO

Presidente da SDN/AAC: “Desassoreamento do rio foi fundamental” Equipas masculina e feminina bem classificadas nos ‘rankings’ nacionais. SDN/AAC, em conjunto com o movimento Não Lixes, já retirou mais de mil carrinhos do rio Mondego - POR PEDRO TEIXEIRA SILVA -

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Secção de Desportos Náuticos da Associação Académica de Coimbra (SDN/AAC), em atividade desde 1982, tem uma forte ligação ao rio Mondego, pois depende dele para todas as atividades. A gestão, preservação e o combate à poluição são as principais preocupações da secção. O presidente da SDN/AAC, Rui Gaspar, mostra-se satisfeito com o estado atual do rio e destaca a inter­ venção da Câmara Municipal de Coimbra, realizada há cerca de dois anos. “O rio chegou a ter 20 centímet­ ros de profundidade em alguns locais, o desassorea­ mento foi fundamental”, sublinha. No entender de Rui Gaspar, “as intervenções poderiam ser mais ex­ tensivas”, mas são mais do que suficientes. Para além da secção, também a Federação Portuguesa de Remo “faz estágios regulares em Coimbra, devido às ótimas condições que o rio oferece”, conta o dirigente. As festas académicas representam sempre um problema pois a quantidade de resíduos despejados

no rio é elevada. Rui Gaspar afirma que a secção, em conjunto com o movimento Não Lixes, já retirou mais de mil carrinhos de compras do rio. A SDN/AAC não tem um plano de ação efetivo no combate à poluição do rio, no entanto, faz o possível para preservar o bom estado do mesmo. O atleta e engenheiro civil, Ricardo Paula está na secção desde 1995. Com participações em diversas competições nacionais e internacionais, destaca a im­ portância da SDN/AAC na sua formação enquanto pessoa e desportista. “Quando comecei a remar bebia água do rio”, afirma o atleta. Ricardo Paula partilha a opinião do presidente: o desassoreamento foi crucial. O atleta revela que os dois maiores obstáculos são a gestão do caudal do rio e as algas. Caso o rio tenha um caudal baixo as algas ficam à tona da água, o que impossibilita a prática de desportos náuticos. A SDN/AAC conta com mais de uma centena de atletas. Na última época desportiva a equipa masculi­

na ficou em terceiro lugar no ‘ranking’ geral e a equi­ pa feminina na quarta posição. A aposta na formação é um dos pilares da secção, para que seja possível competir ao mais alto nível, dentro e fora de portas. As questões climáticas são um dos fatores que mais influenciam a atividade da SDN/AAC, já que o frio e chuva impedem muitas vezes que os treinos se rea­ lizem no rio. Segundo Rui Gaspar, a secção dispõe de algum material desportivo e com uma boa gestão é possível satisfazer as necessidades de todos os atletas. Uma embarcação individual pode custar dez mil euros, o que torna muito dispendiosa a aquisição de novo equipamento. A poluição também representa uma ameaça a nível financeiro, uma vez que os resíduos e os combustíveis fósseis podem causar danos nas em­ barcações e nos remos.


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Obras prestes a começar no Pavilhão Engº Jorge Anjinho Secções desportivas que utilizavam pavilhão anseiam pelo início das obras. Trabalhos estão “a dias” de começar, acredita secretário-geral do CD/AAC - POR TOMÁS BARROS -

NINO CIRENZA

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ais de um ano após a passagem da tempestade Leslie que fustigou vários distritos em Por­ tugal, as obras no Pavilhão Engº Jorge Anjinho estão prestes a começar. O recinto foi uma das infraestrutu­ ras que teve de fechar portas, uma vez que os estragos impediam qualquer prática desportiva. Muitas foram as secções desportivas da Associação Académica de Coimbra (AAC) que ­f icaram ­desalojadas.­ Segundo o secretário-geral do Conselho D e s p o r t i v o do (CD/AAC), Miguel Franco, o im­ passe está a chegar ao fim, uma vez que “as obras es­ tão a dias de começar”, esclarece. O mesmo explica que os trabalhos coordenados pelo AAC - Organis­ mo Autónomo de Futebol (AAC/OAF) já receberam luz verde para avançar por parte das diversas enti­ dades responsáveis. Resta apenas a aprovação da li­ cença por parte da Autoridade para as Condições do Trabalho, que havia caducado. Licença esta que diz respeito à remoção do telhado de amianto que ficou parcialmente destruído com a tempestade. Miguel Franco explica ainda que foram feitas as devidas candidaturas às entidades competentes e que as intervenções necessárias devem ultrapassar o meio milhão de euros. Os trabalhos englobam a aplicação de uma nova cobertura, chão, fachada, balneários e pinturas. Trata-se de uma “intervenção muito significativa”, reitera . Muitas foram as secções desportivas que viram a sua atividade afetada com os estragos provocados pela tempestade Leslie. Sobretudo, secções como as

de Futsal (SF/AAC), Basquetebol (SB/AAC), Ande­ bol (SA/AAC), entre muitas outras que, de maneira mais ou menos prolífica, utilizavam o Pavilhão Engº Jorge Anjinho. Até agora foi necessário encontrar soluções para contornar as adversidades no que diz respeito à falta de espaços, como adianta o presidente da SB/AAC, João Frazão. Este refere que “os espaços são clara­ mente insuficientes para as necessidades da secção, que conta neste momento com cerca de dez equipas”. Também o presidente da SA/AAC partilha a mesma opinião. João Paulo Dias refere que o andebol se en­ contra “limitado” desde a tempestade. Até à data muitas são as secções que partilham o Pavilhão 1 do Estádio Universitário, o que leva a uma elevada concentração de equipas no recinto. Todas as secções referidas utilizam este pavilhão, mas precisaram de procurar outros espaços para poderem continuar a prática desportiva dentro da normalidade. O facto de não existir um espaço base faz com que surjam diversas complicações como indica o vice-presidente da Secção de Futsal, Sérgio San­ tos. A constante procura de espaços alternativos constitui um “embaraço” que, muitas vezes, “não reúne condições de conforto”. Sérgio Santos adianta que a dificuldade em encontrar locais para desen­ volverem a sua prática advém de a cidade não os possuir e, assim, veem-se “obrigados a mendigar” pelos existentes.

Não só a produtividade desportiva como também a vertente financeira sofrem com a instabilidade. João Frazão relata que “os custos de arrendamento são elevados e andam na casa dos 1500 euros por mês”. Outras secções também pagam para usufruir de espaços, a não ser aqueles que lhes são cedidos, como escolas públicas. O presidente da SB/AAC confessa que por vezes duvida se a estrutura con­ segue “chegar ao fim da época com os meios finan­ ceiros necessários”. No geral, as secções desportivas demonstram vontade de voltar o mais rápido possível ao Pavi­ lhão Engº Jorge Anjinho, mesmo que isso signifique o pagamento de uma renda, como já se verificou no passado. “Seria benéfico e estamos muito ex­ pectantes para voltar” são as palavras de Sérgio Santos em relação a um pavilhão que, segundo João Frazão, também era “a casa do Basquetebol”. João Paulo Dias vai mais longe e esclarece que só com um novo espaço é que a situação poderia ficar norma­ lizada, uma vez que “mesmo com o Jorge Anjinho nada fica resolvido, é necessário um novo pavilhão”. Outro fator relevante são as centenas de crianças e jovens que ao serviço das secções praticam despor­ to e necessitam de ocupar o campo inteiro, mas de forma a rentabilizar os espaços são obrigados a dividi-lo. As estruturas têm recorrido a instituições públicas, devido a estarem condicionadas. Nas pa­ lavras de Sérgio Santos não podem “exigir muito”, uma vez que não têm mãos a medir.


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Os passos a dar num caminho sem pegada carbónica “Se andarmos todos na mesma direção podemos combater os problemas ambientais”, diz bióloga. Quantidade de alimentos mal-aproveitados a nível global é suficiente para alimentar metade da população mundial - POR JOÃO ANTÓNIO GAMA -

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pegada ecológica “é uma representação do impac­ to que as ações do ser humano têm no ambiente e traduz-se em emissões de carbono”, es­ clarece Verónica Ferreira, bióloga e ecóloga investigado­ ra na Universidade de Coimbra (UC). Contudo, confessa que o conceito pode ser “ainda mui­ to abstrato”, e prefere ilustrar o problema com os impactos da desflorestação e escassez de água. Para a investigadora, é impres­cindível que cada um es­ teja consciente das consequên­ cias das decisões de consumo. De acordo com um estudo publicado em Our World in Data, a agricultura e a pecuária são das principais fontes de ga­ ses de efeito de estufa, sendo res­ ponsáveis por cerca de um quarto de todas as emissões. A produção de um quilograma de carne de vaca acarreta a liber­ tação de 60 quilogramas de CO2 equivalentes, sendo que a liber­ tação de metano causada pela criação de gado é responsável pela maioria destas emissões. O estudo demonstra que o trans­ porte tem um impacto negli­ genciável (inferior a um por cento) e que, por isso, consumir localmente não se traduz numa redução significativa. “Não como carne de vaca, não bebo café, não como cho­ colate. Tomei essas decisões há 25 anos, quando tinha 14 ou 15 anos. Nessa altura já está­ vamos despertos para o pro­ blema das alterações climáti­ cas, mas estamos a avançar muito lentamente”, sublinha a bióloga. É por esta razão que escolhe não comprar camarão do sudoeste asiático, criado em aquacultura no que se­riam­man­ gais, café, plantado onde antes havia extensas florestas naturais, e carne de vaca, que requer mais de 15 litros de água para que se produza um quilograma. A adoção de uma atitude de consumo mais consciente, ain­

da assim, não é suficiente para reduzir ao máximo o tamanho da pegada ecológica. Segundo a publi­cação da Calouste Gulben­ kian “Do Campo ao Garfo. Des­ perdício Alimentar em Portugal”, todos os anos, 17 por cento de alimentos são desperdiçados ain­ da antes de chegarem aos con­ sumidores. Ou seja, a nível na­ cional, são deitados para o lixo mais de um milhão de toneladas de comida. No panorama global, estima-se que a quantidade de alimentos que são mal-aproveitados todos anos conseguiriam alimentar metade da população mundial. Neste sentido, já há países a ado­tar medidas para diminuir este fla­ gelo: em 2016, o Senado Francês aprovou, por unanimidade, uma lei que proíbe supermercados de deitarem fora ou destruírem alimentos que não tenham sido vendidos, forçando-os a doa­ rem­os mesmos a instituições de caridade. Em Portugal, o projeto nacio­ nal Refood tem tentado com­ bater o desperdício alimentar, recolhendo excedentes comer­ ciais e entregando-os a quem mais precisa. A Refood Coim­ bra começou há cerca de qua­ tro anos, em 2015. O grande projeto da instituição na cidade chama-se “Pão e Bolos”, conta Marta Graça, uma das coorde­ nadoras do núcleo de Coimbra. “Os parceiros principais da Re­ food são pastelarias e padarias, sendo que, nos últimos anos, começámos a ser procurados por outro tipo de estabelecimentos, entre eles cantinas escolares e hipermercados”, partilha. Entre 2016 e 2017, o número de pães recolhidos pela Refood subiu de 1590 para 2673, enquanto o número de bolos passou de 1278 para 2391 . Ainda assim, na opinião de Marta Graça, seria preferível que o projeto se tornasse desnecessário devido a uma mudança de atitude por parte

da população: “A Refood é um movimento que quer desapa­ recer. É sempre bom quando vamos a uma pastelaria e nesse dia não há excedentes, porque na verdade a nossa missão é eliminá-los”, explica a coorde­ nadora. À primeira vista, o pro­ jeto tem como única finalidade alimentar os mais carenciados. No entanto, Marta Graça es­ clarece que “o objetivo princi­ pal é que seja possível criar uma consciencialização nos nossos parceiros do desperdício que criam.” A coordenadora acre­ dita que este fim já tem vindo a ser alcançado. “Quando os donos nos veem a sair das suas lojas com várias caixas de bo­ los, apercebem-se que estão a perder dinheiro”, comenta. Verónica Ferreira rejeita que seja necessário ser radical para fazer a diferença no que toca à redução da nossa pegada ecológi­ ca: “Cada um pode mudar os seus hábitos mesmo que seja por pouco. O consumidor tem muito poder, e se caminharmos todos na mesma direção acredito que seja possível combater os problemas ambientais de hoje”. Assim, acredita que cabe a insti­ tuições como a UC terem o pa­ pel fundamental de sensibilizar a população para que adotem hábitos mais amigos do ambiente. Considera que há quem mantenha comportamentos de consumo no­civos­ao ambiente porque não conhecem o seu impacto. Apesar de não considerar necessário que as pessoas façam escolhas como “deixar de co­ mer carne de vaca ou camarão”, Verónica Ferreira considera ser possível diminuir a pegada ecológica. É necessário, apenas, ter consciência dos hábitos pes­ soais. “As pessoas podiam pensar nas decisões de compra que fazem e interrogarem-se se precisam ou de tudo aquilo o que ­adquirem”, remata. ISABEL PINTO


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ERSUC, CMC e GE/AAC não são suficientes para mudar cenário ambiental de Coimbra ISABELLA CAVALCANTI

Materiais recicláveis contaminados são obstáculo ao reaproveitamento de recursos. Falta de educação ambiental da população contribui para contaminação do rio Mondego - POR ANA TEREZA MAY -

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pesar da grande distribuição de ecopontos, um para cada 166 moradores, Coimbra ainda enfrenta problemas com a recolha de lixo indiferen­ ciado. Zonas como a Sé Velha e Couraça da Estrela têm menos ecopontos distribuídos “devido ao pouco espaço público disponibilizado pelo município para o efeito”, revela o administrador executivo da Es­ tação de Tratamento de Resíduos Sólidos e Urbanos do Centro (ERSUC), Miguel Ferreira. “Os locais de fixação de ecopontos são selecionados de acordo com o dono do espaço, que é a cidade”, esclarece. Segundo o chefe da Divisão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), Fernan­ do Rabelo, não há registo de reclamações da falta de ecopontos ou locais para descarte de indiferenciados. No centro da cidade, a recolha do lixo indiferenciado é feita pelos camiões da CMC, enquanto os Serviços Urbanos e Meio Ambiente se encarregam do resto do município. Todo o lixo de Coimbra e de mais 35 municípios da região centro é tratado na ERSUC, que também faz a recolha dos recicláveis. Uma das consequências do lixo abandonado em espaços indevidos é a contaminação do rio Mon­ dego, em especial na época do inverno, segundo a vice-presidente do Grupo Ecológico da Associação Académica de Coimbra (GE/AAC), Diana Santos. “O líquido que resulta da decomposição dos mate­ riais orgânicos mistura-se com a água das chuvas e escorre para o rio”, clarifica. Para Diana Santos, isto é resultado da falta de consciência e educação ecológica da população local. “As pessoas têm de parar com o comodismo porque não leva a lado nenhum”, declara. Entre as ações de intervenção feitas pelo GE/AAC, estão as realizadas na Queima das Fitas (QF) e na Festa das Latas e Imposição de Insígnias. A troca de materiais recicláveis por passes gerais para as festas já reverteram em “mais de uma tonelada de papel recolhido, além de 337 quilogramas de tampas de plástico, 339 litros de óleo e 27 quilogramas de rolhas de cortiça”, explica a vice-presidente. Contu­ do, apesar da grande quantidade de lixo coletado, é “pequeno o número de pessoas que adere à inicia­ tiva”. Apenas quatorze pessoas fizeram a entrega de rolhas, cinco a de óleo, cinco de tampas de plásti­

co e apenas três trocaram papel por bilhetes para a edição da QF do ano passado. Além da recolha de materiais recicláveis antes do evento, há também a limpeza de beatas na região da Alta de Coimbra e a distribuição de cinzeiros portáteis durante o festejo, conta Diana Santos. Isto, em conjunto com um questionário sobre hábi­ tos ecológicos, pretende “sensibilizar os estudantes para o seu impacto no ambiente”. A dirigente lembra que, em 2018, “houve um incentivo marcante para a diminuição do uso de copos descartáveis”. Para além de realizar a troca dos mesmos por copos re­ utilizáveis ou finos, o grupo também encaminhou o que recolheu para uma empresa de reciclagem. Para além das festas académicas, as ações do gru­ po estão voltadas principalmente para a comunidade estudantil. O GE/AAC enfrentou muitos obstácu­ los para a implementação de ecopontos dentro da universidade e das residências do Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) e, por­ tanto, optou por “focar apenas neste público ao invés de estender à cidade”, confessa Diana Santos. “Feliz­ mente já existem ecopontos no edifício da AAC e nas faculdades. Aos poucos, podemos começar a pensar a nível da cidade e colaborar com a CMC”, declara Diana. Quem disponibiliza os ecopontos das residências universitárias é a ERSUC. É na estação da empresa que os lixos recicláveis e indiferenciados são trata­

ISABELLA CAVALCANTI

dos e voltam ao ciclo de produção ou são levados para o aterro sanitário. O material que mais facil­ mente retorna ao ciclo é o vidro, pois o seu pro­ cesso de reaproveitamento depende apenas da sua fusão. No caso do papel, cinco por cento do que é recolhido através do contentor está contaminado, o que o impede de voltar para ser reciclado, elucida o administrador executivo da ERSUC. Já os materiais que são descartados no ecoponto amarelo “passam por um processo mais delicado de separação”, esclarece. De acordo com o administra­ dor, os objetos são colocados numa esteira e passam por sensores óticos que identificam o plástico, ati­ vam jatos de pressão e retiram os produtos de forma automática. Para os metais, a separação é feita, numa primeira fase, por eletroímanes e mais tarde é feita uma seleção manual e por tipo de matéria-prima, revela Miguel Ferreira. O que resta desta seleção é o lixo orgânico. Este passa por um tratamento com água que o transfor­ ma em composto para fertilização e para produção de biogás. Tubos instalados no solo do aterro “tam­ bém fazem a coleta do gás que resulta do processo de decomposição dos materiais que não puderam ser recuperados”, esclarece Miguel Ferreira. Apesar dos processos de reaproveitamento de matéria-prima estarem bem desenvolvidos, “Portu­ gal ainda não entrou para o mapa da economia cir­ cular, que visa o retorno do elemento ao mercado de produção”, elucida Miguel Ferreira. “Antes de haver estes tratamentos, o recurso era usado e ia direta­ mente para o aterro, o que gerava uma economia de desperdício. Hoje em dia, o recurso vai descendo no ciclo e perdendo valia até que acaba. O objetivo é caminhar para uma economia em que o recurso não se perca”, conclui Miguel Ferreira.


14 cidade 10 de março de 2020

A luta ecológica conimbricense: as instituições que preservam o ambiente Refood Coimbra, Casa da Esquina, Associação das Orquídeas Silvestres e Solve são algumas das instituições que procuram soluções para este problema. Vice-presidente da AOS verifica “uma crescente adesão das pessoas a projetos deste género” - POR FRANCISCO BARATA E JADE SANGLARD -

Um dos assuntos que mais assola a sociedade con­ temporânea está ligado à preocupação com preser­ vação ambiental. A problemática é tratada com relevância pela Organização das Nações Unidas, que insere a produção e consumo consciente e as ações climáticas nos objetivos de desenvolvimento sustentável. A cidade de Coimbra é casa de diver­ sas associações que se dedicam à causa ambiental, através de várias iniciativas. Solidariedade sustentável A Refood Coimbra é uma instituição que procura reduzir o desperdício alimentar. O intuito é deslocar os excedentes alimentares, sobretudo de pastelarias, restaurantes e cantinas escolares, para centros de apoio a pessoas carenciadas. Marta Graça, co-coor­ denadora da Refood, explica que os destinos são, por exemplo, “lares e casas que dão apoio a sem abrigo e apoiam a reestruturação de famílias”. A associada conta que a principal missão do projeto não é alimentar, mas sim direcionar o excesso de comida que seria desperdiçado. A instituição é sustentada no voluntariado. Marta Graça, a este respeito, diz que chegou ao ponto de serem os próprios voluntários e estabelecimentos a procurarem a instituição. O maior entrave ao sucesso do movimento, segundo a co-coordenadora, prende-se com o facto de a instituição não ter transporte próprio. Explica ainda que a organização depende “não só do tempo dos voluntários, mas também do dinheiro dos mesmos, visto que as despesas de transporte e deslocação não são cobertas”. A associação assegura recolhas fixas de alimentos cinco dias por sem­ ana. Estas são pensadas com o intuito de equilibrar não só o desperdício alimentar, mas também a pegada ecológica dos trajetos. Marta Graça explicita que a ideia de sustentabi­ lidade da instituição passa por “tentar fazer a entre­ ga na mesma zona em que a comida foi recolhida”. Para além destas, a Refood realiza também recolhas extraordinárias em locais onde possam haver exce­ dentes alimentares, como casamentos, batizados e eventos de beneficência. A perspetiva da economia solidária A Casa da Esquina, por sua vez, é um espaço des­ tinado a diversas atividades e projetos culturais. Por meio das suas iniciativas, dá destaque à causa am­ biental e promove intervenções sociais e ecológicas. A gestora e programadora da casa, Filipa Alves, diz que visa “encontrar alternativas à economia tradi­ cional, introduzindo a economia solidária”. Entre as práticas que a instituição promove, está a

“Horta na Cidade”. O projeto é composto por um grupo de produtores biológicos que fornece pro­ dutos hortícolas, vindos do Jardim Botânico, aos consumidores. A Casa da Esquina organiza ainda vários mercados de troca direta, como a “Feira do Livro Dado”. Nesta, o público é encorajado a levar um livro ao qual já não dá uso e tem a oportuni­ dade de trazer para casa os livros que desejar. ‘Work­ shops’ de costura sustentável são outro dos projetos organizados no sentido de consciencializar para o consumismo. O objetivo é “dar ferramentas às pessoas para que possam perceber como as roupas são feitas e transformá-las com outro tipo de materiais”, refere Filipa Alves.

MARTA EMAUZ SILVA

Luta pela preservação das flores portuguesas Também dedicada ao desenvolvimento sustentável, a Associação das Orquídeas Silvestres (AOS) tem como missão dar a conhecer esta flor, tendo em vista a sua preservação em Portugal. A instituição atua a nível nacional, mas está sediada em Coimbra, por ser uma zona bastante rica em orquídeas. O vice-presidente da AOS, Joaquim Pessoa, explica que “a importância reside no seu habitat e tudo aqui­ lo a que as orquídeas estão associadas, como as suas interações com o meio ambiente”. Segundo o vice-presidente, as orquídeas de estufa

são fáceis de manter. No entanto, devido à sua pre­ disposição para contrair fungos, as orquídeas sel­ vagens correm o risco de extinção. Um dos objeti­ vos da associação é consciencializar para este tipo de planta, que não pode ser movida, mas que vale a pena ser vista, alerta Joaquim Pessoa. Reitera ainda que “as pessoas têm um grande património natural e não lhe dão o devido valor”. A AOS promove palestras, saídas de campo e ex­ posições com o objetivo de sensibilizar em relação à biodiversidade, conservação, ecologia e habitats das espécies. “Existem variedades desta flor que não estão protegidas e pessoas que não estão sensibili­ zadas”, relata Joaquim Pessoa. Para contornar este cenário, a instituição procura alargar o conhecimen­ to da população através destas iniciativas. Os estudantes envolvidos na causa No contexto estudantil, existe o projeto Solve, que centra os seus esforços no desen­ volvimento sustentável e serve de com­ plemento à formação académica. O vice-diretor e co-fundador da em­ presa, Denner Déda, explica que o objetivo principal é “melhorar a gestão do ciclo de vida de todos os equipamentos eletrónicos”, de forma a estimular a reutilização e diminuir o impacto ambiental. Para o cumprir, a Solve desen­ volveu o projeto E-Waste. A iniciativa consiste na colo­ cação de três pontos de recol­ ha de resíduos eletrónicos nos Departamentos de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, Engenharia Química e Engenharia Civil da UC. De acordo com Denner Déda, “re­ forçar este projeto com ações de sensi­ bilização na UC” é um dos pontos a ser trabalhado nos próximos meses. No que diz respeito à importância da causa ambiental, o vice-diretor afirma que “os recursos naturais não devem ser desvalorizados em relação a outros capi­ tais, sobretudo o económico”. Para o futuro, o co-fundador da empresa Solve procura conseguir novas parcerias. Deste modo vão poder ter acesso a equipamentos reutilizáveis sus­ cetíveis de serem doados a instituições de caridade, que lhes possam dar uma nova utilização. A existência de iniciativas, desde a UC até às mais diversas instituições locais, mostra a preocupação ecológica que confronta a atualidade em Coimbra e no mundo. Joaquim Pessoa acredita que “as asso­ ciações têm uma importância enorme como forma de organização para se atingir objetivos comuns” e conclui que tem observado “uma crescente adesão das pessoas a projetos deste género”.


10 de março de 2020

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Rádio ZucaTuga: um abraço entre Brasil e Portugal Apoios ao desenvolvimento da plataforma Felipe Rocha adianta que a ZucaTuga tem uma “proposta de diálogo, de coletividade e de parceria”. Com este propósito, a webrádio estabeleceu con­ tacto com entidades como a Rádio Universidade de Coimbra (RUC) e a Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros em Coimbra (APEB – Coim­ bra). O projeto contou ainda com a divulgação da Embaixada de Portugal no Brasil e de vários órgãos de comunicação, como o Observador e o Público, assim conta o produtor. O investigador conta que parte do equipamento foi cedido por uma empresa de produção de som que possui no Brasil. “O objetivo deste patrocínio é a dedicação em exclusivo à iniciativa, para que seja possível dar vazão a tudo o que é exigido no cam­ po da produção de som, da divulgação e dos ‘work­ shops’”, revela.

BEATRIZ MONTEIRO MOTA

Nova rádio abre espaço para discussão dentro da comunidade brasileira em Portugal. Ouvintes são convidados a coproduzir conteúdo - POR CAROLINA FERNANDES E BEATRIZ MONTEIRO MOTA -

A rádio ‘online’ ZucaTuga nasceu no seio académi­ co, com um pé na Universidade de Coimbra (UC) e o outro na Universidade de São Paulo (USP), e pre­ tende reforçar a união entre a cultura brasileira e a cultura portuguesa. A rádio, sediada em Coimbra, aborda nos seus programas questões que visam pro­ mover a inclusão, a literacia e o bem-estar da comu­ nidade brasileira em Portugal. O que começou por ser uma ideia de mestrado no Brasil, em 2017, acabou por se concretizar três anos depois pela mão de Felipe Rocha, investi­ gador e responsável pelo projeto. O conceito de uma webrádio capaz de fazer a ponte entre a sociedade e a academia era algo demasiado grande para se realizar durante um mestrado, conta o investigador. De vol­ ta a Portugal percebeu que existia “uma conjugação de fatores favoráveis, tal como o aumento exponen­ cial da comunidade brasileira e a crescente procura por ‘podcasts’. As emissões vão ser feitas a partir do ‘site’, através de programas semanais, quinzenais e mensais no formato ‘podcast’, informa Felipe Rocha. No entan­ to, explica que, “quando o projeto ganhar corpo e ti­ ver uma comunidade formada, pode expandir para ‘streaming’ e emissões ao vivo”. O conteúdo é grava­ do no conforto de um estúdio caseiro em Coimbra que “satisfaz as necessidades da rádio”, assegura. Com o intuito de perceber os benefícios da webrádio para a sociedade, a ZucaTuga apresenta um leque de 12 programas que vão desde questões jurídicas e ambientais até ao entretenimento para o público adulto e infantil. Felipe Rocha informa que

“há diversos programas que visam contribuir para a adaptação de quem chega ao país”. “Conversa Le­ gal”, “Forasteiros” e “Ambiente-se” são algumas das rubricas que se podem ouvir através do ‘site’. O apresentador do programa “Conversa Legal” e doutorando em Direito na Faculdade de Direito da UC, Dinarte da Páscoa Freitas, pretende responder a dúvidas jurídicas do público. “O objetivo é dialogar com a população brasileira residente em Portugal e diminuir os seus anseios e incertezas jurídicas”, es­ clarece. Segundo o locutor, as questões mais comuns são relativas a situações de permanência no país, a assuntos fiscais e ao contexto familiar. O programa vai também contar com especialistas da área do Di­ reito para responder aos ouvintes, que vão poder en­ viar as suas perguntas por ‘e-mail’. A comunidade como coprodutora da rádio “O grande propósito, além da programação, é fazer com que a própria comunidade produza conteúdo e participe nas produções”, conta Felipe Rocha. Nesse sentido, a rádio planeia realizar 60 ‘workshops’ que visam instruir os participantes a produzir conteúdo na área da comunicação digital, com o auxílio das tecnologias do dia-a-dia. Segundo o ‘website’ da ZucaTuga, os recursos da co­ municação digital são usados para estreitar relações entre o meio académico e a sociedade, através da produção conjunta de conhecimento. Deste modo, a rádio pretende criar as condições necessárias para que o saber da comunidade seja útil à academia e vice-versa.

Um nome que promove a união A designação ZucaTuga resulta da amálgama entre a “cultura brazuca e cultura portuga”, como expli­ ca, entre risos, Felipe Rocha. “Com o nome, pro­ movemos a união de culturas de uma maneira bem simpática e bem-humorada”, confessa. Além disso, o responsável pelo projeto esclarece que, apesar do termo “brazuca” ter ganho uma conotação negativa, hoje em dia “virou uma forma comum de se referir aos brasileiros”. A webrádio tem como principal público-alvo os brasileiros residentes em Portugal, mas não só, como reitera o investigador. “Não é um projeto para que a comunidade se feche em si, muito pelo contrário, é para que promova a inserção”, esclarece. Acrescen­ ta ainda que, pelo facto de a comunidade brasileira ser muito heterogénea, é necessário adequar os pro­ gramas a essa diversidade. A perspetiva da comunidade brasileira A coordenadora de comunicação da Associação dos Pesquisadore e Estudantes Brasileiros em Coimbra, Amanda Porto, conta que vê nesta iniciativa uma forma de troca cultural com inúmeras vantagens. “Acabamos por lembrar o nosso país e conhecer pessoas com experiências semelhantes às nossas”, acrescenta. Amanda Porto reconhece que, quando se vai para um novo país, cria-se uma tendência para o isolamento e, por esta razão, vê nesta rádio um auxílio à integração. Dinarte da Páscoa Freitas partilha da opinião da coordenadora. “A rádio tem capacidade de alcançar um grande leque de brasileiros, sendo por isso uma ajuda para a comunidade que nos ouve”. ZucaTuga foi para o ar no dia 29 de fevereiro com o programa “Encontro Cultural”. Ao longo dos próximos meses vão estrear vários segmentos, entre os quais “Tweets Musicais”, um ‘podcast’ quinzenal de declamação de poemas musicados. Para o futuro, Felipe Rocha planeia trazer mais personalidades que possam contribuir para reforçar laços entre Portugal e Brasil.


16 soltas 10 de março de 2020

CRÓNICAS DO TRODA - POR ORXESTRA PITAGÓRICA -

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lá, amiguinhos fãs da imprensa escrita. Que bela balbúrdia que vai pelo mundo. Sempre ouvimos dizer que os jornais e o din­ heiro são das coisas mais sujas que existem, porque passam de mão em mão, mas como estudantes que somos não temos dinheiro nem lemos jornais. Tanto quanto sabemos, os leitores deste jornal são quase tantos como a audiência da RTP2, pelo que não apanham COVID-19 por pegar num destes exemplares. Mesmo com a ausência de leitores, esta cróni­ ca dá muito trabalho a fazer. Assim sendo, na expectativa de aumentar o número de leitores, vamos abordar esse mesmo tema na nossa crónica, porque não existe nada melhor que garanta uma grande audiência como este vírus. Basta olhar para qualquer meio de co­ municação social nos dias que correm. Quem sabe, vão ser tantos leitores novos que a própria distribuição do jornal pode aumentar a probabilidade de contágio na nossa querida UC e acabar por cancelar as aulas. Ficamos todos a ganhar. Caso a doença não chegue à nossa cidade à beira rio, podemos sempre matricular um estudante estrangeiro de nome Corona e vender a notícia aos media, “Corona finalmente em Coimbra”. Como bons portu­ gueses que somos, nem vamos ler a notícia e apenas tirar conclusões. Infelizmente, existe outra pandemia que as­ sola a cidade dos estudantes nos dias que cor­ rem, e será esse o tema da nossa crónica. Es­ tamos, portanto, a falar do vírus das tunas.

FOTOGRAFIA CEDIDA PELA ORXESTRA PITAGÓRICA

Caro encarregado de educação que esteja a ler este jornal, se o seu filho canta ou toca músi­ ca tunal, tem uma pandeireta escondida no quarto, tem um rasgão nas calças na zona da virilha e está constantemente na Baixa a tentar ganhar dinheiro, provavelmente está contam­ inado. Se ele apresentar um destes compor­ tamentos ou sintomas, por favor mantenha-o trancado em casa para impedir o contágio. Por isso tenham cuidado com estas doenças e com a carne de porco à alentejana da can­ tina, porque às vezes é de soja e não de carne e quando nos apercebemos já é tarde demais. Tenham também cuidado com o copo oficial

da AAC para a Queima das Fitas, porque, ao contrário das vossas partes íntimas durante os festejos, estes deveriam ser pessoais e in­ transmissíveis. A não ser que sejas um estu­ dante do politécnico de Coimbra. Nesse caso tens de apanhar o vírus por outro meio. Sem mais delongas, xau!

Esta fotografia é um empréstimo da Pitagórica ao Jornal A Cabra, com juro de 6,9% à proprina.

ÉXTÉGUES DA ISABEL - POR ISABEL SIMÕES -

Sem a tese ele não é nada.

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uve-se um som que parece ser de um corta-unhas. Alguém está preocupado com a manicure. #hávidanestesmtuc

O

sol a nascer e nós as duas à espera do comboio. Ela tem mais de oitenta anos e vai carregada de sacos com produtos da terra para vender no mercado, eu levo o gravador, o papel e a lapiseira. Já criou os netos, agora procura mais um pouco para complementar a parca reforma. Eu procuro sentido para continuar por aqui. #mulheresdomeupaís

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Marques fechou? Já não era o que foi. Um bocadinho de mim que vai perdurar apenas enquanto eu tiver memória. #Coimbra

cabreando por aí...


10 de março de 2020

soltas 17

AGORA NÃO DESPERDIÇAR É TENDÊNCIA - POR RAQUEL BARBOSA - GRUPO ECOLÓGICO DA AAC -

NINO CIRENZA

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uantos de nós sempre ouviram os nossos avós ou pais dizerem para não se deitar os restos de comida fora? Em 2019, chegou até nós a aplicação Too Good To Go. A principal função desta ‘app’ é reduzir o desperdício alimentar e, desta forma, os esta­ belecimentos venderem comida que ainda está em bom estado. Assim, o consumidor obtém re­ feições ou alimentos de uma forma consciente, e contribui para um mundo mais sustentável.

Os nossos avós também nos diziam que, to­ dos os dias, havia pessoas a passar fome e que as sobras do jantar de ontem iriam ser usadas no almoço do dia seguinte. Não se desperdiça­ va nada porque a realidade deles não o permitia. Muitas receitas que chegam até nós nos dias de hoje foram inventadas para evitar o desperdício e satisfazer as necessidades da altura. Hoje em dia, o desperdício zero é uma tendên­ cia sustentável e amiga do ambiente; e ainda

bem que assim o é! Estima-se que em Portugal o desperdício alimentar ultrapasse um milhão de toneladas por ano, sendo que a maior percenta­ gem ocorre em casa. Mais do que deitar comida ao lixo, é o subaproveitamento dos recursos que gera um impacto negativo no meio ambiente. A Too Good To Go apresenta-nos dois factos claros: que um terço de toda a comida produzida acaba em desperdício alimentar e que oito por cento das emissões mundiais de gases com efeito de estufa provêm desse desperdício. Mais, através das contas que a Too Good To Go nos apresenta, 1 kg de comida equivale a 2,5 kg de CO2, que é emitido para a atmosfera e que, por sua vez, equivale a 5 km a conduzir um carro a diesel de tamanho médio. Na cidade de Coimbra, ainda não se encontra disponível nenhum ‘marketplace’. No entanto, não faltam oportunidades e formas para evitar o desperdício. Começar em casa é o primeiro pas­ so: se a fruta está demasiado madura ou os le­ gumes murchos, há sempre forma de aproveitar e fazer receitas deliciosas, ao invés de irem parar ao caixote do lixo porque achamos que já não servem. Temos de ter em atenção as quantidades que compramos, de forma a que tenha um bom aproveitamento, e, assim, o ambiente e a carteira ficam a ganhar. Até ao momento, os ‘marketplaces’ da ‘app’ Too Good To Go só estão disponíveis em Lisboa, no Porto e Algarve.

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

INFLUENCERS NA AAC: ESPÉCIE EM VIAS DE EXTINÇÃO

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ueres meter um instastory e não con­ segues? Gostavas de saber se há coro­ navírus na AAC? Temos pena. Aqui não há internet. Podia ser uma estratégia para obrigar à socialização, mas não é o caso. É apenas incompetência. Será da DG? Será do fornecedor? Ninguém sabe. O que se sabe é que não há sinal (get it? sinal? eheheh) de melhoria. Pornografia nos gabinetes? Só produzi-la! Já ninguém vai ter acesso aos famosos vídeos da Latada... Para além dis­ so, todos sabemos que a eduroam também não é de fiar. Enfim, problemas de primeiro mundo. Por enquanto, usem os dados.

NÃO TENHO NADA, MAS TENHO TENHO TUDO

S

e a cultura não estivesse morta não estava aqui. Sim, nós estamos a ser redundantes. Sabem o que também é redondo? O zero que faltava na cultura! Ah pois é, meus amigos! ­Afinal o Azenha é Deus. Conseguiu o mila­ gre da multiplicação. Não são 50. Não são 500. Não são 5000. QUAL SERÁ O PREÇO DESTA MONTRA FINAL? SÃO CINQUENTA MIL EUROS. Mas antes de saber onde se vai encai­ xar o zero é preciso descobrir onde se vai buscar! Será a DG como a Floribella? Rica em sonhos e pobre pobre em ouro? A diferença é que a Flori­ bella falava mais com uma árvore do que a DG fala com o Conselho Cultural.


18 artes feitas 10 de março de 2020

CINEMA S

GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco

SE EU FOSSE PEQUENINO…

Podia ser melhor

- POR MIGUEL MESQUITA MONTES -

Razoável

e eu fosse pequenino, o meu pai tinha-me levado ao cinema. “‘Bora Lá”, seria o trocadilho utiliza­ do quando, na hora de picar os bilhetes, o meu pai os tivesse a tentar encontrar na sua infindável carteira. Depois, iria ser transportado para um novo mundo, trazido para o grande ecrã pelo realizador Dan Scan­ lon muito ao jeito de um Shire [trilogia “O Senhor dos Anéis (2001-2003)] dos tempos de hoje. Já sabíamos que em terra de elfos, quem é simples é rei; e nesta nova animação reina mesmo a simplicidade, que chega a nós de braço dado a uma leve, porém certeira crítica à sociedade contemporânea, sempre agarrada às no­ vas tecnologias. Aliás, esse mundo de que falo podia até ser novo para mim, mas apenas porque, se eu fosse pequenino, eu não teria vivido o tempo suficiente para a magia nele desaparecer. Os irmãos Lightfoot (Tom Holland e Chris Pratt, na versão original) são os heróis desta 22ª aventura da Pixar. No dia do 16º aniversário de Ian (Holland) – o irmão mais novo da parelha -, a mãe destas criaturas surge com uma prenda misteriosamente deixada aos seus filhos. Os elfos, que vivem sem o seu falecido pai desde antes do nascimento de Ian, recebem um bastão mágico e uma pedra poderosa que permite executar a magia que o mundo há muito perdeu. Essa magia poderá trazer o pai dos elfos de volta, ainda que só por

um dia. Quando estes o tentam ressuscitar, a pedra quebra-se, e ambos ficam na companhia de umas per­ nas mágicas muito engraçadas, que seriam o motivo maior das minhas gargalhadas pelo filme fora, se eu fosse pequenino. O primogénito, Barley, garante que encontrar outra daquelas pedras será uma demanda espinhosa, dados os seus conhecimentos sobre jogos baseados na anti­ ga magia esquecida. Mas, juntos, os irmãos fazem-se mesmo à estrada, na velha carripana reconstruída por Barley, em busca dessa magia, para trazer de volta o resto do pai ainda antes do anoitecer. O irmão mais velho não tem medo de nada. O irmão mais novo tem medo de tudo. A mãe não sabe dos filhos, que fugiram de casa e correm sérios riscos de vida. Mas os papéis vão-se invertendo ao passo que a relação entre os protagonistas é eximiamente explo­ rada, e toda a aventura vai-nos passando pelo olhar sem que o tempo nos passe pela cabeça. A edição de Catherine Apple é uma das principais valências de “‘Bora Lá”, pautada por transições dignas de um futuro clássico. Se eu fosse pequenino, e ainda cheio de magia em mim, quando o filme acabasse, e eu encontrasse a mão do meu pai no escuro da sala, não saberia por que raio estaria ela encharcada de lágrimas.

A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro

Onward De dan scalon com Tom holland, chris pratt e julia louis-dreyfus 2020

A Cabra d’Ouro


10 de março de 2020

MÚSICA

Pop Sensacional - POR FILIPE FURTADO -

Sensacional!” materializa o mundo de Filipa Bas­ tos (teclados) e Érika Machado (voz e guitarra). Ao longo de nove pequenas canções, percorremos um imaginário leve, descontraído e descomplicado. Os acordes da guitarra dão o chão aos temas, mas é tudo o que acontece entre teclados e efeitos sonoros que dá vida à atmosfera e som das Spicy Noodles. O disco abre com “Juntas na Fita”, um ritual de cel­ ebração entre as duas elementos da banda. Segue, de­ pois, para “Sensacional”, onde escutamos um dos mel­ hores refrões do disco: “às vezes me sinto Mr. Bean, às vezes me sinto Charlie Brown, às vezes me sinto tão contente por me achar sensacional!”. A guitarra eléctrica e as ‘drum machines’ apelam aos corpos de espírito roqueiro. “José Francisco acorda às 5:40, lava o rosto, esco­ va os dentes e sai p’ra trabalhar. Dentro da bolsa um uniforme, a marmita, pão, banana e o que sobrou do jantar. Lá no trabalho ele empilha tijolos, mas depois que viram prédios ele não pode entrar”. A dupla lança a crítica social pelas rotinas e vicissitudes de José Fran­ cisco. Em “Corverseta”, a voz de Érika Machado con­ tinua a lançar lamentos bem-dispostos sobre o quo­ tidiano.

A Cabra aconselha

Bem-vindo à Terra dos Sonhos - POR PRESS START | RUC -

A

pós seis anos sem lançar nenhum jogo, a desen­ volvedora britânica Media Molecule presenteou os ‘gamers’ com o recém lançado Dreams. Mais uma vez, a palavra de ordem é: criatividade. No universo que este exclusivo PlayStation 4 nos oferece, podemos ser e criar tudo o que quisermos, sempre acompanhados pela fofa criatura, Imp. Dreams é uma tela vazia, um estúdio de música, um programa de animação, os primeiros passos no desenvolvimento de videojogos para os mais curiosos e até mesmo uma rede social onde tudo o que é criado pode ser tornado público e de fácil acesso para os jogadores da consola da Sony. O ‘gameplay’ é ilimitado, a não ser que optemos por jogar o Modo História, em que os temas, o amor e a per­ da, apresentam-se ao longo de três géneros de jogos dis­ tintos: o Noir, Acção em Ficção Científica e Puzzle Plat­ former. Contudo, prevê-se que grande parte do tempo passado nesta obra-prima será na criação de sonhos e, consequentemente, na sua partilha - bem ao estilo de Little Big Planet. Mas, ao contrário deste último, o joga­ dor não se ficará só por um jogo de plataformas em duas dimensões, sendo que a possibilidade de jogar em 2D não é descartada de todo, se o jogador assim quiser. Dreams é um quebrar de barreiras, a criação de um novo paradigma nos videojogos. É o renascer das brincadeiras com Lego e de todos os “faz de conta” dos

artes feitas 19

“Por aí” será a faixa mais melancólica do álbum, que nos arrasta lentamente até “Online e Invisível”, uma pequena reflexão sobre o mundo das redes sociais ou uma verdadeira canção de amor. Quando ouvimos “Para Chegar”, estamos no sofá da nossa infância a jog­ ar os melhores vídeo jogos de sempre! Os sons ‘8-bit’ viciam-nos os ouvidos de início ao fim do disco. O álbum de estreia das Spicy Noodles causa sen­ sação, não só pela qualidade do trabalho, mas também porque sai do coração de Coimbra, com o selo da Lux Records.

Sensacional! De Spicy Noodles Editora Lux Records Género Pop 2020

JOGO

tempos da nossa meninice. É aconselhável, portan­ to, aos petizes e aos mais velhos, apesar de requerer, ainda assim, acompanhamento parental. Nem todas as criações serão 100% “family friendly”, seja pelo seu teor mais ‘gore’ ou mesmo caricato. No entanto, será com este espírito de liberdade que o lançamento poderá tomar as rédeas da Internet e, quem sabe, do mundo dos memes. Como jogo recente e o primeiro deste tipo, os ‘bugs’ poderão ser bastante presentes, pelo que se deve es­ perar ‘patches’ de correção dos mesmos e até que adi­ cionem novos conteúdos. Paciência será algo que o jogador terá de ter para aprender com os tutoriais, que ensinam a manobrar as ferramentas de criação. No fi­ nal, tudo será compensado com um ‘gameplay’ infinito de possibilidades, em Dreams.

dreams De sony 2020 A Cabra aconselha


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EDITORIAL - POR PEDRO EMAUZ SILVA -

Este mês relembra-nos que há vozes que precisam de ser ouvidas. A minha não é uma delas.

NINO CIRENZA

Ficha Técnica

Diretor Pedro Emauz Silva

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editores Executivos Luís Almeida, Hugo Guímaro, Daniela Pinto

Morada Secção de Jornalismo Rua Padre António Vieira, 1 3000-315 Coimbra

Equipa Editorial Rafaela Chambel e Isabel Pinto (Ensino Superior), Leonor Garrido e Gabriel Rezende (Cultura), Vasco Borges e Diogo Machado (Desporto), Beatriz Furtado e Maria Monteiro (Ciência & Tecnologia), Diana Ramos, Mariana Rosa e Maria Salvador (Cida­ de), Nino Cirenza e André Crujo (Fotografia) Colaborou nesta edição Francisco Barata, Tomás Barros, Cátia Beato, Joana Carvalho, Isabella Cavalcanti, Carina Costa, Carolina Fernandes, Gustavo Freitas, João António Gama, Ana Tereza May, Beatriz Monteiro Mota, Simão Moura, Bruno Oliveira, Mafalda Pereira, Jade Sanglard, Pedro Teixeira Silva, Francisca Soeiro, Xavier Soares, Luísa Tibana

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Conselho de Redação Carlos Almeida, Inês Duarte, Filipe Furtado, Hugo Guímaro, Margarida Mota, João Diogo Pimentel, Paulo Sérgio Santos, Pedro Dinis Silva Fotografia Cátia Beato, Sara Carrulo, Isabella Cavalcanti, Nino Ciren­ za, Gustavo Freitas, Beatriz Monteiro Mota, Francisca Soeiro Ilustração Cristiano Matias, Marta Emauz Silva Paginação Luís Almeida, Gabriel Rezende

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 2000 exemplares


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